segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Busca Social do Facebook encontra até o que usuário não quer mais ver

folha de são paulo

TESTE FOLHA
Serviço, ainda experimental, acha itens banidos e deve incitar debate sobre privacidade
FERNANDA EZABELLADE LOS ANGELESCom tanta informação pessoal gratuita no Facebook, é difícil acreditar que uma ferramenta de busca razoável tenha demorado tanto para chegar ao site. Depois de uma semana testando a Busca Social, fica a sensação de que agora, finalmente, podemos "dar um Google" nos amigos (embora a rede de Mark Zuckerberg use o Bing).
Não faltaram surpresas, a começar por mim mesma. Ao procurar fotos em que apareço, fiquei chocada com a quantidade de imagens que surgiram. Encontrei diversas cenas que havia banido da minha Linha do Tempo e duas de 2011 das quais havia até retirado a marcação (tag).
É certo que as questões de privacidade vão se agravar. Quem nunca olhou as configurações do site deve fazer isso agora, especialmente enquanto a Busca Social ainda está em fase experimental, só em inglês e para uma parte pequena dos usuários.
Enquanto usuários do Facebook continuarem a se mostrar sem medo ao mundo, vai ser possível achar rapidamente quem foi ao Japão (para, por exemplo, pedir dicas de viagem) e quem gosta de "Breaking Bad" (para arrumar companhia para ver e discutir a série de TV).
Nas buscas mais simples, dá para checar amigos que estão solteiros. Nas mais sofisticadas, também os amigos solteiros daquele meu amigo "x" que trabalham na empresa "y", moram na cidade "z" e nasceram no ano "w".
As possibilidades parecem infinitas, mas nem sempre os resultados são perfeitos, como quando tento localizar fotos de amigos tiradas em outros países. Uma foto publicada ontem em Munique não aparece na procura que faço hoje por imagens tiradas na Alemanha. O mesmo acontece com outros países.
UNIVERSO AO MEU REDOR
O novo serviço permite também buscar quem não conheço, mas que, de alguma forma, está perto de mim: trabalha na mesma empresa ou numa rival, frequenta o mesmo clube ou mora no bairro. Quem, por exemplo, mora perto de mim e curte a NRA, a associação nacional de rifle? Cinco sujeitos que nunca vi na vida (e nem quero ver).
Há ainda linhas tênues. Por exemplo, ao procurar amigos gays, a ferramenta sugere mudar para "amigos que são homens interessados em homens". É impreciso, afinal não está claro que esse interesse seja sexual. Ou, pelo menos, foi o que pensei ao encontrar amigos supostamente héteros nos resultados.

    Luli Radfahrer

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    A pós-TV
    Na profusão de tecnologias, todos parecem esquecer que a TV já era social muito antes de essa palavra virar moda
    A ideia de interagir com a televisão existe desde antes da web. Nos anos 80, o teletexto era uma TV que transmitia conteúdo adicional sempre que uma tecla específica do controle remoto era pressionada, usando o espaço em que hoje se transmitem legendas. Na década seguinte, redes de TV a cabo tentaram interagir com a telona de todas as formas, nem que fosse para pedir uma pizza durante um filme. Não pegou. Nos últimos anos, no entanto, a pós-TV parece ter se transformado no "Santo Graal" das tecnologias de consumo. Todos tentam fazer com ela o que a Apple fez com o smartphone.
    Há quem defenda apps acionados por movimentos do corpo, embora celulares e tablets sejam mais práticos e individualizados. A turma do marketing tenta emplacar novamente o conteúdo "enriquecido", em que se pode saber mais sobre um comercial ao apertar um botão. Outros acreditam em t-commerce, comércio eletrônico via TV, por mais que a ideia de interromper um filme para comprar roupa pareça descabida.
    A turma da versatilidade defende o Oled, LED orgânico. Sem luz de fundo, a tecnologia permite imagens de grande contraste em monitores translúcidos, mais finos do que uma folha de papel. Fundamental para telas dobráveis e de realidade aumentada nos próximos anos, o sistema é muito caro, tem vida útil menor e uma cor azul que não está bem resolvida, prejudicando o resultado final.
    Outra tendência é a altíssima definição, o Ultra HD, com resoluções de 4 a 16 vezes maiores que as das HDTVs atuais. Fabricantes as definem como experiências próximas da do Imax, mas a implantação demanda tantas mudanças em infraestrutura que dificilmente elas serão viabilizadas em um futuro próximo. No cinema, a sensação é um 3D de maior realismo, exibido com mais do que os tradicionais 24 quadros por segundo.
    Na profusão de tecnologias, comerciais, aplicativos e resoluções, todos parecem ter se esquecido do que se trata, afinal, uma televisão. Líder absoluta no entretenimento passivo, ela já era social, coletiva e conveniente muito antes de essas palavras serem levadas ao pé da letra. Na reunião de amigos para tomar cerveja vendo futebol ou no casal agarradinho comendo pipoca e vendo comédia romântica, a TV sempre foi uma arena de conveniência. Interagir com ela não é um benefício, mas um transtorno tolerado. Quem nunca se irritou ao perder o controle remoto que discorde.
    Acredito que uma pós-TV deva dar acesso a Linha do Tempo, perfis e Busca Social do Facebook e de outras redes, contando novidades e fofocando indiscrições. Ligada ao Skype com uma webcam, ela pode reunir amigos e familiares à mesa de jantar. Seus controles podem ser ativados por movimentos do corpo, embora o comando de voz da Apple e do Google seja mais conveniente.
    Depois de calibrada, ela pode reconhecer seus usuários e adaptar sua programação a eles, buscando no YouTube o que não encontrar no Netflix ou nas emissoras. Conectada a poderosas bases de dados, não tem dificuldade em sugerir conteúdo e coletar reações.
    Essa experiência pode transformar a TV em um ambiente contextual, entregando voluntariamente tudo o que se procura nas redes sociais. Se isso acontecer, ela voltará a dominar a sala, revolucionando o entretenimento como o conhecemos.

