quinta-feira, 2 de maio de 2013

Entrevista c/o presidente do Times of India Group, Arunabh Das Sharma.

folha de são paulo

Jornal impresso tem espaço para crescer no interior
para o presidente do grupo indiano que distribui mais de 8 milhões de cópias por dia, o veículo está longe do fim
JOANA CUNHADE NOVA YORK
O jornal impresso ainda está longe de acabar, na opinião de quem distribui mais de 8 milhões de cópias por dia, o presidente do Times of India Group, Arunabh Das Sharma.
Em entrevista à Folha anteontem, durante o congresso da Inma (associação internacional de marketing de empresas jornalísticas), em Nova York, o executivo falou sobre algumas práticas da companhia para elevar receitas publicitárias --inclusive opções menos ortodoxas.
Com foco em novos suportes tecnológicos para a divulgação de notícias, o tema foi amplamente abordado durante o evento.
Folha - Como o "Times of India", seu jornal impresso que já tem uma grande circulação, pode crescer no cenário atual, em que discutimos a migração para o digital? Ainda há potencial nesse mercado?
Arunabh Das Sharma - Sim. O tamanho da população indiana é relevante, mas, assim como no Brasil, temos um grupo muito grande de pessoas, mais pobres, que estão começando a estudar e a se interessar. Elas podem se tornar novos consumidores. O impresso não acabou. Estamos nos expandindo em novos mercados no país. As regiões fora dos grandes centros são uma oportunidade, assim como a ampliação para outros idiomas locais, não apenas o inglês.
O "Times of India" desenvolveu um modelo de venda de espaço publicitário pouco usual, que envolve participação acionária nos anunciantes. Como está crescendo?
Recebemos 33% do valor envolvido em pagamento à vista, para cobrir os custos do anúncio. Os outros 67% nós recebemos em ativos. Essa parte é risco, mas tem tido sucesso e já representa cerca de 12% das nossas receitas com jornais. Queremos levar a 25% nos próximos anos.
Esse negócio se concentra em quais setores?
Em todos os setores, como empresas de testes laboratoriais, eletrodomésticos, de higiene, do varejo, entre outros. São tanto empresas maduras como as menores.
O senhor recomenda esse modelo de venda aos jornais brasileiros?
Depende da habilidade do anunciante. Mas recomendo que ele faça apenas com o líder de mercado ou com poucos líderes. Não é bom pulverizar. É como um casamento. Tem de escolher com quem vai ficar porque vai ser uma sociedade, uma relação de prazo mais duradouro.
O desenvolvimento de aplicativos para aparelhos móveis em larga escala também é uma especialidade do grupo. A arrecadação já começou a dar sinal nessa área?
Temos um mercado muito desenvolvido nesse setor na Índia. Produzimos aplicativos internamente ou trabalhamos com fornecedores, mas eles ainda não são um gerador relevante de receitas.

Avaliação de patentes vai render "pontos" a cientistas

folha de são paulo

SABINE RIGHETTI
DE SÃO PAULO

A partir de junho, cientistas brasileiros ajudarão no processo de análise de patentes solicitadas ao Inpi (Instituto Nacional da Propriedade Industrial).
Em troca, em vez de receber remuneração, eles ganharão pontos no currículo acadêmico, o "lattes".
Esses pontos, que também são conferidos ao pesquisador quando ele publica artigos científicos, serão levados em conta, por exemplo, quando o cientista fizer um pedido de financiamento ao CNPq, agência federal de fomento à ciência.
A remuneração em dinheiro não está descartada. "Vamos pensar nisso no futuro", diz Júlio César Moreira, diretor de patentes do Inpi.
A parceria entre o instituto e o CNPq visa a agilizar a avaliação de patentes, que leva cerca de cinco anos --isso se o pedido foi feito em 2012; pedidos anteriores levam mais tempo.
A agilidade, espera-se, virá dos cientistas. Eles participarão da fase de pesquisa da patente, na qual é verificado se o pedido é mesmo novo.
A expectativa é que, por conhecer bem sua área, o cientista faça o trabalho de pesquisa mais rápido do que o Inpi. Esse processo hoje leva cerca de oito meses. Com os pesquisadores, o tempo pode ser reduzido em 30%.
Alex Argozino/Editoria de Arte/Folhapress
INSPIRAÇÃO
A ideia da participação de cientistas na análise de patentes vem de fora: o JPO, equivalente ao Inpi no Japão, já tem usado esse sistema.
"Por lá tem dado bem certo", diz Moreira.
Por aqui, o Inpi vai fazer um experimento com 60 cientistas de engenharias mecânica, química e elétrica.
Eles farão uma capacitação em pesquisa de patentes em maio e começarão a receber os pedidos --encaminhados pelos examinadores do Inpi-- já no mês seguinte.
"A ideia é expandir a capacitação para além das engenharias no futuro", afirma Rafael Leite, chefe de propriedade intelectual do CNPq.
Quem se inscreveu para o projeto inicial quer "aprender o que é patenteável", como conta a engenheira química Claudia Danielle Carvalho de Sousa, pesquisadora da UFRJ. Ela é uma das 60 cientistas que vão participar da capacitação do Inpi.
"Também quero contribuir para as análises, que ainda demoram muito."
Inpi e CNPq acreditam que esse aprendizado pode trazer um efeito cascata positivo no processo de inovação.
A inserção dos cientistas na cultura de patenteamento pode melhorar os pedidos que chegam ao Inpi (hoje cerca de 20% são aprovados) e também as suas análises.
Ainda mais porque seis das dez maiores patenteadoras do Brasil são instituições de ensino e pesquisa: USP, Unicamp, UFMG, UFRJ, Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e Fapemig (de Minas).
"A capacitação dos cientistas em patentes deve melhorar todo o processo. Haverá um subsídio melhor para as análises", diz Leite.
Para o engenheiro e consultor Bruno Rondani, criador do Open Innovation Center (centro de difusão de inovação brasileiro que reúne empresários, governo e universidades), a parceria vai funcionar se o incentivo para os cientistas for bom.
"Mas há muito cientista que nem sabe fazer revisão de artigo científico. Espero que essa má qualidade não se aplique ao Inpi."
FILA
A parceria com os cientistas é mais uma tentativa do instituto de reduzir o tempo de espera dos pedidos de proteção industrial no país. Hoje, há mais de 160 mil pedidos esperando por análise.
Desde o ano passado, tecnologias consideradas "verdes" já passaram a ser analisadas com prioridade. Três pedidos "verdes" foram deferidos em menos de um ano.
Já a partir deste ano, medicamentos para o combate ao câncer, à Aids e às doenças negligenciadas também vão furar a fila.

LETICIA WIERZCHOWSKI - A Vila Adriana e o missal da minha avó

Zero Hora - 02/05/2013

Tenho grande respeito por objetos. Coisas pequenas, aparentemente desimportantes, um dia podem evocar todo o contexto de um período da nossa vida. Por isso, guardo muita coisa – papéis, fotografias, desenhos infantis, dentes de leite, a primeira meia, o minúsculo cardigã que teci por sobre a barriga enorme, azul da cor do céu. Guardo conchas e guardo bilhetes.

Dos arredores da Vila Adriana, uma vez eu trouxe uns pedregulhos que tenho numa caixinha. Sobre a minha mesa de trabalho, está o antigo livro de orações da minha avó Anna, com sua capa de couro negro e os desenhos em dourado – às vezes, passo os dedos pelas páginas comidas pelos cupins, amareladas de tempo, as frases escritas em polonês e incompreensíveis para mim, e fico pensando nas horas em que a avó com este livro rezou, no que pediu e no que agradeceu; e então me sinto inexplicavelmente perto dela, como me sinto perto do meu avô ao folhear seus antigos documentos – fotos, recibos, suvenir da II Guerra, as suas medalhas sobre o veludo.

Coisas... Dou valor a elas, mas não esse valor óbvio, monetário – penso-as como marcas de outrem, como recordações de um certo alguém que por aqui passou e ansiou, sofreu e amou. Por isso, nunca menosprezo uma peça de tricô, um bordado, um tapete. Coisas feitas à mão são as depositárias do tempo de uma pessoa – os pensamentos de quem as fez ponto por ponto, de uma forma ou de outra, se gravam entre as laçadas, nos volteios da agulha...

Por isso, gosto de bordar para os recém-nascidos uma coisinha qualquer, flor ou palavra, bicho ou árvore, gosto de enfiar a agulha no pano, de deixar a pegada do fio, e atrás dela o meu ensejo, o bom pensamento que eu dedico àquela criança, que seja feliz nesta vida – todo bordado é uma forma de oração.

Não sei por que me peguei pensando nisso hoje, nas coisas que herdamos e nas coisas que deixamos por aqui. Talvez porque vi o pingente da minha avó na gaveta de joias. O pingente filigranado, com o seu pequeno rubi – quantas vezes esse pingente arfou sobre o colo branco e morno da avó? Eu só o uso em ocasiões especiais, como se convidasse Anna a ir comigo, quando quero comemorar ou preciso da sua ajuda.

E lá vem Sophia de Mello Breyner na minha cabeça – ela, que também amava a Vila Adriana, e que escreveu este poema de igual nome: “...tempo da fina areia agudamente medido, os séculos derrubaram estátuas e paredes, eu destruída serei por breves anos. Mas de repente recupero a antiga divindade entre as colunas.” Porque, sim, as coisas que fizemos e tocamos evocam um pouco de nós.

