quarta-feira, 30 de abril de 2014

Mais do que selfies com banana, por favor - Luiz Antônio Araujo

As mais recentes pesquisas de intenção de voto nas eleições para o Parlamento Europeu, a serem realizadas de 22 a 25 de maio, captam um fenômeno novo e, até certo ponto, histórico. Da Finlândia à Grécia, organizações de origens e perfis variados, mas que compartilham uma forte rejeição à imigração e um discurso abertamente racista parecem prontas a deixar a marginalidade política onde vegetaram nos últimos 25 anos e se tornar uma força decisiva em Estrasburgo.

O caso mais surpreendente é o da Grã-Bretanha, onde o Partido Independente (Ukip, em inglês) ostenta mais de 30% de intenção de voto na faixa mais convicta do eleitorado. Ontem, um candidato do Ukip foi obrigado a renunciar depois de sugerir que o comediante Lenny Henry voltasse para “um país de negros”.

Na França, a Frente Nacional (FN), de Marine Le Pen, que conquistou importantes prefeituras em cidades pequenas e médias no último pleito municipal, conquistaria, segundo as estimativas, 20 dos 74 assentos europeus a que o país tem direito. Na Dinamarca, um partido anti-imigrantes lidera as pesquisas com 27%. Na Áustria, o Partido da Liberdade, que foi um dia comandado pelo racista ex-governador da Caríntia Jörg Haider e hoje faz campanha contra a “islamização”, alcança 20%.

Embora a discriminação tenha uma longa história na Europa e nunca tenha deixado de ser popular, a bandeira mais vistosa desses partidos, todos situados à direita do arco político, é a campanha contra a participação na União Europeia. Enquanto o megainvestidor húngaro-americano George Soros diz em entrevista à mais recente edição da revista The New York Review of Books que “o euro veio para ficar”, a maioria dos cidadãos europeus vê o bloco como incapaz de oferecer mais do que soluções tecnocráticas para a crise econômica. Até o momento, a extrema direita não esboçou uma política verdadeiramente europeia – a maioria desses partidos mira antes de tudo o poder doméstico. Mas, se acordarem em 26 de maio como segunda ou terceira força no Parlamento Europeu, terão de arcar com as novas responsabilidades. Diante disso, será preciso pensar em algo mais do que selfies com bananas nas redes sociais.

MARTHA MEDEIROS - O coletivo em chamas

Zero Hora - 30/04/2014

Quando bem criança, eu ia de ônibus com minha mãe para o centro da cidade. Era uma aventura.

No colégio, voltava para casa de ônibus todas as manhãs. Aliás, na primeira excursão do colégio, fui com as colegas conhecer o Rio de Janeiro e lá nossa pequena “máfia” (Ana, Alice, Suzana, Anelise...) ia de Botafogo para Copacabana também de ônibus, escondidas das freiras – o máximo de rebeldia da nossa adolescência.

Meu primeiro namorado não tinha carro, ainda que tivesse habilitação: quando a saída não era a pé, era de ônibus. Íamos a um boteco, a um show, a um parque – de ônibus.

E muito viajei de ônibus para Torres, Florianópolis, Canela, Santana do Livramento, Montevidéu. Já fui até Salvador de ônibus, ida e volta. Eu não era pobre: era jovem.

Depois, surgiu o lotação, e com ele a promessa de maior conforto e agilidade: aderi. E hoje não uso mais uma coisa nem outra, me desloco de automóvel e táxi, mas nunca perdi o respeito pelo principal transporte público não só do Brasil, mas de todos os países, inclusive daqueles que possuem metrô há mais de cem anos, caso da Inglaterra e da Argentina.

Se a roda é o símbolo-mor da evolução da humanidade, o ônibus é sua representação mais significativa. Ele leva trabalhadores aos seus empregos, estudantes às suas escolas, torcedores aos estádios, possibilita que as pessoas se visitem em bairros e cidades distantes, faz a economia girar, põe a vida em movimento.

Todo mundo, absolutamente todo mundo precisa de um, ou precisa de alguém que utiliza um.

O mesmo “todo mundo” que come pão e toma leite diariamente, só que ninguém faz passeata contra o aumento do pão e do leite. No entanto, quando há aumento da tarifa de ônibus, para-se uma cidade. Revoltados, os manifestantes enfrentam policiais, quebram agências bancárias e incendeiam... ônibus? Logo os ônibus?

Qualquer vandalismo é um tiro no pé, já que a cidade é de todos, mas queimar ônibus desafia meu racionalismo, me deixa perplexa, principalmente pela frequência com que tem acontecido. Virou uma banalidade, já nem é mais um ato político. Dos motivos mais bobos, como no caso de o seu time ter perdido um jogo, até algo mais trágico e emocional, como um tio atropelado na estrada, parece que a única forma de protestar é riscar um fósforo e pronto, temos uma fogueira e um revide. Só que não se está falando de um artefato de papel.

Um ônibus é um bem enorme, pesado, robusto – e extremamente necessário na manhã seguinte. Um ônibus. Dois. Sete. Agora imagine 34 ônibus queimados de uma só vez, como aconteceu recentemente em Osasco, na grande São Paulo. Calcule o prejuízo não só para a empresa proprietária dos veículos, mas para a sociedade.

Não chegamos até aqui para voltar à pré-história.

Frei Betto - Amarildo e Douglas‏

Amarildo e Douglas -  Frei Betto    

Nas favelas do Rio, na ausência de serviços públicos básicos, o narcotráfico desempenha o papel de assistente social


Estado de Minas: 30/04/2014


Primeiro, mataram Amarildo de Souza. Ajudante de pedreiro, pai de família, reputação ilibada, caiu em mãos de policiais da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da favela da Rocinha, no Rio, e desapareceu.

Sabe-se, hoje, que sofreu espancamentos até a morte atrás da cabina da Policia Militar, na Rocinha. Seu corpo continua desaparecido. Paira a suspeita de que teria sido triturado em uma caçamba de caminhão de lixo.

Agora assassinaram o bailarino Douglas Rafael Pereira, encontrado morto, com um tiro nas costas, na creche da favela Pavão-Pavãozinho, na divisa de Copacabana com Ipanema. Testemunhas viram-no em mãos de policiais militares da UPP local.

Favela não é reduto de bandidos, nem a Polícia Militar uma corporação de assassinos. Moram em favelas famílias trabalhadoras sem recursos para adquirir um imóvel melhor ou pagar aluguel em áreas urbanizadas, dotadas de saneamento e vias asfaltadas.

Há, sim, entre os moradores da comunidade, bandidos e traficantes de drogas, assim como eles também são encontrados em bairros como o Morumbi, de São Paulo, e a Barra da Tijuca, no Rio, onde residem famílias de alto poder aquisitivo.

Nas décadas de 1970-80, a expansão de movimentos populares no Brasil se estendeu para o interior das favelas. Por razões pastorais, morei na de Santa Maria, em Vitória, entre 1974 e 1979. Naqueles cinco anos, participei de uma comunidade relativamente bem organizada em torno do centro comunitário. No Rio e em São Paulo, multiplicavam-se associações de moradores.

Em fins dos anos 1980 e início da década seguinte, lideranças comunitárias da periferia começaram a ser cooptadas por prefeitos e governadores. Como ocorre hoje com a União Nacional dos Estudantes (UNE) e as centrais sindicais, as entidades comunitárias perderam credibilidade, na medida em que se transformaram em agentes do poder público junto à população, quando deveriam atuar na direção inversa.

A acefalia abriu espaço ao narcotráfico, que passou a monitorar favelas e bairros da periferia. Na ausência de serviços públicos básicos, o narcotráfico desempenha o papel de assistente social, assegurando tratamento de saúde, bolsas de estudos, transporte e crédito aos desfavorecidos.

Por sua vez, a PM, um resquício da ditadura, tornou-se, no Rio e em São Paulo, o avatar na guerra contra o narcotráfico. A ação preventiva deu lugar à mera ação repressiva. Sem preparo pedagógico e psicológico, policiais militares encaram moradores de favelas como o governo dos EUA trata jovens muçulmanos: todos são suspeitos até prova em contrário.

Como declarou um amigo e vizinho de Douglas, os PMs tratam os moradores da favela com arrogância. Muitos não admitem que a pessoa abordada mire em seus olhos. Sentem prazer sádico em ver o cidadão humilhado, de cabeça baixa, suplicando por clemência. Achacam o comerciante local, bebem e comem de graça em bares e lanchonetes da comunidade, recebem propinas do narcotráfico para fazer vista grossa frente ao crime organizado.

O governo do PMDB no Rio, com apoio do PT, acreditou ter inventado a roda ao instalar UPPs em áreas de conflitos. Cometeu duplo erro: por não fazer os serviços públicos acompanharem a entrada de policiais nas comunidades e por não capacitar os integrantes das UPPs.

A ação repressiva não veio casada com a ação educativa. Crianças e jovens continuaram sem escolas de qualidade, oficinas de arte, áreas de lazer e esportes. E por vestirem uma farda e portarem armas, PMs se arvoram em senhores acima do bem e do mal. Revistam um trabalhador como um senhor de engenho tratava um escravo em tempos coloniais.

O estranho é que muitos policiais, moradores em favelas, não se reconhecem em seus amigos de infância e vizinhos e agem como se não fossem um deles. Amarildo e Douglas, como tantos outros anônimos, foram sacrificados pela prepotência. Quem será a próxima vítima?

Amarildo e Douglas são mortos insepultos. Seus sacrifícios clamam por um Estado que efetivamente reduza a desigualdade social, construa mais escolas que prisões, incuta nos policiais o sagrado respeito aos direitos humanos, e puna com rigor bandidos de colarinho branco e assassinos fardados.

Se até hoje o Estado brasileiro não obrigou as Forças Armadas a abrirem os arquivos da ditadura nem puniu os torturadores, não é de se estranhar que policiais se sintam no direito de ignorar a lei e a cidadania, para agir como se fossem apenas UPPs – Unidades de Policiais Pervertidos.

TeVê

TV PAGA » Elas batem um bolão
Estado de Minas: 30/04/2014


 (GNT/Divulgação)


Alguns canais já entraram de vez no clima de Copa do Mundo. Até o GNT, que estreia hoje, às 20h, a série As titulares (foto). O programa vai mostrar que futebol não é assunto exclusivamente masculino e entrevista mulheres apaixonadas e envolvidas com o esporte, de torcedoras fanáticas a jogadoras profissionais ou mesmos as musas dos times. Também hoje vai ao ar a nova temporada de Paixão bandida, às 21h, relatando casos reais de homens que se relacionam com mulheres que estão presas.
Documentário investiga o
fenômeno do êxodo rural

O programa Sala de notícias, do canal Futura, continua exibindo curtas produzidos por universitários de todo o país, reservando para hoje, às 14h35, o documentário Tudo que movimenta, de Thamara Silva Pereira, da Universidade de Brasília. No interior de Minas Gerais, pequenas comunidades rurais guardam histórias de pessoas que se desprenderam de suas raízes em busca de uma vida melhor nos centros urbanos. A população desses distritos, esvaziada e envelhecida pela migração
de seus jovens, vive uma cultura de ‘ausência’, alimentando saudades dos filhos, netos e irmãos que abandonaram o campo.

