domingo, 13 de outubro de 2013

Muito alem da Implicância

O Dia 13/10/2013

Bullying entre irmãos causa mais sofrimento à vítima que o ocorrido na escola, já que a família deveria ser seu porto seguro



BEATRIZ SALOMÃO

O bullying, problema frequentemente associado aoambiente escolar, também pode acontecer dentro de casa.E o pior: entre irmãos. Pesquisa publicada na revista americana ‘Pediatrics’, com3.599 pessoas, revelou que 32% sofrem do mal. Foram entrevistados, por telefone, cuidadores ou responsáveis por crianças de até 9 anos,além de adolescentes entre 10 e 17. Todos os analisados tinham pelo menos um irmão também menor de 18 anos morando na mesma casa. De acordo com os pesquisadores, as
vítimas  do ‘bullying fraterno’ apresentaram sérios danos na saúde mental, como depressão e ansiedade. Entre as ações sofridas foram citadas: agressão física, lesão com ou sem arma de fogo, roubo e furto, dano de pertences da vítima de propósito, além de palavras que fizeram a criança se sentir mal, com medo ou não querida.

“Cabe aos pais ficarem atentos a qualquer sinal de mudança de comportamento na criança e agir rápido. Eles também devem ser bons exemplos”, disse o pediatra Moises Chencinski. A pesquisa foi publicada em julho. Cerca de 70% dos jovens moravam com pai e mãe e 20% com apenas um dos dois.

O estudo ressaltou ainda que, enquanto a agressão na escola é reconhecida socialmente, a intimidação dentro de casa, muitas vezes, é considerda ‘normal’ e ‘aceitável’. O psiquiatra Ricardo Krause, da Santa Casa de Misericórdia, alerta que o bullying entre irmãos é mais nocivo, já que a família é o local de segurança e acolhimento.

“Quando ocorre na escola, a criança tem a família para recorrer e receber apoio.Mas o bullying dentro de casa sinaliza incapacidade dos pais em protegê-la. Ela se sente sem lugar no mundo”, aponta.



Segundo ele, há casos de bullying praticado por irmãos e responsáveis em conjunto, normalmente quando a criança não atende às expectativas dos pais ou quando apresenta um temperamento diferente dos demais moradores da casa. “Isso é muito danoso e pode gerar até depressão”, declara.

O que diferencia as tradicionais implicâncias entre os irmãos do bullying? Para o especialista, danos na vida da criança,como queda do rendimento escolar, retração e tristeza são as características mais comuns de que a brincadeira passou dos limites.

“Em todo grupo social há competição e a família não é diferente. Uma criança que foi filha única por muitos anos pode sofrer ao perder esse posto com a chegada d um mais novo”, explica.



Satanás rindo - Marcos de Castro

O Globo - 13/10/2013

Fontenelle não parava de
rir enquanto amarrava
meus dedos aos fios
do telefone elétrico

No meu segundo dia de DOI-Codi, nos fundos do quartel da PE da Rua Barão de Mesquita, no Rio, foram me buscar na cela onde eu tinha sido jogado na véspera sem entender os motivos daquela prisão. Bem, eram tempos complicados, o embaixador americano no Rio tinha sido sequestrado (estamos em setembro de 1969), a ditadura levara um susto. Fácil de imaginar, mostrara-se incapaz de garantir segurança para o embaixador do país mais rico do mundo.

O diplomata, Charles Burke Elbrik, fora levado de Botafogo para o Rio Comprido, isto é, da Zona Sul para a Zona Norte da cidade, sem que ninguém reparasse naquela carga valiosa. Uma demonstração de incompetência impressionante, do governo brasileiro e da própria Embaixada dos Estados Unidos. Agora era a caça desesperada para consertar de algum modo o desastre.  Sem me chamar Joaquim nem morar em Niterói, fui preso logo na noite seguinte em meio a essa caçada.

Assim conheci a verdadeira sucursal do inferno em que se transformara aquele centro de torturas, numa variedade que ia das mais primárias às mais brutais. Amigo de um dos idealizadores do sequestro eu era, sim, mas, no momento de minha prisão, não o vira pelo menos nos seis meses anteriores, não sabia rigorosamente nada de suas atividades recentes.

Não tinha a menor ideia de seu envolvimento com o sequestro. Mas isso era de pouca importância para o pessoal do DOI-Codi. Caçar era o que eles queriam, assim mostravam serviço.  Só depois da primeira noite na cadeia do DOI-Codi, no 2° andar, é que me chamaram para interrogatório. Desci certo de que tudo se explicaria em dois minutos e eu seria libertado. Apresentaram-me a um certo tenente cujo nome não cheguei a saber, pois no DOI-Codi ninguém usava o nome no uniforme, ao contrário de todo o resto do Exército. O tenente apontou-me uma  porta e disse que o interrogatório  seria na sala a que  ela dava acesso.

Mandou-me seguir à frente, ele iria  atrás. Depois de meia dúzia  de passos deu-me um golpe  tão violento no ouvido direito, com a mão em concha, que até hoje ouço  mal desse ouvido, garantindo-me meu otorrino que a causa foi esse golpe brutal, a que lá chamavam de “telefone’. Foi o cartão de visitas para mim.  O interrogatório não seria com esse competentíssimo tenente. Na sala de interrogatório entregou-me ao comandante do DOI-Codi, Francisco Moacir Méier Fontenelle, tenente-coronel, se não faço confusão com essas qualificações complicadas.

Depois de rápidas formalidades, ele me disse que eu só sairia dali se desse  o nome dos sequestradores do embaixador americano e as circunstâncias do sequestro. Enquanto eu ia explicando que não sabia o nome de nenhum sequestrador, muito menos as circunstâncias do episódio, ele ia amarrando os fios de um telefone de campanha em quatro dos dedos da minha mão direita, dando folga ao dedão.  E enquanto amarrava, ria, ria gostosamente, o que me fez lembrar o porão do “Navio Negreiro’  de Castro Alves, as chicotadas zunindo nas costas dos negros caçados na África para serem escravos no Brasil. “E ri-se Satanás” diz o poeta.

E Fontenelle não parava de rir enquanto amarrava meus dedos aos fios do telefone  elétrico. “E ri-se Satanás” eu repetia comigo mesmo, sem imaginar nem de longe a força de um choque de fios elétricos ligados a um telefone de campanha. Não vou descrever aqui os pulos e berros que dei, que qualquer um dá, com aqueles choques. A impressão que se tem é que se trata de um choque mortal. Impossível dizer quantos minutos aquilo durou, ao fim dos quais ele me assegurou que repetiria a dose muitas vezes, diariamente, até que eu desse o nome dos sequestradores.

