quinta-feira, 24 de julho de 2014

TeVê

TV paga

Estado de Minas: 24/07/2014


 (Sérgio Zacchi/Divulgação)

Estilo Daktari

Estreia hoje, às 22h, no Animal Planet, a série Dr. Selvagem, que acompanha a equipe do veterinário Rodrigo Teixeira, diretor e médico do Zoológico Municipal de Sorocaba (SP). Sempre com bom humor, dr. Rodrigo tem como pacientes tigres, hipopótamos, falcões, macacos, tamanduás, elefantes, maritacas e onças. Esses atendimentos vão desde canais odontológicos a cirurgias complexas e até experimentos com acupuntura.

Quem foi a primeira ganhadora do Nobel?

A série Mundo.doc, do canal Futura, apresenta hoje, às 22h, a biografia de Marie Curie, cientista polonesa que foi a primeira mulher a ganhar um prêmio Nobel. Suas pesquisas, realizadas com a ajuda do marido, Pierre, levaram à descoberta de dois novos elementos químicos, o polônio e o rádio, abrindo novos caminhos para a ciência e a medicina.

E Pierre Verger, você  conhece também?


As diferenças entre religião, fé e as inúmeras crenças existentes na sociedade brasileira são os temas desenvolvidos no episódio de hoje da série documental Por que a gente é assim?, dirigido por Guilherme Coelho, às 20h, no canal Curta!. Às 20h05, vai ao ar o documentário Pierre Fatumbi Verger: o mensageiro entre dois mundos, sobre a vida e obra do fotógrafo e etnógrafo francês radicado na Bahia desde 1946 até sua morte, em 1996.

HBO ressalta a beleza  da mulher brasileira


A HBO estreia, às 23h, a série documental Mulher arte. A produção acompanha o artista plástico Pedro Henrique Moutinho, que viajou por 10 cidades brasileiras em busca da beleza feminina refletida nas semelhanças entre essas regiões e a mulher local. Misturando paisagens, hábitos, arte e cultura, Moutinho mostra um Brasil miscigenado, onde a beleza se expressa de diversas formas.

Deco e Lucas voltam a quebrar tudo por aí


Novidade também na MTV, com a estreia de Deco e Lucas na rota explosiva, às 21h30. Em pauta os esportes radicais e muita diversão, com direito a fogos de artifício, explosões e rajadas de lança-chamas. Como em outros programas comandados pela dupla na mesma MTV, a viagem será recheada de desafios e surpresas, saindo de São Paulo, passando por Minas Gerais e finalizando o percurso no Rio de Janeiro.

Muitas alternativas  no pacote de cinema


O clássico musical Charity, meu amor é a atração de hoje do Clube do filme, às 22h, na Cultura. No mesmo horário, o assinante tem mais oito opções: Syriana – A indústria do petróleo, na HBO 2; O empresário, no Max; O dobro ou nada, no Max Prime; Skyline – A invasão, no MGM; Diário de um banana 3: dias de cão, no Telecine Fun; Estrada para Perdição, no Telecine Action; Um anjo em minha vida, no Telecine Touch; e Precisamos falar sobre o Kevin, no Telecine Cult. Outras dicas da programação: O sequestro do metrô 1 2 3, às 23h15, na Fox; e Xeque-mate, às 22h30, no FX.

CARAS & BOCAS » Anos dançantes - Simone Castro




Marco Pigossi emplaca seu segundo protagonista, Rafael, na novela Boogie oogie   (João Miguel Júnior/TV Globo)
Marco Pigossi emplaca seu segundo protagonista, Rafael, na novela Boogie oogie


Meu pedacinho de chão (Globo) entra na reta final e a sucessora, Boogie oogie, foi apresentada anteontem no Projac, Rio de Janeiro. Além do elenco e direção, também marcou presença Rui Vilhena, que estreia sua primeira trama. “Meu primeiro trabalho vai ser com o Ricardo Waddington, esse elenco maravilhoso e essa equipe de colaboradores e produção sensacionais. Eu pensei: ‘o Natal veio mais cedo esse ano’”, brincou o autor. Ambientada no final da década de 1970, o diretor elogiou a trama e exaltou o período escolhido, em que as discotecas e a música dançante tornaram-se marca registrada. “Escolhemos essa época porque a vivemos e ela nos traz uma memória emotiva, afetiva, amorosa, apaixonante de tudo. As características do ano de 1978 nos inspiram”, afirmou. Para ele, “a música é um elemento fundamental da narrativa, tão importante quanto o cenário, figurino ou qualquer outro. Traz muito da época e confere uma unidade à trama”. A era disco, também relembrada pelos movimentos de liberdade, especialmente a sexual, e pelas drogas. Mas, neste último caso, por decisão do diretor, foram cortadas cenas envolvendo álcool e drogas. “Seria um retrocesso usar bebidas e cigarro no horário das 18h. Eu tive essa decisão. Esses elementos não são necessários para contar essa história”, explicou. No elenco, os protagonistas são Marco Pigossi, que viverá Rafael, e Ísis Valverde, a mocinha Sandra. É a primeira personagem da atriz desde que sofreu o acidente de carro, no início do ano, e a tirou de cena mais de noventa dias. “Ela parece uma colcha de retalhos: não é aquela boazinha padrão”, disse Ísis. Marco, que emplaca seu segundo protagonista – o primeiro foi o Bento, de Sangue bom, que caiu no gosto popular por se tratar de um personagem extremamente humano e sensível –, agora tem nova empreitada. “O meu maior desafio é distanciar esse personagem do Bento. Ele era muito sensível, uma alma quase feminina. O Rafael, não. Ele é prático, impulsivo”, comparou. No elenco, entre outros, estão Bianca Bin, Marco Ricca, Giulia Gam, Alessandra Negrini.

JORNAL MOSTRA PROBLEMAS
PROVOCADOS POR VIADUTO


No Jornal da Alterosa – 1ª edição desta quinta-feira, veja reportagem sobre o drama dos moradores dos prédios vizinhos ao viaduto que desabou, na Avenida Pedro I, em Belo Horizonte. Eles terão que deixar as casas depois da decisão de demolir a alça que ainda está de pé, mas pode cair a qualquer momento. E como ficam as crianças que estudam na região? Uma escola teve de ser fechada. Quem vai pagar pelos prejuízos? Logo depois do Alterosa esporte.

VILÃ NÃO PERDOA A IRMÃ
NEM NO LEITO DE MORTE


Cora, a partir de hoje interpretada por Drica Moraes, em Império (Globo), vai atazanar a vida da irmã, Eliane, que passa a ser vivida por Malu Galli. No capítulo que vai ao ar na segunda-feira, Eliane, que tem câncer no pulmão, agoniza e Cora vai fazer de tudo para aumentar seu sofrimento emocional. O que ela quer é que a irmã escreva uma carta para sua filha, Cristina (Leandra Leal), afirmando que ela é filha bastarda do milionário José Alfredo (Alexandre Nero). Eliane se recusa e Cora redige a carta em voz alta, causando pânico na irmã: “Com amor eterno de sua mãezinha Eliane”, diz. Na cama, a mãe de Cristina tosse e implora para que a vilã não prossiga. Mas ela dobra a carta e guarda dentro de um álbum da família sem se importar com Eliane, que agoniza. Ela tosse sem parar e acaba morrendo.

JORNAL MOSTRA PROBLEMAS
PROVOCADOS POR VIADUTO


No Jornal da Alterosa – 1ª edição desta quinta-feira, veja reportagem sobre o drama dos moradores dos prédios vizinhos ao viaduto que desabou, na Avenida Pedro I, em Belo Horizonte. Eles terão que deixar as casas depois da decisão de demolir a alça que ainda está de pé, mas pode cair a qualquer momento. E como ficam as crianças que estudam na região? Uma escola teve de ser fechada. Quem vai pagar pelos prejuízos? Logo depois do Alterosa esporte.

