quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Por que a obsessão com o que gays fazem entre quatro paredes?

folha de são paulo

NICK COHEN
DO "OBSERVER"
As discussões sobre a emancipação homossexual nos ensinam, na pior das hipóteses, que o pênis ocupa um lugar elevado no imaginário conservador. Como a torre negra de Mordor, ele paira sobre todo o resto: preenche a mente e tapa a luz. Quem tenta fingir o contrário sempre tropeça nos próprios pés chatos.
Não é verdade que a gente "só pense em sexo", protestou a jornalista católica Melanie McDonagh na revista "Spectator". Sem corar, ela então se pôs a demonstrar que conseguia pensar em poucas outras coisas. A sociedade deveria tolerar homens e mulheres cuja atração por seu próprio sexo não seja expressa em relações sexuais, explicou ela, ao iniciar sua discussão sobre os perus dos vigários. Então, se um vigário usa o seu pênis para fazer sexo "sem um propósito procriador", ele deve ser colocado para fora da Igreja Católica.
Reprodução
O marechal britânico Bernard Montgomery tinha "relações apaixonadas, mas não consumadas, com rapazes"
O marechal britânico Bernard Montgomery tinha "relações apaixonadas, mas não consumadas, com rapazes"
A obsessão pública de McDonagh com aquilo que as pessoas educadas antigamente chamavam de "partes íntimas" não seria tão importante se não fosse partilhada por todas as religiões e por muitos na imprensa conservadora e no partido Tory [conservador].
A Igreja Anglicana é bem mais liberal que o judaísmo ortodoxo, o catolicismo e todas as versões do islamismo. Mesmo assim, ela crê numa versão modificada do credo de McDonagh. Um vigário pode estabelecer uma união civil, admitiu a Igreja Anglicana neste mês. Mas, se desejar que seus superiores o elevem a bispo, ele deve submeter sua vida sexual a um interrogatório. Só será promovido se puder declarar que se abstém do sexo.
Essas são perguntas que constrangem mais o interrogador do que o interrogado. Imagine se você fosse atrás de um emprego e o entrevistador dissesse que você é ideal para o cargo, mas que, para poderem contratá-lo, você precisaria dizer com quem fez sexo e quando foi a última vez que o ato sujo ocorreu. Por que alguém que não seja um voyeur iria perguntar uma coisa dessas?
Aliás, diante da comoção com o casamento gay, quem gostaria insistir que os gays e lésbicas devem ser os únicos grupos que não podem gozar de plenos direitos civis?
A resposta sedutora, que tem atraído autores homo e heterossexuais, foi resumida na explicação que uma paciente do psicanalista Stephen Grosz deu para a desaprovação do seu pai ao relacionamento dela: "Quanto maior a fachada, maior a traseira".
Ela havia descoberto que seu pai secretamente mantinha o mesmo tipo de relacionamento que ele havia condenado no caso dela por ser mantido abertamente. Ele estava escondendo sua culpa atrás da sua raiva.
Muitos homofóbicos que escancaram seu desgosto com as "práticas antinaturais" imitam aquele senhor. Em 1965, o primeiro visconde Montgomery de Alamein tentou impedir a revogação das sanções penais aos homossexuais, bradando que, ao permitir o sexo gay, "poder-se-ia igualmente tolerar o diabo e todas as suas obras". Como era de se esperar, Nigel Hamilton, seu biógrafo, revelou que o marechal Monty, que comandou as tropas britânicas durante a Segunda Guerra, tinha relações apaixonadas, mas não consumadas, com rapazes.
Nos EUA, o caminho que vai do púlpito à sauna gay já foi tão pisado por pregadores evangélicos que surpreende ainda haver uma folha de grama sobre ele. Diante de mais um escândalo, um cansado Christopher Hitchens escreveu: "Sempre que escuto algum falastrão de Washington ou do coração cristão do país martelando os males da sodomia, mentalmente anoto seu nome no meu caderno e satisfeito acerto meu relógio. Mais cedo do que tarde, ele será descoberto sobre seus cansados e desgastados joelhos em alguma latrina ou motel vagabundo".
VOCE QUE É
Sei que é perigoso generalizar num tema tão vasto e complicado quanto a sexualidade humana, mas aprendi, na minha vida admitidamente protegida, que os homens que são, como eles dizem, "seguros" da sua heterossexualidade têm pouco interesse naquilo que seus amigos homossexuais fazem na cama, e que nossa indiferença é recíproca.
Sempre que ouvimos conservadores anunciarem que a igualdade para os gays "abala o casamento", pensamos: nossos casamentos podem resistir a isso, o que há de tão errado com o de vocês?
Como no caso dos antissemitas, com suas fantasias sobre um poder secreto dos judeus, há uma ponta de inveja na voz de muitos dos que condenam os direitos dos gays. O "Journal of Personality and Social Psychology" confirmou essas suspeitas ao publicar pesquisas com estudantes que se diziam heterossexuais.
Os pesquisadores mensuraram a distância entre o que os estudantes diziam e como eles reagiam a imagens de casais gays e pornografia gay. Os que se ficavam mais atraídos tinham mais propensão a demonstrar intenso medo dos homossexuais.
Mas "vão se catar, vocês são gays" não é uma resposta adequada ao preconceito, por mais verdade que isso possa ser em casos individuais. Isso é cair na falácia de todas as discussões: "tu coque" ["você que é"]. Se um orador diz que "homicídio é errado", e um espectador diz "mas você é um homicida", ele provou que o orador é um hipócrita, mas não que o homicídio é correto.
Da mesma forma, mostrar que muitos conservadores nutrem desejos por aqueles a quem condenam não elimina o estigma da homossexualidade. Nem altera as opiniões dos homofóbicos que não são enrustidos.
Michael McManus descreve uma cena de arrepiar em "Tory Pride and Prejudice" ["orgulho e preconceito tory"], seu estudo histórico da longa luta dos conservadores liberais para mudar a mentalidade do seu partido. Jerry Hayes, um exuberante parlamentar do "baixo clero" conservador, chega a um bar na Câmara dos Comuns, em 1986. O Departamento de Saúde havia decidido que a única forma de lidar com a nova ameaça da Aids seria falar ao público da forma sexualmente mais explícita. Mas ser franco com o eleitorado também significava que algum infeliz precisaria ser franco com a dona Margaret Thatcher.
Ele encontra Willie Whitelaw com aspecto cansando e entornando um whisky sem gelo. "O que há de errado?", pergunta. "Eu precisei explicar a Margaret sobre sexo anal", é a resposta.
Ninguém disse que Margaret Thatcher reprimia um lado lésbico. Mas, em seus dias mais sufocantes, o governo dela aprovou uma medida nociva e pouco conhecida, chamada Artigo 28, que foi a última lei contra os homossexuais a ser promulgada por um Parlamento britânico. Também não se pode dizer que todo mundo que acredita nos anátemas cristãos, islâmicos e judaicos está negando seus impulsos homoeróticos. São apenas crentes obedientes às suas autoridades religiosas, e dispostos a tirar proveito da sua autorização para perseguir.
Como no caso de Thatcher, seu desinteresse pela homossexualidade não os restringe, o que só serve para mostrar que o ódio flui de muitas fontes. No caso da homofobia, ela pode ser voyeurística, impertinente, hipócrita, ter minhoca na cabeça e ser secretamente invejosa, ou pode ser ignorante, alimentada pela turba e servil à autoridade.
No fim das contas, não importa. Ninguém tem o direito de negar tratamento igual a um concidadão por motivo algum. Não tenho dúvidas de que é mais satisfatório para gays e lésbicas dizer "tu quoque", mas "noli me tangere" [não me toque] é a resposta mais conclusiva.
Tradução de RODRIGO LEITE.