Criminalidade é tema dos
canais Curta! e Discovery

Outras duas produções nacionais merecem a atenção do assinante. No canal Curta!, às 21h, a atração é Ônibus 174, de José Padilha, montado a partir de uma investigação baseada em imagens de arquivo, entrevistas e documentos oficiais sobre o sequestro de um ônibus em plena zona sul do Rio de Janeiro e que acabou com a morte de uma refém e do sequestrador, em 12 de junho de 2000. Às 23h10, no Discovery, estreia a nova temporada de Águias da cidade, que acompanha as ações do Grupamento de Radiopatrulha Aérea da Polícia Militar de São Paulo.

Pacote de musicais vai de
Cartola a Zeca Pagodinho

O Brasil é destaque absoluto também na programação musical, começando com o documentário Cartola, música para os olhos, de Lírio Ferreira e Hilton Lacerda, narrando a trajetória do autor de clássicos da MPB como O mundo é um moinho
e As rosas não falam, às 20h30, no canal Arte 1. Já às 22h, no SescTV, vai ao ar o show que Angela Ro Ro e Lirinha fizeram juntos no Sesc Pompeia, em São Paulo. E às 23h, o Multishow transmite ao vivo o show Sambabook, de Zeca Pagodinho.

Ação, drama e humor na
programação de cinema

Sem grandes novidades no pacotão de cinema, o melhor do dia é a reprise de Lemon tree, do israelense Eran Riklis, às 22h, no Arte 1. No mesmo horário, o assinante tem mais oito opções: Simone, no Canal Brasil; Vai que dá certo, no Telecine Premium; Homem de Ferro 3, no Telecine Pipoca; As coisas impossíveis do amor, no Telecine Touch; Amostras grátis, na HBO HD; Trilha fria, no Max Prime; Tempos de violência, na MGM; e Coração selvagem, no TCM. Outras atrações da programação: Maridos e esposas, às 21h, no Comedy Central; Blitz, às 21h45, no Megapix; Abraços partidos, às 21h55, no Glitz; e Eu queria ter a sua vida, às 22h15, no Universal.

CARAS E BOCAS » Vitória do bem



Lili (Juliana Paiva) e Marlon (Rodrigo Simas) terão final feliz em Além do horizonte   (Paulo Belote/TV Globo)
Lili (Juliana Paiva) e Marlon (Rodrigo Simas) terão final feliz em Além do horizonte


Depois de combater LC (Antônio Calloni), o grande vilão da trama, e sua comunidade do mal, o casal Lili (Juliana Paiva) e Marlon (Rodrigo Simas) alcançará a tão sonhada felicidade. Mas até lá ainda passará por poucas e boas nos capítulos finais de Além do horizonte (Globo), que termina na sexta-feira. Denunciada por Paulinha (Christiana Ubach), que conta ao Grande Mentor que é traído pela própria filha, Lili sofrerá nas mãos do pai, que mostra que nem o amor por ela é capaz de conter seu desejo de vingança. De acordo com o site oficial da novela, para flagrá-la no ato, LC faz uma jogada e comunica a todos que a segurança da comunidade ganhará reforços. Rapidamente, Lili corre para avisar Marlon. Mas o pai a segue: “Quer dizer que você está mesmo me traindo, minha filha querida?!”, pergunta ao vê-la usando seu comunicador para falar com a tropa do bem. Lili, então, explode: “Traí e trairia mil vezes se fosse preciso. Você é um crápula que se acha superior aos outros... Um monstro que não se importa em colocar pessoas indefesas naquela máquina maluca... Pessoas inocentes que vieram atrás de um sonho de felicidade e que para algumas se transformou num pesadelo, num circo de horrores...”, diz Lili, furiosa. LC não aguenta ouvir o discurso da filha e demonstra sua decepção: “Você é pior, você é só uma boboca que repete essa bobagem sentimentaloide de que somos todos iguais... Vou te contar um segredo... Nós não somos iguais... Algumas pessoas nascem especiais, nascem talhadas para dominar as outras... Eu sou especial! E meu erro foi pensar que você também era”. LC deixa claro que não vai perdoar a filha. E decide mandá-la para a máquina. Lili foge e se encontra com Paulinha. As duas se engalfinham e Lili é capturada pelo pai. Muitas cenas de ação ainda vão rolar até o capítulo final, quando Lili e Marlon sairão vitoriosos e transformarão a comunidade em um reduto de amor e paz.

DEPRESSÃO E BOM HUMOR
NA PAUTA DA REDE MINAS

O Opinião Minas de hoje, às 8h15, na Rede Minas, vai falar sobre depressão. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, a depressão acomete mais de 350 milhões de pessoas pelo mundo, principalmente as mulheres. Mas o que
pouca gente sabe é que a depressão pode estar ligada à má alimentação. Já o Brasil das Gerais, às 20h, na emissora, vai reprisar um programa de julho de 2007 que teve como tema o
bom humor.

SÉRIE FECHA TEMPORADA
COM CENA DE DESPEDIDA

O episódio final da 10ª temporada da série Grey’s anatomy, que irá ao ar em 15 de maio, nos Estados Unidos, traz os médicos do Hospital Grey Sloan Memorial na despedida da doutora Cristina Yang (Sandra Oh), uma das principais da série, que irá deixar o local. Enquanto isso, Meredith (Ellen Pompeo), a protagonista, precisa tomar uma
decisão que irá mudar totalmente sua vida. Já um ato de terrorismo em Seattle causa o caos no hospital. No Brasil, a série
é exibida pelo canal Sony (TV paga).

ENTRELINHAS DESTACA OS
AUTORES INTERNACIONAIS

O Entrelinhas, hoje, às 23h30, na Cultura, exibe entrevistas feitas durante a Flip – Festa Literária Internacional de Paraty com a escritora e jornalista Xinran e com o romancista Ma Jian. A Flip foi uma oportunidade para saber quais são os temas que preocupam os autores chineses. O programa destaca também uma das personagens mais polêmicas da Flip: a artista plástica francesa Sophie Calle, que usa experiências pessoais para fazer obras de arte que flertam com a literatura, como no livro Histórias reais. 


GÊNIO DA CIÊNCIA

Chiquititas recebe um novo personagem no capítulo de amanhã, às 20h30, no SBT/Alterosa. É Samuca, interpretado por Donato Veríssimo. Considerado um gênio que tem na ciência sua grande diversão, ele vai morar no Orfanato Raio de Luz. Dotado de uma incrível inteligência desde os 2 anos de idade, quando criou uma mamadeira que liberava a exata quantidade de leite para uma criança da idade e peso dele, o garoto cresceu e aprendeu com o avô, que também era um inventor, a desenvolver com exatidão essas habilidades científicas. Na primeira cena, Samuca, cujo nome é Samuel, é recebido por Carol (Manuela do Monte) e as chiquititas. Os meninos apresentam o quarto deles e estranham o jeito de o novo morador falar. Samuca, vale destacar, é um apelido carinhoso que ganhou de Mosca (Gabriel Santana). Nos próximos capítulos, os órfãos irão descobrir que Samuca é sonâmbulo e alguns conseguirão pegar um de seus inventos secretos, um multiplicador de objetos, que resultará numa grande confusão envolvendo Ana (Giulia Garcia). 


VIVA

Esquenta! (Globo), que fez homenagem ao dançarino DG, integrante do elenco da atração, assassinado no Rio de Janeiro.
Foi emocionante. 


VAIA

É sem propósito um personagem como Nando (Leonardo Medeiros), advogado, ficar naquela situação na trama de
Em família (Globo).  

18 passos e três chutes [Miguel Nicolelis]

O neurocientista Miguel Nicolelis anuncia que um dos pacientes paraplégicos do projeto Andar de Novo caminhou e deu pontapés usando um exoesqueleto controlado pela mente. Seu objetivo é mostrar a tecnologia inédita na abertura da Copa do Mundo
 

Estado de Minas: 30/04/2014





"É uma sensação única (ver os pacientes andando). Nenhum deles, antes do projeto, imaginou que teria essa oportunidade de novo na vida. Todos os pacientes já entraram no exoesqueleto, testaram e se sentiram fascinados" Miguel Nicolelis, neurocientista e coordenador do projeto Andar de Novo
A pouco mais de um mês da Copa do Mundo, um paciente paraplégico fez um gol de placa: andou 18 passos e deu três chutes. Ele participa do Projeto Andar de Novo, liderado pelo neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis, que pretende demonstrar, na abertura do Mundial da Fifa, uma tecnologia inédita, que devolverá o movimento a pessoas há muito tempo impedidas de mexer os membros inferiores. Outros dois pacientes também fizeram uma pequena caminhada na segunda-feira, informou Nicolelis.

Em seu Twitter, o cientista comemorou o feito: “Em 28/4/2014, os primeiros três pacientes do Projeto Andar de Novo realizaram suas caminhadas inaugurais usando o BRA-Santos Dumont 1”, informou. No Facebook, ele postou outra mensagem: “Três pioneiros brasileiros emocionaram a todos nós com sua coragem e determinação”, disse. O inventor e aviador brasileiro dá nome a uma veste, um exoesqueleto de 1,8m e 70 quilos. Usando essa roupa futurista, os participantes conseguem movimentá-la a partir da atividade cerebral. Os sensores instalados no Santos Dumont “leem a mente” do paciente e obedecem a ordens como levantar e abaixar as pernas ou chutar uma bola.

Em entrevista ao site Portal da Copa, do governo federal, o cientista explicou que o peso da veste não é relevante porque ele não será sentido pelos usuários. “A máquina vai ser responsável pelo equilíbrio do paciente e por controlar o peso do exoesqueleto, enquanto o paciente determina o início dos movimentos, o término e, obviamente, o chute. Os sensores vão ficar na planta do pé e vão entregar esses sinais no braço da pessoa, que vai imaginar as pernas andando, se locomovendo e pisando no chão por meio desse feedback que recebe nos braços”, contou.

Desenvolvido em uma parceira entre a universidade americana de Duke, onde Nicolelis é pesquisador, e o Instituto Internacional de Neurociências de Natal Edmond e Lily Safra (ILNN-ELS), o Andar de Novo também conta com a colaboração de cientistas da Alemanha, da Suíça e da França. No Brasil, a Agência Brasileira da Inovação (Finep) investiu R$ 33 milhões. Ao todo, oito paraplégicos foram selecionados na Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD), de São Paulo, onde foi montado um laboratório de neurorobótica exclusivamente para a iniciativa. Todos os pacientes já experimentaram a sensação de ficar em pé com o exoesqueleto. Na abertura da Copa, um deles deverá se levantar da cadeira de rodas e caminhar 25m na Arena Corinthians até uma bola para dar início ao evento.

Extensão do corpo O pontapé inicial no Mundial, contudo, não vai encerrar o projeto. Na realidade, é apenas o começo. Segundo Nicolelis, o trabalho será mantido após a Copa, até que se chegue a uma veste que permita qualquer pessoa com lesão da medula espinal, inclusive tetraplégicos, se movimentar dentro dela. “Um certo dia, quando o paciente entrar no laboratório, vai falar: ‘Parece que é o meu corpo’. Vai ser como um estalo, porque o cérebro vai ter feito essa transição”, planeja o cientista. Ele explica que é preciso tempo para que ferramentas complexas como o exoesqueleto sejam incorporada pelo cérebro como uma extensão do corpo. Por isso, os pacientes precisam se familiarizar aos poucos com a roupa futurista.