VILÃ NÃO PERDOA A IRMÃ
NEM NO LEITO DE MORTE


Cora, a partir de hoje interpretada por Drica Moraes, em Império (Globo), vai atazanar a vida da irmã, Eliane, que passa a ser vivida por Malu Galli. No capítulo que vai ao ar na segunda-feira, Eliane, que tem câncer no pulmão, agoniza e Cora vai fazer de tudo para aumentar seu sofrimento emocional. O que ela quer é que a irmã escreva uma carta para sua filha, Cristina (Leandra Leal), afirmando que ela é filha bastarda do milionário José Alfredo (Alexandre Nero). Eliane se recusa e Cora redige a carta em voz alta, causando pânico na irmã: “Com amor eterno de sua mãezinha Eliane”, diz. Na cama, a mãe de Cristina tosse e implora para que a vilã não prossiga. Mas ela dobra a carta e guarda dentro de um álbum da família sem se importar com Eliane, que agoniza. Ela tosse sem parar e acaba morrendo.

 (Márcio Nunes/Revista Contigo!)


QUERIDINHO DA VEZ

O ator Chay Suede (foto), protagonista da primeira fase de Império no papel de José Alfredo, arranca suspiros da audiência e é um dos nomes mais comentados nas redes sociais. Ele revelou, em entrevista à revista Contigo!, que está solteiro e falou sobre ex-namoradas. “Acho que se houver amor na relação e um pouquinho de maturidade a gente consegue ser amigo das ex sim, numa boa. Consegui com as duas, com a Sophia (Abrahão, atriz) e a Manu (Gavassi, cantora). Namorei a Sophia por 10 meses e fiquei quatro sozinho, depois a Manu (com quem terminou recentemente). Então, praticamente, não lembro como é ser solteiro. Estou vivendo isso agora. Estou solteiraço!” Chay ainda revelou que não fica mais com fãs. “Deixei de ficar com fã porque me incomodou. Pode ser que conheça uma que seja supermadura e goste do meu trabalho, mas consiga separar as coisas. Aí, sim, é possível. E se além disso eu estiver completamente de quatro, não tem por que evitar”, comentou. Para as fãs do personagem da novela, uma dica: Chay passa o bastão definitivo para Alexandre Nero a partir de hoje, mas deve voltar à cena em vários flashbacks.

VIVA
Ator Lázaro Ramos roubando a cena nos últimos capítulos com seu guru Brian Benson, em Geração Brasil (Globo).

VAIA
Mas o programa Geração nem-nem não rendeu o esperado em cena da novela, comandado por Pamela (Cláudia Abreu)

1927 ARIANO SUASSUNA 2014 » Lá se vai um filho do sertão‏

1927 ARIANO SUASSUNA 2014 » Lá se vai um filho do sertão
Escritor paraibano Ariano Suassuna morre aos 87 anos, no Recife, vítima de um AVC
João Paulo Cunha
Publicação: 24/07/2014 04:00
Idealizador do Movimento Armorial, Suassuna foi um preeminente defensor da cultura do Nordeste do Brasil. (reprodução da internet)
Idealizador do Movimento Armorial, Suassuna foi um preeminente defensor da cultura do Nordeste do Brasil.

Ele fez um Jesus negro perdoar um cangaceiro, deu ao amarelo João Grilo a astúcia de recorrer à Compadecida para voltar à vida, criou um anti-herói no sertão que não faz feio ao lado de Dom Quixote. O escritor Ariano Suassuna, autor de tantos milagres, morreu ontem, aos 87 anos, vítima de um acidente vascular cerebral (AVC) hemorrágico. Ele estava internado no Hospital Português, no Recife, onde passou por uma cirurgia na noite de segunda-feira. O quadro se agravou com a queda da pressão arterial e elevação da pressão intracraniana. Ele entrou em coma na manhã de terça-feira e morreu às 17h15 de ontem. O velório será realizado no Palácio Campo das Princesas, no Recife, sede do governo de Pernambuco. O enterro será às 16h, no Cemitério Morada da Paz, em Paulista (Grande Recife).
Autor de um dos maiores clássicos do teatro brasileiro, Auto da Compadecida, Ariano Suassuna vinha trabalhando na sequência de A Pedra do Reino, romance autobiográfico narrado por Dom Pedro Dinis Ferreira-Quaderna, autoproclamado Rei do Quinto Império e do Quinto Naipe, Profeta da Igreja Católico-Sertaneja e pretendente ao trono do Império do Brasil. Além da obra literária, Ariano Suassuna se destacava pela defesa apaixonada da cultura brasileira e pela criação do Movimento Armorial, que englobava a música, o teatro e as artes plásticas.
Homem de porte majestoso e voz poderosa, temperada pelo humor picaresco e pela memória impressionante, percorreu o Brasil com suas aulas-espetáculo. Vestido de branco, para amainar o calor do sertão que sempre viajava com ele para todo o mundo, contava histórias, recitava folhetos de cordel, retirando heróis populares do esquecimento, entoava cantigas e mostrava gravuras para um público encantado. Seu nacionalismo só não era maior do que a fé – mesmo com as críticas à Igreja em Auto da Compadecida  – e o amor ao povo. Sua atitude não recendia a folclore: ele amava a arte popular de corpo e alma.
Em carta dirigida ontem a Ariano Suassuna, o ator Matheus Nachtergaele, que interpretou o personagem João Grilo em produção para TV e cinema, escreveu: “Depois do Grilo de você, e que é você, virei cavalo mimado, que não aceita ser domado, que encontra saídas pelas cercas de arame farpado e encontra sempre uma sombra, um riachinho, um capim bom (…) Depois do Grilo de você, que também é você, que sou eu, fui morar lá no riacho dos arquétipos, onde tem néctar de mel, água fresca e uma sombra brasileira, com rede de chita e tudo”.
No ano passado, Ariano sofreu um pequeno enfarte e um AVC. “Escapei bonito”, chegou a dizer. Não diminuiu o ritmo, chegou a dormir no chão do aeroporto para descansar. Sua cruzada pela cultura tinha muito sertão a percorrer. Ontem foi descansar, possivelmente ao lado de João Ubaldo Ribeiro, outro romancista nordestino de voz forte e grande amor ao povo brasileiro, que morreu no dia 18. Já estão fazendo falta.
Histórias contadas
em aulas-espetáculo

O paraibano Ariano Vilar Suassuna nasceu em Nossa Senhora das Neves, hoje João Pessoa, em 16 de junho de 1927, filho de Cássia Villar e João Suassuna. Depois da Revolução de 1930, seu pai foi assassinado no Rio de Janeiro e a família se mudou para Taperoá, no sertão da Paraíba, onde morou até 1937. Em 1942, Ariano chegou ao Recife para dar continuidade aos estudos e, posteriormente, ingressar na Faculdade de Direito. Exerceu a profissão de advogado por alguns anos, mas abandonou o ofício para ensinar estética na Universidade Federal de Pernambuco.
Depois de 38 anos, Ariano se aposentou, mas a carreira continuou com as aulas-espetáculo, criadas por ele, que aproveitava para contar histórias e defender a cultura popular. Com essas apresentações, percorreu teatros, escolas, congressos e centros culturais do país inteiro, às vezes acompanhado de uma trupe de músicos e dançarinos, outras vezes sozinho.
Foi membro fundador do Conselho Federal de Cultura (1967) e nomeado, pelo reitor Murilo Guimarães, diretor do Departamento de Extensão Cultural da Universidade Federal de Pernambuco (1969). Em 1970, lançou o Movimento Armorial, voltado para o desenvolvimento e o conhecimento das formas de expressão populares tradicionais. Era torcedor fanático do Sport Clube do Recife.
Ariano foi secretário de Cultura de Pernambuco, no governo Miguel Arraes (1994-1998), além de membro da Academia Paraibana de Letras (APL/PB), Academia Pernambucana de Letras (APL/PE) e da Academia Brasileira de Letras (ABL). Em 2004, com o apoio da ABL, a Trinca Filmes produziu o documentário O sertão: mundo de Ariano Suassuna, dirigido por Douglas Machado.
Em entrevista concedida em junho de 2013 ao Diário de Pernambuco, o escritor falou sobre a busca da eternidade por meio da escrita. “De certa forma, escrevo para enfrentar a transitoriedade. Não gosto da ideia de ter medo de morrer. Sou paraibano e não gosto de confessar que tenho medo. Conheço a palavra medo porque li no dicionário, mas não sei o que é não. A morte, na Paraíba, é uma mulher e se chama Caetana. Eu uso muito isso na minha obra. Gosto muito dessa ideia. Eu só me contento de encarar a maldita se ela vier na forma de uma mulher acolhedora, carinhosa, bonita e amante!”
Em 2002, no programa Roda Viva (TV Cultura), Ariano disse ter passado por “problemas muito duros” na infância. “Meu pai era um político que governou a Paraíba, um líder das forças rurais que foram vencidas pelas forças urbanas, de João Pessoa, em 1930. A partir daí, a história passou a ser contada pelos simpatizantes dessas forças urbanas. Então me habituei, desde menino, a ver meu pai apresentado como representante do mal. Depois, comecei a tomar a posição contrária, mas sem consciência clara do que estava acontecendo. Admirador de Euclides da Cunha, li Os sertões, e pensei em encontrar ali um argumento para confirmar que o rural era o bem e o urbano o mal. Aquilo me fortaleceu. Quando escrevi A pedra do reino, aquilo ainda estava lá”.
Muitos anos antes, em 1977, em entrevista à TVE, no Rio de Janeiro, Ariano explicava a origem do sobrenome. “Na Independência, em 1822, houve um surto de nativismo e grande parte das famílias do Nordeste começou a trocar os nomes europeus e portugueses por nomes ligados à terra. O ramo da minha família, Cavalcanti de Albuquerque, que era chamado de Suassuna por causa da terra, adotou o nome como sendo de família. Meu bisavô se chamava Raimundo Francisco de Sales Cavalcanti de Albuquerque, e passou a se chamar Raimundo Francisco de Sales Cavalcanti de Albuquerque Suassuna. E somente o Suassuna foi transmitido ao meu pai, ao meu avô e a mim”.
A dor da perda
do pai e o perdão

