terça-feira, 11 de março de 2014

Maria Ester Maciel-Seu Zé dos Cachorros‏

Seu Zé dos Cachorros


Maria Ester Maciel
Estado de Minas: 11/03/2014 0



Quase sempre, quando caminho pela minha rua, vejo-o sentado na pequena murada do canteiro que fica na esquina. É um senhor já de idade, pequeno e de olhos ternos. Ao seu lado, um saco cheio de latinhas recolhidas pelo bairro e outro com verduras e frutas recebidas dos moradores das redondezas. Seu nome é José. Seu Zé para os que o conhecem. Já um vizinho meu, o Pedrinho, o chama de Zé dos Cachorros. Isso porque o simpático senhor da esquina anda sempre acompanhado de três cães vira-latas: o Leão, a Pretinha e o Pingo. Antes  eram seis, mas como ele mesmo me contou um dia, os outros foram “envenenados por uns covardes” lá do Aglomerado da Serra, onde mora.

 Seu Zé enche os olhos d’água quando fala dos seus cachorros envenenados. “Eles eram muito amigos; não mereciam o que fizeram com eles”, disse-me quando lhe perguntei pelos três faltantes. Contou-me, depois, que Leão está com 8 anos; Pretinha, 7; e Pingo, 5. “Tenho eles como meus filhos”, completou, virando-se para os três, que, naquele momento, dormiam aos seus pés.

O que mais me chama a atenção no seu Zé é que ele, mesmo necessitado, não pede nada a ninguém. Apenas fica lá, sentado na esquina, olhando o movimento das ruas. Às vezes, os cães latem para os carros que se aproximam. Já vi, inclusive, uma cena engraçada: um motorista tentava seguir a rua na contramão, mas os cães o impediram, atravessando na frente do carro, com latidos intermináveis. Na hora, pensei: “Não fariam feio se trabalhassem para a BHTrans”.

Exatamente pelo fato de seu Zé não me pedir nada quando passo por ele, é que paro e lhe dou uns trocados. Quando estou com tempo, vou lá em casa e busco um pouco de ração para os cães. Ele agradece com ênfase e me manda ir com Deus, balançando as mãos, como se me benzesse com o gesto. Nunca deixo de dirigir a palavra a ele, geralmente com alguma pergunta sobre os cães, que, de uns tempos para cá, começaram a abanar o rabo ao me ver.  Seu Zé aceita a conversa, meio tímido, e responde a todas as perguntas com gentileza. Nunca quis saber meu nome, mas sempre me cumprimenta como amigo, mesmo quando passo apressada do outro lado da rua.

Aliás, andar a pé é muito bom também para isto: torna possíveis certos encontros quase improváveis de ocorrer de outro modo. E andar na companhia de um cachorro é ainda melhor nesse contexto. Perdi a conta das vezes em que já parei para conversar com alguém na rua por causa de interesses “cachorrais” compartilhados. Digo que Lalinha, minha companheira canina – mesmo com sua rabugice da idade – tem sido responsável por algumas boas amizades feitas nas vizinhanças, todas decorrentes do meu hábito de passear com ela todas as manhãs. Quem tem cachorro ou gosta de cães geralmente adora conversar com quem está na companhia de um, seja no elevador, na porta do prédio ou no meio da rua.

Mas voltando ao seu Zé dos Cachorros, meu carinho por ele é enorme. Sinto que é um homem de alma generosa, capaz de passar uma energia muito boa a quem dele se aproxima. Tem uma simplicidade cativante. Nunca perguntei nada sobre sua vida, nem pretendo fazer isso. Apenas quero tê-lo por perto, na esquina, com seus três cachorros e sua grande dignidade. 

TeVê

TV paga


Estado de Minas: 11/03/2014



 (CARL DE SOUZA/AFP)

Convidados de Jimmy Fallon


À frente do The tonight show, o comediante Jimmy Fallon recebe famosos em seu talk show, sempre às 23h30, no GNT. Hoje, as convidadas são a comediante Chelsea Handler e a atriz e cantora Lea Michele; amanhã, a atriz Annette Benning (foto), o ator e diretor Norman Reedus, e a banda The Avett Brothers; na quinta, a atriz Lindsay Lohan, o comediante Billy Eichner, e a banda Bad Things; e na sexta, o comediante Stephen Colbert e a banda Broken Bells.