Embora muito feliz com os resultados obtidos até agora, Miguel Nicolelis lembra que há uma série de obstáculos que precisam ser vencidos na demonstração da abertura da Copa. O paciente estará ao ar livre, observado por 70 mil pessoas, filmado por redes do mundo todo e fotografado por milhares de celulares. O participante usará um modelo de exoesqueleto que inclui sensores acoplados de forma não invasiva ao couro cabeludo. Eles capturam ondas cerebrais globais e os sinais são transmitidos para o exoesqueleto, para controlar os diferentes movimentos gerados por ele. No futuro, microchips poderão ser implantados no cérebro para fazer essa leitura.

Ao Portal da Copa, Nicolelis demostrou satisfação com o andamento do projeto. “Os resultados estão muito acima do esperado. Não tínhamos a perspectiva de estar tão adiantados do ponto de vista clínico e ter resultados tão interessantes do ponto de vista neurocientífico da maneira que a gente teve nos últimos meses”, disse. O coordenador do projeto contou que ficou muito comovido com os passos dos paraplégicos. “É uma sensação única. Nenhum deles, antes do projeto, imaginou que teria essa oportunidade de novo na vida. Todos os pacientes já entraram no exoesqueleto, testaram e se sentiram fascinados. É uma máquina que não é só inovadora, como é bonita, elegante. Eles disseram, inclusive, que querem a máquina assim mesmo, sem a cobertura que a gente imaginou inicialmente, porque eles acham mais emocionante ver toda a tecnologia envolvida”, revelou.

CINE PE » Estreia do menino Carolina Braga

Estado de Minas: 30/04/2014 

O garoto Lino Facioli vive Fernando, em O menino no espelho (Gustavo Baxter/Divulgação)
O garoto Lino Facioli vive Fernando, em O menino no espelho


Recife %u2013 Foram sete anos de projeto e agora é chegado o momento do frio na barriga. %u201CAquele cinema é gigante. A gente sempre fica assustado quando chega lá na frente%u201D, revela o diretor Guilherme Fiúza. É o que ele fará hoje, na estreia de O menino do espelho, longa baseado no livro de Fernando Sabino. A escolha do Cine PE foi estratégica.

O menino do espelho ficou pronto há 15 dias. Com estreia no circuito comercial marcada para 19 de junho, o festival realizado no Recife seria o único capaz de abrigá-lo antes do lançamento. Há também uma questão de público. A plateia pernambucana é conhecida como volumosa e aberta a esse tipo de proposta. %u201CÉ um filme de caráter família, muito voltado para o público infantojuvenil. No Brasil não tem muitas produções nesse gênero%u201D, comenta o diretor.

Mateus Solano e Regiane Alves são algumas estrelas do elenco, protagonizado pelo pequeno Lino Facioli. É ele %u2013 que também tem no currículo uma ponta na cultuada série Game of thrones %u2013, quem dá vida a Fernando, o garoto que sonhava ter um sósia e um belo dia vê seu desejo realizado. A história se passa na Belo Horizonte dos anos 1930. Guilherme Fiúza conta que evitou fazer um filme nostálgico. O menino do espelho é, sim, emotivo. %u201CO cinema que tento fazer é aquele que emociona, que toca, que comove.%u201D

Documentários Segunda-feira foi noite de cinema vazio no Cine Teatro Guararapes, em Olinda. O documentário E agora? Lembra-me, do português Joaquim Pinto, foi um teste de paciência. Em quase três horas de duração, o diretor compartilha com o público as sensações e visões sobre o próprio cotidiano, durante o teste de novas drogas para tratamento da hepatite C. Não se trata de um filme médico, mas de memórias.

Joaquim não tem a menor pressa em nos apresentar como encara a própria rotina. É como se a repetição dos ciclos também contasse algo ao espectador: o quanto a vida é circular. E agora? Lembra-me tem longos silêncios, planos estáticos e duradouros. Praticamente não há diálogos. É o próprio Joaquim quem narra o diário.

O último filme da noite foi o documentário pernambucano Corbiniano, sobre o artista plástico José Corbiniano Lins. Ao lado de Francisco Brennand e Abelardo da Hora, é considerado um dos ícones da arte em escultura do estado. É nítido o quanto o filme dirigido por Cezar Maia deseja homenagear seu personagem, mas o faz de uma maneira tradicional e bairrista, já que todos os entrevistados são conterrâneos. 

O que é que Pequeri tem?‏ - Ailton Magioli

O que é que Pequeri tem? 
 
Centenário de Dorival Caymmi, celebrado hoje em todo o Brasil, tem a marca mineira da cidade da Zona da Mata, onde o compositor construiu uma casa nos anos 1980 
 
Ailton Magioli
Estado de Minas: 30/04/2014


Dorival Caymmi circulava pelas ruas de Pequeri, cidade natal da mulher, Stella Maris, sempre atencioso com os vizinhos   (Fernando Rabelo/Divulgação  )
Dorival Caymmi circulava pelas ruas de Pequeri, cidade natal da mulher, Stella Maris, sempre atencioso com os vizinhos


ebruçado no parapeito da janela da casa de Pequeri (MG), por mais que o colorido da roupa entregue o baiano Dorival Caymmi (1914-2008) tinha também seu lado mineiro. Já sentado na cadeira de balanço da varanda, como a população da pequena cidade da Zona da Mata se acostumou a vê-lo, ele era o próprio Buda Nagô a que Gilberto Gil se refere em canção, diante da expressão suave e serena.
Nascido em Salvador (BA), o cantor, compositor e instrumentista tem seu centenário comemorado hoje em todo o país, incluindo Minas Gerais, estado natal da mulher, Stella Maris (1922-2008). Depois da ausência sentida na cidade, no fim dos anos 1980 a família Caymmi construiu casa em Pequeri, em frente à qual será inaugurada hoje à noite placa comemorativa aos 100 anos do artista baiano.

“São Pedro do Pequeri/ Stella nasceu aqui/ Em São Salvador, na Bahia/ De todos os santos nasci”, escreveu o compositor, que liderava campanha para a volta do antigo nome da cidade. Impressos na placa alusiva ao centenário do artista, os versos serão eternizados na Rua Carlos Dutra, que, além do Espaço Caymmi, continua abrigando a família, agora na presença da filha Nana Caymmi, que comprou o imóvel dos irmãos.

“Às vezes ele chegava do Rio, sentava na varanda e, como já não enxergava bem, passava de leve na rua, para não incomodá-lo. Quando estava a 10 metros de distância, de repente ele falava: ‘Seu Geraldo!’”, recorda o vizinho de rua, Geraldo Fulco, lembrando que não havia como deixar de ir à varanda para cumprimentar o artista. Ex-vereador e ex-prefeito da cidade, o comerciante Geraldo Fulco diz que na rua Dorival Caymmi cumprimentava todos, aceitando com carinho o pedido de fotos. “Era um vizinho muito bom, assim como os filhos, que ainda frequentam Pequeri.”

“Além de apresentações artísticas no Centro da pequena cidade ainda hoje, durante o ano vamos promover alguns pequenos eventos pela volta do Festival de Música de Pequeri (Fempeq), que tinha Dorival Caymmi como patrono”, anuncia a secretária de Cultura e Turismo do município, Suyan Cozac. “Estamos muito felizes com a homenagem, simples e singela, tão ou mais importante que qualquer outra”, reage a neta e biógrafa Stella Caymmi, que está lançando edição revista e atualizada, com novo posfácio, da biografia do avô, Dorival Caymmi – O mar e o tempo, originalmente publicada por ela em 2001, antes da morte do avô.

Além da relação de afeto da família com a terra natal da avó, Stella Caymmi admite que Minas Gerais foi uma das plateias mais importantes na carreira do avô. Segundo as pesquisas que fez para escrever a biografia de Caymmi, logo que chegou ao Rio de Janeiro, na década de 1930, o artista teve um caso de amor com uma mineira, “que ele dizia ter um quê de Shirley Temple”, recorda a neta. “De volta ao estado, ela recomendou a Dorival outra mineira”, diverte-se Stella, salientando que, a partir de então, o avô passaria a gostar muito de Minas Gerais, conforme relata no livro.

palavra de filho


Dori Caymmi
Filho de Dorival, cantor e compositor

Legado de simplicidade

“Pequeri tem dois fundadores, um dos quais Tostes, que é da família da minha mãe. Fora o carro de boi e o trem, que já não circulam mais por lá, a cidade não mudou nada. Depois da temporada que passávamos por lá, nos anos 1940, entre a casa de familiares e pensões, meu pai acabou comprando um terreno e construindo uma casa nos anos 1980. Ele tinha paixão pela cidade. Já mamãe – que era flor do asfalto, mesmo tendo nascido em Pequeri – às vezes achava tedioso. O silêncio da cidade era a paz de meu pai. Com a proibição da caça pelo Ibama, a fauna da região voltou e ele tinha paixão pelo beija-flor e o canário-da-terra. Era um observador da natureza. Chegou a pintar a igreja da cidade. Lembro-me da procissão da sexta-feira santa parando quando passava em frente à nossa casa, para saudá-lo. No silêncio ele se aproximava mais de Minas Gerais. Meu pai tinha aquela coisa meio secreta do mineiro.

As homenagens que vem recebendo pelo centenário têm sido muito bonitas. Há muito interesse pela vida e simplicidade de Dorival Caymmi, que não tinha ambições. O grande legado que ele nos deixou foi a casa de Pequeri, o apartamento do Rio e a música que nos fez artistas.”

Paixão de uma vida



Filha de Pequeri, aos seis meses Stella Maris foi morar no Rio, onde se tornaria a cantora que Dorival Caymmi viria conhecer (e se apaixonar) no célebre auditório da Rádio Nacional. Da tradicional família Tostes, dona Stella Maris, de acordo com a neta, tem parentesco com Hipólita Jacinta Teixeira de Melo, que teria se destacado por seu envolvimento com a Inconfidência Mineira, em 1789. “É uma linhagem muito tradicional, que remonta a várias personalidades importantes para Minas Gerais e o país”, orgulha-se Stella Caymmi, para quem a força das mulheres Caymmi é explicada a partir de então.

De acordo com a neta do casal Caymmi, Jorge Amado dizia que se Dorival não tivesse Stella Maris ele não teria feito o que fez. “Com ela ele teve uma retaguarda e uma vanguarda”, avalia a neta, salientando a força do casamento de um taurino com uma capricorniana. Ao mesmo tempo, tratava-se de casal extremamente classe média, consciente da necessidade do trabalho. “Um realismo de trabalho, mas não de enriquecimento”, acrescenta Stella.

“Eles dividiram muito bem a tarefa. Minha avó só largou a música como profissão, ela jamais deixou de cantar”, justifica, salientando a importância da presença de Stella Maris na vida de Dorival Caymmi, inclusive na hora de apoiar a escolha dos filhos Nana, Dori e Danilo de seguirem carreira artística. A famosa composição Dora (“Rainha do frevo e do maracatu...”) foi composta para a avó Stella Maris. “Ela foi aquela mulher que ele viu quando passou um cortejo de bloco de frevo, no Recife”, garante Stella Caymmi.

Stela faz questão de salientar ainda que a mãe, Nana Caymmi, adquiriu a parte da casa dos irmãos Danilo e Dori Caymmi para mantê-la como era. “Não com preocupações museológicas, mas para ter os pais Stella Maris e Dorival Caymmi perto de si. Minha mãe fez da casa um lugar para se refugiar e cuidar de meu irmão, João, que tem problemas de saúde”. Solidária, a população de Pequeri acolhe Nana e João com o mesmo carinhos dispensado a Stella Maris e Dorival.

