quinta-feira, 5 de setembro de 2013

'Sou apaixonada por ensinar', diz professora de inglês deficiente visual

Josiele Lima dribla desafios da deficiência para dar curso de formação.

Turma foi formada há seis meses e utiliza livros e material em braile.

Jéssica BalbinoDo G1 Sul de Minas Fonte

Josiele ensina inglês a estudantes com deficiência visual (Foto: Jéssica Balbino/ G1)Josiele ensina inglês a estudantes com deficiência visual (Foto: Jéssica Balbino/ G1)
“I help you to study. Eu te ajudo a estudar”. É assim, no esquema de tradução, que funcionam as aulas da professora de inglês da professora Josiele de Lima, de 26 anos em Poços de Caldas (MG). Mas quem vê a jovem ensinar a língua estrangeira não imagina os obstáculos que ela teve que superar para se tornar professora.

Prematura de seis meses, ela teve a retina queimada por excesso de oxigênio ainda na incubadora e perdeu 100% da visão, mas nunca desanimou por causa da deficiência. “Estou apaixonada por ensinar”, afirma ao ser questionada sobre a profissão que assumiu há seis meses. Duas vezes por semana, ela se desloca do bairro onde vive para o Centro da cidade para dar aulas em uma turma mista e “especial”, formada apenas por deficientes visuais.

Para Josi, como é conhecida, a oportunidade de lecionar não é apenas prazerosa, como desafiante. “Eu gosto bastante, mas também acho que é um desafio e tanto passar o que sei para outras pessoas. Estou muito feliz porque o conhecimento que passo está sendo absorvido pelos alunos e o fato de ser uma turma de deficientes visuais nos coloca no mesmo nível, no entanto, eu pretendo lecionar para turmas regulares também”, pontuou.

A ideia da escola é garantir o acesso ao ensino e por isso, em parceria com a Associação de Assistência aos Deficientes Visuais (AADV), que fornece livros em braile, montou uma turma com alunos bolsistas, conforme explicou a coordenadora da instituição, Michelle Franco. “Nós queremos garantir ao acesso das pessoas ao ensino e convidamos a Josi para dar estas aulas, já que ela e os estudantes estão na mesma condição e o ensino flui até melhor, mas nossa ideia é também que ela ministre aulas para turmas de alunos videntes, como são chamados os que enxergam normalmente”, comentou.
Aprender inglês vai abrir mais portas"
José Gabriel
estudante
As aulas
Durante as aulas, os estudantes que possuem deficiência utilizam livros em braile e os que têm baixa visão utilizam o material ampliado. As correções das lições são feitas por e-mail e a expectativa é de que eles façam um módulo por semestre.
Para quem frequenta as aulas, essa é uma oportunidade de ampliar os conhecimentos e agregar valor ao currículo, como disse o estudante João Gabriel Lopes do Val. “Aprender inglês vai abrir mais portas na minha vida. Vou ter uma vantagem no mercado de trabalho para quem não fala inglês”, disse.
Quem também acredita nisso é a doceira Giane Cancian, de 38 anos. Ela confessa que antes não tinha tido vontade de cursar inglês. “Eu tinha uma resistência muito grande por causa do inglês da escola regular, mas agora, com uma turma específica, estou me sentindo muito a vontade e aprendendo rápido  também”, pontuou.
Aulas acontecem duas vezes por semana em Poços de Caldas (Foto: Jéssica Balbino/ G1)Aulas acontecem duas vezes por semana em Poços de Caldas (Foto: Jéssica Balbino/ G1)
Trajetória
As oportunidades nem sempre surgiram facilmente na vida de Josiele. Na infância, ela frequentou a AADV para ser alfabetizada em braile e a partir dos sete anos, entrou na escola regular. Em seguida, conseguiu uma bolsa de estudos de 100% na universidade, onde fez Letras. Para isso, precisava viajar diariamente cerca de 40 km, de Poços de Caldas a São João da Boa Vista (SP), onde fica o campus.
“Era um pouco mais complicado do que hoje porque não tínhamos tanta tecnologia. A tecnologia ajuda muito quem tem deficiência visual. Mas, o mais difícil mesmo é quebrar a barreira do preconceito, já que muitas pessoas acham que os deficientes não são capazes, mas nós somos”, pontuou.
Prova disso é que a contrapartida para estudar na universidade era integrar um projeto de inclusão, onde ministrava aulas de braile e computação para deficientes visuais e também para pessoas que enxergam.
Atualmente, ela mora com os pais, vai até o trabalho de ônibus e pratica diferentes atividades, além de se preparar para cursar pós-graduação em educação especial.  “Eu costumo brincar que a única coisa que nós, deficientes visuais, não podemos fazer é dirigir, o restante, tudo é possível”, disse.
Por isso, Josi incentiva as pessoas a ‘enxergarem’ para além dos preconceitos e a lutarem pelo que desejam. “Se eu puder dizer algo para alguém, diria para que não fiquem trancafiados em casa, valorizando apenas os problemas e achando que a vida acabou. Tem que dar a volta por cima e ir à luta”, finalizou
.

O mundo depende do policial americano mais do que se dá conta.

Crise na Síria: aliança  atlântica  



vacila


Gideon Rachman

Em 1899, Rudyard Kipling, poeta preeminente do imperialismo britânico, redigiu algumas estrofes dirigidas aos EUA. "Assuma o fardo do homem branco", exortou ele: "As guerras selvagens pela paz/ Sacie os famintos/ E proclame, das doenças, o cessar". Atualmente, os EUA têm um presidente negro e nenhum intelectual se atreveria a usar a linguagem imperialista de Kipling. Mas a ideia de que os EUA têm um peso especial em polícia do mundo está muito viva. A ideia estava lá, na exortação de Barack Obama por ação militar contra a Síria: "Nós somos os EUA", declarou o presidente - delineando o papel especial de seu país na criação e na defesa da ordem mundial pós-1945.
Mas, estarão os EUA ainda dispostos a desempenhar o papel de polícia do mundo e a travar as "guerras selvagens da paz"? Essa pergunta vai pairar sobre o debate no Congresso em torno da intervenção na Síria. A própria hesitação de Obama e as pesquisas de opinião nos EUA evidenciam que muitos americanos têm sérias dúvidas. E elas provavelmente serão reforçadas pela decisão britânica de não participar de uma intervenção militar na Síria. Quase 80 anos após a morte de Kipling, muitos no Reino Unido têm interpretado a decisão do Parlamento como um sinal de que o Reino Unido finalmente descartou o instinto pós-imperial de policiar o mundo, até mesmo como xerife adjunto dos EUA.
Como o Reino Unido é o quarto maior poder militar no mundo, e membro do Conselho de Segurança da ONU, tal decisão produzirá ramificações em âmbito mundial. Mas se os EUA tomarem um caminho semelhante, isso abalaria verdadeiramente o mundo. Mas a possibilidade claramente existe. Os EUA estão cansados de guerras, depois do Iraque e do Afeganistão, e sua economia foi enfraquecida pela recessão. A revolução do gás de xisto tornou o país menos dependente do Oriente Médio. Os americanos, de Obama para baixo, já não acalentam a ilusão de que suas tropas serão recebidas com flores em países estrangeiros. Em vez disso, como advertiu Kipling, eles aprenderam a esperar "a pecha de culpados lançada pelos alvos das melhorias/ O ódio daqueles que protegeis".
Os adversários dos EUA tirarão suas conclusões se os EUA não agirem na Síria, e o mesmo valerá para seus aliados. Os governos do Japão, Israel e Polônia, para citar apenas alguns, irão, todos, sentir-se menos seguros se o Congresso votar contra a ação militar na Síria.
Como no Reino Unido, parece ter se aberto um fosso, nos EUA, entre um establishment de política externa que ainda assume que seu país deve policiar o mundo - e uma opinião pública mais cética. As pesquisas mostram que quase três quartos do público britânico aprovaram a decisão do Parlamento sobre a Síria. Enquanto isso, o debate no Congresso terá lugar num contexto em que as pesquisas de opinião mostram que os americanos estão divididos ao meio em relação aos ataques com mísseis de cruzeiro planejados pelo presidente.
Essas ansiedades em relação à Síria são inteiramente compreensíveis. Embora Obama tenha sublinhado triplamente sua intenção de estar contemplando apenas um ataque limitado, existem algumas questões que ele não pode realmente responder. O que acontecerá se Bashar al-Assad, o líder sírio, não se abalar e usar novamente armas químicas? Estaremos dispostos a ignorar todas as outras formas de violação dos direitos humanos na Síria? Será que os EUA têm alguma visão política viável para o futuro da Síria? Disparar alguns mísseis de cruzeiro contra Damasco e esperar que isso melhore as coisas de alguma forma não parece ser uma estratégia muito sofisticada.
Há questões mais amplas. Os EUA vêm-se como garantidores da segurança mundial desde 1945, mas isso nunca significou intervir em todos os conflitos ou fazer cessar todos os abusos contra os direitos humanos. Os EUA não intervieram na guerra Irã-Iraque dos anos 1980, que, como o conflito sírio, foi travada entre dois campos nos quais os EUA não tinham confiança e também envolveu o uso de armas químicas.
A noção de que o papel dos EUA hoje envolve intervir em conflitos civis particularmente sangrentos ou fazer valer uma proibição ao uso de determinadas armas ganhou terreno apenas desde os anos 1990. Suas origens encontram-se no genocídio em Ruanda, na guerra na Bósnia e no desenvolvimento de uma nova doutrina sobre "armas de destruição em massa", como parte de uma guerra contra o terror.
Num discurso em 2009, Tony Blair, ex-primeiro-ministro britânico que muito fez para desenvolver essa doutrina de intervencionismo liberal, perguntou retoricamente: "Deveríamos agora voltar a uma política externa mais tradicional, menos ousada, mais cautelosa, menos idealista, mais pragmática, mais disposta a tolerar o intolerável por medo das consequências imprevisíveis que as intervenções podem trazer"? A Câmara dos Comuns respondeu agora afirmativa e claramente essa indagação, repudiando o legado blairista.
A rejeição, pelo Congresso, de um envolvimento na Síria seria um sinal de que os EUA também estão revertendo a uma visão mais tradicional e restrita de que as ações de uma potência estrangeira justificariam a mobilização do poderio militar americano. Em teoria, portanto, uma recusa a agir na Síria não envolveria necessariamente uma total abstenção americana do papel de polícia mundial. O problema é que - além de incentivar novas atrocidades pelo regime de Assad - a decisão dos EUA, seria inevitavelmente interpretada como o envio de uma mensagem muito mais ampla. Isso se deveria à crença em que "linhas vermelhas" de advertência americanas significam algo que sustenta grande parte da arquitetura de segurança mundial - do Oceano Pacífico ao Golfo à relação russo-polonesa.
Para bem ou para mal, Obama traçou uma linha vermelha na Síria. Como ele sugeriu no fim de semana, os adversários dos EUA tirarão suas conclusões se os EUA não agirem na Síria, e o mesmo valerá para seus aliados. Os governos do Japão, Israel e Polônia, para citar apenas alguns, irão, todos, sentir-se menos seguros se o Congresso votar contra a ação militar na Síria. O mundo depende do policial americano mais do que se dá conta. (Tradução de Sergio Blum)
Gideon Rachman é o principal analista de assuntos internacionais no FT.