Clovis Rossi

folha de são paulo

Não basta fechar Guantánamo
É preciso eliminar a aberração da prisão por tempo indeterminado, sem julgamento ou acusações
O presidente Barack Obama usou os piores argumentos para reiterar sua proposta de fechar o campo de prisioneiros de Guantánamo.
Os argumentos: "Guantánamo é cara e ineficaz"; prejudica a imagem internacional dos Estados Unidos; reduz a disposição de aliados a cooperar nos esforços contra o terrorismo; além de se ter transformado em plataforma de recrutamento de extremistas.
Tudo isso não deixa de ser verdade, mas não é o fulcro da história. Só no fim de sua peroração é que Obama foi ao ponto, ao dizer: "A ideia de que manteremos [presos] indefinidamente indivíduos que não foram julgados é contrária ao que somos como país".
De fato, dos 166 prisioneiros de Guantánamo, um punhado está lá há mais de 11 anos sem julgamento e sem que se explicite do que são acusados --uma aberração jurídica que contradiz frontalmente o respeito à "rule of the law", um mantra de que os americanos se orgulham.
Obama não deixou claro se quer simplesmente fechar o campo de prisioneiros e transferir seus ocupantes para algum outro local de detenção ou libertá-los se não há elementos para julgá-los.
A sabedoria convencional manda dizer que não deve haver provas suficientes. Se, após 11 anos submetidos a um regime de exceção contrário ao que os Estados Unidos são como nação, não foram ainda devidamente processados, não será agora que as provas aparecerão.
O problema, pois, não é Guantánamo como local de detenção, mas como símbolo de uma grave violação aos direitos humanos e, por extensão, à legalidade.
Ou, como diz editorial do "New York Times", o problema é que Guantánamo "zomba dos padrões americanos de justiça, ao manter pessoas presas sem acusações".
Na febre que se seguiu aos atentados de 11 de Setembro, ainda podia haver em setores da sociedade norte-americana uma certa leniência com a violação das regras, mas agora à ilegalidade se soma à ineficácia, como complementa o editorial do "Times": "[O sistema de detenção sem acusações] na realidade impediu acusações e prisões de perigosos terroristas".
O que não fica claro, pelo menos para mim, é por que o homem geralmente descrito como o mais poderoso do mundo não conseguiu cumprir uma de suas promessas de campanha (a primeira), que foi a de fechar Guantánamo nos seus primeiros dias de governo.
Passaram-se os primeiros dias, os primeiros meses, os primeiros quatro anos, os primeiros quatro meses do segundo mandato --e, não obstante, Guantánamo é uma chaga aberta. Culpa do Congresso, que efetivamente, não se animou a ajudar Obama a cumprir a promessa?
Parte da culpa, sim. Mas o principal fator é o estado de ânimo da maioria dos americanos, disposta a aceitar que suspeitos de terrorismo não têm direito nem à presunção de inocência nem à aplicação plena da "rule of law".
Até entendo esse estado de espírito, pelos traumas que o terrorismo acarreta, mas o pior que se pode fazer no combate a ele é aceitar jogar o mesmo jogo, aceitar barbaridades como Guantánamo.
crossi@uol.com.br

    DataFolha,30:Marta foi a melhor prefeita para 1/4 dos paulistanos

    folha de são paulo

    Petista é seguida dos tucanos Covas e Serra entre os gestores mais bem avaliados em 30 anos
    Celso Pitta é apontado no levantamento como o pior administrador por 27%, seguido de Paulo Maluf e Kassab
    DE SÃO PAULOEntre os prefeitos de São Paulo nos últimos 30 anos, Marta Suplicy (PT) é considerada a melhor por um a cada quatro moradores da cidade, segundo pesquisa Datafolha.
    A psicóloga, hoje ministra da Cultura, administrou a cidade de 2001 a 2004, mas, apesar da boa avaliação, não conseguiu se reeleger.
    Os tucanos Mário Covas (1983 a 1985) e José Serra (2005 e 2006) ficaram em seguida na preferência de 16% e 15% dos entrevistados, respectivamente.
    Foi Serra quem derrotou Marta nas eleições de 2004.
    A consulta, feita por ocasião dos 30 anos do instituto de pesquisa, ouviu 1.120 paulistanos na quinta e na sexta-feira da semana passada.
    Entre as principais marcas da gestão da petista estão a criação do Bilhete Único e dos CEUs (escolas com atividades extras em tempo integral).
    Entre os entrevistados, 28% disseram ter preferência pelo PT. Dos que escolheram Marta, o índice é de 47%.
    O diretor-geral do Datafolha, Mauro Paulino, diz que a proporção de petistas é histórica. Para ele, o resultado da pesquisa é, em maior grau, uma "decorrência da imagem que fica de cada governo".
    Segundo ele, a avaliação no fim de cada mandato tende a não se alterar ao longo do tempo. "Há governos com o de Celso Pitta [1997 a 2000], por exemplo, que permanecem sendo mal avaliados."
    Quando instados a escolher o pior prefeito, 27% apontaram Pitta, eleito pelo extinto PPB.
    Ao vencer Luiza Erundina (PT), ele tornou-se o primeiro prefeito negro, eleito pelo voto direto, a comandar São Paulo. Mas seu mandato foi marcado por escândalos de corrupção. Morreu em 2009.
    Padrinho político de Pitta, Paulo Maluf (PP) é apontado como melhor prefeito por 12%, o que o coloca na quarta posição. No ranking dos piores, porém, ele ocupa a segunda colocação --23% dos entrevistados o escolheram.
    Ele esteve à frente da prefeitura em dois mandatos, mas na pesquisa foi considerado somente o segundo deles, de 1993 a 1996, quando foi eleito por voto direto.
    O terceiro entre os piores, para 18%, foi Gilberto Kassab (PSD), que chegou à prefeitura como vice de Serra.
    Uma fatia de 7% dos entrevistados disse que nenhum deles pode ser considerado o melhor prefeito. Mas só 1% deixou de escolher o pior.

      Silvio Santos é apontado como a cara da cidade
      DE SÃO PAULOSilvio Santos, 82, é a pessoa famosa mais apontada como a cara de São Paulo. De forma espontânea, 6% dos paulistanos citaram o nome do ex-camelô que virou empresário milionário.
      Em segundo está o governador Geraldo Alckmin (PSDB), com 4%. O ex-presidente Lula ficou com 3%, empatado com o cantor Roberto Carlos. O deputado Paulo Maluf (PP), que liderava a lista com 11% em 2000, caiu para quinto, com apenas 2%.
      Outros famosos foram citados, mas não passaram de 1%. No total, 26% das pessoas citadas nem chegaram a 1%.

        Professor terá de melhorar aluno para ganhar diploma

        folha de são paulo

        Docente que fizer pós só terá certificado se provar que estudante evoluiu
        Qualificação em universidades garantirá aumento salarial ao magistério no ensino médio da rede pública
        FÁBIO TAKAHASHIDE SÃO PAULOO Ministério da Educação lançará nas próximas semanas programa para tentar melhorar o desempenho de alunos e professores em matemática, física, química e biologia, tanto no ensino médio quanto no superior.
        As quatro matérias são as que mais possuem problemas de qualidade, de acordo com o próprio governo federal.
        Uma das ações será a oferta de pós-graduação em universidades federais e privadas a professores que lecionam as disciplinas nas escolas públicas de ensino médio.
        O certificado garantirá aumento salarial ao docente (progressão na carreira), mas só será concedido se houver a comprovação de que seus estudantes melhoraram --exigência inédita em programas federais de educação.
        "Hoje, gasta-se muito com formação dos professores, mas a melhoria não chega aos alunos", disse Mozart Neves, que coordenará o programa do Ministério da Educação.
        A forma de avaliar a evolução dos estudantes não está definida. O docente reprovado poderá refazer o curso.
        O número de professores participantes do programa dependerá da adesão dos Estados, que são os responsáveis pelos docentes.
        O país tem cerca de 250 mil docentes de ensino médio em matemática, física, química e biologia, segundo os últimos dados do governo. Mas boa parte não tem formação na área --em física, são 90%.
        OUTRAS FRENTES
        "Temos um número insuficiente de professores nessas áreas. E a procura pelas licenciaturas é insuficiente", disse o ministro da Educação, Aloizio Mercadante. Para tentar reverter o quadro, o programa terá outras duas frentes.
        Em uma delas, o governo tentará incentivar alunos do ensino médio a escolherem o magistério nessas áreas.
        Para isso, estudantes com interesse nessas matérias passarão a ter aulas de reforço e ganharão ajuda mensal de R$ 150 (paga pela União).
        Eles participarão também de atividades nas universidades em grupos que reunirão docentes universitários, alunos de licenciaturas e professores das escolas básicas. A meta é recrutar 100 mil estudantes do ensino médio.
        Em outra frente, os estudantes que já estão nas licenciaturas poderão fazer aulas de reforço nos conteúdos básicos, numa tentativa de diminuir a evasão nos cursos.
        Ex-diretor da Unesco no Brasil (braço da ONU para educação), Jorge Werthein diz que o programa é interessante. Ele faz, porém, ressalva sobre a vinculação do certificado de pós-graduação ao professor à melhoria dos alunos.
        "Ainda não se encontrou uma boa forma de avaliar o trabalho do professor. Pode haver injustiças."