De mudança para Patagônia

Estado de São Paulo

FERNANDO REINACH, BIÓLOGO. MAIS INFORMAÇÕES: LETHALLY HOT TEMPERATURES DURING THE EARLY TRIASSIC GREENHOUSE. NATURE, VOL. 338, PÁG. 366 - O Estado de S.Paulo
Para ver o futuro, basta observar o passado. Como a vida existe há mais de 1 bilhão de anos, quase tudo o que ocorre já ocorreu de modo semelhante. Quer saber por que as florestas desaparecem? Estude o passado: elas já surgiram e desapareceram da região amazônica várias vezes. O raciocínio vale para o aquecimento global. Para tentar prever as consequências do atual aquecimento, pesquisadores estudam grandes episódios semelhantes que ocorreram. A novidade é que identificaram um rápido evento de aquecimento global, muito semelhante ao atual, que se iniciou por volta de 250 milhões de anos atrás.
Ele foi causado pelo rápido aumento na quantidade de gás carbônico na atmosfera, graças à liberação de carbono sequestrado no subsolo. Essa liberação repentina (ao longo de mil anos) provocou um efeito estufa e um aumento na temperatura da atmosfera e dos oceanos. O interessante é que o ritmo de aumento foi semelhante ao que vem ocorrendo desde 1950, quando começamos a extrair e queimar combustíveis fósseis.
Para estimar o aumento da temperatura ao longo do tempo, os cientistas utilizam a quantidade de um isótopo de oxigênio que se acumula na apatita, um componente das partes sólidas dos animais. Coletando animais marinhos de diversos estratos, iniciando com fósseis de 253 milhões de anos e terminando nas camadas de 245 milhões de anos, os cientistas determinaram a temperatura dos oceanos durante esse episódio de aquecimento e resfriamento que durou aproximadamente 8 milhões de anos.
No início desse período, a temperatura na superfície dos oceanos estava pouco abaixo da atual, de 22°C a 24°C. Com a liberação do gás carbônico em alguns milhares de anos, ela subiu de 25°C a 30°C, intervalo semelhante ao que encontramos nos trópicos. Mas ela continuou a subir e se estabilizou em aproximadamente 34°C, 4°C acima da atual, com pico de até 40°C, por volta de 254,6 milhões de anos atrás. Você acha pouco um aumento de 4°C a 6°C? Então continue a ler.
Uma vez determinada a variação de temperatura ao longo desse período, geólogos e paleontólogos examinaram fósseis de animais e plantas, escolhendo diversas regiões em que fosse possível determinar a biodiversidade dos fósseis durante esse intervalo.
Para mapear o que estava acontecendo em todo o planeta, foram feitos levantamentos em regiões próximas ao equador e em mais distantes. Os resultados mostram que, logo após o aumento de temperatura, a diversidade de fósseis na região do equador diminuiu bruscamente, o que indica que milhares de espécies se extinguiram rapidamente. Os peixes praticamente desapareceram do equador e as plantas terrestres, incapazes de fazer fotossíntese nas altas temperaturas, também desapareceram. Esse desaparecimento em massa de seres vivos já era conhecido como Grande Extinção do Fim do Cambriano. Agora sabemos que ela foi causada por um rápido aumento de temperatura causado pela liberação de gás carbônico.
Por mais de 5 milhões de anos, enquanto durou a alta temperatura, a vida se abrigou perto dos polos. Peixes, plantas e vertebrados terrestres sobreviveram nas regiões mais frias, Sibéria e Antártida, como mostram os registros fósseis. Esse efeito estufa só se dissipou há 247 milhões de anos e, então, os fósseis indicam que a vida recolonizou a região tropical.
O que ocorreu é semelhante ao que ocorre hoje: trópicos perdendo biodiversidade e calotas polares derretendo. O que ainda não estamos observando de maneira radical é o desaparecimento da vida nos trópicos e sua mudança para as regiões menos quentes. Por outro lado, nosso aquecimento começou há somente 150 anos e, no passado, a extinção de espécies e a migração dos sobreviventes levou milhares de anos.
Por mais sugestivo que seja este estudo, é preciso cautela com as comparações. No fim do Permiano, quando isso aconteceu, o mundo e a vida eram muito diferentes. Os mamíferos nem sequer haviam aparecido e os continentes não haviam se separado. Por outro lado, é impressionante que a temperatura já era muito semelhante à atual, o que demonstra que a maior parte dos seres vivos foi selecionada para sobreviver em intervalos muito pequenos de temperatura. Pequenos aumentos ou diminuições podem ser catastróficos.
Esse estudo sugere que é necessário levar a sério aumentos de 2°C a 4°C na temperatura. Pequenas mudanças podem transformar os trópicos em um deserto desabitado por milhões de anos. E é claro que a região subtropical, mesmo aquecida, não será capaz de abrigar e alimentar 11 bilhões de pessoas. Prevenido é um amigo meu que está construindo uma casa de veraneio no sul da Patagônia.
http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,de-mudanca-para-patagonia--,985320,0.htm