DRAMA DA VIDA REAL
VIVIDO NA TAILÂNDIA


O Telecine Premium exibe às 22h o filme O impossível, de Juan Antonio Bayona. Com Naomi Watts e Ewan McGregor, o drama conta a história de uma família de turistas presa na Tailândia depois do tsunami de 2004.

RECONSTITUIÇÃO DE
CRIME NO CANAL BIO


O canal Bio exibe às 22h, na série Investigação criminal, o caso da estudante Bianca Ribeiro Consoli, que foi assassinada dentro de casa, em 13 de setembro de 2011. O corpo foi encontrado com lesões no pescoço. Embora os móveis estivessem revirados, nenhum objeto foi roubado. As investigações apontaram o cunhado da vítima, Sandro Dota, como suspeito. Um dos laudos concluiu que o sangue encontrado debaixo da unha de Bianca era de Sandro. O motoboy foi condenado a 31 anos de prisão.

SEQUESTRO E RESGATE
EM SÉRIE DO +GLOBOSAT


O +Globosat estreia, às 21h, Kidnap & Ransom – Sequestros de Willard. A série de ficção conta a história do negociador de sequestros britânico Dominic King contra uma sequência de raptos interligados realizados pelo misterioso Willard. Os crimes começam na África do Sul e continuam na Inglaterra. A trama se desenvolve em três episódios, depois da descoberta de que o vilão está em busca de algo muito mais lucrativo do que dinheiro.

DRAMAS DE PESSOAS
COMUNS EM LONGA


Primeiro longa do brasiliense Gustavo Galvão, Nove crônicas para um coração aos berros será exibido às 22h, no Canal Brasil. Na narrativa, estão em foco pessoas de diferentes idades cujas vidas estão presas a cotidianos sem perspectivas. Simone (Simone Spoladore) cansou de ser prostituta; Júlio (Júlio Andrade) tem um emprego burocrático e mora com a mãe; Larissa (Larissa Salgado) não gosta mais de Mário (Mário Bortolotto); Carol (Carolina Sudati) sofre as dores de um abandono; Denise (Denise Weinberg) decide recuperar o tempo perdido; André (André Frateschi) quer fazer uma música diferente; Philipp (Felipe Kannenberg) não pretende voltar para a Alemanha; Vanise (Vanise Carneiro) tem medo de seus sentimentos por Rita (Rita Batata) e Leopoldo (Leonardo Medeiros) não sabe se vai ou se fica.

ADOÇÃO DE BEBÊS
EM FOCO NO FOX


Estreia às 22h15, no Fox Life, a série Separados na maternidade. O programa traz testemunhos reais do emocionante processo de adoção e busca refletir o emotivo processo pelo qual passam diferentes mulheres que por diversos motivos decidem dar seus bebês para adoção.


CARAS & BOCAS » Adorável vilã
Simone Castro

Beatriz Segall fala sobre carreira na edição de hoje do Provocações, na TV Cultura (João Miguel Júnior/Divulgação - 6/4/11)
Beatriz Segall fala sobre carreira na edição de hoje do Provocações, na TV Cultura

Quem resiste às personagens da atriz Beatriz Segall, as queridas vilãs Odete Roitman, de Vale tudo, ou Lourdes Mesquita, de Água viva? Ela é unanimidade no gosto do telespectador. A atriz esclarece que nunca foi confundida com seus personagens e nem agredida pelo público na rua. “A famosa revista Amiga publicava coisas que nunca aconteceram, que fui agredida na rua e que o público me tratava mal. Isso nunca aconteceu. O público adorava a danada da Lourdes Mesquita e a danada da Odete. Até hoje tem gente que sabe as frases da Odete”, diz Beatriz em entrevista ao programa Provocações desta terça-feira, às 23h30, na TV Cultura. No bate-papo com Antônio Abujamra, ela conta que desde Água viva os atores não queriam fazer os papéis de vilão. “Havia um movimento dentro da Globo para aumentar os salários dos atores que fizessem papéis de vilões, pois eles não eram convidados para fazer merchandising e comerciais. Eles ficavam malquistos pelo público. Eu nunca tive esse problema”, garante. Sobre a nova geração de atores, Beatriz ressalta que a preocupação, hoje, é ser celebridade. “Quando começamos, os atores tinham vontade de aprender. Tentamos fazer um teatro brasileiro. Hoje, a maior preocupação é ir para a televisão. Depois de 15 dias são considerados celebridades. Acho engraçado esse conceito de celebridade.” Beatriz revela ainda que é vidrada por seriado americano. “Fico encantada com a capacidade de imaginação criativa que eles têm para criar cenas monumentais. O principal na nossa profissão é o texto. Porque se você tem uma boa dramaturgia pode deitar e rolar.”

