quinta-feira, 25 de julho de 2013

Vinicius Torres Freire

folha de são paulo
A luz do emprego piscou
Apesar da ótima situação do mercado de trabalho, dados de junho levantam debate sobre 'fim de ciclo'
A SITUAÇÃO do emprego é a última carta boa na mão de Dilma Rousseff. Ainda é. Os números de ontem do IBGE, no entanto, suscitaram debates sobre a sorte da presidente nas próximas rodadas.
O desemprego continua muito baixo, mas subiu "fora de época". A indústria demite durante a temporada de contratações. O nível de emprego cresce cada vez mais devagar desde o fim de 2012, tendo aumentado em junho menos do que a população em idade de trabalhar. Na média, os salários ainda sobem além do crescimento da produtividade (bem além), mas em ritmo cada vez menor.
Além dos dados da Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE, sabemos também que a confiança do empresário vai mal das pernas. Os estoques da indústria crescem faz três meses (dado da Confederação Nacional da Indústria para junho). Os trabalhadores relatam cada vez mais dificuldades de arrumar emprego (dado da FGV). O emprego industrial diminui em São Paulo em meados do ano (segundo a Fiesp). Os governos, com menos dinheiro, tendem a contratar menos neste ano e em 2014, mesmo com eleição pela frente.
O setor de serviços começa a apanhar devido ao aumento menor da renda real e ao endividamento das famílias.
Há economista a dizer que também o "ciclo do emprego" começou a virar nesta metade do ano. Uns outros acreditam que os dados recentes sobre emprego, confiança e muito mais estão distorcidos ou "cheios de ruído" devido às manifestações de junho e à balançada feia nos mercados financeiros no mundo inteiro, em especial aqui.
Enfim, há aqueles que preferem enfatizar os dados mais objetivos à mão: a economia vai crescer mais em 2013 do que no ano passado. Sim, apesar do (justificado) pessimismo, o Brasil deve crescer pelo menos o dobro neste ano (1,8%); com muita sorte, pode crescer até o triplo de 2012 (2,7%). Difícil, pois, haver piora séria no emprego.
Pode-se argumentar que o mercado de trabalho tem andado esquisito no Brasil dos últimos três anos, por aí. O desemprego baixou ao piso histórico quando a economia deixava para trás o melhor ciclo de crescimento em 30 anos.
Pode bem ser que, convencidos das expectativas medíocres (embora melhores) para os próximos dois anos, empresários comecem, enfim, a demitir. Até aqui, estavam "represando" empregados na expectativa da retomada econômica.
Dados econômicos de apenas um mês não fazem verão, nem inverno. Vai ser preciso esperar pelo menos até agosto ou setembro para tirar a fumaça dos protestos de junho da frente dos dados e, também, para confirmar tendências de emprego na indústria. Até lá, o debate vai ser meio especulativo.
Politicamente, o risco de piora no mercado de trabalho empurra o governo federal contra a parede. O governo está sem instrumentos para tentar dar uma sacudida na economia; aliás, o Banco Central age para esfriar a produção.
Não há fonte de estímulo outro à vista. Mesmo que sejam um sucesso, as concessões de infraestrutura teriam efeitos práticos (obras em andamento) apenas em 2014. Da economia mundial podem vir é mais problemas. Das ruas, pode vir outra rodada de protestos, no 7 de Setembro.
A Dilma, só resta agora torcer por um carta boa.

Debate com a direita - Marcelo Mitherhof

folha de são paulo
Debate com a direita
Não sou a favor de distribuir renda por ser bonzinho, mas porque é o melhor jeito de tornar o Brasil mais rico
Luiz Felipe Pondé, em sua coluna na Folha de 08/07/2013, convida a esquerda a discutir o Brasil com os conservadores, parando com os xingamentos mútuos. Com um certo atraso, aceito o convite.
Pondé se define como liberal-conservador. Vale tentar explicar o sentido do termo, algo contraintuitivo.
O liberalismo é político, com destaque para os direitos individuais: liberdades de expressão e religiosa, pluralismo moral, emancipação feminina, direitos gays etc.
O conservadorismo se refere, entre outras coisas, à economia, caracterizada por um outro liberalismo, o econômico, em que o mercado tem um papel central e extremo, dado pela máxima "vícios privados, virtudes públicas", que sintetiza a crença na livre iniciativa como o vetor do desenvolvimento: não se culpe por agir visando seu estrito interesse próprio, pois o resultado é bom para todos.
Estamos de acordo quanto às garantias civis como parte essencial da democracia e para que o país seja um lugar mais legal de viver.
As bandeiras libertárias foram no Brasil historicamente levantadas pela esquerda. Talvez isso se deva ao fato de a direita brasileira ter sua raiz num conservadorismo agrário pré-capitalista. Isso não significa que essas bandeiras sejam exclusivas da esquerda e tampouco que todos nela sejam politicamente liberais. Além disso, é inegável que as liberdades individuais foram inventadas pelas revoluções burguesas.
As diferenças surgem na economia. A visão conservadora prega o Estado mínimo, que provê só serviços essenciais, como educação e segurança, para equalizar as oportunidades a partir das quais os indivíduos buscarão seu interesse. Profissionais liberais e pequenos empresários seriam a força do capitalismo.
O problema é que, apesar de boas sacadas quanto ao poder da competição e da busca do lucro, não é assim que o capitalismo funciona melhor.
Por exemplo, grandes empresas são mais eficientes. O poder de mercado torna mais fácil acumular recursos para inovar. Como dizia Schumpeter, um carro pode correr porque tem freios.
O Estado também tem papel central na economia. Os gastos públicos estabilizam o capitalismo, criando uma demanda que impulsiona o investimento e, as sim, a produtividade. Além disso, para a esquerda, distribuir renda não é somente um valor moral, mas também uma forma de acelerar o crescimento: pobres consomem mais os ganhos adicionais que obtém.
A principal diferença entre direita e esquerda está na ênfase que cada uma respectivamente dá à competição e à cooperação.
Essas são formas de interação em alguma medida sempre presentes nas relações humanas. Exagerar na ênfase numa ou outra direção cria problemas. Sem cooperação, a força inovadora do capitalismo é desagregadora, como ocorreu até a crise de 29. Sem competição, o comunismo foi pouco dinâmico e repressor.
O Estado de bem-estar social foi uma inovação pública que consolidou a força do capitalismo ao torná-lo mais equilibrado, mas exageros cooperativos também ocorrem. Por exemplo, há casos de seguro-desemprego na Europa em que é demasiadamente pequena a diferença entre trabalhar ou não.
Claro, a dosagem entre competição e cooperação não tem receita pronta, abrindo espaço para debates e experimentações.
Por fim, uma boa questão levantada pelo liberal-conservadorismo é se haveria uma contradição entre o intervencionismo econômico e as liberdades individuais.
Não creio. Defender o Estado de bem-estar social é de meu interesse individual. Não sou a favor de distribuir renda por ser bonzinho, e, sim, porque é o melhor jeito de tornar o Brasil mais rico e porque uma sociedade mais equilibrada é boa para mim. Afinal, viver em meio a uma grande pobreza me põe sob risco.
O bem comum atende a interesses próprios menos imediatos. Um exemplo banal é o das regras de trânsito. Furar o sinal vermelho faz a pessoa chegar mais rápido ao destino. O risco de acidente é baixo. Porém basta dirigir no Rio para verificar que a busca de um interesse próprio estrito pode ser pior para todos.
Além disso, a economia é só um meio de criar as condições da liberdade. A liberdade das sarjetas tem seu charme, mas é para poucos. Para ser livre, é preciso contar com itens de consumo básicos da modernidade --geladeira, TV--, além de educação, viajar etc. O capitalismo regulado é a melhor maneira de propiciar essas coisas a todos.
marcelo.miterhof@gmail.com

    Pasquale Cipro Neto

    folha de são paulo
    'Ide e fazei discípulos...'
    Ninguém morre por estudar formas linguísticas que não se usam no dia a dia, mas ocorrem em outros registros
    O lema da Jornada Mundial da Juventude 2013 é "Ide e fazei discípulos entre todas as nações" (Mateus, 28, 19). Quero trocar dois dedos de prosa sobre as formas verbais "ide", "fazei" e análogas, hoje fora de uso na língua do dia a dia, mas largamente encontradas nos textos literários clássicos (portugueses e brasileiros) e na literatura religiosa.
    Chama-me a atenção o contraste entre o lema da JMJ e o que boa parte da parte brasileira dessa mesma juventude tem encontrado na sala de aula. Alguns "professores" andam dizendo a seus pobres alunos que estudar a língua clássica é coisa de opressores, é manifestação de preconceito etc. Quanta bobagem!
    Como bem dizem os realmente antenados com a modernidade linguística, o estudo sério NÃO deve ignorar o que se pratica no dia a dia ou o que se registra nas diversas variedades linguísticas, assim como NÃO pode deixar de abordar as variedades clássicas, formais etc. Isso sim é dar ao estudante um guarda-roupa linguístico pleno, que lhe permita compreender sobretudo as modalidades da língua com as quais ele tenha pouca ou nenhuma familiaridade.
    Para ilustrar o que digo, relembro uma questão do vestibular da Unesp (Universidade Estadual Paulista). Baseada num fragmento de Vieira, a banca pediu aos candidatos que apontassem a frase em que o pregador se dirige diretamente ao público. O enunciado deixa claro que só há uma frase, formada por apenas uma palavra, a flexão verbal "reparai".
    Como o índice de acerto foi baixíssimo, deduz-se que poucos candidatos entenderam o significado de "reparai", que nada mais é do que a segunda pessoa do plural (vós) do imperativo afirmativo de "reparar". Se Vieira tivesse empregado a terceira do plural, teríamos "reparem".
    O que nos revela o baixíssimo índice de acerto? Temos algumas hipóteses: a) boa parte dos professores não soube ensinar o imperativo (mandou "decorar" a tabela de formação, mas não explicou o uso); b) boa parte dos professores explicou direito, mas a maior parte dos alunos não entendeu ou não deu importância etc.; c) boa parte dos professores simplesmente ignorou o assunto. Poderíamos pensar também numa alternativa "d", em que se afirmaria que pelo menos duas das alternativas anteriores são corretas.
    O frouxo argumento de que a falta de uso na língua do dia a dia não justifica o ensino desse tipo de flexão verbal pode ser desmontado com o lema (bíblico) da JMJ, com um poema modernista, como "Verbo Crackar", de Oswald de Andrade, ou com uma canção popular, como "Tempo Rei", de Gilberto Gil. Nos três casos, empregam-se formas da segunda do plural (vós) do imperativo afirmativo. Em "Tempo Rei", Gil emprega "transformai", "socorrei" e "ensinai", que resultam da eliminação do "s" final da forma correspondente do presente do indicativo.
    Voltando ao lema da JMJ ("Ide e fazei..."), temos de novo a segunda do plural do imperativo afirmativo de "ir" e "fazer", respectivamente: "ide" resulta da eliminação do "s" de "ides" (de "vós ides", segunda do plural do presente do indicativo); "fazei" segue o mesmo processo (de "vós fazeis" se chega a "fazei").
    No poema de Oswald, encontra-se a forma "sede" (em "sede trouxas"), que é da segunda do plural do imperativo afirmativo de "ser". Trata-se de uma das duas únicas exceções registradas na formação do imperativo. A outra é "sê", da segunda do singular do mesmo verbo "ser" ("Para ser grande, sê inteiro...", escreveu Fernando Pessoa).
    Ninguém morre por aprender e estudar formas linguísticas que não se usam no dia a dia, mas ocorrem em outros registros linguísticos. Xô, preconceito! Xô! É isso.