Novas drogas aliviam esclerose‏ -

Novas drogas aliviam esclerose
Remédios aprovados pela Anvisa chegam ao Brasil com a promessa de amenizar efeitos colaterais dos injetáveis usados para controlar a doença autoimune 
 
Celina Aquino
Estado de Minas: 30/04/2014

As injeções podem deixar de fazer parte do dia a dia de pacientes com esclerose múltipla. Dois medicamentos aprovados este ano pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) chegam ao Brasil com a promessa de revolucionar o tratamento da doença autoimune que ataca o sistema nervoso central. O alemtuzumabe, por exemplo, é administrado em apenas dois ciclos anuais de aplicações intravenosas. Já o teriflunomida é mais um remédio via oral que se junta ao arsenal terapêutico para melhorar a qualidade de vida de brasileiros, geralmente entre 20 e 40 anos, que recebem o temido diagnóstico.

A esclerose múltipla provoca a destruição da mielina, envoltório dos neurônios que ajuda na condução dos impulsos nervosos responsáveis por estímulos visuais, sensitivos e motores, principalmente. Dependendo da área atingida, surge, temporariamente, perda de visão, dormência e comprometimento da coordenação motora. A neurologista do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Soniza Vieira Alves Leon, explica que os tratamentos são indicados para impedir o surgimento de novas lesões, diminuir a frequência dos surtos (momentos de maior agressão à mielina) e interferir na progressão da doença, que pode levar a um déficit neurológico sem recuperação. “A medicação oral veio para melhorar a qualidade de vida dos pacientes. Como acomete jovens, quem recebe o diagnóstico não quer ter que injetar todo dia a medicação, pelo resto da vida”, comenta.

O incômodo de tomar as injeções, sejam intramusculares, subcutâneas ou endovenosas (por meio de soro), não é a única queixa. Soniza acrescenta que os medicamentos injetáveis estão relacionados a efeitos colaterais como dor muscular, febre, pressão no peito e dor de cabeça. Alguns pacientes não conseguem se levantar da cama depois de receber a dose. Por isso, a especialista da UFRJ considera uma revolução o uso de medicações orais. Os comprimidos, ingeridos uma vez ao dia, provocam menos reações adversas.

De uso contínuo, o teriflunomida é mais indicado para iniciar o tratamento da esclerose múltipla. Apesar do conforto indiscutível do medicamento oral, a neurologista informa que nem todos os pacientes podem ser tratados com a substância. É preciso avaliar fatores de risco, com investigação cardiovascular, exame de fundo de olho e chance de infecção pelo vírus da herpes-zóster, para prescrever o remédio. Homens e mulheres medicados com o teriflunomida devem usar métodos contraceptivos eficazes para evitar uma gravidez. Além disso, vacinas de vírus vivos estão proibidas durante o tratamento, porque podem gerar disfunção imunológica. “Os pacientes não podem relaxar porque tomam o comprimido. Eles são orientados a não deixar de se consultar e repetir em três meses os exames”, alerta Soniza.


DESÂNIMO E DOR DE CABEÇA “Tomava injeção três vezes por semana. No dia seguinte não conseguia fazer nada. Caía na cama com dor de cabeça e desânimo”, relembra a aposentada Cibele Itaboray Frade, de 40 anos, casada e mãe de dois filhos, diagnosticada com esclerose múltipla em 2002. Depois de muito sofrer, ela resolveu apostar na reposição de vitamina D (estudos mostram que o nutriente auxilia o sistema imunológico, apesar de não tratar isoladamente a doença) e conta que há cinco anos não passa por surtos, que já resultaram em perda de visão, perda de força nos braços, falta de sensibilidade da cintura para baixo e perda da memória recente. Hoje presidente da Associação Mineira de Apoio a Portadores de Esclerose Múltipla (Amapem), Cibele não ficou com nenhuma sequela. Ela caminha todos os dias com o cachorro. “Não tenham medo de se informar, pois os tratamentos estão cada vez melhores. A vida continua, e muito bem.”

Saiba mais
Prevalência alta no Sul
Enquanto em São Paulo a prevalência da esclerose múltipla é de 15 pacientes para cada 100 mil habitantes, o número sobe para 27 em Santa Maria, o que torna a cidade no interior do Rio Grande do Sul proporcionalmente com a maior quantidade de diagnósticos da doença no Brasil. O neurologista Juarez Lopes, diretor médico da Associação dos Portadores de Esclerose Múltipla de Santa Maria e Região, destaca que a estatística coincide com a hipótese de que a esclerose múltipla tem origem viral. Seguindo essa teoria, os pacientes tiveram contato com o vírus numa época em que o sistema imunológico conseguiu combatê-lo. Anos depois, porém, em uma situação de estresse, o sistema imunológico ativa sua memória e acaba atacando o cérebro, pois o vírus já desapareceu. Como Santa Maria está em uma região mais fria, a transmissão do vírus se processa de maneira mais fácil.

Busca por estabilidade do paciente

Aprovado pela Anvisa em 2011, o primeiro medicamento oral que chegou ao Brasil é usado por 70 mil pessoas em todo o mundo. Em Santa Maria, cidade no interior do Rio Grande do Sul, 64 pacientes são tratados com a medicação desde agosto passado. “Todos os pacientes tiveram bons resultados, alguns voltaram a andar e estão felizes porque não usam mais os injetáveis. O fingolimode gera maior aderência ao tratamento, pois melhora o movimento, a disposição, não provoca dor nem efeito colateral”, conta o neurologista Juarez Lopes, diretor médico da Associação dos Portadores de Esclerose Múltipla de Santa Maria e Região (Apemsmar). A única reação indesejada, não observada nos gaúchos, pode ser a bradicardia (diminuição da frequência cardíaca) nas primeiras seis horas depois da primeira dose.

O fingolimode costuma ser a melhor alternativa quando houver falha terapêutica com os medicamentos injetáveis. A grande vantagem, na visão de Lopes, é que o remédio protege o cérebro, evitando a atrofia (a esclerose múltipla pode levar à perda de memória). “Não adianta nada o paciente não ter surto e ficar esquecido. Tenho pacientes médicos, empresários, bancários e advogados que trabalham normalmente e levam vida normal”, tranquiliza o neurologista. Ainda não se vislumbra a cura, mas o médico comemora o avanço no tratamento. Em breve, será lançada uma medicação útil para casos em que a doença resultou em paralisia. O comprimido melhora a velocidade de condução dos impulsos nervosos pelos neurônios, fazendo com que o paciente volte a caminhar.

Os medicamentos injetáveis, que começaram a ser usados no Brasil há cerca de 20 anos, foram as primeiras opções de tratamento para a esclerose múltipla. Antes deles, os pacientes acumulavam sequelas. Agora o desafio é oferecer drogas mais efetivas e com maior comodidade. “As novas medicações conseguem controlar melhor o processo inflamatório da doença e proteger o sistema nervoso central para que não haja sequelas. Embora não sejam a cura, resultam em maior assertividade e vida melhor para o paciente”, pontua a neurologista do Hospital da Restauração do Recife Maria Lucia Brito, que participou com dois pacientes do estudo iniciado há quatro anos para avaliar a eficácia do alemtuzumabe.

DOIS CICLOS Diferente de tudo que existe disponível para tratar a esclerose múltipla, o remédio é administrado em dois ciclos anuais de injeções intravenosas. O paciente toma cinco doses em dias consecutivos, no primeiro ano e 12 meses depois as aplicações são oferecidas em três dias seguidos. Um novo ciclo pode ser necessário caso ocorra um surto que justifique o uso da medicação, mas o acompanhamento é para o resto da vida. Sabe-se que os efeitos colaterais a longo prazo estão ligados a alterações na tireoide e infecções virais. “Temos que pensar em pacientes como indivíduos que podem ou não responder ao remédio, por isso precisamos ter mais opções no arsenal terapêutico”, comenta Maria Lucia, que espera a entrada do alemtuzumabe no Sistema Único de Saúde (SUS).

Personagem da notícia
Cleuza de Carvalho Miguel
presidente do Movimento dos Pacientes com Esclerose Múltipla (Mopem)
Ela abraçou a causa

Não seria uma cadeira de rodas que poderia impedi-la de lutar. A artista plástica Cleuza de Carvalho Miguel, de 66 anos, não tem mais força nas pernas para andar. Mesmo assim, viaja todo o Brasil como conselheira do Conselho Nacional de Saúde para facilitar o acesso dos pacientes com esclerose múltipla aos medicamentos que são lançados. Já que não queria depender de braço para se apoiar, ela nunca teve vergonha de assumir a necessidade de usar bengala, andador ou cadeira de rodas. Cleuza descobriu a esclerose múltipla numa época em que não havia nem ressonância magnética, principal exame para o diagnóstico. As primeiras injeções sugiram muitos anos depois. “Enquanto eu vir que o medicamento tem possibilidade de ser bom, vou brigar em nome dos outros. Abraço a causa com muita garra e vontade. Fico contente de ver o paciente tomar o remédio e perceber a diferença no seu dia a dia.” Quando perdeu a força no pé direito, Cleuza começou a pisar no motor da máquina de costura com o esquerdo. Agora que está na cadeira, ela usa um equipamento que fica em cima da mesa e trabalha com as mãos. Ela nunca sofreu com as limitações que a doença lhe impôs. “Prefiro ter rugas de tanto sorrir a chorar.” 

Eduardo Almeida Reis - Copidesquei‏

Copidesquei 
 
Do português tabelionesco aos nossos dias, milhões de seres humanos moldaram a língua em África, na Ásia, nas Américas 
 
Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 30/04/2014


Ainda que de leve, porque sou educadíssimo, copidesquei um editorial do Jornal de Angola intitulado Patrimônio em risco, aliás, património. Angolanos são exuberantes e aprontam editoriais quilométricos, motivo pelo qual fui obrigado a dividir o texto em dois. Os leitores de Tiro&Queda sabem que detesto crônicas em capítulos I, II, III etc., mas as colunas de hoje e amanhã nada têm de crônicas: transcrevem o primoroso editorial sobre a imbecilidade do Acordo Ortográfico inventado por meia dúzia de gramáticos. Vejamos o que dizem os angolanos sobre o Acordo e a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, CPLP.

"Os ministros da CPLP estiveram reunidos em Lisboa, na nova sede da organização, e em cima da mesa esteve de novo a questão do Acordo Ortográfico que Angola e Moçambique ainda não ratificaram. Peritos dos Estados membros vão continuar a discussão do tema na próxima reunião de Luanda. A Língua Portuguesa é patrimônio de todos os povos que a falam e neste ponto estamos todos de acordo. É pertença de angolanos, portugueses, macaenses, goeses ou brasileiros. E nenhum país tem mais direitos ou prerrogativas só porque possui mais falantes ou uma indústria editorial mais pujante.

Uma velha tipografia manual em Goa pode ser tão preciosa para a Língua Portuguesa como a mais importante empresa editorial do Brasil, de Portugal ou de Angola. O importante é que todos respeitem as diferenças e que ninguém ouse impor regras só porque o difícil comércio das palavras assim o exige.

Há coisas na vida que não podem ser submetidas aos negócios, por mais respeitáveis que sejam, ou às ‘leis do mercado’. Os afetos não são transacionáveis. E a língua que veicula esses afetos, muito menos. Provavelmente foi por ter esta consciência que Fernando Pessoa confessou que a sua pátria era a Língua Portuguesa.