          ANÁLISE
          Evasão no ensino de ciências exige programas específicos
          NELIO BIZZOESPECIAL PARA A FOLHAO desempenho dos estudantes brasileiros nas áreas científicas seguramente não é bom, ainda que não haja elementos concretos de sua evolução na última década.
          Isso se deve à decisão de excluir essa área das provas do Saeb (avaliação federal) há 13 anos, quando o país aderiu ao Pisa, um programa internacional de avaliação.
          Se por um lado não há dados concretos, a acentuada falta de professores em disciplinas científicas e a alta evasão nos cursos de licenciatura, ao lado dos dados do Pisa, são evidências claras de que a situação se agrava.
          Pesquisas recentes de abrangência nacional realizadas por nosso núcleo na USP indicam que os jovens do ensino médio das regiões mais desenvolvidas economicamente tendem a evitar as carreiras científicas, paradoxo que ocorre também em outros países.
          Isso sugere que o apagão de mão de obra qualificada tende a se acentuar nas próximas décadas, o que traria efeitos perversos no desenvolvimento do país.
          Programa específico para a área é mais do que necessário, antes que seja tarde.
          MERCADO
          A estratégia de abrir diversas frentes de atuação, no ensino médio, na universidade e na formação dos professores em exercício, é boa, mas não pode deixar de enfrentar a tendência que temos constatado no ensino médio, mencionada acima, que desvia os jovens das carreiras relacionadas a ciência e tecnologia.
          A criação de mestrados profissionalizantes para professores é necessária, e já está em curso, mas pode agravar a normatização da certificação profissional do magistério no país.
          Por exemplo, se professores de matemática das redes de ensino obtiverem um diploma de mestrado profissional em ensino de física, a evasão dessa licenciatura pode se agravar, pois tornará ainda menor o mercado de trabalho dos professores apenas com a licenciatura em física.
          Além disso, a vinculação da certificação dos professores ao desempenho de seus alunos pode desestimular a adesão em todas as áreas.

            Pasquale Cipro Neto

            folha de são paulo

            A ignorância dos 'espertinhos'
            O cidadão que não sabe o que é comum no padrão formal não consegue fazer esse reconhecimento
            Os e-mails da imensa massa de espertinhos que tentam (e conseguem) lesar internautas incautos continuam a todo o vapor. Como atestam as inúmeras matérias publicadas nos mais diversos meios de comunicação, muita gente cai feito pato nessas arapucas, que não raro são pessimamente redigidas e/ou contêm erros primários no que diz respeito a certos conceitos políticos, político-administrativos, institucionais etc.
            Um ótimo exemplo desses erros primários se vê num e-mail que recebi em 19 de abril. Sabe quem o enviou? A "Prefeitura do Estado de São Paulo". Sim, a "Prefeitura do Estado". Está certo que no Brasil muitíssima gente (da bandidagem ou não) desconhece categoricamente a divisão de poderes e o que compete a cada um, assim como desconhece o papel de um vereador, de um deputado (estadual ou federal) ou o que é uma cidade, um Estado, um país. Não são poucas as pessoas que acham, por exemplo, que a África é um país.
            Se até jornalistas ignoram sumariamente que Guarulhos ou Osasco não são bairros da cidade de São Paulo, mas municípios, que têm prefeito e câmara próprios, não surpreende que leigos não saibam isso.
            Conhecer algumas nomenclaturas, caro leitor, é fundamental não só para entender certos textos e/ou contextos, mas também (nestes tempos de superinvasão virtual e real) para não ceder à tentação de acreditar em verdadeiros contos de fadas.
            Relatei aqui há algum tempo a fracassada tentativa de bandidos que puseram em um automóvel uma placa fria, da cidade de "Frorianópolis". Sim, "Frorianópolis". Um policial rodoviário minimamente letrado acabou com a aventura dos gatunos.
            As campeãs nesse tipo de tentativa de golpe são as falsas mensagens de instituições financeiras. Como se sabe, a publicidade escrita (legítima) dessas empresas normalmente é pautada por linguagem formal ou semiformal. As agências de publicidade que detêm as contas de bancos costumam ter bons redatores, que conhecem as variações linguísticas e não tropeçam em concordâncias básicas, como a que se faz, por exemplo, entre sujeito e verbo, qualquer que seja a ordem dos termos.
            Nas mensagens falsas, uma das primeiras coisas que se notam é justamente o descompasso entre verbo e sujeito (algo como "Foi enviado para o seu e-mail as cópias do contrato..." ou "Segue anexo as cópias do contrato..."). Num texto publicitário verdadeiro, é pouco provável a ocorrência desse tipo de procedimento, muito comum na oralidade.
            Quem conhece as provas dos vestibulares de certas instituições de ensino superior sabe que são muito comuns as questões em que se pede a identificação das marcas típicas da linguagem oral presentes em determinados textos. Ora, o cidadão que não conhece o que é comum na linguagem escrita tem sérias dificuldades para fazer esse reconhecimento.
            É por essas e outras que é mais do que fundamental ter em mente que a educação linguística plena consiste em prover os estudantes do mais amplo leque linguístico, sem preconceito contra nenhuma das variedades, a começar pela culta, que, como sabem os educadores equilibrados, é a que deve predominar nas aulas de língua.
            Lamentavelmente, o que ocorre hoje em dia Brasil afora (com exceções, é óbvio) é uma coisa um tanto diferente, torta, muito torta, enviesada, que faz o pobre do aluno acreditar que basta o domínio da linguagem oral ou da que lhe é comum no meio em que vive para ter acesso a tudo o que se produz no mundo da cultura. Se até para ser bandido às vezes é preciso ter noções do que é padrão na linguagem formal... Bem, não preciso concluir, preciso? É isso.

            Tv Paga


            Estado de Minas: 02/05/2013 

            No topo do mundo
            Três diferentes grupos de alpinistas – colombianos, indianos e canadenses – enfrentam o mesmo desafio de alcançar o topo do Monte Everest, a maior e mais perigosa montanha do mundo, e a aventura foi registrada pela documentarista Dianne Whelan em 40 days to base camp (foto). O filme será exibido esta noite, às 23h, no canal Off.

            Homens passam aperto com mulheres de férias
            No canal Bio, estreia hoje, às 23h, a minissérie Uma semana sem mulheres, que documenta o que acontece aos homens que vivem na cidade norte-americana de Yemassee, na Carolina do Sul, quando suas esposas, namoradas, mães e filhas decidem se ausentar do lugar por sete dias, para merecidas férias. A mesma ideia foi aproveitada na série Mundo sem mulheres, apresentada no Fantástico, da Globo, e pelo GNT.

            Chega ao fim a série Em busca do tesouro sagrado
            Último episódio da série Em busca do tesouro sagrado, às 18h15, no History, “Jornada do tesouro sagrado” discorre sobre os diferentes tipos de devotos que viajam a locais sagrados como Jerusalém, Roma, Nuremberg, Israel, França e Espanha em busca de objetos que reafirmem sua religião.

            Documentário relembra a loucura de Adolf Hitler
            No Nat Geo, a pedida de hoje é a série Descobrindo a Segunda Guerra, que emenda três episódios, a partir das 22h15: “A agressão nazista”, “A guerra relâmpago” e “Pesadelo alemão”. No Discovery, Os tubarões atacam em Predador aéreo (21h30) e Sangue na praia (22h20).

            Atrações de deixar todo mundo com água na boca
            Quinta-feira é dia de botar em dia o caderninho de receitas, começando com Tempero de família com Rodrigo Hilbert, no ar às 20h, no GNT, ensinando como se faz morcilla, torresmo e cerro com aipim. Na sequência, às 20h30, em Diário do Olivier, o chef Anquier pega o Trem Azul na África do Sul, experimentando os pratos servidos no vagão-restaurante: carré de cordeiro ao molho de mostarda, peito de pato ao forno, marinado em mamão e salgadinhos assados com recheio de carne seca. Já às 21h05 tem mais um Que marravilha! Revanche, com Claude Troisgros. Já no canal Bem Simples, às 22h30, o cardápio do programa Cozinha caseira oferece kibe-flor assado, pizza integral e smothie de frutas.

            Canal Brasil reprisa filme sobre Luiz Inácio da Silva
            No pacotão de cinema, um dos destaques é Lula, o filho do Brasil, em reprise às 22h, no Canal Brasil. Outra produção nacional, Cilada.com vai ao ar também às 22h, no Telecine Fun. Na Cultura, ainda às 22h, o cartaz do Clube do filme é o faroeste A soldo do diabo, com Jeff Chandler e Orson Welles. Na mesma faixa das 22h, o assinante tem mais 10 opções: Contra corrente, no AXN; De olhos bem fechados, no Glitz; O espetacular Homem-Aranha, na HBO HD; Anônimo, na HBO 2; Bird, no Max; Enterrado vivo, na MGM; Ultravioleta, no Sony; Corrida mortal, no Space; O código, no Telecine Pipoca; e Kalifornia – Uma jornada ao inferno, no TCM. Outras atrações da programação: Robin Hood, às 19h25, no Universal; A chave mestra, às 21h45, no Studio Universal; e Titanic, às 22h20, no Megapix.