BELEZA DOS RIOS DO
MUNDO NA TELINHA


A TV Brasil estreia amanhã, às 22h, a série Os rios e a vida, que revela a importância e a beleza de seis rios do planeta. São seis episódios de 60 minutos cada que celebram a natureza em constante movimento e o relacionamento do homem com os mais belos sistemas fluviais, além de revelar como a cultura e a vida de milhões de pessoas são moldadas pelas águas que as cercam. O episódio de estreia destaca o Rio Amazonas. Ele é o que menos sofreu com a ação predadora do homem, mas, até quando isso será possível? O surgimento de pequenas cidades densamente populosas às margens do rio ameaça a paz no Amazonas. A série, além do Amazonas, também vai mostrar o Nilo, o Mississipi, o Ganges, o Yang-tsé e o Reno.

MOCINHA FICARÁ EM
DÚVIDA SOBRE IRMÃOS


Nos próximos capítulos de Além do horizonte (Globo), Lili (Juliana Paiva) se mostrará cada vez mais dividida entre os irmãos William (Thiago Rodrigues) e Marlon (Rodrigo Simas). Ela contará ao amigo Rafa (Vinícius Tardio) que o fato de não confiar mais em Marlon contribuiu para reaproximá-la de William. Já William também assumirá que fica mexido com Lili e confirmará a Celina (Mariana Rios) que ainda gosta da ex-namorada. A professora sofrerá bastante. Marlon, cansado da indecisão de Lili, a colocará contra a parede, exigindo que ela decida entre
ele e o irmão.

AGENTE FICARÁ AINDA
MAIS CISMADA EM SÉRIE


Em The blacklist, série que vai ao ar no Brasil no canal Sony (TV paga), a visita do irmão de Tom (Ryan Eggold) deixará a agente do FBI Elizabeth (Megan Boone) ainda mais cismada. É que o cunhado irá revelar mais informações sobre a verdadeira identidade do marido da policial. No papel do personagem, que entrará em cena dia 31, estará o ator Peter Scanavino. The blacklist traz a trama de Red, vivido por James Spader, um dos criminosos mais procurados do mundo, que se entrega ao FBI e delata todos os bandidos com os quais já trabalhou.

CONFRONTOS À VISTA

Depois do reencontro de Helena (Júlia Lemmertz) e Laerte (Gabriel Braga Nunes), na novela Em família (Globo), o próximo confronto será entre o flaustista e Virgílio (Humberto Martins) (foto), rivais desde o passado. Eles se enfrentarão durante uma viagem a Goiânia. Outro embate também está previsto entre Shirley (Viviane Pasmanter) e Verônica (Helena Ranaldi). Assim que descobre que Laerte viajou para Goiânia sem a mulher, a socialite não perde tempo e o atrai para uma boate. Lá, eles trocam um beijo que é registrado por um fotógrafo e logo vai parar na internet.

VIVA

O carnaval de rua de Joia rara (Globo), que trouxe à cena velhas marchinhas e deu um toque especial à trama do horário das seis.

VAIA

Onde foi parar Paulinha (Christiane Ubach), candidata das boas a vilã de Além do horizonte e que desapareceu do mapa?

