Série B
SÃO PAULO - Quem assiste ao debate econômico modulado pelas expectativas de curto prazo talvez não se dê conta da encalacrada em que nos metemos. Diriam os muito otimistas, ou cínicos, que o país deve triplicar seu crescimento neste ano.Uma taxa de 3% a 3,5% seria suficiente para acomodar uma gama variada de interesses imediatos, empresariais e políticos. Mantém baixo o desemprego, coloca panos quentes na compressão dos lucros e não ameaça as contas externas.
O percurso da inflação nos próximos meses é o principal incômodo, mas ninguém acredita que ela vá sair de controle. O objetivo de perseguir 4,5% de carestia -ou mesmo de baixar esse alvo ao longo desta década- foi para o vinagre faz tempo. Um desacreditado Banco Central parece que recuperou da soberana o direito de cogitar, quem sabe, de elevar os juros.
O horizonte encurtou tanto, e os parâmetros para avaliar o desempenho econômico ficaram tão mesquinhos, que mal se nota ou se questiona o rebaixamento das expectativas de longo prazo para o Brasil. A perspectiva de crescer 3% ao ano no decurso desta década, depreende-se, não incomoda muita gente.
Nesse ritmo, a renda per capita levará mais de 35 anos para dobrar, em termos reais. Somos uma nação mal remediada com US$ 12 mil anuais por cabeça. Se chegarmos à metade do século 21 com o dobro disso, ainda assim estaremos a meio caminho do nível de renda de hoje nos Estados Unidos.
A modorra das expectativas nos coloca de volta na toada das décadas perdidas. Nos 33 anos até 2012, o Brasil cresceu 3% ao ano. Equivalente ao dos EUA no mesmo período, o ritmo é de país desenvolvido.
Apenas o ritmo. Nós disputamos a série B da liga mundial. E ali permaneceremos ao longo deste século, jogando pelo empate, se depender da média das expectativas domésticas.
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