Pedro Paixão Franco, José de Fontes Pereira, Silvério Ferreira e outros intelectuais angolenses da última metade do século XIX também juraram amor eterno à Língua Portuguesa e trataram-na em conformidade com esse sentimento nos seus textos. Os intelectuais que se seguiram, sobretudo os que lançaram o grito ‘Vamos descobrir Angola’, deram-lhe uma roupagem belíssima, um ritmo singular, uma dimensão única. Eles promoveram a cultura angolana como ninguém. E o veículo utilizado foi o português. Queremos continuar esse percurso e desejamos que os outros falantes da Língua Portuguesa respeitem as nossas especificidades. Escrevemos à nossa maneira, falamos com o nosso sotaque, desintegramos as regras à medida das nossas vivências, introduzimos no discurso as palavras que bebemos no leite das nossas línguas nacionais. Sabemos que somos falantes de uma língua que tem o Latim como matriz. Mas mesmo na origem existiram a via erudita e a via popular. Do ‘português tabelionesco’ aos nossos dias, milhões de seres humanos moldaram a língua em África, na Ásia, nas Américas.”

Brasil

Grande e bobo, este país que tem hino, bandeira, constituição e corrupção, muita corrupção, ainda não aprendeu a lidar com a eletricidade. Na Sociedade Hípica Brasileira, às margens da Lagoa Rodrigo de Freitas, Rio de Janeiro, cavalos que chegaram dos haras para competir no domingo, 6 de abril, foram instalados em baias metálicas improvisadas: dois morreram eletrocutados e dois ficaram feridos. A dona dos animais disse que o acidente poderia matar uma pessoa que encostasse no metal das baias.

Enquanto isso, em Brasília, DF, Tiago Pereira, 28 anos, professor de musculação em Caxias do Sul, atleta que competiu no Ironman da tarde do mesmo domingo, encostou-se em uma estrutura metálica na área destinada aos estandes do evento chamado Ironman 70.3 Brasília, tomou um choque e morreu de parada cardiorrespiratória.

A Latin Sports, empresa que organizou a competição, afirma que prestou todo o auxílio médico ao atleta, não se exime de suas responsabilidades e está acompanhando as autoridades na perícia que determinará as causas do incidente.

O mundo é uma bola

 No dia 30 de abril de 1803 os Estados Unidos compraram da França a Louisiana por US$ 15 milhões, que se transformaria no 18º estado norte-americano também no dia 30 de abril, mas em 1812. Entre os fatos marcantes da história daquele estado há que destacar os dois meses que passei por lá tentando aprender inglês e o furacão Katrina, que matou 1.833 pessoas.

Em 1854, inauguração da primeira ferrovia do Brasil ligando o Porto de Mauá, atual Guia de Pacobaíba, a Fragoso, atual Magé. Transcorridos 160 anos, nossa malha ferroviária é ridícula. Em 1900, o Havaí se torna território dos Estados Unidos. Em 1912, fundação em BH do América Futebol Clube, que tem torcedores fanáticos e andou ganhando muitos campeonatos nesses 102 anos.

Em 1945, suicídio de Hitler e Eva Braun. Em 1948, criação da Organização dos Estados Americanos, a OEA. Em 1980, sobe ao trono a rainha Beatriz, dos Países Baixos. Em 2013, a rainha Beatriz abdica em favor de seu filho Guilherme Alexandre. O Reino dos Países Baixos é composto pelos Países Baixos, Curaçao, Aruba e o território de Sint Maarten, na Ilha de São Marinho. É Sint mesmo.

Ruminanças

“O elefante deixa-se acariciar. O piolho, não.” (Lautréamont, 1846-1870).

terça-feira, 29 de abril de 2014

TeVê

TV paga

Estado de Minas: 29/04/2014



 (André Maceira/Divulgação)

Intrépidos


Dirigido por Roberto Berliner e Beth Martins, o documentário Será que o tempo realmente passa? mergulha na história da Intrépida Trupe (foto), que revolucionou as artes cênicas no Brasil. Criado por artistas da dança, teatro, música e artes plásticas que tinham em comum a paixão pelo circo, o grupo sempre apresentou performances em que a poética de cada integrante se integra em um forte coletivo. Confira às 22h, no canal Curta!.

Dr. Kurtzman volta a  atender no Canal Brasil


O Canal Brasil retoma hoje, às 21h30, a série No divã do dr. Kurtzman, em que o ator Fábio Marcoff entrevista convidados cúmplices num jogo que mistura realidade e ficção, começando esta noite com a atriz e cineasta Lucélia Santos. Outra produção brasileira, Polícia 24h vai ao ar às 20h, no canal A&E, atendendo a ocorrências de roubo, troca de tiros e briga de vizinhos.

Fox fecha a temporada  da série Sleepy Hollow


O canal Fox exibe hoje, às 23h15, o último episódio da primeira temporada de Sleepy Hollow. A série combina ação e aventura em uma versão moderna do clássico de Washington Irving, que tem como um dos personagens centrais o lendário Cavaleiro Sem Cabeça, um assassino feroz que retorna do além para aterrorizar e massacrar os habitantes de Sleepy Hollow. Em “Bad blood”, a batalha entre o bem e o mal chega a um ponto explosivo: sacrifícios precisam ser feitos, mundos estão em colisão e lealdades são testadas.

Futura exibe mais uma  produção universitária

O crescimento como valor absoluto, um dos pilares da economia contemporânea, é apresentado através de três iniciativas empreendedoras que desafiam a lógica organizacional no documentário Menos é mais, atrações de hoje do Sala de notícias, às 14h35, no canal Futura. A direção é de Priscila Pacheco dos Santos, da Universidade Positivo.

Muitas alternativas na  programação de filmes

No pacotão de filmes, estreia às 22h, no Canal Brasil, o drama Trampolim do forte, de João Rodrigo Mattos, com Marcélia Cartaxo, Luiz Miranda e Zéu Britto. Outro destaque é a produção franco-italiana Salvo – Uma história de amor e máfia, às 22h, no Telecine Cult. Na mesma faixa das 22h, o assinante tem mais oito opções: Quando estranhos chegam, no Cinemax; Segurando as pontas, no Studio Universal; As mil palavras, no Telecine Fun; Conspiração Xangai, no Telecine Touch; Moneyball – O homem que mudou o jogo, na HBO; O dia do terror, na HBO 2; Closer – Perto demais, no Max HD; e Rocky Balboa, na MGM. Outras atrações da programação: Os safados, às 21h, no Comedy Central; O gângster, às 22h30, no Megapix; e Os agentes do destino, também às 22h30, no Space.


CARAS & BOCAS » Melhores da TV
Simone Castro
Estado de Minas: 29/04/2014
Carlos Nascimento e Karyn Bravo, ao lado de Silvio Santos, recebem o Troféu Imprensa de Melhor Jornal de TV (Roberto Nemanis/SBT)
Carlos Nascimento e Karyn Bravo, ao lado de Silvio Santos, recebem o Troféu Imprensa de Melhor Jornal de TV

A 56ª edição do Troféu Imprensa, o Oscar da TV brasileira, foi ao ar, anteontem, no SBT/Alterosa, com apresentação de Silvio Santos. O Troféu Imprensa, escolha de jurados especializados em TV, e o Troféu Internet 2014, com a preferência dos internautas, premiaram os melhores do ano de 2013 em diferentes categorias. Como nos anos anteriores, Silvio Santos recebeu no palco alguns artistas que já foram premiados em edições passadas e por algum motivo não puderam receber os troféus. Participaram desta vez: Tony Ramos, Lília Cabral, Danilo Gentilli e sua equipe, Marília Gabriela, Rodrigo Faro, Roberto Cabrini, Jean Paulo Campos, Larissa Manoela, Eliana, Ana Vitória, Matheus Ueta, Carlos Alberto de Nóbrega e o publicitário Theo Rocha. Um dos momentos mais emocionantes foi a entrega do troféu de Melhor Jornal de TV para os apresentadores Carlos Nascimento e Karyn Bravo, que comandam o SBT Brasil. O jornalista está afastado da bancada para o tratamento de um câncer. Confira os ganhadores do Troféu Imprensa desta 56ª edição: Melhor apresentadora de TV: Fátima Bernardes e Patrícia Abravanel; Programa infantil: TV cocoricó; Melhor cantora: Ivete Sangalo e Paula Fernandes; Melhor novela: Amor à vida; Melhor programa de entrevista: De frente com Gabi; Melhor jornal de TV: Jornal nacional e SBT Brasil; Melhor ator: Mateus Solano, pelo Félix de Amor à vida; Melhor programa humorístico: Tapas & beijos; Melhor comercial de TV: Havaianas; Melhor atriz: Vanessa Giácomo, pela Aline de Amor à vida; Melhor programa de auditório: Programa da Eliana. Revelação: Tatá Werneck, pela Valdirene de Amor à vida; Melhor apresentador: Rodrigo Faro; Melhor cantor: Roberto Carlos.

REFORÇO NA EQUIPE DE NARRADORES DA BAND


Oliveira Andrade passa a integrar a equipe de narradores da Band. A estreia foi anteontem, durante a partida entre Corinthians e Flamengo pelo Campeonato Brasileiro 2014. Segundo a emissora, a contratação já estava em andamento antes mesmo do falecimento de Luciano do Valle e não se trata, de acordo com nota oficial, “em hipótese alguma, de uma substituição”. Oliveira Andrade continuará atuando no Bandsports e também fará parte da equipe de narradores da Band na Copa do Mundo 2014 da FIFA, ao lado de Téo José, Nivaldo Prieto e Ulisses Costa.

LAURA CARDOSO ESTARÁ NO PROVOCAÇÕES HOJE


Antônio Abujamra entrevista no Provocações, hoje, às 23h30, na TV Cultura, a atriz Laura Cardoso. Com 86 anos de idade e 72 de carreira, Laura apareceu pela primeira vez na Rádio Cosmo, com seu nome real, Laurinda de Jesus Cardoso. Mas, segundo ela, um colega de trabalho da época disse que Laurinda não era muito fácil de gravar, sugerindo, então, um nome artístico, e foi quando a atriz batizou-se Laura. Ela fala sobre a nova geração de atores, a transição do rádio para a TV e a sua participação em um momento histórico da televisão brasileira. Na condição de uma das grandes damas do teatro, ela dá, ainda, sua opinião sobre os palcos nos dias atuais.

ITAMAR ASSUMPÇÃO É DESTAQUE NO DIVERSO


O músico Itamar Assumpção é destaque no Diverso desta terça-feira, às 22h30, na Rede Minas. O programa vasculha o pensamento e as memórias do artista. Para isso, foram ouvidos o guitarrista Luiz Chagas, da Banda Isca de Polícia, com as integrantes da banda Orquídeas do Brasil Tata Fernandes, Georgia Branco, Nina Blauth e Adriana Sanches, além do amigo Arrigo Barnabé. “A música do Itamar é muito comunicativa, mas ele fazia questão de complicá-la”, brinca Barnabé. O programa produziu clipes com algumas das principais composições do artista e fez uma seleção a partir de sugestões de alguns seguidores da fanpage do Diverso no Facebook.