    Benett - charge

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    Charge


    Quadrinhos

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    CHICLETE COM BANANA      ANGELI

    ANGELI
    PIRATAS DO TIETÊ      LAERTE

    LAERTE
    DAIQUIRI      CACO GALHARDO
    CACO GALHARDO
    NÍQUEL NÁUSEA      FERNANDO GONSALES

    FERNANDO GONSALES
    MUNDO MONSTRO      ADÃO ITURRUSGARAI
    ADÃO ITURRUSGARAI
    BIFALAND, A CIDADE MALDITA      ALLAN SIEBER

    ALLAN SIEBER
    MALVADOS      ANDRÉ DAHMER

    ANDRÉ DAHMER
    GARFIELD      JIM DAVIS

    JIM DAVIS

    Julio&Gina - Caco Galhardo

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    Marcos Augusto Gonçalves

    folha de são paulo

    Régua e compasso
    Experiente, Juca Ferreira já deve ter entendido que é melhor pisar nesse chão paulistano devagarinho
    Foi primeiro em São Paulo que a bossa nova de João Gilberto fez sucesso, com o estouro de "Chega de Saudade". Foi em São Paulo que o tropicalismo se lançou, com os festivais da Record e o encontro de Caetano Veloso e Gilberto Gil com a Jovem Guarda, os Mutantes, os concretos e o maestro Rogério Duprat. Foi cantando "São São Paulo, Meu Amor" que Tom Zé conquistou a Pauliceia, da qual se tornou cidadão querido. E foi para São Paulo que Caetano deu outro nome numa canção que virou hino.
    A experiência desses baianos, com suas maquinações maravilhosas, revela a fértil relação entre os dois polos dessemelhantes da cultura brasileira. São Paulo e Bahia.
    Há, certamente, uma outra face nessa relação, marcada pelo preconceito social. Basta lembrar que "baiano" em paulistês, como "paraíba" no Rio, é um genérico depreciativo que designa imigrantes nordestinos em busca de uma vida menos sofrida.
    E não esqueçamos da ideia impressa no brasão da capital paulista, que traz o lema "non ducor duco" -"não sou conduzido, conduzo". Natural que se veja na insígnia o rosto da "arrogância" paulista.
    O novo secretário de Cultura do município, Juca Ferreira, se não me falha a memória, usou essa expressão nos debates que, quando ministro, travou com políticos e empresários de São Paulo contrários às mudança por ele propostas para a Lei Rouanet.
    Esperemos que sejam antes as feridas desses embates políticos -e não uma reação à la Berlusconi contra um "terrone" na prefeitura- a causa principal da resistência de alguns à "importação" de Ferreira, tema de uma polêmica coluna de Gilberto Dimenstein. O próprio PT, diga-se, também mostrou certo desconforto com a nomeação.
    Pressões fazem parte da política e Ferreira vai senti-las de diferentes direções.
    Em suas primeiras manifestações públicas, o secretário esforçou-se para ser diplomático e agradar a todos -correndo o risco de apresentar não uma linha de atuação, mas uma colcha de retalhos.
    Na Folha, respondeu às restrições à sua "importação" surfando na conhecida percepção litorânea de que São Paulo é "outro país", menos brasileiro do que desejável ("acho que posso contribuir para o sentimento de que São Paulo faz parte do Brasil"). Mas não esqueceu de lembrar que numericamente "é a cidade mais negra e mais nordestina" do país. O problema, então, seria mudar a "autoimagem".
    Ferreira considerou "bendita" a herança de Carlos Augusto Calil e defendeu as organizações sociais, mas assegurou ao PT que não vai esquecer a periferia e os excluídos -"parte desta São Paulo do século 21" que é "proibida ou é criminalizada ou é invisível".
    O secretário ainda parece ter duas equações importantes e entrelaçadas por resolver, uma política e outra orçamentária.
    Não basta, então, anunciar a construção de dois "equipamentos" na periferia, como prega o programa petista, se os recursos da secretaria (menos de 1% do orçamento) mal dão para o custeio da máquina -e o aproveitamento cultural dos CEUs parece mais adequado.
    O próprio entendimento do que seja para o secretário a polaridade "periferia x centro" na São Paulo real está por se esclarecer. Uma interpretação esquemática -como, aliás, não é incomum- poderia levar o secretário, por exemplo, a fomentar mais a divisão do que a integração.
    Juca Ferreira tem experiência, régua e compasso. Mas como diz outra canção, é mais prudente pisar nesse chão devagarinho.

    HC interna superobesos por cinco meses antes de cirurgia

    folha de são paulo

    Objetivo é fazer paciente perder peso e evitar complicações pós-operatórias
    Sem a internação, risco de problemas graves após redução de estômago chega a 7% entre os superobesos
    CLÁUDIA COLLUCCIDE SÃO PAULOSuperobesos mórbidos estão sendo internados por 20 semanas, em média, para que percam peso antes da cirurgia de redução do estômago.
    É uma nova estratégia adotada pelo Hospital das Clínicas de São Paulo para evitar complicações pós-operatórias graves em pacientes que chegam a pesar quase 400 kg.
    São consideradas superobesas pessoas com IMC (Índice de Massa Corporal) acima de 50 (veja quadro acima). Elas têm problemas cardiorrespiratórios, vasculares e de coagulação que elevam o risco de morte.
    "É uma catástrofe. Muitos não andam, não saem da cama, têm artrose grave e dependem de oxigênio", diz o médico Daniel Riccioppo, da Unidade de Cirurgia Bariátrica e Metabólica do HC.
    Não há estimativas do número de superobesos mórbidos no país, mas, no HC, eles são 30% dos 1.800 pacientes que aguardam para serem operados. O tempo médio de espera é de três anos.
    Se não emagrecem, o risco de complicações graves (sangramento, infecções, tromboembolismo pulmonar e trombose) chega a 7%, e o de morte, 0,6%, segundo estudo com 156 superobesos do HC.
    Estudos apontam que, se o obeso perde de 5% a 20% do peso antes da cirurgia, há uma redução do fígado e da gordura acumulada no órgão.
    "Um fígado menor tem menos sangramento, dá mais espaço para a gente operar e isso facilita a cirurgia no estômago", afirma Riccioppo.
    INTERNAÇÃO
    A regra número um do serviço é: todo obeso mórbido precisa perder peso antes da cirurgia. Os que não emagrecem em casa podem ficar por duas semanas na enfermaria do HC, onde ingerem até 800 calorias por dia.
    Já os superobesos vão para o Hospital de Retaguarda de Suzano, ligado ao HC, que tem hoje seis leitos para esse fim -a fila de espera é de 60 pessoas, em média. "Com 20 semanas de internação, eles perdem 20% do peso. Isso é suficiente para reduzir os riscos", diz o médico.
    Após quatro meses internada, Marli Matos dos Santos, 53, já perdeu 23 kg dos seus 153 kg. Faltam pelo menos sete para a cirurgia.
    "Minha netinha me liga todas as semanas e pergunta: 'E aí vó, quantos quilos você conseguiu emagrecer?"
    O sucesso da estratégia pode ser constatado em um estudo que o HC está prestes a publicar: em 20 casos de superobesos operados após internação, não houve complicações graves nem morte.
    Quem pode pagar diárias de R$ 600, em média, recorre a spas para emagrecer antes da cirurgia.
    "Não é só perder peso. É tomar consciência de que, no primeiro mês do pós-cirúrgico, a dieta será líquida e que, depois, vai ter de comer feito passarinho", diz Lucas Tadeu Moura, endocrinologista do Spa Med, em Sorocaba (SP).
    Lá, os pacientes são avaliados por endocrinologista, nutricionista, psicólogo e fisioterapeuta para tentar mudar hábitos de vida.
    Moura afirma, no entanto, que muitos "querem operar para continuar comendo".
    "Eles não encarnam o pensamento magro. Por isso, muitos voltam a engordar."