    Tv Paga


    Estado de Minas: 25/07/2013 


    Desafios radicais
    O canal Off segue com muitas novidades esta semana. Para hoje, um dos destaques é a estreia de Fernanda Tabith, Tamis Guerra e Jéssica Souza ao lado das veteranas Reine Oliveira e Isabela Nunes na segunda temporada de Curvas e ladeiras (foto), às 19h30. Às 21h, Sylvio Mancusi viaja à África e Estados Unidos para a prática do kitesurfe, na quarta temporada de Na onda. Na sequência, às 21h30, é a vez do segundo ano de Custo zero, com Zé Tepedino e Bernardo Sodré em Portugal. E às 22h30, estreia a quarta temporada de Submerso, com Sofie Mentes, Marcela Witt e Sofia Graça Aranha mergulhando em Moçambique.

    Você já conhece o novo
    som de Pedro Altério?
    O músico Pedro Altério é o convidado de Moska na edição de hoje de Zoombido, às 21h30, no Canal Brasil. O artista fala sobre o pai, Rafael Altério, que o levou a “sentir” a música, o momento em que percebeu ser um compositor e canta, ainda, Dejavu, Abrindo a porta e Alguém dirá. Já à meia-noite, em Sombrio 40°, Fausto Fawcett conversa com a coreógrafa Deborah Colker sobre a sensualidade em seus trabalhos, ao comentar o trabalho das dançarinas anônimas de uma boate.

    Programas de culinária
    vão dar água na boca
    Hoje é um bom dia para reforçar seu livrinho de receitas com as dicas culinárias de quatro programas. No canal GNT, às 21h, Claude Troisgros comanda a temporada de inverno do Que marravilha!, ao lado dos amigos Romanelli, Marcão e Giancarlo, em volta de um frango caipira com ameixas e pimenta verde. No mesmo horário, no Glitz, Gordon Ramsay abre a nova temporada do reality Masterchef, competição gastronômica que vai dar 250 mil dólares ao melhor participante. Na Fox Life, às 22h, Gordon Ramsay volta em Kitchen nightmares, com dois episódios em sequência. E às 22h45, no Bem Simples, a chef Carla Pernambuco ensina a fazer manjar com ameixas e feijoada sergipana em Brasil no prato.

    Osama, Hitler ou o Papa?
    É você quem vai decidir
    No segmento dos documentários, três destaques. Às 21h, o Discovery Civilization estreia Arquivos secretos, mostrando como forças de operações especiais formam um exército na guerra contra o terrorismo, como a que a Marinha norte-americana montou para matar Osama Bin Laden, o homem mais procurado do mundo. Mais cedo, às 20h30, o Nat Geo exibe episódio inédito de Os segredos do Terceiro Reich, centrando o foco em Rudolf Hess, o enigmático secretário de Adolf Hitler. E às 23h, no + Globosat, vai ao ar Francisco:
    O papa de todos.

    Telecine Action seleciona
    os grandes feitos do 007
    O aquecimento para a estreia de 007 – Operação Skyfall, no sábado à noite, continua hoje com a exibição do documentário James Bond e seus melhores momentos, às 12h20, no Telecine Action. Na concorrida faixa das 22h, o assinante tem mais oito opções: Segurança nacional, no Canal Brasil; Amor à flor da pele, no Glitz; A última casa da rua, na HBO 2; Turistas, na MGM; Frida, no AXN; O legado Bourne, no Telecine Premium; Os inocentes, no Telecine Cult; e O nome da Rosa, na Cultura. Outras dicas da programação: Um homem misterioso, às 20h05, no Universal; Eu, meu irmão e nossa namorada, às 22h30, no Comedy Central; e Paranoia,
    às 22h30, na TNT.

    Aldo Rebelo diz que usou jato da FAB porque tinha agenda oficial em Havana - Filipe Coutinho

    folha de são paulo
    Viagem para Cuba foi missão de trabalho, afirma ministro
    Titular do Esporte não explica atividades de mulher e filho, que pegaram carona no avião do governo
    DE BRASÍLIAO ministro Aldo Rebelo (Esporte) distribuiu nota para reafirmar que esteve em Cuba em missão oficial, mas não explicou os compromissos que sua mulher e seu filho tiveram em Havana no Carnaval.
    Como a Folha revelou, Aldo usou avião da FAB (Força Aérea Brasileira) no Carnaval deste ano para ir a Cuba com assessores, a mulher e o filho.
    O ministro estava em missão oficial e disse que levou os parentes em avião da FAB sob a justificativa de que eles foram a convite de Cuba.
    Folha tentou falar com a mulher do ministro, Rita, na Secretaria da Mulher do governo do DF, onde trabalha, mas a assessoria disse que ela está em férias. O filho do ministro não foi localizado.
    Apesar de a mulher e o filho terem ido em avião oficial, Aldo não explicou na nota o que fizeram lá.
    À Folha o ministério disse apenas que os dois "cumpriram programação definida pelo protocolo cubano".
    Após a divulgação da nota no site do Ministério do Esporte, a Folha mais uma vez questionou o ministro sobre a agenda da mulher e do filho, mas não houve resposta. Na nota, Aldo relatou apenas sua agenda da missão oficial.
    "Não fui passear em Cuba. Fui trabalhar, como mostra a agenda", disse ele.
    Questionado pela reportagem, o ministro não disse se devolverá o valor das passagens de seus familiares.
    A reportagem cotou preços para duas pessoas, em viagem de ida e volta entre Brasília e Havana na aviação civil. Na primeira semana de agosto, duas viagens de ida e volta custariam mais de R$ 5.500. Para novembro, o valor cai para R$ 3.600.
    Outras autoridades, depois de flagradas pela Folha usando o avião da FAB para ir a uma festa e ao jogo da Copa das Confederações, devolveram o dinheiro relativo ao trecho voado.
    ÉTICA
    A oposição cobrou explicações do ministro. Líderes do DEM, PSDB e PPS defendem que Aldo se explique à Comissão de Ética Pública, vinculada à Presidência, e devolva o dinheiro do voo.
    "O ministro é uma pessoa séria, mas se julgou no direito de levar mulher e filho em voo oficial. Aproveitou um evento para produzir férias, juntando o público e o privado. Cabe explicações à Comissão de Ética", afirmou ontem o presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN).

      MARINA COLASANTI » Preto, branco e transcendência‏



      Que estupenda exposição essa que vi, de Sebastião Salgado, no Jardim Botânico do Rio! Fui em busca da exposição que a imprensa havia me prometido, encontrei nela mais duas, e sei que uma terceira me escapou.

      Obediente ao desejo de Salgado, vi em primeiro lugar o que ele queria que eu visse, a imponência da natureza intocada. Tudo é grandioso, as geleiras, as montanhas, mar e deserto, em grande angular e em detalhe. Tudo canta. O planeta, ou o que dele sobra puro, é muito melhor do que nós que o maltratamos.

      Abro um parêntesis: era dia de semana e a exposição estava cheia; muitos fotografavam as fotografias, com celulares ou com equipamentos mais sofisticados, e me lembrei de ter visto no jornal uma foto da noite de inauguração, em que uma visitante fotografava um dos painéis, e de ter pensado que ali estava também, oculto, um terceiro fotógrafo, o do jornal, numa moderna sequência de captadores de imagens. Fim do parêntesis.

      Volto às salas do Jardim Botânico. Vi ali, além do libelo ecológico ou como parte dele, uma exposição de olhares e gestos. O leopardo bebe água e nos encara como nos encara o guerreiro primitivo de rosto pintado, o leão caça um antílope e o velho papua carrega a ave que caçou, mães de várias espécies protegem sua cria num idêntico abraço, uns fazem ninho, outros fazem casas. E os machos e as fêmeas se seduzem, acasalam-se, e criam seus filhotes de pelo, pluma, pele. As diferenças costuram a enorme semelhança.

