domingo, 25 de maio de 2014

Alerta para as 'doenças da Copa'‏

Alerta para as 'doenças da Copa' 
 
Com a proximidade do Mundial de futebol, especialistas em saúde estão atentos ao sarampo, às influenzas e aos vírus do ebola e da poliomielite 
 
Luciane Evans
Estado de Minas: 25/05/2014

Além do entusiasmo e das críticas severas, a Copa do Mundo no Brasil traz a reboque uma preocupação em tom de alerta na área da saúde. Com a vinda de cerca de 500 mil turistas estrangeiros para o país, doenças com pouca circulação em território nacional podem aparecer com mais intensidade, como é o caso do sarampo e de influenzas, principalmente, o H1N1, a conhecida gripe suína. Apesar do risco ser real, especialistas pedem cautela e dizem que não há motivo para pânico na população. Além desses males, enfermidades graves e inexistentes no Brasil, como o ebola, doença considerada perigosa e altamente contagiosa, estarão sob o olhar atento dos profissionais de saúde.

Serão 3,7 milhões de pessoas, entre turistas, brasileiros e estrangeiros, circulando pelas cidades-sede da Copa, no país, durante o Mundial. Última pesquisa da empresa espanhola Forward Data, junto com a Pires & Associados no Brasil, indica que, em relação ao mesmo período de 2013, durante os dias de realização do Mundial, o número de pessoas chegando do exterior ao país por via aérea será 4,5 vezes maior, sendo originários dos Estados Unidos, Alemanha e da Argentina. Belo Horizonte está em 7º lugar em número de visitantes, entre as 12 cidades-sede. Em primeiro está o Rio de Janeiro, seguido de São Paulo e Salvador.

A preocupação aumenta, porque segundo médicos, quanto maior a circulação, maior a possibilidade de vírus na bagagem. E todo cuidado é pouco. Um levantamento do Ambulatório do Viajante do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) mostra que 48% dos adultos viajantes atendidos na unidade em Belo Horizonte não têm situação vacinal regularizada, conforme comenta a coordenadora do ambulatório, Marise Fonseca.

Ela destaca que para aqueles que vão para as regiões Norte e Nordeste do país é bom estar atento à febre amarela, malária e leishmaniose. Para a primeira, há vacina. “Para as outras, é bom tomar cuidado com picadas de inseto. Nas proximidades da Floresta Amazônica, é recomendável proteger a pele, usar calçados próprios e roupas claras, já que as escuras atraem insetos”, diz. Marise afirma que quem contrair a malária, por exemplo, só vai sentir os sintomas em seu país de origem. “Por isso, se ao voltar de viagem, tiver febre, mesmo que seja depois de três meses, é bom estar atento e relatar ao médico a ida a lugares com potencial para a doença”, recomenda.

De acordo com o diretor do Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde, Cláudio Maierovitch, qualquer evento com aumento na movimentação das pessoas merece cuidados. Nesta Copa, segundo ele, a preocupação é para algumas doenças que já são frequentes nessa época do ano, como as gripes, para quais já há uma preparação rotineira e conjunta dos municípios e estados, que é a campanha de vacinação. Ele destaca que os serviços de saúde e de vigilância em saúde estarão mais sensíveis para qualquer sinal de doenças inesperadas e diferentes das habituais, como o vírus do ebola e da poliomielite, para os quais os especialistas apontam risco muito baixo de aparecerem por aqui.

FANTASMA No entanto, o alerta cai sobre o sarampo, um fantasma que vem assombrando o Brasil. Apesar de o país já contar com a vacinação contra o vírus, a enfermidade existe em boa parte do mundo, incluindo países da Ásia, África e Europa. Porém, desde o registro de um caso de sarampo em março de 2013 em Pernambuco, foram mais de 300 ocorrências semelhantes confirmadas até o início deste ano. Há quase 15 anos o país não registrava a transmissão da doença infectocontagiosa dentro do território nacional – todos os episódios nesse período foram de contágio no exterior.