Leia mais em:
http://www.valor.com.br/opiniao/3256404/crise-na-siria-alianca-atlantica-vacila#ixzz2e2Tuo8XO

Retrato da violência - Ana Rita e Ângela Portela

O Globo - 05/09/2013

A entrega do Relatório Final da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito da Violência Contra a Mulher (CP-MIVCM), à presidente Dilma Rousseff, em sessão solene do Congresso Nacional, foi um marco na luta das mulheres brasileiras pela garantia de seus direitos, principalmente, o enfrentamento à violência de gênero. O relatório se constitui no mais completo diagnóstico sobre a situação das políticas públicas de enfrentamento a esse tipo de violência no Brasil, e o ato de sua entrega representou o compromisso dos poderes Executivo e Legislativo com a luta das mulheres brasileiras, por igualdade nas relações de gênero em todos os espaços da vida em sociedade.

 A presidente Dilma Rousseff assumiu o compromisso de adotar as propostas da CPMI na implementação de políticas públicas para combater a violência doméstica e sexual no país. No Senado, já estão em tramitação os projetos apresentados pela CPMI. Na semana passada, foram aprovados quatro, que seguem, agora, para a Câmara dos Deputados. São eles: * o que classifica a violência doméstica como crime de tortura; * o que garante o atendimento especializado no SUS às vítimas de violência; * o que assegura benefício temporário da Previdência às vítimas, e, * o que exige rapidez na análise do pedido de prisão preventiva para os agressores. Outros três projetos já estão em análise na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) do Senado. Decorrente da preocupação com o fato de o Brasil ocupar o 75 lugar entre os 84 países que mais matam mulheres em todo o mundo, com uma taxa de homicídios de 4,6 assassinatos em cada grupo de 100 mil mulheres, a CPMI faz 73 recomendações aos três poderes constituídos e aos estados visitados.

 Todas as recomendações se fazem procedentes. A sociedade brasileira conhece o incômodo problema de violência contra a mulher. Pesquisa realizada pelo Instituto Patrícia Galvão e o Data Popular revela que 54% das pessoas entrevistadas disseram conhecer uma mulher que já foi agredida por um parceiro, enquanto 56% afirmaram que conhecem um homem que já agrediu uma companheira. Fragmentos desta realidade estão nas 1.045 páginas do relatório final da CP-MI com o panorama da violência doméstica e sexual que é praticada contra as mulheres em todos os estados brasileiros, por companheiros, namorados ou ex-maridos.

 As recomendações da CPMI já começam a produzir resultados concretos. Acreditamos que, daqui para frente, o relatório possa servir como guia à elaboração de políticas públicas e à afirmação do programa Mulher, Viver sem Violência, lançado pelo governo federal.

 O fim da violência contra as mulheres depende do fortalecimento da legislação em vigor e da elevação de consciência sobre a perversidade da violência. Mas depende, também, de uma mudança de mentalidade da so ciedade. Viver numa sociedade sem violência é o desafio do presente. Ana Rita (PT-ES) e Ângela Portela (PT-RR) são senadoras

O que é que a Bahia não tem? - Malu Fontes

Malu Fontes: o que é que a Bahia não tem?

Cantada em prosa e verso desde as canções de Caymmi até os versos mais novinhos dos hits da axé music, a Bahia não vem sendo sinônimo de terra da felicidade e oportunidade para muitos de seus próprios filhos. Ao anunciar esta semana que a população brasileira ultrapassou a barreira dos 200 milhões de pessoas, o IBGE divulgou também os dados sobre os fluxos migratórios entre as diferentes regiões do país. Os números não devem ser lidos lá com muito orgulho pelos baianos e seus governantes, afinal, antes de qualquer outro argumento socioeconômico, se há algo quase deformado no comportamento baiano é a autoestima e a crença de que aqui tudo é melhor do que em qualquer lugar do mundo. E se aqui é o melhor lugar do mundo, por que os baianos vão embora?Malu Fontes*
 
Portanto, não é comemorável o fato de a Bahia ser o estado que ocupa o 1º lugar no ranking dos que exportam população para outras regiões, principalmente para o Sudeste. Embora a imprensa nacional trate de forma hiperbólica a pobreza em estados como o Piauí e o Maranhão, o Piauí e sua população estão entendendo-se muito bem e, durante todo o ano de 2013, o Maranhão mandará para fora de suas fronteiras cerca de 38 mil pessoas, enquanto a Bahia, isolada no desconfortável 1º lugar de exportadora de gente e mão de obra, mandará para outras regiões 50.700 habitantes.

Se a Bahia é tão encantadora e se os discursos governamentais asseguram nas propagandas oficiais o quanto houve de melhoria nas condições de vida na região Nordeste e Norte, por que os fluxos migratórios nacionais insistem em desmentir os discursos oficiais. Apesar do crescimento da industrialização, da ascensão das classes C e D e dos programas de transferência de renda do governo federal, a região e, sobretudo a Bahia - se é verdade que os números não mentem - ainda deixa seus cidadãos à deriva quando se trata de oportunidades de uma vida melhor. 
 
Ou, pior que isso: muitos que migram o fazem não em busca, necessariamente,  de um grau a mais na qualidade de vida cotidiana, como a possibilidade 
de um salário melhor ou de educação para os filhos. Partem, infelizmente, em busca  da sobrevivência, de um salário, seja qual for, o que jamais tiveram ou 
teriam em seus torrões, marcados secularmente pelo atraso crônico perpetrado por coronéis que repassam o poder de geração em geração. Ou alguém pensa que foi por ambição salarial que os oito maranhenses mortos entre as dez  vítimas fatais no desabamento do edifício em obras em São Paulo entraram num ônibus para cruzar o país e viverem amontoados em condições sub-humanas em alojamento de obras? 

Ainda sobre o que é que a Bahia não tem para que parte de sua população considere como a melhor saída a rodoviária e o aeroporto, não custa pensar em categorias muito distintas mas que, individualmente, talvez tenham muito a dizer sobre o atual estado de coisas na terra mítica da felicidade: o que os jovens das cidades mais pobres do interior ou das periferias da capital podem antever como perspectiva de vida futura em termos de formação, empregabilidade e renda futuras? E os turistas que compram a Salvador dos cartões-postais e que têm chegado aqui nos últimos anos, que atrativos mesmo têm encontrado para desfrutar? Do jeito que as coisas aparecem a olho nu (embora sempre haja estatísticas para dizer que caminhamos para o melhor dos mundos e que outrora habitávamos o inferno), é bom rezar para que não estacionemos na terra do “tem, mas acabou”, o mantra repetido nos botecos de Salvador quando o cliente quer uma bebida ou comida que está no cardápio, mas em falta na casa.
* Malu Fontes é jornalista e professora de jornalismo da Ufba

Tv Paga



Estado de Minas: 05/09/2013 


Todo mundo vai acabar dançando

Este mês, a série Coleções, exibida toda quinta-feira, às 21h30, no SescTV, vai destacar as danças populares brasileiras, como a ciranda, o caboclinho e a catira. O primeiro documentário dessa nova fase leva o assinante a Serra Talhada, no sertão pernambucano, para contar a história do xaxado. A produção explica as variantes e os passos da dança e sua ligação com o ciclo do cangaço. Já na faixa das 23h, de hoje ao dia 12, a série Dança contemporânea vai mostrar espetáculos com companhias que participam da Bienal Sesc de Dança 2013, em Santos, começando hoje com Pequenas frestas de ficção sobre realidade insistente, do grupo catarinense Cena 11. E às 20h40, no Arte 1, vai ao ar o especial Living the dance – A vida em movimento, de Marijke Jongbloed.

