Dirigindo no tornado
Empresária brasileira que vive em Oklahoma City, nos EUA, relata seu pânico durante a tempestade que atingiu a cidade na segunda e a colheu no caminho de casa
RESUMO
A empresária brasileira Patricia Paes, 37, mora há 18 anos na região de Oklahoma City, que foi atingida pelo tornado da última segunda-feira. Ela relata os momentos de desespero que sofreu para tentar atravessar o temporal dirigindo seu carro, guiada pelo marido via celular, até chegar em casa, onde estava sua filha de quatro meses.
-
O sistema de meteorologia de Oklahoma já havia avisado, dias antes, que para aquela segunda-feira havia grandes chances de formação de tornado. Só restava saber onde seria.
Na hora do almoço, recebi uma ligação do meu marido avisando que as nuvens estavam se concentrando e que poderiam chegar à região do escritório da Câmara de Comércio do Sul de Oklahoma City, onde eu estava.
Eu continuei trabalhando. O Paulo [marido de Patricia] me mandou mensagem de texto às 13h30. Mas, como a telefonia já estava sendo afetada, ela só entrou às 14h17. A mensagem dizia: "Saia daí no máximo até as 14h".
Senti um frio na espinha e avisei a minha amiga, que também mora no norte da cidade, que precisávamos sair dali urgentemente. Ao sair pela porta do escritório, não chovia ainda. O céu estava preto, e o vento forte confirmou a minha preocupação.
Normalmente o caminho até a minha casa leva 30 minutos. Eu teria de atravessar a cidade do extremo sul ao extremo norte.
A trajetória, no entanto, foi bem mais longa. Em pouco tempo, os ventos fortes se transformaram em um temporal de granizo. Os carros se abrigavam embaixo dos viadutos. Eu tive medo de que as pedras, de tão grandes, quebrassem o vidro, mas tomei a decisão de seguir dirigindo.
Eu tentava ligar para o Paulo, mas o telefone, de novo, não funcionava. Eu corria o risco de, no meio do trajeto, cruzar justamente o caminho do tornado.
Consegui receber uma ligação da minha amiga do escritório, que achou que ainda dava tempo de fazer um depósito bancário. Mas ficou presa na agência e foi se abrigar no cofre do banco com os funcionários e outros clientes. Numa situação dessas, sempre é preciso avisar para algum conhecido, em outra região da cidade, onde você se refugiou.
O Paulo, enfim, conseguiu me ligar. Nesse momento, ele estava na frente da televisão, e me confirmou a existência do tornado. O "touchdown", quando as nuvens se transformam em um funil e o tornado toca o solo, já havia acontecido.
Ele perguntou a minha localização exata e me disse: "Olhe para a sua esquerda". Lá estava o tornado.
Eu, sozinha, não poderia saber com precisão para onde os ventos se dirigiam. Mas o meu marido conseguia ver a movimentação dele no mapa divulgado pelos meteorologistas na televisão.
Com a orientação dele, eu pude fazer outro caminho e evitar a trajetória do tornado.
Levei uma hora para chegar. Tive de controlar o medo e raciocinar. Eu perguntava: "Por que eu estava lá naquele dia? Por que demorei a sair? Por que a mensagem não chegou?". Pensava na Stella, minha filha de quatro meses.
No fim, cheguei em casa a tempo de ver as primeiras imagens devastadoras na TV. O que mais impressionou é que o que eu estava vendo em pedaços eram os prédios de uma região que conheço tão bem. Abracei a Stella, chorei e agradeci.
Nenhum comentário:
Postar um comentário