Seguiram-se dias tão tumultuados no Brasil, ao fim dos quais o general Garrastazu Médici assumiu a Presidência, para um período em  que a tortura iria virar método institucional. Tortura e assassinato. Naquele mesmo DOI-Codi de Fontenelle foram assassinados Mário Alves e Rubens Paiva. Mas chegou o momento de tornar tudo claro em relação às torturas e aos crimes no Brasil da ditadura militar.
A Comissão da Verdade do Rio faz um trabalho extraordinário.  Um torturador é o mais baixo dos seres humanos, pois a tortura é por definição covarde, aplicada sempre a alguém indefeso, não poucas vezes gente de pés e mãos amarradas. Nossa Comissão da Verdade quer transformar o local onde foi o DOI-Codi, na Tijuca, num Centro de Memória. Nada mais patriótico.

Um país que foge de sua verdade é um país de mentira. Há um certo Bolsonaro que parece ser contra a revelação dessa infâmia. Deixemo-lo investir contra a verdade, ficar a favor da covardia.  Tudo que pretendo com este depoimento simples é dar mais um passo a favor da Verdade, assim mesmo, com maiúscula. Verdade histórica, pois um país não pode fugir de sua História, ou jamais há de encontrar-se com um destino maior e mais digno.


Marcos de Castro é jornalista

Cordial - Caetano Veloso

O Globo - 13/10/2013


Aprendi, em conversas com amigos compositores, que, no cabo de guerra entre a liberdade de expressão e o direito à privacidade, muito cuidado é pouco

Tenho um coração libertário. Sou o típico coroa que foi jovem nos anos 60. Recebi anteontem o e-mail de um cara de quem gosto muito — e que é jornalista — com proposta de entrevista por escrito sobre a questão das biografias. Para refrescar minha memória, ele anexou um trecho de fala minha em 2007. Ali eu me coloco claramente contra a exigência de autorização prévia por parte de biografados. E pergunto: “Vão queimar os livros?” Achei aquilo minha cara. Todos que me conhecem sabem que essa é minha tendência. Na casa de Gil, ao fim de uma reunião com a turma da classe, eu disse, faz poucos meses, que “quem está na chuva é para se molhar” e “biografias não podem ser todas chapa-branca”. Então por que me somo a meus colegas mais cautelosos da associação Procure Saber, que submetem a liberação das obras biográficas à autorização dos biografados?

Mudei muito pouco nesse meio-tempo. Mas as pequenas mudanças podem ter resultados gritantes. Aprendi, em conversas com amigos compositores, que, no cabo de guerra entre a liberdade de expressão e o direito à privacidade, muito cuidado é pouco. E que, se queremos que o Brasil avance nessa área, o simplismo não nos ajudará. O modo como a imprensa tem tratado o tema é despropositado. De repente, Chico, Milton, Djavan, Gil, Erasmo e eu somos chamados de censores porque nos aproximamos da posição de Roberto Carlos, querendo responder ao movimento liderado pela Anel (Associação Nacional dos Editores de Livros), que criou uma Adin (ação direta de inconstitucionalidade) contra os artigos 20 e 21 do Código Civil, que protegem a intimidade de figuras públicas. Repórter da “Folha” cita trechos de algo dito por Paula Lavigne em outro contexto para responder a sua carta de leitor. Logo a “Folha”, que processou, por parodiá-la, o blog Falha de S.Paulo.

A sede com que os jornais foram ao pote terminou dando ao leitor a impressão de que meus colegas e eu desencadeamos uma ação, quando o que aconteceu foi que nos vimos no meio de uma ação deflagrada por editoras, à qual vimos que precisávamos responder com, no mínimo, um apelo à discussão. Censor, eu? Nem morta! Na verdade a avalanche de pitos, reprimendas e agressões só me estimula a combatividade.


Tenho dito a meus amigos que os autores de biografias não podem ser desrespeitados em seus direitos de informar e enriquecer a imagem que podemos ter da nossa sociedade. Pesquisam, trabalham e ganham bem menos do que nós (mas não nos esqueçamos das possibilidades do audiovisual). Não me sinto atraído pelo excesso de zelo com a vida privada e muito menos pela ideia de meus descendentes ficarem com a tarefa de manter meu nome “limpo”. Isso lhes oferece uma motivação de segunda classe para suas vidas. Também neguinho pode vir a ter um neto que seja muito careta e queira fazer dele o burguês respeitável que ele não foi nem quis ser. Mas diante dos editoriais candentes, das palavras pesadas e, sobretudo, das grosserias dirigidas a Paula Lavigne, minha empresária, ex-mulher e mãe de dois dos meus três filhos maravilhosos, tendo a ressaltar o que meu mestre Jorge Mautner sintetizou tão bem nos versos “Liberdade é bonita mas não é infinita /Me acredite: liberdade é a consciência do limite”. Mautner é pelo extremo zelo com a intimidade.


Autores americanos foram convocados para repisar a ferida do sub-vira-lata. Nada mais útil à campanha. (Americanos são vira-latas mas têm uma história revolucionária com a qual não nos demos o direito de competir.) Sou sim a favor de podermos ter biografias não autorizadas de Sarney ou Roberto Marinho. Mas as delicadezas do sofrimento de Gloria Perez e o perigo de proliferação de escândalos são tópicos sobre os quais o leitor deve refletir. A atitude de Roberto foi útil para nos trazer até aqui: creio que os termos do Código Civil merecem ser mudados, mas entre a chapa-branca e o risco marrom devem valer considerações como as de Francisco Bosco. Ex-roqueiros bolsonaros e matérias do GLOBO tipo olha-os-baderneiros para esconder a força que a luta dos professores ganhou na cidade me tiram a vontade de crer em opções fora da esquerda entalada. Me empobrecem. Ficaremos todos mais ricos se virmos que o direito à intimidade deve complicar o de livre expressão. E se avançarmos sem barretadas aos americanos. Ouve-se aqui minha voz individual. Quiçá perguntem: ué, os jornais deram espaço, pediram entrevistas: Tá chiando de quê? Pois é. Meu ritmo. Roberto, Chico, Milton e os outros estão mais firmes: nunca defenderam nada diferente. Esperei o Procure Saber buscar seu timbre, olhei em volta e deixei pra falar aqui.


MARTHA MEDEIROS - As balas da infância

Zero Hora - 13/10/2013

Estava num avião da TAM observando a comissária oferecer balas aos passageiros, como de costume, antes de a aeronave decolar. Nunca peguei uma, talvez porque a criança em mim se manifeste: 10h da manhã, antes do almoço? Seis da tarde, antes do jantar? Minha mãe vai dar a maior bronca!