      "Precisei ficar 'presa' no hospital para parar de comer"
      DE SÃO PAULO
      Em 15 anos, Tânia Brito Caetano, 1,55 m, ganhou 120 kg. Ela pesava 63 kg aos 14 anos, quando engravidou da primeira filha. Ao final da gestação, atingiu os 100 kg e não parou mais.
      Em novembro, aos 29 anos e 183 kg, foi internada em Suzano para se preparar para a cirurgia bariátrica. Ela já perdeu 20 kg. A seguir, trechos do seu depoimento.
      (CC)


      FRASE
      "Lavava as roupas e as louças sentada, tomava banho sentada, tinha uma cadeira que me acompanhava pelos cômodos da casa"

      O beabá do cinema-Mariana Peixoto‏

      Entidades públicas e privadas oferecem aulas das mais variadas áreas da produção cinematográfica.  

      Mariana Peixoto
      Estado de Minas: 11/02/2013 
      Gerente de cinema da Fundação Clóvis Salgado, professor e crítico, Rafael Ciccarini cita três tipos de alunos com quem já trabalhou: aquele que coloca a mão na massa ,“quer pegar na câmera, às vezes não tem paciência para estudar”; o cinéfilo que tem veia mais reflexiva, “gosta mais da parte teórica, está interessado na crítica”; e a pessoa que simplesmente gosta de cinema “e pretende aprofundar essa relação”. Ofertas de cursos para cada um desses tipos existem em Belo Horizonte. Com maior ou menor compromisso, gratuitas ou pagas, as opções vão de palestras à formação em nível superior.

       Porta de entrada de muita gente que atua no meio, a Escola Livre de Cinema chegou em janeiro aos 10 anos. Foi criada em 2003, por Cláudio Costa Val, que utilizou como modelo o curso que fez voltado para televisão na Universidade Internacional de Andaluzia, na cidade espanhola de Huelva. “Peguei o conceito de módulos sequenciais. O aluno tem a mobilidade de construir sua grade, de acordo com seu interesse, ou então fazer todas as disciplinas.” Com sede em Santa Tereza, tem três turmas (manhã, tarde e noite, com aulas três vezes por semana). A formação em cinema dura um ano e os alunos produzem, nesse período, três curtas. 

      Nessa década, a escola já formou 1,5 mil alunos, que produziram 120 filmes (os trabalhos das turmas de 2012 serão exibidos no dia 16, em sessão às 9h30 no Cine Humberto Mauro). “A procura maior é de pessoas que têm vontade de trabalhar na área, ou que já atuam e querem se aperfeiçoar”, continua Costa Val. De acordo com ele, saíram da escola produtoras, coletivos, blogs. “A galera mais nova é muito desencanada. O pessoal mais antigo só fazia filme quando tinha dinheiro. Os de hoje se juntam em coletivos, entram com projeto de lei. Eles mesmos montam, distribuem.”

      O Centro Universitário Una criou, há sete anos, o curso de cinema e audiovisual. Com duração de três anos e meio, é o único de graduação em Belo Horizonte. “A grande maioria dos alunos é egressa do ensino médio, mas de 20% a 30% são mais velhos. É um número alto, pois um curso de cinema acaba tendo o pendor da realização de um sonho. Tem gente que opta como um segundo curso”, comenta o coordenador, Júlio Pessoa.

      Ainda que por diletantismo haja aquele estudante que resolve voltar para a universidade por causa de uma paixão pelo cinema, Pessoa diz que a imensa maioria quer mesmo é trabalhar diretamente com o meio. “Mas hoje, dificilmente, há o aluno que quer fazer o filme hollywoodiano. A maioria tem intenção de fazer um trabalho autoral. E a situação é mais complexa, o campo de atuação mudou muito com as novas tecnologias. Hoje, o telefone tem tela de vídeo, há ainda o computador, TVs por internet. Então, há uma demanda muito alta por conteúdo (que não passe obrigatoriamente pela tela do cinema).”

      Teoria obrigatória Sazonalmente, principalmente durante as férias, são oferecidos cursos livres. De curta duração e concentrados, de maneira geral em um só período ou autor, são complemento para estudo mais formal. Ataídes Braga, que está completando 30 anos como professor de cinema, já perdeu a conta de quantos cursos ministrou. Admite sentir certa nostalgia dos tempos em que o Centro de Estudos Cinematográficos (CEC) promovia cursos constantes, pelo menos a cada dois meses. “Há um certo vazio. O problema das novas gerações é que elas não têm a oportunidade que havia entre os anos 1980 e 2000. Foram duas décadas em que o CEC formou muita gente. Ele foi um centro formador desse público ávido pelos cursos livres”, continua ele, que ainda dá aulas na graduação da Una.

      Sua primeira grande escola foi a sala de cinema, que frequenta desde criança. “Minha formação foi autodidata. Foi lendo e vendo filmes. A escola deu formalidade e títulos (tem mestrado em cinema). Tem muita gente que tem como objetivo fazer um filme. Mas para estudar cinema a teoria é obrigatória”, continua Braga. Em 2012, via Lei Municipal de Incentivo à Cultura, ministrou cursos gratuitos no Centro de Cultura Belo Horizonte de história do cinema brasileiro e de crítica no Cine Humberto Mauro. Pretende fazer o mesmo este ano, só que de roteiro.