      Mas o olhar de quem vê é múltiplo como o de quem fotografa, e com meus olhos de gravadora vi uma exposição mais. A do preto e branco. Que mago é Salgado, capaz de conseguir tanto com tão pouco! Dispunha de todas as cores do arco-íris, sedutoras como sereias, e as recusou. Sabia que o discurso seria mais severo e imponente sem elas.

      Não quero falar das infinitas possibilidades do cinza, porque o cinza com suas escalas amacia, suaviza. E nenhuma concessão de suavidade acontece nessas fotos. Ao contrário, há uma precisão de lâmina, recorte impecável do escuro contra o claro, bisturi de branco sobre o negro. E a oposição entre esses dois oponentes/complementares entrega ao olhar uma profundidade bem mais intensa do que aquela fornecida pelos óculos de 3D, porque mais verdadeira.

       Estamos acostumados a pensar fotografia como reprodução da realidade, registro fiel do que existe – quantas vezes ouvi dizer que já não faz sentido a pintura realista, se câmara e lentes replicam com tanta perfeição. No entanto, ao fotografar a realidade, Sebastião Salgado lhe dá outra dimensão. Que distantes estão as samambaias da vida real, aquelas com que a gente cruza em qualquer selva ou mato, das que a lente transformou em arabesco, pluma, bordado. É como se Salgado usasse o preto e o branco para nos mostrar a transcendência de cada coisa enfocada.

      A foto emblemática da exposição o demonstra: na mão espalmada da iguana, dedos abertos, em que cada escama se desenha nítida, é impossível não pensar em nossa própria mão ancestral, aquela escamosa que saiu de dentro das águas buscando a terra.

      A terceira visão possível, a que me escapa, é a que certamente têm os fotógrafos. Para eles, capazes de analisar técnicas e desvendar segredos, tudo há de ter sabor de identificação e aprendizagem.

      Em feira no Rio, peregrinos se dividem entre fé e badalação e Igor Gielow

      folha de são paulo
      FOCO
      DO RIO
      Fé e agitação se misturam na feira vocacional na Quinta da Boa Vista, em São Cristóvão (zona norte). Estandes de ordens e comunidades católicas de diversos países oferecem aos peregrinos informações sobre sua atuação.
      Mas os jovens que circulam por lá não se preocupam apenas com as vocações. "As brasileiras são muito bonitas", disse o norte-americano Samuel Mankan, 16. Ele e outros cinco amigos, alunos de um colégio jesuíta do Arizona (EUA), estão hospedados em uma paróquia em Niterói.
      "Não beijamos nenhuma ainda. Até o final do dia, quem sabe, damos sorte", disse Charlie Kamps, 16. Questionados sobre se iriam a um dos 50 confessionários espalhados pela Quinta, eles responderam: "Primeiro o beijo, depois a confissão".
      Pelo parque estão espalhadas tendas de música --uma para que as ordens se apresentem ao vivo, outra de música eletrônica católica.
      Após assistir ao show de uma banda católica, um animado grupo de 40 peregrinos da Nicarágua cantava para uma rede de TV de seu país: "Aqui está a juventude do papa", repetiam para a câmera.
      A estudante Tamara Cerda, 23, disse que, além do contato com pessoas interessantes, ela aprendeu nos estandes como é a vida de uma freira: "Tenho vontade [de ser freira], mas tenho dúvidas com relação ao dia a dia. Pude tirar algumas dúvidas aqui".
      Duas freiras da Congregação das Irmãs de São João Batista distribuíam raspadinhas --os prêmios iam de uma garrafinha até a possibilidade de participar do curso para virar freira. Receberam 35 pedidos de peregrinas interessadas nessa possibilidade.
      ANÁLISE - DISCURSO DO PAPA
      Francisco aceita diálogo, mas reafirma ortodoxia
      Pontífice pode promover nova rodada de adaptações da igreja ao mundo moderno, mas não romperá com dogmas
      SE BERGOGLIO NÃO É RATZINGER, ISSO NÃO MUDA O FATO DE QUE ASCENDEU SOB A REAÇÃO CONSERVADORA
      IGOR GIELOWDIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIAA crítica à legalização das drogas feita por Francisco pode ter enchido de tristeza corações "progressistas" brasileiros, que identificam no novidadeiro papa a possibilidade de ruptura com tudo o que consideram "careta" e ortodoxo na Igreja Católica.
      Notar as aspas. O progresso e a modernidade para um pode ser a estagnação e a caretice para outro. Isso dito, o discurso de Francisco não deveria impressionar ninguém.
      Em Buenos Aires, a questão das drogas sempre teve no cardeal Bergoglio um expoente do combate à liberalização. Assim como ele vociferou contra outras bandeiras comportamentais atuais, como o casamento gay ou a legalização do aborto.
      Ao criticar um projeto de liberação de drogas leves na Argentina ano passado, ele usou o mesmo termo empregado ontem, "mercadores da morte", para se referir a traficantes. Na região, o Uruguai descriminalizou a maconha, mas o tema é debatido em vários países, como Brasil.
      Francisco segue a doutrina católica vigente. João Paulo 2° sempre rejeitou a legalização. Em mensagem à ONU em 1992, também criticava os "mercadores" e, como seu sucessor ontem, disse que "na raiz deste mal está a perda de valores éticos e morais".
      Sem fazer a defesa aberta da "guerra às drogas", alvo preferencial dos que argumentam pela legalização dos entorpecentes, Francisco cobra valores e educação, além de individualizar o drama do dependente químico.
      Assim, se enfrenta natural resistência laica sobre a ética em questão, ele dá uma dimensão humana ao problema. E também não é uma posição quase indefensável, do ponto de vista de saúde pública, como a da condenação ao uso de preservativos.
      A fala reafirmou algo que as viúvas da Teologia da Libertação parecem ter esquecido no meio do frenesi de mídia provocado por Francisco.
      Se Bergoglio não é Joseph Ratzinger, e parece muito mais aberto ao diálogo, isso não muda o fato de que ele ascendeu na hierarquia já sob a reação conservadora às liberalidades inspiradas pelo espírito do Concílio Vaticano 2º --que flexibilizou normas da igreja entre 1962 e 1965.
      É factível pensar numa nova rodada de adaptações ao mundo moderno com Francisco, como quando ele disse que ateus podem ser salvos se forem bons, e é esperada uma reforma na Cúria Romana.
      Daí a crer numa ruptura com dogmas e conceitos cristalizados há uma distância.
      Bento 16 vocalizou isso de forma hermética e algo antipática, mas um dos pontos do catolicismo (e de qualquer sistema tradicional de crenças) é apresentar-se como porto seguro às inconstâncias da vida secular. Francisco poderá até vir a surpreender além da forma e tocar em conteúdos, mas não é um padre de passeata. Nesse sentido, o papa é pop, "ma non troppo".

        FERNANDO BRANT » Harmonia‏


        O que passou é passado e não há mais nada a fazer em relação  a ele. É um pensamento simples, quase óbvio, mas pouco usado na prática. Não me canso de assistir a pessoas lamentando algo ocorrido, inertes diante do que não pode ser mais modificado. Um fato pronto e acabado pode, muitas vezes, ser enfrentado com ações que provoquem outras condições. Não adianta chorar pelo leite derramado, melhor ordenhar outra vaca.

        Não estou tratando de episódios que estão fora de nossa possibilidade de exercer influência. E a vida está cheia deles. Não podemos parar o rio, domar o mar, tomar as rédeas das chuvas de São Pedro, congelar o fogo.

        Chorar em braços amigos pode ser inevitável para readquirir as forças necessárias e prosseguir. Uma casa que desmorona pode ser reconstruída, as coisas materiais sempre podem ser reerguidas de maneira mais consistente. De alguma forma, enquanto a energia corporal enfraquece com o passar dos anos, é inegável que a mente fica mais tranquila e o pensar se torna mais sereno e maduro. Tenho usado isso ultimamente quando me vejo diante de situações que parecem irremediáveis. Há sempre algo a fazer.

        Se somos atingidos por um raio desorganizador, vindo, por exemplo, dos poderes políticos federais, sempre há a possibilidade de novos caminhos, de buscar outro poder, outras luzes. Não há derrota para quem não desiste de brigar por seus princípios.

        Nem falo do que se refere à ideologia ou a religiões. Falo de convicções testadas no dia a dia de diálogo e de trabalho, sem obscurantismo e intolerância, mas com o coração aberto para absorver e respeitar outros conhecimentos, outras maneiras de ver o mundo.

        Pois o que quero, por mais utópico que seja, é a harmonia. E essa é o contrário da gritaria. Fica cada vez mais difícil encontrar quem represente os ideais humanos de justiça, liberdade, igualdade e fraternidade. Não enxergamos essa virtude nos partidos, eles são só parte; nem em facções e seitas, essas mais minúsculas ainda.

        A solução certamente não será dançar um tango argentino nem um samba. Mas na poesia encontramos veredas interessantes para chegar a um lugar ideal. Ou na música, linguagem universal, presente em todos os recantos do planeta. Nem sempre, porém, os poetas e os cancionistas correspondem, em seu estar no mundo, ao canto que criam e declamam. E existe muita gente que não poeta nem canta e é admirável em sua maneira de conduzir a existência. Estes estão mais perto da harmonia do que aqueles.


        >>  www.fernandobrant@hotmail.com

        Autoconhecimento atrai brasileiros e cria mercado para cursos e sermões - Carolina Braga‏

        Autoconhecimento atrai brasileiros e cria mercado para cursos e sermões 



        Carolina Braga


        A prática é milenar. Na Grécia antiga, filósofos dedicavam tempo para falar da vida. Na academia de Platão, por exemplo, o amor era um dos temas da vez, assim como a amizade e a ética. Muita coisa mudou de lá para cá, mas o interesse do homem pelo autoconhecimento continua – vide o sucesso da autoajuda no mundo inteiro. Mas esse gênero, que carrega junto de cifras milionárias boas doses de preconceito, tem dividido espaço com uma filosofia voltada para o estilo de vida. Os brasileiros embarcaram nessa onda.