Na verdade não fico muito tentada por aquelas balas. Se fosse Frumello ou Sete Belo, seria diferente.

Sempre tive tara por bala de morango, ou de frutas vermelhas, ou de qualquer coisa vermelha: cereja, framboesa e família. Eram as minhas preferidas entre as balas azedinhas. As azedinhas iam comigo ao cinema e adocicavam as noites de sábado em que ficava em casa – eram minha droga lícita (mesmo assim, as comia escondida, sendo filha de dentista). Meu sonho secreto? No aniversário, ganhar as azedinhas que vinham numa lata enorme. Preferiria ganhar a lata a pulseirinhas, porta-retratos, presentes de mocinha. Ganhei uma única vez, não lembro quando nem de quem, desconfio até que comprei.

Mas entre as balas vermelhas, prefiro até hoje aquelas vagabundas, as vira-latas das balas, embaladas em papel transparente, sem marca, sem pedigree. As que estão disponíveis onde menos se espera, em balcões de farmácia, ao lado dos caixas de lojas, ofertadas de graça.

Lembro das pastilhas de anis da marca Garoto - existem, ainda? Havia diversos sabores (canela, hortelã), mas as de anis eram as minhas eleitas no recreio do colégio. Daria tudo para voltar no tempo por causa daquelas pastilhas – e só por elas, acho.

Gostava de Mentex também, já que falamos de hortelã, porém mais ainda de uma pastilha oval que não lembro bem a marca, era também azedinha, refrescante, vinha numa caixa verde, que fim levou, quem pode me recordar o nome?

Tinha a bala gasosa, da qual nunca fui fã, redonda demais, grande demais, cheia de si. E quanto às de caramelo e doce de leite, blagh. Sempre fui refratária ao que é enjoativo. Preferia bala de banana, bem artesanal, pobrinha, humilde e doce como um pecado mortal.

Bala de coco era legal também. Ainda é. Mas desenvolvi uma resistência que não se explica. Dói na cárie que já não tenho, será isso? Ou é bala branca que não combina com bala?

Bala tem que ter cor, e nisso as balas Soft eram imbatíveis (escrevo “eram” sem saber se ainda são, já não circulo pelo corredor das tentações no supermercado, tenho um compromisso com a balança e o bom senso). Duras e eternas, as balas Soft – até mesmo as amarelas.

A jujuba me parecia a ralé das balas. Já as soberanas são as que finalizam essa crônica, minhas preferidas para sempre: as balas de goma. Meu Deus, as balas de goma. Morreria por elas. Mas não hoje, não agora, que agora sou adulta (em termos) e o que me interessa, mesmo, é permanecer magra.

AFFONSO ROMANO DE SANT'ANNA » Aqui de Frankfurt‏

Estado de Minas: 13/10/2013 





Está chegando ao fim a Feira do Livro de Frankfurt. Amanhã, começam a retornar os 70 escritores brasileiros que aqui vieram. Impossível falar desta feira de 2013 sem me lembrar de 20 anos atrás, da feira de 1994, quando o Brasil foi, pela primeira vez, o país homenageado. Uma coisa é ter vindo agora como simples convidado, outra foi ter participado da organização da mostra em 1994 como presidente da Fundação Biblioteca Nacional.

A lembrança se espraia para coisas que não são pessoais, mas nacionais. Acontece que estávamos aqui, em Frankfurt, quando chegou a notícia de que Fernando Henrique Cardoso havia sido eleito com 54% dos votos. Uma votação espantosa resultante da implantação, no governo Itamar, da nova moeda – o real. Não fosse o êxito da nova moeda, FHC nunca teria sido presidente.

Então ocorreram os oito anos do governo FHC, os oito de Lula e agora Dilma. São uns 20 anos. E 20 anos parecem uma medida literária. Aí cabe uma geração. T. S. Eliott dizia ter vivido 20 anos entre as duas guerras mundiais. Drummond indaga se poderia esperar 20 anos pela poesia. Por isso, olho esses escritores que estão junto a mim e que naquela época eram rascunhos de si mesmos. Onde estava Luiz Ruffato, que fez agora um provocador discurso na abertura falando das mazelas do país? E Paulo Lins, que foi meu aluno na UFRJ nos anos 1980?

Considero-me então um escritor sênior. Eu, Ignácio de Loyola Brandão, Sérgio Sant’Anna, Nélida Piñon, Marina Colasanti e muitos que aqui retornaram. Era, então, o apogeu da geração 70, que tinha também Moacyr Scliar, Antonio Torres, Ivan Ângelo e outros. O presidente da Academia Brasileira de Letras que fez o discurso de abertura era o Josué Montello, já falecido; agora é Ana Maria Machado, segunda mulher a presidir aquela instituição.

Vendo a Alemanha liderando a Europa, lembro-me forçosamente do passado. O muro de Berlim havia sido posto abaixo em 1989. O país renascia e tinha que absorver toda a parte comunista, bastante inoperante. Bem antes, nos anos 1970, eu havia atravessado o muro pra ver o que era Berlim Oriental: uma tristeza. Em 1994, na programação da feira, fui a Berlim Oriental fazer leitura de poemas na casa que pertenceu a Bertolt Brecht.

O Brasil decidiu trazer agora sua parte menos exótica, mais moderna. Alguns acham que este é um viés paulista: querer ser tão europeu e americano quanto os americanos e europeus. Já em 1994 houve mesa-redonda sobre “O Brasil no imaginário europeu”. Essa é uma questão recorrente. Há um jogo de espelhos entre a América e a Europa. Um imagina o outro, um vê no outro o seu ideal e o seu contrário. Bem dizia Américo Castro que o latino-americano não vai à Europa, mas retorna à Europa.

Os discursos sobre periferia e violência que aparecem nos nossos filmes e romances talvez estejam substituindo o exótico de ontem. Seriam estereótipos?

Os discursos de abertura feitos por alemães e brasileiros foram sintomáticos disso tudo. Falou-se muito de cultura e de mercado. E esta feira, que recebe 300 mil pessoas, é o grande mercado do livro, aqui se decide onde estamos e para onde vamos. Como disse uma das autoridades alemãs, o tripé autor-editor-leitor foi alterado. Há uma infinidade de elementos mediadores criados pela internet. Fico pensando no que será a literatura em nossos países daqui a 20 anos.

Umberto Eco e Jean-Claude Carrière escreveram Não contem com o fim do livro. Também acredito nisso. De qualquer maneira, acho meio difícil estar de novo aqui, daqui a 20 anos, em 2033 ou 2034.