Em junho de 2013, o escritor recebeu o jornalista Geneton Moraes Neto para uma entrevista para o canal Globo News, e falou sobre o impacto da morte do pai sobre ele, ainda criança. Ariano contou que a superação do trauma era uma tentativa constante em sua vida. “Finalmente, estou conseguindo, depois dos 80 anos. Procurei sempre. Tenho muito cuidado, com medo de ser hipócrita, porque perdoar é uma coisa muito difícil. Digo perdoar mesmo – sinceramente. Passei muito tempo sem conseguir perdoar. Ultimamente, me veio uma ideia que me consolou um pouco: a de que estou chegando perto. Se não perdoei os assassinos do meu pai, estou chegando perto”.
Na conversa, Ariano Suassuna revelou que por muitas vezes foi instigado a vingar a morte do pai, coisa comum no sertão. “Minha mãe tinha medo de que a gente tivesse algum sentimento de vingança. Perguntavam-me: ‘Como é? Quando crescer, vai vingar o pai?’. Ouvi isso várias vezes. Mamãe, com medo, não só tirou a gente do sertão da Paraíba, como nos convenceu de que o assassino do meu pai tinha morrido. Só adulto, já casado e pai de filho, é que vim a saber que o executor da morte estava vivo – morando no Rio de Janeiro”.
O pai, segundo Ariano, sabia que seria assassinado, pois escreveu uma carta falando sobre o assunto um dia antes de morrer, e pedia para não ser vingado. “A última vez que vi meu pai foi no cais do Recife. A gente veio trazer meu pai, para ele ir ao Rio – onde foi assassinado. Só me lembro deste momento: ele já no navio, mamãe me apontando. Eu não via. De repente, enxerguei: meu pai estava emoldurado pela janela do navio – dando com a mão. Aquela foi a última vez que o vi”.
Por muito tempo, Ariano alimentou um modo trágico de ver a vida, refletida em suas primeiras obras. Depois que conheceu a companheira, Zélia, em 1951, passou a ter uma visão menos dolorosa do mundo, o que abriu espaço para a veia cômica em seus textos. Ariano conheceu Zélia quando tinha 17 anos, ela 13, mas só passaram a namorar três anos depois. “Foi um encontro fundamental para mim. Até o ano de 1951, eu só escrevia tragédia. Nunca tinha procurado canalizar para o teatro a veia cômica que as pessoas da minha família normalmente têm. (Com Diário de Pernambuco)

O orgulho do pai de João Grilo e Chicó Adaptação de Auto da Compadecida, sucesso no cinema e na TV, encantou o escritor

Publicação: 24/07/2014 04:00

A adaptação da peça Auto da Compadecida feita pela TV Globo para o formato minissérie, em 1999, rendeu à emissora um dos programas de maior sucesso de sua história. Dirigidos por Guel Arraes, os quatros capítulos se apropriaram de elementos de O santo e a porca e Torturas de um coração, ambas de autoria de Ariano. Um ano depois, a produção chegou ao cinema, adaptada para ter uma hora a menos. O próprio escritor chegou a afirmar que os atores Rogério Cardoso e Matheus Nachtergaele personificaram a essência de seus personagens: “Com certeza, foram o melhor padre e o melhor João Grilo que eu já vi”.
Em entrevista à TV Cultura, Nachtergaele disse: “João Grilo é um personagem de Suassuna e da família do Arlequim, dos criados de mulher, de vários personagens que são pessoas pouco favorecidas financeiramente e sobrevivem apesar de tudo”. Na década de 1980, a obra mais famosa de Ariano já havia sido filmada pelo grupo Os Trapalhões e, nos anos 1960, adaptada para o cinema sob a direção de George Jonas.
Depois da grande audiência alcançada em 1999, a Globo apostou novamente na recriação da obra de Ariano em 2007, com A Pedra do Reino, quando se comemoravam seus 80 anos. “A ideia de adaptação sempre me pareceu redutora. Nos melhores momentos, seja trabalhando para a TV ou para o cinema, talvez tenha alcançado uma espécie de resposta aos textos, ou, no meu modo de sentir, um diálogo, uma reação criativa à literatura”, afirmou o diretor Luiz Fernando Carvalho.
O resultado, com altas doses de experimentalismo, dividiu o público, mas agradou o autor. O protagonista da série foi o pernambucano Irandhir Santos, que se preparou para o papel de Quaderna lendo o livro de Ariano em voz alta.
“Li quase todo o romance – são quase 700 páginas – em voz alta, pois a sonoridade do texto e a sequência das palavras têm o ritmo próprio de uma galopada, que não nos deixam parar de ler”, contou Irandhir. (DP)

Do mamulengo ao Municipal Influenciado pelo circo e pela literatura de cordel, autor universalizou tipos nordestinos