        Desde que o filósofo Alain de Botton inaugurou sua The School of Life (Escola da Vida) em Londres, chama a atenção a quantidade de brasileiros que passaram a frequentar aulas, palestras e a procurar na internet dicas sobre como ter o trabalho dos sonhos, como fazer a diferença ou ser criativo. Agora, a The School of Life se prepara para abrir uma “filial” em São Paulo.

        “Os brasileiros têm pensado muito sobre o que querem de suas vidas e do país. Na escola, acreditamos que podemos ter mais controle sobre como tornar o mundo um lugar melhor para todos. Isso se encaixa muito bem com o sentimento do país neste momento”, diz o professor David Baker. No início do ano, ele foi a São Paulo para um intensivão promovido pela instituição britânica. A escritora brasileira Martha Medeiros participou da troca de experiências com os 20 selecionados. Duas temporadas estão agendadas para outubro e novembro, no Rio de Janeiro e em São Paulo.

        Além do curso, os representantes de Botton inauguraram no país os sermões, prática comum entre os britânicos. Funciona assim: especialistas em temas do cotidiano reúnem seguidores em teatros para falar sobre a própria experiência. Arrependimento foi o assunto de julho, na capital paulista. A agenda do segundo semestre já está fechada: gratidão, empatia e curiosidade serão temas debatidos pelo ex-padre Zeca de Mello, o pensador romeno Roman Krznaric e o artista plástico Vik Muniz. O lance é falar e trocar experiências. Resumindo: filosofar.

        Demanda

        Autor de Como encontrar o trabalho da sua vida, um dos volumes da coleção The School of Life (Objetiva), e de Sobre a arte de viver (Zahar), Roman Krznaric explica que a escola foi fundada em 2008 com o objetivo de recuperar a prática dos gregos antigos e atender demandas do presente. Segundo ele, nos últimos anos, a Grã-Bretanha observou grande demanda por esse tipo de conhecimento.

        “Observamos o revival do interesse por um tipo de filosofia ligada ao dia a dia. A diferença de outras épocas é que, agora, o desejo é generalizado. Tanto jovens e avós quanto estudantes de filosofia que leem Nietzsche na universidade querem conversar sobre amor”, observa ele. A procura por esse tipo de conteúdo ganha força no Brasil e na Austrália, não por acaso os primeiros países a receber as filiais da instituição.

        Para Krznaric, a complexidade da vida contemporânea é o motivo da alta procura. “Mais e mais pessoas reconhecem que o alto consumo e o estilo de vida marcado pela tensão não trazem felicidade”, conta. Resulta disso o anseio por formas mais simples de viver e pelo compartilhamento de ideias.

        Criada em Belo Horizonte em junho de 2006, a Academia de Ideias surgiu com a proposta de oferecer cursos livres e curtos sobre filosofia e assuntos diversos. Artistas e pensadores vieram à cidade falar de suas experiências, profissionais de outras áreas partilharam conhecimentos com o público.

        Quando foi implantado, o projeto dirigido por Alexandre Michalick surpreendeu, mas não conseguiu sustentabilidade. “Belo Horizonte não absorveu o projeto. Fizemos vários encontros e, por fim, decidimos não lutar contra o mundo”, desabafa. A Academia de Ideias redirecionou seu foco para a educação empresarial. Há planos para disponibilizar o conteúdo de cursos on-line ainda este ano.

        On-line
        A internet é a casa de projetos voltados para a arte de viver que nascem espontaneamente. O site Agora sim, das publicitárias mineiras Marina Moretzsohn e Lilian Rezende Barbosa, é um exemplo. Depois de participar de palestra sobre criatividade e inovação, Marina percebeu que poderia usar sua aptidão para escrever de outras formas. Colega de agência, Lilian foi convidada a aderir ao projeto. As duas criaram um blog cuja matéria-prima são as histórias de pessoas que trocaram de profissão em busca de felicidade.

        “Tudo começou de forma completamente despretensiosa, sem a intenção de virar o que virou. Recebemos e-mails que nos dão até vontade de chorar”, conta Marina. Com pouco mais de um ano, o Agora sim acumula 12 mil visitantes por dia em média. Nos posts há vídeos com histórias de leitores, dicas sobre como lidar com o ambiente de trabalho ou mesmo desistir dele.

        Venda
        Mesmo que a prática difundida pela The School of Life ganhe força no Brasil, a filósofa Márcia Tiburi recomenda: muita calma nesta hora. “Tenho medo quando as pessoas começam a vender filosofia como se fosse um brinquedinho”, alerta a escritora e professora. Se a lição dos gregos de usá-la para o diálogo é uma grande contribuição, o ato de filosofar deve condizer com o presente, adverte Márcia. “Temos de criar nossa filosofia hoje. Ela pode ser algo diferente do que foi feito no passado”, desafia.

        Tiburi sobrevive dos encontros filosóficos que mantém com alunos e plateias em todo o país. Em agosto, ela lança Sociedade fissurada: para pensar as drogas e a banalidade do vício, escrito em parceria com Andrea Dias a partir de seminário realizado em Belo Horizonte.

        “Filosofia nos ensina a pensar”, reforça a professora. Para ela, uma possível explicação para o crescente interesse dos brasileiros pela disciplina está ligado à abertura política, ainda recente no país. “A filosofia que gosto de fazer é crítica, desmitificatória e, ao mesmo tempo, em diálogo com o mundo em que vivo. Não é contentamento das massas nem adulação. Creio que as propostas facilitadoras trazem isso”, adverte.

        AGENDA

        O circuito inaugural dos sermões da The School of Life no Brasil está marcado para 18 de agosto, no Teatro Tom Jobim, no Rio de Janeiro. O professor Zeca de Mello vai falar sobre gratidão. Roman Krznaric abordará o tema empatia, nas capitais fluminense e paulista. Em novembro, o artista plástico Vik Muniz discutirá a criatividade. Informações: www.facebook.com/theschooloflifebrazil

        André Novais Oliveira roda seu primeiro longa dentro de casa com elenco formado por familiares-Carolina Braga.‏


        Simples assim

        André Novais Oliveira roda seu primeiro longa dentro de casa, no Bairro Amazonas, com elenco formado por familiares. O diretor já fez bonito em Cannes e vai mostrar seu trabalho nos EUA
         

        Carolina Braga


        Estado de Minas: 25/07/2013 

        Os moradores do Bairro Amazonas, em Contagem, podem até não saber. Mas a rotina mudou totalmente naquela casa verde de fundos com pitangueira na porta. Quando a novela ocupa as telinhas nas redondezas, a residência de Norberto e dona Zezé vira – literalmente – coisa de cinema.

        O casal é protagonista de Ela volta na quinta, o primeiro longa-metragem da jovem produtora Filmes de Plástico, criada em 2009. Não por acaso, roteiro e direção são assinados por André Novais Oliveira, o caçula da família, que incluiu também o irmão e a cunhada no elenco.

        “Minha influência vem muito das coisas que vejo no dia a dia”, confessa o cineasta. Destacado com menção especial na Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes, em maio, o curta Pouco mais de um mês, também de André, trilhava caminho parecido. Contava a história do namoro do diretor acrescida de elementos ficcionais. Ela volta na quinta é mais ou menos assim. Agora, o foco está na relação dos pais e dos filhos com as respectivas companheiras.

        “É aquela história: quem conta um conto aumenta um ponto. É mistura, mas o filme foi roteirizado”, esclarece Gabriel Martins, o sócio da produtora encarregado de cuidar da fotografia. Na Filmes de Plástico, rodízio é lei. Quando André assume a direção, Gabriel cuida da câmera, enquanto Maurílio Martins se responsabiliza pelo som. Thiago Macedo Correia coordena a produção. Nada é fixo.

        O quarteto tem conquistado espaço em conceituados eventos cinematográficos no Brasil e no exterior. Contagem ganhou o prêmio de direção no 43º Festival de Brasília. Dona Sônia pediu uma arma para seu vizinho Alcides foi exibido no 34º Festival Internacional de Curtas de Clermont-Ferrand, na França, e no 41º Festival Internacional de Roterdã, na Holanda.

        Pouco mais de um mês tem agenda animada. Depois de Cannes, será exibido em Los Angeles, na semana que vem, antes de marcar presença no Festival de Gramado, no Rio Grande do Sul. Nada disso afeta a simplicidade da turma. Aliás, essa é a característica da estética seguida pela Filmes de Plástico. A “ideologia do simples” domina a linguagem.

        Descontando a sofisticação da câmera (uma Red Epic adotada pela equipe de O senhor dos anéis), tudo na produção de Ela volta na quinta é muito simples. Rodado dentro da casa do diretor, o filme traz fotografia sem sofisticação. “Optei pela iluminação natural ou mesmo por lâmpadas fortes para algumas cenas. Às vezes, rola um diálogo com a direção de arte. Usamos abajur, por exemplo”, explica Gabriel. Esse tom intimista se reproduz nas cenas.

        Aparentemente, André Novais é calmo e discreto. No set, nada de gritos estridentes de “rodou” ou “corta”. O tom de voz é baixo tanto para comandar a equipe quanto no momento de passar orientações para o elenco. “Pai, não precisa demorar tanto para falar. Pode ir direto”, recomenda ele, delicadamente, atrás da câmera.

        “Fazer um longa é, ao mesmo tempo, diferente e igual. A questão é a quantidade de dias de filmagem. Os curtas a gente roda em um dia. Agora, são 17”, compara André. O projeto original, beneficiado pela lei federal de incentivo à cultura, contemplava outro curta. Porém, à medida que trabalhava o roteiro, o diretor se deu conta de que poderia avançar. “Não via esse filme como um curta, mas nem conseguia explicar por quê. Nas entrelinhas, havia coisas que poderiam ser expostas”, detalha. Assim foi feito.