Quadrinhos

FOLHA DE SÃO PAULO

CHICLETE COM BANANA      ANGELI

ANGELI
CHICLETE COM BANANA      ANGELI
ANGELI
PIRATAS DO TIETÊ      LAERTE

LAERTE
NÍQUEL NÁUSEA      FERNANDO GONSALES

FERNANDO GONSALES
MUNDO MONSTRO      ADÃO ITURRUSGARAI

ADÃO ITURRUSGARAI
BIFALAND, A CIDADE MALDITA      ALLAN SIEBER

ALLAN SIEBER
MALVADOS      ANDRÉ DAHMER

ANDRÉ DAHMER
GARFIELD      JIM DAVIS

JIM DAVIS

A meta de superavit primário

folha de são paulo

MARCELO MITERHOF
Por que não normalizar a divulgação do resultado fiscal e acabar com a meta de superavit primário?
Não chega a surpreender o frisson em torno de operações contábeis que garantiram o cumprimento, em 2012, da meta legal de superavit primário de 3,1% do PIB. Numa democracia, o governo costuma ser criticado sempre -seja quando faz algo ou quando faz o seu contrário.
No caso do superavit, a principal crítica é que, para cumprir a meta, foram usados R$ 12,4 bilhões do Fundo Soberano.
Quem ataca a operação entende que a economia de recursos que o governo fez no ano passado para pagar os juros da dívida pública não corresponde, na prática, à meta de 3,1% do PIB. Tal falta de rigor oficial poderia criar uma crise de confiança quanto aos fundamentos da economia (situação fiscal, inflação etc.), desestimulando o investimento e, assim, limitando as perspectivas de crescimento econômico.
Quem defende lembra que todas as operações que garantiram a meta foram legais e que o uso do Fundo Soberano é legítimo, pois seus recursos são acumulados quando há crescimento vigoroso para serem usados em épocas menos favoráveis.
Mais importante, a situação fiscal é sólida. A relação entre a dívida interna do setor público e o PIB foi de 36,4% no fim de 2011 para 35% em novembro de 2012. A relação dívida/PIB é baixa e cadente. Ademais, a queda da taxa de juros anual básica de 12,50% para 7,25% desde julho de 2011 é um notável esforço de ajuste fiscal não capturado pelo conceito de superavit primário.
Em geral, os países apresentam o resultado fiscal incluindo o pagamento dos juros, o chamado resultado nominal. No Brasil, o conceito de superavit primário -receitas menos despesas do governo, sem contar os juros- foi introduzido porque o Brasil por muito tempo teve juros demasiadamente elevados.
O superavit primário é um indicador útil quando a situação fiscal é frágil e é preciso mostrar o esforço que o governo e o país fazem para economizar recursos visando a honrar as despesas com os juros altos.
Porém, os credores da dívida pública brasileira não temem mais que ela deixe de ser paga. Por exemplo, no início deste século, o risco-país do Brasil -o deságio exigido para comprar um título da nação, que mostra a confiança do mercado internacional de que a dívida será honrada- foi a quase 2.500 pontos (25% de deságio) e estava diariamente nos jornais. Hoje, por volta de 150 pontos, quem se lembra dele?
Em 2012, o resultado nominal deve ser um deficit de cerca de 3% do PIB, baixo para padrões internacionais, ainda que tenha havido um aumento em relação aos 2,6% de 2011. Assim, por que não normalizar a divulgação do resultado fiscal brasileiro e acabar com a meta de superavit fiscal primário?
Com isso, quem acredita que a política fiscal precisa ser apertada poderá mostrar mais diretamente que o deficit nominal subiu em 2012. Também seria mais fácil advogar a tese do deficit nominal zero, com as supostas implicações virtuosas que sua concretização teria, decorrentes do choque positivo de expectativas.
Do outro lado, a política fiscal seria mais livre para se adaptar ao cenário econômico. Por exemplo, se o crescimento está fraco e a conjuntura externa é de estagnação, é o caso de elevar o gasto público para impulsionar a demanda doméstica. Havendo uma meta de superavit primário, tal estratégia é prejudicada. O governo, em particular, teria o bônus de ser dispensado de explicar o que não precisa ser explicado.
Em geral, a discussão fiscal é repetitiva e principista. Esse não é um problema só do Brasil, como mostra o imbróglio do "abismo fiscal" nos EUA, fruto de uma regra legal sem sentido. O fim da meta de superavit ao menos tornaria o debate mais claro, ainda que ao governo seja em certa medida inconveniente.
Afinal, é prudente mostrar comprometimento com o que é de modo geral tido como bem-sucedido. Além de significar uma saudável parcimônia em relação a suas convicções diante das possibilidades limitadas do conhecimento econômico, vale o teorema de William Isaac Thomas: "Se as pessoas definem uma circunstância como real, então elas serão reais em suas consequências".
Render homenagem às ideias convencionais de "responsabilidade fiscal", expressas nesse caso na meta de superavit primário, pode ser útil, como foi na eleição de Lula em 2002. Contudo, dez anos e muitas mudanças econômicas depois, isso talvez não valha mais a pena.