Tereza Cruvinel - Navios de Campos‏

Queimando navios, Eduardo Campos tem mais a perder na aliança com Marina. Mas num tempo de política sem riscos, isso o distingue de seus pares


Estado de Minas: 13/10/2013 


Para a estética da política, em sua hora de “Geni”, é bonito e quase comovente o discurso da dupla Eduardo Campos/Marina Silva (PSB) sobre os objetivos maiores de uma aliança em que os ganhos de cada um seriam secundários em favor de um projeto alternativo para o país (a ser elaborado) e de uma nova prática política (que estariam inaugurando). É cedo para saber em que essa aliança dará, mas, por ora, não são claros os ganhos, reais e potenciais, do governador, que se arrisca a perder não apenas a cabeça de chapa para Marina, caso as pesquisas continuem apontando maior potencial de votos para ela, depois de terem os dois anunciado que o candidato será escolhido em 2014.

O que eles estão protagonizando não é mera “oscilação de conjuntura”, como disse a presidente Dilma Rousseff, para nada dizer sobre esse acidente no percurso para a reeleição. Alianças entre dissidentes já derrotaram regimes e também já se revelaram inócuas. Há muito caminho pela frente, mas as contradições iniciais sugerem mais perdas para o governador do que para a ex-senadora, que, fora da aliança, estaria fora da disputa ou faria voo solo pelo PSB, com menor potencial ofensivo ao projeto continuísta do PT.

A desfeita ao deputado Ronaldo Caiado rendeu-lhe a hostilidade de uma ala do DEM. Na sexta-feira, o PTB pernambucano, liderado pelo senador Armando Monteiro, deixou o governo estadual. O PT também entregará os cargos amanhã, coisa que deveria ter feito logo que o PSB rompeu com o governo Dilma. Para dar um sinal de abertura à recomposição, acabou se dando mal. Uma ala do partido aderiu a Campos e não quer deixar seu governo. Um vexame. Campos perderá também apoios importantes no empresariado por conta da rigidez de Marina em questões ambientais. Terá contra a chapa a oposição do agronegócio, que não engole Marina. Vão aflorar as divergências entre eles sobre energia e economia.

Será ela capaz de flexibilizar posições nessas questões? Se for, perderá apoios entre os seguidores que já não gostaram da adesão a um partido convencional, de forma unilateral e vertical, depois de falar tanto em decisões horizontais. Sem falar nos doadores de campanha simpáticos ao governador, agora informados de que ela prefere campanhas financiadas pela sociedade e a militância. Um sonho lindo, que o PT já teve no passado.

Descontada a mágoa, Caiado verbalizou o que alguns pensam, mas não dizem no PSB: “Em vez de a Marina aderir ao governador Eduardo Campos, de repente ele é quem aderiu a Marina e incorporou o espírito dela”. Ainda que não houvesse mais remédio para a aliança com o PT e com Lula, que o fez ministro e o apoiou para governador, Campos era um candidato com total controle sobre seu partido, tinha o estado praticamente unido em torno de sua candidatura e vinha recebendo adesões de forças importantes nos outros estados. Dispensou Caiado e terá que administrar a aceitação de outros aliados conservadores, como os Bornhausen (SC) e o ex-senador Heráclito Fortes (PI). Pedir que deixem o PSB, agora que o tempo de filiação já passou, seria molecagem.

Campos estava também muito próximo do PSDB, que continua saudando a aliança, mas agora vai demarcar o terreno. Ainda que chegasse em terceiro lugar, seu apoio seria valioso no segundo turno. Rompido com o PT, talvez ganhasse a vice numa chapa tucana recomposta. Muito jovem, reconhecido como político hábil e bom gestor, estaria acumulando forças para concorrer em 2018. Se a aliança tiver sucesso eleitoral, pois foi feita para ganhar votos e não para inovar o vocabulário, ele estará no panteão, mesmo cedendo a candidatura. Se a proposta de terceira via para quebrar a polaridade PT-PSDB fracassar, terá ele perdido mais que ela. Ele está queimando alguns navios. Mas política sem risco merece outro nome, e nisso ele se distinguiu de seus pares. Agora, vamos ver o que mais ocorre em um ano de travessia mais agitada.

Vamos combinar

A procriação de partidos volta à pauta na provocação do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ao Supremo Tribunal Federal (STF), sustentando a perda de mandato de parlamentares que migram para partidos novos. Como é sabido, o STF abriu essa janela ao decidir que o nascente PSD teria direito ao tempo de tevê e ao Fundo Partidário decorrentes das filiações recebidas, pois tratava-se de partido novo.

Vamos combinar: há poucos meses, o Congresso tentou fechar essa janela, com o projeto que foi demonizado pela oposição como sendo um casuísmo para impedir a criação da Rede e a candidatura de Marina Silva. A crônica política fez coro. Aprovado na Câmara, teve a votação suspensa no Senado por liminar insólita do ministro Gilmar Mendes. Quando ela caiu, PT e PMDB, ressabiados pelas pancadas, desistiram. Agora, o projeto foi aprovado, como cadeado em porta arrombada.

Reagindo a Janot, o STF pode, enfim, julgar a ação do PPS contra a decisão anterior que beneficiou o PSD. Mas o Supremo, tão onisciente, será capaz de reconhecer que errou e, mais grave ainda, de tomar uma decisão que, aplicada retroativamente, atearia fogo ao quadro partidário e eleitoral? A decisão só afetaria mudanças futuras, acha o procurador. Então, não é preciso a palavra do STF, porque o Congresso já aprovou o projeto que valerá para o futuro. Mais eficácia terá, para organizar o poleiro, a aprovação da nova cláusula de barreira, limitando o acesso ao fundo e à tevê aos partidos que obtenham 3% de votos nacionais e 3% em nove estados. Desde que o STF não venha a derrubá-la novamente, como já fez em 2006. 

Tv Paga

Estado de Minas: 13/10/2013 



 (Exclusive Media Group/Divulgação)

Cinema
Ao contrário da cantora que entrou em cena na festa da MTV com a intenção de chocar, em A super agente a jovem atriz Miley Cyrus (foto) está até bem comportada. O filme estreia hoje, às 20h10, no Telecine Premium, com Miley no papel de uma detetive particular que ajuda o pai, um ex-policial. Outro filme que merece a atenção do assinante hoje é o drama Amar a morir, à 0h15, no Canal Brasil.

Em Marte
Os 125 anos do National Geographic continuam em evidência na telinha, hoje com a exibição do especial Marte: o grande desafio,
às 18h30. O documentário inédito mostra o desenvolvimento de um rover da Nasa chamado Curiosity, que aterrissou no Planeta Vermelho em agosto de 2012, mais precisamente na cratera de Gale. O veículo não tripulado levava instrumentos científicos designados para responder a uma questão: Marte poderia ser um local adequado para a vida?


