quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Análise - Eduardo Almeida Reis

No Brasil de hoje, tudo é combinado pelas redes sociais: tráfico de drogas, assaltos, pedofilia. Até casamentos entre pessoas dos 11 sexos são avençados pelas redes sociais


Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 20/11/2014




Obrou muito mal a PM de São Paulo ao impedir que torcedores do Santos e do Palmeiras continuassem a brigar antes do jogo na capital paulista. Foi há mais de um mês, como pode ser amanhã ou depois: as brigas se repetem no Brasil inteiro e a polícia não se deve meter, salvo quando os brigões ameaçam terceiros que não têm nada com o peixe. Não me refiro ao Peixe, apelido do clube santista: durante anos, na honrosa condição de cronista-Fifa, nunca chamei o Atlético de Galo, o América de Coelho e o Cruzeiro de Raposa. Não ter nada com o peixe é expressão popular que significa “ser alheio ao problema, à discussão”.

Se os rapazes querem brigar, que briguem. Morreu um e vários outros foram internados em estado grave. Sem exagero, portavam dezenas de porretes parecidos. São rapazes, com o porrete, diria o conselheiro Acácio, personagem de O primo Basílio, do Eça, como disse ao Jorge: “São rapazes, com o charuto”. Episódio delicioso em que Jorge criticava as obscenidades desenhadas com charutos nas paredes caiadas do teatro e dizia que aquilo só acontecia em Portugal.

Testemunhas da briga entre palmeirenses e santistas disseram que foi combinada pelas redes sociais. No Brasil de hoje, tudo é combinado pelas redes sociais: tráfico de drogas, assaltos, pedofilia. Até casamentos entre pessoas dos 11 sexos são avençados pelas redes sociais. E o leitor tem a sorte de ler, fora das redes sociais, um philosopho que recorre ao verbo avençar, no sentido de “entrar em entendimento”, para evitar a repetição de combinar no mesmo parágrafo.

Avençar também significa “inscrever-se como avençal, como trabalhador”, isto é, tudo que os rapazes não querem se têm pais que os sustentam. Neste país grande e bobo, paulada virou complemento do péssimo futebol que tem sido jogado por aí.

Casamento

Há vantagens no fato de não ser famoso, de nunca ter sido convidado para a Ilha de Caras. Fosse famoso, vosso philosopho não escaparia do convite para a casa de Donata Meirelles, senhora Nizan Guanaes, para assistir ao casamento de Bruno Astuto, que não conheço e do qual nunca ouvi falar. Casamento celebrado por ninguém menos que Ana Maria Braga, sem essa de padre, pastor, bispo, mãe de santo, apóstolo ou cardeal.

Bruno Astuto casou-se de casaca, danado de chique. A celebridade celebrante, em sua bênção especial, declarou: “Eu vos declaro marido e marido”, considerando que o astuto Bruno trocou alianças com o estilista Sandro Barros, também elegantíssimo em sua casaca.

Entre outras coisas, a celebrante disse: “Eu vi o amor de vocês nascer. Quero agradecer esse presente. Bruno e Sandro, a partir de hoje sejam uma coisa só. Sejam muito felizes! Eu vos declaro marido e marido”. O noivo Sandro surpreendeu Bruno cantando no altar e emocionou o noivo jornalista, que, fiquei sabendo agora, trabalha no programa televisivo da celebrante.

Dezenas de famosos se reuniram na casa de Donata e Nizan: Adriane Galisteu, Alexandre Iodice, Marina Ruy Barbosa, Glória Maria, Rafa Brites, Flavia Alessandra, Mariana Ximenes e Regina Casé, que deve ser aquela senhora que batizou o filho numa porção de religiões em sua casa de Mangaratiba (RJ), no mesmo condomínio chique em que ficou hospedada a Seleção da Itália pela Copa das Copas. Condomínio que já teve a honra de hospedar, numa casa de 3 mil metros quadrados, entre numerosa cerveja e majestoso charuto, com direito a lancha italiana com três suítes para circular pelos mares de Angra, um philosopho amigo nosso.

Em seu perfil no Instagram, Astuto fez romântica declaração para o marido: “Você não é o marido com que eu sempre sonhei, porque nem no sonho mais criativo eu seria capaz de imaginar um homem tão generoso, tão digno, tão divertido, tão lindo e tão cheiroso”. O amor é lindo!


O mundo é uma bola
20 de novembro de 1512: naufrágio da nau Frol de la Mar navegando de Malaca para Goa conduzindo Antônio de Albuquerque e o valioso espólio da conquista de um dos mais antigos sultanatos malaios. Malaca ou Melaka,  com 1.664 km2, tinha cerca de 800 mil moradores em 2010. Consta que foi fundada por Parameswara, um príncipe proveniente de Palimbão, em Srivijaya, um reino malaio da Sumatra, que fugiu de lá depois de um ataque majapahita em 1377. Acho que fez muito bem e admito que também fugiria dos ataques majapahitas. Não existe a palavra frol no Dic. da Real Academia Española. Parece que o galeão português se chamava Flor de la Mar.

Em 1695, tropas do bandeirante Domingos Jorge Velho matam Zumbi no Quilombo dos Palmares. Em 1819, afunda o navio baleeiro Essex, depois do ataque de um cachalote, baleia dentada da família dos fiseterídeos (Physetercatodon), encontrada em todos os oceanos e mares do mundo, com até 20m de comprimento, coloração cinzenta ou preta, cabeça enorme e de formato quase quadrangular. Hoje é o Dia do Biomédico, do Esteticista e da Consciência Negra no Brasil.

Ruminanças


“No que respeita aos esteticistas, a atual Esplanada dos Ministérios é problema insolúvel” (R. Manso Neto).