Segundo destaca Marise Fonseca, da UFMG, os últimos casos de sarampo no Brasil foram “importados” da França, Espanha, do Japão e da África do Sul. “Há adultos que não se vacinaram e não tiveram o mal, por isso, é interessante se vacinar”, recomenda. A preocupação de Carolina Lázari, infectologista do Fleury Medicina e Saúde, é que a pessoa contaminada com sarampo passa cinco dias sem manifestar o principal sintoma da doença, que são as manchas pelo corpo. “Sendo assim, é possível viajar sem saber que se está infectada”, comenta.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), pelo menos 500 mil crianças morrem todos os anos no mundo por causa do sarampo e suas complicações. “Isso aumenta a nossa preocupação. Há localidades brasileiras onde a cobertura de vacinação é mais baixa do que a do resto do país”, comenta Claúdio Maierovitch, lembrando que, além disso, muitos pais, por motivos ideológicos, deixaram de vacinar seus filhos. “Tempos atrás houve um surto de sarampo em uma escola em São Paulo, onde muitos pais tinham essa filosofia”, critica ele, acrescentando que a recomendação é a vacinação até os 49 anos de idade. “Seria necessária a vacina para o brasileiro que vai sair daqui para um país onde o mal é endêmico. No caso da Copa, é bom que as crianças estejam protegidas”, ressalta Maierovitch.

AGLOMERAÇÕES NO INVERNO Carolina Lázari lembra ainda que o evento esportivo vai ocorrer durante a estação mais fria para o Brasil, quando as pessoas tendem a ficar ainda mais próximas. Por esse motivo, ela chama a atenção para as doenças respiratórias, como a gripe suína, que em 2009 matou mais de 2 mil brasileiros. “Houve a pandemia naquele ano e, no ano seguinte, houve a preocupação com a vacinação. Porém, com a diminuição de casos, as pessoas relaxaram e, no ano passado, a gripe voltou a fazer vítimas, como pode ocorrer este ano. Porém, a maioria das pessoas que virá do Hemisfério Norte está imunizada e o inverno delas já passou. O problema pode ser com os vizinhos da América Latina que não estão imunizados contra a gripe”, avisa.

 As vacinas contra a influenza, devida a contínua mutação do vírus, tem prazo de validade menor que um ano. “Voltamos à recomendação de sempre: lavar as mãos, usar álcool em gel e, principalmente, evitar ambientes com muitas pessoas. Além disso, procurar se vacinar.” A orientação, segundo ela, para que as pessoas que vão trabalhar nos jogos e terão contato direto com estrangeiros, é de que se vacinem pelo menos 15 dias antes do primeiro evento.


PERIGOS QUE RONDAM O EVENTO


Com a circulação maior no número de pessoas no país, médicos aconselham atenção para algumas doenças. Veja quais são elas e como se proteger.

SARAMPO
É uma doença infecciosa aguda, de natureza viral, grave, transmissível e extremamente contagiosa, muito comum na infância. A viremia, causada pela infecção, provoca uma vasculite generalizada [vesículas], responsável pelo aparecimento das diversas manifestações clínicas.

Proteção: vacina é a única medida preventiva e a mais segura.A primeira dose deve ser aplicada aos 12 meses de vida, e o reforço entre quatro a seis anos. A vacina é aplicada até os 49 anos.

INFLUENZA

Também conhecida como gripe, é transmitida por meio do contato com secreções das vias respiratórias, eliminadas pela pessoa contaminada ao falar, tossir ou espirrar ou pelas mãos e objetos contaminados, em contato com mucosas (boca, olhos, nariz).
Proteção: Desde 22 de abril, a campanha nacional de vacinação contra a gripe está em vigor. Também disponível na rede privada.

POLIOMIELITE

É uma doença viral que pode afetar os nervos e levar à paralisia parcial ou total. É causada pela infecção pelo poliovírus. O vírus se espalha por contato direto pessoa a pessoa, por contato com muco, catarro ou fezes infectadas.

Proteção A doença existe em 10 países. E em três deles o risco de propagação é maior: Paquistão, Camarões e Síria. No Brasil, a pólio está eliminada desde 1994. Há mais de 40 anos, o Ministério da Saúde faz campanhas anuais de vacinação contra a doença.

EBOLA
O ebola é uma das doenças mais mortais que existem. O vírus pode ser contraído tanto de humanos como de animais. É transmitido por meio do contato com sangue, secreções ou outros fluídos corporais. Em algumas áreas da África, a infecção foi documentada por meio do contato com chimpanzés, gorilas, morcegos, macacos, antílopes selvagens e porcos-espinhos contaminados encontrados mortos ou doentes na floresta tropical.

Proteção: Ainda não há tratamento ou vacina contra o ebola. 

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