Enlatados
Mariana Peixoto - mariana.peixoto@uai.com.br
Publicação: 13/10/2013 04:00

 Vida longa vida

A Fox renovou Os Simpsons para seu 26º ano; a BBC anunciou 23
de novembro como a data comemorativa dos 50 anos de Dr. Who, que ganhará episódio especial em 75 países. Enquanto muitas séries tentam emplacar um segundo ano, outras se recusam a acabar. Muita gente e pergunta se Two and a half men faz sentido sem Charlie Sheen. Agora, no 11º ano, que estreia na Warner quarta-feira, às 20h30, até o “half” está ausente. Angus T. Jones, o Jake, não faz mais parte do elenco, sujeito apenas a algumas participações. Em seu lugar, Alan (Jon Cryer) e Walden (Ashton Kutcher) vão se virar com a filha que Charlie nunca soube que tinha. Amber Tamblyn será Jenny, a jovem lésbica que bate à porta da casa de Malibu.

Debutantes – Já amanhã, às 21h, o Sony lança o 14º ano de CSI. Retomando o final da temporada anterior, as filhas dos detetives Brass e Ecklie, raptadas pelo serial killer Oliver Tate, sofrem na mão do maluco, que avisa que só uma delas poderá ser salva. E no dia 22, às 23h, o Universal estreia o 15º ano de Law & order: Special Victims Unit, que começa com a revelação do que vai acontecer com Olivia depois de o criminoso William Lewis invadir sua casa. A novidade no elenco fixo é Raúl Esparza e entre os atores que farão participação especial estão Cybill Shepherd e Jeffrey Tambor.

Alta voltagem – Mas a estrela da semana é The walking dead. A quarta temporada estreia hoje nos Estados Unidos e terça-feira, às 22h30, na Fox. No primeiro episódio, Rick e o grupo estão próximosde uma vida ideal na prisão. Será que eles conseguirão manter a humanidade ao enfrentar um novo mal? Lembrando que o quarto ano será dividido em 16 episódios, então nos dois próximos meses somente a primeira metade vai ao ar. Na sequência, às 23h15, estreia a terceira temporada de American horror story, que vai contar com Kathy Bates no elenco. 

BATE-PAPO » Realidade simplificada - Marcos Pontes‏

BATE-PAPO » Realidade simplificada 

Carolina Braga

Estado de Minas: 13/10/2013


Astronauta brasileiro Marcos Pontes não perde um filme de ficção científica (Acervo pessoal)
Astronauta brasileiro Marcos Pontes não perde um filme de ficção científica


Quem não ficaria curioso em saber a opinião de um especialista em navegar pelo espaço (e olhe que eles não são tantos assim) sobre os filmes de ficção científica? Surfando na onda da estreia de Gravidade, do diretor mexicano Alfonso Cuarón, com Sandra Bullock e George Clooney, o Estado de Minas conversou sobre o “cinema espacial” com o astronauta brasileiro Marcos Pontes. Confira trechos da entrevista:

A lista de filmes que tentaram decifrar o universo é extensa. Algum deles conseguiu reproduzir com fidelidade a experiência de estar fora do planeta?
O filme Apollo 13(1995, de Ron Howard) foi perfeito nesse sentido.

O que falta para a ficção científica se aproximar da realidade?
Geralmente, os filmes se obrigam a colocar mais ação ou mais drama em uma forma condensada, para manter a atenção da audiência durante o filme (de 1h30 a 2h). Na vida real, os eventos são mais espaçados na linha do tempo e seria impossível um filme que mostrasse tudo de forma fidedigna nessa mesma escala de tempo.
 
Na trama de Gravidade a personagem principal chega a ficar à deriva nas estrelas. Em uma situação como essa, é possível o ser humano escapar com vida? Existe algum caso?
Se o astronauta estiver dentro do traje EMU (para atividades extraveiculares) e o traje estiver funcionando corretamente, ele terá de seis a nove horas de vida. Depois disso, ou faltará energia elétrica ou oxigênio. Isso acarretará morte por congelamento ou aquecimento, ou por falta de oxigênio. Se fora do traje, em questão de segundos ele terá o sangue fervendo (ebulição dos líquidos com o corpo exposto a muito baixa pressão – temperatura de ebulição reduz com a pressão, lembra?) e uma série de outros problemas que o levarão à morte, rapidamente. Outro detalhe importante é que o traje Sokol (da Soyuz ou da Shenzhou) não é projetado para atividades extraveiculares. Não tem oxigênio, exceto uma pequena garrafa de emergência, não tem sistema de controle de temperatura independente da espaçonave e não tem umbilicais de oxigênio e refrigeração longos para sair da espaçonave com eles.

O que chamou sua atenção em Gravidade?
Tentaram manter a audiência ligada o tempo todo, colocando uma longa sequência de panes e eventos catastróficos iniciados pela colisão com debris dos satélites destruídos. Essa colisão é uma possibilidade real. Contudo, a atividade extraveicular (EVA) ficou estranha... Por exemplo, eles não usavam os dois cabos previstos de ancoragem... Quando ela tirou o traje, faltou uma peça essencial, que é o traje de controle de temperatura. Ela estava de short e camiseta. Já a movimentação em zero g dentro da espaçonave foi perfeita... De forma geral, todos os procedimentos, como acoplamento e desacoplamento, abertura de hatches, acendimento de motores, separação de módulos, etc., foram muito simplificados.

Depressão sem tristeza‏

Pouca energia para realizar tarefas corriqueiras, mau humor, irritabilidade e dor física, sem melancolia e choro, podem ser sinais de falta de ânimo na vida. Quadro é comum entre homens



Carolina Braga


Estado de Minas: 13/10/2013 






É fato que se trata de uma doença silenciosa. Muitos a chamam de o mal do século. O que ainda parece pouco divulgado é que nem sempre tristeza é sinônimo de depressão e vice-versa. “Muitas vezes é discutida a diferença entre depressão e tristeza. A depressão é uma síndrome, um conjunto de sinais”, explica o psiquiatra membro da diretoria da Associação Mineira de Psiquiatria, Alexandre Aguiar. Pode até ser atípico, mas existem casos em que o quadro evolui sem que o paciente se sinta necessariamente triste. Embora a tristeza seja um sintoma nuclear, existem outros, como a dificuldade em encontrar prazer em qualquer atividade ou mesmo a falta de energia no dia a dia. “Muitas vezes, a pessoa está com um quadro depressivo que vai se manifestar mais na atividade do que naquilo que seria mais evidente. A recomendação é que seja feita uma avaliação mais criteriosa considerando outros sinais e sintomas”, completa Alexandre.