Ná e Dante Ozzetti soltam
suas vozes no Canal Brasil


Dança combina com música, certo? Então, outra boa pedida de hoje é o programa Zoombido, às 21h30, no Canal Brasil. Paulinho Moska segue com a nova temporada, batizada “Memórias artesanais”, recebendo os irmãos Ná Ozzetti e Dante Ozzetti num bate-papo sobre suas carreiras. A dupla revela suas influências musicais e os caminhos da composição e ainda interpretam A velha fiando, Canto em qualquer canto e Ultrapássaro. Às 22h, no Multishow, o assinante confere os vencedores da 20ª edição do prêmio da música brasileira.

Larry David tenta explicar
de onde vem seu humor


Um dos criadores do fenômeno Seinfeld ao lado do próprio Jerry Seinfeld, Larry David é o entrevistado de David Steinberg esta noite em Por dentro da comédia, às 22h, no +Globosat. David já andou fazendo cinema, mas seu grande sucesso pós-Seinfeld é Curb your enthusiasm, que ainda está na grade da rede HBO.

Vá aos maiores aeroportos
do mundo com o Nat Geo


Estreia hoje, às 18h, no Nat Geo, a série Aeroportos, começando por Dubai, nos Emirados Árabes, que recebe 57 milhões de passageiros por ano, com previsãod e atender mais 15 milhões com o novo terminal de US$ 3,2 bilhões. Na sequência, em Obras incríveis, vai ao ar o episódio “O aeroporto de Kansai”, uma das grandes maravilhas da engenharia, localizado no Japão.

Bates Motel encerra hoje
sua primeira temporada


O canal Syfy exibe hoje a minissérie A explosão do Sol, produção que conta a história da primeira viagem à Lua com passageiros. A atriz Julia Ormond é o nome mais conhecido do elenco. As duas partes do programa serão exibidas em sequência, a partir das 19h. Às 22h, o Universal Channel exibe o último episódio da primeira temporada da série Bates Motel, com Vera Farmiga e Freddie Highmore.

TV Cultura exibe filme do
espanhol Pedro Almodóvar


No pacotão de cinema, o destaque de hoje é Fale com ela, do espanhol Pedro Almodóvar, ganhador do Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro em 2002, às 22h, na Cultura. Na mesma faixa das 22h, o assinante tem mais oito opções: Diário de um novo mundo, no Canal Brasil; Morangos silvestres, no Telecne Cult; A vila, no Telecine Action; Sabrina (1995), no Telecine Touch; Selvagens, no Telecine Pipoca; Sobrenatural, na HBO HD; 28 hotel rooms, no Max; e Corrida mortal 2, no Space. Outras atrações da programação: A sogra, às 21h, no Max HD; Pela vida de um amigo, às 21h35, no Glitz; Caçador de recompensas, às 22h30, no Megapix; e Perdidos em Nova York, às 23h, no Comedy Central.

SÉRIE DE VAMPIROS ENCERRA SAGA NA SÉTIMA TEMPORADA‏


CARAS & BOCAS » Entre dois amores 

Simone Castro

Estado de Minas: 05/09/2013 


Gabriel Braga Nunes interpreta Aristóbulo Camargo, que vira lobisomem em Saramandaia (Alex Carvalho/TV Globo)
Gabriel Braga Nunes interpreta Aristóbulo Camargo, que vira lobisomem em Saramandaia

Prestes a encerrar participação em Saramandaia (Globo), na qual interpreta o professor Aristóbulo Camargo e que em noites de lua cheia se transforma em lobisomen, Gabriel Braga Nunes não terá muito tempo para curtir férias. É que ele já está escalado para um dos personagens centrais de Em família, novela de Manoel Carlos que vai substituir Amor à vida a partir de janeiro. Na trama, ele viverá Laerte, primo de Helena (Júlia Lemmertz), que se envolve com a moça na adolescência, quando será interpretada por Bruna Marquezine. Já na idade madura, Helena tem uma filha, Luiza, também papel de Bruna. E aí o velho amor do passado retorna com força total e os primos namoram outra vez, mas Laerte também será fisgado pela filha da protagonista. Detalhe: o personagem de Gabriel era inicialmente de Marcos Palmeira, mas o ator pediu dispensa da produção alegando cansaço por ter emendado três trabalhos: Cheias de charme, O canto da sereia e Saramandaia.

ARQUITETURA SUSTENTÁVEL É
TEMA DE ATRAÇÃO DA TV PAGA


Arquitetura ecológica, paisagismo, design e sustentabilidade são os temas de Arquitetura verde, que estreia amanhã, às 21h, no canal +Globosat (TV paga). A atração vai levar o telespectador a viver de forma intensa este universo, com a participação da bióloga Assucena Tupiassú em um dos quadros, o “Que planta é essa?”. No total, serão 26 episódios.

SÉRIE DE VAMPIROS ENCERRA
SAGA NA SÉTIMA TEMPORADA


True blood, festejada série de vampiros, encerrará saga depois da sétima temporada, em 2014. A HBO (TVpaga), responsável pela produção, fez o anúncio anteontem. “True blood foi, no mínimo, um show marcante na HBO”, disse, em comunicado, Michael Lombardo, presidente de programação do canal. “Allan Ball (criador da série) pegou os livros de Charlaine Harris, juntou um elenco brilhante liderado pela magnífica Anna Paquin no papel de Sookie Stackhouse e montou um programa que levou seus inúmeros e devotados fãs a uma jornada inesquecível.” Em True blood, cientistas conseguem sintetizar o sangue humano, o que faz com que os vampiros passem a tentar viver como cidadãos comuns. A sétima temporada terá 10 episódios e, de acordo com o produtor-executivo, Brian Buckner, o final será “poderoso.” True blood também é exibido no Brasil pelo SBT/Alterosa, com o nome de Gosto por sangue.

CONFIRA SELTON MELLO EM
ESPECIAL DO COMÉDIA MTV


A MTV Brasil, juntamente com o My MTV, promove diversos especiais neste mês. Hoje, às 22h, relembra o Comédia MTV, com a reprise da última edição que foi ao ar em 2010, com a participação especial de Selton Mello. O ator participa de cinco esquetes com o elenco. Além disso, a atração relembra sucessos musicais, como Gaiola das cabeçudas e O lado bom de ser gay, em um acústico que terá a presença de Família Lima, Jeito Moleque, Valesca Popozuda e do rapper
De Leve.

POTENCIAL MÁXIMO

Jennifer Lopez também sofre de momentos de insegurança como todo mundo. A cantora de 44 anos revelou à revista Cosmopolitan que esteve com a autoestima em baixa durante algum tempo, logo depois de dar à luz os gêmeos Emme e Max, de 5 anos. “A minha maior insegurança era na hora de cantar. Mesmo tendo vendido 70 milhões de discos, rolava um sentimento de ‘não sou boa nisso’”, confessou. Na época, a estrela era casada com Marc Anthony. “Marc me ajudou a superar. Ele me dizia ‘você é a única pessoa que está impedindo você mesma de alcançar seu potencial máximo como cantora’”. Jennifer lembra: “Então, aos poucos, fui crescendo e percebi: pera lá, não estou aqui por acaso, não sou um erro. Eu trabalho pra caramba! Eu sei o que estou fazendo!”. E concluiu: “Para mim, isso é criar sua própria vida: fazer o seu melhor trabalho enquanto se é a melhor pessoa”.

VIVA

Da série “efeitos especiais primorosos”, vale ressaltar a cena de Saramandaia em  que Gibão (Sérgio Guizé) mostra as asas para a namorada e faz o seu primeiro voo. Uma pintura!

VAIA

Para quem é escolada e tem um plano montado, Márcia (Elizabeth Savalla) dá, no mínimo, uma derrapada e tanto ao mandar filha revelar gravidez, antes do casório, em Amor à vida. 

MARINA COLASANTI » Fome e polenta‏


Estado de Minas: 05/09/2013 




Faço uma polenta mole, derramada bem quente sobre pedaços de queijo brie, coberta com cogumelos salteados, tomate no azeite e parmesão ralado, que é de se comer trajando roupa de bispo.

Levei um minuto escrevendo isso. Considerando que no mundo, a cada cinco segundos, uma criança morre de fome, quantas crianças morreram enquanto descrevia esse prato?