    Caixa faz guia de 'bons modos' para brasileiros nos EUA

    FOLHA DE SÃO PAULO

    FOCO
    ANDREZA MATAISDE BRASÍLIAManter as roupas limpas e arrumadas -os sapatos, idem-, manter 33 centímetros de distância sempre que conversar com um norte-americano e ter boas maneiras à mesa. É isso (e muito mais) que a Caixa Econômica Federal recomenda aos brasileiros que viajam aos EUA.
    A página do banco na internet disponibilizou aos clientes um manual sobre como se comportar nos EUA.
    Quem procurou informações sobre como remeter dinheiro do exterior para o Brasil se deparou com as regras de "comportamento e etiqueta".
    São várias as dicas: desde como cumprimentar e conversar com americanos a como se vestir adequadamente.
    No restaurante, por exemplo, diz o manual: "Para alcançar um prato que está distante, peça educadamente para alguém mais próximo dele trazê-lo até você".
    Em outro trecho, a cartilha explica: "Nos EUA, procure ficar a uma distância mínima de 33 centímetros (a distância aproximada de um braço esticado) quando conversar com outras pessoas".
    A Caixa disse que o manual foi elaborado "com objetivo de apoiar a comunidade brasileira no exterior" e que as orientações "foram elaboradas com base em recomendações de sites especializados".
    O banco diz ainda que a decisão foi de sua área internacional, que elaborou as dicas há oito anos, quando o processo de internacionalização do banco foi iniciado.
    O banco também disponibiliza em seu site internacional dados sobre o Japão e Portugal -sem guia de etiqueta.
    Em 2010, o Itamaraty também fez uma cartilha com dicas para brasileiros não serem barrados na Europa.

      Comitê olímpico quer barrar termo 'olimpíada' em torneio educacional

      folha de são paulo

      O COB (Comitê Olímpico Brasileiro) está se movimentando juridicamente para impedir que universidades e associações de pesquisa usem a palavra olimpíada em suas competições educacionais. A atitude provocou protestos das principais associações de cientistas do país.
      No fim de 2012, a Unicamp foi notificada extrajudicialmente pelo comitê devido ao uso supostamente indevido do termo em um dos eventos organizados pela instituição, a Olimpíada Nacional em História do Brasil.
      O texto diz que o uso das palavras olimpíada e jogos olímpicos "é privativo" dos comitês Olímpico e Paraolímpico do Brasil.
      27.ago.2012 Daniel Marenco/Folhapress
      A presidente Dilma Rousseff em premiação de olimpíada de matemática no Rio, em 2012
      A presidente Dilma Rousseff em premiação de olimpíada de matemática no Rio, em 2012
      Organizadores de várias outras olimpíadas educacionais, como a de português e de astronomia, receberam notificações semelhantes.
      Em carta aberta enviada nesta semana a Carlos Arthur Nuzman, presidente do COB, a SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) e a ABC (Academia Brasileira de Ciências) classificaram a ação como "despropositada".
      No Brasil existem cerca de 20 olimpíadas educacionais nacionais.
      REAÇÃO
      A presidente da SBPC, Helena Nader, disse que os cientistas não vão abrir mão do uso da palavra.
      "Eles [o COB] estão querendo ter o monopólio da palavra e isso nós não aceitamos. Olimpíada científica é um conceito internacionalmente consagrado. A sua proibição aqui só é prejudicial para o conhecimento", afirmou.
      Jacob Palis, presidente da ABC, lamentou a iniciativa em um momento em que o Brasil é destaque na área.
      "Nós recebemos, no ano passado, a Olimpíada Mundial de Astronomia. Agora há pouco, tivemos um jovem brasileiro [Matheus Camacho, 14] ganhando uma medalha de ouro em uma das maiores competições do mundo, a Olimpíada Internacional de Ciência. A decisão do COB é equivocada", disse.
      A Unicamp afirmou que continuará usando o termo para designar a competição.
      Para Mônica Guise Rosina, professora de propriedade intelectual da Escola de Direito da Fundação Getúlio Vargas, a notificação sobre a exclusividade do termo é "tecnicamente possível, mas absolutamente descabida".
      "Essa terminologia já é usada há anos para as competições científicas. O problema seria se houvesse o risco das pessoas confundirem um evento com o outro."
      OUTRO LADO
      Em nota, o Comitê Olímpico Brasileiro afirmou que as cartas enviadas às instituições de ensino têm "caráter educativo", para garantir que "o termo 'olimpíadas', que é uma propriedade do COI (Comitê Olímpico Internacional), não seja vinculado a questões comerciais", completa.
      A entidade disse à Folha que estuda autorizar o uso do termo para fins educacionais, como é o caso da olimpíada organizada pela Unicamp.
      De qualquer modo, para evitar problemas, algumas competições já abandonaram o termo. É o caso da antiga Olimpíada Brasileira de Foguetes que, após ser notificada pelo COB, virou Mostra Brasileira de Foguetes.
      "Já temos trabalho demais para montar os eventos. Não dispomos de tempo e dinheiro para ficar brigando com o COB", diz João Bastista Canalle, organizador da mostra.
      A decisão do COB contraria os ministérios da Educação e da Ciência, Tecnologia e Inovação, que realizam olimpíadas educacionais. O ministério da Ciência disse, porém, não ter recebido qualquer notificação do COB.
      Só a Olimpíada Brasileira de Matemática nas Escolas Públicas teve, em 2012, quase 20 milhões de inscritos.
      OUTROS ALVOS
      Além das competições educacionais, livros e até uma rede de supermercados foram alvos de notificações do COB (Comitê Olímpico Brasileiro).
      A professora e pesquisadora da Escola de Educação Física e Esporte da USP Katia Rubio recebeu em janeiro de 2010 uma notificação extrajudicial determinando o recolhimento de seu livro "Esporte, Educação e Valores Olímpicos" em até dez dias.
      O COB a acusava de uso indevido da palavra "olímpicos" e dos cinco anéis estilizados na capa. O não cumprimento da determinação poderia render multa e até detenção.
      Semanas depois o COB reconheceu que o livro era uma produção intelectual destinada a disseminar "o valioso conhecimento sobre o Olimpismo".
      Rubio tem 15 livros escritos e organizados na área de psicologia do esporte, e algumas das publicações anteriores já tinham termos ligados aos Jogos Olímpicos nos títulos.
      O livro que foi alvo de notificação do COB, porém, foi lançado perto do anúncio de que os Jogos Olímpicos de 2016 seriam realizados no Rio.
      Em 2009, os Supermercados Guanabara lançaram uma campanha publicitária intitulada "Olimpíadas Premiadas", protagonizada pelos atletas Diego e Daniele Hypólito.
      O comitê tentou impedir a publicidade, mas o Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro entendeu que não houve demonstração de que a empresa quis se passar por patrocinador oficial do evento esportivo.
      "O COI é proprietário das marcas e autoriza seu uso em cada país, mas é preciso ter bom senso. O caso do supermercado abre um precedente legal porque analisou que não houve má-fé, e nem a Unicamp tem interesse comercial algum com a Olimpíada de História", afirma Alberto Murray Neto, advogado de Katia Rubio e ex-membro do COB.

