sexta-feira, 5 de julho de 2013

Senado rejeita baiano para Conselho Nacional do MP

Patrícia França, A Tarde - 05/07/2013

Surpreso, injustiçado e vítima do voto secreto. É assim que o procurador baiano Vladimir Aras disse se sentir depois de ter seu nome rejeitado pelo Senado, na última quarta-feira, para o Conselho Nacional do Ministério Público. A rejeição ao procurador é atribuída a uma retaliação dos senadores ao procurador-geral da República, Roberto Gurgel. Respeitado pelas investigações de crimes de lavagem de dinheiro, Aras – que teve o seu nome indicado por quase 500 procuradores da República numa lista tríplice – recebeu 38 votos favoráveis e 17 contrários à sua indicação ao CNMP. Ele precisava de pelo menos 41 votos para ser eleito para o conselho. Nos bastidores do Congresso corre que Vladimir Aras foi reprovado por uma articulação do senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL)

 Leia mais abaixo




Etimologia - Carlos Emilio Faraco

Poesia
ETIMOLOGIA

Com o tempo,
ás águas pluviais
correm,
esquecidas de sua origem.

Encontram-se
com as águas fluviais
(também desgrudadas
do seu nascimento)
e conversam
sobre os refolhos dos homens,
sobre a memória dos homens,
sobre a boca dos homens.

A noite
da língua portuguesa
é cheia de murmúrios...


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folha de são paulo
CHICLETE COM BANANA      ANGELI
ANGELI
PIRATAS DO TIETÊ      LAERTE
LAERTE
DAIQUIRI      CACO GALHARDO
CACO GALHARDO
NÍQUEL NÁUSEA      FERNANDO GONSALES
FERNANDO GONSALES
MUNDO MONSTRO      ADÃO ITURRUSGARAI
ADÃO ITURRUSGARAI
PRETO NO BRANCO      ALLAN SIEBER
ALLAN SIEBER
MALVADOS      ANDRÉ DAHMER
ANDRÉ DAHMER
GARFIELD      JIM DAVIS
JIM DAVIS