Publicação: 24/07/2014 04:00

Grupos Ser Tão e Clowns de Shakespeare encenam Farsa da boa preguiça, em João Pessoa, terra natal de Suassuna. A peça, escrita em versos, é uma das preferidas do autor  (Rafaela Tabosa/ON/D.A Press - 22/2/10)
Grupos Ser Tão e Clowns de Shakespeare encenam Farsa da boa preguiça, em João Pessoa, terra natal de Suassuna. A peça, escrita em versos, é uma das preferidas do autor
O primeiro contato de Ariano Suassuna com as artes cênicas se deu quando ele era criança, ao ser levado para ver uma apresentação de mamulengo em um mercado popular de Taperoá. “Adorei, achei demais. O personagem principal era um negro, Benedito. Ele me tocou muito, porque ganhava uma briga da polícia, entre outras coisas. Como nós tínhamos sido perseguidos pela polícia em 1930, aquilo me chamou a atenção e o próprio Benedito viria a se tornar personagem de uma peça minha, A pena e a lei. A diferença é que na minha versão ele ganhava pela astúcia, e não pela porrada”, contou Ariano no programa Roda viva, em junho de 2002.
“O circo representava tudo que havia de maravilhoso nas artes. Naquela cidade sertaneja, de repente, o cotidiano era interrompido pelo circo, com moças andando em cima de arame e os palhaços. Até hoje sou um palhaço frustrado. Não tenho coragem de entrar no picadeiro nem no palco, mas como ator de teatro escrevo a peça e ponho os outros para interpretar”, comentava ele, em 1977, em entrevista para a TV Cultura.
Para Ariano, a cultura popular era um caminho para o teatro brasileiro. “É na literatura de cordel que está o mágico e o maravilhoso. Quando escrevi A compadecida, as pessoas me perguntavam: ‘É uma peça regionalista?’. Aí, para não dar muita explicação, eu dizia: ‘É’. Tudo isso porque tinha cangaceiro na peça, mas eu sabia que não era”, contou ele em 2005.
Em 2007, a atriz Fernanda Montenegro disse que seu primeiro contato com Suassuna se deu pelo teatro, em 1957, por meio do Auto da Compadecida. “Foi arrebatador. Quis o destino que, 50 anos depois, eu fizesse no cinema o papel da Compadecida”, disse ela, referindo-se à produção dirigida por Guel Arraes.
Teatro do Estudante Ao lado de Hermilo Borba Filho, Ariano fundou o Teatro do Estudante de Pernambuco, surgido diante da falta de espaço para as artes cênicas na Faculdade de Direito, onde ambos estudavam. “A gente juntou as mesas da biblioteca, forrou com um pano e era o palco. As pessoas assistiam em pé. Foi lá que a gente estreou. Encenamos A sapateira prodigiosa, de García Lorca, fizemos a primeira encenação de Édipo rei no Brasil, fizemos A casa de bonecas, de Ibsen. A gente encenava gratuitamente, principalmente para estudantes, mas até a prisões e hospitais a gente foi. Foi um movimento muito bonito o Teatro do Estudante. Eu tenho muito orgulho de ter participado”, disse ele em entrevista ao Diário de Pernambuco, em 2007.
Na juventude, quando pediu emprestadas a Hermilo Borba Filho algumas peças de García Lorca, Ariano se sentiu “em casa”. “Tinha cavalo, cabra, tinha cigano, tinha tudo que eu tinha lá em Taperoá. Aí me empolguei e escrevi a minha primeira peça, Uma mulher vestida de sol, para o concurso do Teatro do Estudante. Hermilo começou a querer estimular a dramaturgia e fez um concurso nacional. Eu entrei e tirei o primeiro lugar.”
No livro O movimento e a linha – A presença do Teatro do Estudante e do Gráfico Amador no Recife (2007), o pesquisador Flávio Weinstein Teixeira avalia que, por meio de recriações dos gêneros populares, Ariano Suassuna expressa na poesia e no teatro referências eruditas e apropriações populares, assim como traços da oralidade. “Com Auto da Compadecida, Suassuna teve sucesso consagrador, que o elevou à categoria de portador de um projeto cultural imbuído da missão de lutar pela causa da verdadeira cultura nacional. Isso aconteceu durante o governo militar, o que lhe valeu a acusação de reacionário”, conclui.
Entres as marcas do teatro de Ariano estão o hibridismo, o signo de oposições, a intertextualidade. Há uma forte carga de memórias afetivas da infância em Taperoá, mescladas a uma herança ibérica. “A opinião do autor não tem grande importância. A opinião do povo é toda em favor de Auto da Compadecida. Mas de todas as peças que escrevi, prefiro a Farsa da boa preguiça, porque fiz uma peça em verso, que marcou minha distância do regionalismo e de qualquer pretensão de um realismo mal entendido”, afirmou Ariano Suassuna em entrevista à TV Paulo Freire, em 2006. (DP)

No palco e na tela

Publicação: 24/07/2014 04:00

» A compadecida (1969)
Direção: George Jonas. Com Armando Bógus (João Grilo), Regina Duarte (Compadecida), Antônio Fagundes (Chicó).
Primeira versão cinematográfica de um texto de Ariano, o filme foi rodado no Brejo da Madre de Deus, no agreste pernambucano, em Fazenda Nova, com direção do húngaro George Jonas e cenários da arquiteta Lina Bo Bardi, italiana radicada no Brasil, que projetou o Masp.

» Os Trapalhões no Auto da Compadecida (1987)
Direção: Roberto Farias. Com Renato Aragão (João Grilo), Dedé Santana (Chicó), Mussum (Jesus/sacristão), Zacarias (padeiro).
Releitura da saga de João Grilo e Chicó com o humor característico dos Trapalhões. O filme teve 2,6 milhões de espectadores no país e chegou a ser exibido em Portugal. Trilha sonora de Antônio Madureira e fotografia de Walter Carvalho.

» Uma mulher vestida de sol (1994)
Direção: Luiz Fernando Carvalho. Com Tereza Seiblitz e Raul Cortez
A primeira peça de Ariano é levada ao ar no programa Brasil especial, na Rede Globo. Mesmo recriando o ambiente em estúdio, o diretor atinge um resultado com a luz e cenografia que envolve os personagens.

» Farsa da boa preguiça (1995) 
Direção: Luiz Fernando Carvalho. Com Laura Cardoso e Ary Fontoura.
A adaptação para a televisão é assinada por Bráulio Tavares. O ator e dançarino Antônio Nóbrega interpretou Joaquim Simão e a atriz Patrícia França, a esposa Nevinha. O especial foi reprisado no Canal Viva em dezembro de 2012.

» Auto da Compadecida (1999/2000)
Direção: Guel Arraes. Com Matheus Nachtergaele (João Grilo), Selton Mello (Chicó), Fernanda Montenegro (Compadecida), Marco Nanini (Severino)
A microssérie foi exibida pela Globo em 1999, em quatro capítulos. Em 2000, virou filme. Os pernambucanos Virginia Cavendish, Aramis Trindade e Bruno Garcia estão no elenco, que tem ainda Paulo Goulart e Lima Duarte. No cinema, registrou mais de 2 milhões de pagantes.
» O canto de Ariano (1999-2005)  Exibido pela TV Globo, era um espaço semanal de dois minutos no qual o escritor comentava cultura e falava sobre causos do cotidiano.

» Folia geral (2000)
Uma aula-espetáculo de Ariano foi transformada em programa de TV para ser exibido durante o carnaval.

» O santo e a porca (2000)
Direção: Maurício Farias. Com Marco Nanini, Rogério Duarte, Leandra Leal.
Com roteiro da pernambucana Adriana Falcão, a peça foi transposta como um especial da série Brava gente.

» A Pedra do Reino (2007)
Direção: Luiz Fernando Carvalho. Com Irandhir Santos, Cacá Carvalho, Luiz Carlos Vasconcelos.
Em cinco capítulos feitos para a TV, foi filmada em Taperoá, cidade no Sertão do Cariri, Paraíba, berço da infância de Suassuna. Marcou as homenagens aos 80 anos do escritor paraibano.

O lado dos despossuídos Com A Pedra do Reino, escritor abriu um novo caminho para a literatura brasileira

Estado de Minas: 24/07/2014



Cena da minissérie A pedra do reino, romance que revive no Nordeste o mito do sebastianismo português  (Renato Rocha Miranda/TV Globo - 5/6/07)
Cena da minissérie A pedra do reino, romance que revive no Nordeste o mito do sebastianismo português


A formação literária de Ariano Suassuna se deu na biblioteca deixada pelo pai, coisa pouco corriqueira no sertão. Aos 12 anos, já queria ser escritor e por isso tentou escrever o primeiro conto, classificado mais tarde como “horroroso” por ele próprio. O tio materno Manoel Dantas Vilar e o primo Joaquim Duarte Dantas foram duas figuras importantes na iniciação de Ariano no mundo das letras, indicando-lhe autores como Eça de Queiroz, Euclides da Cunha, Guerra Junqueiro e Antero de Figueiredo. Essas duas figuras inspiraram os personagens Clemente e Samuel da peça As conchambranças de Quaderna.

“Tive a sorte de pegar uma boa biblioteca. Meu pai gostava muito de literatura. Meus irmãos mais velhos, que estudavam no Recife, levavam livros para Taperoá. Minha diversão principal era a leitura. Você podia imaginar o que era o encantamento de um menino sertanejo quando pegava um livro de aventuras. Na medida em que aqueles livros abriam um universo para mim, os autores representaram seres fabulosos, comecei a querer ser escritor, a me aproximar daquelas pessoas”, disse, em entrevista concedida em 1977.