      Idosos inclusive Como complemento a retrospectivas de cineastas como Luis Buñuel e Charles Chaplin, foram realizados no Cine Humberto Mauro, há alguns meses, cursos com críticos e especialistas nas obras dos diretores. “A ideia é de que isso nunca pare, pois o Humberto Mauro sempre foi conhecido como espaço de exibição e de formação. São pelo menos três cursos por fora, além de palestras e debates”, diz Rafael Ciccarini, também professor da Una e do Instituto de Educação Continuada da PUC Minas (IEC). O público desses cursos é bem diverso. “No Humberto Mauro, como espaço público, é mais ainda. Há desde o cinéfilo ultraespecialista até a pessoa que está ali por curiosidade. E chama ainda muito a atenção a quantidade de idosos”, finaliza.
      Braço cubano 
      Mariana Peixoto

      Em funcionamento desde setembro, na Região da Pampulha, com oito salas de aula e uma pequena sala de exibição, o Lugar de Cinema é o braço brasileiro da tradicional Escuela Internacional de Cine y TV (EICTV) de San Antonio de los Baños, em Cuba. A iniciativa visa ao aperfeiçoamento de quem já trabalha no meio. “Não há iniciação. Chamamos os cursos de imersões. Trazemos professores de fora do Brasil para duas semanas de aulas em todas as áreas do cinema: produção, direção, roteiro, fotografia, som”, explica o diretor Leonardo Andrade Maia, ele mesmo ex-aluno da EICTV.

      Cada um dos cursos realizados até agora teve 15 alunos. “Como os professores vêm somente para Belo Horizonte para um curso que não ocorre em nenhum outro lugar, pelo menos metade dos alunos é de fora”, continua. Em 2012, houve aulas de roteiro com o cubano Eliseo Altunaga e fotografia com o uruguaio Arauco Hernández, entre outros. Para este ano, serão ofertados cursos de edição e finalização de som (com o mexicano Miguel Hernández), operação de câmera e steadycam (com o espanhol Juan Ramos), edição (com o argentino Miguel Pérez) e direção para série de TV (com o britânico Charles McDougall). Todos os professores contam com assistentes (que atuam também como tradutores), que foram alunos de San Antonio de los Baños.

      Novos caminhos pelas águas do Velho Chico-Pedro Rocha Franco e Luiz Ribeiro‏

      TRANSPORTE » Novos caminhos pelas águas do Velho Chico 
      Estudo feito pelo Banco Mundial a pedido do governo brasileiro vai incorporar expansão da hidrovia do rio da integração nacional. Projeto vai beneficiar região agrícola de Minas
       

      Pedro Rocha Franco e
      Luiz Ribeiro
      Estado de Minas: 11/02/2013 
      O tão propalado custo Brasil, de certa forma responsável por travar a evolução do Produto Interno Bruto (PIB), pode ter um novo aliado na redução dos gastos com transporte em Minas. Usado muito aquém da sua capacidade de navegação, o Rio São Francisco pode se transformar em um importante eixo de um corredor multimodal. Contratado pelo governo federal, o Banco Mundial (Bird) elabora um estudo técnico para a ampliação da hidrovia, o que pode vir a permitir o escoamento da carga de relevantes regiões mineiras. Entre as quais Unaí, no Noroeste do estado e sexto maior PIB agrícola do país, de onde atualmente a safra é obrigada a percorrer milhares de quilômetros por rodovias. A alternativa pode desonerar a logística em aproximadamente 15%, segundo o Bird, mantidas as atuais características do rio, e reduzir ainda mais os gastos caso sejam feitos investimentos na bacia. 

      O planejamento inicial previa o uso da bacia somente em estados nordestinos, fazendo ligação entre os portos fluviais de Juazeiro (BA) e Petrolina (PE) até Bom Jesus da Lapa (BA). Em dezembro, atendendo a pedido do governo federal, – que, na terça-feira da semana que vem, lança o Plano Nacional de Integração Hidroviária com o intuito de mapear o potencial das hidrovias brasileiras –, o Banco Mundial terá de incluir Minas nos caminhos do transporte fluvial. Com isso, o projeto de ampliação do modal estendeu o projeto até o Porto de Pirapora, no Norte de Minas. 

      A ligação permitirá aos produtores mineiros escoar minerais e produtos agropecuários a serem exportados pelos portos da Bahia (Salvador, Ilhéus e Cotegipe) e de Pernambuco (Suape), reduzindo o percurso rodoviário, reconhecido como o meio de transporte mais caro, com custo até 226% superior em relação ao hidroviário. “A indústria só não investe na região porque não tem como escoar a produção. A matriz é muito desbalanceada, com foco no rodoviário. A hidrovia permite a integração entre os meios, usando a bacia do rio como ‘coração’ da rede”, afirma o especialista em políticas públicas e coordenador-local do Banco Mundial no Brasil, Igor Carneiro.

      Saindo de Unaí, Montes Claros e Jaíba, por exemplo, caminhões levariam os produtos até Pirapora –, ou outros portos a serem criados. De lá, chatas (balsas puxadas por um empurrador) conduziriam a carga até outro porto fluvial escolhido e, por último, completando o ciclo intermodal, o material seria puxado por trens até a entrada de um porto marítimo. 

      Longo caminho Atualmente, a soja produzida em Unaí tem que percorrer cerca de 1,6 mil quilômetros em cima de caminhões até o Porto de Paranaguá (PR), cruzando praticamente todo o território de Minas, São Paulo e Paraná. Com a hidrovia, mesmo o percurso sendo um pouco mais longo, seriam só 400 quilômetros de transporte rodoviário, entre Unaí e Pirapora. 

      O cálculo de sindicatos é que a redução de custo de produtos made in exportação seja de 20%, o que poderia até triplicar se fosse criado também o sonhado ramal ferroviário ligando os dois municípios. “É uma economia muito grande, tanto na redução do custo do transporte como na diminuição das perdas que acontecem quando os grãos são carregados sobre a carroceria dos caminhões”, afirma o vice-presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Unaí, Ricardo Almeida. 