HORA DO CAFÉ      MANDRADE
MANDRADE

FLIP2013 - Debate sobre protestos é o mais aplaudido da festa

folha de são paulo - FLIP 2013
DO ENVIADO A PARATYA primeira das duas mesas extras da Flip para debater os protestos no país, ontem à noite, foi a mais aplaudida da festa até aqui.
Reuniu o jornalista espanhol Juan Arias, correspondente do jornal "El País" no Brasil, o poeta Fabiano Calixto, autor de coletânea de poemas inspirada pelos protestos, o diretor Marcus Faustini, que prepara filme das manifestações, e Pablo Capilé, da rede Fora do Eixo.
Arias se disse "muito orgulhoso" do que viu nas ruas. "O Brasil acordou, recuperou sua voz e está fazendo perguntas ao poder. Depois disso, nunca mais vai ser o mesmo", afirmou, sob muitos aplausos.
Tão ovacionado quanto Arias foi Pablo Capilé, que falou sobre a "crise de intermediários", iniciada com a música a partir do declínio das grandes gravadoras, e que, hoje, estaria na imprensa, "pega de calças curtas quando deveria estar apresentando novas soluções".
    FLIPETAS
    ELE VEM?
    A organização da Flip informou que o poeta palestino Tamim Al-Barghouti, que vive no Cairo e cujos poemas embalaram a Primavera Árabe no Egito, estava ontem no aeroporto a caminho do Brasil, mas que voos antes do dele haviam sido cancelados. Sua participação foi posta em dúvida com o golpe militar de anteontem naquele país.
    PEDOLATRIA
    O cartunista Laerte ganhou o público que lotou a Casa Folha na tarde de ontem. Falou sobre política, preconceito, "cura gay" e o fato de se vestir de mulher há quatro anos. Alguns também prestaram atenção em outros talentos de Laerte.
    "Você tem um pé tão bonito. Gosta de comprar sapato?", perguntou uma fã. Outra, que integrava a longa fila que ficou de pé fora da Casa Folha, ficou encantada com a pele do cartunista.
    PRA INGLÊS BEBER
    O ensaísta britânico Geoff Dyer tem declarado aos quatro cantos na Flip que o bar Jobi, no Rio, se tornou o seu botequim predileto no mundo. Ele frequentou o lugar pouco antes de ir a Paraty e promete volta.
    OUÇA ESTE LIVRO
    O bósnio radicado nos EUA Aleksandar Hemon foi quem montou o setlist da festa que a editora Rocco fez na noite de quarta. No repertório, músicas que influenciaram sua obra, como "Three", do Massive Attack", "I Zimbra", do Talking Heads, e "Thristy Dog", de Nick Cave & the Bad Seeds.
    "Acho interessante falar de coisas que não são sublimes, grandiosas, como uma maçaneta. Acho que os poemas de amor estão nas maçanetas, disfarçados"
    ALICE SANT'ANNA
    poeta, durante debate ontem com as colegas Bruna Beber e Ana Martins Marques
      Gil critica falta de negros em torneios no país
      DO ENVIADO A PARATYO cantor Gilberto Gil criticou, ontem, em Paraty, a falta de acesso da população negra e pobre às partidas da Copa das Confederações e da Copa-2014.
      "Tem de haver uma mobilização nas favelas para suprir a carência que esses grandes eventos impõem ao Brasil, que é a filtragem pelo preço dos ingressos", disse o ex-ministro da Cultura, que foi ao Maracanã no último domingo, para a final Brasil x Espanha.
      "Fiquei na tribuna de honra, ao lado do [Joseph] Blatter [presidente da Fifa], do Zagallo, Ivete Sangalo, Jorge Ben Jor. Quando cheguei em casa, vi pela TV que o lugar onde os jogadores correram para abraçar a torcida não tinha o matiz racial brasileiro, era esbranquiçado."
      Informado de que a Fifa anunciou que venderá ingressos a preços populares na Copa-2014, Gil listou outras sugestões, como linha de crédito bancário ou patrocínio de empresas para parcelar os ingressos.
        Niemeyer foi o melhor e o pior da arquitetura brasileira, diz crítico
        Americano Paul Goldberger debateu em Paraty com arquiteto português Eduardo Souto de Moura
        Um dos principais analistas da área nos EUA defende que brasileiro se repetiu e ofuscou grandes nomes
        RODRIGO LEVINOENVIADO ESPECIAL A PARATYNo segundo dia da principal festa literária do país, a arquitetura foi responsável por um dos pontos mais elevados dos debates.
        Na segunda mesa da Flip 2013, o crítico americano Paul Goldberger, vencedor do prêmio Pulitzer, e o arquiteto português Eduardo Souto de Moura, vencedor do prêmio Pritzker de arquitetura, se mostraram pouco simpáticos à obra de Oscar Niemeyer (1907-2012), quando provocados pela plateia a respeito da arquitetura brasileira.
        "Niemeyer foi brilhante ao mostrar que certas obras são possíveis, mas [essas obras] nem sempre se prestam ao público", disse Souto de Moura, expoente da chamada "escola do Porto" de arquitetura.
        Crítico de arquitetura mais popular dos EUA --escreveu para o "New York Times" e para a "New Yorker" e hoje tem uma coluna na "Vanity Fair"--, Goldberger foi mais duro ao analisar a obra do maior arquiteto brasileiro.
        "Niemeyer foi a melhor e a pior coisa para a arquitetura brasileira. A sua sombra perdurou tanto que há até pouco tempo as pessoas sequer conheciam Lina Bo Bardi, certamente uma das maiores arquitetas do século 20."
        Tanto Souto de Moura quanto Goldberger concordaram no apreço pelas primeiras obras do brasileiro.
        "Quando ele surgiu, foi como a bossa nova para o jazz: deu sensualidade, curvas, movimento", comparou o americano. "Mas, com o passar do tempo, me parece que ele acreditou demais na própria lenda, se copiar, fazer uma paródia que eu considero simplista de si mesmo".
        Sobrou também para o urbanista Lucio Costa, com quem Niemeyer projetou Brasília. "Na teoria, Costa é perfeito, coisa que não acontece com a prática de seus projetos", atacou Souto de Moura.
        Os dois elogiaram a obra de outro brasileiro, Paulo Mendes da Rocha, no dizer de Souto de Moura, "em plena flor da idade criativa". "Interesso-me por seu modo de ver o mundo, sua profundidade ética, política e confesso que já o copiei num projeto", disse, para diversão da plateia.
        Antes de a discussão desaguar em Niemeyer, Souto de Moura afirmou que todo arquiteto é um esquizoide, na medida em que precisa equacionar a sua originalidade, o pedido do cliente e a exequibilidade da obra.
        Goldberger foi além: "Eu diria que [o arquiteto é] também um pouco de psiquiatra ou psicanalista, pois, quando ele projeta uma casa para alguém, de certo modo adentra a alma daquela pessoa na busca pelo que a define".
          NA INTERNET
          Outros destaques
          'GUERNICA' VIVA
          O historiador britânico T.J. Clark deu uma aula sobre a gênese e a influência de "Guernica", obra de Picasso que "se recusa a morrer".
          folha.com/no1306537
          CRISE GERACIONAL
          Paulo Scott e José Luiz Passos falaram sobre política. "Juramos que não cometeríamos os mesmos erros no processo de redemocratização. Mas falhamos", disse Scott.
          folha.com/no1306470
          COPA BRANCA
          Gil critica torcida "esbranquiçada" em Copas e propõe cotas ou parcelamento de ingressos para pobres.
          folha.com/no1306442
          NA ALEMANHA
          Pavilhão do Brasil na Feira de Frankfurt será focado no país como é hoje, evitando a abordagem memorialística.
          folha.com/no1306463