No livro Ariano Suassuna – um perfil biográfico (2007) é recriada a atmosfera de leitura na longínqua década de 1930, em Taperoá, Paraíba. “Durante a maior parte do ano, apenas a cama de Ariano era ocupada – à noite para o sono, de dia para as leituras. Ler deitado seria um hábito que o menino paraibano cultivaria por toda a vida. A cada página lida, um pedacinho dela era arrancado e levado à boca. Nascia então um legítimo devorador de livros.”

Após o ciclo regionalista iniciado em 1930, o lançamento de O romance da Pedra do Reino, em 1971, é considerado marco da ficção nordestina. Estavam ali presentes a poesia com influência medieval ibérica e o romanceiro popular. Para o escritor Raimundo Carrero, um dos muitos autores influenciados pelo Movimento Armorial (criado em 1970 por Ariano), o ponto de partida da obra é o sertão. “O regionalismo, que marcou de maneira fundamental a literatura nordestina, partia, em Pernambuco, da poesia e tomava como base a antropologia e a sociologia de Gilberto Freyre.”

A literatura de Ariano se distancia desse paradigma, explica Carrero, por se desapegar do documento histórico, do registro científico que caracterizara essa outra geração. “Enquanto um é documental, o outro é mágico, fantástico. Ariano se aproxima do barroco, do romanceiro popular, em busca do universal, mas sem perder de vista o regional. O elemento mágico possibilita essa altercação entre a literatura rural e urbana no caminho da compreensão do fenômeno humano”, destaca Carrero.

Em entrevista à TV paranaense Paulo Freiyre, em 2006, Ariano contou que em determinada época todo mundo queria que ele escrevesse como Graciliano Ramos. “Sou o oposto dele. Conheci-o pessoalmente, gostava dele, admiro a obra, mas somos diferentes. E na minha casa reclamavam porque não escrevo como Guimarães Rosa. Também conheci, fui muito amigo dele”, disse.
Sobre as qualidades literárias da obra de Ariano Suassuna, o escritor e roteirista Bráulio Tavares lista a “imaginação transbordante; o diálogo ora profético ora cômico; a dissecação da história do Brasil vista pelo avesso, pelo lado dos despossuídos; e a recuperação da poesia popular”.


Sebastianismo Inspirado em um episódio messiânico ocorrido em São José do Belmonte, A Pedra do Reino revive o mito do sebastianismo português ao remeter à história de uma seita fundada aos pés da Pedra Bonita, no sertão nordestino. Ao elaborar sua trama, Ariano se direciona pela intertextualidade que se vale de imagem e texto para ratificar o seu compromisso com a cultura popular.
"A Pedra do Reino tem uma técnica teatral altamente sofisticada”, explica Carrero, que afirma estarmos diante de um dos grandes romances brasileiros. “Ariano revê a história do Brasil, da literatura e da formação cultural brasileira”, defende. Para o escritor Ronaldo Correia de Brito, Pedra do Reino é um dos livros mais importantes da língua portuguesa. “Em Auto da Compadecida, Ariano criou uma obra que desmascarou todas as formas de hipocrisia e tem uma enorme capacidade de comunicação. Já o romance tem estrutura complexa, metafísica, com discussões filosóficas e políticas”, diferencia.
Ronaldo relembra certa incompreensão em torno do romance de Ariano. “As pessoas se ressentem porque sua linguagem não é tão acessível. Porque há um descompasso entre o artista, solitário, e o homem coletivo”, argumenta.


Em entrevista ao Instituto Moreira Salles, em 2000, Ariano Suassuna disse que a literatura é um esforço e a venda dos livros não tem muita importância. “Por isso me rebelo contra as pessoas que querem olhar o livro como um objeto de mercado, porque pode ser vendido. Não é isso o que mais importa – pelo menos, não no meu caso. O que considero fundamental é o ato de escrever. Se, ao publicar o livro, eu tiver êxito junto ao público, tanto melhor. Mas eu digo a vocês com toda a sinceridade: não estou fingindo, não. Para mim, o fundamental é o ato de escrever”. (DP)

Linha do tempo

Publicação: 24/07/2014 04:00

1927
Nasce em 16 de junho, no Palácio da Redenção, sede do governo da Paraíba. Filho de João Urbano Pessoa de Vasconcelos Suassuna e Rita de Cássia Dantas Villar, Ariano era o oitavo filho de uma família que teria, ao todo, nove herdeiros. O pai era presidente do estado (cargo equivalente ao atual governador).

1945
Três anos depois de se mudar de vez para o Recife, deixando a Taperoá da infância, Ariano Suassuna publica o primeiro poema, "Noturno", no Jornal do Commercio. Fica amigo de Francisco Brennand.

1947
Ariano escreve sua primeira peça de teatro: Uma mulher vestida de sol. O texto estreia apenas em 1994, adaptado para a TV. Concebe Cantam as harpas de Sião, que reescreveria uma década mais tarde, como O desertor de Princesa. Começa a namorar com Zélia de Andrade Lima.

1952
Depois de duas temporadas em Taperoá, para onde fora com o intuito de se curar da tuberculose que contraíra no Recife, Ariano volta a Pernambuco e começa a trabalhar no escritório do jurista Murilo Guimarães.

1955
Desiste da carreira na advocacia. Escreve O rico avarento, baseado em uma peça de mamulengo. Surge o Auto da Compadecida, que estrearia em setembro do ano seguinte.

1957
Em 19 de janeiro casa-se com Zélia, com quem tem seis filhos. Auto da Compadecida é encenado no Rio de Janeiro e ganha a medalha de ouro da Associação Brasileira de Críticos Teatrais. Monta O casamento suspeitoso, com a Companhia Sérgio Cardoso, com direção de Hermilo Borba Filho, em São Paulo. O santo e a porca ganha medalha de ouro da Associação Paulista de Críticos Teatrais.

1967
Completa uma década como professor na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), onde lecionou teoria do teatro, estética e literatura brasileira.

1969
Ariano se junta a Capiba, Guerra Peixe, Jarbas Maciel e Clóvis Pereira em busca de uma música erudita nordestina que se amalgamasse a seu teatro, à poesia de Deborah Brennand, Janice Japiassu, Marcus Accioly e Ângelo Monteiro, à gravura de Gilvan Samico, e ao romance de Maximiniano Campos

1970
Em 18 de outubro, o concerto Três séculos de música nordestina – do Barroco ao Armorial e uma exposição de gravura, pintura e escultura lançam o Movimento Armorial. Publica poesias inéditas no volume O pasto incendiado.

1971
Publica o Romance d'A Pedra do Reino e o príncipe do sangue do vai-e-volta pela Editora José Olympio. Ariano vinha se dedicando à obra desde 1958.
O livro passaria mais de três décadas fora de catálogo, sendo reeditado somente em 2004. Ainda em 1971, A pena e a lei sai pela Livraria Agir.

1975
O prefeito do Recife Antônio Farias nomeia Ariano como secretário de Educação e Cultura, cargo que exercerá até 1978. Publica Iniciação à estética. No Diário de Pernambuco, publica os folhetins de Ao sol da onça Caetana, primeiro livro de O rei degolado.

1990
Em 9 de agosto, Ariano é empossado como sexto ocupante da cadeira 32 da Academia Brasileira de Letras, para a qual havia sido eleito um ano antes. Vai à posse com um fardão feito por Edite Minervina, costureira recifense, com bordados criados por Cicy Ferreira.

1995
No terceiro governo de Miguel Arraes, assume a Secretaria de Cultura do Estado, onde ficará até 1998. Cria o conceito de aula-espetáculo, que o levaria a percorrer teatros, escolas, congressos e centros culturais do país. Festeja cinco décadas de vida literária e, ao participar da III Cavalgada à Pedra do Reino, é coroado Cavaleiro da Pedra do Reino.

2002
A escola de samba carioca Império Serrano escolhe como tema de seu carnaval Aclamação e coroação do imperador da Pedra do Reino Ariano Suassuna. Ele desfila na Marquês de Sapucaí, ao lado de Zélia, da sambista Dona Ivone Lara e do vaqueiro Zeca Miron, de São José do Belmonte.

2007
Assume pela segunda vez o cargo de secretário de Cultura de Pernambuco, no governo de Eduardo Campos, neto de seu amigo Miguel Arraes (falecido em 2005). Comemora bodas de ouro com Zélia e acompanha as comemorações dos seus 80 anos, que incluem homenagens, novas publicações e a exibição da microssérie A pedra do reino, de Luiz Fernando Carvalho.