      Livro tenta elucidar mistérios por trás da cientologia

      FOLHA DE SÃO PAULO

      "Going clear" é uma obra repleta de minúcias, cheia de histórias estranhas e acusações ao fundador da religião, L. Ron Hubbard
      JANET MASLINDO “NEW YORK TIMES”O objetivo declarado de Lawrence Wright ao escrever "Going clear: scientology, Hollywood and the prison of belief" (Buscando clareza: a cientologia, Hollywood e a prisão da crença, em tradução livre) foi entender por que a cientologia -uma religião conhecida por seu mito de criação bizarro, por escarafunchar segredos de seus fiéis e pelo sistema de punições draconiano- atrai tantas pessoas. Muitas famosas, como o ator Tom Cruise.
      Wright diz que passou boa parte da sua carreira examinando os efeitos de crenças religiosas na vida das pessoas. Ele fez isso de forma mais notável em "O Vulto das Torres", seu livro sobre os atentados de 11 de setembro de 2001 que recebeu o Pulitzer.
      Mas ele foi mais bem-sucedido ao penetrar a Al-Qaeda do que ao tentar captar o que a cientologia tem a oferecer.
      "Going Clear" é um livro repleto de minúcias, cheio de histórias estranhas e acusações ao fundador da cientologia, L. Ron Hubbard, e a seu volátil sucessor, David Miscavige (que, segundo alguém que foi pescar com ele certa vez, ficou tão impaciente depois de esperar cinco minutos que queria agarrar trutas com as mãos ou enfiar anzóis em suas goelas).
      O livro é também cheio de depoimentos de ex-cientologistas que falam de como foram maltratados. Mas, com relação a como a religião funciona, seu criador explicou tudo muito melhor do que Wright é capaz de explicar. "Para manter uma pessoa no caminho da cientologia", disse Hubbard certa vez, "eu a alimento com um sanduíche de mistério".
      "Going Clear" não tem muito mistério em seu menu. Mas tem Paul Haggis, roteirista ("Menina de Ouro") e diretor ("Crash -No Limite") como seu exemplo de conversão, fé, lealdade cega e, ao final, apostasia.
      Jovem, inconformado e sem rumo na vida, Haggis era um recruta perfeito na época em que aderiu à cientologia, na década de 1970. Quando tinha evoluído o suficiente na escala Hubbard para ter acesso aos manuscritos do fundador, ele saiu de uma sala trancada perguntando: "É uma metáfora?" Não era.
      Haggis aceitou esses dogmas durante décadas, até que um sentimento de ultraje acabou com sua lealdade.
      O livro relata a história de Hubbard de modo imparcial. Wright acha que "o cabo de guerra entre cientologistas e anticientologistas em torno da biografia de Hubbard gerou dois arquétipos exagerados: a pessoa mais importante que já existiu e o maior embusteiro do mundo".
      O autor percebe que "qualificar Hubbard exclusivamente como embusteiro significa ignorar os aspectos complexos, encantadores, ilusórios e visionários de sua personalidade, que o tornavam tão convincente".
      Ele também procura correlacionar os extremos dos textos de ficção científica de Hubbard (ele foi tremendamente prolífico) com uma religião baseada em acontecimentos que teriam ocorrido há 75 milhões de anos, numa Confederação Galáctica comandada pelo tirano Xenu.
      "Going Clear" parece ter passado por exame prévio cuidadoso de advogados (mesmo assim, contém material suficiente que poderia dar lugar a ações judiciais para que sua editora britânica, a Transworld, tenha desistido de sua publicação).
      O livro, ainda sem título definido no Brasil, será lançado pela Companhia das Letras em junho.

