quinta-feira, 7 de março de 2013

Tereza Cruvinel - Chávez na História‏

Quando um texto definitivo for escrito, o papel atribuído ao venezuelano contrastará com o descrito nas crônicas implicantes do tempo em que viveu 


Estado de Minas: 07/03/2013 

Durante os 14 anos em que exerceu o poder na Venezuela, e mesmo antes, Hugo Chávez foi demonizado pelo liberalismo ocidental. Sua figura atípica, seu estilo atrevido e sua liderança insólita desconcertavam os adversários. Irritavam e inquietavam. Com absoluta falta de cerimônia ele era chamado de caudilho, déspota, ditador. Agora que ele se foi, o rascunho começa dar lugar ao texto da história, e os adjetivos cedem lugar a algumas verdades, como o fato de que nunca exerceu um dia de poder que não tenha sido legitimado pelo voto popular. Sua morte física deve permitir também a melhor compreensão de seu papel na construção da atualidade política do continente e do mundo.

A morte abranda ódios e paixões, favorece a mais justa reflexão e aclara os contextos do passado, no que pese a obscurantista reação de um líder do Partido Republicano americano, que celebrou sua morte dizendo que já ia tarde, contrastando com a civilidade da oposição venezuelana.

Quando o texto definitivo da história for escrito, Chávez não surgirá como santo ou como infalível, o que não era, mas sua importância e o significado de sua liderança contrastarão com as crônicas implicantes do tempo em que viveu. Quando Chávez foi eleito pela primeira vez, em 1998, era lembrado o tempo todo pelo fato de ter participado de uma fracassada tentativa de golpe, com ideário nacionalista e reformador, em 1992. O governo venezuelano estava desmoralizado, mas o neoliberalismo reinava inconteste, fechando as portas para os países pobres e periféricos. Isso não justifica o ato, mas realça a ousadia política de desafiar o consenso. O mundo seguia nessa marcha quando ele tomou posse pela primeira vez, em 1999. O fim da socialismo soviético, a queda do Muro de Berlim e a crise no paraíso cubano não deixavam espaço para utopias. Estavam arquivados discursos sobre revolução, transformação, soberania, integração latino-americana, justiça social. Muito antes de todos os presidentes progressistas do continente que viriam a ser eleitos, como Lula, Néstor Kirchner (Argentina), Evo Morales (Bolívia) e José Mujica (Uruguai), Chávez começou a reabilitar essas utopias e a implementar políticas desenvolvimentistas e de cunho social. Ele era  uma espécie de produto da resistência ao neoliberalismo, e não das lutas revolucionárias, como Fidel. Era algo novo, chamado de velho.

O estilo confrontador e a linguagem áspera têm a ver com o contexto da mudança política na Venezuela. Aqui, e mesmo no Chile e na Argentina, houve uma transição. Lá houve uma ruptura com o antigo sistema oligárquico, mesmo que pelo voto, depois da quartelada de 1992. A economia estava deprimida e a pobreza assolava o país. O dinheiro do petróleo, drenado para as oligarquias e para o exterior, passa a ser usado para financiar políticas sociais. A reforma agrária é realizada e provoca reações. Diversos setores da economia são estatizados, acirrando o conflito com algumas empresas de comunicação, o que culmina com a não renovação da concessão da RCTV. Chávez firma acordos para fornecer petróleo a preços subsidiados aos países da Aliança Bolivariana, como Cuba e Nicarágua. Sua liderança transcende à Venezuela. Governantes como Morales e Rafael Correa, do Equador, são eleitos com seu decisivo apoio. Entende que a economia venezuelana não irá longe no mundo global se não aprofundar relações com o Brasil e a Argentina, especialmente. Pleiteia e consegue o ingresso do país no Mercosul. Com Lula, foi um dos artífices da União das Nações Sul-Americanas (Unasur).

Seu legado inclui a erradicação do analfabetismo, a redução da pobreza em 37%, o aumento da renda e do emprego, a melhora indiscutível nos serviços sociais. E, mais que tudo, o protagonismo político do povo que agora o chora.

A pergunta que paira sobre seus funerais é a respeito da sobrevivência do chavismo em sua ausência. Seu vice, Nicolás Maduro, que ele apontou como herdeiro, disputará a eleição com o opositor do ano passado, Henrique Caprilles, dentro de 30 dias. A emoção e o sentimento de orfandade ainda serão intensos, favorecendo Maduro. Ele não é Chávez, mas poderá – ou não – construir  a própria liderança. Como fez Dilma, criatura de Lula. Mas, ainda que a oposição vença, a Venezuela moldada por Chávez jamais voltará a ser o país elitista e iníquo do pré-chavismo.

Para o Brasil, nenhuma situação deve trazer grandes mudanças no relacionamento bilateral, mesmo não havendo mais a camaradagem que havia entre Lula e Chávez, herdada por Dilma. A Venezuela hoje tem um novo peso político no continente e representa um grande mercado de consumo para o Brasil, afora outros interesses comuns que tornam a relação bilateral estratégica para os dois países.

No passo eleitoral

Segue a valsa da eleição antecipada, para todos os partidos do baile.

O senador Aécio Neves (PSDB-MG) vai a São Paulo no dia 25, para uma conversa olho no olho com o governador Geraldo Alckmin, que ainda não saiu do conforto palaciano para apoiá-lo. Fernando Henrique media o encontro.


O governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), quase não dormiu na noite de anteontem. Os últimos interlocutores saíram de sua suíte num hotel brasiliense depois das duas e meia da manhã. Ele veio a Brasília para a solenidade de ontem, em que a presidente distribuiu bondades a prefeitos e governadores, e atendeu uma parte da longa fila de pedidos de conversas.

Os governadores e prefeitos receberam na segunda-feira o chamado do Planalto para a festa de bondades de ontem. “Foi uma agradável surpresa. Nunca a prefeitura de Porto Alegre foi tão bem tratada pelo governo federal”, saiu dizendo o prefeito José Fortunatti (PDT). Ele e os demais. Ninguém saiu de mãos abanando.

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