2011
Torna-se secretário da assessoriaao governador.

2013
Sofre infarto do miocárdio e é internado por seis dias no Hospital Real Português.

2014
Morre em Recife, em decorrência de um acidente vascular cerebral (AVC) do tipo hemorrágico

Eduardo Almeida Reis - Ridículo‏

Ridículo
Compleição nunca foi sinônimo de competência, mas quando o biótipo baixinho combina com a estatura moral, o resultado é ridículo


Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 24/07/2014







É impressionante a quantidade de gente que se dá ao ridículo, que provoca riso, escárnio, zombaria achando que faz bonito. Joseph Blatter, 78, presidente da Fifa, é ridículo em seu casamento com Linda Barras, 49, suíça de origem armênia. Bernard Charles “Bernie” Ecclestone, 83, presidente e CEO da Formula One Management, é ridículo em seu casamento com Fabiana Flosi, 37, advogada brasileira. Nada mais ridículo do que um político analfabeto assinando, como presidente da República, um acordo ortográfico essencialmente ridículo.

Ridículas foram as atuações da seleção da Espanha na Copa das Copas, confirmando a necessidade de renovação do time. No dia da segunda partida, 18 de junho, houve a ridícula investidura de Felipe VI como rei da Espanha, renovação monárquica pela abdicação do rei Juan Carlos I, seu pai. Cabe a pergunta: por que os espanhóis não beijam as mãos das senhoras? Sempre beijei e as reações, no Automóvel Clube de Minas Gerais, eram de ternura, espanto e alegria: “Que bonitinho! Ele beija a mão!”. Pois é: beijo as mãos porque fumo charutos e nem todas as senhoras e senhoritas curtem os odores dos puros. Espanhóis decentes fumam charutos. Não vi nenhum, na fila dos cumprimentos, que beijasse a mão da mulher de Felipe VI.

Enquanto isso, a figura ridícula do governador Tarso Genro, do RS, sumia na tevê ao lado de Willem-Alexander Claus George Ferdinand, rei da Holanda. Compleição nunca foi sinônimo de competência, mas quando o biótipo baixinho combina com a estatura moral, o resultado é ridículo. Ficou faltando a quinta-essência, o cúmulo, o suprassumo do ridículo: jornalista de 60 anos, âncora e maior salário de uma rede de tevê, fantasiado com aquele chapéu de quatro chifres coloridos e balouçantes no dia da estreia do Brasil na Copa das Copas. Conseguiu bater o Lula assinando o Acordo Ortográfico.

Previsões

Lúcia e Maria Lúcia não têm parentesco e dizem gostar de Tiro & Queda, talvez porque o autor destas bem traçadas não seja amigo das notícias ruins e procure ver o mundo pelas ópticas do otimismo e da bonomia. Hoje, contudo, sou obrigado a noticiar verdades que vão desgostar muita gente.

Se você não bebe, não fuma, não come carne vermelha, pratica esportes regularmente e não sai de casa sem a cautela antecipada de se besuntar de protetores solares, lamento informar que o Sol caminha para a expansão até virar uma gigante vermelha ejetando suas camadas externas, o que deve ocorrer dentro de aproximadamente 5 bilhões de anos.

Portanto, não adianta evitar o álcool, o tabaco, a carne sangrenta, o sedentarismo e o câncer de pele, se o Sol, acabando, acaba também com o planeta em que você vive gozando perfeita saúde.

Almoço rural

Faleceu no Rio aos 88 anos o ex-governador Marcello Alencar, muito elogiado pelo fato de ter sido advogado de presos políticos. Hoje, temos advogados de políticos presos fazendo os piores papéis nas mais altas cortes de Justiça, quando atuam bêbados querendo pautá-las. Uns e outros, advogados de presos políticos ou de políticos presos, não vêm à balha neste belo suelto em que só quero contar de um almoço em fazenda fluminense, tarde muito quente, quando acabou o gelo indispensável para a uiscada.

O acesso à sede da fazenda era feito por estradinha estreita, sem permitir a passagem de dois carros. Portanto, os automóveis que chegavam paravam em fila indiana. E o último da fila, carro bacana, pertencia ao ex-governador Marcello Alencar.

Quando acabaram os cubos de água solidificada pela ação do frio, um vizinho disse: “Tenho gelo na fazenda”. Brasileiro ilustre, professor de mecânica dos solos da PUC-Rio e dono de uma empresa que empregava 360 engenheiros, o fazendeiro só poderia chegar a sua fazenda, distante 16 quilômetros por miserável estradinha de terra, se fosse no carro do ex-governador, o último da fila. Fui com ele e me lembro de que o odômetro acusava menos de 200 quilômetros, sinal de que o carro tinha sido comprado na véspera: a fazenda ficava a 140 quilômetros de Copacabana.

Assumindo o volante, com o prestativo philosopho no banco do carona, o professor da PUC-Rio perguntou: “Vamos dar um pau neste carro?”. O carona, que sempre teve o pé direito meio pesado e já estava ligeiramente trêbado, concordou entusiasmado.

Senhoras e senhores do egrégio conselho leitoral: o carro novíssimo do ex-governador voou nos 32 quilômetros, ida e volta, para apanhar o gelo, estradinha cheia de buracos e curvas, sem air bags e security belts. Sobrevivi para contar o episódio em 299 palavras.

O mundo é uma bola

O dia 24 de julho de 1414 teve relação com o descobrimento do Brasil: deve ter sido a data da reunião, em Torres Vedras, do Conselho Régio de dom João I, de Portugal, para deliberar sobre a expedição que conquistaria Ceuta e marcaria o início da expansão e dos descobrimentos portugueses.

Em 1883, Campos de Goytacazes, RJ, se torna a primeira cidade da América Latina com iluminação pública, que não serviu para iluminar as mentes do eleitorado de Anthony e Rosinha Garotinho. Hoje é o Dia da Iluminação Elétrica.

Ruminanças

“Há duas maneiras de espalhar a luz: ser a vela ou o espelho que a reflete” (Edith Wharton, 1862-1937).

Futuros engenheiros

Falta sintonia entre a formação acadêmica dos nossos profissionais de engenharia e as necessidades específicas das empresas


Olavo Machado
Presidente da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Sistema Fiemg)
Estado de Minas: 24/07/2014



O acirramento da concorrência entre empresas de todo o mundo, consequência da globalização da economia, tornou obrigatória a preocupação com a inovação e o desenvolvimento tecnológico – são fatores reconhecidos como decisivos na conquista de mercados, sobretudo nestes tempos de grave crise mundial. Foi esse cenário que motivou a Fiemg a criar o Programa Futuros Engenheiros – Capacitando Universitários para a Indústria. Nossa convicção, fundamentada na experiência de países vitoriosos em sua economia e em sua indústria, é a de que a engenharia é crucial para sustentar um processo consistente de inovação e desenvolvimento de tecnologia.

Inspirou-nos, igualmente, a realidade do ensino de engenharia no Brasil, que nos deixa em extrema desvantagem em relação a inúmeros países com os quais disputamos mercados nos quatro cantos do mundo. Estatísticas oficiais mostram que, hoje, para cada 50 graduandos, o Brasil forma apenas um engenheiro. A Coreia do Sul forma quatro vezes mais. Em números absolutos, enquanto o Brasil passa a contar com apenas 32 mil novos engenheiros anualmente, a Coreia do Sul forma mais do que o dobro (80 mil), a Rússia forma mais do que o triplo (100 mil), a Índia forma quase oito vezes mais (250 mil) e a China forma 400 mil – ou seja, 12 vezes mais.

A distância que nos separa desses países é quilométrica e aumenta a cada ano: de acordo com estudos da Confederação Nacional da Indústria (CNI), o Brasil precisa formar pelo menos 60 mil engenheiros a cada ano, o dobro, portanto, da capacidade de nossas universidades. Além de tudo isso, convivemos com outro desafio – a falta de sintonia entre a formação acadêmica dos nossos engenheiros e as necessidades específicas das empresas.