        Marina Colasanti - É perigoso, na Índia‏


        Estado de Minas: 17/01/2013 
        Na Índia, é muito perigoso para uma mulher andar de ônibus. É muito perigoso para um mulher, na Índia, andar, mesmo a pé. É perigosíssimo para uma mulher, na Índia, ficar viúva. Na Índia, desaconselha-se vivamente a uma mulher ficar idosa – e, aliás, faz-se o possível para que isso não aconteça. O melhor, para uma mulher, na Índia, é não nascer mulher.

        Agora mesmo, depois do escândalo da jovem estuprada por seis num ônibus e morta a golpes de barra de ferro, uma outra passageira de ônibus foi estuprada por sete durante toda uma noite, e uma terceira nem que sequer estava em um ônibus foi sequestrada, estuprada, estrangulada e jogada numa vala – diz o pai dela que foi trabalho da família do marido, marido incluído, ressentidos todos porque o dote levado para o casamento havia sido modesto.

        Na Índia, ainda agora em pleno desenvolvimento, se o dote de uma noiva é considerado insuficiente, não se devolve o dote, se devolve a noiva, de preferência, morta. Devem-se à indústria do dote cerca de 100 mil assassinatos de mulheres a cada ano. 

        Se o dote for bom, há outros recursos. As agressões, a escravização doméstica, as lutas de castas, as ofensas à honra, as disputas familiares, o infanticídio feminino conseguem elevar essa estatística para 2 milhões anuais. E, se tudo falhar, pode-se sempre mandar a fêmea da espécie dar uma volta de ônibus.

        Suspeito que a antiga tradição de imolar a viúva na pira funerária do marido seja menos uma imposição do que uma escolha, pois a viver nesse inferno, melhor o fogo.

        Na década de 60, quando éramos hippies e buscávamos a elevação espiritual, ficou bem, além de procurar a iluminação em todas as drogas, gostar da Índia. Tive vários amigos e amigas que lá passavam longas temporadas, regressando à beira do êxtase. Sobre a questão das castas e da violência contra as mulheres passavam levitando, era tudo parte do grande pacote místico que os encantava e que não podia ser objeto de críticas.

        Li recentemente um belíssimo livro sobre a Índia, escrito por quem entende dela, a jovem indiana Arundhati Roy. O deus das pequenas coisas é um romance, mas pode ser assimilado como um ensaio, porque tudo o que conta – a não ser a trama – é verdadeiro, fruto de uma observação minuciosa somada a vivências pessoais. Na história de três gerações de uma mesma família, as mulheres tecem os fios mais importantes e sofrem, todas elas sofrem, a matriarca apanhando do marido, uma tia vivendo em segredo a paixão por um missionário, uma menina sofrendo a ausência da mãe, e a mãe entregando-se no escuro segredo da noite a um homem da mais baixa casta, um intocável.

        O livro de Arundhati pode ser lido como um ensaio não apenas porque se passa em Kerala, onde ela própria nasceu e cresceu, mas porque, ativista nas questões femininas e contra o sistema de castas, essa jovem mulher conhece bem o universo de preconceitos de que fala.

        A posição social das indianas tem melhorado muito nas últimas décadas, figuras femininas se destacam em todas as áreas e multidões estão indo para as ruas clamando por leis de proteção mais severas. Mas no país ainda preso às antigas estruturas patriarcais, o avanço das mulheres é vivido pelos homens como uma ameaça e está gerando violência ainda maior contra elas.

        TEREZA CRUVINEL » Dilma, grandes testes

        Dilma está atuando pessoalmente na preparação do que seus assessores chamam de "grandes testes" para o aumento do investimento e a explicitação de confiança no governo 


        Estado de Minas: 17/01/2013 
        Com a equipe chefiada pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, na linha de tiro dos adversários e até mesmo de aliados históricos, a presidente Dilma Rousseff vestiu o casaco de responsável última pela política econômica, atenta a dois avisos que entraram no radar do governo. Um, sobre o poder contaminador das críticas aos métodos adotados para controlar a inflação e cumprir as metas fiscais da Lei de Diretrizes Orçamentárias, a LDO. Outro, conexo com o primeiro, sobre a importância do êxito dos próximos leilões de concessões ao setor privado. Além de decisivos para o aumento dos investimentos, eles serão o indicador mais objetivo sobre o grau de confiança do empresariado no governo.
        Em relação ao primeiro assunto, um choque de perplexidade e realismo foi produzido pelo artigo do economista e ex-ministro Delfim Netto no jornal Valor Econômico de terça-feira, em que, depois de considerar a política econômica correta em linhas gerais e de criticar os artifícios, ele diz: “É pena, portanto, que o governo perca credibilidade em troca de nada, como, por exemplo, estimular a contabilidade ‘criativa’”, que chamou também de “operação de alquimia” e de “sucessão de espertezas”. Mais adiante, Delfim afirma: “A quebra de seriedade da política econômica produzida por tais alquimias não tem qualquer efeito prático, mas tem custo devastador. Se repetida, vai acabar matando os próprios alquimistas pela inalação dos gases venenosos, que, todos sabemos, elas mesmas emitem...”.
        Críticas semelhantes já haviam sido feitas, mas sempre por adversários, nunca por um aliado com o peso de Delfim, que endossa a política econômica dos governos petistas desde o primeiro mandato de Lula. Nem com essa virulência, que nem tucanos bicudos usaram. Na sequência, o senador Aécio Neves publicou artigo tomando como mote a expressão “contabilidade criativa”, e ontem um blog do jornal inglês Financial Times criticou tais mecanismos. Ressalvando que são legais, afirmou que o ministro Mantega está se tornando um “expert” em aplicar o “jeitinho brasileiro” à gestão financeira, econômica e fiscal. Traduziu a expressão como sendo o modo brasileiro de contornar leis e regras. Reações anotadas, a “criatividade” deve ser contida.
        Dilma está atuando pessoalmente na preparação do que seus assessores chamam de “grandes testes” para o aumento do investimento e a explicitação de confiança no governo. Eles começam em maio, com o leilão dos primeiros grandes blocos de exploração de petróleo depois de cinco anos. Em junho, ocorrerá o leilão para concessão de rodovias. Em agosto, deve ocorrer o leilão para a administração privada dos aeroportos do Galeão e de Confins. O setor privado pediu e a presidente atendeu, contornando dificuldades políticas, diz um auxiliar. Agora, cabe a eles responder, assinando um cheque, diz ainda a mesma fonte. Entenda-se com a metáfora que eles deverão entrar nos leilões, arrematar lotes e realizar os investimentos programados, que representam, como diz o próprio Delfim, uma das condições para a retomada do crescimento em patamares superiores a 3%.
        Em busca desse “cheque”, de valor financeiro e político, é que ela tem realizado a maratona de conversas com empresários, que teve início na semana passada, quando se encontrou, separadamente, com Rubens Ometto, da Cosan; Murilo Ferreira, da Vale; Marcelo Odebrecht, da Odebrecht; Luiz Trabuco, do Bradesco; Rodolpho Tourinho Neto, do Sindicato Nacional da Indústria da Construção Pesada (Sinicon); e Bruno Lafont, do Grupo Lafarge. Ontem ela recebeu Eike Batista, da OLX, e Jorge Gerdau, do grupo que leva seu nome. Hoje, ela deve receber Antonio Portela Álvarez, do Isolux Corsán. Nessas conversas, trata dos investimentos e da política econômica de modo geral como coisa sua, de seu governo, e não de Mantega ou de Alexandre Tombini, presidente do Banco Central. Ou seja, se batem neles, estão batendo nela. Aliás, o Planalto registrou também, neste início de ano, uma certa perda do constrangimento em criticar a própria presidente, por parte de agentes políticos ou econômicos. Dilma soube, por fontes diversas, inclusive por Lula, das queixas frequentes dos empresários, endereçadas muito mais ao modo de fazer do que aos ingredientes da receita aplicada pela presidente. Nos encontros, busca também neutralizar essa insatisfação. É com este intenso ativismo governamental que a Dilma 2013 prepara o caminho para a Dilma 2014. 