Vou a restaurantes e vejo pessoas fotografando a comida, mesmo se insignificante do ponto de vista gastronômico. As fotos vão para a internet, onde são consumidas por outras pessoas. Há um casal que janta fora várias vezes por semana, fotografa todos os pratos antes de comer e gasta uma fortuna em restaurantes. Mas não é por isso que 18 milhões de pessoas morrem de fome a cada ano.

Alimentos não faltam, garantiu Jean Ziegler, sociólogo suíço , ex relator da Organização das Nações Unidas  para o Direito à Alimentação. Falta tê-los ao alcance.

Em seu livro O imperador, sobre Hailé Selassié, o jornalista polonês Kapuscinski conta que quando em 1973 o jornalista da televisão inglesa Jonathan Dimbleby chegou mais uma vez à Etiópia, já era considerado um amigo e todas as portas se abriram para ele. Mas Dimbleby foi ao Norte do país, filmou milhares de etíopes morrendo de fome e estradas cheias de esqueletos de pessoas mortas por inanição. O filme foi visto em todo o mundo. Movidos pelo escândalo, observadores, missionários, médicos e membros de organizações humanitárias rumaram para a Etiópia e descobriram que ao lado dos que morriam de fome, armazéns e lojas estavam abarrotados de gêneros. O problema não era a falta de alimentos, era a especulação.

Meu amigo David, do Médicos sem Fronteiras, era uma criança em 1973. Agora, com sua instituição, vai quase todos os anos à Etiópia lutar contra a fome. A fome só se altera enquanto eles estão lá, para voltar à antiga forma depois que partem.

A produção agrícola só faz crescer e, conforme aprendo na entrevista de Ziegler, o mundo poderia alimentar, com uma dieta de 2,2 mil calorias diárias, 12 bilhões de pessoas. Muitíssimo mais do que os que já comem e dos que não o fazem.

E dizer que os pobres sempre souberam transformar em comida qualquer mínimo alimento disponível. Entre uns tantos livros de culinária na minha estante, tenho um que comprei há muitos anos, mais por ternura do que por gula. É La cucina povera, de Houguette Fouffignal. Comem muita sopa os que têm pouco para comer e a sopa pode ser qualquer coisa que tenha um caldo, apenas algo mais do que água quente, para aquecer o ventre semivazio. Cozinhar as ervas ou folhas que se apresentem e molhar sobras de pão. Na Birmânia, se faz com sobras de peixe (cabeças, pele e espinhas) e folhas de couve; na Grécia, com dois ovos, suco de limão e um punhado de arroz; na Península Ibérica, com as ervas perfumadas que o sol garante, quatro dentes de alho, quatro azeitonas, os mesmos ovos gregos e sobras de pão. Nesses lugares, como em tantos outros, a sopa costumava ser o único prato da refeição.

A terceira edição do Rio Gastronomia, que se realizou no mês passado, envolveu 400 restaurantes, um caminhão-cozinha itinerante, programas de televisão e um batalhão de chefs. Foi muito bem-sucedido. A gastronomia tornou-se um ótimo negócio. Já a comida, é apenas uma necessidade.

Cortando um dobrado‏ - Eduardo Tristão Girão

Banda Filarmônica 1º de Maio, do Bairro Horto, conta com empenho dos músicos para sobreviver e honrar a história do grupo musical que já se apresentou para Vargas e JK 


Eduardo Tristão Girão

Estado de Minas: 05/09/2013 


Ensaios das terças-feiras são sagrados e reúnem jovens e adultos na sede da banda. Músicos lutam para pagar as contas e sonham com a reforma da sala (Fotos: Marcos Vieira/EM/D.A Press)
Ensaios das terças-feiras são sagrados e reúnem jovens e adultos na sede da banda. Músicos lutam para pagar as contas e sonham com a reforma da sala

My way, canção clássica na voz de Frank Sinatra, soa pelo humilde galpão da Rua Artur Alvim, 130, no Bairro Horto, em Belo Horizonte. Arrepia o ouvinte do mesmo jeito, pouco importando o piso desnivelado, o taco surrado, as paredes no reboco e as cadeiras quase insuficientes. O IPTU está atrasado e a quitação das contas de água e luz depende sempre da cooperação dos músicos amadores que, semanalmente, comparecem ali para as aulas e ensaios a Banda Filarmônica 1º de Maio, uma das mais antigas da cidade, atualmente recobrando seu vigor.

A banda, que completa nada menos que oito décadas ano que vem, esteve praticamente extinta. Criada por ferroviários que se reuniam para tocar nas oficinas dos trens da antiga Rede Mineira de Viação, teve a honra de tocar no Palácio do Catete (Rio de Janeiro) para o então presidente Getúlio Vargas, na posse de Juscelino Kubitschek quando foi eleito presidente (no mesmo local) e na inauguração de Brasília. Passou alguns anos desativada e sua sede quase foi a leilão.

Com novo presidente eleito este ano, o saxofonista Adilson Proense Vieira, a banda vem atraindo músicos de todas as idades para aulas e ensaios. Os encontros semanais, agora, contam com 30 a 40 participantes, entre homens, mulheres, crianças, idosos, reservistas, aposentados e todo tipo de profissionais, de motofretista a advogado, passando por dono de açougue, caso do próprio Adilson. O predomínio é de músicos de sopro, com regência a cargo de Jorge Ubirajara Costa da Luz, que é primeiro-sargento do Exército.

Para todos, o compromisso de estar ali nas noites de terça é sagrado. Pouco a pouco, a banda retoma a intimidade com repertório de cerca de 60 peças, incluindo não apenas dobrados e marchas, mas também composições populares como Sampa (Caetano Veloso), Carinhoso (Pixinguinha e João de Barro) e Coração de estudante (Milton Nascimento e Wagner Tiso). Qualquer um pode assistir e qualquer um pode aprender a tocar um instrumento ali. Basta querer fazer parte da banda.

Bolso
Ninguém paga por nada e os músicos levam para casa os instrumentos que pegam emprestado da banda. Dinheiro, como é de se esperar, faz falta ali. Quando ninguém se oferece para pagar contas de água e luz da sede, é o próprio presidente que se encarrega de fazê-lo, com dinheiro do próprio bolso. “Pedi cimento e areia para empresários e outros músicos para começarmos a reforma com nossos próprios recursos”, conta Adilson.

A propósito, ele comemora notícia publicada no Diário Oficial do Município em 28 de junho, informando que o Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural de Belo Horizonte decidiu apoiar financeiramente essa obra, que consiste em melhorias no piso e nas paredes, orçada em R$ 80 mil. Entre as próximas melhorias, estão a compra de uniformes para os integrantes e de um móvel para armazenar as pilhas e pilhas de antigos documentos e fotos da banda – hoje amontoados num armário úmido e velho.

Com fôlego de sobra, a cargo de jovens entusiasmados e veteranos felizes por voltar a tocar, a banda espera não apenas manter viva tradição, mas voltar a tocar. Sem incentivo financeiro para viabilizar deslocamentos dentro de Belo Horizonte e viagens, ela se viu obrigada a recusar convites para tocar em cidades como Santa Bárbara e até no Centro Cultural Lagoa do Nado, no Bairro Itapoã, na capital mineira. “Estamos dispostos a tocar em qualquer lugar”, diz o presidente.



Palavra de músico


“Quando criança, aprendi música numa banda em Ponte Nova. Fui corneteiro no Exército e no Corpo de Bombeiros. Depois de muitos anos, estou voltando à música. Já fui regente desta banda e queremos uma escola de música gratuita para todas as idades.”
Jaime Maciel Filho, 53 anos, bombeiro reformado e tubista


“Frequento a banda desde 1960 e, antigamente, era muito organizada, fabulosa. Tinha apoio da Central da Brasil e chegou a ter 50 músicos. Foi acabando, os músicos morrendo. Chegamos a ter, quando muito oito músicos. Agora melhorou 100%.”
Milton de Assis, 72 anos, reservista e percussionista


“Gostei do trompete no dia em que o Adilson Proense me mostrou. Ele é meu professor e mora no meu prédio. Me falou que é o mais adequado para mim. Quando ouvi o som, achei maravilhoso. Faço aula aqui e um dia quero ser grande como todos os trompetistas.”
Mário Lucas Mafra, 12 anos, estudante e futuro trompetista


“Moro aqui perto e ouvia as pessoas falarem sobre a banda. Toco clarinete há quatro meses e estou aprendendo muito rápido. Para mim, é muito importante aprender a me expressar por meio de um instrumento.”
Fernanda Madureira da Silva, 26 anos, comerciante e clarinetista


“Além de tocar aqui, sou presidente da Banda Carlos Gomes e o comportamento das crianças que participaram de nossos projetos serve de exemplo. Infelizmente eles acabaram, mas tenho certeza de que teriam se tornado músicos.”
Geraldo Manuel Pereira, 67 anos, presidente da Banda Carlos Gomes e trompetista


“Entrei na banda há seis meses, mas toco desde os 17 anos. Meu avô Olímpio Ferreira foi um dos fundadores desta banda. Percebo sentimento de perpetuação, de pensarmos não apenas em patrimônio material e privado, de mantermos algo nobre como esta banda.”
Arley Ferreira, 52 anos, advogado e clarinetista


“Trabalho das 9h às 18h e depois corro para cá. É minha segunda casa, minha segunda família. Sempre brinquei com a flauta e, de dois anos para cá, faço aula. É um sonho estar aqui tocando com todo mundo, muito estimulante.”
Ilânio Tironi Gregório, 45 anos, motofretista e flautista


“Trabalho aqui perto e ouvia a banda tocando. Queria aprender trompete, mas eles precisavam de percussionista. Falei que estava dentro. Não tocava nada e faz um ano que tenho aulas. Comprei um pandeiro para praticar.”
Hermes Perdigão, 47 anos, auxiliar administrativo e percussionista

Eduardo Almeida Reis-Tolices‏

Enquanto envolvido com o texto, às voltas com as melhores palavras aqui ou ali, eventualmente acolá, não penso bobagens 



Eduardo Almeida Reis


Estado de MInas: 05/09/2013 


É inevitável que todo pensante remoa besteiras. Uns mais, outros menos, todos pensam tolices. É por isso que gosto de escrever: enquanto envolvido com o texto, às voltas com as melhores palavras aqui ou ali, eventualmente acolá, não penso bobagens.