        A estrela do lar
        Entre uma cena e outra, chama a atenção a alegria de rodar o primeiro longa-metragem da Filmes de Plástico. O clima familiar domina o set. Na claquete está escrito assim: direção de Andrezera, produção de Thi, fotografia de Gabito e som de Maurilove.

        Na mesa da sala, dona Zezé faz questão de oferecer bolo de chocolate e guloseimas à equipe e às visitas. Sorridente, a atriz não esconde o orgulho dos filhos: “Esses meninos desciam a Afonso Pena correndo para chegar a tempo da sessão no Cine Humberto Mauro. Eles viam tudo naquele Festival de Curtas”.

        Aposentada da Rede Ferroviária Federal, Zezé lembra quando o filho anunciou o desejo de ingressar na Escola Livre de Cinema: “Ele fazia o curso técnico de edificações e estágio. Mas o salário não dava para pagar as outras aulas. Você acredita que o André fez até faxina para completar o valor?”.

        Grande incentivadora, dona Zezé não costuma negar os pedidos do filho. Ela participa pela terceira vez de uma produção da Filmes de Plástico. “É muita emoção ser dirigida aqui por meu filho e por essa equipe. Estou me sentindo a mãe de todos eles”, diz.

        Agora, a expectativa de dona Zezé é se ver na telona. A emoção será redobrada.


        FILMES DE PLÁSTICO

        2013
        » Pouco mais de um mês (22min)
        Roteiro e direção: André Novais Oliveira

        2012  
        » Sorín (em finalização)
        Direção: Gabriel Martins e Maurílio Martins

        2011
        » Dona Sônia pediu uma arma para seu vizinho Alcides (18min)
        Direção e montagem: Gabriel Martins

        » Domingo (11min)
        Direção, roteiro e montagem: André Novais Oliveira

        2010
        » Contagem (18min)
        Direção: Gabriel Martins e Maurílio Martins

        » Fantasmas (11min)
        Roteiro e direção: André Novais Oliveira

        » Pelos de cachorro (15min)
        Direção e montagem: Gabriel Martins e Maurílio Martins

        2009
        » Filme de sábado (18min)
        Roteiro, direção e montagem: Gabriel Martins

        » No final do mundo (5min)
        Direção: Gabriel Martins

        Eduardo Almeida Reis-Lua de mel‏

        O mundo anda cheio de baratezas. Na boate Isla Privilège, Ilha da Mandala, em Angra dos Reis, um jovem gasta facilmente R$ 6 mil por noite 


        Eduardo Almeida Reis

        Estado de Minas: 25/07/2013 

        Circula na internet um vídeo informando que o Danieli Hotel, em Veneza, é ótimo para curtir a sua lua de mel, caro e preclaro leitor. Se me fosse dado palpitar, sugeriria que o futuro casal não tivesse mais que 22 aninhos. Desconfio dos noivos maiores de 25, porque não vi na propaganda vestígio de elevador e as escadarias do hotel são intermináveis.

        O texto do vídeo é uma delícia pela soma de tolices: só lendo. E dá notícia da Doge Dandolo Royal Suite, com 150m2, realmente muito bonita. Vi o preço da diária no Google: 9.900 euros. A cama de casal tem ao pé um genuflexório macio, móvel próprio para genuflectir, geralmente dispensado pelos jovens em lua de mel.

        Vi também os preços de suítes mais modestas. The Signature Suites, de até 73m2, custam 6.300 euros por dia. E as Lagoon View Suites, de 40 a 60m2, são baratíssimas: diárias de 1.770 euros, algo em torno de R$ 5.300 com o euro a três reais.

        O mundo anda cheio de baratezas. Na boate Isla Privilège, Ilha da Mandala, em Angra dos Reis, um jovem gasta facilmente R$ 6 mil por noite. É o que dizem as reportagens publicadas nos jornais. Duas baladas por semana, quatro vezes por mês, o jovem pode gastar R$ 48 mil, sem contar a lancha, os marinheiros e os presentes que deve dar à moça que o acompanha.

        Volto a Veneza encantado com os 150m2 da Doge Dandolo Royal Suite, a tal que custa R$ 30 mil por dia e tem genuflexório. Vejo no Google que Enrico Dandolo (1107–1205) foi doge de Veneza de 1192 até morrer em 1205, durante a Quarta Cruzada. Doges eram magistrados que exerciam poder quase absoluto.

        Quando foi eleito, Dandolo tinha cerca de 85 anos e estava cego, o que não o impediu de demonstrar imensa energia física e mental. Sua história é fascinante e não cabe num suelto. Thomas F. Madden publicou sobre ele dois trabalhos em inglês. Como não leio nem falo inglês, sugiro que o leitor veja os escritos de Madden na internet, antes de reservar a suíte.

        Climatologia

        Narradores e comentaristas de futebol resolveram concorrer com as moças do tempo na arte de bagunçar a ciência da meteorologia. As moças das nossas tevês não acertam uma previsão, salvo quando informam que no dia seguinte não vai chover no agreste nordestino. Os senhores narradores e comentaristas só falavam do calor, da altíssima umidade relativa e da sensação térmica, em Fortaleza, na hora do jogo da Itália com a Espanha pela Copa das Confederações.

        Fiquei curioso do clima senegalesco, até porque os atletas jogaram 90 minutos, mais 30 de prorrogação, e o doutor Andrea Pirlo correu o tempo todo, velhíssimo em seus 34 anos, vindo de uma lesão muscular que o impediu de atuar na partida anterior.

        Depois da lenga-lenga sobre temperatura e umidade, suas excelências disseram que os termômetros marcavam 29ºC, a umidade relativa era de 62% e a sensação térmica de 32ºC. Homessa! Umidade relativa de 62% é normalíssima, é a ideal. Quem foi que disse que sensação térmica de 32ºC é calor pavoroso? Tenho amigos que já pegaram 43 graus no verão da Alemanha e a costa oeste dos Estados Unidos andava pelos 50ºC no dia do jogo em Fortaleza.

        Cultura inútil
        Sou capaz de apostar que o leitor conhece, de fotografia ou de jardim zoológico, um mamífero herbívoro que pode pesar até 1.300kg, corre a 50 km/h, tem de três a cinco chifres curtos, patada que pode matar um leão, língua de 40 centímetros e pode ter quatro metros de altura. Novidade para mim, como também para o caro, preclaro e pacientíssimo leitor, é a notícia de que existem nove subespécies de girafas. Realmente, vendo as fotos das pelagens, constatamos que as manchas e os desenhos variam. O espaço entre as manchas da girafa-da-somália é fininho, parece uma linha, enquanto o espaço entre as manchas da girafa-do-kilimanjaro parece folhagem cheia de pontas. Procuro no livro de Robert A. Wallace o ritual do acasalamento na superfamília Giraffoidea: não tem. É pena, porque deve ser muito divertido.

        O mundo é uma bola
        25 de julho de 1139: reconquista cristã de Portugal com a vitória de dom Afonso Henriques na Batalha de Ourique, atual Baixo Alentejo. A vitória contra os mouros foi tamanha, que dom Afonso Henriques resolveu autoproclamar-se rei de Portugal, ou foi aclamado por suas tropas ainda no campo de batalha, tendo a sua chancelaria começado a usar o título rex portugallensis.

        Em 1415, um exército de cerca de 20 mil cavaleiros e soldados portugueses embarca para conquistar a cidade muçulmana de Ceuta, hoje cidade autônoma da Espanha situada na margem africana da desembocadura oriental do Estreito de Gibraltar, na pequena Península de Almina, em frente a Algeciras e à colônia britânica de Gibraltar.

        Hoje é o Dia do Escritor, do Colono e do Motorista, por ser o Dia de São Cristóvão. É também o Dia Internacional da Mulher Negra.

        Ruminanças

        “Quando a natureza excede a cultura, temos o rústico. Quando a cultura excede a natureza, temos o pedante” (Confúcio, 552–479 a.C.). 

        Beneficiária do Bolsa Família, doou R$ 510 para a campanha de Dilma de 2010 - Painel - Vera Magalhães