        Bateu, levou
        O vice-presidente Michel Temer teria obtido ontem o “nada contra” da presidente Dilma Rousseff à eleição do deputado Eduardo Cunha como líder do PMDB na Câmara, buscando a pacificação interna. Michel esteve também com o ex-deputado Geddel Vieira Lima (BA), que afirmou à coluna, a propósito do vazamento de denúncias contra o candidato a presidente da Câmara Henrique Eduardo Alves (RN), que, por temor a Dilma, negou apoio a Cunha. “Quando brigo, ataco de frente.” Em paralelo, o senador José Sarney (PMDB-AP) chamou para uma conversa sua boa amiga Rose de Freitas (PMDB-ES), candidata dissidente contra Alves. Teria pedido que desistisse da candidatura. Afora isso, torcem para que as revistas semanais não tragam novas denúncias.

        Sucesso sem fazer concessão(Daniel Galera)-Carlos Herculano Lopes‏

        Romance de Daniel Galera conquista crítica e leitores com literatura que foge ao padrão de best-sellers. Editora investiu pesado em marketing 

        Carlos Herculano Lopes
        Estado de Minas: 17/01/2013 
        No fim do ano passado, com reflexos entrando janeiro adentro, dois acontecimentos literários chamaram a atenção, por motivos diferentes: o fenômeno dos livros eróticos femininos descartáveis, à la Cinquenta tons de cinza, de E. L. James; e o sofisticado romance Barba ensopada de sangue, de Daniel Galera, que despertou interesse de leitores (já vendeu 9 mil exemplares) e da crítica. Nascido em 1979, em São Paulo, e criado no Rio Grande do Sul, Galera estreou na literatura em 2001, com o volume de contos Dentes guardados, pelo selo editorial Livros do Mal, de Porto Alegre, do qual foi um dos criadores. 

        Nos anos 2000, outros livros nacionais seguiram enredo semelhante: os romances Perdas e ganhos, de 2003, da gaúcha Lya Luft, ficou por várias semanas entre os mais vendidos; e Dois irmãos, de 2000, de Milton Hatoum, teve o mérito, pela repercussão obtida entre a crítica, de colocar o escritor amazonense entre os principais nomes da literatura brasileira contemporânea. 

        Outro romance do mesmo período, Filho eterno, de 2007, do catarinense morador de Curitiba Cristovão Tezza, também deu o que falar. História autobiográfica, na qual o escritor, num tom comovente e maduro, narra sua complexa relação com o filho portador de síndrome de Down, o livro garantiu ao autor os mais importantes prêmios literários da temporada.

        Para Noemi Jaffe, doutora em literatura brasileira pela USP e crítica literária, livros como Cinquenta tons de cinza são os que, provavelmente, vão dar o tom do cenário que está se configurando no universo literário. “Percebo os leitores aumentando, mas a qualidade diminuindo e acho que a tendência é piorar. Nesse sentido, vejo com bons olhos um fenômeno de vendas como está ocorrendo com Barba ensopada de sangue, embora não se compare aos Cinquenta tons, porque estimula uma leitura maciça, de qualidade”, pontua. 

        Autora de A verdadeira história do alfabeto, Noemi acha que Barba ensopada de sangue é até agora, o melhor livro de Daniel Galera, independentemente do fato de ter sido cercado por uma campanha midiática forte, com direito a três capas diferentes. “Certamente é um marco nesse sentido: da aposta em torná-lo o novo nome da literatura brasileira. Mas o livro é realmente bom, embora seja preciso esperar ainda bastante tempo para afirmar algo categórico”, diz. Da geração de Galera, que está sendo reconhecida, a professora cita escritores como Michel Laub, Fabrício Corsaletti, Angélica Freitas e Verônica Stigger. Para Noemi, é difícil dizer se esta geração já deixou sua marca: “Isso só o tempo irá falar”. 