            Tensão pré-eleitoral - Painel - Vera Magalhães

            folha de são paulo

            Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência) e Paulinho da Força (PDT-SP) bateram boca ontem no showmício do Dia do Trabalho. Antes de subir ao palanque, o ministro questionou a proposta de reajuste salarial trimestral do pedetista: "Isso é inconsequente. Indexação é um erro". Paulinho atacou: "O responsável pela inflação é o governo, não sou eu". Fernando Haddad (PT), que estava próximo, tentou contemporizar: "Paulinho, você não pode ser intransigente".
            -
            Onde pega O que contrariou as centrais sindicais foi o fato de Carvalho ter chamado o presidente da CUT, Vagner Freitas, ao Planalto na véspera para apresentar a proposta de mesa de negociações permanente sobre a pauta trabalhista. "A CUT não fala pelas centrais", disse Paulinho.
            Assim não Informadas de que o fim do fator previdenciário e a jornada de 40 horas não estarão em discussão na rodada de conversas proposta pelo governo, outras centrais ensaiam boicote à mesa, prevista para o dia 14.
            Repeteco Aécio Neves acusa Dilma Rousseff de se aproximar dos sindicatos apenas em ano eleitoral. "Ela procurou as centrais na campanha, mas hoje está distante da agenda do trabalhador."
            Fauna Após Gilberto Carvalho ter dito que a presidente age como uma "leoa" para deter a inflação, um tucano ironizou: "A briga é boa. O adversário é um dragão".
            Recolhido Depois de cancelar a ida ao ato da Força, Eduardo Campos (PSB) também desistiu de comparecer hoje ao jantar de boas-vindas da Expozebu, em Uberaba (MG), promovido pelo deputado Marcos Montes (PSD).
            Lotação No jantar, Campos iria se encontrar com Aécio. E Dilma confirmou presença na abertura oficial do evento, amanhã. De novo o governador de Pernambuco alegou agenda no sertão para sair da cena nacional.
            Calhamaço Os advogados de José Genoino (PT-SP) apresentarão hoje no STF embargos de declaração com 290 páginas apontando omissões e contradições no julgamento do mensalão.
            Tem mais No documento, a defesa do petista pede ainda a reabertura do prazo de contestação para que seja complementado o recurso.
            Muita calma... A comissão criada por Henrique Alves (PMDB-RN) para rever a PEC que tira poder de investigação do Ministério Público revoltou deputados governistas e da oposição. Eles alegam que Alves acertou a estratégia com o Executivo, sem o aval de parlamentares.
            ... nessa hora Rodrigo Maia (DEM-RJ) acusa Alves de retirar poderes da Casa ao delegar a missão a grupo "externo". A comissão terá congressistas, promotores, policiais e um emissário do governo. "O texto é ruim, mas foi aprovado em comissão. Poderíamos mudá-lo", diz.
            Petit comité Na conversa com Michel Temer, na segunda, Alves, Aloizio Mercadante (Educação) e Cândido Vaccarezza (PT-SP) discutiram, além de palanques para 2014, problemas na articulação política do governo.
            Em todas Mercadante também despachou anteontem com Dilma, no Alvorada, sobre política e cenários estaduais. Participaram José Eduardo Cardozo (Justiça) e Fernando Pimentel (Desenvolvimento e Indústria).
            Digestivo Prestes a assumir o comando do PSDB-SP, Duarte Nogueira se reúne hoje com o secretário José Aníbal (Energia), um dos apoiadores do atual presidente, Pedro Tobias, que desistiu de disputar novo mandato após pressão de Geraldo Alckmin.
            com FÁBIO ZAMBELI e ANDRÉIA SADI
            -
            TIROTEIO
            "Como capitão do time dos mensaleiros, Dirceu confunde os papéis. A seleção do Supremo jamais será escalada por ele."
            DO SENADOR ÁLVARO DIAS (PSDB-PR), sobre o pedido do ex-ministro da Casa Civil para afastamento de Joaquim Barbosa da relatoria do mensalão.
            -
            CONTRAPONTO
            Duro de engolir
            Durante a festa do Dia do Trabalho, ontem, em São Paulo, a tônica dos discursos era crítica ao governo de Dilma Rousseff. Em dado momento, foi dada a palavra ao ministro Manoel Dias (Trabalho). O pedetista, então, começou a abordar os feitos da presidente.
            --É preciso que reconheçamos os avanços-- disse, antes de engasgar, fazendo uma pausa forçada em sua fala.
            Um assessor ofereceu copo d'água ao ministro, que continuou seu pronunciamento enaltecendo o governo.
            --Deus castiga quando a fala não condiz com as ações-- gritou, rindo, um dos sindicalistas no palco.

              MARINA COLASANTI » Amor de cães e humanos

              Não ganhei nenhum Nobel, mas sempre acreditei no entendimento dos cães 


              Estado de Minas: 02/05/2013 

              Estava no meio de uma conferência, quando percebi de repente, ao fundo, um cachorro. Nem estava no chão, nem sentado na poltrona tomando notas. Comportadíssimo no colo do dono, prestava atenção. Ali, pensei, estava alguém com quem eu teria muito a aprender.
              Tenho sempre a sensação de que aprendo mais com os animais do que eles comigo. Comigo podem aprender aquela disciplina humana que só a nós interessa, podem aprender a comer uma ração em tudo inferior à carne ou à grama que gostariam de comer, podem aprender que é melhor submeter-se ao banho do que resistir a ele. Não aprendem o amor pela música, porque já o têm, mesmo sem nomear as notas. Não aprendem as delícias da gastronomia, porque não lhes é permitida. Não aprendem a gostar de museus, porque o ingresso lhes é vetado.

              Minha amiga colombiana tem um cachorro chamado Colapso. É, mais que um nome, uma carta de apresentação. Colapso é um pastor ovelheiro inglês, sem ovelhas e sem aqueles verdes pastos onde as ovelhas tentam se perder sem que os colapsos deixem. É um tapete peludo com patas. Um tapete grande e muito peludo. Colapso mora num apartamento moderníssimo, triplex. As escadas são estreitas para a mole da Colapso, e quando ele sobe em grande velocidade – não creio que seja capaz de fazê-lo devagar – seu corpo se torce ocupando todo o espaço entre parede e corrimão, como a água toma o espaço do copo que a contém. Àquela figurona forte e surpreendente, basta dizer “cachorro legal”, para que se achegue e encoste a cabeça, em busca, ou em oferecimento, de carinho. Alisando-o à procura dos olhos submersos no pelo, desejei muito ver Colapso entre ovelhas, exercendo a antiga sabedoria da sua raça.

              Disse sabedoria, não disse instinto. Pergunte algo sobre inteligência canina a Umberto Eco, e ele rebaterá com uma saraivada de nomes latinos, sábios da mais alta competência que já antes de Cristo consideravam os cães capazes de raciocínio lógico. Plutarco foi além, e em seu livro sobre a astúcia dos animais disse que realmente o raciocínio deles não é perfeito, mas que essa mesma imperfeição pode ser constatada em muitos seres humanos.

              Traduzi uma vez um livro de Konrad Lorenz. Taí um homem que entendia de animais, e sobretudo de cachorros. Entendia tanto, que fundou uma ciência, a etologia, só para estudar o seu comportamento e a sua adaptação aos humanos e ao meio ambiente. E ganhou um Nobel por isso. Lorenz afirma que, embora sem falar nossa língua, os cães  entendem muito mais do que pensamos. Não se trata de entender só pela entonação. Eles distinguem palavras e nomes próprios pronunciados exatamente no mesmo tom. E mais, segundo Lorenz, um cão inteligente, que tenha uma relação afetiva intensa com o dono, é capaz de entender frases inteiras.

              Não ganhei nenhum Nobel, mas sempre acreditei no entendimento dos cães. A minha interrogação a seu respeito é outra, e não desprovida de angústia. O que pensam? Olho minha cachorrinha e me pergunto em que parte profunda de seu sentimento estão gravadas as florestas do Yorkshire de onde vieram seus antepassados. Aliso Colapso e penso que talvez soubesse reconhecer ovelhas, se apenas as visse. Eles me olham sem falar e diante desse olhar me sinto incompleta como os humanos de Plutarco.

              Tereza Cruvinel - O "fico" de Serra‏

              Confirmado o armistício interno no PSDB, Aécio terá vencido um dos principais obstáculos à decolagem da candidatura 


              Tereza Cruvinel

              Estado de Minas: 02/05/2013 

              O momento, para os tucanos, é de declarar guerra ao governo (como fez o senador Aécio Neves ontem, na festa da Força Sindical) e selar a paz interna. Espera-se no partido que hoje, na convenção da seção paulista, o ex-governador e ex-ministro José Serra deixe claro que não sairá do PSDB para se filiar ao Mobilização Democrática, nascido da fusão PPS-PMN. Naturalmente ele não pronunciará o “fico”: assim como os maridos, um político não confessa ao partido que pensou em abandoná-lo. A pacificação teve início com as articulações do governador Geraldo Alckmin para garantir ao grupo serrista o comando do partido na capital e avançou a partir da conversa dura e franca entre Serra e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

              O grupo aecista fez também os pequenos mas necessários gestos de afago a Serra, avisando que, acertadas as arestas, o ex-governador será prestigiado e valorizado pelo novo comando partidário, que terá o próprio Aécio na presidência, segundo seus apoiadores para facilitar sua movimentação como pré-candidato. Exemplo de um afago com endereço certo, o beliscão do presidente do PSDB mineiro, deputado Marcus Pestana, no pré-candidato do PSB e governador de Pernambuco, Eduardo Campos, lembrando-lhe que seu slogan “é possível fazer mais” não passa de uma variação do lema “o Brasil pode mais”, adotado por Serra em sua disputa com Dilma em 2010.

              Na conversa da semana passada, Fernando Henrique fez uso da velha amizade com Serra, iniciada nos anos de exílio no Chile, para lhe dizer, com toda franqueza, que sua resistência à candidatura de Aécio e a hipótese de trocar o PSDB pelo MB revelavam um grande egoísmo partidário. O PSDB lhe possibilitou, teria recordado FHC, sem criar qualquer dificuldade, disputar todos os cargos que quis, inclusive a presidência por duas vezes. E embora discordando da estratégia, aceitou que ele renunciasse à prefeitura paulistana, depois de dois anos no cargo, para concorrer ao governo do estado, deixando, a seguir, de disputar a reeleição para concorrer novamente à presidência em 2010. Agora era sua vez de ser recíproco, apoiando a candidatura de Aécio, que não enfrenta contestações internas. Teria ainda argumentado que Serra nada ganharia ao trocar um partido estruturado, de grande capilaridade, como o PSDB, por uma sigla pequena em busca de expansão. Ficando, o PSDB lhe garantiria o papel que quisesse em 2014. Exceto, é claro, o de candidato a governador (porque Alckmin quer se reeleger), o de presidente do partido e o de candidato a presidente, já pactuados pela maioria dos diretórios com Aécio. FHC e Serra sempre tiveram uma relação pessoal e política complexa e conflitiva mas, indiscutivelmente, eles se respeitam.