Segundo o psiquiatra Kalil Duailibi, professor do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina de Santo Amaro (Unisa) e ex-coordenador de Saúde Mental da Secretaria de Saúde do Município de São Paulo, desde a década de 1970 a comunidade médica tem uma concepção mais elástica do que seja depressão. A ideia da doença associada à melancolia, choro e falta de ânimo tem convivido cada vez mais com outros quadros. E um detalhe: eles são cada vez mais comuns em homens.

“Os homens apresentam quadros diferentes, caracterizados pela irritabilidade, explosões, mau humor e também dor física”, destaca Duailibi. A American Psychiatric Association divulgou no mês passado um estudo mostrando que a prevalência das doenças em pacientes do sexo masculino é tão grande quanto em mulheres. “Não tem aquela história de dois para um mais. Nos homens, as características estão mais ligadas a dores e à irritabilidade”, completa Kalil.

Ou seja, o sujeito pode até não estar propriamente triste, chorando, mas a doença pode estar escondida por trás de uma dificuldade para dormir, na falta de paciência com tudo e com todos. “Chamamos de depressão aparentemente sem doença. Não está lamentando a vida, mas de alguma forma o corpo chora”, ressalta o médico.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a depressão atinge atualmente mais de 350 milhões de pessoas em todo o mundo. Alexandre Aguiar chama a atenção para o fato de o primeiro “diagnóstico” surgir a partir da observação da família ou de amigos próximos. “A questão é detectar os sintomas o quanto antes”, ressalta.

ATENÇÃO PRIMÁRIA Para Kalil Duailibi, é preciso conscientizar e informar médicos da atenção primária para o aumento de casos assim. Dados também da OMS indicam que, em média, de 20 a 25% das pessoas que procuram atendimento têm quadros de ansiedade e de depressão. “As queixas são físicas”, constata. Se a ansiedade se caracteriza por ser um sofrimento antecipado, a depressão é uma alteração muito mais profunda.

“Situação em que a pessoa vai perdendo a esperança, o interesse e o prazer nas coisas. Com isso a doença leva a outras coisas: a memória fica comprometida, não consegue ter atenção, vai ficando muito mais irritada e pode ter também sintomas no corpo”, acrescenta Kalil. Outro alerta é que, segundo ele, pesquisas recentes deixam cada vez mais claras as relações entre a depressão e outras doenças. “Ela passa a ter interferência em várias alterações hormonais, o que facilita casos de hipertensão e obesidade. É como se o cérebro estivesse em uma situação inflamatória”, explica.

Se o diagnóstico precoce é ponto a favor do paciente, de acordo com Alexandre Aguiar  sinais e sintomas devem ser observados, como a duração e a frequência  da mudança de comportamento. “Há um tempo mínimo de duas semanas necessário para o diagnóstico. Quanto mais precoce, melhor para administrar o tratamento, tanto no aspecto medicamentoso ou mudanças de hábitos de vida e na terapia”.

Dez por cento de
brasileiros têm a doença


Pesquisa realizada com 12 mil brasileiros pela National Health and Wellness indica que aproximadamente 10% do país apresenta algum sintoma de depressão. Deste total, 28,1% receberam diagnóstico para a síndrome e 15,6% utilizam medicamentos para controlar o quadro. O aumento no número de depressivos, de acordo com Alexandre Aguiar, pode ser relacionado ao crescimento do estresse.

“É uma espécie de adaptação a determinados contextos de trabalho ou social. Às vezes, há uma sobrecarga de trabalho, competitividade. São situações que afetam algumas pessoas. Essas condições ambientais podem evoluir para casos depressivos mais graves”, explica o psiquiatra. Além da detecção precoce da doença, os desafios da comunidade terapêutica incluem vencer o preconceito que ainda existe. Por incrível que pareça, mesmo que já tenha avançado bastante, o universo da psiquiatria ainda precisa superar uma imagem do passado, quando os tratamentos eram realizados dentro de manicômios. Como Alexandre Aguiar ressalta, é um conceito malformado. “Isso já melhorou muito, mas ainda há uma certa resistência ao procurar o psiquiatra”, constata.

Três perguntas para...

Julia Barboza, psicóloga e doutoranda em
psicologia pela Universidade Federal Fluminense

1- Quais são os desafios no tratamento de quadros de depressão que não têm a tristeza como principal sintoma?


Em primeiro lugar, acredito em um diagnóstico diferencial, que dê conta de detectar outros sinais que indicam um quadro depressivo, como, por exemplo, sintomas no corpo. Em alguns casos, a pessoa deprimida pode sentir muita dor física, agitação, mudanças de humor, irritabilidade, dificuldades para dormir, transtornos de alimentação, diminuição da energia sexual, etc. O efetivo diagnóstico da depressão pode se tornar um processo mais demorado nos casos em que a tristeza não é um sentimento claramente manifesto. Além de não entender bem o que está se passando, a pessoa pode percorrer um longo caminho consultando especialistas até chegar à causa, situação que muitas vezes pode gerar sofrimento. Isso porque durante esse lapso de tempo se abre um signo de interrogação sobre o que está acontecendo. E essa pergunta ativa inevitavelmente aquele medo atávico do ser humano de doenças graves, de morrer, etc.

2- O modo de vida da sociedade contemporânea pode ser associado, de alguma maneira, ao aumento no número de casos de depressão?


A depressão sempre existiu, mas acredito que, na atualidade, houve um aumento dos índices de casos inclusive por conta das rápidas mudanças no estilo de vida das pessoas. Elas estão submetidas a jornadas de trabalho excessivas, onde o tempo de lazer se converteu em um tempo regulado, demarcado e que também implica consumo. Os momentos de ócio contemplativo são cada vez menos presentes na vida e ficam cada vez mais associados à capacidade de consumir, como, por exemplo, as pessoas que saem de férias e voltam endividadas. É importante perceber que em tempo de mudanças há novas formas de se vincular, como pela internet, que são igualmente válidas e não significam necessariamente que a pessoa está isolada do mundo. Pelo contrário, ela pode estar reinventando novas maneiras de se relacionar.

3- Mesmo que cada caso tenha suas particularidades, de maneira geral, o que define o sucesso de um tratamento para depressão?