FÁTIMA EM BH

A Praça da Liberdade, em Belo Horizonte, foi palco, ontem, da estreia do Encontro com Fátima Bernardes (Globo), versão itinerante. Nada de novo. A atração apenas saiu dos estúdios da Globo, no Rio de Janeiro, e desembarcou na cidade. A pauta continuou a mesma, nomeadamente com temas ligados a comportamento, como o Dia da Sogra e o medo de altura. Com uma plateia já pré-definida, instalada em seus devidos lugares, o programa recebeu a dupla Victor e Léo, mineiros, e nada mais. A cantora Luiza Possi e um psicanalista que já integra a equipe, além do humorista Marcos Veras e o jornalista Lair Rennó, outro mineiro, marcaram presença. Já que será itinerante eventualmente, seria interessante se o Encontro contasse com nomes das cidades visitadas. No mais, não se tem dúvida de que o público quer mesmo é ver o artista de perto. E assim muita gente fez a festa.

VIVA
A nova série do AXN (TV paga), Resurrection. Na trama, pessoas que já morreram retornam a uma cidade dos Estados Unidos. No primeiro caso, um menino, morto há 32 anos, reaparece, em um lugar distante na China, como se nada tivesse ocorrido. Outros mortos vão ressurgindo. Suspense e mistério dos bons!

VAIA
Novo Fantástico? O quê? Onde? Mais do mesmo perde. Um requentado com estampa diferente – o que salvaram foram o tratamento de arte e as inovações tecnológicas –, e ainda mais monótono. Pior: o programa arranha, e muito, a boa imagem da ótima Renata Vasconcellos. Atração ficou boba e muito sonolenta.

CINE PE » Os desafios da história Carolina Braga

CINE PE » Os desafios da história
Carolina Braga*
Estado de Minas: 29/04/2014

João Jardim diz que legislação dificulta o olhar sobre a história do Brasil e seus personagens  (Mariana Guerra/Divulgação)
João Jardim diz que legislação dificulta o olhar sobre a história do Brasil e seus personagens


Recife – Quando terminou a exibição hors-concours de Getúlio, no Cine PE, o diretor João Jardim se posicionou em um canto escuro do Cine Teatro Guararapes para observar a saída da plateia. Não queria ser reconhecido, apenas observar a expressão dos espectadores. Já sabia que não se tratava de filme para reação calorosa. “Ninguém aplaude a mediocridade política do país”, ressalta.

O cineasta de Lixo extraordinário (2010) e Janela da alma (2001) ficou contente com o que viu. “As pessoas estavam do jeito que a gente queria: refletindo sobre nós.” A questão em aberto é quanto Getúlio, o filme, poderá incomodar quem tem relação com alguns dos personagens retratados pelo longa. A estreia nacional está marcada para quinta-feira.

Quando fala sobre a dificuldade de levar fatos para as telas no Brasil – assim como para as páginas dos livros  – João Jardim se emociona. “Perdi muitas noites de sono”, confessou durante a coletiva de imprensa organizada pelo Festival. “É uma ousadia fazer isso, porque tem uma legislação que dificulta o tempo todo. Do ponto de vista jurídico, é muito grave.”

Com Tony Ramos no papel de Getúlio Vargas, o filme se passa nos 20 dias que antecederam a morte do ex-presidente. Como se tratam de personagens reais e dadas as polêmicas relacionadas às biografias, João Jardim assumiu muitos riscos para contar a história. Deixou explícito o peso que ainda sente por isso. “Foi realmente muito difícil. A Ancine exigiu a autorização de todos os herdeiros”, conta. Apenas parte dessa documentação foi providenciada, especialmente a autorização de duas netas de Vargas, que vivem no Rio de Janeiro. É por isso que João Jardim ressalta que ainda é um risco.

“Tive que tomar cuidado de colocar no filme coisas que as pessoas assumiram publicamente”, afirma. Pelo roteiro, assinado por George Moura, passam pelo menos 20 figuras históricas. Além de Getúlio Vargas e Carlos Lacerda, há familiares do ex-presidente, como a filha Alzira, e diversas figuras políticas, como Afonso Arinos e Tancredo Neves, entre outros. Para João Jardim, desde o início o interesse foi falar da história do país, infelizmente ainda pouco comprometido com a ética.

PÚBLICO Além de Getúlio, exibido fora de competição, também passaram pela tela do Cine PE o documentário de Jorge Furtado, O mercado de notícias, e o português 1960, de Rodrigo Areias, que saiu prejudicado. Já era quase meia-noite quando as primeiras cenas em super-8 foram exibidas. Naturalmente, havia muito pouca gente na sala. A imagem do Cine Teatro Guararapes abarrotado de gente já faz parte da história do Cine PE. Não é mais assim.

Embora dados oficiais deem conta de que foram mais de mil espectadores na noite de domingo, o número é menor do que em outros anos. “O mundo, há 10 anos, era outro, tinha menos oportunidades de entretenimento”, minimiza Alfredo Bertini, diretor do festival. “Qual a diferença de ter 2,3 mil pessoas para 1,8 mil? Que outro festival no Brasil que consegue esse número?”, desafia. “O Cine PE é plural. Não sou mostra, não trabalho com tendência. É o festival da pluralidade”, provoca.

* A repórter viajou a convite do Cine PE.

Ausências

Divulgada como a principal novidade desta edição, a internacionalização do Cine PE continua sem prestígio. Depois da ausência da equipe do longa O Grande Hotel Budapeste, do diretor Wes Anderson, o diretor português Rodrigo Areias, do documentário 1960, foi o segundo a não comparecer. “Ele me falou que estaria no Brasil o mês todo, mas deixou de atender celular, não responde aos nossos contatos”, conta Alfredo Bertini. Para o diretor do Cine PE, a internacionalização também deve ser encarada com mais calma. “É o primeiro passo, estamos começando.” 

Tereza Cruvinel-O som das abelhas‏

O som das abelhas 
 
Eduardo Campos irritou o PMDB ao dizer que em seu governo o senador Sarney ficará na oposição. Mas, se eleito, ele também governará com o PMDB. Num país com 34 partidos, nenhum deles elegerá mais que 20% dos deputados 
 
Tereza Cruvinel
Estado de Minas: 29/04/2014

Lula finalmente comentou o julgamento do mensalão, criticou-o e sofreu uma saraivada de críticas, afora uma distorção grosseira do que falou sobre sua relação com os petistas condenados. O PR deixou os outros partidos na toca e oficializou sua defesa do “Volta, Lula”. A colunista Joyce Pascovitch noticiou neste fim de semana que Lula rendeu-se aos apelos para concorrer. Seja “furo” ou “barriga”, que no jargão jornalístico vêm a ser o oposto, a notícia alvoroçou a colmeia financeira e fez subir as ações das estatais, o que significa derrubar a cotação das ações de Dilma, cujo valor atual de face poderá ser conferido hoje na pesquisa CNT/MDA. Os três fatos parecem ser autônomos, mas juntos produzem um certo zumbido, a sensação de algo no ar, afora os aviões e as aves de arribação.

Começando pela fala de Lula à TV pública portuguesa, a RTP. Para quem promete há tanto tempo uma fala sobre o julgamento da Ação Penal 470, Lula foi até lacônico, ao dizer que as decisões do julgamento foram mais políticas do que jurídicas. A medição (as primeiras corresponderiam a 80% e as últimas a 20%), que o ministro Marco Aurélio estranhou, pode carecer de base, mas que o resultado é fruto da combinação de decisões das duas naturezas, os que têm neurônios honestos não podem negar. Basta o fato de que, até hoje, ninguém sabe que fim levou o Inquérito 2.474, que contém muitas contraprovas relacionadas ao caso Visanet, e foi excluído por Joaquim Barbosa da AP 470. Ou a diferença de tratamento dada ao processo do chamado mensalão mineiro e ao ex-presidente Fernando Collor, de alma lavada com a absolvição. Mas por que Lula resolveu falar agora de mensalão? Para ser pragmático (como o PT o foi com André Vargas), o melhor seria ficar longe do assunto e fazer tudo para que seja esquecido. Lula, é verdade, devia uma declaração aos condenados, especialmente a Dirceu e Genoino, mas, agora, ela não tem qualquer serventia a eles. Aqui entra a distorção que alguns veículos fizeram de um aspecto de sua fala à RTP, fazendo muito esforço para entender que ele negou ter tido uma relação de confiança com os condenados. Quem ouvir a entrevista sem apriorismo entenderá que ele interrompeu a pergunta para dizer: não importa se as pessoas eram ou não de sua confiança. Importante é que o julgamento teve um componente político destinado a prejudicar o PT. Ele pode ter se expressado mal, mas houve um esforço para “entender mal” o que ele disse ou quis dizer. Até porque, para renegar os petistas presos, melhor seria continuar calado.


Outro zumbido foi lançado ao ar pelo PR, ao oficializar ontem sua defesa da candidatura de Lula a presidente, embora avisando que continuará na base governista e dizendo nada ter contra a presidente Dilma. É verdade que setores do PR têm birra com ela por causa da demissão do ex-ministro Alfredo Nascimento naquela faxina do início do governo. Mas o PR tem figuras que estão longe de serem consideradas lulistas, como é o caso do deputado Garotinho, que não gostou do manifesto e correu a dizer que só Dilma pode decidir se será ou não candidata. Terá o PR se lançado sozinho nesse movimento, sem articular com mais ninguém, correndo o risco de se dar mal? Pois se Dilma se reelege, jamais esquecerá a desfeita. Agora é ver se o PR deu a senha para outros partidos e grupos governistas lhe fazerem coro.
Por fim, importante na nota de Joyce Pascovicht no blog Glamurama foi seu efeito, não o conteúdo. Pois ainda que Lula tivesse tomado decisão semelhante, ela não vazaria assim. Uma reviravolta de tal magnitude teria (ou terá) que ser construída com extrema habilidade, muita costura e um cuidadoso ritual. Mas pode ele ter dito a alguém que, se o quadro eleitoral apresentar algum risco real para Dilma, ele acabará tendo de se render. O efeito, entretanto, foi mais uma vez revelador da indisposição dos agentes econômicos e financeiros com Dilma. Na Bovespa, o sinal de queda nas ações inverteu-se para o de alta após a publicação da nota. Quem mais subiu, entretanto, foi a taxa de excitação nessas esferas do dinheiro.


Os três eventos podem não ter qualquer relação entre si, mas eles deixaram ontem a sensação de algum zumbido no ar.



Marimbondos de fogo

A declaração do candidato Eduardo Campos (PSB), de que em seu governo o ex-presidente e senador José Sarney passará quatro anos na oposição, agitou o clã maranhense e boa parte do PMDB. Os Sarneys ficaram bravos como os marimbondos de um antigo livro de poesias do senador.

Como retórica, a cutucada de Campos pode até lhe render votos, mas, se ele for o eleito, é certo como dois e dois são quatro que precisará do PMDB para governar. E como já dito aqui, em seu governo, o PMDB pode mandar até mais do que mandou no de Fernando Henrique, no de Lula e no de Dilma. Pois, juntos, PSB/Rede, PPS, PPL, ainda que apoiados pelo PSDB, não terão mais que 100 deputados na base de apoio. E não é porque sejam ruins de voto. Com o sistema de 34 partidos que temos, dificilmente um partido alcançará os 20% das cadeiras da Câmara.


Então, para evitar constrangimentos futuros, candidatos devem evitar frases como essa.