        folha de são paulo
        PAINEL
        VERA MAGALHÃES - painel@uol.com.br
        Bolsa Eleição
        Sebastiana da Rocha, beneficiária do Bolsa Família, doou R$ 510 para a campanha de Dilma Rousseff à Presidência em 2010. O valor, registrado no Tribunal Superior Eleitoral, é R$ 18 a menos do que Sebastiana, cadastrada no Portal da Transparência como moradora de Cuiabá, recebeu em 2010 do programa, voltado a famílias em situação de pobreza e extrema pobreza. O Ministério do Desenvolvimento Social confirma tratar-se da mesma pessoa e diz que apura outros casos similares.
        -
        Salário Desde que começou a receber o benefício, Sebastiana trabalhou como funcionária temporária de uma escola estadual em Campo Verde (MT) em pelo menos três ocasiões. A remuneração mínima da função que ela exerceu é de R$ 1.255,33.
        Outro lado O MDS afirmou que vai entrar em contato com o gestor local do programa para avaliar a condição social da família de Sebastiana e aguarda um parecer da Prefeitura de Campo Verde. A coluna não conseguiu localizar a beneficiária.
        Sinal... Membros do governo estão preocupados com dados da pesquisa CNI/Ibope que será divulgada hoje, que mostram dificuldade de Dilma em Estados historicamente oposicionistas, como São Paulo, Paraná e Santa Catarina.
        ...amarelo Quem viu os números garante que o cenário é complicado, o que vai zerar o jogo na montagem dos palanques estaduais.
        Amor... Apesar de dizer na campanha eleitoral que não pretendia enfrentar o crack com policiamento ostensivo, Fernando Haddad (PT) recebeu do governo federal um pacote com 550 pistolas de choque, 1.650 sprays de pimenta, 22 carros e 22 motos para o combate às drogas.
        ...em SP O programa "Crack, é possível vencer" vai destinar R$ 1,78 milhão à prefeitura da capital para capacitar 413 profissionais da área de segurança pública.
        Aviso prévio Alheio a protestos de aliados, Geraldo Alckmin (PSDB) não desistiu de fazer outra reforma do governo este ano. A saída de secretários que vão disputar a eleição de 2014, que seria em dezembro, começará antes e poderá ser feita em etapas.
        Stop O presidente em exercício do STF, Ricardo Lewandowski, deferiu ontem a suspensão do processo de impeachment contra Guilherme Afif na Assembleia de SP por acumular os cargos de ministro da Pequena da Micro Empresa e vice-governador do Estado.
        Vidente Na petição ao STF, a defesa dizia que o procurador-geral do Estado de SP, Elival Ramos, advertiu Afif de que "um Giannazi da vida'' poderia pedir seu impedimento caso ele decidisse acumular as funções. "A profecia se confirmou.''
        Posto avançado O Planalto nomeou Nilza Fiuza, que assessorou Luiz Eduardo Greenhalgh e Edinho Silva, para trabalhar no gabinete da Presidência em São Paulo. Ela vai coordenar a agenda de Dilma e ministros.
        Pleno vapor O Planalto chegou a cogitar fechar o gabinete paulistano em 2012, depois que a chefe Rosemary Noronha foi alvo de investigação da Operação Porto Seguro da Polícia Federal. Seu cargo continua vago.
        Estrelas 1 Três apresentadores da Record estão entre os protagonistas da propaganda de TV que o PRB exibe hoje. Celso Russomanno, Álvaro Garnero e Jorge Wilson dirão no programa por que escolheram o partido.
        Estrelas 2 A cantora Sula Miranda, presidente do setorial de transportes da legenda, também estará no ar.
        com ANDRÉIA SADI e BRUNO BOGHOSSIAN
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        TIROTEIO
        "Não sou interlocutor de ninguém. É muita pretensão do PT querer ser porta-voz do que pensariam as lideranças socialistas."
        DE ROBERTO AMARAL, vice-presidente do PSB, sobre Rui Falcão (PT) ter dito que governadores da sigla ficariam neutros'' entre Dilma e Eduardo Campos.
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        CONTRAPONTO
        Encurtando a história
        Em 2010, Marco Maciel (DEM) e Raul Jungmann (PPS) disputavam o Senado por Pernambuco, em dobradinha na mesma chapa. Nos debates, Maciel sempre começava as respostas com uma longa digressão:
        --Na República Velha...
        Jungmann se queixou ao aliado que as respostas eram muito longas, e sobrava pouco tempo para ele falar. No encontro seguinte, na primeira pergunta, Maciel tascou:
        --No Segundo Reinado...
        --Senador, República Velha, por favor! -- cochichou Jungmann ao ouvido do ex-vice-presidente.

          Anita Waingort Novinsky; Eduardo Paes no Tendências/debates

          ANITA WAINGORT NOVINSKY
          TENDÊNCIAS/DEBATES
          A mensagem do padre Antonio Vieira
          As ideias do jesuíta Antonio Vieira sobre a reconciliação de judeus e cristãos encontram eco nas palavras calorosas de outro jesuíta, quatro séculos depois
          Com o estabelecimento do Santo Ofício da Inquisição em 1536, desenvolveu-se em Portugal uma tradição de clandestinidade que acabou se incorporando profundamente à vida nacional.
          A insegurança que a Inquisição produziu em todos os portugueses por meio da fiscalização, das denúncias anônimas e da censura escrita e falada condicionou atitudes e comportamentos dúbios. Sem saber de que ângulo provinha o perigo, portugueses criaram um verdadeiro talento para dissimular.
          Uma "outra" leitura de alguns textos do padre Antonio Vieira (1608-1697) nos revela um Vieira "escondido" em suas dissimulações. A íntima convivência com judeus na Holanda e na França e com cristãos novos em Portugal e no Brasil marcou de maneira profunda suas ideias sobre esse povo e seu destino.
          Sua larga e universal concepção do mundo, suas ideias sobre justiça, sua crítica à corrupção da igreja e sua valorização extrema do povo judeu chocavam-se com o fanático mundo lusitano. Numa sociedade como a portuguesa, na qual o critério para a valorização do homem é sua origem e seu sangue, Vieira se elevava acima de seu tempo. "A verdadeira fidalguia é a ação: o que fazeis, isso sois, nada mais", escreveu ele.
          Analisando sua visão sobre os judeus, que emerge nas entrelinhas de suas obras, sentimos uma preocupação constante com a reconciliação entre o judaísmo antigo e a doutrina de Cristo, entre o povo judeu e os cristãos.
          Para os ouvidos conservadores e antissemitas portugueses do Setecentos, certamente soavam chocantes suas reflexões, principalmente quando ele constrói um paralelo entre a situação política de Portugal (então sob domínio da Espanha) e a dos judeus: "Todos os homens desejam soberania e não querem estar sujeitos a estranhos. Assim é o direito dos judeus esperarem justamente serem reconduzidos à sua pátria". Para Vieira, o mito do retorno dos judeus à Palestina "não é apenas uma promessa divina, mas é um direito legítimo, porque vivem sob o jugo estranho".
          Nos seus últimos anos, Vieira viveu na Bahia, rodeado de cristãos-novos e judaizantes, compartilhando com eles de uma seita milenarista. Em sua obra-prima "Clavis Prophetarum", procura ler então nas Sagradas Escrituras o que está oculto e reafirma seus sonhos de reconciliação entre judeus e cristãos.
          Quando os ritos judaicos dos cristãos novos eram punidos até com a morte pela Inquisição, Vieira afirma que deviam ser permitidos, pois seu uso não fora proibido por Deus, mas meramente pela igreja. E vai ainda mais longe, afirmando que a circuncisão será permitida aos cristãos, não como culto religioso, mas como sinal da Lei Antiga, derivada de Abrão.
          Mas o que manipula de uma forma magistral é a sua concepção do Messias, ponto crucial das divergências entre cristãos novos e velhos --ou seja, o Messias já vindo e o Messias ainda esperado. Entra, então, no imaginário judaico, afirmando que a paz no mundo é uma das principais consequências da vinda do Messias, "e como a paz não existe, o Messias ainda não veio".
          Numa Europa impregnada de previsões apocalípticas, profecias, ocultismo, heterodoxias e milenarismos, Vieira se fundamenta no Velho Testamento, joga com as palavras e com o poder e coloca-se como um ecumênico, cuja mais forte mensagem é a reconciliação entre judeus e cristãos.
          Navegando na interpretação das Escrituras, lança a mensagem mais esclarecida, humana e moderna que se ouviu no Setecentos português: a liberdade dos cristãos novos de serem judeus.
          Felizmente, quatro séculos depois, a mensagem do jesuíta Antonio Vieira encontra eco nas palavras calorosas de outro jesuíta, o novo papa Francisco, sobre os judeus.
            EDUARDO PAES
            TENDÊNCIAS/DEBATES
            Um desafio metropolitano
            Os habitantes de municípios vizinhos procuram na capital melhores serviços de saúde. Mas o repasse federal não acompanha essa demanda
            Os gastos públicos com saúde estão entre as principais reivindicações das manifestações recentes no Brasil. As demandas e os gastos são crescentes e a população reclama acesso e qualidade das autoridades.
            A ampliação e a melhoria dos serviços depende muito dos repasses de verbas federais pelo SUS (Sistema Único de Saúde), criado pela Constituição de 1988. No entanto, a fórmula utilizada para o financiamento de saúde não atende às necessidades das regiões metropolitanas brasileiras.
            No Rio de Janeiro, um em cada cinco pacientes da capital é morador de outra cidade da região metropolitana. Fenômeno semelhante ocorre em outras regiões.
            Os habitantes de municípios vizinhos procuram na capital melhores serviços de saúde e atendimento, o que é correto e justo. No entanto, o repasse federal não está adequado a essa realidade, prejudicando a qualidade do atendimento.
            Em atenção básica, que responde pela maioria das necessidades, os repasses federais começam pelo piso da atenção básica, calculado com base na população de cada cidade. A relação direta com o tamanho da população não garante a correspondente premiação às administrações que ampliam sua rede de atendimento de saúde.
            Não há incentivo para atender mais e melhor os pacientes de outros municípios. O crescimento da demanda sem recursos correspondentes compromete a qualidade do serviço final prestado ao cidadão.
            O mesmo viés é observado em atendimentos de maior complexidade, os quais a maioria dos municípios menores não tem condições ou escala para ofertar integralmente. O repasse para financiar esses atendimentos estão submetidos ao teto financeiro, calculado para cada município com base na população, perfil epidemiológico e estrutura da rede.
            A evolução do serviço gera a necessidade de uma estratégia regional de financiamento de gastos, em que as cidades centrais são protagonistas, naturalmente.
            O regime adotado nos repasses da área de educação por meio do Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação), criado em 2006, oferece lições importantes para o financiamento da saúde.
            No Fundeb, a repartição em cada Estado dos recursos oriundos de impostos federais, estaduais e municipais obedece ao número de alunos atendidos pela rede de cada ente federativo e não à população do município. Essa divisão premia diretamente o esforço dos governos na expansão de sua rede escolar.
            Uma grande oportunidade para aperfeiçoar os repasses de recursos na área de saúde está na implementação da lei complementar nº 141, de janeiro de 2012, que determina a construção de uma nova metodologia de rateio dos recursos do SUS.
            É de suma importância o papel do Conselho Nacional de Saúde na aprovação de metodologia que seja capaz de reconhecer o crescente papel das grandes cidades na provisão de serviços de saúde, permitindo que o esforço feito na expansão de suas redes seja devidamente recompensado financeiramente.
            A metodologia poderia seguir a lógica do Fundeb e repassar aos municípios recursos de acordo com o número de pacientes que ele atende. Isso fortalecerá as condições para a ampliação e o aprimoramento dos serviços de saúde em todo o país.