      Economia Além disso, seria possível adquirir adubos, defensivos e sementes de estados nordestinos em vez de comprar em Uberaba com preços bem mais baixos e novamente diminuindo custos das cadeias. Preliminarmente, o estudo do Bird mostra que 38% do preço do milho refere-se ao frete. Com isso, o custo do produto poderia ser reduzido, em média, de R$ 200 para R$ 170 por tonelada em uma rota hipotética do Oeste baiano até João Pessoa (PB) nas atuais condições de navegação. 

      O custo do trecho rodoviário ainda assim representaria 74% do frete total, dado que o percurso compreende 1,2 mil quilômetros de rodovia e 600 quilômetros de ferrovia. Por isso, o projeto propõe o estabelecimento de novas rotas ferroviárias, entre elas um ramal entre Petrolina (PE) e Salgueiro (PE).

      Enquanto isso...
      ...Posição ruim no
      ranking logístico

      O Brasil ocupa a 45ª posição no Índice de Desempenho Logístico do Banco Mundial. Os líderes são Cingapura, Hong Kong, Finlândia, Alemanha e Holanda. Os Estados Unidos aparecem na nona posição. Dados do Banco Mundial mostram que o custo de produção de soja nos Estados Unidos é de US$ 222 por tonelada, enquanto no porto o valor sobe para US$ 239. Ou seja, transporte e logística custam 8%. No Brasil, o custo de produção da soja é de US$ 190 por tonelada, mas, até atingir o porto, o preço sobe para US$ 257, o que significa que o custo de transporte e logística é de 35%.
      Proposta é diversificar 

      Pedro Rocha Franco e
      Luiz Ribeiro
      Enviado especial - Pirapora

      O projeto de ampliação e modernização da hidrovia do Rio São Francisco se encaixa no plano do governo federal de diversificar a matriz de modais do transporte nacional. Nas últimas cinco décadas, o foco de investimentos foram as rodovias, o que acarretou numa total dependência do meio de transporte e na falta de integração entre os diferentes tipos de modal. Atualmente, mais de 60% da carga nacional é levada por rodovias, enquanto pouco mais de 13% seguem por rios. A ideia do Plano Nacional de Logística é ampliar a importância das hidrovias, assim como das ferrovias, que correspondem a 20,9% do total, segundo a Confederação Nacional de Transportes (CNT).

      A Hidrovia do São Francisco, o rio da integração nacional, também é exemplo claro da irrelevância com que o modal é tratado. Nas atuais condições, a capacidade de transporte é de 8,5 milhões de toneladas por ano, mas o volume de carga que percorre o leito é pífio: 48 mil toneladas por ano, o equivalente a mero 0,56% do total, segundo dados da Administração da Hidrovia do São Francisco. 

      O superintendente do órgão, Luiz Felipe de Carvalho Gomes Ferreira, afirma que somente uma empresa usa o rio e que, para aumentar a competitividade da bacia, seria preciso algumas obras para fazer derrocamento e desassoreamento e intervenções hidráulicas para evitar o movimento dos bancos de areia. Além de ser necessário revitalizar os portos e aumentar o número de berços de descarga. Mas garante não haver restrição de transporte. “Não é verdade que não se navega no trecho mineiro”, afirma.

      Demanda O coordenador do Núcleo de Infraestrutura e Logística da Fundação Dom Cabral, Paulo Tarso Resende, afirma haver demanda, como os minerais produzidos no Norte de Minas e os produtos agrícolas do Jaíba. “Por se tratar de transporte em larga escala, é uma boa opção para as commodities”, avalia. O especialista classifica a hidrovia como “uma estrada natural”, o que, entre outros, significa custo fixo baixo, mas adverte sobre a questão ambiental. 

      Resende afirma ser um entrave a inexistência de marcos regulatórios que combinem engenharia e meio ambiente, o que acaba por gerar conflitos entre as partes. “É um rio sofrido. Chega a ser um perigo colocar carga sem cuidar do meio ambiente”, atesta, ressaltando ser uma opção pensar primeiro no transporte turístico para depois se ter um planejamento sobre carga.

      CONSUMIDOR » Na gôndola é um preço, mas na hora de pagar...-Pedro Rocha Franco‏

      CONSUMIDOR » Na gôndola é um preço, mas na hora de pagar... 
      Problemas referentes à diferença de custo de produtos são cada vez mais frequentes e compra fica mais cara no caixa. Porém, em caso de divergência, valor menor prevalece 

      Pedro Rocha Franco
      Estado de Minas: 11/02/2013 
      Na prateleira, a etiqueta estampa o preço do produto. No caixa, o valor nem sempre corresponde ao indicado, estando sempre acrescido de alguns reais. Na hora de fazer compras em supermercados, farmácias e comércio em geral, o consumidor muitas vezes não se preocupa em confirmar o valor a ser pago, mas pode ser surpreendido com o pagamento de preços além do sugerido, seja por desorganização ou até mesmo má-fé da empresa. Por isso, atenção na hora de escolher e pagar pode garantir a fuga de erros.

      Por mais de uma vez, a faxineira Patrícia Dias se deparou com preços diferentes do informado. Em uma das ocasiões, ela foi ao supermercado comprar chantilly para fazer uma sobremesa. Na gôndola, o produto custava R$ 2,78, mas ao passar no caixa cobraram R$ 3,98. Apesar de a diferença ser pequena (R$ 1,20), a calculadora mostra que a variação é de 43,16%, o que fez com que Patrícia chamasse a gerência para resolver o problema. “Não faço questão dos centavos, mas da honestidade. Se o supermercado anuncia um preço, tem de mantê-lo”, afirma ela, que diz ter aprendido com a patroa a sempre procurar o melhor preço desde que não se perca em qualidade.

      No caso do promotor de Justiça Flávio Maciel, o problema já se repetiu por mais de uma dezena de vezes, quase sempre no mesmo supermercado. De olho nas etiquetas das prateleiras, ele não deixa de observar se os preços são os mesmos na hora de pagar. Em uma das reclamações, quando foi comprar vinhos e acompanhamentos, a diferença era de R$ 58. Na gôndola, o produto estava na promoção, com preço caindo de R$ 39 para R$ 25. Mas, ao efetuar o pagamento, a cobrança era referente ao preço cheio. “A gerente já me conhece. Em quase 100% das compras, o preço do caixa difere do das gôndolas. Eles me relatam que é desorganização, não má-fé, mas o estranho é que a diferença sempre é para mais”, reclama Maciel, que diz haver repetição porque a maioria das pessoas se preocupa somente em tirar do carrinho e embalar as compras, sem ficar atentas aos preços que passam no computador.