Pesquisa indica que colesterol interfere na infecção do HIV

Colesterol interfere na infecção do HIV Experimento americano indica que a baixa concentração da gordura pode dificultar a ação do vírus da Aids em um pequeno grupo de pacientes 

Bruna Sensêve
Estado de Minas: 29/04/2014


Combatido por 10 entre 10 pessoas que buscam um organismo saudável, o colesterol alto acaba de ganhar pontos na escala das substâncias mais prejudiciais ao corpo humano. Uma pesquisa publicada hoje pela mBio, revista científica da Sociedade Americana de Microbiologia, faz a ligação improvável entre o esteroide das membranas celulares de todos os animais e a progressão da síndrome da imunodeficiência adquirida (Aids). Curiosamente, um grupo especial de pessoas infectadas pelo HIV que conta com o privilegiado lento avanço da doença também tem uma menor quantidade de colesterol em um tipo específico de células imunes. A característica seria exclusiva a 2% a 5% da população mundial. No entanto, existe a esperança de que medicamentos responsáveis por diminuir o colesterol das células em geral, conhecidos como estatinas, possam atuar favoravelmente em indivíduos comuns.

A descoberta foi feita por uma equipe de pesquisadores da Escola de Saúde Pública da Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos, liderada por Giovanna Rappocciolo. Eles usaram um extenso banco de dados do Multicenter Aids Cohort Study (Macs), composto por mais de 30 anos de amostras biológicas recolhidas para um estudo confidencial sobre a história natural do HIV. Entre os exemplares, foi possível recolher células imunes de indivíduos infectados não progressores, progressores normais e voluntários não infectados (que formaram o grupo de controle). O objetivo era comparar a capacidade das células apresentadoras de antígeno (APCs) desses pacientes. Quando o HIV entra no organismo, é tipicamente escolhido pelas células do sistema imunológico com essa função. Podem ser as células dendríticas ou os linfócitos B.

Ao entrar em contato com o vírus, essas estruturas o transportam para os gânglios linfáticos, onde o HIV é repassado a outras células do sistema imunológico, as células T, por meio de um processo conhecido como infecção trans. Nesse novo “endereço”, o micro-organismo encontra o principal local de replicação. O aumento da taxa de HIV sobrecarrega o sistema imunológico, que, exaurido, cede à progressão da doença (veja infografia). A partir do momento em que a pessoa desenvolve a Aids, o corpo já não pode combater infecções e cânceres, por exemplo. Antes do surgimento dos antirretrovirais, diante desse quadro, o paciente não tinha uma prognóstico que ultrapassasse um ou dois anos de vida. Os medicamentos interrompem o processo de replicação viral e podem retardar o aparecimento da Aids por décadas.

No entanto, mesmo sem ingeri-los, uma pequena percentagem de pessoas infectadas pelo HIV não tem a perda persistente de células T. Em uma de cada 20, o aumento nos níveis do vírus da Aids após a infecção inicial não acontece. Elas são conhecidas pela medicina como controladores de elite. Podem passar anos ou mesmo mais de uma década sem que o vírus comprometa o sistema imunológico e sem a ingestão de antirretrovirais. “Saber como esses indivíduos naturalmente controlam a infecção pelo HIV-1 e impedir que o vírus progressivamente destrua as células delas pode ser extremamente importante para o desenvolvimento de estratégias terapêuticas e de prevenção eficazes”, diz Giovanna.

Ao comparar, em laboratório, a habilidade das APCs em fazer esse transporte e apresentação, os cientistas descobriram que, enquanto as células dos pacientes progressores e as do grupo de controle foram altamente eficazes na mediação da infecção trans, as do não progressores não tinham essa capacidade. O fato foi curioso o suficiente para ser observado ainda mais atentamente. Concluiu-se, então, que as células dos não progressores tinham baixos níveis de colesterol, ainda que os pacientes apresentassem níveis normais da substância no sangue.

O colesterol é um componente usado pelo HIV para se replicar eficientemente em diferentes componentes do organismo humano. Entre os experimentos feitos com as células, os autores relatam que, quando o vírus da Aids foi diretamente misturado com as células T dos não progressores, elas foram infectadas na mesma taxa que as células T dos participantes soropositivos com progressão normal da infecção. Claro, as células T dos progressores tinham níveis normais de colesterol.

“Isso significa que é improvável a perturbação ter surgido devido a um problema com as células T, apoiando ainda mais a nossa conclusão de que a progressão lenta está associada a uma baixa de colesterol nas células dendríticas e nas células B”, acredita a pesquisadora. Segundo ela, a infecção trans pôde ser restaurada com a reconstituição de níveis de colesterol nas células apresentadoras de antígeno de não progressores e, inversamente, pôde ser inibida por meio da redução dos níveis de colesterol nas APCs de progressores.

Hereditária Uma análise em específico das APCs de dois não progressores entre um e quatro anos antes da infecção primária pelo HIV mostra resultados semelhantes. Com esses dados, os pesquisadores sugerem que a característica é geneticamente adquirida. “O que é mais intrigante é que as células dendríticas nos não progressores tiveram esse traço de proteção um ano antes de se tornarem infectadas pelo HIV.” Esse fator sugeriria que a incapacidade das células dendríticas e as células B para passar o HIV para suas células T é herdada geneticamente por uma pequena porcentagem de pessoas. “Esse ‘defeito’ no metabolismo do colesterol não é uma consequência direta da infecção pelo vírus, mas é provável que esteja presente como uma característica hereditária em uma baixa percentagem de indivíduos. Entender como isso funciona pode ser uma pista importante no desenvolvimento de novas abordagens para prevenir a progressão da infecção por HIV”, acredita Giovanna Rappocciolo.

Segundo o infectologista Artur Timerman, do Hospital Israelita Albert Einstein, existe um espectro importante da infecção por HIV a ser considerado, desde os que não são infectados mesmo em contato com o vírus até aqueles que, ao entrar em contato com o patógeno, sofrem um efeito fulminante da doença. Para Timerman, é importante considerar que a condição dos controladores de elite é bastante diferente do grupo de expostos não infectados.

“Hoje, sabe-se que existe um grupo de pessoas que são expostas ao vírus e nem mesmo se infectam. O mecanismo mais atribuído a essa resistência natural é a ausência de um receptor na parede da célula chamado de CCR5, essencial para o vírus interagir com a célula e entrar no interior dela. Essas pessoas são os expostos não infectados.” Ele explica que os não progressores têm a infecção, mas o desenvolvimento da doença é mais lento.

“O que o estudo conseguiu mostrar muito bem é que os controladores de elite captam menos colesterol, as dendríticas deles têm menos colesterol e, por isso, são menos suscetíveis ao HIV. Na verdade, elas têm maior dificuldade de transmitir o HIV para outras células.” Timerman pondera, porém, que se fala muito mal do colesterol, e essa questão precisa ser vista com maior cuidado, pois ele é essencial na membrana da célula. “Estudos mostram, inclusive, que níveis muito baixos (de colesterol) estão associados à incidência de câncer de cólon e do intestino grosso.” O ideal, segundo o infectologista, é ter o colesterol nos níveis normais. “Não é bom que seja alto, mas muito baixo também não é normal.”

Imunidade celular

A Aids mata 2 milhões de pessoas no mundo, mas há quem não pegue a doença mesmo após numerosas exposições ao vírus. A resposta a esse enigma está na proteína CCR5. Ela fica na superfície de células do sistema imunológico e é usada como “porta de entrada” para que o HIV penetre as células. A partir de um estudo com ratos, pesquisadores da Universidade de Carolina do Sul (EUA) descobriram que as CCR5 de alguns organismos têm imunidade ao HIV, uma trava que impede a penetração do vírus da Aids. 

Células-tronco contra o diabetes 1‏

TERAPIA PERSONALIZADA » Células-tronco contra o diabetes 1
Estado de Minas: 29/04/2014


Usando a técnica da clonagem, cientistas de Nova York criaram as primeiras células-tronco embrionárias com dois pares de cromossomos destinadas ao tratamento de diabetes 1. A equipe de Dieter Egli e Mark Sauer, da Universidade de Columbia, descreveu a metodologia na edição on-line da revista Nature. Eles retiraram o núcleo de células adultas da pele e o adicionaram a oócitos não fertilizados, em um processo chamado transferência nuclear de células somáticas. As células-tronco embrionárias foram criadas a partir do material doado por uma paciente de diabetes 1 e um indivíduo saudável.

Em 2011, a mesma equipe anunciou a primeira linhagem de células embrionárias feitas a partir do tecido da pele, usando a transferência celular, com objetivo de produzir estruturas capazes de produzir insulina. Contudo, as células eram triploides, ou seja, tinham três pares de cromossomos, e não podiam ser usadas para novos tratamentos. “Desde o começo, o objetivo desse trabalho é usar a célula do paciente de diabetes 1 para produzir células-tronco que corrijam a doença”, disse, em nota, Dieter Egli.

Passados três anos do primeiro experimento, os cientistas conseguiram, agora, obter estruturas diploides. “Ao reprogramar as células para que atinjam um estado pluripotente e comecem a fabricar células beta, estamos um passo mais perto de tratar pacientes diabéticos com as próprias células produtoras de insulina”, disse.

Cura Pacientes com diabetes tipo 1 têm deficiência de células beta, as fabricantes de insulina, o que resulta na falta da substância e, consequentemente, em altos índices de açúcar no sangue. Portanto, o método descrito na Nature pode significar não só o tratamento, mas a cura do diabetes 1 no futuro. Como as células-tronco são feitas com o tecido epitelial do próprio paciente, não haveria risco de rejeição.

Os cientistas esclareceram, contudo, que gerar células beta a partir da técnica da transferência somática é apenas um passo para o tratamento. Também é necessário desenvolver estratégias que protejam o organismo dos pacientes contra o mecanismo pelo qual o sistema imunológico destrói essas estruturas por entender, erroneamente, que elas são um agente externo, como um vírus ou uma bactéria.

De acordo com os pesquisadores, a técnica poderá ajudar no desenvolvimento de terapias personalizadas para muitas outras doenças, como Parkinson, degeneração macular, esclerose múltipla e doenças do fígado. Também tem potencial para reparar ossos danificados. “O resultado técnico e científico traz para mais perto da realidade a promessa da reposição celular no tratamento de um amplo espectro de doenças e condições médicas”, avaliou Rudolph Leibnel, diretor do Centro de Diabetes Naomi Berrie e coautor do estudo. 

Riscos digitais corporativos - Lúcio Marcos do Bom Conselho

Riscos digitais corporativos 
 
Brasil é o 8º país entre os que mais têm ataques cibernéticos 

Lúcio Marcos do Bom ConselhoProfessor de direito digital da Faculdade Cotemig
Estado de Minas: 29/04/2014

Um levantamento divulgado pela empresa de segurança digital Symantec revelou os países que mais tiveram ataques cibernéticos no mundo, registrando o Brasil na 8ª posição. As polêmicas envolvendo a segurança de dados e a difusão de informações sigilosas armazenadas na rede brasileira estimularam a preocupação das empresas com a segurança no ambiente virtual. É muito importante manter uma política de uso das ferramentas tecnológicas corporativas para garantir a segurança de dados estratégicos, informações sobre clientes, parceiros e fornecedores. Os hackers buscam um acesso para demonstrar uma falha de segurança, para furtarem uma informação ou, ainda, para destruir, apagar ou alterar um dado disponível. Para as empresas, a situação pode gerar perda de clientes, responsabilidade civil por prejuízos causados pelo vazamento de informações estratégicas etc. Uma das maiores falhas de segurança da informação está em permitir que um usuário, funcionário ou colaborador tenha acesso irrestrito e utilize senhas frágeis.