              Kenneth Maxwell

              folha de são paulo
              Más notícias, multiplicadas
              É curioso como as más notícias se multiplicam, enquanto as boas diminuem. Suponho que a imprensa internacional tenha um novo bebê real no Reino Unido para mimar esta semana, e Londres abriga porção muito maior dela que o Rio de Janeiro. Mas boas notícias sobre a terra até há pouco celebrada pelo sol e samba são difíceis de encontrar, hoje, mesmo com a presença do papa Francisco na cidade.
              Não ajuda que o modesto carro do papa tenha tomado o caminho errado, no percurso do aeroporto para a cidade, e encontrado uma multidão entusiástica e indisciplinada. E tampouco ajudou que a polícia tenha empregado armas de choque e gás lacrimogêneo para dispersar os manifestantes diante do Palácio Guanabara, onde o papa havia acabado de conversar com Dilma Rousseff e outros figurões brasileiros, em sua cerimônia de recepção.
              Mas os desafios que o novo papa enfrenta no Brasil são óbvios. Enquanto em 1980, 89% da população se declarava católica, hoje apenas 57% dos brasileiros com idade acima dos 16 anos o fazem. A concorrência dos protestantes evangélicos é evidente em todo o Brasil.
              Mas as manifestações de massa, os protestos populares e os tumultos nas ruas durante a Copa das Confederações só confirmaram a visão crescentemente negativa sobre o Brasil. O "Financial Times" refletiu o tom de boa parte da cobertura noticiosa internacional quando reportou esta semana que "enquanto o país cambaleia com os protestos, os brasileiros questionam se Rousseff tem a competência política necessária para liderá-los".
              O "Financial Times" também apontou que "rumores sobre um retorno de Lula à presidência estão tomando conta de um Brasil abalado". A presidente Dilma Rousseff, acrescenta o jornal, que contava com 58% das intenções de voto ainda em março, no momento obteria apenas 30%, de acordo com pesquisas de opinião pública.
              Nuvens escuras para a economia e política certamente existem no horizonte do Brasil. O ambiente econômico mundial é muito menos favorável do que vinha sendo nos últimos anos. A desaceleração na economia chinesa; os problemas continuados na zona do euro; a alta da inflação interna. Tudo isso é agravado pela incerteza quanto a um futuro político que até recentemente parecia decidido mas que agora é muito menos seguro. Os novos e os velhos líderes políticos estão muito conscientes do poder das multidões iradas.
              O papa Francisco tem muito a fazer no Vaticano. Dilma Rousseff tem muito a fazer no Brasil. Os dois devem estar contemplando com ocasional inveja a novela no Reino Unido, onde a rainha Elizabeth ainda reina e os três próximos herdeiros ao seu trono já estão aguardando a vez.

              Os pecados do Rio - Paula Cesarino Costa

              folha de são paulo
              RIO DE JANEIRO - Que os torcedores que virão ao Rio para a Copa no ano que vem e para a Olimpíada em 2016 tenham a mesma paciência e a paz de espírito (ou o espírito esportivo?) dos milhares de jovens católicos que ora ocupam as ruas.
              A cidade que ainda engatinha em termos de transporte público foi reprovada anteontem no primeiro teste para valer de realização de grandes eventos. Uma "falha técnica" parou os trens do metrô por cerca de duas horas. Os ônibus eram poucos, saíam lotados ou não paravam nos pontos. Nada de novo para quem vive aqui.
              Mas os peregrinos caminhavam de mãos dadas, entravam em filas ou se aglomeravam em pontos de ônibus, quase sempre cantando, à espera de um jeito de voltar para as casas onde estão hospedados, grande parte em bairros distantes ou cidades vizinhas. Quase ninguém protestou. Nem houve depredações.
              Houve falha de planejamento da prefeitura, que só previu um megaesquema para hoje e amanhã. O prefeito Eduardo Paes (PMDB) disse ontem que vai multar os consórcios de ônibus e colocar mais veículos nas ruas.
              Gritos felizes como "A igreja é jovem" e a passividade vista dificilmente se repetirão em 2014, quando os que estarão sem ter como ir para casa serão torcedores de futebol, como os conhecidos Hooligans.
              -
              Com o decreto que cria e dá poderes abusivos à comissão para investigar atos de vandalismo, o governador Sérgio Cabral teve seu momento Obama. Assim como o presidente dos EUA autorizou o monitoramento de ligações telefônicas e comunicação pela internet, Cabral pretendia quebrar esses sigilos em 24 horas. Acabou voltando atrás.
              Pelo jeito, Cabral daqui a pouco vai batizar seu meio de transporte preferido de Air Force 1 e terá ainda 2,3,4,5,6 à disposição.
              Cada um responde por seu pecado.

                Estancando a sangria - Eliane Cantanhêde

                folha de são paulo
                BRASÍLIA - O papa Francisco traz não apenas um exemplo de humildade, fraternidade e igualdade, mas também de senso estratégico.
                Ele se dispensou de dar recados políticos na curta homilia na basílica de Aparecida e dispensou as autoridades brasileiras de lições morais em seu igualmente rápido discurso aos poderosos no Palácio da Guanabara. Limitou-se à pregação religiosa em ambas, leve, sorridente, defendendo a alegria e a esperança.
                O teor político foi reservado ao ambiente laico do hospital São Francisco de Assis, no Rio, em que ratificou sua conhecida posição contrária à descriminalização das drogas e condenou os "mercadores da morte". Mas ele vinha relevando, pelo menos até ontem, eventuais pressões da ala conservadora da própria igreja e adiando outras questões espinhosas e desagregadoras.
                Sua prioridade não é aprofundar divisões, é evitar evasão. Segundo o Datafolha, os brasileiros que se declaravam católicos eram 75% da população em 1994, caíram para 64% em 2007 e são 57% hoje, prenunciando que, muito em breve, serão menos da metade das pessoas no "maior país católico do mundo".
                Nesse contexto, destaca-se um fato político. Quem mais se beneficiou das manifestações de junho e da implosão da popularidade de Dilma foi uma candidata evangélica: Marina Silva, um exemplo concreto a confirmar as estatísticas.
                Criada no catolicismo, sua porta de entrada na militância social e na política, ela se converteu às igrejas evangélicas, das quais incorporou a linguagem, a imagem, até o gestual.
                Não se sabe até que ponto a religião conta a favor ou contra a eleição de Marina, mas não deixa de ser um curioso dado de análise que, justo no tal maior país católico, a candidata que está em segundo lugar seja uma ex-católica, atual evangélica.
                A grande missão do papa Francisco no Brasil é estancar a sangria. Ou seja: somar, não ajudar a subtrair.

                  Perdas e Danos - Alan Gripp

                  folha de são paulo
                  SÃO PAULO - A notícia de que policiais do Denarc, o departamento de narcóticos da Polícia Civil de São Paulo, recebiam um mensalão de traficantes causou a indignação habitual e levou o governo a anunciar uma reestruturação do órgão.
                  Segundo a investigação, chefiada pelo Ministério Público estadual, criminosos de alta patente foram extorquidos por policiais, que chegaram a sequestrar parentes de presos para exigir resgate.
                  Entre os 13 policiais que tiveram a prisão decretada, estava o delegado Clemente Calvo Castilhone Júnior, chefe da inteligência do Denarc. O Ministério Público o acusava de vazar a traficantes informações de uma operação.
                  Acusava. Numa guinada surpreendente, Castilhone foi solto por falta de provas. O promotor José Cláudio Tadeu Baglio reconheceu que não é possível afirmar que ele vazou informações. Até que se prove o contrário, não cometeu crime.
                  Castilhone ficou três dias preso, fato que pode resultar num conflito institucional --entidades policiais farão protestos contra a investigação nos próximos dias.
                  O caso repete outros surgidos na esteira do crescimento de importância do Ministério Público nas últimas décadas. Não deve servir para demonizar a instituição, que tem crédito no combate à corrupção, vide o mensalão. Mas tem consequências não desprezíveis.
                  A mais imediata é por uma mancha sobre uma investigação que traz evidências concretas de que há uma banda podre instalada num departamento de elite da polícia.
                  Expõe ainda o exagero e a precipitação no uso do recurso extremo da prisão --prática, diga-se, também disseminada nas polícias.
                  Por fim, dá munição àqueles que acham que o Ministério Público tem poder demais, justamente no momento em que promotores e procuradores comemoram a derrubada da proposta que amputaria os seus instrumentos de investigação.