              Certamente contribuíram também para o esperado “fico” de Serra o fato de nenhum de seus mais leais seguidores tucanos estarem dispostos a acompanhá-lo numa eventual migração para o MB. Isso ele ouviu pessoalmente, por exemplo, do senador Aloysio Nunes Ferreira e dos deputados Jutahy Júnior e Vaz de Lima.

              Nova etapa
              Confirmado o armistício interno, Aécio terá vencido um dos principais obstáculos à decolagem de sua candidatura. Mesmo preservando as relações amistosas com Eduardo Campos e Marina Silva, daqui para a frente ele tratará de se diferenciar dos dois dissidentes do lulo-petismo. Campos, com sua promessa de “fazer mais”, busca passar a idéia de que não é “contra” os governos petistas, acha-se apenas mais competente. Marina, com sua pregação sonhática de que é possível fazer política de outro modo, também fica no campo da terceira via. Seria apenas mais “pura”, embora desejando para seu novo partido o tempo de televisão decorrente da cooptação de deputados de outros partidos. É o que se depreende dos protestos de seus seguidores e aliados contra o projeto de lei que põe ordem nas migrações. Um sinal de que Aécio tem outro plano de vôo, como oposição e não como “terceira via”, foi seu duro discurso ontem na festa sindical do deputado Paulinho da Força, acusando Dilma de ser tolerante com a inflação. O fogo alto na política econômica, por sinal, é um discurso que agrada a Serra. O teste da unidade será na convenção nacional do dia 19, que colocará Aécio no comando do PSDB, abrindo a nova fase de sua pré-campanha e colocando mais fogo na disputa.

              Anistia e Verdade
              Finalmente o atual coordenador da Comissão da Verdade, Paulo Sérgio Pinheiro, disse o esperado pelas entidades que representam vítimas e famílias de vítimas da ditadura: a prioridade é a identificação dos mortos e desaparecidos e a identificação das cadeias de comando do terror. No final, a comissão proporá a revisão da Lei da Anistia, para que possam ser punidos. Ainda que não o sejam, o Brasil Democrático precisar saber quem mandou jogar prisioneiros indefesos na Restinga de Marambaia, para que os jacarés apagassem os vestígios de suas vidas dedicadas à resistência. Ou quem mandou incinerar os corpos dos que foram mortos na Casa da Morte em Petrópolis. Quem comandou tantos horrores mais.

              Militares perseguidos
              Recebi correspondência da associação dos militares da Aeronáutica que foram punidos porque se recusaram a participar do golpe de 1964, em defesa da Constituição em vigor. Foram anistiados pelo governo Fernando Henrique 40 anos depois, mas em 2003, no início do governo Lula, os comandos militares não aceitaram que fossem reintegrados. A Aeronáutica e o Ministério da Justiça, de uma só vez, anularam 495 anistias. Todos eles, na faixa dos 70 anos, perderam os proventos e os benefícios, como o plano de saúde. No STJ e no STF, as ações recursais não andam. A presidente, tão atenta à verdade e à reparação, poderia conferir.

              Cidade das letras(Feira de Poços de Caldas)-Carlos Herculano Lopes‏

              Feira de Poços de Caldas, Flipoços chega à oitava temporada e espera receber, até domingo, cerca de 50 mil visitantes, firmando-se como importante evento do calendário do estado 


              Carlos Herculano Lopes

              Estado de Minas: 02/05/2013 


              Aberta no sábado em Poços de Caldas, Sul de Minas, a oitava edição da Flipoços trouxe à cidade alguns dos autores mais importantes da literatura brasileira contemporânea, como Antonio Torres, Ariano Suassuna, Jaime Prado Gouvea, José Castello e alguns estrangeiros, como o poeta peruano Pedro Granados e o ficcionista português Luís Miguel Rocha, que acaba de lançar no Brasil o romance O último papa, pela Editora Ediouro, no qual dá a sua versão para a morte de Albino Luciano, o papa João Paulo I, ocorrida apenas 33 dias depois de ter assumido a chefia da Igreja Católica, em setembro de 1978.

              Luís Miguel, que participou de mesa-redonda com o jornalista espanhol Juan Arias, correspondente do El País no Vaticano por 30 anos, informa que ainda este ano chega ao Brasil o seu novo romance, A filha do papa, no qual falará sobre a relação entre o papa Pio XII e Pasqualina, sua governanta por mais de quatro décadas. “Ela foi tudo na vida dele: secretária, amante e uma das mulheres mais poderosas da Igreja Católica no seu tempo. Tudo que dissesse respeito ao papa, primeiro passava pelo crivo dela, e ninguém falava com ele sem a permissão de Pasqualina”, disse o romancista, para quem Pio XII, “independentemente das tantas injustiças que fizeram com ele, como dizer que colaborou com os nazistas”, foi um dos papas mais importantes que a Igreja já teve. Sobre a eleição do papa Francisco como o novo líder da Igreja, Luís Miguel diz que está com muitas esperanças de que ele promova mudanças positivas no campo social, principalmente pelo fato de ser jesuíta. “Mas em questões polêmicas, como aprovar o casamento entre pessoas do mesmo sexo, o fim do celibato e o direito ao aborto, nisso posso afirmar que ele não mexerá. Tudo ficará do mesmo jeito para a Igreja”, avalia.

              Nascido na cidade do Porto, onde vive, Luiz Miguel Rocha, de 37 anos, veio ao Brasil especialmente para participar da Flipoços. Ele estreou na literatura em 2005, com o romance O país encantado, e de lá para cá foi traduzido em 30 línguas e vendeu mais de 1 milhão de livros. Bom de prosa e muito tranquilo, ele conta que seu interesse em escrever sobre a história dos papas e os bastidores do Vaticano começou há alguns anos, quando fez amizade com vaticanistas em Portugal, França, Itália e Espanha, países onde a Igreja Católica é muito forte. “Gostei do tema e nunca mais o deixei”, revela o escritor.

              FRIO NA BARRIGA Também já publicado em diversas línguas, embora não tenha vendido tanto como Luís Miguel, o baiano Antonio Torres, na palestra de terça-feira à noite, falou sobre o início de sua carreira como escritor, quando lançou o romance Essa terra, em 1976, chegando até as recentes traduções de seus livros, entre elas a versão para o hebraico de seu romance de estreia.

              Casado com a professora de literatura Sonia Torres, e de uns tempos para cá vivendo em Itaipava, no interior do Rio de Janeiro, o romancista lembrou ainda da boa relação que sempre teve com os escritores mineiros Roberto Drummond, Wander Piroli, Oswaldo França Júnior, Alcione Araújo, Elias José e tantos outros. “É uma pena que todos já morreram. Quando penso nisso, me dá um frio na barriga e sinto muitas saudades das nossas andanças Brasil afora naquela década de ouro da literatura brasileira que foram os anos de 1970, independentemente das vicissitudes políticas”, disse Torres.

              Quem também esteve na Flipoços falando sobre tradução foi Caetano Galindo. Professor da Universidade Federal do Paraná, ele já verteu para o português obras de Thomas Pynchon, Tom Stoppard e John Gay. Sua tradução de Ulisses, de James Joyce, publicada no ano passado, é considerada uma das melhores já feitas no Brasil sobre a obra do escritor irlandês. “Traduzir é uma coisa fantástica e, ao mesmo tempo, uma grande responsabilidade, mas tenho grande alegria em realizar tal tipo de trabalho”, disse.


              FLIPOÇOS
              Até domingo, no Espaço Cultural da Urca, Praça Getúlio Vargas, s/nº, Centro, Poços de Caldas. Informações: www.feiradolivrodepolosdecaldas.com.br.



              DESTAQUES DA PROGRAMAÇÃO
              Hoje

              17h30 –As influências da literatura latino-americana no Brasil, com Eric Nepomuceno, Pedro Granados (Peru) e Manuel Angel Cerda (Argentina)
              18h – Fronteiras do jornalismo, veredas da ficção, com Sérgio Abranches
              19h30 – Como a saga da economia chega a livro do ano, com Miriam Leitão

              Amanhã
              9h30 – 3º Encontro de Educação, com Maurício Leite, Lidia Aratangy, Evanildo Bechara e Fábio Sombra
              14h – Prazeres e descobertas da leitura de contos e romances, com Chico Lopes

              Sábado
              10h30 – Loucura e criatividade. Um olhar crítico sobre a genialidade na arte e sua relação com os transtornos mentais, com Edson Amâncio
              15h30 – Brasil contemporâneo de Albert Camus, com Manuel Costa Pinto
              17h –Nelson: a mulher em Nelson Rodrigues, com Luis Felipe Pondé
              17h – Literatura impressa x digital – as novas formas de ler e escrever, com Paola Carvalho
              17h –Literatura popular, com Sandro Gomes dos Santos
              19h30 – Encerramento

              Domingo
              9h – 3º Encontro de Mangá
              15h – Literatura e espiritualidade, com Yonatan Shani


              * O repórter viajou a convite dos realizadores do evento


              Público de fora prestigia o evento

              A Flipoços tem uma série de eventos paralelos programados, como mostra de cinema e oficinas, além de programação especial para os estudantes. Quem estava empolgada com a feira, que ainda não havia visitado, era Joyce Aparecida da Silva, de 15 anos, de Nova Rezende, também no Sul de Minas, onde estuda na Escola Estadual Professor Caio Albuquerque. A cidade fica a cerca de uma hora e meia de Poços. “Viemos especialmente para conhecer e estou gostando muito. Comprei para mim a coleção básica do Enem 2012, com oito livros, e um romance espírita para dar de presente para o meu pai, que gosta muito de ler”, disse. Também de Nova Rezende, e aluno da mesma escola, veio o estudante Igor Eduardo Evangelista Félix, de 14 anos. Não tem muito costume de ler, “mas até que fiquei animado a começar, depois de tanto livro que vi na feira”, disse.