Ainda hoje à tarde, depois de uma siesta caprichada, ocorreu-me o seguinte pensamento: será que os animais padecem da síndrome de Coughlan? Como sabem os leitores que consultam a Wikipedia, a Coughlan’s syndrome ou anosgarmia é um tipo de disfunção sexual em que a pessoa não alcança o orgasmo, mesmo com estimulação adequada. É muito mais comum entre as mulheres e especialmente rara nos jovens.

Como saber se os touros, os pernilongos, os sapos-cururus têm orgasmos? Claro que há o instinto natural de transmitir os genes, mas a pergunta é a seguinte: será que touros, pernilongos, sapos-cururus e suas respectivas senhoras têm aquela efervescência de sentimentos, a excitação incontrolável do espírito que ocorre na maioria dos homens e em 60% de suas companheiras?

Leia 60% ou 59%, que também podem ser 23% ou 64%: estudei o assunto há tanto tempo, que já não me lembro dos números presumivelmente exatos. Desconfio da existência de máquinas que, instaladas nas cabeças dos cururus e dos touros, possam transmitir as emoções da espécie durante o ato. Difícil deve ser acoplar um elétrodo (forma preferível de eletrodo) na moleira de um pernilongo, mas com a nanotecnologia nada é impossível.

Deixei fora da pesquisa o cavalo, porque assisti à transmissão dos genes do Califa, garanhão manga-larga marchador da fazenda de um amigo em São Brás do Suaçuí, no ano de mil novecentos e antigamente. O castanho Califa era trazido da cocheira, posto com a égua no cio, fazia o que era preciso fazer e se deixava ficar, feito morto, sobre a companheira durante alguns minutos.

Nas raras vezes em que alguém resolveu levar a égua de volta para o pasto, o digno Califa caiu duro no chão, patas esticadas, olhos fechados e leve sorriso nos lábios, que também atendem entre os equídeos, di-lo a ezoognósia, pelo nome de lábios. Mais que a transmissão de genes, as coberturas do castanho eram espetáculos assistidos por todos os moradores da fazenda, empregados e suas famílias, mulheres, sogras, filhos, noras, genros e netos. Creio desnecessário dizer que já estudei ezoognósia.

Baixo nível
Mário e Fernando Vieira de Sá – pai e filho, agrônomo e veterinário portugueses – escreveram um livro sobre vacas leiteiras que muito me divertiu e diverte. Já no primeiro capítulo disseram-se convencidos da inutilidade do seu trabalho “dado o alto grau de baixo nível do nosso povo, cujo índice mais verídico é o analfabetismo”. Em seguida, recomendaram que as paredes do estábulo tivessem resistência suficiente para suportar o seu próprio peso, como se tivesse cabimento fazer parede para desmoronar com o seu peso. E o negócio vai por aí com o retireiro vestindo fato-de-macaco branco nas operações de mungidura, o que significa dizer macacão branco para ordenhar as vacas.

Dia 28 de agosto, no episódio Natan Donadon, lembrei-me dos doutores portugueses dado o alto grau de baixo nível os senhores deputados federais, cujo índice mais verídico é o analfabetismo. No Senado as coisas são iguais ou piores. Fazer o quê? Fechar o Congresso é ditadura. Fechar e convocar eleições democráticas dentro de dois meses, proibindo que todos voltem a ser candidatos pelos próximos 40 anos, seria uma injustiça, porque há duas dúzias, ou três, que prestam.

Tudo bem: sejamos injustos e nenhum dos atuais e seus suplentes poderá candidatar-se nos próximos 40 anos. Sabe qual seria o resultado? Apareceriam outros iguais ou piores, porque o problema é basilar: educação, civismo, vergonha na cara.

O mundo é uma bola
5 de setembro de 1494: Portugal ratifica o Tratado de Tordesilhas. Em 1567, nepotismo escandaloso: Mem de Sá, homem de bem, guerreiro valente, doa a Ilha do Governador, tomada aos índios temiminós, ao seu sobrinho Estácio Correia de Sá. Donde se conclui que o Aeroporto do Galeão pertence aos descendentes dos guerreiros temiminós, que nele terão imenso trabalho para consertar as escadas rolantes, os elevadores, as esteiras e os banheiros, de olho na Copa 2014.

Em 1877, o guerreiro Cavalo Louco, prisioneiro, é morto à baioneta por um guarda de Camp Robinson. Respeitado ameríndio sioux, lutou contra o governo americano para preservar as terras e tradições dos dakotas. Crazy Horse em inglês teria 37 anos quando foi espetado pelo guarda. Ta-sunko-witko em língua dakota, literalmente “seu-cavalo-é-louco”, liderava a tribo Oglala Lakota e sua história não me interessa a mínima, salvo pelo fato de estar precisando de assunto para preencher o mundo é uma bola de hoje.

Em 1940, Hitler ordena ataques prioritários a Londres e outras cidades. Em 1970, terroristas do Setembro Negro matam 11 atletas israelenses durante os Jogos Olímpicos. Em 1966, a Nasa lança a nave Voyager 1. Outro dia, tivemos notícia da Voyager 2, que continua viajando e tirando fotos. Em 2000, Tuvalu é admitido como estado-membro da ONU. A partir do momento em que Tuvalu foi considerado estado-membro com 12 mil habitantes e o lema “Tuvalu mo te Atua”, capital Funafuti, a ONU se desmoralizou de vez.

Em 1638 nasceu o rei Luís XIV, de França, que foi a óbito em 1715. Circulam na internet desenhos dos instrumentos inventados pela medicina da época para livrá-lo de uma fístula anal, que muito o incomodava. Cirurgia sem anestesia.

Ruminanças
“O Estado sou eu” (Luís XIV, 1638-1715).

Compreensão sobre câncer de pâncreas‏


Estado de Minas: 05/09/2013 

Não é novidade para a medicina que a pancreatite (inflamação crônica do pâncreas) pode evoluir e causar o desenvolvimento de câncer no órgão. O modo, entretanto, como ocorre a transformação para o tumor era desconhecido até agora. Pesquisadores da Clínica Mayo de Jacksonville, na Flórida, desvenderam o processo e acreditam que a descoberta abre novos meios para identificar pacientes com riscos de chegar ao câncer, além de viabilizar a utilização de medicamentos para a reversão do processo.

Publicado no The Journal of Cell Biology, o estudo explica a maneira como a pancreatite provoca a transformação de células acinares (responsáveis pela produção de enzimas digestivas) em células ductais (existentes no revestimento de dutos). A mudança dessas microestruturas faz com que elas passem por mutações que, por fim, podem resultar no desenvolvimento do tumor.

Ainda não se sabe por qual motivo ocorre a reprogramação das células, mas uma das explicações possíveis, de acordo com os pesquisadores, é que a produção de enzimas em um órgão danificado (função das células acinares) pode ser mais danoso ao pâncreas devido à inflamação. Apesar dessa lacuna, o autor principal do estudo, Peter Storz , bioquímico e biológo molecular, afirma que a descoberta é uma boa notícia, pois o processo pode ser reversível. 

“Nós identificamos uma quantidade de moléculas envolvidas nessa via que podem ser o alvo no esforço para transformar essas novas células ductais de volta em células acinares, eliminando, com isso, o risco de desenvolvimento de câncer”, afirma. Ratos de laboratórios estão sendo usados para testar a eficácia de medicamentos na reversão do processo. Os medicamentos utilizados no teste já existem no mercado, o que possibilita, caso se confirme a eficácia deles para esses casos, que o tratamento e a prevenção do tumor sejam facilitados.

Prevenção Para desvendar o trajeto da inflamação até o início de um tumor, os pesquisadores analisaram o que acontece quando glóbulos brancos que consomem material estranho no organismo (os macrófagos) reagem a um pâncreas inflamado. A crença anterior, segundo Storz, era de que os macrófagos tinham a função de remover células danificadas do órgão. “Descobrimos que elas não são tão benignas assim. Percebemos que, na verdade, os próprios macrófagos provocam a transformação e criam a estrutura para o desenvolvimento do câncer”, declara.