            Cenas do capítulo 11 - Vanessa Barbara

            folha de são paulo
            VANESSA BARBARA
            As lendas e fofocas correm soltas, feito subtramas de um romance russo, durante todas as edições da Flip
            Cada Flip traz em si todas as edições anteriores, como um livro que você adora reler, mas que por vezes até se arrepende de abrir.
            Na primeira, em 2003, dizem que o romancista norte-americano Don DeLillo foi visto nas ruas de Paraty tentando vender uma bola de beisebol usada (a anedota é boa, mas carece de veracidade).
            No mesmo ano, Julian Barnes aprendeu a dizer "paralelepípedo" e o historiador Eric Hobsbawm foi flagrado comprando paçocas.
            Em 2004, Chico Buarque fez um gol "de letra" no goleiro e eletricista Nanã em partida contra um time local. Na plateia, Paul Auster confessou desconhecer as regras do esporte. O trocadilho da vez decorreu da insólita aparição de um apresentador de televisão, que logo ganhou a alcunha de "Gugu Literato".
            As lendas e fofocas correm soltas, feito subtramas de um romance russo: Arnaldo Jabor acusou uma professora de stalinista, um grilo cruzou o palco, Zuenir Ventura foi chamado de Saramago e Humberto Werneck disse "períneo".
            A escritora americana Toni Morrison andou de charrete na Flip 2006 e Simon Schama dançou "Thriller" com uma camisa aberta até o umbigo, em 2009. Dois anos depois, James Ellroy circulou com a mesma camisa amarela florida. Já o jornalista Gay Talese levou uma mala cheia de ternos.
            Lembro de, uma vez, ficar presa numa mesa de restaurante em que Xinran e Ma Jian discutiam violentamente em mandarim, enquanto suas moquecas esfriavam no prato.
            Este ano, na 11ª Flip, quem já virou assunto foi Gilberto Gil, que, no show de abertura, propôs a criação de um "carnê-Copa" para os desfavorecidos. A ideia era comprar ingressos de partidas da Copa do Mundo e abrir um crediário para os pobres. Cada Flip tem sua mitologia própria, reviravoltas e tropeços memoráveis.

              Vinicius Torres Freire

              folha de são paulo
              Uma crise puxa a outra
              Faltam recursos financeiros, políticos e imaginação para o governo conter dominó de crises
              O GOVERNO ESPERA economizar uns bilhões segurando o dinheiro previsto no Orçamento para emendas parlamentares, a verba picada que os congressistas reservam para a satisfação do seu eleitorado.
              Em momentos conturbados, mas nem tanto como agora, soltar dinheiro de emenda parlamentar é um método tradicional de compra de boa vontade no Congresso, como se sabe. Boa vontade com o governo é mercadoria escassa no Parlamento das últimas semanas, para não dizer meses; se escassa, fica mais cara. Com menos recursos para arrebanhar apoio, qual será o efeito da presente barafunda política?
              O estoque de prestígio de Dilma Rousseff diminuiu. Seja lá o que aconteça com a aprovação da presidente e de suas perspectivas eleitorais, por ora ela tem menos recursos políticos na caixinha.
              O governo não tem dinheiro para fazer a barganha habitual com verbas do Orçamento. Não tem mais meios de inflar seu ministério com cargos de fantasia cara.
              Enfim, causou revolta com essa história confusa de fazer o Congresso se emendar (fazer "reforma política"). Isto é, aumentou sua dívida com deputados e senadores, que muitos querem seu fígado, segundo colegas brasilianistas (jornalistas especializados no mundo paralelo de Brasília).
              Além de aprovar qualquer projeto que pareça cair no gosto popular, tanto faz se financeira ou politicamente absurdo, parte grande do Congresso quer vingança, quer mostrar que está podendo: que pode fazer estragos nas contas e no prestígio de Dilma Rousseff.
              Onde isso vai dar? Por enquanto, é possível dizer apenas que isso vai dar em desgoverno pelo menos transitório, pois não se sabe o que tende a dizer "a voz das ruas" a respeito da politicalha.
              É especulativo, mas o povo pode bem achar que a "resposta dos políticos" a seja lá o que for o que os manifestantes queriam foi apenas mais política politiqueira, um motivo aparentemente maior da nebulosa ira das ruas.
              Pode ser que a confusão politiqueira desbaste ainda mais o prestígio de Dilma, com o que pareceria lucrativo e razoável articular um bloco político de apoio a uma candidatura alternativa. Nova queda de Dilma nas pesquisas suscitaria a ideia de mudança no governo em 2014 sem que a alternativa de poder esteja clara, o que deixaria mais nervosos os donos do dinheiro grosso.
              Por ora, o clima já não está bom: há algum tumulto financeiro no mundo rico e os problemas já conhecidos no Brasil vão limitar ainda mais o crescimento.
              Decerto, nada disso está dado. Depende da habilidade (ora escassa em qualquer parte) de levar a "voz das ruas" para cá ou lá. A desordem financeira que prejudica o Brasil pode arrefecer.
              Pode ser que em outubro o governo venda bem aeroportos e direitos de exploração de petróleo, o que mostraria "a confiança dos investidores no Brasil" (imagem é quase tudo etc.). Mesmo a desordem política em Brasília pode dar em nada se não surgir alguém para organizar e lucrar com a má vontade em relação ao governo.
              O problema é que há muito fio desencapado, e o governo ainda não sabe como isolar essas crises várias de modo a evitar choques e incêndios.
              vinit@uol.com.br