      Maciel diz que o problema tem forte incidência no setor de frutas e verduras. Lá, por se tratar de um setor de produtos com identificação mais complexa, pode haver cobrança de um item no lugar do outro. Por exemplo, uma maçã nacional ser cobrada como sendo argentina. Outra situação recorrente é referente às promoções. Enquanto nos estandes o preço é apresentado com valor promocional, no caixa é cobrado valor inteiro. Em outra situação é possível citar promoções de sabonetes e cremes dentais que, quando vendidos em pacotes compre “quatro, pague três”, deveriam custar somente 75% do valor de quatro unidades avulsas, mas o desconto acaba por ser menor. 

      TRANSPARÊNCIA NAS INFORMAÇÕES Amauri da Matta, promotor do Procon do Ministério Público, adverte que é feita fiscalização e os problemas com preços diferentes têm sido “frequentes” em supermercados, apesar de os números não terem sido repassados ao Estado de Minas. “No caso de divergência, o menor preço é o que vigora para o consumidor”, explica se referindo ao artigo 5º da Lei Federal 10.962 (Lei de Precificação).

      Segundo a lei que regula as condições de oferta e afixação de preços de bens e serviços para o consumidor, são admitidas duas formas de afixação de preço: direta, para o comércio em geral, ou seja, por meio de etiquetas colocadas nos bens expostos com caracteres legíveis, e indireta, para supermercados, mercearias e outros estabelecimentos onde o consumidor tem acesso direto ao produto. Nesse caso, é permitida a impressão do preço na embalagem ou o uso de código referencial ou de barras, sendo preciso informar o valor do preço à vista e suas características. O artigo 3º, no entanto, trata da impossibilidade de afixação de preços (caso de sorvetes, congelados e até frutas), ficando liberado o uso de relações de preços de produtos e serviços, de forma escrita, clara e acessível.

      O que diz o Código:

      » artigo 30 – toda informação ou publicidade, suficientemente precisa, veiculada por qualquer forma ou meio de comunicação com relação a produtos e serviços oferecidos ou apresentados, obriga o fornecedor que a fizer veicular ou dela se utilizar e integra o contrato que vier a ser celebrado.

      » artigo 31 – a oferta e apresentação de produtos ou serviços devem assegurar informações corretas, claras, precisas, ostensivas e em língua portuguesa sobre suas características, qualidades, quantidade, composição, preço, garantia, prazos de validade e origem, entre outros dados, bem como sobre os riscos que apresentam à saúde e segurança dos consumidores.

      » parágrafo único – as informações de que trata este artigo, nos produtos refrigerados oferecidos ao consumidor, serão gravadas de forma indelével.

      Fonte: Código de Defesa 
      do Consumidor (CDC) 

      Lei de Precificação 
      (Lei Federal 10.962)

      » artigo 5º – no caso de divergência de preços para o mesmo produto entre os sistemas de informação de preços utilizados pelo estabelecimento, o consumidor pagará o menor dentre eles.

      Distração ou preguiça do cliente podem prejudicar fiscalização
      Pedro Rocha Franco

      "Em quase 100% das compras, o preço do caixa difere do das gôndolas. Eles (funcionários do supermercado) me relatam que é desorganização, não má-fé, mas o estranho é que a diferença sempre é para mais" - Flávio Maciel, promotor de Justiça
      A simples preguiça ou distração da maior parte dos consumidores muitas vezes comprometem a fiscalização dos órgãos responsáveis. O coordenador do Procon Assembleia, Marcelo Barbosa, afirma que o número de denúncias é pífio ante o número de casos, uma vez que a solução do problema se dá ainda no local e o consumidor, de certa forma “preguiçoso”, prefere não levar adiante por considerar que “perderia” horas para conseguir registrar o caso. Sem a denúncia, a fiscalização é menor. “No Brasil não se tem consciência cidadã, coletiva”, afirma Barbosa. A orientação ao consumidor é de fiscalizar se o problema será solucionado mesmo para evitar que outros sejam lesados e, caso necessário, órgãos responsáveis sejam notificados.

      O mais grave é que o problema pode até mesmo ser planejado pela empresa. Por saber que são poucos os reclamantes e os que prestam atenção na hora da cobrança, é adotada a estratégia do “se colar, colou”. “O percentual de pessoas que reclama é minúsculo. A pessoa está cansada, não presta atenção e prefere não denunciar. As pequenas lesões são grandes negócios”, diz o coordenador do Procon Assembleia. Mas ele orienta o consumidor a exigir o cumprimento das ofertas, tanto no caso dos valores expostos nas gôndolas quanto em panfletos promocionais. “A oferta que está ali tem que ser cumprida”, diz.

      Ferrovias monitoradas - Marcelo da Fonseca‏

      Estudo da PUC Minas propõe software para controlar a velocidade dos trens, localizar as composições e fazer paradas programadas. Governo, por sua vez, promete investimentos 