              Já de Cabo Verde, que fica a 40 minutos de Poços, Bianca Custódia Siqueira, de 13, da Escola Estadual Major Leonel, confessou estar encantada com tudo o que viu. “Até comprei um livro, Diários de um vampiro, que vou começar a ler esta semana.” Da mesma cidade e sua colega de escola é Milena de Faria Souza Reis, que promete voltar para a sua terra com alguns livros na mochila. “No ano que vem, quero estar aqui de novo”, disse a estudante.

              De acordo com a previsão da coordenadora do evento, a publicitária Gisele Corrêa Ferreira, até domingo, dia do encerramento da feira, cerca de 50 mil pessoas devem ter visitado a feira, que a cada ano vem se firmando como um dos importantes acontecimentos literários de Minas, ao lado da Bienal do Livro de Belo Horizonte, do Fórum das Letras de Ouro Preto, da Literata de Sete Lagoas e da Feira do Livro de Ipatinga. “Para uma feira que começou pequena, conseguimos crescer muito e hoje a Flipoços traz à nossa cidade visitantes de todo o Sul de Minas, de cidades do interior de São Paulo e de outros estados”, completa Gisele. 

              Eduardo Almeida Reis-Regalos

              A imbecilidade humana aceita a brincadeira transformada em 'arte', sem que apareça alguém para denunciar a empulhação 


              Eduardo Almeida Reis

              Estado de Minas: 02/05/2013 

              Ganho presentinhos que muito me divertem e não levam à falência as pessoas que me presenteiam. Quase escrevi que sou o recipiendário, que ou aquele que deve receber algo, substantivo obrigatório na linguagem academial: pessoa que é solenemente recebida ou admitida em companhia, corporação ou sociedade.

              Prefiro dizer “quase obrigatório”, porque é lexema que não me soa bem, mesmo sabendo que vem do latim recipiendus, gerundivo de recipère “receber”, sob a forma radical recipiend- + -ário. Que seria de mim e do leitor de Tiro&Queda sem as etimologias do Houaiss eletrônico?

              O fato é que implico solenemente com “recipiendário”, que transformei em “novo acadêmico” no convite para minha investidura na AML. O que sei – e há testemunhas – é que no discurso de 12 minutos o pessoal “riram” à beça. Só não sei se o riso foi provocado pelo texto ou pelo fato de um cidadão limitado ingressar naquele que sempre foi considerado o Senado de Minas.

              Volto aos presentes que não levam quem os compra à falência e deixam o recipiendário na maior felicidade. Do sul da Noruega chegou-me água de sabor e apresentação irrepreensível, suposta de ser a melhor e mais cara do planeta, que dizem dar de 10 a zero nas badaladas Perrier e San Pellegrino.

              Cá entre nós, que ninguém nos ouça: duvido que seja melhor que as sul-mineiras, mas o sul da Noruega, de tão longe e frio, deve ser região da mais alta supimpitude. Protegida na fonte por várias camadas de pedra e gelo, a Voss é água 100% natural, sem poluentes, corantes ou conservantes, apenas a pureza da montanha engarrafada, leio no Google.

              Seu sucesso global deve-se ainda a uma apresentação fashion forward, ou seja lá o que isso queira dizer: a garrafa é claramente inspirada no mundo dos cosméticos. Preço no Google: 2.65 euros ou R$ 7,80 (375 mililitros, garrafa inclusa).

              Pois sim. O recipiendário viu a nota de compra no supermercado carioca e a bouteille sul-norueguesa custou R$ 9,99. Falei bouteille? Esquece. Garrafa em norueguês é flaske, di-lo o tradukka.com.

              Tanto quanto se possa acreditar na minha calculadora chinesa, um litro de Voss, no Rio, custa R$ 26,63, precinho mais que salgado. Num mês de 30 dias, dois litros por dia são quase 800 reais. Minha flaske lá está deitadinha na geladeira, esperando coragem para beber os 375 mililitros. Depois, boto a garrafa como enfeite na sala, pois foi claramente inspirada no mundo dos cosméticos, merecendo por isso a derivação de cosmético em sentido figurado: decorativo, ornamental.

              Brincadeiras
              O pessoal, como se diz na roça, estão brincando. E a imbecilidade humana aceita a brincadeira transformada em “arte”, sem que apareça alguém para denunciar a empulhação. Ora, senhoras e senhores, enfileirar 25 cachos de bananas de plástico ou de qualquer outro material, inclusivamente de bananas de verdade, desde quando foi arte?


              Só dando uma banana, gesto ofensivo que consiste em dobrar o braço com a mão fechada, segurando ou não o cotovelo com a outra mão, para o “artista” e para todos aqueles que divulgam, fotografam e elogiam sua “arte”.

              Memórias
              Rodrigo Octávio publicou pela José Olympio, em 1934, Minhas memórias dos outros, título de um livro que me agradaria escrever. Minha vida não merece memórias, mas o que vi e ouvi dos outros dá livro da melhor supimpitude.


              Não há dia em que não me lembre de um fato ocorrido com o fulano ou a fulana, que merece letra de fôrma. Preservando os nomes, naturalmente. Mesmo quieto em meu canto, quase sempre na roça, longe de tudo e todos, vi e soube de fatos de arrepiar os pelos da cabeça. Não raras vezes penso botar os episódios no papel, mas é tanta coisa para escrever no dia a dia, que sempre deixo para amanhã ou depois.

              Fazer o quê? O tempo voa, hoje bem mais depressa do que sempre voou. Um livro do gênero toma dois ou três meses, várias horas por dia. De repente, dá para encarar. Se não der, paciência.

              O mundo é uma bola 

              2 de maio de 1500: a esquadra comandada por Pedro Álvares Cabral parte da Baía de Cabrália em sua viagem para as Índias. Uma das naves, comandada por Gaspar de Lemos, retorna a Portugal para dar notícia do descobrimento cabralino. Credita-se a Gaspar de Lemos a descoberta de Angra dos Reis no dia 6 de janeiro de 1502, numa outra viagem que fez ao Brasil. Pouco sabem os historiadores sobre esse fidalgo.


              Em 1519, morre Leonardo da Vinci, gênio renascentista italiano. Em 1890, pelo Tratado de Garcia Herrera, Equador e Peru estabelecem os limites de suas novas fronteiras, mas o leitor sabe como são esses tratados de fronteiras: se facilitar, o vizinho abocanha um pedaço de terra.

              Em 1927, fundação da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, que entrega o Oscar, prêmio até hoje de grande importância em Belo Horizonte, MG. Hoje é o Dia Nacional do Ex-Combatente.

              Ruminanças

              “Paradoxo mais que paradoxal: seguro de vida implica o pagamento de um negócio chamado prêmio para premiar o beneficiário do defunto” (R. Manso Neto)

              Doses distintas contra o HPV-Bruna Sensêve‏

              Pesquisa indica que meninas com idade entre 11 e 13 anos ficam protegidas contra o vírus participando de uma vacinação em duas etapas. A recomendação atual é que a imunização ocorra em três 


              Bruna Sensêve

              Estado de Minas: 02/05/2013 

              Na próxima sexta-feira, o Distrito Federal chega ao fim da campanha de vacinação de estudantes do sexo feminino contra o papilomavírus humano (HPV). De acordo com a Secretaria de Saúde do DF, é possível que o objetivo inicial de 80% de imunização seja ultrapassado e a ação chegue próximo a 100% das meninas com idade entre 11 e 13 anos matriculadas na rede pública e particular de ensino. Com o fim da primeira etapa, as alunas vacinadas em março receberão, longo em seguida, a segunda dose do imunizante. Grupos de pesquisadores investigam se, em um futuro próximo, seja possível parar por aí. Cientistas do Centro de Avaliação de Vacinas na Universidade de British Columbia, no Canadá, afirmam que a resposta do sistema imune das meninas que receberam somente duas doses não é inferior ou pior que à do organismo de jovens mulheres imunizadas com as três doses hoje recomendadas.

              A infecção pelo HPV é uma das principais causas para o desenvolvimento de câncer de colo do útero, sendo os tipos 16 e 18 do vírus responsáveis por 70% dos casos em todo o mundo. A prevenção contra a infecção pode ser feita com a vacina bivalente ou quadrivalente. A diferença é que a última conta ainda com a imunização contra os tipos 6 e 11, que causam a verruga genital. Os pesquisadores canadenses reuniram 830 voluntárias, que foram divididas em três grupos: 259 meninas com idade entre 9 e 13 anos receberam apenas duas doses da vacina; 26, com a mesma idade, tomaram as três doses recomendadas, assim como as 310 mulheres com idade entre 16 e 26 anos. Amostras de sangue foram fornecidas pelas voluntárias antes da primeira dose, sete meses depois e 36 meses após o início da imunização.

              De acordo com os resultados, as meninas que receberam duas doses, em comparação às que tiveram três aplicações, não apresentaram uma resposta imune inferior, como seria o esperado, por receberem uma quantidade menor de vacinas. O resultado foi o mesmo para os quatro subtipos do vírus. A soropositividade, isto é, a presença de anticorpos no sangue para o HPV-18, por exemplo, foi de 89% para as meninas do grupo das duas doses, de 94% para o de três doses e de 83% para as mulheres que receberam três doses. Os níveis de anticorpos dos quatro genótipos da vacina diminuíram entre 7 meses e 18 meses a um patamar que foi mantido até os 36 meses. Ambos os grupos de meninas mantiveram os patamares mais elevados de anticorpos em 36 meses do que as mulheres.

              “O uso global de vacinas contra o HPV para prevenir o câncer cervical é impedido pelo custo. Um esquema de apenas duas doses para as meninas pode ser viável”, observa Simon Dobson, líder da pesquisa. Ele e os demais integrantes do estudo, no entanto, alertam que são necessários mais dados sobre a duração da proteção antes que seja recomendada a redução da dosagem. Dobson observa ainda que esses são os primeiros dados conhecidos sobre a duração da resposta imune em jovens adolescentes a uma programação reduzida da dose da vacina quadrivalente contra o HPV. No entanto, a diferença clínica significativa entre os dois procedimentos e os intervalos de três doses ainda não puderam ser determinados.