                Amas de leite para adultos viram moda entre ricos na China

                folha de são paulo
                Mulheres cobram em média R$ 5.680 por mês pelo fornecimento diário de leite
                MARCELO NINIODE PEQUIMNunca é tarde para apreciar as propriedades nutricionais do leite materno.
                Com essa filosofia, uma empresa da metrópole de Shenzhen, sul da China, atraiu a atenção de marmanjos dispostos a pagar caro para ter uma ama de leite de plantão, que lhes forneça o alimento direto da fonte.
                O polêmico serviço provocou uma avalanche de críticas de usuários das redes sociais chinesas, muitos enojados, outros sugerindo que trata-se de perversão sexual.
                O que mais chocou os internautas foi a possibilidade de que o cliente seja literalmente amamentado.
                "Eles podem escolher entre a amamentação direta ou por meio de um sugador", disse ao jornal "Southern Metropolis Daily" o porta-voz da empresa Xinxinyu, que oferece o serviço.
                Segundo Lin Jun, o porta-voz citado, é crescente a procura do leite materno entre adultos com muito dinheiro e pouca saúde.
                "Mas só alguns poucos mamam diretamente no peito das amas de leite", diz um dos entrevistados, que não é identificado. Ele conta que contratou a ama para morar em sua casa, a fim de garantir o fornecimento diário.
                A reportagem estima que as fornecedoras cobrem em média 16 mil yuans (R$ 5.680) por mês, quatro vezes o salário médio mensal no país. O preço pode ser mais alto se a ama for atraente e comprovadamente saudável.
                Mei Chunlai, um advogado consultado pelo jornal "China Daily", disse que, embora a lei do país proíba a venda de leite materno, a fiscalização é frouxa.
                Devido aos períodos curtos de licença maternidade, o índice de aleitamento materno na China é baixo, de 28%, segundo relatório do Unicef publicado no ano passado.

                  Moisés Naím

                  folha de são paulo
                  Fora com todos eles!
                  A experiência mostra que derrubar líderes corruptos e ineptos pode ser a parte mais fácil do desafio
                  Nos anos 90, italianos, russos e venezuelanos estavam tão cansados de seus políticos quanto os brasileiros atuais. A corrupção, que existia havia muito, subitamente tornou-se intolerável. As pessoas também perderam a paciência com a inépcia burocrática e os maus serviços públicos.
                  "Fora com todos eles" tornou-se o grito que exprimia o sentimento predominante. "Eles", é claro, eram todos os que detinham o poder.
                  Na Itália, o escândalo de corrupção Tangentopoli, deflagrado por subornos pagos por construtoras, levou a imensas mudanças. Mais da metade do Legislativo foi indiciada.
                  Os cinco partidos que haviam governado o país desde 1947 desapareceram. As pessoas saíram avidamente em busca de caras novas e, especialmente, de líderes honestos.
                  Silvio Berlusconi ofereceu seus serviços à nação e, em 1994, três meses após lançar seu partido, tornou-se premiê. Virou o chefe de governo mais longevo da Itália do pós-guerra.
                  Vladimir Putin era outra dessas "caras novas". Subiu ao poder como resultado de um súbito surto de indignação popular quanto aos políticos, à corrupção e à percepção de que a Rússia estava a caminho de um declínio humilhante.
                  Como o magnata da mídia Berlusconi, Putin, ex-agente da KGB, explorava os atrativos de se apresentar como "não político". Foi indicado como primeiro-ministro em 1999 pelo presidente Boris Ieltsin, doente e fragilizado politicamente.
                  Naquele mesmo ano, Ieltsin renunciou e, graças a uma eleição na qual conquistou 55% dos votos, Putin tornou-se o primeiro presidente democraticamente eleito da Rússia. E não saiu mais do Kremlin.
                  Enquanto isso, na Venezuela, algo surpreendentemente parecido acontecia. Em 1998, o país elegeu uma "cara nova" como líder. Uma vez mais, a corrupção e a exasperação diante do mau estado da economia e dos maus políticos conduziram a uma desesperada ansiedade por "alguém novo".
                  Hugo Chávez satisfez aquela ansiedade. Como Putin, chegou ao palácio presidencial para ficar. Manteve-se no poder por 14 anos e, quando percebeu que estava doente demais para governar, apontou um sucessor, Nicolás Maduro.
                  Berlusconi, Putin, Chávez e os três países não podiam ser mais diferentes. Mas os paralelos são notáveis.
                  Eram todas sociedades cansadas de elites havia muito tempo no poder. Inevitavelmente, encontraram "caras novas", que, depois de eleitas, concentraram poderes, pulverizaram a oposição e governaram por muito tempo.
                  É triste dizer que Itália, Rússia e Venezuela são sociedades muito doentes hoje. As "caras novas" não fizeram um grande trabalho governando seus países. E a corrupção continua intocada.
                  A lição não é que líderes que tolerem corrupção e inépcia administrativa não devam ser derrubados. A lição é que derrubá-los pode ser a parte mais fácil do desafio.
                  Dar poder a um líder que ofereça apenas uma cara nova e retórica sedutora é o verdadeiro perigo. Quando as caras novas chegam ao poder, elas nunca partem. Cuidado.
                  @moisesnaim