      Marcelo da Fonseca
      Estado de Minas: 11/02/2013 

      O sistema ferroviário brasileiro ficou por muitas décadas esquecido. Espalhados por vários estados, em meio ao mato e ao lixo acumulado com o tempo, estão quilômetros de trilhos abandonados. No entanto, a retomada desse transporte está a todo vapor, movimentando empresários e pesquisadores ligados ao setor. A promessa feita no ano passado pelo governo federal de que em cinco anos serão gastos mais de R$ 50 bilhões para recuperar linhas já existentes e para a construção de novos trechos reacendeu a expectativa de empresas da área e trouxe à tona a necessidade de incorporar tecnologia de ponta no modal ferroviário. Em busca de avanços para garantir maior segurança e economia no transporte de cargas, estudantes do curso de engenharia de controle e automação da PUC Minas estudam formas de monitorar trens. A pesquisa “Condução autônoma de locomotivas” reflete bem as demandas por inovações no modelo ferroviário, procurando formas de usar sistemas via satélite para acompanhar cada metro dos trilhos brasileiros. 
      Ainda que os custos do transporte ferroviário sejam mais baratos em relação ao transporte rodoviário e que o número de acidentes tenha caído quase 80% nos últimos 10 anos – segundo o último relatório da Confederação Nacional do Transporte (CNT), o índice médio de acidentes registrado em 2010 a cada milhão de quilômetros percorridos por locomotivas em território nacional foi de 16,1, contra 75,5 registrados em 1997 –, a busca por estratégias para aprimorar esse tipo de condução se torna cada vez maior entre empresas exportadoras. A ferramenta estudada pelos engenheiros mineiros pretende criar uma forma de otimizar o acompanhamento dos trens e evitar que falhas humanas tenham grande impacto no trajeto. 
      Em uma viagem simulada, as locomotivas terão a velocidade controlada em função de seu posicionamento global – GPS – e paradas programadas em lugares estratégicos definidos pelo sistema. Por meio de um software que receberá dados sobre as variáveis da condução, serão elaborados gráficos com características do perfil de cada trecho das vias percorridas. Funcionário da empresa Vale, principal exportadora de minério do país, e integrante do grupo que realiza a pesquisa, Luis Gustavo Caixeta explica que é comum aparecerem surpresas para os maquinistas ao longo do caminho, o que faz com que os trens precisem parar rapidamente. “Principalmente em períodos chuvosos, com quedas de barreiras ou outras ações da natureza que não temos como prever, é importante conhecermos as características dos trechos e criar formas mais eficazes de acompanhar a locomotiva”, diz. 
      A variação da velocidade das máquinas ao longo do percurso também será acompanhada, de forma que em alguns trechos sejam feitas frenagens e alterações na potência de cada motor. “Um dos problemas para empresas que usam o transporte de carga via ferrovias está relacionado à restrição da velocidade ao longo de alguns trechos. Por causa de desníveis, subidas mais fortes ou descidas longas, o maquinista tem sempre que ajustar a velocidade em até 30 km/h ou 40 km/h. Essas mudanças constantes podem causar acidentes”, explica Luis Gustavo. Mas, ainda que a nova ferramenta permita o monitoramento via satélite das locomotivas, os maquinistas continuarão com lugar garantido à frente das máquinas. Isso porque casos de emergência ao longo do percurso, como quedas de barreiras e objetos nos trilhos, ainda dependem da prática profissional na condução dos trens.

      MAIS BARATO Ao anunciar as pretensões do governo federal de ampliar os investimentos no setor, o presidente-executivo da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), Rodrigo Vilaça, destacou a necessidade de mais investimentos também na busca por novas opções tecnológicas para o modal. “Temos um horizonte de 10 anos de execução de obras, em que será necessário formar uma nova geração ferroviária, que saiba trabalhar com as novas tecnologias e equipamentos”, afirmou. E a busca por avanços passa obrigatoriamente por pesquisas acadêmicas, que são aos poucos incorporadas pelo setor privado. 
      Inicialmente a pesquisa “Condução autônoma de locomotivas” prevê apenas as simulações das viagens, mas o interesse em aplicar os conhecimentos na prática está movimentando cada vez mais as pesquisas ligadas ao transporte ferroviário. Um dos aspectos que despertam grande interesse do setor privado no estudo é a possibilidade de reduzir os gastos com combustíveis durante as viagens. “A questão da economia também entra nos objetivos de criar tecnologias para o transporte ferroviário. Quando a locomotiva está descendo longos trechos, por exemplo, nem todos os motores precisam estar ligados, mas o maquinista não tem como controlar manualmente esse tipo de função. Dessa forma, desperdiçamos diesel, sem motivo”, avalia Luis Gustavo.

      Luiz Carlos Bresser-Pereira

      folha de são paulo

      Pobre Síria
      É pouco provável que, na hipótese de Bashar Assad ser derrubado, se instale na Síria uma democracia
      As estimativas das Nações Unidas são de que já morreram 60 mil pessoas na guerra civil da Síria. Uma guerra na qual os rebeldes são apoiados pela Arábia Saudita, com certa discrição pelas potências ocidentais, e com crescente determinação pelos governos e grupos terroristas islâmicos de orientação sunita, inclusive a Al Qaeda. Em nome do quê? "Da democracia", respondem.
      Mas valerá a pena matar 60 mil indivíduos para derrubar uma ditadura secularista que há mais de 50 anos garante a estabilidade política na Síria? Qual a probabilidade de que se estabeleça na Síria um verdadeiro governo democrático?
      Começo respondendo a última pergunta. Como estamos vendo na Líbia, é pouco provável que, na hipótese de Bashar Assad ser derrubado, se instale na Síria uma democracia. Como na Líbia, e em contraste com o que aconteceu no Egito e na Tunísia, não houve rebelião popular ali, mas o aproveitamento da Primavera Árabe que acontecia em outros países por elites tribais ou sectárias sunitas para derrubar um governo alauíta -grupo étnico-religioso associado aos xiitas.
      Nada indica que a Síria esteja madura para a democracia; a guerra civil hoje em curso não tem como objetivo a democracia.
      Para os sunitas islâmicos, inclusive a Arábia Saudita, é uma forma de estender seu poder a mais um país; é uma forma de compensar a perda do Iraque que, antes da guerra empreendida pelos EUA, era governado por sunitas, e, depois dela, passou ao domínio da maioria xiita. Para o Ocidente, é a forma de derrubar um governo nacionalista que sempre se manteve independente de França, Grã-Bretanha e EUA.
      Quando começaram as hostilidades, a maioria da mídia Ocidental passou a cobrar a intervenção armada. França e Grã-Bretanha apoiaram a ideia, mas os EUA, escaldados com o desastre político (e humano) que foi a Guerra do Iraque, revelaram-se menos entusiasmados, e a China e a Rússia vetaram a proposta. Para justificar a intervenção, rebeldes denunciavam os massacres de civis pelo governo sobre uma oposição desarmada.
      Quando, entretanto, foi-se ver mais de perto, verificou-se que havia uma guerra civil com rebeldes armados, e que os massacres aconteciam dos dois lados.
      Também se verificou que o regime autoritário da Síria tinha um apoio das classes médias muito maior do que se esperava, porque mantinha a ordem pública, e porque protegia as minorias religiosas cristãs. Isso pode ser surpreendente a um regime islâmico (que é assim denominado porque não reconhece a separação entre a religião e o Estado), mas é normal no caso do regime muçulmano secularista como é o do Partido Baath sírio.
      O Ocidente se surpreendeu com a resistência do governo Sírio ao ataque de uma coalizão de forças internas e externas da qual ele próprio fazia parte. Mas o fato não é surpreendente se considerarmos que o regime sírio continua a contar com o apoio da população, do Irã e da Rússia. Esse é mais um capítulo sangrento da luta entre sunitas e xiitas, e da estratégia de dominação do imperialismo ocidental sobre o triste e conturbado Oriente Médio. A vítima é o povo sírio.