              Avaliação clínica Segundo o professor e chefe do Setor de Doenças Sexualmente Transmissíveis da Universidade Federal Fluminense (UFF), Mauro Romero, é preciso que a eficácia das duas doses da vacina seja medida clinicamente. “O objetivo precisa ser a infecção ou não pela doença porque nem sempre esse fator é contabilizado.” A eficácia da vacina no estudo foi medida com as respostas sorológicas, chamadas antigenicidade. “A pessoa pode ter a taxa de anticorpos para determinado vírus nas alturas, mas ela continua ficando doente. O trabalho é um avanço muito bom, mas temos que olhar com calma.” Romero explica que a vacina é aplicada e o organismo responde com a produção de anticorpos. Segundo o especialista, já é conhecido que apenas metade das pessoas que são infectadas naturalmente pelo HPV cria anticorpos para o vírus. A vacina propiciaria uma resposta de quase 100%.

              “Imaginamos que esteja dando proteção (a vacina), é o raciocínio lógico. Porém, o que realmente precisamos medir é a eficácia clínica, ou seja, tomou a vacina e não tem a doença. Esse estudo ainda não mede isso. É a eficácia antigênica e não clínica. Mas é o primeiro passo”, observa. Dobson acredita que reduzir o número de doses afeta os custos da vacina e sua administração, bem como melhora potencialmente as taxas de adesão à imunização. “Decisões em saúde pública são baseadas em evidências que têm levado à redução das doses para hepatite B, pneumococo e meningococo sorogrupo C nos programas de vacinação. Há um equilíbrio a ser encontrado entre o valor incremental de uma dose adicional sobre a eficácia na população e os custos da oportunidade de usar os recursos necessários para a dose extra em outros programas de saúde pública. Esse é especialmente o caso de vacinas contra o HPV pelo seu alto custo.”

              Palavra de especialista
              Elias Fernando Miziara
              secretário adjunto de Saúde do Distrito Federal


              Mudança exige novos estudos 

              “Já tínhamos conhecimento que esses trabalhos vinham sendo feitos. Quando iniciamos a atual campanha, tínhamos a previsão de que, se essa informação fosse consolidada, poderíamos fatalmente até suspender a terceira dose e usar todo o material que nós temos para uma nova aplicação no ano que vem, por exemplo. De qualquer forma, temos uma pesquisa que ainda precisa passar por avaliação e consolidação em outros programas. Há apenas um estudo mostrando isso. Definitivamente, não podemos pegar aquela informação que foi consolidada por mais anos de pesquisa e alterar para um novo padrão. Vamos ter que ver a mesma experiência repetida em outros países, em outras realidades, para ter certeza de que os dados são confiáveis. Por enquanto, o nosso programa continua e vamos aplicar as três doses, a não ser que venha uma recomendação com segurança adotada tanto pelo laboratório quanto pela Organização Mundial da Saúde.”


              Queda na contaminação



              Dados preliminares sugerem que, dois anos após a introdução da vacina quadrivalente contra o HPV na Austrália, a proporção de diagnósticos de verrugas genitais diminuiu 59% em mulheres com idade entre 12 e 26 anos, e em 39% em homens heterossexuais. Pesquisadores da Universidade de New South Wales e do Centro de Saúde Sexual de Melbourne buscaram descrever o efeito do programa de vacinação na população cinco anos após a adoção no país. Os dados foram retirados de oito serviços de saúde sexual da Austrália. Eles dividiram a análise no período de pré-vacinação (2004-2007) e vacinação (2007-2011). Os pacientes foram separados em três grupos: com idade inferior a 21 anos, entre 21 e 30 anos e com mais de 30 anos. Entre 2004 e 2011, 85.770 pacientes foram atendidos pela primeira vez nos serviços de saúde sexual. Delas, 7.686 (9%) tinham verrugas genitais.

              A proporção de mulheres diagnosticadas com o problema aumentou durante o período de pré-vacinação — de 9% para 10% — , mas o índice caiu para 3% no período da vacinação. Entre as mais jovens, 9% delas foram diagnosticadas com verrugas genitais em 2004 e 11% em 2007. Durante a imunização, a taxa caiu para 0,85%. Em 2011, nenhuma das mulheres vacinadas menores de 21 anos foi diagnosticada com o problema. Declínios significativos também foram observados em mulheres entre 21 e 30 anos e homens heterossexuais com até 30 anos. Apesar de na Austrália apenas as mulheres serem vacinadas contra o HPV, os pesquisadores acreditam que os homens são beneficiados indiretamente pela imunização. 

              O terrorismo e seus caminhos -Flavio F.da Cunha Bierrenbach -[Tendências/Debates]

              folha de são paulo

              FLAVIO FLORES DA CUNHA BIERRENBACH
              TENDÊNCIAS/DEBATES
              O terrorismo e seus caminhos
              O terrorismo atinge seus objetivos quando detona uma reação em cadeia, que provoca a redução da taxa de liberdades democráticas
              O terrorismo é velho e velhaco. Se a história estiver certa, pode-se classificar como terroristas, com critérios atuais, fatos antiquíssimos, massacres de pessoas indiscriminadas que marcaram os prontuários de figuras execrandas, como Nero e Átila; vamos ficar por aqui.
              Desde tempos remotos, o terrorismo desencadeia uma avalanche irracional, na lógica da ação e reação, do olho por olho, que leva todos à cegueira. Da Antiguidade clássica à moderna astronomia, "phobos" (medo) e "deimos" (terror) são os satélites de Marte, o deus da guerra.
              O conceito de terror --referido por Maquiavel, embora já praticado desde a Roma dos pontífices até as vendetas sicilianas--, entretanto, só entrou para os dicionários como categoria política, conforme autorizada opinião de Norberto Bobbio, depois da Revolução Francesa, no período assim denominado, liderado por Robespierre e Saint-Just.
              Depois, com o correr do século das luzes, a ferrugem foi atacando a lâmina da guilhotina.
              O adjetivo terrorista, por sua vez, passou a ser corriqueiramente empregado de modo difuso, a partir do século 19, para qualificar autores de atentados de diversos tipos, como o assassinato do arquiduque Ferdinando, em Sarajevo, que precipitou a Primeira Guerra Mundial.
              A partir daí adquiriu diversas conotações. O nazifascismo, nos anos 1930, e possivelmente todas as ditaduras desde então não hesitaram em classificar genericamente seus opositores como terroristas. Não faz muito tempo, na Espanha, o regime de Francisco Franco ainda os matava no "garrote vil".
              Por outro lado, a experiência mais recente da humanidade permitiu que a ciência política e o senso comum evoluíssem para considerar terrorismo de Estado o regime de violência instituído por um governo para manter o povo submisso.
              O mundo atual tem acrescentado novos componentes ao tema. Entretanto não existe definição jurídica para o crime de terrorismo.
              Com a queda das Torres Gêmeas, em setembro de 2001, o terrorismo inaugurou a globalização do fanatismo. Com imprevisibilidade, ubiquidade e inclemência, vem demonstrando que o mundo ocidental carece de instrumentos legais eficazes para combater a maior ameaça que paira sobre a civilização neste início de milênio.
              A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 4º, diz que o repúdio ao terrorismo constitui um dos princípios fundamentais que regem as relações internacionais do Brasil. Em 2003, vítima do terrorismo, morreu em Bagdá um eminente brasileiro, o diplomata Sérgio Vieira de Mello, no desempenho da função de mais alto representante das Nações Unidas no Iraque.
              O fato é que o terrorismo atinge exatamente seus objetivos quando detona uma reação em cadeia, que provoca a redução da taxa de liberdades democráticas, numa dupla mão de direção, perversa nos dois sentidos, pelo invariável retrocesso na política de direitos humanos.
              Hoje, o que caracteriza basicamente o terrorismo é o aleatório de suas vítimas. Constitui grande desafio aos juristas a construção teórica de uma proposta de tipificação homogênea para o crime de terrorismo, antes que a potência hegemônica, contaminada pelas circunstâncias, acabe logrando impor a sua.