Tereza Cruvinel - Dilma: cálculo e risco‏

Peitando o PMDB, Dilma pode marcar pontos com certo eleitorado, mas tal cálculo pode lhe render também grandes confusões na Câmara


Estado de Minas: 11/03/2014


Numa eleição em que convivem na alma do eleitorado o desejo de continuidade (dos avanços de anos recentes) com o de mudança (especialmente das velhas práticas políticas), conforme já apurado por algumas pesquisas, deve haver mesmo algum cálculo eleitoral no endurecimento da presidente Dilma Rousseff com o PMDB e os rebeldes estigmatizados pelo fisiologismo. Alguns pontos ela pode ganhar com a peitada, mas corre também riscos não desprezíveis.

Para isolar o líder na Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), Dilma decidiu conversar apenas com os presidentes das duas Casas do Congresso: Henrique Eduardo Alves (RN), da Câmara, e Renan Calheiros (AL), do Senado, afora o vice-presidente Michel Temer, graças a quem a aliança ainda não foi para o vinagre. Mas o PMDB não é um partido orgânico, com um mínimo de disciplina interna. É um ajuntamento de caciques, em que cada um manda em sua tribo.

Eduardo Cunha não é um franco-atirador, tem conexões na cúpula partidária, além de ser muito ligado ao governador do Rio, Sérgio Cabral, e ao ministro da Aviação Civil, Moreira Franco. Mas, uma vez feito líder, tornou-se cacique da tribo peemedebista na Câmara e, hoje, lidera um pelotão de insatisfeitos que ultrapassa as fronteiras da própria bancada. Ele cuspiu fogo, é verdade, e o Planalto está respondendo com artilharia ainda mais pesada. Quem o conhece sabe ser improvável que ele venha a recuar das posições, ouvindo apelos de Temer, de Renan ou de Henrique Alves. Cunha convidou o presidente do partido, Valdir Raupp (RO), para assistir, hoje, à reunião da bancada, para ouvir de camarote a ladainha de queixas e críticas dos deputados.

Isolar um adversário é boa tática quando ele está desarmado. Mas Cunha, no momento, tem bala na agulha para criar grandes confusões para Dilma na Câmara: aprovar uma investigação sobre a Petrobras, em momento delicado para a empresa, derrubar ou inviabilizar a votação do Marco Civil da Internet, convocar uma penca de ministros e presidentes de bancos oficiais para depoimentos em comissões e, mais complicado, impedir a aprovação do projeto que o governo enviará ao Congresso estabelecendo novo marco penal para protestos e manifestações, com vistas à segurança na Copa.

Nesse ambiente, a convenção que decidirá sobre a manutenção da aliança reviverá as velhas escaramuças do passado. Como o PMDB não é de rasgar dinheiro, mesmo rachado, acabará ficando com ela. Mas o custo terá sido alto e pode acabar neutralizando os pontos que Dilma espera ganhar agora dos eleitores que não gostam dos partidos nem da política que eles fazem.

Tem uma turma que está adorando essa briga: a turma do “Volta, Lula”, com ramificações que vão do empresariado a setores do PT.

Gatos molhados

Reiterando que não dará mais um ministério ao PMDB, Dilma Rousseff fez ontem, aos presidentes do Senado e da Câmara, uma oferta que serviu para avivar, nos peemedebistas, uma lembrança amarga de 2010. Ela prometeu apoiar candidatos do PMDB em seis estados em que o PT terá candidato próprio ou apoiará outro aliado. Seriam eles: Maranhão, Paraíba, Rondônia, Tocantins, Goiás e Alagoas. Em 2010, lembra importante figura do partido, os presidentes do PT e do PMDB assinaram um documento (do qual ele tem cópia na gaveta), com o aval dela, estabelecendo que, nos estados onde os dois partidos tivessem palanques distintos, a candidata iria aos dois ou não iria a nenhum. Veio a campanha, o compromisso foi esquecido. Como gosta de lembrar o baiano Geddel Vieira Lima, ministro da Integração Nacional de Lula, hoje na oposição, ela foi ao comício do governador Jaques Wagner (PT) de dia e fez uma visita envergonhada ao peemedebista à noite. Ninguém, é claro, declinou ontem o apoio oferecido pela candidata favorita, mas ninguém a levou exatamente a sério.