                    Editoriais FolhaSP - Charge

                    folha de são paulo

                    Mudança de sinal
                    Desemprego tem primeira alta anual desde 2009 e constitui mais um sinal de esgotamento da política econômica do governo Dilma
                    São consistentes os sinais de deterioração da economia brasileira. Às evidências já conhecidas soma-se agora a taxa de desemprego, que, pela primeira vez desde 2009, apresenta uma alta em relação ao mesmo mês do ano anterior.
                    O dado negativo no mercado de trabalho é particularmente ruim na atual conjuntura, em que os indicadores de confiança na economia também têm constituído um quadro desalentador.
                    A confiança da indústria em julho, por exemplo, caiu 3,7 pontos em relação a junho e atingiu o menor nível em quase quatro anos. Não há grande novidade aí: a produção industrial encontra-se no mesmo patamar de 2008, e o setor tem sido o mais prejudicado nos últimos anos pela sobrevalorização do real diante do dólar e pelo choque interno de custos.
                    O indicador também tem diminuído pelo lado do consumidor, com especial velocidade no mês de julho. Trata-se de evidência de que as famílias passaram a desconfiar cada vez mais de seu poder de compra no futuro --aspecto reforçado pela piora da confiança quanto ao emprego atual, que teve queda de 11,4 pontos.
                    Componente essencial da dinâmica econômica, a confiança impulsiona a disposição de empresários e consumidores para investir e comprar. Sem ela, a demanda da economia cai. Inicia-se, com isso, um ciclo recessivo que a prejudica ainda mais, numa espiral viciosa.
                    É justamente nessa armadilha que caiu o governo federal ao conduzir a política econômica de forma errática e interferir, muitas vezes de forma autoritária, na dinâmica empresarial de vários setores.
                    O que ainda mantinha a esperança em uma recuperação era o mercado de trabalho. De fato, era algo surpreendente a resistência do emprego no cenário de baixo crescimento do PIB.
                    Pois agora o aparente paradoxo começa a se resolver --pelo lado ruim. A taxa de desemprego de junho, de 6%, ainda é, em si, baixa, mas a primeira elevação do índice (na comparação anual) desde agosto de 2009 indica mudança de tendência no mercado de trabalho.
                    É certo que as manifestações recentes contribuíram para a queda dos indicadores de confiança do consumidor, já que elas chamaram a atenção para diversos pontos de descontentamento. Não se descarta alguma melhora nesse item.
                    Quanto ao mercado de trabalho, porém, é improvável uma reversão. Por ser custoso contratar e demitir, o emprego é o último a sair da inércia diante de mudanças de cenário. Mas, uma vez em movimento, é difícil de parar.

                    EDITORIAIS
                    editoriais@uol.com.br
                    Sobrevida de Assad
                    Com uma carta endereçada a senadores americanos, o general Martin Dempsey, chefe militar dos EUA, deixou evidente que deve ser descartada, ao menos por ora, uma intervenção militar na Síria.
                    Não chega a representar uma mudança de política para o país árabe, mas o documento assinado pelo chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas reforça os sinais de que os EUA já consideram a permanência prolongada do ditador Bashar al-Assad no poder.
                    O relatório do Pentágono é explícito ao afirmar que um ataque à Síria, além de caro, seria perigoso. Entre os riscos listados estão a dificuldade de evitar "um envolvimento mais profundo" e a possibilidade de "inadvertidamente auxiliar extremistas ou provocar o emprego de armas químicas".
                    Quanto aos custos, o general Dempsey é inequívoco. Opção menos arriscada, armar e treinar forças rebeldes na Síria, por exemplo, demandaria milhares de soldados americanos e consumiria, inicialmente, US$ 500 milhões anuais.
                    Ataques aéreos exigiriam centenas de aeronaves, navios e submarinos, com gastos bilionários e resultados questionáveis --segundo o general, Assad poderia resistir a essa investida.
                    Mesmo uma zona de exclusão aérea, alternativa menos agressiva, imporia aos Estados Unidos gastos mínimos de US$ 1 bilhão por mês --aplicados em aviões, equipamentos eletrônicos, inteligência-- e poderia ter efeito reduzido, uma vez que as forças do ditador atacam sobretudo por terra.
                    Confrontada com essas razões pragmáticas, às quais se somam o risco de baixas, a Casa Branca opta, compreensivelmente, por limitar sua atuação ao fornecimento de armas leves aos insurgentes sírios.
                    O impasse, no entanto, continua. Desde o início do conflito, em março de 2011, estima-se em 100 mil o número de mortos e em 1,4 milhão o total de refugiados.
                    Os EUA, que reconhecem as dificuldades de uma ação militar, deveriam centrar esforços na diplomacia a fim de convencer a Rússia --principal aliada da Síria-- a aumentar a pressão sobre Assad.

                    Grupo faz ensaios abertos em cidades que não têm teatro para desenvolver peça com público - GUSTAVO FIORATTI

                    folha de são paulo
                    DE SÃO PAULO

                    A educadora social Mineia Costa, 36, debutou como espectadora de teatro no início de julho. Mas não foi na plateia de um espetáculo pronto, com projetos afinados de iluminação e figurino.
                    Moradora de Iracema, cidade cearense com quase 14 mil habitantes, ela assistiu a um ensaio aberto de "O Duelo", criação resultante de uma parceria entre a Mundana Companhia de Teatro, de São Paulo, e a atriz Camila Pitanga. A montagem tem estreia marcada para o próximo dia 2, em Fortaleza, e deve cumprir temporada em São Paulo em outubro, no Centro Cultura São Paulo.
                    As três sessões em Iracema não foram realizadas sobre palco italiano. Na verdade, não há teatros na cidade, e o ensaio ocupou um ginásio do Iracema Atlético Clube, um prédio hoje em desuso.
                    Iracema esteve na rota de três municípios cearenses que a produção de "O Duelo", com direção de Georgette Fadel, percorreu durante seis semanas.
                    Divulgação
                    Camila Pitanga em ensaio aberto da peça 'O Duelo', em Iracema (CE), com o grupo Mundana
                    Camila Pitanga em ensaio aberto da peça 'O Duelo', em Iracema (CE), com o grupo Mundana
                    A intenção era desenvolver um espetáculo espelhando-se na reação e na convivência com o sertanejo. "Escolhemos cidades pequenas e que não tinham teatro", conta o produtor e ator da montagem, Aury Porto, um dos idealizadores do projeto.
                    Arneiroz (com quase 8.000 habitantes) e Lavras da Mangabeira (31 mil) também serviram como paradas para a ação do grupo no Ceará.
                    FIOS DE MACARRÃO
                    O trabalho impregna-se com a cultura regional para adaptar a novela homônima de Tchékhov, sobre um homem que conquista uma mulher casada e a leva para viver em uma cidade de interior do Cáucaso. O enredo se passa em um verão, com temperaturas altas, e este é um dos pontos que fecham a opção de criar no sertão cearense.
                    Mas o resultado da imersão, diz Porto, não é exatamente uma transposição do argumento original para a paisagem do Nordeste.
                    A história se passa mesmo no Cáucaso. "Apenas trazemos para a cena elementos sonoros e plásticos como as cadeiras de fios de macarrão, comuns no Nordeste", diz.
                    O modelo de itinerância também busca uma troca: o público é beneficiado por testemunhar as raízes de uma criação, também tem acesso a um tipo de produção inexistente na cidade; os artistas, em contrapartida, aquecem os tamborins, moldando-se pela reação da plateia.
                    Há outros exemplos similares ao projeto da Mundana.No primeiro semestre deste ano, a peça "O Contrato", com Débora Falabella e Yara de Novaes no elenco, percorreu cidades do interior e do litoral de São Paulo com um espetáculo em construção.
                    Há um porém. Espectadores das duas apresentações questionam se suas cidades também estarão na rota dos espetáculos quando eles estiverem prontos. "Gostaria de ver o resultado", diz Mineia Campos, que viu "O Duelo", em Iracema. "Prefiro ver o espetáculo acabado", disse a professora Evelize Farina, ao fim do ensaio de "O Contrato" em São Sebastião.
                    Segundo a produção da peça "O Duelo", ainda não há previsão de retorno às cidades. "Precisamos de um estrutura para conseguir levar o espetáculo pronto para lá; a cidade não oferece essa estrutura", diz Aury. "Isso pode ser feito em um segundo momento, depois de cumprirmos a temporada", completa. O patrocínio da peça é do Governo do Estado do Ceará e também da Caixa, com captação via Lei Rouanet.
                    As atrizes Débora Falabella e Yara de Novaes, durante o ensaio aberto de "O Contrato", disseram que esperavam poder voltar para as cidades que visitaram. A Secretaria de Estadual da Cultura de São Paulo --que fomentou a circulação do ensaio aberto da peça-- afirmou que pretende retornar com a produção para as respectivas cidades.
                    DIÁRIO DE BORDO
                    Durante sua passagem pelo Sertão, a Mundana hospedou-se em casas comuns e não em hotéis, conta o ator e diretor. "Alugamos residências de moradores mesmo, pedimos para que deixassem suas coisas, mobiliário, para nos sentirmos dentro de um lar de verdade", descreve.
                    Camila Pitanga descreve, por exemplo, uma inspiradora festa de São João em Missão Velha "em que os moradores faziam fogueiras na frente de todas as casas da cidade; era lindo".
                    Ela conta também que, com a atriz Carol Badra, responsabilizou-se pelo cardápio da turnê. "A gente montava as refeições em cima de receitas locais", diz.
                    Momentos de assédio em torno da atriz global também foram inevitáveis. Uma vez, um grupo em Lavras de Mangabeira invadiu a casa onde ela estava hospedada. Queria fazer fotos.
                    Repetiu-se ainda uma mesma tentativa de aproximação: gente de plantão na porta das hospedagens.
                    O processo de criação da peça retorna à metodologia que a Mundana desenvolveu há três anos com o espetáculo "O Idiota", adaptação de livro de Dostoiévski que teve direção de Cibele Forjaz.
                    Hoje uma das mais atuantes no cenário experimental de São Paulo, a companhia juntou ex-integrantes de grupos como o Teatro Oficina (de Zé Celso), o Teatro da Vertigem (de Antonio Araújo) e a Companhia Livre (de Forjaz). Seus trabalhos são criados a partir de improvisos, trazendo atores e cenógrafos para um coautoria dramatúrgica.
                    Recentemente, foi lançado o livro "Caderno de Atuação", espécie de diário de bordo em que os integrantes do grupo narram a experiência de criar a peça "Pais e Filhos" com o diretor Adolf Shapiro, um nome forte no cenário russo. A peça fez temporada no Sesc Pompeia no ano passado.