O Programa Futuros Engenheiros – Capacitando Universitários para a Indústria foi idealizado, portanto, para cumprir dois objetivos fundamentais: em primeiro lugar, chamar a atenção para o crescente déficit de profissionais e, via de consequência, alertar para a necessidade de ampliação das vagas em nossas escolas de engenharia. O segundo objetivo, igualmente relevante, é o de oferecer aos estudantes de engenharia a oportunidade de ampliar os seus conhecimentos técnicos e práticos, preparando-os para atuar na indústria.

O programa também tem como foco fazer com que os estudantes entendam melhor a prática do dia a dia da profissão que escolheram, de forma a incentivá-los a progredir na engenharia, reduzindo a evasão de profissionais para outras áreas de conhecimento. Na verdade, a criação do Programa Futuros Engenheiros foi uma resposta da Fiemg às demandas das empresas por estudantes de engenharia e recém-formados com maiores conhecimentos práticos e comportamento organizacional para atuar e contribuir para o desenvolvimento da indústria mineira. A ideia é propiciar ao graduando mais contato com sua profissão e, às empresas, a possibilidade de contar com profissionais mais completos e cientes das reais necessidades da indústria.

Com esses objetivos, o programa é operacionalizado pelo Sistema Federação das Indústrias de Minas Gerais, com a participação das entidades que o integram: a gestão é feita pelo Instituto EuvaldoLodi (IEL), com a participação do Serviço Social da Indústria (Sesi) e do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), em cujas unidades os estudantes de engenharia participam de cursos de aperfeiçoamento.

Nossa expectativa é a de fazer do Programa Futuros Engenheiros um instrumento eficaz de sensibilização dos estudantes recém-formados para a importância da engenharia na indústria – e, também, que forneça aos estudantes conhecimentos para a prática cotidiana do setor industrial. Nossa crença é a de que os engenheiros são personagens decisivos no processo de transformação do conhecimento em inovação e tecnologia. São, igualmente, profissionais imprescindíveis na implementação dessas inovações nos sistemas produtivos.

Essas são premissas que nos animam a seguir adiante com o Programa Futuros Engenheiros, que acaba de formar a sua primeira turma e já é reconhecido pela Confederação Nacional da Indústria como modelo a ser replicado em todos os estados brasileiros como instrumento de ampliação da competitividade da indústria nacional.

Ariano Suassuna

ARIANO SUASSUNA

ARIANO APONTA OS NOMES QUE, SEGUNDO ELE, MERECEM IR PARA O TRONO DA CULTURA BRASILEIRA

Autor de um dos mais belos livros publicados nas últimas décadas no Brasil, o imerecidamente pouco conhecido ''Romance da Pedra do Reino'', o escritor e dramaturgo Ariano Suassuna vem se dedicando a uma grande tarefa. Em nome da defesa da cultura brasileira contra a infiltração do ''lixo cultural'' despejado goela abaixo de países satélites como o Brasil, Ariano vem se dedicando a uma cruzada solitária em defesa de manifestações da criatividade popular.


O cruzado Ariano se esquece até de que tem horror a viajar. Há pouco tempo,foi parar no Rio Grande do Sul, para dar uma ''aula-espetáculo'' - uma façanha digna de registro, na biografia de um homem que se contenta em ver aviões em fotografias. Segunda tarefa: conhecido como autor do ''Auto da Compadecida'', texto teatral que virou até filme dos Trapalhões, este sertanejo da Paraíba radicado há décadas no Recife pretende lançar em breve um livro em que simplesmente recria e reescreve tudo o que já' produziu na vida.A tarefa se arrasta há anos. Não é para menos. Nesta entrevista, além de acusar de ''equivocados'' os que defendem a abertura dos portos ao ''lixo cultural'' estrangeiro, ele faz uma lista dos artistas e escritores que, segundo ele, realmente representam o Brasil.

O chamado ''gosto médio'', a que o senhor se refere com desprezo, é' ''pior do que o mau gosto''. Quais são, na produção cultural brasileira de hoje, os piores exemplos da vitória do ''gosto médio'' sobre a qualidade artística ?

ARIANO SUASSUNA : '' O gosto médio a que me refiro é ligado àquele mesmo lixo produzido pela indústria cultural de massas. É fácil identificar na produção cultural brasileira de hoje quem segue tais padrões ou com eles se acumplicia''.
Há quem diga que quem defende a preservação da chamada ''arte popular'' defende, na verdade,a manutenção da pobreza. Porque, se conseguissem vencer a pobreza e se tivessem acesso à educação, os artistas populares certamente deixariam de produzir obras formalmente rústicas e primitivas. 

O que o senhor diz a estes críticos ?

ARIANO SUASSUNA : "Digo, em primeiro lugar, que se realmente a opção fosse esta eu não teria dúvida : seria melhor que a injustiça desaparecesse, mesmo que a Arte popular desaparecesse com ela. Mas acontece que este é' somente um sofisma, criado por por pessoas que, na verdade, detestam as manifestações populares da nossa Cultura. Em segundo lugar, eu gostaria de refutar o lugar-comum segundo o qual as obras criadas no âmbito na Arte popular são necessariamente rústicas e primitivas quanto à forma. Veja-se, por exemplo, a seguinte Décima que poderia ter sido escrita por Calderon de la Barca - e é' do cantador Dimas Batista :

Na vida material
cumpriu sagrado destino :
o Filho de Deus, divino,
nos deu glória espiritual.
Deu o bem, tirou o mal,
livrando-nos da má sorte.
Padeceu suplício forte,
como o maior dos heróis.
Morreu pra dar vida a nós :
a vida venceu a morte.

Ou então esta,que Mallarmé assinaria :

No tempo em que os ventos suis
faziam estragos gerais,
fiz barrocas nos quintais,
semeei cravos azuis.
Nasceram estes tafuis,
amarelos como cidro.
Prometi a Santo Izidro,
com muito jeito e amor,
leva-los, quando lá for,
em uma taça de vidro.

Assim, caso os Poetas, hoje populares, recebessem educação universitária, o que poderia acontecer é que passassem todos a compor seus versos com o rigor das duas Décimas citadas. Não acredito que o Povo pobre do Brasil perdesse a força criadora caso melhorasse de vida. Melhorou, na China - e nem por isso o Teatro nacional e popular chinês desapareceu ou piorou. Pelo contrário. Ou, para falar em termos brasileiros: J. Borges é um grande gravador popular. Se tivesse tido formação ''erudita'', continuaria a ser o grande artista brasileiro que é, somente tratando seus universos pessoais e peculiares com o rigor formal de um Gilvan Samico''.

Quem é, afinal, para o senhor,o artista que, em qualquer área de produção cultural brasileira, melhor representa o Brasil ?

ARIANO SUASSUNA : ''Artes plásticas : Aleijadinho, Francisco Brennand e Gilvan Samico. Artes cênicas : Antonio José da Silva, o Judeu; Martins Pena, Qorpo Santo e Artur Azevedo. Literatura : Euclydes da Cunha, Augusto dos Anjos. Música : José Mauricio Nunes Garcia, Villa-Lobos, Guerra Peixe, Ernesto Nazaré, Capiba e Antônio José Madureira. Védeo e cinema : Glauber Rocha, Nelson Pereira dos Santos, Vladimir Carvalho, Guel Arraes e Luiz Fernando Carvalho''.

O senhor reclama de que ''o patrocínio de multinacionais nos eventos é uma tentativa de adormecer a resistência de nosso povo e aviltar a cultura brasileira pelo suborno dos intelectuais''. Quais são os patrocínios ou promoções que o senhor considera exemplos de ''tentativas de suborno'' ?

ARIANO SUASSUNA : ''Recusei indicações para o Prêmio Shell e para o Sharp. Recusei-me a participar da Bienal Nestlé de Literatura. Não fui eu que passei a notícia das recusas para os jornais, porque não fiz isto para me exibir nem para incorrer em falta de fraternidade com escritores e artistas que não têm as mesmas idéias nem as mesmas condições que eu tenho. Tais condições me deixam à vontade para recusar. Por isso, peço licença para, de uma vez por todas, encerrar aqui este desagradável assunto''.