              JOSÉ AMÉRICO
              TENDÊNCIAS/DEBATES
              Um Legislativo de mãos atadas
              Nossa atuação é restringida pelo chamado vício de iniciativa, o que só nos desestimula a fazer propostas de maior envergadura
              É recorrente a desconfiança da sociedade sobre o trabalho do Poder Legislativo. Se levarmos isso para a esfera municipal, em que a ação parlamentar se encontra mais próxima da população, é perceptível a visão do vereador como despachante e mero revisor ou avalista das propostas do Executivo.
              Precisamos mudar esse quadro. Mas, por mais esforço que façamos para debater e aprovar propostas que causem impacto no dia a dia, estamos diante de um obstáculo institucional difícil de ser enfrentado.
              A Constituição Federal se preocupa excessivamente em preservar o poder dos Executivos, além de ser imprecisa quanto às atribuições das Casas Legislativas. Está aí a origem da prevalência sistemática do poder do presidente da República, dos governadores e prefeitos sobre os seus respectivos Legislativos.
              Estimativa da Câmara Municipal de São Paulo aponta, até 2012, uma média anual de 44 projetos que foram aprovados pelos vereadores e vetados pelo Executivo.
              A justificativa para a maioria desses vetos é o chamado "vício de iniciativa": o argumento de que o prefeito tem a prerrogativa exclusiva de propor cada projeto. Isso demonstra como nossa atuação está restrita, o que só desestimula a possibilidade de pensarmos propostas de maior envergadura.
              Considero urgente o debate sobre o efetivo papel do Legislativo --e o nosso, dos vereadores, em particular. Isso contribuirá para que a população cobre uma atuação mais condizente de seus representantes.
              A discussão faz todo o sentido nesse momento em que o Congresso Nacional debate uma proposta de emenda à Constituição que visa criar o orçamento impositivo.
              No Brasil, a peça orçamentária é uma lei autorizativa que permite que o Executivo não seja obrigado a aplicar os recursos aprovados pelo Legislativo. O governo pode selecionar as obras que serão executadas e bloquear o repasse de verbas, deixando de implementar as ações previstas pelos parlamentares.
              Essa situação acabaria caso o orçamento fosse impositivo, já que haveria obrigatoriedade de o Executivo cumprir o que fosse referendado pelo Legislativo.
              Somos impedidos de atuar em assuntos de reorganização administrativa. Isso é um equívoco, pois poderíamos agir nessa área, desde que as propostas feitas por nós não demandem criação de novos cargos.
              A ideia de que os Legislativos não podem elaborar projetos que gerem custos extras precisa ser revista. Devemos ter tal direito, já que é possível condicionar tais propostas a uma provisão de receita anterior.
              Da mesma forma, por que não permitir que os parlamentares possam legislar sobre certos aspectos da política tributária? O Executivo tem sempre o direito de sancionar ou não os projetos aprovados pelo Legislativo, o que lhe assegura um controle enorme sobre o que for validado pelos parlamentares.
              É preciso também que o Ministério Público e o Judiciário sejam mais comedidos e imparciais em suas ações, em vez de barrar, sempre que possível, nossos projetos.
              Exemplo disso é o auto de licença de funcionamento condicionado. O projeto de licença provisória aos estabelecimentos em imóveis sem alvará, de origem legislativa e sancionado pelo prefeito Gilberto Kassab, foi suspenso pela Justiça sob o pretexto absurdo de constituir "vício de iniciativa". Situação semelhante é a proposta dos Conselhos de Representantes, aprovada pela prefeita Marta Suplicy e embargada judicialmente.
              Tenho feito contato com Casas Legislativas de todo o país para buscar apoio em favor de uma emenda constitucional que restaure minimamente as prerrogativas do Poder Legislativo. Essa articulação é necessária, pois, caso contrário, continuaremos com braços e pernas amarrados, exercendo nossas atividades de forma meramente complementar e secundária.

              Tato artificial-Roberta Machado‏

              Cientistas estão perto de imitar eletronicamente a sensibilidade humana ao toque. A criação pode revolucionar próteses e telas de tablets e smartphones 


              Roberta Machado

              Estado de Minas: 02/05/2013 


              Brasília – Enquanto uma pessoa percebe facilmente o cuidado com que deve manusear uma bola de ferro ou uma maçã, um robô pode destruir a fruta macia se não for programado para segurá-la com a precisão necessária. Ainda falta às máquinas o sentido de tato, a resposta que indica a pressão causada pelo contato com alguma coisa. Por isso, engenheiros do Instituto de Tecnologia da Geórgia (Georgia Tech), em Atlanta, nos Estados Unidos, estão trabalhando num tipo de pele artificial com a mesma sensibilidade humana ao toque. O material, que é transparente e flexível, poderá ser usado para melhorar próteses, telas de smartphones e outras máquinas que respondam ao contato humano.

              Para fazer o trabalho dos nervos, que dão às pessoas o tato, os pesquisadores fabricaram uma rede de mais de 8 mil transistores formados de nanofios de óxido de zinco, num processo descrito nesta semana no site Sciencexpress e que, em breve, estará nas páginas da revista Science. Cada uma das minúsculas estruturas funciona como um pixel tátil, o que os engenheiros chamam de taxel. Elas têm tamanho 120 vezes menor que a espessura de um fio de cabelo e são até mil vezes mais compactas do que outros taxels já fabricados.

              O efeito eletrônico que representa o toque na pele inteligente é causado pela piezoeletricidade, expressão que vem do termo piezein (pressionar, em grego). Essa técnica é usada em todo tipo de aparelho, como medidores de pressão, difusores elétricos de repelentes e até mesmo na agulha do toca-discos. Em alguns deles, o efeito mecânico é transmitido em corrente, em outros, a eletricidade se transforma em força por meio do material piezoeletrônico.

              O toque de um objeto sobre a estrutura criada pelos engenheiros causa a deformação desses fios, que respondem enviando um sinal elétrico proporcional à força aplicada sobre ele com um tempo de resposta de 0,15 segundo. O atraso ainda é 30 vezes maior do que o detectado na pele humana, mas é suficiente para registrar estímulos dinâmicos, como notar um objeto que roça rapidamente a superfície. “Diferentemente de outros sentidos, o tato continua sendo muito difícil de ser imitado, pedindo pelo desenvolvimento de redes de sensores em grande escala com uma alta resolução espacial, grande sensibilidade e resposta rápida”, resume Zhong Lin Wang, professor do Georgia Tech.

              Além de ser mais compacto que outros tipos de pele artificial, o sistema de transistores desenvolvido pelo grupo de pesquisadores, que reúne chineses e norte-americanos, acumula outras funções esperadas dos aparelhos eletrônicos do futuro, como a transparência, a flexibilidade e a autossuficiência de energia.

              Segurança Outra grande vantagem de máquinas com esse tipo de sensibilidade seria a segurança. “Se uma pessoa fizer um movimento brusco e perceber que tocou em alguma coisa, ela para de se deslocar. Um computador não tem isso. Ele não vai parar e pode até decepar o membro de uma pessoa”, exemplifica Fernando Osório, professor do Laboratório de Robótica Móvel da Universidade de São Paulo (USP). É por isso que algumas máquinas usadas em laboratórios e em linhas de montagens são mantidas em isolamento.

              Essa preocupação se torna ainda maior quando se pensa em equipamentos mais sociáveis, como os recentes robôs humanoides produzidos para servir de auxílio a idosos ou interagir com crianças. “Alguns deles são bem pequenos e feitos assim para não machucar ninguém. Essa precaução foi tomada por causa desse problema. Eles (os robôs) não percebem, por exemplo, que caíram em cima de alguém”, avalia Osório.

              Possibilidades A invenção de Wang e seus colegas foi dobrada, girada e prensada entre duas superfícies, assumindo um formato de folha transparente. Em um dos testes, os pesquisadores escreveram a letra A sobre a superfície com uma caneta bastante precisa. Primeiro, a escrita foi feita com uma pressão constante, e o sistema acusou o exato formato da letra marcada sobre ele. Depois, o exercício foi repetido, mas, dessa vez, a força da caligrafia foi variada ao longo do traço. Mais uma vez, a pele inteligente detectou o exato movimento exercido sobre ela.

              “A capacidade de usar os transistores piezoeletrônicos para o registro de assinaturas não apenas grava o padrão da caligrafia quando as pessoas escrevem, mas também registra a pressão aplicada em cada local”, comenta o professor. “Essa capacidade pode essencialmente prover meios de fazer aplicações no reconhecimento de assinaturas pessoais com o máximo de segurança.”

              Além de aparelhos que guardam assinaturas em forma eletrônica, a pele inteligente pode ser aplicada em próteses equipadas com o sentido do tato semelhante ao humano ou mesmo em robôs que imitem os gestos de pessoas. Outra aplicação seriam os displays como os usados em smartphones e em tablets, resultando em dispositivos móveis que respondam de forma variada aos diferentes tipos de toques.


              Sensor de pressão super-resistente

              Outro projeto que pretende dotar as máquinas com o tato é uma pequena placa eletrônica chamada TakkTile, desenvolvida na Universidade de Harvard. O projeto teve início há dois anos, quando alunos da instituição descobriram que construir um robô sensível ao toque para estudos era muito caro e trabalhoso. Insatisfeitos, eles tentaram desenvolver um novo tipo de pele robótica e acabaram construindo um sistema eficiente e barato com peças disponíveis no mercado.

              A solução encontrada pelos então estudantes de doutorado usa uma estrutura de borracha coberta de pequenos barômetros da espessura de uma moeda. As peças traduzem a pressão em um gráfico digital similar ao de um monitor cardíaco hospitalar. “Quando colocados na borracha, esses barômetros sentem forças aplicadas na superfície do material. Os barômetros têm uma pequena membrana que se deforma sob pressão. Os eletrônicos dentro dele medem essas deformações e as converte em números digitais”, explica Yaroslav Tenzer, um dos criadores do sistema e pesquisador do Laboratório de Biorrobótica de Harvard.

              A rede de sensores consegue até mesmo diferenciar alguns tipos de texturas, por meio da vibração causada pelo atrito com o material. Se aplicado a uma mão mecânica, o sistema poderia resultar em um robô capaz de segurar um balão sem estourá-lo ou até mesmo usar uma chave para abrir uma porta.

              Durabilidade Além disso, mesmo pequenos, os sensores são tão resistentes que podem ser usados em fábricas automatizadas que trabalhem com grandes peças. Um vídeo no site da empresa mostra um grande haltere de 12kg sendo apoiado em uma placa de TakkTile do tamanho de uma cédula de dinheiro, e o peso causa apenas um pico na tela que registra o que o aparelho sentiu. Nem mesmo a pancada de um martelo estraga o material. “O sensor é muito forte, porque a maior parte do impacto é absorvido pela cobertura de metal. Apenas pequenas forças passam pela membrana do sensor”, aponta Tenzer.

              O trabalho universitário virou produto e seus criadores abriram uma empresa para vender e divulgar o trabalho. Os criadores do aparelho antecipam seu uso em mãos robóticas, dispositivos médicos e até mesmo brinquedos que reajam ao toque de crianças. A invenção já foi colocada à disposição de inventores e desenvolvedores, para que testem e adaptem o uso. (RM)