Chefe de Centro de Oncologia do Hospital Universitário de Brasília (HUB), o especialista em cancerologia Sandro Martins afirma que o estudo revelou experimentalmente como a inflamação pode atuar na iniciação do tumor. Para Martins, a descoberta, de fato, pode auxiliar na prevenção do tumor e contribuir para que o tratamento da doença evolua. “O trabalho abre oportunidade de estudos experimentais sobre quimioprevenção. Pelo uso de drogas inibidoras das vias de sinalização implicadas, em tese, seria possível evitar o aparecimento do tumor pela interferência já na fase inicial”, diz.

O especialista explica, no entanto, que o processo de transformação das células sozinho não é etapa suficiente para o aparecimento do tumor. No caso do pâncreas, ainda não se sabe com clareza quais fatores são responsáveis pelas fases posteriores que levam ao aparecimento da doença. Segundo ele, a formação de câncer, em geral, acontece lentamente, podendo passar vários anos para que uma célula cancerosa se prolifere e dê origem a um tumor visível. 

Jogo recupera a memória em idosos‏

Pesquisadores criam videogame que retoma habilidades cognitivas perdidas ao longo do tempo. Os benefícios foram detectados seis meses após os testes com voluntários que tinham pelo menos 60 anos 


Bruna Sensêve

Estado de Minas: 05/09/2013 

Jogos de treinamento cerebral buscam melhorar habilidades mentais. Com um certo tempo de prática, a tendência é de que os jogadores se tornem ainda melhores na tarefa proposta, mas será que eles conseguem se aprimorar em outras atividades cognitivas diárias? De acordo com artigo publicado hoje na revista científica Nature, sim. É possível que um videogame desenvolvido especialmente para idosos seja capaz de aumentar controles cognitivos que decaem com o envelhecimento, como a memória e a atenção. Os experimentos mostram que o envelhecimento cerebral pode ser mais plástico que o imaginado e, dessa forma, permitir uma melhoria cognitiva — desde que sejam utilizadas estratégias cuidadosas e controladas.

Há três anos, um estudo publicado também na Nature concluiu que jogos com o objetivo de aprimorar as habilidades cognitivas não conseguiam ultrapassar os limites das tarefas executadas durante a brincadeira. Os pesquisadores recrutaram cerca de mil jovens e indivíduos de meia-idade para praticar regularmente tarefas on-line desenvolvidas para melhorar funções cerebrais, como memória, planejamento e raciocínio. Como esperado, eles realmente ficaram cada vez mais espertos nas tarefas pedidas pelo treinamento, mas não houve qualquer alteração de desempenho em outras habilidades cognitivas. Segundo Adam Gazzaley, que liderou o estudo publicado hoje, provavelmente, o resultado registrado anteriormente se deve à idade dos participantes, já que abaixo dos 60 anos a reposição da perda cognitiva talvez não seja tão evidente.

Gazzaley e sua equipe desenvolveram um jogo de computador chamado NeuroRacer. Nele, os participantes são convidados a dois tipos de atividade. No modo tarefa única, o usuário precisa apenas responder a um comando demonstrado na tela e apertar um botão ou conduzir um veículo por uma estrada utilizando um joystick. No modo multitarefa, as duas atividades são realizadas em conjunto (veja infografia). Em um primeiro momento, foram convocados 174 indivíduos, que representaram todas as décadas de vida de uma pessoa adulta, com idade variando entre 20 e 79 anos, sendo cerca de 30 para cada década. Eles foram divididos em grupos que realizavam a tarefa única e outros dedicados à multitarefa. O objetivo era diagnosticar o deficit cognitivo com o passar dos anos. 

Confirmado o decaimento de algumas habilidades com o avançar da idade, o time de pesquisadores realizou um novo experimento, dessa vez, com participantes entre 60 e 85 anos de idade e distribuídos em três grupos: os que jogaram em multitarefa, aqueles que fariam a tarefa única e o grupo de controle. Os últimos não usaram regularmente o jogo e foram usados como uma taxa de cognição de referência. Os outros voluntários deixaram o laboratório da universidade com a missão de praticar o NeuroRacer por uma hora, três vezes na semana e durante um mês. Após esse período, eles retornaram e participaram de novos exames. Eletrodos foram conectados a uma touca para monitorar a atividade cerebral dos indivíduos enquanto eles jogavam novamente.

Os resultados mostraram que a atividade cerebral foi muito aprimorada, superando a do grupo de controle e se aproximando do rendimento cognitivo observado em indivíduos de 20 anos que jogavam pela primeira vez. Os pesquisadores relatam que, seis meses depois, os participantes apresentaram o mesmo desempenho, sugerindo que esse ganho cognitivo pode ser mantido por pelo menos meio ano. Também foi registrado um aumento de atividade na região do cérebro conhecida como córtex pré-frontal, responsável pela tomada de decisão. Os voluntários idosos mostraram-se melhores na retenção de informação a curto prazo e na manutenção da atenção, habilidades que conhecidamente tendem a ser prejudicadas com o avançar da idade.
“Tanto a multitarefa quanto a tarefa única resultaram em melhorias equivalentes no jogo, enquanto apenas a multitarefa levou a grandes melhorias comportamentais, como diminuição de gastos mentais, melhoria de sustentação da atenção e trabalho da memória”, descreve Gazzaley. Para os cientistas, apesar de eles registrarem uma melhora em idosos, esse aprimoramento das atividades cognitivas em jovens com o uso de jogos de computador permanece obscura. No entanto, eles acreditam ser possível que uma versão mais desafiadora de NeuroRacer possa dar conta do recado.

Terapia prazerosa O que mais chamou a atenção da geriatra e conselheira da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) Elizabete Viana de Freitas é que uma atividade prazerosa e divertida pode também ter efeitos para a cognição. Ela compara o funcionamento do cérebro ao dos músculos. “Quanto mais a pessoa ativa as capacidades, ativa a memória e exercita os diversos domínios da cognição, melhor serão os resultados”, explica.
A geriatra, porém, não esperava que essa melhora mais duradoura na performance poderia acontecer com a utilização de um videogame, uma proposta lúdica. “E com efeitos muito duradouros”, completa. “Esse resultado é muito bom porque é possível reunir um grupo de pessoas em uma situação em que há a interação com o jogo lúdico e o estímulo da presença das pessoas, o que traz também a capacidade de socializar mais”, comenta a geriatra. Ela diz ainda que algumas casas de repouso para idosos já utilizam a estratégia como uma forma de atração para os hóspedes com jogos como o Wii. “É muito bom porque é mais agradável exercer uma atividade que é prazerosa que um exercício mais restrito de memória que também é bom, mas pode ser massante.”

Além dos medicamentos

“Não é uma proposta muito nova. Há pouco mais de 10 anos, na Universidade de Tóquio, no Japão, tem um grupo de cientistas que usa o videogame para estudos voltados para a área de demência e reabilitação cognitiva. Nesse artigo, os pesquisadores fazem, principalmente, uma avaliação para multitarefas em indivíduos com pessoas saudáveis. O que de melhor podemos traduzir para o uso cotidiano das pessoas é que é uma promessa futura da possibilidade de ter um ganho cognitivo de uma forma divertida. Todo o mundo pensa em medicações para melhorar essas habilidades, ter uma qualidade de vida maior, mas é possível que não se precisemos de remédio. Talvez, possamos fazer algo divertido, como jogar videogame e ter um benefício cognitivo. Agora, esse estudo sozinho não significa que as pessoas devem buscar os jogos para alcançar isso. Ainda são necessários mais estudos e esse jogo foi montado para o treinamento apenas.”

INFECÇÃO REAL » Rei Ricardo III tinha lombriga


Estado de Minas: 05/09/2013 

Ricardo III sofria de uma infecção de lombrigas. É o que mostra a última análise dos restos mortais do rei feita por pesquisadores da Universidade de Cambridge e publicada ontem na revista The Lancet. Pequenos ovos foram encontrados durante uma análise microscópica nas mostras do esqueleto e do solo onde o antigo monarca foi enterrado. Os vermes seriam o resultado de uma infecção causada por lombrigas. 

Os pesquisadores encontraram ovos de vermes intestinais a partir da pélvis do rei, local próximo aos intestinos, mas nenhum foi achado no crânio e poucos no solo. De acordo com os arqueólogos, isso indica uma possível infecção intestinal e não uma contaminação causada após o enterro. “Nossos resultados mostram que ele estava infectado com vermes no intestino, mas nenhuma outra espécie de parasita intestinal foi encontrada nas amostras estudadas”, informou o líder da pesquisa, Piers Mitchell, ao jornal britânico The Guardian. 