Se a cultura é inevitavelmente afetada pela economia, não é ingenuidade querer que manifestações culturais brasileiras sejam preservadas numa espécie de redoma à prova de influências externas, numa época em que as relações econômicas sofrem um processo radical de internacionalização ?

ARIANO SUASSUNA : ''Colocar a Cultura brasileira numa redoma, além de ser uma coisa impossível, é algo de absolutamente indesejável. Faz muito tempo que venho fazendo afirmações em tal sentido. Por exemplo : no dia primeiro de dezembro de 1963, publiquei no jornal ''Última Hora'' um artigo no qual dizia que ''a Arte que se tornasse uniforme não se tornaria mais pura, tornar-se-ia, isto sim, mais pobre''. Depois, em 1974, ao reunir as ideias centrais do Movimento Armorial, eu afirmava que, ao valorizar o tronco negro, indígena e ibérico da nossa Cultura, não estávamos esquecidos de outras etnias e manifestações culturais que também são importantíssimas para o Brasil. Tomávamos tal posição por estarmos convencidos de que somente fortalecendo aquele tronco cultural é que qualquer coisa que nos venha de fora passa a ser, em vez de uma influência que nos esmaga e nos massifica num cosmopolitismo achatador e monótono, uma incorporação que nos enriquece.
O que não posso aceitar é que brasileiros equivocados queiram que, em nome de nossa bela e fecunda diversidade, aqui seja acolhido também o lixo cultural que é sub-produto da indústria cultural americana espalhado pelo resto do mundo como se fosse coisa tão importante - e até mais importante - do que os romances de Faulkner. Ou seja: não tenho nada contra Melville. Mas não é possível que queiram exigir que eu ache que Michael Jackson e Madonna tem a mesma importância que Melville ou Euclides da Cunha. Quero deixar claro que tenho pelo ''lixo cultural'' brasileiro horror igual ao que tenho por qualquer outro''.

Se tivesse de escolher entre passar um fim de semana passeando com Woody Allen pelas ruas de Manhattan ou cavalgando com um vaqueiro pelos morros do sertão da Paraíba, com qual dos dois o senhor ficaria ?

ARIANO SUASSUNA : ''Passear por Manhattan, com Woody Allen ou com qualquer pessoa de tal tipo, é coisa que, para mim, não representa qualquer atrativo. Nunca saí do Brasil, mas, já que estamos no terreno das hipóteses, por que você, que é meu amigo, não pensa em alguém melhor e num lugar melhor? Quanto à outra alternativa, não tenho mais a resistência para sair por aí afora cavalgando pelos morros do sertão da Paraíba''.

O senhor não acredita que manifestações culturais e artísticas de um povo possam absorver criativamente influências externas ? Um violeiro que vê televisão não pode se enriquecer com as novas informações que recebe ?

ARIANO SUASSUNA - Qualquer um de nós pode se enriquecer com as novas (e boas) informações que recebe. Eu leio jornais e vejo televisão. Os cantadores e violeiros nordestinos também. Nenhum de nós perde, com isso, a garra brasileira e o senso crítico e satírico. Pelo contrário. Ouvi recentemente o cantador nordestino Edmílson Ferreira comentar assim, num Martelo-de-Seis-Linhas, as desventuras conjugais da família real inglesa :

Na Inglaterra,as coisas andam feias,
todo mundo por lá endoidecendo.
Toda dia é uma princesa sem marido,
ou um príncipe que, só,fica vivendo.
Ou a carne de vaca fez efeito,
ou o chifre do boi está fazendo.

Qual é a pior doença e qual é a melhor cura para o Brasil de hoje, às vésperas do ano dois mil ?

ARIANO SUASSUNA : ''Machado de Assis fez uma distinção definitiva entre o Brasil oficial e o Brasil real que, a meu ver, é o do Povo, o do ''Quarto Estado''. As maiores doenças nossas têm origem no Brasil oficial e a cura só lhe pode vir do Brasil real. As pessoas que sustentam idéias diferentes das nossas parecem pensar: ''O Brasil oficial é o problema; na Europa e nos Estados Unidos está' a solução''. Eu acho que o Brasil oficial é o problema, no Brasil real está' a solução '' .Ou,um pouco à moda de Unamuno: ''Brasil é o problema, Brasil é a solução''.

O senhor ainda reclama das guitarras elétricas. Isto não é uma discussão superada desde os anos sessenta ?

ARIANO SUASSUNA : ''Vou mais longe, até: esta é uma discussão que não tem o menor interesse - e desde muito antes. Nem nos anos sessenta ela fez parte das minhas preocupações. Em música, gosto de Monteverdi, Vivaldi, Scarlatti, Stravinsky, Erik Sati, José Mauricio Nunes Garcia, Joaquim Emérico Lobo de Mesquita, Villa Lobos, Guerra Peixe ou Antonio José Madureira. Quando vão me entrevistar, fazem-me pergunta sobre guitarra elétrica, Michael Jackson e Orlando Silva. É' por isso que apareço falando sobre assuntos ou pessoas sobre as quais não tenho o menor interesse. Nunca me viriam à lembrança - se não me fizessem tais perguntas''.
O senhor diz que não tem interesse pela obra de compositores da MPB, como Caetano Veloso e Gilberto Gil, porque eles são influenciados pela ''massificação cultural americana''. 

O senhor não reconhece na obra de compositores como estes nenhuma contribuição para a modernização da música popular brasileira ?

ARIANO SUASSUNA : ''Por iniciativa minha, jamais fiz qualquer referência a Caetano Veloso e Gilberto Gil. As pessoas que me entrevistam é que fazem perguntas a respeito deles e de outros. Depois, na maioria dos casos, quando publicam as matérias, ficam me acusando de radical e intolerante por causa das respostas que dou, porque não costumo esconder nem disfarçar o que penso. Quanto a mim, não gosto de estar falando mal de nenhum companheiro de trabalho, principalmente quando se trata de pessoas que antes estavam do nosso lado e depois passaram a emprestar seu talento ao outro''.

O senhor, secretario de um governador - Miguel Arraes - que se declara intransigentemente nacionalista, gostaria de ser ministro de um presidente neo-liberal ?

ARIANO SUASSUNA : ''Sou amigo do governador Arraes, mas só concordei em ser Secretário porque acho que ele representa, no campo da Politica brasileira, o mesmo que eu procuro ser no campo da Cultura. O convite foi honroso. O cargo tem me trazido muitas e ardentes alegrias. Mas está me obrigando também a fazer coisas que detesto - como, por exemplo, viajar. Imagino o que não aconteceria como Ministro, motivo pelo qual não gostaria de exercer tal cargo com nenhum Presidente, neo-liberal ou não. Eu teria até de me mudar para Brasilia, o que, para mim, seria uma verdadeira catástrofe. Felizmente, pertenço à oposição. Não existe qualquer perspectiva a tal respeito; de modo que não vou me preocupar com a possibilidade colocada na pergunta''.

Como se chama e do que tratará o livro que o senhor vem escrevendo há anos ? Que impacto o senhor gostaria que este livro tivesse no meio literário brasileiro ?

ARIANO SUASSUNA : '' O livro,ainda sem título, é um romance que, se for concluído como pretendo, será uma espécie de revisão e recriação de tudo o que escrevi. Terminará a historia que comecei a narrar com ''A Pedra do Reino''. Quanto ao ''impacto'', não tenho nenhuma originalidade : gostaria que o livro tivesse boa aceitação de público e de crítica. Mas, infelizmente, tenho consciência de que sou um escritor de poucos livros e de poucos leitores. Já me darei por muito feliz se meu corajoso editor não tiver prejuízo''.

Se um violeiro procurasse o senhor com uma guitarra ,o que é que o senhor faria ?

ARIANO SUASSUNA : ''Um violeiro com uma guitarra na mão seria aquilo que, em Lógica, se chama uma contradição em seus próprios termos : ele não seria mais um violeiro e sim um guitarrista. E provaria, com a nova opção, que nem como violeiro ele prestava. Mas só estou respondendo porque, como se diz nos depoimentos judiciais, com grande alivio meu e dos leitores, chegou a hora do "nada mais disse nem foi perguntado''.
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1996
Posted by geneton at julho 7, 2007 12:16 AM Fonte