Como ainda há uma restrita legislação específica em vigor, as empresas, por meio de suas próprias políticas, podem criar normas internas de uso das ferramentas tecnológicas. Sob a perspectiva externa, as corporações devem se preparar para incluir cláusulas em seus contratos, prevendo responsabilidades e obrigações em questões, envolvendo tecnologia e a privacidade dos dados. Neste ano, acompanhamos a notícia sobre o vazamento de vários dados cadastrais de clientes da empresa ingressos.com. Quando os contratos têm cláusulas prevendo essa situação e a consequente responsabilidade dos envolvidos, o esforço em preservar os dados é maior. Uma alternativa relevante é o uso da criptografia, processo que codifica a informação e da assinatura digital para os projetos estratégicos e sigilosos das empresas, por meio do uso de senhas e certificados que garantem a autenticidade e a integralidade da informação. Outra sugestão é realizar treinamento com os funcionários para o bom uso das ferramentas tecnológicas, assim como das redes sociais, para que evitem misturar o que é trabalho com o lado pessoal do colaborador, o que pode acarretar prejuízo à imagem e à vida de ambos. É importante as empresas investirem em equipamentos de segurança e em pessoal especializado. Deve-se considerar como medidas básicas na segurança da informação empresarial manter ferramentas tecnológicas adequadas, como firewall, antivírus, backup's, espelhamento de dados, sistemas de redundância elétrica. Também é importante manter um código de ética digital aplicável a todos os funcionários, com regras claras e objetivas sobre o uso ético e responsável da rede interna, e-mail corporativo e demais tecnologias ligadas à empresa.

O que percebemos é que não devemos esperar da legislação a única solução para as questões digitais, mas, sim, buscar, na prevenção, minimizar os riscos decorrentes do mau uso das novas tecnologias. O Congresso Nacional aprovou e a presidente da República sancionou o Marco Civil da Internet, o que nos trouxe mais uma boa legislação sobre o tema. Mas as empresas devem, em verdade, formular cenários, simulando incidentes envolvendo a quebra de privacidade, a violação de segurança e a divulgação não autorizada de informações, a fim de se preparar para incidentes digitais que exijam maior segurança da informação corporativa e, por que não dizer, um plano de contingência para reduzir os seus impactos.

As novas gerações e a leitura - Marco Silva

As novas gerações e a leitura
Marco Silva
Professor da Faculdade de Minas (Faminas), consultor e autor de livros educacionais
Eswtado de Minas: 29/04/2014


Devido a sua importância, no decorrer da história, os homens construíram diversos suportes que possibilitaram a escrita e a leitura. Antes de Cristo, os registros escritos eram feitos em barro, na Suméria. No Egito, e em parte da Europa, os escritos eram dispostos em papiros e, mais tarde, em tábuas revestidas de cera. No oriente os chineses escreviam em rolos de seda, e os indianos, em folhas de palmeiras.

A partir do século I da Era Cristã, o pergaminho tornou-se comum em todo Império Romano. Com a invenção da imprensa no século 15, houve uma aceleração do processo de produção, barateamento e melhoria da qualidade dos materiais impressos. À mesma época, astecas e maias registravam seus textos sobre suportes de madeira revestidos com um material retirado da casca das árvores.

Durante boa parte da história, eram comuns os encontros para leitura coletiva e debates para além da leitura individual, diga-se de passagem, bastante aprofundada. O leitor costumava ler várias vezes uma mesma obra. Encontrar a resposta para um trabalho escolar, uma questão de interesse pessoal ou mesmo uma leitura de lazer exigia um debruçar maior sobre as fontes, uma leitura mais verticalizada dos livros ou textos disponíveis. Comparado aos nossos dias, não havia uma extensa diversidade de fontes sobre um mesmo assunto. Talvez por isso, o aproveitamento das que existiam era bastante profundo.

Atualmente, o leitor encontra uma variedade de suportes para os textos, que engloba dos papéis de diferentes composições, texturas e acabamentos aos diversos tipos de recursos digitais. O universo digital é, sem dúvida, o mais utilizado pela chamada geração ciborgue, ou seja, as crianças e jovens que nasceram num mundo em que a informática já predominava em todos os setores e, por isso, conhecem e operam com naturalidade essas tecnologias.

Entretanto, a leitura no ciberespaço não é linear e, muitas vezes, pode ocorrer de forma bastante superficial. Apenas um clique é suficiente para acessar uma nova página ou um site de busca onde estão os links para centenas ou milhares de respostas para o que se procura. O leitor não precisa se debruçar sobre um texto mais complexo. As informações estão sempre acessíveis e dispostas de forma bastante cômoda com a resposta que se procura. Isso quando um pequeno sinal não convida o leitor a abrir uma janela de “bate-papo” ou um novo email desviando sua atenção da leitura em curso.

No universo da internet, as pesquisas escolares muitas vezes já estão prontas. A tarefa do leitor, via de regra, é apenas a de encontrá-las, copiar, colar, imprimir e entregar ao professor. Não há uma reflexão crítica sobre o que se lê, para a construção das próprias conclusões. Responsável pelo amadurecimento cognitivo, o processo reflexivo em busca de respostas e soluções foi substituído por pequenas buscas superficiais.

Os ciborgues têm acesso a muitas informações, mas, geralmente, não sabem lidar de forma crítica e seletiva com elas. Além disso, a maior parte possui grandes dificuldades para escrever satisfatoriamente. E isto não é sem razão. Aquele que escreve bem precisa ser um bom leitor.

Diante desse quadro, cabe aos pais limitar o acesso ao mundo digital e exigir a volta ao bom e velho livro, aos jornais e revistas impressas, para contribuir com a formação de hábitos de leitura verticalizada. Não se trata de impedir o acesso às tecnologias da informação e comunicação. Em nosso tempo é indispensável que elas sejam bem utilizadas. O que se preconiza aqui é a busca do equilíbrio necessário para se garantir um desenvolvimento crítico, reflexivo das novas gerações. 

segunda-feira, 28 de abril de 2014

O dilema sobre Dilma - Renato Janine Ribeiro

Valor Econômico - 28/04/2014

Dilma era elogiada por ser ética, em 2011, e hoje é atacada por ser intransigente. Mas não é a mesma coisa?



Seu primeiro ano foi uma lua de mel. Ouvia as denúncias contra seus ministros e os demitia, se fosse o caso. Depois de vários mandatos presidenciais em que a opinião pública sentira uma certa leniência em casos tais, Dilma Rousseff adquiriu a fama de gestora rigorosa e honesta. Nos anos seguintes, porém, essa imagem cedeu lugar à de intransigente, mal humorada e até ríspida.

Mas essas imagens opostas se referem à mesma personalidade, ou postura. Dizem respeito ao mesmo referente: uma presidenta séria, pouco disposta a brincadeiras, exigente com o Tesouro, isto é, com "o seu dinheiro, o meu, o nosso", avessa a concessões em matéria de princípios - como o Código Florestal -, acreditando na coisa pública e inimiga dos malfeitos, nome que dá à corrupção. Nem a mídia mais hostil a seu governo e partido questiona sua honestidade. Num país em que a discussão política é pobre a ponto de se concentrar numa nota só, que é acusar o adversário de desonesto, ela é criticada por suas políticas e por sua eficiência, não por sua moral.

O problema é que os elogios e críticas incidem sobre o mesmo traço de personalidade - ou postura. Distingo. Traço de caráter pertence à pessoa. Incorporou-se à sua psique, por educação ou decisão. Postura é consciente, é mais racional. No seu caso, parece que psicologia e ética correm na mesma direção. No começo do mandato, esse rigor, que também se exprime num apreço à liturgia do cargo sem precedentes faz bastante tempo, dado que inclui uma seriedade quase puritana, era louvado. Tínhamos uma dirigente que não fazia negócios. Com o tempo, tornou-se tema de preocupação e mesmo de crítica. Ela não cede. Para votar uma lei, faz o mínimo de acordos. Isso estressa as relações com os parlamentares e os partidos. Mas aparentemente tem dado certo, isto é, as derrotas em alguns projetos de lei não trouxeram resultado pior do que teria sido aceitar desfigurá-los.

Queremos ou não uma política com ética?

Isso tem um custo político, que ela paga. Não é pragmática, queixam-se os empresários. Não gosta de política, reclamam políticos e colunistas. Nos dois casos, isso significaria que não escuta o outro, não quer ter notícias más, não faz concessões. Mas é tênue a linha separando essa descrição, que delineia um governante no limite do autoritário, e a do político sem princípios. Fazer uma negociação, que é coisa boa, está a apenas duas ou três letras de fazer uma negociata. Onde ficam as fronteiras da negociação, legítima, necessária na política, e da negociata, sua caricatura, sua negação?

Muitas críticas a Dilma, penso eu, exprimem um problema nosso, de nossa sociedade, não exatamente dela. Queremos ética na política, mas sabemos que na prática não é bem assim. Desconfiamos que a ética, na política, não entrega os bens desejados. Por isso, prestamos homenagem, da boca para fora, à moral, mas - pragmaticamente - aceitamos infrações a ela. Isso não é raro. Já vi pessoas que se indignavam com a desonestidade vigente mas sobrefaturavam a conta que emitiam. Essa divisão na personalidade, essa contradição ética entre a fala honesta e a prática desonesta, percorre a sociedade brasileira de cima em baixo. Ninguém esquece o senador goiano que era um dos críticos mais veementes da corrupção petista, estando, ele próprio, envolvido em negócios que lhe custaram o mandato.

Mas, na política, a contradição entre ética e prática apenas se torna mais evidente às críticas. Nem sei se é maior, ou mais visível, do que os malfeitos de nosso cotidiano. Muitos dos que criticam políticos agem, na vida pessoal, da mesma forma que os criticados. Com frequência maior do que seria aceitável, o político se torna bode expiatório dos microcorruptos do cotidiano.

Não seria bom aproveitarmos esta ambivalência em relação ao caso Dilma para refletir sobre a ambivalência da própria sociedade brasileira quanto à ética na sociedade e na política? O movimento com esse nome tomou as ruas do Brasil há bons vinte e dois anos, por ocasião do impeachment de Fernando Collor. Pareceu produzir bons resultados, como a queda do presidente e a cassação de deputados. Mas parou aí. Continuamos acreditando que seria bom alcançarmos a ética, mas que é mais seguro termos uma prática que tolera infrações, pequenas e enormes, em nome do resultado. A ética é o ideal, mas a prática desonesta é a realidade. Pregamos a ética para os outros. Queremos que eles se demonstrem éticos, mas nos reservamos o privilégio de ser pragmáticos em benefício próprio. Não que nossa sociedade seja sistematicamente desonesta. A desonestidade é exceção. Mas é uma exceção que se manifesta em momentos estratégicos da vida política - e social. Não aparece em questões poucas, porque menores - aparece em questões poucas, porque cruciais.

Mudar isso é possível. Campanhas, como a do Ministério da Justiça contra as mini corrupções de cada dia, educam. Mostram o nexo entre o ilícito meu ou seu, e o ilícito de nossos representantes. Porque quem nos representa, porque foi eleito por nós, nos representa também como somos. O limiar da honestidade precisa ser levantado, na vida de todos. E além disso é viável, ainda que difícil, um pacto entre políticos. Seria possível políticos honestos, de vários partidos, acordarem que não aceitam o apoio da banda podre. Isso poderá gerar um ou dois anos de turbulência, mas dará efeito. E então saberemos distinguir se um governante merece ser criticado porque se fecha a negociações - ou elogiado porque se recusa a negociatas, que são coisas diferentes, sendo uma a essência da política, a outra a essência da corrupção.