                    Bandeiras nas ruas e redes sociais ecoaram noticiário, diz especialista

                    folha de são paulo
                    Dados revelam que links dos jornais dominaram tuítes sobre atos
                    MARCELO SOARESNELSON DE SÁDE SÃO PAULOA ampla repercussão do noticiário de jornais nas redes sociais nos protestos confirma, segundo os especialistas, a crescente integração entre as duas pontas da mídia.
                    Dados publicados ontem pela Folha revelam que links das organizações jornalísticas brasileiras responderam por 80% do total de links nos tuítes que adotaram as principais "hashtags" dos atos.
                    Para Fábio Malini, coordenador do Laboratório de Estudos sobre Internet e Cibercultura da Universidade Federal do Espírito Santo, mídia tradicional e social não concorrem, mas se integram.
                    "Não há conflito entre uma e outra. Os grupos na rede se apropriam das informações, ora para defender suas teses, ora para refutar as teses de outros", afirma.
                    Eugênio Bucci, professor da ECA-USP e diretor do curso de pós-graduação em jornalismo da ESPM, ressalta que as bandeiras nas redes sociais e nas ruas ecoaram a imprensa: "Copa, PEC 37, até a abertura da planilha de custos das empresas de ônibus: as bandeiras eram de conhecimento dos manifestantes por causa do jornalismo".
                    Para Caio Túlio Costa, diretor do Comitê de Estratégias Digitais da ANJ (Associação Nacional de Jornais), existe uma "convergência": "A marca da credibilidade da mídia tradicional está na web desde sempre, por exemplo, nas buscas. Não é diferente nas redes, sobretudo quando as pessoas querem saber o que aconteceu e como".

                      Renan diz que não vai devolver valor de viagem para a Bahia

                      folha de são paulo
                      Festa de casamento foi 'compromisso' de chefe de Poder, diz presidente do Senado
                      FAB diz não ter lista de passageiros; Henrique Alves, presidente da Câmara, devolveu R$ 9.700 de viagem ao Rio
                      DE BRASÍLIA
                      O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), afirmou ontem que não irá devolver o dinheiro referente à viagem que fez com sua mulher em um avião da Força Aérea Brasileira para ir a uma festa de casamento na Bahia.
                      O "Painel" da Folha revelou que Renan usou a aeronave modelo C-99 para ir de Maceió a Porto Seguro às 15h de 15 de junho, um sábado, e participar do casamento da filha do líder do governo no Senado, Eduardo Braga (PMDB-AM), em Trancoso.
                      Já o presidente da Câmara, Henrique Alves (PMDB-RN), devolveu à União R$ 9.700 referentes, segundo ele, ao valor da carona que seus parentes e conhecidos pegaram, também em avião da FAB, para ver a final da Copa das Confederações no Rio. O dinheiro só foi devolvido depois de a Folha revelar a viagem.
                      No caso de Renan, ele alegou em entrevista e em nota oficial que foi à festa dentro de "compromisso" como presidente do Senado e, como chefe de Poder, tem direito a usar a aeronave mesmo quando a viagem não é oficial.
                      "Quem está obrigado a ir a serviço é o ministro de Estado. Os presidentes do Senado, da República, do Supremo têm transporte de representação porque são chefes de Poder", afirmou Renan.
                      "A viagem, portanto, foi para cumprir compromisso como presidente do Senado, ou seja, de representação", acrescentou a nota.
                      Segundo Renan, nem todas as viagens da presidente da República em aviões oficiais são "a serviço", mas mesmo assim Dilma Rousseff tem a prerrogativa de usá-los.
                      Pela lei em vigor, aviões da FAB podem ser requisitados por autoridades por "motivo de segurança e emergência médica, em viagens a serviço e deslocamentos para o local de residência permanente".
                      Apesar do decreto com as normas, Renan disse que não cabe à FAB determinar o que as autoridades podem ou não fazer. "Nós é que temos o que dizer para a FAB. O transporte é em função da chefia do Poder, da representação."
                      No sábado do casamento, a agenda do senador dizia que não havia evento marcado. "A lei não diz que [o compromisso] tem que estar na agenda, não", afirmou ele.
                      Ontem, o senador João Capiberibe (PSB-AP) pediu à Controladoria Geral da União que ordene ao Ministério da Defesa a divulgação permanente dos voos requisitados por autoridades. O deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) apresentou projeto que obriga o Executivo a divulgar data, motivo e lista de passageiros.
                      LISTA DE PASSAGEIROS
                      Folha tentou obter com a FAB a relação de pessoas que acompanharam Renan no jato, que comporta até 50 passageiros. A FAB informou que a lista deveria ser requisitada à autoridade que solicitou o voo.
                      Ministro também usou jato da FAB para ver jogo
                      Garibaldi Alves, da Previdência, viajou após compromisso oficial no Ceará
                      'Me senti no direito de o avião me deixar onde eu quisesse ficar', diz ministro, que é primo do presidente da Câmara
                      LEANDRO COLONDE SÃO PAULOO ministro da Previdência Social, Garibaldi Alves Filho (PMDB), também usou um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) no fim de semana para ir ao Rio de Janeiro assistir à final da Copa das Confederações no Maracanã.
                      O ministro saiu de Brasília na sexta-feira às 6h com destino a Fortaleza para cumprir agenda oficial na cidade de Nova Morada (CE). O compromisso acabou pela manhã.
                      Em vez de retornar a Brasília, o ministro pediu que o avião, um Learjet 35, o levasse ao Rio, onde havia programado passar o fim de semana para ver o jogo da seleção brasileira contra a Espanha.
                      A aeronave saiu às 14h de sexta de Fortaleza e chegou às 17h no Rio. Em entrevista àFolha, Garibaldi contou que deu carona a um amigo, o empresário Glauber Gentil. Ambos viajaram num avião que comporta 10 passageiros.
                      "Eu não iria passar o fim de semana em Natal [terra do ministro]. Se fosse voltar para Brasília, teria optado por lá. Mas havia programado ir ao Rio. Fui para passar o fim de semana e ver o jogo", disse.
                      "Me senti no direito de o avião me deixar onde eu quisesse ficar", afirmou o ministro. "Já fiz isso outras vezes, porque na volta fico sempre no destino que eu me programei. Pedi com antecedência, senão ministro entra na fila."
                      Ele ganhou ingresso do Ministério do Esporte para o Maracanã e disse ter gostado do jogo. "Quem não gostou?"
                      O decreto 4244/2002, que disciplina o uso de aviões da FAB por autoridades, diz que os jatos podem ser requisitados quando houver "motivo de segurança e emergência médica, em viagens a serviço e deslocamentos para o local de residência permanente".
                      Ou seja, segundo o decreto, Garibaldi não poderia ir ao Rio porque não tinha agenda nem mora na cidade. O ministro disse que retornou para Brasília em voo comercial.
                      Garibaldi é primo do presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), que usou outro avião da FAB para ver o jogo da seleção. Alves levou sete convidados de Natal para o Rio. Glauber Gentil, que foi para o Rio com Garibaldi, pegou carona com Alves para voltar a Natal.