Para os arqueólogos, mesmo a vida nobre do rei não o protegeu da doença. “Acreditamos que os nobres daquela época comiam carnes bovina, suína e de peixe regularmente, mas não havia nenhuma evidência de vermes nessas carnes. Isso pode sugerir que a comida era cozida, o que impediria a transmissão desses parasitas”, declarou Mitchell. As infecções causadas por lombrigas acontecem quando há a ingestão de ovo por meio de alimentos contaminados. Uma vez consumidas, as larvas migram por meio dos tecidos do corpo para os pulmões. Lá, amadurecem, passam das vias aéreas para a garganta e podem ser engolidas de volta ao intestino. 

Os restos mortais de Ricardo III, que governou a Inglaterra de 1483 a 1485, foram encontrados em 2012, em um estacionamento na cidade de Leicester, no centro da Inglaterra. Os investigadores comprovaram a identidade do rei depois de um teste de DNA. Devido às marcas encontradas no crânio, cientistas apontam a causa de morte como um golpe na cabeça. Historiadores contam que Ricardo III foi morto na batalha de Bosworth Field, próximo de Leicester. Um dos reis mais desprezados da Inglaterra, Ricardo III foi imortalizado por Shakespeare. 

No reino da boçalidade - Cora Rónai

No reino da boçalidade - Cora Rónai

O aeroporto internacional Eldorado, de Bogotá, bota no chinelo o patético Galeão

E aí, um dia, a gente recebe uma carta como esta:
“Peço-lhe desculpas por chateá-la com assunto dessa natureza. Infelizmente ainda há pessoas que acreditam que não pode acontecer com elas passar por tanto constrangimento quando precisam da ‘nossa’ polícia.
“Meu sobrinho vem, há alguns anos, meio perdido na vida. Sou professora, graduada e pós-graduada, crio-o desde os sete anos (hoje está com 29) porque a mãe sumiu no mundo e o pai, meu irmão, morreu quando o menino contava apenas dois meses. Temperamento difícil somado à revolta pelo abandono levaram-no às drogas; para manter o vício, foi levado aos assaltos.
“Imagine como sofro, pois tentei dar-lhe carinho e educação. Quando pequeno, levei-o a vários médicos e terapeutas. Crescido, dizia que não tinha problema e vivia a sua maneira. Está preso, pela segunda vez. Condenado, aguarda sua transferência para Bangu em uma casa de custódia em Engenheiro Pedreira, distrito de Japeri, interior do Rio de Janeiro.
“Cheguei há pouco de lá. Estou arrasada. Não consigo entender por que alguns funcionários (infelizmente, maioria) do Sistema de Administração Penitenciária tratam-nos, parentes dos presos, com tanto sarcasmo e desrespeito. Imagino como os presos são tratados. Sei que violaram as leis, sei que muitos oferecem perigo à população, sei que não devem ter mordomias. Não deveria haver mordomia para ninguém que violasse as leis, inclusive os políticos corruptos, os criminosos de colarinho branco. Apenas acredito que, como cristãos, devemos tentar ajudar essas pessoas a viver de forma diferente. Acredito que educando, orientando para o trabalho, ocupando esses jovens, tornando-os úteis, chegaremos a uma realidade tão desejada, ou seja, construiremos e investiremos em escolas e universidades e não precisaremos construir mais presídios.
“Levei para meu sobrinho uma manta de fibra sintética, cor cinza exigida pela casa de custódia. O inspetor disse que não poderia ser entregue. Eu perguntei por quê. Ele, rindo e caçoando, recomendou-me passar pelas ruas à noite, observar bem os mendigos e roubar de um deles um dos cobertores que usam, bem ‘vagabundinhos’, que é o que pode entrar para o preso.
“Você talvez dirá que eu deva procurar a corregedoria. Não é a primeira vez que passo por constrangimentos ou que os testemunhe. Você faz ideia do que pode acontecer ao meu sobrinho se eu fizer a reclamação? Precisa responder? Que país é esse em que não se pode confiar na força policial? Em todo esse tempo de luta (mais ou menos 15 anos) tentando recuperar esse jovem, encontrei apenas alguns poucos policiais que mereciam confiança.
Apenas alguns poucos, Cora. Apenas.
Sou professora. Acredito na Educação. Sou cristã. Não desisto. Perdoe-me o desabafo. Abraços,
Norma Suely”
______
Não sei o que dizer para a Norma Suely. Não sei o que responder a uma carta assim. Não tenho coragem de recomendar que tenha paciência, porque eu não teria. Não tenho como pedir que tenha fé, porque eu não acredito. Não posso insinuar que as coisas vão melhorar, porque eu estaria mentindo: o Brasil que vejo piora a cada dia. Fizemos alguns progressos na área social, dizem que há menos miseráveis, e é possível que isso seja verdade, mas nunca tivemos uma população tão mal preparada, tão mal-educada, tão boçal. Um guarda que destrata os parentes dos presos é reflexo disso. Uma diretoria de presídio que permite este tipo de achincalhe também.
Não basta o país ter a capacidade de transformar miseráveis em pobres. Mais importante do que isso é pensar a longo prazo, é criar uma escola que funcione, da qual os jovens saiam com ferramentas de real progresso nas mãos, em vez de diplomas que, cada vez mais, valem cada vez menos. É entender que educação é, também, um conjunto de valores que forma pessoas melhores e mais humanas. O guarda que fez troça da Norma Suely aprendeu a ler e escrever, mas não sabe nada.
______
Escrevo de Bogotá. Quando o avião decolou do Rio, o comandante da Avianca fez uma homenagem emocionada à equipe de judô que participou do mundial do Rio, e que voltava para casa naquele voo. Concluiu dizendo que jovens como aqueles reafirmavam o seu orgulho de ser colombiano. O casal brasileiro que ia à minha frente deu uma risadinha: “Orgulho de ser colombiano? Ha ha!”
Espero que, ao desembarcarmos, tenham mordido a língua com bastante força: o aeroporto internacional Eldorado bota no chinelo o patético Galeão, cada vez mais deprimente. E não é só a porta de entrada que impressiona. Os anos negros da guerrilha ficaram para trás (Farc e governo estão em negociações para pôr fim ao conflito), a produção de drogas caiu drasticamente, e o país, que vive um bom momento econômico, é uma grata surpresa: Bogotá é uma cidade ao mesmo tempo sofisticada e acolhedora, que sabe preservar a sua cultura. Tem museus de padrão internacional, bibliotecas públicas de cair o queixo e ruas limpas e seguras, patrulhadas por duplas de policiais e lindos cães de todas as raças. Acima de tudo, porém, tem uma população supergentil e educada, que capricha na cortesia como estilo de vida. Eles têm mais é que ter orgulho, muito orgulho, do seu país.