Erros litúrgicos

Riscos à parte, Dilma pode ter errado também do ponto de vista litúrgico ao eleger como interlocutores para tratar da crise do PMDB os presidentes das duas Casas do Congresso. Eles são cardeais do partido, mas ocupam posições institucionais. Dilma os deixou esperando no domingo, quando resolveu se reunir apenas com Michel Temer. Ontem, mandou avisar que os receberia em separado. Na semana passada, pediu a Henrique Alves que adiasse a votação do pedido de investigação sobre a Petrobras, antes que o governo fosse derrotado pelo blocão. A leitura externa é a de que, para enquadrar o PMDB, ela passou a enquadrar o próprio Congresso. O líder tucano Antonio Imbassahy (BA) não perdeu a deixa: “Ela está desrespeitando o Congresso e quebrando, de forma descarada, a independência entre os Poderes, o que só comprova seu perfil arrogante e tirano”.

Na periferia

Pilotando a crise com o PMDB, Dilma vai adiando a substituição de ministros de outros partidos que estão loucos para deixar os cargos e cuidar da própria vida. A petista Maria do Rosário, dos Direitos Humanos, não tratou ainda da substituição com a presidente, mas para o lugar, fala-se agora, no PT, na transferência de Ideli Salvatti, abrindo espaço para a reformulação da articulação política palaciana. E Aguinaldo Ribeiro, de Cidades, cujo partido, o PP, já indicou para a vaga Gilberto Occhi, vice-presidente da Caixa Econômica Federal.

Retirada de ovários para prevenir o desenvolvimento de câncer é polêmica

Decisão de atriz divide especialistas 

 
A estrela americana Angelina Jolie volta a causar polêmica ao anunciar a retirada dos ovários. Há cerca de um ano, ela removeu as duas mamas, devido ao alto risco de desenvolver um câncer 

Bruna Sensêve
Estado de Minas: 11/03/2014


Jolie tem um mutação genética que aumenta o risco de tumores (Lucas Jackson/REUTERS  )
Jolie tem um mutação genética que aumenta o risco de tumores


Mais uma vez, Angelina Jolie levanta polêmica, ao anunciar uma nova cirurgia preventiva ao desenvolvimento de câncer, dessa vez, ovariano. Recentemente, a atriz hollywoodiana declarou à mídia norte-americana que pretende realizar em breve a segunda etapa de procedimentos que visam conter o alto risco diagnosticado geneticamente, tanto para o surgimento de tumores mamários quanto para os do tipo ovariano. Em maio do ano passado, Jolie anunciou a remoção das duas mamas e, agora, pretende fazer a retirada dos ovários. Mesmo sem diagnosticar o mal, a premiada atriz norte-americana, mãe de três filhos biológicos e três adotivos, conhece a doença de perto. Aos 56 anos, sua mãe, Marcheline Bertrand, perdeu uma batalha de 10 anos contra o câncer de ovário e faleceu em 2007, em decorrência da doença.

Segundo o diretor-médico do Instituto Brasileiro de Controle do Câncer (IBCC), Marcelo A. Calil, os ovários estão em regiões profundas da pélvis, onde há uma dificuldade de acesso. Por esse motivo, os exames para detecção de algum câncer ou tumor ainda não são tão precisos. Porém, ele acredita que, enquanto não há alteração diagnosticada nos órgãos, colocar a paciente sob cirurgia tentando prevenir que ela não venha a ter a doença é expô-la a um risco cirúrgico sem garantia total de necessidade do procedimento. Calil lembra que, mesmo com a retirada dos ovários, ainda é possível que a paciente desenvolva uma doença semelhante no memso local ou nas adjacências. “A Angelina Jolie tem um risco genético aumentado, que exige que se faça um controle maior, mas não há um consenso de que se deve tirar os ovários. Em uma mulher jovem, sempre há maiores riscos porque os ovários são os produtores dos hormônios femininos.”