                        Painel Vera Magalhães

                        folha de são paulo
                        Gol contra
                        O anúncio de Michel Temer de que o plebiscito não valeria para a eleição de 2014, como defende Dilma Rousseff, frustrou a tática do governo de jogar no colo do Congresso o "enterro'' da proposta. Integrantes do Planalto e parlamentares aliados relatam que ficou combinado na reunião ontem, no Jaburu, que não se falaria sobre calendário até a semana que vem. Mas o vice-presidente surpreendeu ao cometer, segundo um interlocutor, "sincericídio'' sobre o destino do plebiscito.
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                        Folhetim Um petista que ajudou a boicotar a consulta popular compara a proposta à personagem de Regina Duarte na novela "Roque Santeiro". "Esse plebiscito é como a Viúva Porcina: foi sem nunca ter sido", disse.
                        À flor... Ideli Salvatti (Relações Institucionais) chorou na reunião de ontem da direção do PT ao falar sobre as dificuldades que o partido e o governo estão enfrentando.
                        ...da pele Criticada pelas falhas na interlocução do governo com o Congresso, a ministra precisou lembrar aos dirigentes que também é defensora do partido.
                        Carona Na reunião, o PT admitiu "abrir diálogo" com o Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral, que pretende apresentar um projeto de lei de iniciativa popular para a reforma política, caso o plebiscito naufrague.
                        DR Hoje, a presidente receberá no Planalto um grupo de parlamentares do PT. Em coro com os aliados, os deputados do partido de Dilma têm atacado a condução do núcleo duro do governo na relação com o Legislativo.
                        Piquete Em meio à tentativa de reação do Congresso às passeatas, Renan Calheiros (PMDB-AL) e Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) receberão na terça-feira as centrais sindicais para discutir vetos de Dilma a pautas trabalhistas, como o fator previdenciário.
                        Pacote Quando autoridades usam aviões da FAB, como nos casos recentes de Renan e Henrique Alves, são designados dois pilotos militares e um sargento para atuar como comissário de bordo. Os passageiros usam salas VIP em aeroportos que têm bases militares.
                        Camarote A convite da Fifa, Beto Richa (PSDB) viajou ao Rio no último domingo, para assistir à final da Copa das Confederações entre Brasil e Espanha, no avião oficial do governo do Paraná. O tucano justifica que o jogo foi um compromisso oficial, já que Curitiba será uma das sedes da Copa do Mundo.
                        Econômica Richa foi acompanhado de seu filho ao jogo, mas ele seguiu em um voo comercial, segundo a assessoria do governador.
                        Semiaberto O senador Antonio Carlos Rodrigues (PR-SP) vai apresentar emenda ao projeto que acaba com voto secreto no Legislativo, para manter sigilo para indicação de membros de tribunais. A justificativa é evitar que ministros do STF tenham de se dizer impedidos de julgar ações contra senadores.
                        Superstar Além de ter participado ontem do "Programa do Ratinho", no SBT, Marina Silva (Rede) também gravou entrevista para o "É Notícia", da Rede TV!, que vai ao ar domingo. A ex-senadora criticou o papel de Dilma na condução da crise política e disse que falta à presidente postura de estadista.
                        Na bomba Fernando Haddad (PT) vai tentar convencer Dilma a apoiar o repasse da Cide aos municípios para subsidiar investimentos em transporte público. O prefeito levará estudo da FGV que mostra que a medida não teria impacto sobre a inflação, receio da presidente.
                        com ANDRÉIA SADI e BRUNO BOGHOSSIAN
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                        TIROTEIO
                        "Se esse fosse um regime parlamentarista, Dilma já teria caído. O líder Arlindo Chinaglia está falando sozinho, como Dom Quixote."
                        DO DEPUTADO WALTER FELDMAN, articulador da Rede Sustentabilidade, sobre as dificuldades enfrentadas pelo governo nas negociações com o Congresso.
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                        CONTRAPONTO
                        Cartografia ideológica
                        Quando a Câmara de São Paulo discutia um projeto de lei para alterar nomes de ruas batizadas em homenagem a militares ligados à ditadura, em abril, o vereador Andrea Matarazzo (PSDB) questionou a motivação de seus colegas que apoiavam a proposta. A maioria era de partidos de esquerda, como o PC do B e o PT.
                        Com ironia, o tucano disse no plenário que pretendiam mudar o nome da rua Direita, no centro da cidade.
                        --Daqui a pouco, vão querer mudar o nome da rua Direita para rua Esquerda, porque podem achar que a direita é algo ruim! Isso pode acontecer!