O sucesso do tratamento está relacionado, em primeiro lugar, com o cumprimento do tratamento medicamentoso. O que muitas vezes ocorre é que, ao perceber os primeiros sinais de melhora, a pessoa abandona o tratamento. Essa atitude implica grande risco. Outro fator fundamental é o acompanhamento com psicólogo. Embora o medicamento promova um bem-estar físico e uma melhora considerável nos quadros de depressão, ele sozinho não resolve. Como a depressão afeta todos os âmbitos da vida de uma pessoa, o espaço de diálogo com o psicólogo contribui para a acolhida e a compreensão desse processo de mudanças e, consequentemente, para a cura da depressão. E nos casos em que não há tristeza, acolher esse corpo que chora. Os vínculos familiares também podem ser afetados por isso, acredito que o trabalho com a família às vezes  é necessário. Outras abordagens, como trabalhar com o corpo e em grupo, são muito eficazes. Em geral, essa é uma segunda etapa e fica à livre escolha da pessoa. Recomendo, pois os resultados são fantásticos.

O mercado imobiliário das formigas‏

Estudo britânico mostra que os insetos sondam os arredores em busca de lugares melhores para morar. O objetivo é garantir a segurança da rainha e, consequentemente, da colônia


Vilhena Soares

Estado de Minas: 13/10/2013 




O mercado imobiliário das formigas é tão movimentado quanto o dos humanos, mostra pesquisa realizada por cientistas americanos da Escola de Ciências Biológicas de Bristol, no Reino Unido. Os pequenos insetos, mesmo quando moram em formigueiros que atendem suas necessidades, mudam para uma morada melhor assim que a identificam. Por isso, fazem constantemente passeios pelos arredores, de olho nas melhores “ofertas”.

A descoberta, divulgada no jornal especializado Biology Letters, é fruto de um experimento no qual os cientistas puderam observar o comportamento dos bichos em ninhos artificiais construídos em laboratório. Os cientistas notaram também que as incursões em busca por novas casas ocorrem em grupo, o que acrescenta mais um dado à já famosa organização coletiva das formigas.

Carolina Doran, uma das autoras do estudo, explica que o hábito de esses animais se mudarem constantemente já era conhecido pelos cientistas. No entanto, a nova investigação mostrou que essa migração ocorre mesmo quando o endereço atual atende as necessidades básicas dos bichos. “Devido a esse resultado, podemos assumir que elas monitoram os seus arredores constantemente. E decidimos verificar como elas se comportam quando vivem em ‘casas’ de qualidades distintas”, detalha.


No experimento, os especialistas selecionaram uma colônia de formigas da espécie Albipennis temnothorax, a retiraram do campo onde ela vivia e a transferiram para o laboratório, onde havia cinco ninhos artificiais à disposição. Cada ambiente foi planejado para atender de forma “boa” ou “muito boa” as necessidades do grupo. Os cientistas notaram, então, que, à medida que o tempo passava, os animais seguiam mudando para as casas com mais vantagens – como pouca luz e entradas menores, por exemplo.

Esse movimento mostrou-se ligado a incursões feitas em grupo. “Depois de um período em que elas já tinham se adaptado em um ninho específico, algumas formigas continuavam à procura de um ambiente melhor. Contabilizamos esses grupos e vimos que o número de bichos que seguiam em busca de novos lares foi considerável”, conta Doran.

A autora explica a importância da alternância de endereço para a colônia: “Qualquer espécie age sempre de forma a maximizar seu bem-estar no ambiente em que vive. Para as formigas, é muito importante ter a rainha longe de perigos. Os melhores ninhos são os mais seguros. No entanto, emigrar também pode ser perigoso, por isso é preciso calcular para onde ir”, diz. “Essa estratégia de ajustar a coleta de informações de acordo com as reais necessidades e identificar o valor real das qualidades de uma ‘propriedade’ mostra que as formigas avaliam seu ‘mercado imobiliário’ de uma forma ponderada e completa”, completa.

Divisão de tarefas Pedro Ribeiro, pesquisador e pós-doutorando em fisiologia animal pela Universidade de São Paulo (USP), destaca que a pesquisa dos britânicos mostra um ponto muito interessante no comportamento das formigas: a capacidade de avaliar se algo é bom ou ruim para elas. “O interessante é que esses insetos são capazes de medir a qualidade do ninho onde vivem e agem de acordo com isso na busca de novos locais”, avalia o especialista brasileiro, que não participou do estudo.

O professor ressalta outro dado curioso mostrado pelo trabalho britânico: a diferenciação de tarefas. “Em espécies como essa, existem formigas responsáveis por buscar lugares melhores. Nesse experimento, é possível notar isso claramente: um pequeno grupo segue em busca de um local mais seguro para a rainha. É o pensamento individual e coletivo agindo juntos. Isso mostra que elas têm essa capacidade específica de adequar o comportamento ao contexto em que vivem”, detalha.

Carolina Doran acredita que novos estudo poderão revelar outros comportamentos surpreendentes nas colônias. “Existem muitos aspectos relativos à tomada de decisões que ainda podem ser esclarecidos, e experimentos com esses insetos sociais vão certamente contribuir para esse ramo. No nosso laboratório, em Bristol, estamos muito interessados nesses vários mecanismos e pretendemos nos aprofundar neles”, adianta.


Qualquer espécie age sempre de forma a maximizar seu bem-estar no ambiente em que vive. Para as formigas, é muito importante ter a rainha longe de perigos. Os melhores ninhos são os mais seguros. No entanto, emigrar também pode ser perigoso, por isso é preciso calcular para onde ir” - Carolina Doran, coautora do estudo

Repelente melhorado
Isabela de Oliveira
Publicação: 13/10/2013 04:00
Pesquisadores da Universidade da Califórnia identificaram os receptores olfativos que fazem com os mosquitos percebam o princípio ativo da maioria dos repelentes, o deet. Os resultados, que foram publicados na revista Nature, apresentam ainda três compostos seguros que poderiam, um dia, ser usados para prevenir a picada de insetos que transmitem doenças como a malária, a dengue e a febre amarela.

Anandasankar Ray, principal autor do estudo e especialista em entomologia, afirma que, até agora, ninguém tinha a menor ideia sobre os receptores olfativos usados pelos insetos para evitar o deet. Introduzido na década de 1940, esse composto químico utilizado nos repelentes manteve-se inalterado nos últimos 65 anos, em grande parte porque o receptor olfativo dos insetos era desconhecido. “Sem o conhecimento desses receptores é impossível aplicar a tecnologia moderna para conceber novos repelentes e aperfeiçoar o deet”, explica.

Os pesquisadores analisaram todos os neurônios sensoriais da Drosophila melanogaster, a mosca-da-fruta. Ela foi geneticamente modificada para que os neurônios ativados pelo deet apresentassem uma coloração verde fluorescente. Assim, foi possível identificar o Ir40a, receptor que reveste o interior de uma região pouco estudada da antena, o sáculo.

Essa descoberta permitiu que a equipe tentasse descobrir quais substâncias poderiam ser repelentes mais eficientes. “Nossas descobertas podem levar a uma nova geração de repelentes baratos e acessíveis que pode proteger humanos, animais e nossas plantações também”, acredita Ray. 

