sábado, 19 de janeiro de 2013

Editoriais FolhaSP

FOLHA DE SÃO PAULO

Líderes de queixas
Uma pane na rede da empresa de telefonia Vivo, ocorrida na quarta-feira, deixou milhões de usuários de celulares sem serviço no Estado de São Paulo e afetou linhas pré-pagas em Santa Catarina, no Paraná e no Rio Grande do Sul.
No mesmo dia, a Secretaria de Defesa do Consumidor, vinculada ao Ministério da Justiça, divulgou o ranking das queixas de consumidores aos Procons relativo a 2012.
A lista veio com uma novidade: diferentemente de 2011, quando os cartões de crédito foram o principal alvo da insatisfação dos clientes, no ano passado as operadoras de telefonia celular apareceram como as campeãs em reclamações.
A Oi foi a primeira na relação das empresas que mais geraram atendimentos nos órgãos de defesa do consumidor, seguida da Claro/Embratel. A Vivo/Telefônica ficou na quarta posição, e a TIM, na sétima.
Não foi, com efeito, um bom ano para os usuários de celular. Basta lembrar que no mês de julho, numa decisão inédita e drástica, a Anatel impediu que Tim, Oi e Claro fornecessem novos números de celular em diversos Estados do país.
A agência exigiu a apresentação de planos de investimento, numa tentativa de reduzir a crescente insatisfação dos consumidores com ligações interrompidas ou entrecortadas. À época, o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, revelou que o problema também havia atingido a presidente Dilma Rousseff. Durante uma conversa da mandatária com o ex-presidente Lula, a linha teria caído três vezes.
As operadoras defendem-se exibindo acréscimos em seus investimentos. E queixam-se, por sua vez, de obstáculos burocráticos e falhas na legislação do setor.
Para os consumidores, na prática, não faz diferença -setor privado e setor público, cada qual com sua parcela de responsabilidade, precisam tomar providências para que o serviço, um dos mais caros do mundo, seja satisfatório.
Embora significativa (de 17,46% para 21,7% das reclamações), a ascensão das telecomunicações no ranking dos Procons não foi suficiente para superar a área financeira. Consideradas em conjunto, as empresas desse setor, composto pelos segmentos cartão de crédito, financeiras e cartão de lojas, continuam a responder pela maior parcela das queixas, 23,85%.
Para que a situação melhore, é indispensável que o consumidor continue a reivindicar seus direitos e que as agências e órgãos competentes fiscalizem, punam e atuem com independência -o que nem sempre tem acontecido.

    Discurso insustentável
    Dilma afirma que país terá crescimento 'sustentável e sistemático', mas governo não faz o mínimo para que a intenção seja levada a sério
    Este ano será de crescimento "sério, sustentável e sistemático", disse ontem a presidente Dilma Rousseff, em viagem ao Nordeste.
    Esse é o desejo de uma presidente que iniciou seu governo com a previsão de que o país cresceria em média quase 6% nos quatro anos de mandato. De uma presidente que insistia em ora prometer, ora exigir crescimento de mais de 4% no ano passado. No primeiro biênio de Dilma, o país não terá crescido mais de 2%, se tanto.
    Nos estertores de 2012, em reação às notícias de que suas previsões haviam se frustrado, a presidente afirmou que 2013 seria o ano do "Pibão grandão".
    As declarações não parecem nem sérias, nem sustentáveis, nem sistemáticas. Não devido ao descompasso entre intenções e desejos e os resultados mínimos.
    Dificuldades imprevistas e forças além do controle, entre outros fatores, decerto podem frustrar planos de crescimento. Preocupante é o fato de o governo aparentemente desconhecer a dimensão dos problemas e o efeito de suas políticas, além de faltarem prioridades e projetos de longo prazo.
    Um "Pibão grandão" é um objetivo sério, sustentável e duradouro? O empecilho maior ao crescimento é a lenta recuperação do investimento. O governo pouco contribui para remover tal obstáculo. Investe ele mesmo pouco, excede-se em despesas de consumo ou no estímulo ao consumo. Tumultua as regras do mercado e executa uma política econômica que suscita cada vez mais desconfiança.
    Se não "grandão", o crescimento pode ser sustentável se o país depara com problemas básicos, como uma inflação crescente que exorbita as previsões do governo, o qual recorre a medidas extravagantes para tentar controlá-la?
    Como pode ser sério o crescimento se o governo não se dedica às prioridades nacionais? Há o risco de falta de energia elétrica, mas o governo desperdiça energia em produção por falta de cabos para transmiti-la.
    Ontem, a presidente também mencionou a educação em seu discurso. O que o governo tem feito para mitigar o principal problema educacional brasileiro, o fracasso exasperante do ensino elementar?
    A responsabilidade pela escola básica é, de fato, dos municípios, mas, sem a liderança, colaboração e campanha federais, a escola brasileira continuará a produzir massas de analfabetos funcionais, como o faz há décadas.
    Faltam educação, investimento, poupança, política econômica confiável e profissional. Requisitos do crescimento duradouro. Pode ser que o crescimento de 2013 supere o pífio resultado do primeiro biênio de Dilma. Seja lá qual for o resultado, porém, não será nem sério, nem sustentável, nem sistemático.

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