                          Rumo à tarifa zero e Dinheiro público e futebol [Tendências/Debates]

                          folha de são paulo
                          DANIEL GUIMARÃES, GRAZIELA KUNSCH, MARIANA TOLEDO E LUIZA MANDETTA
                          TENDÊNCIAS/DEBATES
                          Rumo à tarifa zero
                          É preciso abrir a caixa-preta dos transportes públicos, com ou sem CPI, e, sobretudo, é urgente discutir o modelo de gestão
                          Há pouco, escrevemos sobre os motivos que nos levaram às ruas. O aumento de R$ 0,20 nas tarifas acentuaria a exclusão social provocada por um modelo de gestão do transporte baseado nas concessões privadas e na cobrança de tarifa.
                          Após duas semanas de luta, a população de São Paulo revogou o aumento. Resistimos à desqualificação dos meios de comunicação, bombas, balas e prisões arbitrárias.
                          Isso não fugiu à regra do tratamento que o Estado dá aos movimentos sociais. É importante que o Judiciário reconheça a ilegalidade das acusações que pesam sobre alguns dos detidos, entre elas a de formação de quadrilha. E que o Ministério Público reconheça a arbitrariedade da polícia e se recuse a oferecer denúncias contra manifestantes, evitando processos criminais.
                          Foi uma vitória das ruas, de esquerda e pedagógica, que ensinou que a população organizada pode mudar os rumos de sua cidade e, por consequência, de sua vida. Tarifas foram reduzidas em quase 50 cidades, sendo mais de dez capitais. Há lutas em andamento, e o debate sobre a tarifa zero está em pauta.
                          Por conta desse cenário e por contribuirmos ao pensar a mobilidade urbana como forma de garantir o direito à cidade, fomos convidados pela presidenta Dilma Rousseff para uma conversa em Brasília. Fomos, mas não sozinhos. Sem sermos porta-vozes de ninguém que não nós mesmos, manifestamos solidariedade às lutas reprimidas de outros movimentos e de povos indígenas.
                          A presidenta não havia se debruçado com profundidade sobre nossa principal proposta. Ao afirmar que "não existe tarifa zero: ou se paga passagem ou se paga imposto", ignora que nunca defendemos ônibus de graça. Transporte tem um custo, claro, mas a tarifa pode ser zero.
                          Esse custo deve ser pago coletivamente, de forma progressiva (quem tem mais paga mais, quem tem menos paga menos) e não apenas pelo usuário. Sem transporte, nada funciona e, por isso, a conta deve ser dividida por meio de impostos, como todos os serviços públicos.
                          Dilma ao menos demonstrou concordar que o transporte é um direito social e cobramos um posicionamento sobre a PEC 90, proposta de emenda constitucional que insere o transporte público entre os direitos sociais no artigo 6º da Constituição, em tramitação na Câmara.
                          Dilma reiterou sua disposição em políticas de desoneração, pauta histórica dos empresários organizados. Não concordamos. Desonerar é fazer com que o Estado deixe de arrecadar, subsidiando empresas privadas, não a população. O dinheiro público deve ser investido em transporte público --queremos disputar o uso dos recursos. Com o que o Estado gasta? De acordo com o Ipea, o Brasil investe 12 vezes mais em transporte privado do que em público. Devemos inverter as prioridades!
                          Finalmente, consideramos oportuna a decisão do prefeito Fernando Haddad de suspender a licitação das empresas de ônibus. É preciso abrir a caixa-preta, com ou sem CPI, e, sobretudo, é urgente discutir o modelo de gestão.
                          É significativa a informação de que os empresários ameaçaram boicotar a licitação e até deixar a cidade com menos ônibus por avaliar que perderiam cerca de 10% de seus rendimentos. É por isso que o transporte deve ser gerido pelo poder público e com participação popular, não pela lógica do lucro.
                          O Movimento Passe Livre seguirá nas ruas, nas escolas, nos bairros, fazendo o debate com a população. Nossa luta de fôlego é pela tarifa zero. Por ela coletaremos 430 mil assinaturas para propor um projeto de lei de iniciativa popular na Câmara dos Vereadores. Vamos retirar as catracas do caminho. Juntos abriremos as ruas de São Paulo.