Desapego na infância‏

Desapego na infância 

Mário Quirino - Diretor do Instituto Você, especialista em programação neurolinguística (PNL)

Estado de Minas: 13/10/2013


O verbo apegar, entre suas várias definições, significa agarrar, segurar, afeiçoar, dedicar. Esses significados especificam o sentimento e o comportamento das crianças em relação aos pais. As figuras paterna e materna são referências de segurança, de confiança, de certeza e de bem-estar. Quando existe a separação, seja para ir à escola ou para ficar com a babá, a criança sente um impacto causado pela ausência dos pais. O apego é comum nos primeiros anos. A partir de então, é preciso dar mais liberdade às crianças, pois o desapego é reflexo da independência, da autonomia e da autoconfiança futuras, sendo o comportamento infantil um espelho da vida adulta. Pais superprotetores exercem papel importante nessa fase. Mesmo que queiram apenas proteger, podem acabar prejudicando, até sem perceber. Alguns pais têm receio e preocupação de o filho correr riscos e o mantêm sempre por perto. O excesso de zelo e de ansiedade é transferido para ele. Se os pais demonstram medo de deixá-lo sair à rua, certamente o filho criará esse temor, pois a criança reproduz o que aprende.

A programação neurolinguística (PNL) trata o desapego como um processo natural de desenvolvimento da criança. O grande ponto é como a experiência será registrada: positiva ou negativa, possibilitadora ou limitante. Isso quer dizer que as experiências e os registros impactarão diretamente na personalidade da criança e no que ela acredita. O cuidado deve ser redobrado nessa fase justamente devido à formação dos valores e das crenças. Se os pais resolvem viajar e não podem levar o filho, a atitude mais comum é deixá-lo com os avós ou com os tios mais próximos. O estilo de vida diferente do qual está acostumado e o modo de tratamento pode interferir positiva ou negativamente na experiência. Se for ruim, pode gerar insegurança, medo e fobia. A criança não vai querer mais se afastar dos pais, pois aquele episódio gerou uma sensação ruim e uma decepção, sentimentos com os quais a criança não consegue lidar.


Ficar longe dos pais também pode ser um bom aprendizado. A criança tem a possibilidade de se reconhecer como pessoa e o maior ganho é entender que ela tem personalidade e sonhos. Contudo, a criança pode interpretar uma situação inicialmente positiva como ruim. Nesses casos, a PNL atua na ressignificação do registro para proporcionar uma experiência que possa influenciar na personalidade da criança e nas crenças. Assim, é possível melhorar a autoconfiança, a capacidade, a autoestima e o comportamento nos casos de teimosia e de nervosismo, por exemplo.

A PNL também ajuda a superar o medo de abandono da criança, fazendo com que o desapego ocorra de forma espontânea, trabalhando aspectos como autonomia, autoconfiança e emoção. Os nossos comportamentos são pautados nas crenças e nos valores aprendidos desde cedo. É natural que a criança fique ansiosa quando está longe dos pais. Essa distância tende a fortalecer a relação familiar e estabelece limites, assim como cria mais autonomia. É importante que a criança não seja totalmente dependente dos pais, principalmente emocionalmente. A programação neurolinguística é uma técnica capaz de reprogramar experiências negativas, tanto na criança quanto no adulto. Quanto mais cedo se desenvolver, melhor será o crescimento pessoal na fase adulta.

A importância do professor‏

A importância do professor

Dalva Soares Gomes de Souza

Estado de Minas: 13/10/2013


Toda pessoa já teve, pelo menos, um professor, alguém que lhe tenha ensinado a arte de viver ou a de fazer algo. Figura muito respeitada em outros tempos, perdeu seu valor com o passar dos anos. Os pretendentes a exercer a docência ficaram desmotivados com a desvalorização generalizada que acometeu essa função. Vestibulandos só fazem opção por alguma licenciatura quando o nível da concorrência para outros cursos indica a quase impossibilidade de sua aprovação.

A presença da curiosidade em nossa vida é inevitável. Queremos conhecer o mundo que nos rodeia desde tenra idade. Ato contínuo, participamos do ensino sistematizado pela escola. Piaget já dizia: “A inteligência é um produto do potencial inato em interação com o ambiente”. Assim crescemos, desvendando o desconhecido e ampliando nossa capacidade intelectual, tendo o professor como figura-chave desse processo.

Quem foi professor, há uns 30 anos, sabe o quanto era respeitado esse profissional. Os valores eram outros. Todos sabiam cantar o nosso Hino Nacional, além de se comportar adequadamente ao ouvi-lo. Arrepiava-se. Ainda não haviam estragado tanto nossa pátria e os nossos jovens. Mas o grande respeito ao professor vinha das famílias, hoje desmanteladas. Inúmeros fatores deram sua contribuição nesse item: emancipação feminina; ausência dos pais na vida dos filhos; separação constante dos casais; nenhuma referência para os filhos; aprovação automática em escolas públicas (grande pecado do sistema), gerando falta de estímulo para dar sequência aos estudos.

E o professor, que nesse meio-tempo foi até cognominado de trabalhador do ensino, via esvaziar, a cada dia, sua mais significativa função, a de educador. Essa trajetória ultrapassou uma década. Desmoralizados pelo sistema e desmotivados com os baixíssimos salários, alguns se aposentaram, outros mudaram de profissão. Como a cobrança de conhecimentos é irrisória tanto no ensino fundamental como no médio, caiu o interesse pelos estudos e, lamentavelmente, pelo ensino.

O aluno quer apenas o documento de sua conclusão para lançar medíocres voos na área do trabalho ou ingressar na universidade com bagagem mínima para encarar estudos superiores, sem qualquer base cognitiva nem hábito de estudo.

Com o avanço da tecnologia e a era do conhecimento ganhando força, cresceu também a criação e a valorização de cursos voltados para essa realidade tecnológica. Em contrapartida, cada vez mais, as licenciaturas foram se esvaziando, até ser eliminadas da oferta de várias faculdades por falta de alunos para compor uma turma.

Conscientes da importância do mundo tecnológico, a visão holística necessária a todos os profissionais exige a base que não vem sendo trabalhada pelos ensinos fundamental e médio, o que compromete a qualidade do trabalho realizado em várias áreas. Além disso, a formação dos valores humanos não faz parte da prática da escola, somente aparece no projeto pedagógico e em tímidas atividades durante o período letivo.

Assim, aos professores que encaram a tempestade da sobrevivência, atuando no ensino público, os cumprimentos de uma educadora de meio centenário na função, que vê a arte de educar tão sublime e bela quanto a vida.