sábado, 21 de fevereiro de 2015

Ledices - Eduardo Almeida Reis

Carlos Drummond de Andrade imitava com perfeição a assinatura dos outros. Falsificou a do chefe durante anos para lhe poupar trabalho


Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 21/02/2015




Juro que gostaria de só publicar colunas refertas de ledices, maneira besta de escrever “cheias de alegria, de contentamento”, mas está ficando difícil. Não há dia em que amáveis leitores não me peçam para comentar assuntos desagradáveis, amargos, aparentemente insolúveis, que vão da cobrança da pena d’água nas cidades que não têm água ao ministério escolhido pela senhora que vocês reelegeram.

Escritores adoram maluquices. Felizmente, nunca fui escritor, mas simples autor de livros, o que me permite cuidar das curiosidades do meio literário transcrevendo maluquices que pesquei no Google, site da UBE/RN, União Brasileira de Escritores, de Natal, terra do ex-deputado Henriquinho.

Maluquices a montões. O escritor Wolfgang von Goethe escrevia em pé: mantinha em sua casa uma escrivaninha alta. Pedro Nava parafusava os móveis de sua casa a fim de que ninguém os tirasse do lugar. Gilberto Freyre nunca manuseou aparelhos eletrônicos. Não sabia ligar sequer uma televisão. Todas as suas obras foram escritas a bico de pena, como o mais extenso de seus livros, Ordem e Progresso, de 703 páginas. Euclides da Cunha, superintendente de Obras Públicas de São Paulo, foi engenheiro responsável pela construção de uma ponte em São José do Rio Pardo (SP). A obra demorou três anos para ficar pronta e caiu alguns meses depois de inaugurada. Euclides não se deu por vencido e a reconstruiu. Por via das dúvidas, abandonou a carreira de engenheiro. Machado de Assis ultrapassou barreiras sociais e físicas. Teve infância pobre, míope, gago, epilético. Enquanto escrevia Memórias póstumas de Brás Cubas, foi acometido por uma de suas piores crises intestinais, complicando sua frágil visão. Os médicos recomendaram três meses de descanso em Petrópolis. Sem poder ler nem escrever, ditou grande parte do romance para Carolina, sua mulher. Graciliano Ramos era ateu convicto, mas tinha uma Bíblia na cabeceira só para apreciar os ensinamentos e os elementos de retórica. Por insistência da sogra, casou-se na igreja com Maria Augusta, católica fervorosa, mas exigiu que a cerimônia ficasse restrita aos pais do casal. No segundo casamento, com Heloísa, evitou transtornos: casou-se logo no religioso.
Antes de escrever seus romances, Aluísio de Az
evedo tinha o hábito de desenhar e pintar sobre papelão as personagens principais, que mantinha em sua mesa de trabalho. José Lins do Rego era fanático por futebol. Foi diretor do Flamengo e chegou a chefiar a delegação brasileira no Campeonato Sul-Americano de 1953. Aos 17 anos, Carlos Drummond de Andrade foi expulso do Colégio Anchieta, em Nova Friburgo (RJ), depois de um desentendimento com o professor de português. Imitava com perfeição a assinatura dos outros. Falsificou a do chefe durante anos para lhe poupar trabalho. Ninguém notou. Tinha a mania de picotar papel e tecidos: “Se não fizer isso, saio matando gente pela rua”. Estraçalhou uma camisa do neto nova em folha: “Experimentei, ficou apertada, achei que tinha comprado o número errado. Mas não se impressione, amanhã lhe dou outra igualzinha”. Domingo tem mais...

Nomes

Leitor amigo me pede que comente as iniciativas de diversos parlamentares, como o Projeto de Lei 3.795, de 2013, do ilustrado deputado estadual Paulo Lamac (PT-MG), no sentido de que sejam retirados os nomes de pessoas ligadas aos anos de chumbo (sic) de órgãos e espaços públicos, como túneis, viadutos, pontes, estádios etc.

Para início de conversa, digo que sou a favor, porque não entendo que nomes como o do cearense Castello Branco e do mineiro Milton Campos continuem figurando em espaços públicos num país que elegeu presidentes da República o pai do Lulinha e a ex-presidente do conselho de administração da Petrobras. Tudo na vida tem limites. Brasileiros cultos e honestos, como Castello e Milton, não podem ter os seus nomes conspurcados, expostos à execração pública no país do Instituto Lula. 

Floriano Peixoto tudo bem: conseguiu fazer governo pior que o da mãe da Paula, como se fosse possível, mas parece que foi. Getúlio Vargas tudo ótimo: pai dos pobres não foi ditador, mas chefe de um negócio chamado Estado Novo. Dar ao viadutos, ruas e praças os nomes de bobos que exerceram a presidência e foram ministros sem aproveitar para roubar é desmoralizar o país. Quem foi Castello Branco que não teve um filho com o toque de Midas, fazendo ouro em tudo que tocasse? Quem foi Milton Campos que não nos deixou um filho bilionário? O deputado Lamac está certíssimo.

O mundo é uma bola


21 de fevereiro de 1431: começa o julgamento de Joana D’Arc. Em 1560, Mem de Sá chega à Baía da Guanabara para atacar o forte Coligny, atual Ilha de Villegagnon, núcleo do estabelecimento colonial francês conhecido como França Antártica (1555-1560). Em 1804, sai às ruas no País de Gales a primeira locomotiva a vapor autopropulsionada. Em 1925, lançamento da revista The New Yorker, que publicou textos de muitos dos mais respeitados escritores do século XX.

Em 1960, Fidel Castro nacionaliza todas as empresas em Cuba. Em 1976, Portugal reconhece oficialmente a República Popular de Angola. No dia 21 de fevereiro, mas em 1468, o infante dom Fernando, duque de Viseu e donatário das Ilhas dos Açores, havia concedido ao fidalgo flamengo Joss Van Hurtere a capitania da Ilha do Faial.

Ruminanças

“Roubar se preciso for; confessar, nunca!” (R. Manso Neto).