                            IVES GANDRA DA SILVA MARTINS E JUVENAL JUVÊNCIO
                            TENDÊNCIAS/DEBATES
                            Dinheiro público e futebol
                            Que essa revolta sirva de lição e os governos passem a atender ao povo mais do que aos interesses milionários dos donos do poder no esporte
                            Em um de seus editoriais de 2010, a Folha realçou que as entidades organizadoras do Mundial --Fifa e CBF-- deveriam utilizar seus próprios recursos para a construção de estádios e não dinheiro público.
                            Escreveu o primeiro dos signatários, na época, para o "Jornal do Brasil", artigo em que se referia ao mencionado editorial, apoiando o posicionamento da Folha e mostrando que, com as insuficiências do país na saúde, educação, transportes e em muitos outros setores da administração pública, seria preferível deixar as entidades privadas organizarem as reformas ou construções dos palcos esportivos, até porque grande parte deles destinaria espaços VIPs a empresas vinculadas.
                            Os governos do Estado de São Paulo e dos municípios apoiaram a indicação do estádio do Morumbi para sediar a Copa do Mundo. Na indicação, consideraram que o São Paulo Futebol Clube se propusera a fazer as reformas, à época programadas em R$ 250 milhões, exclusivamente com dinheiro privado. O clube obtivera promessas de parcerias de importantes empresas nacionais.
                            Por motivos que não interessam neste curto artigo, alguns deles de conhecimento público, o Morumbi foi excluído, apesar de estar localizado em bairro que mostra a beleza da cidade para os turistas. No lugar, decidiu-se construir um estádio com dinheiro público, à época estimado em R$ 490 milhões (R$ 420 milhões da prefeitura e R$ 70 milhões do Estado).
                            O pior, todavia, é que os grandes beneficiários das competições, que são as entidades que as organizam, impuseram a construção de estádios monumentais, alguns deles contrastando com a pobreza da periferia dos locais escolhidos para sediá-los.
                            O primeiro dos autores deste artigo defendeu, no referido período, ainda antes da exclusão do Morumbi, que um movimento nacional fosse organizado para que se preservasse o dinheiro público, destinando-o a funções relevantes do Estado, e que o lazer, representado pelo esporte, fosse financiado pelos que dirigem o futebol mundial e brasileiro.
                            Defendeu que os candidatos à Presidência e os governadores estaduais não cedessem à tentação de prometer com o chapéu alheio (dinheiro do contribuinte) auxílio para entidades que, todos sabemos, nadam em dinheiro. E que os prefeitos, que têm tão pouco do bolo tributário nacional, não desperdiçassem o escasso dinheiro público que possuem na construção de novos estádios. Isso era tarefa das duas milionárias organizações do futebol, não do poder público.
                            O segundo dos autores demonstrou, já naquele momento, que todos os argumentos apresentados para a exclusão do Morumbi eram infundados. As exigências fundamentais das entidades organizadoras tinham sido atendidas, mas foram ignoradas por aqueles que desejavam uma solução mais onerosa, a ser financiada pelos cofres públicos e não pelas instituições privadas.
                            Quando da exclusão do estádio, o São Paulo Futebol Clube encerrou uma nota oficial com a seguinte frase: "A justiça é filha do tempo. O tempo é o senhor da razão. O tempo dirá. E nós também".
                            A justa revolta do povo com a baixa qualidade da educação e da saúde, a alta inflação, o baixo PIB e o desvio de dinheiro público para obras faraônicas apenas confirma o que se previu anteriormente.
                            Que essa revolta sirva de lição para os futuros governos, que deverão atender ao povo mais do que aos interesses milionários dos donos do poder no esporte mundial.