A retirada de ambos pode levar à necessidade de uma reposição hormonal, que também pode levar a efeitos colaterais indesejados no organismo. “A cirurgia reduz as chances de ela ter um câncer de ovário, mas não em 100% e expõe a paciente ao risco cirúrgico e anestésico, além da menopausa precoce com a interrupção da produção de estrógenos.” Calil considera que, no caso de Angelina, a reposição é mandatória, já que a falta dos hormônios femininos naturais pode levar à osteoporose, elevação do risco de doenças cardiovasculares e até mesmo uma alteração da pele da atriz. O último ocorreria devido à aceleração do processo de envelhecimento, comum na falta de estrógenos. “Ainda não há nenhuma posição da comunidade científica, que está muito dividida quanto a essa ooforectomia profilática.”

RISCOS  Nesse ponto, o professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e chefe de ginecologia do Instituto de Câncer do Estado de São Paulo (Icesp), Jesus Paula Carvalho, é mais categórico e incisivo: às pacientes com a mutação genética BRCA 1 e BRCA 2 é recomendado que retirem os ovários e as tubas uterinas entre 35 e 40 anos. O médico é irredutível e mostra-se cético quanto à necessidade de cirurgia em casos como o de Angelina Jolie. Ele argumenta que, quando o risco aumentado é garantido por exames, as chances de ocorrência da doença está próximo de 50% ao longo da vida. “E é uma doença fatal na maioria dos casos. Esse é o drama, porque, se esperar para tirar depois, não dá mais. A doença já se desenvolveu.”

A recomendação apontada por Carvalho está nas diretrizes de 2013 da National Comprehensive Cancer Network (NCCN) – uma aliança de 23 centros de câncer nos Estados Unidos, a maioria dos quais são designados pelo Instituto Nacional do Câncer norte-americano. “Quando ela anunciou que faria a dupla mastectomia, eu questionei porque ela não começou pelos ovários, que levam a uma doença muito mais grave. Isso porque o câncer de mama é curável, o de ovário não.”

Os tumores ovarianos com motivação na herança genética estão entre 5% e 10% dos casos e a única forma de prevenção é a retirada profilática. Ele reforça que, nessa condição, a doença começa a se desenvolver a partir dos 35 anos, sem qualquer sintoma aparente. “Claro que é um problema, porque ela vai ficar estéril e vai perder os hormônios naturais dela. Então, é algo muito sério. Mas ela sabe que é mutada e sabe o risco que tem de ter a doença.” Ele afirma que o procedimento não é comum no Brasil, porque as pessoas desconhecem essas informações e o teste genético também é algo recente.

O coordenador de oncologia clínica do Centro de Oncologia do Hospital Sírio-Libanês, Artur Katz, é mais ponderado quanto à indicação da cirurgia e até mesmo do exame genético. Segundo ele, para que a paciente chegue a fazer o exame genético é preciso que confirme alguns fatores específicos que predisponha à possibilidade de um risco elevado. Somente quando esse risco hereditário é certificado, é que a remoção profilática de útero e ovários passa a ser discutida. “O exame deve ser discutido com um oncogeneticista, porque não é toda mulher que tem indicação para fazê-lo. As condições são muito precisas.”

Entre elas, estão mulheres que tiveram um tumor abaixo dos 40 anos, mulheres com tumor mamário bilateral, com duas familiares de primeiro grau com tumor de mama. “Existe uma série de critérios claramente estabelecidos de quem deve ou não fazer esse teste. Então, não é qualquer mulher que deve ir ao laboratório porque está preocupada e dizer que quer fazer o exame. Ele só pode ser solicitado por um oncogeneticista, que vai avaliar se tem a indicação ou não.” Caso o resultado seja positivo, deverá discutir com o oncogeneticista se esse resultado realmente confere a ela um risco suficientemente elevado para que se tome uma atitude preventiva.

Katz considera o procedimento cirúrgico de certa forma simples. O maior inconveniente seria a infertilidade e a indução da menopausa precoce. “A menopausa precoce traz os inconvenientes já conhecidos sobre saúde óssea, redução de libido e sintomas ginecológicos, como a secura vaginal.” A reposição hormonal é feita com ressalva em pacientes desse tipo, pois também deve obedecer uma série de recomendações que garantem até que ponto é um procedimento seguro.