        Pílulas diárias de preocupação - Bruna Sensêve‏

        França suspende o uso do anticoncepcional Diane 35 após mortes por trombose. Para especialistas, todas as gerações desse remédio podem comprometer o sistema vascular 


        Bruna Sensêve
        Estado de Minas: 11/02/2013 
        Suspenso na semana passada na França, o medicamento Diane 35 virou motivo de preocupação também entre as brasileiras. Elas têm dúvidas quanto à interrupção do uso do anticoncepcional à base de etinilestradiol e acetato de ciproterona, apontado como possível motivador da morte de quatro mulheres no país europeu. No Brasil, especialistas orientam as mulheres a não interromperem nem mudarem o método contraceptivo sem a orientação médica. Todos também são categóricos ao cobrar providências da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para que o remédio seja comercializado somente com receita.
        O pedido justifica-se pelo risco. Não só o Diane 35 e seus similares carregam o perigo de trombose e embolismo. Segundo a presidente da Comissão Nacional Especializada em Anticoncepção da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), Marta Franco Finotti, todas as usuárias de anticoncepcionais hormonais correm o risco dobrado de ter essas doenças. Condições como tabagismo, obesidade, antecedentes familiares ou propensão à trombose, hipertensão, diabetes e problemas hepáticos fazem com que os possíveis perigos se multipliquem. 
        A primeira geração da pílula anticoncepcional, assim como suas gerações seguintes, em grande maioria, é composta por substitutos sintéticos dos hormônios estrogênio e progesterona. O estrogênio sintético mais comum é o etinilestradiol. Já as progestinas, que são as substâncias sintéticas derivadas da progesterona, se diversificaram bastante ao longo do tempo, formando gerações do medicamento (veja o infográfico). A combinação do etinilestradiol com o acetato de ciproterona, princípios ativos da Diane 35, surgiu na segunda geração. Em vez da combinação de estrogênio sintético e uma progestina, esse composto associa o etinilestradiol a um antiandrogênico, o acetato de ciproterona, uma substância cuja principal ação é impedir a produção do hormônio masculino testosterona. 
        Por esse motivo, a pílula composta de etinilestradiol e acetato de ciproterona, como a Diane 35 e seus similares, é ideal para o tratamento de síndromes como a dos ovários policísticos, em que o organismo feminino produz testosterona em excesso. Essa quantidade exagerada faz com que a mulher manifeste características mais presentes no sexo masculino, como o aumento do pelo corporal e do peso, acne e caspa. A associação das duas substâncias mostrou-se capaz de diminuir a produção do hormônio e, por consequência, os efeitos físicos dele no organismo da mulher. Por outro lado, alerta o vice-presidente da Sociedade Brasileira de Ginecologia Endócrina, Elsimar Coutinho, o excesso de estrogênio na pílula pode gerar efeitos indesejáveis, como o aumento dos problemas vasculares. “O etinilestradiol sem a progesterona é que faz esse efeito sobre a vasculatura. Ele não é neutralizado e parece até reforçado pelo acetato de ciproterona”, avalia. 
        A vascularização não era um problema para a estudante Juliana Castro, 26 anos, até dois anos atrás, quando sofreu uma grave crise de trombose. Ela começou a tomar um anticoncepcional similar ao Diane 35 aos 14 anos, quando foi diagnosticada com a síndrome dos ovários policísticos. Tomou a medicação até os 19 e trocou o método contraceptivo. Anos depois, retornou ao medicamento e, após mais dois anos de uso, teve um episódio de trombose. “Lembro direitinho que, quando cheguei ao pronto-socorro, a primeira coisa que o pneumologista que me atendeu perguntou foi se eu usava anticoncepcional. Respondi que sim e ele disse que era trombose”, relata Juliana, que era fumante na época. O tratamento contra a doença foi longo e exaustivo, e os cuidados permanecerão para o resto da vida. “A dor foi aliviada com o tempo e se tornou suportável. Não posso tomar anticoncepcionais nunca mais e qualquer medicamento hormonal precisa passar pelo angiologista”, conta Juliana. 
        Para Elsimar Coutinho, a exigência da receita médica para a compra do medicamento e um maior cuidado dos médicos na hora das consultas evitaria problemas. “O médico que vai prescrever um remédio para alguém tem que olhar para esse alguém como se fosse a filha dele, a irmã dele, a esposa dele. Isso precisa ser levado a sério. Não acho que tenha que proibir o produto, ele tem que estar disponível. Mas só deveria ser comprado com a receita médica, assim como os antibióticos”, pondera. Em nota, a Anvisa afirmou que, “até o presente momento, não houve geração de sinal de risco sanitário no banco de dados do sistema de notificação da agência (sobre o uso desse anticoncepcional no Brasil)” e que “a bula do referido medicamento já possui as informações de que o mesmo não deve ser utilizado na presença ou histórico de processos trombóticos/tromboembólicos arteriais ou venosos”. 

        Novas gerações Após o relatório da agência francesa de saúde, as pílulas mais moderna  também deverão ser investigadas. Na maioria delas, a composição consiste em estrogênio, na forma de etinilestradiol, e em substâncias derivadas da progesterona que passaram a apresentar aspectos diferenciados. Entre outros efeitos, garantem uma pele menos oleosa, menor retenção de líquidos, cabelos mais viçosos, além do alívio dos sintomas da TPM, chegando a serem apelidadas de pílulas da beleza.

        Os atrativos trouxeram uma avalanche de pedidos em consultórios pela substituição da pílula convencional.  O meio científico, no entanto, estuda a relação dos remédios modernos com a trombose. Segundo o professor do Departamento de Ginecologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) José Maria Soares Júnior, um dos fatores que podem estar envolvidos no processo é a metabolização do medicamento no fígado. Esse efeito hepático excreta um maior número de proteínas, que deixariam o sangue mais viscoso e espesso, também propenso à formação de coágulos.