Ética para a credibilidade - Samuel Antenor

Especiais Fonte

Ética para a credibilidade

Agência Fapesp
05/09/2013
Por Samuel Antenor
Agência FAPESP – O bom jornalismo é resultado da ética, que só pode se materializar no texto jornalístico quando há qualidade, técnica e credibilidade envolvidas em sua produção.
Esses são conceitos essenciais para o que se convencionou chamar de bom jornalismo, nas palavras de Eugenio Bucci, professor da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP), em sua apresentação sobre o livroJornalismo, ética e qualidade, de Carlos Alberto Di Franco.
Bucci falou no quarto encontro do ciclo de conferências “50 anos das Ciências da Comunicação no Brasil: a contribuição de São Paulo”, na última sexta-feira (30/08), na sede da FAPESP. O ciclo teve início em 9 de agosto e acontece às sextas-feiras até o dia 4 de outubro.
Em sua apresentação, Bucci destacou aspectos no livro que revelam a coerência e a conduta apartidária do autor, por meio da consistência de suas análises, que envolvem ética na imprensa. Para Bucci, a ética permite fazer um jornalismo de qualidade e a técnica garante a credibilidade. “Esse é o eixo ordenador do pensamento de Di Franco”, disse.
Para o professor da ECA/USP, Di Franco demonstra, em seu livro, como a imprensa deve primar pela independência, buscando a veracidade sem incorrer em outros interesses.
“A independência editorial resulta de um distanciamento necessário do jornalista das esferas de governo, pois, caso haja essa proximidade, podem ser suscitadas indefinições jornalísticas”, afirmou.
Se, por um lado, Bucci disse que, em uma democracia, a profissão deve ser exercida de maneira apartidária, por outro, ele afirmou ser incompatível, com um jornalismo saudável, governos que soneguem informações em plena democracia.
“Por isso, o jornalismo deve necessariamente fazer uma apuração rigorosa dos fatos e apresentá-los à sociedade com uma linguagem aberta a múltiplos olhares, inclusive lançando mão de recursos gráficos atualizados, para realçar detalhes e destacar seu processo investigativo.”
Bucci afirmou que – mesmo havendo um distanciamento entre ele e o autor com relação a questões de cunho moral, como por exemplo o direito ao aborto – considera Di Franco um “iluminador” dos processos jornalísticos no Brasil.
Segundo ele, conforme preconiza Di Franco em seu livro de 1995, as empresas jornalísticas estão estruturadas em três níveis, dentre os quais a reportagem deve ter independência em relação à articulação e à publicidade.
“A reportagem deve caminhar sem se deixar levar pelas predileções do veículo em que será veiculada. Seria bom se a opinião dos veículos fosse mais clara, o que realçaria o nível de independência de suas reportagens”, afirmou.
Com base em sua análise do livro de Di Franco, Bucci também questionou o conflito de interesses presente muitas vezes na relação entre as assessorias de imprensa e os veículos de comunicação, além da independência da mídia.
“No caso da cobertura feita pela Mídia Ninja das manifestações populares no Brasil, suas ‘narrativas independentes’ são diferentes da independência preconizada por Di Franco. Eles falam de independência da indústria da mídia, mas não de interesses políticos, pois eles têm e expõem claramente seu posicionamento político.”
Para Bucci, também o ensino de jornalismo no Brasil deveria ser menos opinativo, o que, segundo ele, permitiria preparar os jovens jornalistas sem ditar posicionamentos exacerbados em questões político-ideológicas. “Assim, os jornalistas poderiam trabalhar mais livremente, sem que a orientação política de determinados veículos interferisse no exercício da profissão.”
Posicionamentos distintos
As apresentações durante o quarto dia do Ciclo de Conferências “50 anos das Ciências da Comunicação no Brasil: a contribuição de São Paulo” contemplaram outros autores, em temas complementares ou díspares.
Sobre a imprensa operária e a importância da comunicação proletária – tema do livro A imprensa operária no Brasil, de Maria Nazareth Ferreira –, o professor Denis de Oliveira, também da ECA/USP, destacou a necessidade de engajamento político em determinadas mídias, para que se chegue a um patamar menos defasado em relação à grande imprensa.
Para ele, a mídia ligada a minorias necessita ter um posicionamento claramente político e engajado para alcançar igualdade de vozes. “A diferença é que a mídia tradicional trata o leitor como consumidor, não como cidadão, o que mostra o quão tênue pode ser a fronteira entre o jornalismo e a publicidade”, afirmou.
Em sua apresentação sobre o livro lançado em 1978, Oliveira destacou que a imprensa sindical busca, ainda hoje, um estreitamento com o seu leitor, pois sabe que este tem condições de avaliar o conteúdo de suas publicações. “Até porque os leitores desses veículos também leem a grande imprensa e têm a possibilidade de fazer análises de ambos.”
Para ele, o livro de Ferreira aponta também para o fato de que a imprensa vinculada a sindicatos e a outras instituições deve estar atenta para tratar seus temas jornalisticamente, evitando atuar como meros porta-vozes institucionais.
A interferência da publicidade no jornalismo também foi observada por Rosalba Facchinetti, pesquisadora da ECA/USP, durante sua análise do livro Rock, nos passos da moda, de Tupã Gomes Correa.
Lançado em 1989, o livro mostra como, desde os movimentos hippie e punk, os gostos musicais e outras variáveis ditaram a moda, enquanto fatores determinados contribuíram para a formação do gosto das audiências.
A moda como decorrência do rock, que ditou os comportamentos entre os anos 1960 e 1970, não era, na visão do autor, apenas o que se vestia. “O autor busca explicação nesses movimentos para o estabelecimento de um gosto alternativo, surgido em reação ao padrão estabelecido pelas gravadoras. Contudo, essa alternativa, ao ser absorvida pelo mercado fonográfico, torna-se também moda”, disse.
Facchinetti lembrou que, em pesquisas anteriores, o autor já determinara que as chamadas “paradas de sucesso” se valiam da manipulação de pesquisas sobre o gosto musical dos ouvintes das rádios para direcionar o consumo de discos no Brasil. “O papel de publicidade exercido pelas pesquisas, que se antecipavam às vendas, fazia com que houvesse um direcionamento de vendas, do qual o mercado fonográfico se beneficiava.”
Outro ponto destacado foi a questão da mídia regional no Brasil, na análise do professor Marcelo Briseno, da Universidade Metodista de São Paulo (Umesp), sobre o livro Mídia e região na era digital, organizado por Anamaria Fadul e Maria Cristina Gobbi.
Resultado dos trabalhos apresentados no 11º Colóquio Internacional de Comunicação para o Desenvolvimento Regional (Regiocom2006), na Umesp, o livro, lançado em 2007, conta com artigos escritos por 26 autores, que analisam a mídia regional brasileira a partir de dados demográficos e econômicos.
De acordo com Briseno, o livro destaca o fato de o Brasil midiático ser muito menor do que o Brasil real, questionando o quanto as emissoras de TV regionais representam seu público. “Na programação das emissoras regionais, o bloco publicitário é o que mais representa o público regional, a comunidade, que se vê e se reconhece muito mais nos anúncios do que na programação”, analisou.
Para ele, mesmo quando o conteúdo dessas emissoras é produzido localmente, o teor do que é mostrado reflete muito mais o que se passa nos grandes centros do que o cotidiano regional. “Acreditar que, por ser produzida localmente, a programação é regional é um erro, pois para isso seria necessário deixar de lado o padrão e estilo típicos das emissoras nacionais”, disse.
Ainda na parte da manhã, foram apresentados e debatidos outros dois livros, de autores que se tornaram referências no campo da comunicação e do jornalismo.
Cristina Costa, da ECA/USP, apresentou e debateu o livro A moderna tradição brasileira, escrito em 1988 por Renato Ortiz, destacando seus relatos sobre censura, e Graça Caldas, da Unicamp, apresentou sua visão do livro Divulgação Científica, de Isaac Epstein, lançado em 2002, ressaltando sua contribuição para a divulgação científica, com destaque para a área da saúde, no Brasil.
Diferentes realidades
Na parte da tarde, o evento contou com a análise de mais dez livros, feitos por pesquisadores de diferentes instituições de ensino e pesquisa em comunicação.
Claudia Lago, da Universidade Anhembi Morumbi, analisou o livro Revista Realidade: tempo de reportagem, de José Salvador Faro, publicado em 1999, que tem como foco um período específico do jornalismo brasileiro – 1966 a 1968 – e um veículo que até hoje, segundo ela, é “um mito”.
“Era o jornalismo engajado, transgressor e revelador. A Realidade tinha uma equipe antenada com seu tempo e criou uma narrativa necessária para o momento”, afirmou, lembrando que “Faro atribui o sucesso da revista ao fato de a informação ter ganhado uma perspectiva globalizadora, tornando-se uma categoria de análise do cotidiano”, disse.
O livro Imprensa em Questão, organizado por Alberto Dines e Carlos Vogt, foi analisado por Mariluce Moura, diretora de redação da revista Pesquisa FAPESP. Publicado em 1997, o livro traz os principais debates de seminário realizado três anos antes, com o objetivo de avaliar os caminhos possíveis para a imprensa brasileira.
“O seminário foi o marco fundador do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que, ao longo dos últimos anos, contribuiu para a formação de recursos humanos e a ampliação do conhecimento na área”, afirmou Moura.
A série de conferências do ciclo no dia 30 de agosto teve ainda a análise midiática do rádio e do cordel.
Helena Corazza, do Serviço Pastoral à Comunicação (Sepac), analisou o livro O rádio dos Pobres, de Maria Immacolata Vassalo de Lopes, publicado em 1982. No livro, a autora estuda a repercussão de três programas de grande audiência na Rádio Record nos anos 1970 – Zé Bettio, Gil Gomes e Silvio Santos – na periferia de São Paulo. “Ela trabalha a abordagem comunicacional, política e econômica na produção de conhecimento a respeito dos processos ideológicos de comunicação de massas que, na época, tinha contornos próprios”, afirmou Corazza.
Em A literatura de cordel em São Paulo, de Joseph Luyten, publicado em 1981, Isabel Amphilo, da USP, discorreu sobre como o autor faz uma espécie de “mestiçagem teórica” – utilizando o funcionalismo, estruturalismo, marxismo e semiótica – para compreender o formato e o papel de uma manifestação típica do Nordeste em São Paulo.
Também foram analisados os livros Palavra e Discurso: história e literatura (2000), de Maria Aparecida Baccega, por Elizabeth Gonçalves, da Umesp; Mulher de papel (1981), de Dulcilia Buitoni, por Gisely Hime, das Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU); A Pragmática do Jornalismo (1994), de Manuel Carlos Chaparro, por Marly dos Santos, da Umesp; Jornalistas e Revolucionários (1991), de Bernardo Kucinski, por José Arbex, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP); Tudo acaba em festa (1993), de Cristina Giácomo, por Manuel Carlos Chaparro; e Relações Públicas: teoria, contexto, relacionamentos (2009), de Maria Aparecida Ferrari e Fábio França, por Cristina Giácomo.
Promovida pela FAPESP e pela Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom), a série de oito encontros semanais – que serão realizados até o dia 4 de outubro, sempre às sextas-feiras – tem como objetivo discutir alguns dos principais aspectos da comunicação no Brasil nas últimas cinco décadas.
O próximo encontro do ciclo de conferências “50 anos das Ciências da Comunicação no Brasil: a contribuição de São Paulo”, com foco nas pesquisas realizadas no século 21, será no dia 13 de setembro, com o tema “Atualizadores das ciências da Comunicação”. Este e todos os demais encontros do ciclo serão realizados no Auditório Paulo Emílio, na ECA/USP.
Mais informações sobre o ciclo: www.fapesp.br/7888