Prevenção genética
A atriz teria removido as duas mamas devido ao alto risco (87%) de desenvolver o câncer de mama, identificado por ela depois de um exame genético. A escolha feita por ela trata de uma cirurgia de retirada do tecido mamário em que a redução do risco é diretamente proporcional à quantidade de tecido retirado. Sendo o mais indicado retirar entre 90% e 95%. Quanto maior o risco, maior tende a ser a intervenção preventiva.


Terapia hormonal
A terapia é contra-indicada para mulheres com histórico de câncer de mama ou endométrio, trombose, distúrbios de coagulação sanguínea, infarto e sangramento genital de causa desconhecida. Na mulher com útero, associa-se estrogênio e progesterona, pois o uso isolado do estrogênio eleva o risco de câncer de endométrio. É importante, ainda, observar o tempo de tratamento. Segundo o estudo norte-americano Women’s Health Iniciative, depois de cinco anos aumenta-se o risco de câncer de mama e doenças cardiovasculares. A maioria das mulheres colherá ganhos importantes com a terapia hormonal, feita com critério e acompanhamento médico. Mas haverá casos em que isso será contra-indicado. Não há uma resposta universal aplicável a todas as mulheres e cada uma deve ser avaliada de forma personalizada.

Resiliência brasileira - Beth Penteado

Resiliência brasileira 
 
Há uma geração que não se arrepia com a palavra planejamento 
 
Beth Penteado
Consultora de negócios
Estado de Minas: 11/03/2014


Ao me deparar com os resultados da pesquisa da Global Entrepreneurship Monitor, que aponta o Brasil como o país do grupo dos Brics – Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul –, que tem sete em cada 10 pessoas empreendendo por oportunidade, pergunto: o que mudou de 12 anos para cá? Hoje, depois de mais de 10 anos lidando com empreendedores dos mais diversos setores, porte e região, me permito pensar muitas outras razões que não só a necessidade nos levam a ter essa característica comportamental tão forte. Com certeza, essa resposta não tem uma única causa, e sim uma composição de fatores. A partir da experiência de lidar com mais de 2,5 mil empreendedores de diversos ramos, portes e regiões nos últimos 13 anos, acredito que a globalização, as inúmeras necessidades ainda não satisfeitas e a resiliência do nosso povo são o grande mote que nos impulsiona a abrir o próprio negócio.

Nesse mesmo período, acompanhamos o crescimento das grandes cidades, mas, sobretudo, o de cidades de pequeno e médio portes em todo o país, onde muitas necessidades ainda estavam e estão por ser atendidas. Esse crescimento por si só já seria suficiente para explicar o nosso avanço como empreendedores. No entanto, quando listamos todos os obstáculos que o empreendedor tem que ultrapassar para abrir o próprio negócio, e principalmente para viver dele, a pergunta volta: por quê? As respostas que eu mais encontro estão relacionadas ao desejo de realizar algo, de fazer melhor do que já vem sendo feito. A crença dos empreendedores brasileiros é de que, independentemente da região, as pessoas têm o direito de consumir produtos diversificados e de qualidade e de usufruir de bons serviços abre oportunidades para a abertura de novos negócios – um dos grandes benefícios que a globalização nos trouxe.

É cada vez maior o número de pessoas que têm acesso a informações globalizadas e essas informações muitas vezes “ensinam” nossos consumidores a distinguir de forma bem clara o que é bom e o que é ruim, tornando seu nível de exigência mais alto, assim como sua intolerância. De uma forma subliminar, quase inconsciente, o empreendedor brasileiro responde com seus negócios àquilo que nós, como cidadãos, não recebemos com qualidade como contrapartida aos impostos que pagamos. Por essa razão a resiliência.

A diferença hoje é que muitos dos nossos empreendedores não se lançam na abertura de novos negócios como aventureiros. Já começamos a desenvolver, ainda que de forma acanhada, uma geração que não se arrepia com a palavra planejamento e, que bem ou mal, define onde quer chegar com aquele empreendimento. Nossos “metamodelos” não são nem de longe os homens públicos que deveriam nos guiar e, sim, empreendedores de sucesso que, apesar de tudo, acreditaram e continuam acreditando que podem empreender por oportunidade, gerando emprego, renda e riqueza para si e para a sociedade em que estão inseridos.