        Já para o escritor e crítico Nelson Oliveira, que passou a assinar Luiz Braz, vários escritores brasileiros chamaram a atenção em 2012. Entre eles, destaca Angélica Freitas, com a coletânea de poemas Um útero é do tamanho de um punho; Luisa Greisler, com o romance Quiçá; e Daniel Galera, com Barba ensopada de sangue, na sua opinião um romance valioso e maduro. “Mas seria injusto com os outros afirmar que esse livro foi o principal lançamento do ano passado. Acredito que o próprio Daniel concordaria comigo, que seu romance pertence a uma interessante safra de títulos nacionais, todos muito bons”, afirma. 

        O pernambucano Marcelino Freire, companheiro de geração de Galera, acha que Barba ensopada de sangue é um marco na carreira do autor. “Ele está maduro, cada vez melhor. Leva a sério seu ofício. Lembro-me dele carregando caixas de livros nas costas, na Feira do Livro de Porto Alegre. Tenho orgulho de ter sido e estar sendo testemunha de tudo isso”, diz Marcelino. 

        Quem também está atento ao que se publica no país é o escritor e crítico mineiro Ronaldo Cagiano. Nascido em Cataguases, na Zona da Mata mineira, e atualmente vivendo em São Paulo, ele diz que a geração de escritores que surgiu dos anos de 1990 para cá – e à qual pertence Daniel Galera – se diferencia da dos anos de 1960/70, que produziu uma literatura caudatária do espírito de resistência, vanguardista e renovadora. Já os autores que vieram depois, segundo ele, pertencem a outra vertente, influenciados por momento distinto e pelos ícones da modernidade, beneficiados pelo ambiente da tecnologia e pelos fetiches da comunicação e cultura de massas. “São escritores menos ousados, alienados de um projeto mais crítico engajado, mas tendentes a uma literatura que agrade ao mercado”, diz Cagiano.

        Quanto a Barba ensopada de sangue, o crítico reafirma a opinião de que o romance é um marco na carreira de Daniel Galera, não só por ter alcançado maturidade e segurança em sua arquitetura formal, mas pelo mergulho radical numa história tensa e densa. “É uma narrativa habilidosa e instigante, que vem consolidar o seu nome. Desde sua estreia em 2001,  Daniel Galera, com seu estilo peculiar, vem só crescendo”, afirma Cagiano. 

        Quanto a livros como a trilogia Cinquenta tons, ele acha que isso pode ser explicado pelo fato de o sistema editorial oscilar entre o mercado e a arte. Para Cagiano, “é preciso ganhar dinheiro com o lixo e fazer caixa para poder publicar o luxo”. Com o que concorda Marcelino Freire, para quem os livros eróticos atuais são uma brochada literária. “Já o Galera, creio, é jovem, vigoroso e muito mais potente”, provoca. 

        Barba ensopada de sangue
        • De Daniel Galera
        • Editora Companhia das Letras
        • 424 páginas, R$ 39,50


        ANÁLISE DA NOTÍCIA

        Carlos Marcelo

        Desde O filho eterno (2007), de Cristovão Tezza, a literatura brasileira contemporânea não conseguia ultrapassar os limites da autorreferência e atingir um público mais amplo. Em tempos de atenções dispersas pela oferta incessante de múltiplas opções culturais, a façanha de Daniel Galera com Barba ensopada de sangue torna-se ainda mais digna de nota. Claro que o forte investimento da editora, Companhia das Letras, foi decisivo para a visibilidade inicial, mas a profusão de comentários nas redes sociais nas últimas semanas mostra que o livro agora anda com as próprias pernas. Caiu no gosto de uma faixa de leitores interessados em uma aventura nada tradicional, que começa íntima e vai ganhando contornos de tensão até o desfecho arrebatador, marcado pelos embates com a natureza e com o próprio passado do protagonista. Com destreza narrativa e máximas ("Tudo que precisa ser conquistado dá problema depois") que começam a ser citadas aqui e ali, Barba… sacode panorama de longa e incômoda calmaria. Que o Brasil não demore outros cinco anos para gerar outra onda tão forte.

        TV PAGA


        Estado de Minas: 17/01/2013 

        Noite estrelada

        A outrora comportada Miley Cyrus (foto) é uma das estrelas da festa Divas, hoje, às 21h, no canal VH1. Festa, sim, porque o show será em homenagem às grandes damas da dance music Whitney Houston e Donna Summer. Para matar a saudade delas, Miley, Demi Lovato, Kelly Rowland, Jordin Sparks e Ciara vão recriar seus maiores sucessos.

        Celulari vai cozinhar com 
        o mestre Claude Troisgros

        No canal GNT, às 21h30, Claude Troisgros abre a temporada de verão do programa Que maravilha!, recebendo o ator Edson Celulari. Juntos, eles vão preparar um peito de frango recheado com cottage e cebolinha. Nas próximas edições, os convidados serão Paulo Vilhena, Flávio Canto, Murilo Rosa e Diogo Nogueira. Todas as receitas vão ficar disponíveis no site www.gnt.com.br/quemarravilha. Em tempo: também hoje, às 19h, vai ao ar o especial Receitas para o verão de Jamie Oliver.

        Não é nada fácil a vida de 
        uma foca na África do Sul


        O canal +Globosat exibe hoje, às 23h, o documentário Feast of predators, que mostra os desafios de uma jovem foca que decide seguir a migração de sardinhas nas selvagens águas da África do Sul. Para ela, cada dia é uma luta pela sobrevivência, se mantendo fora do caminho de predadores ou escapando dos dentes afiados do caçador mais poderoso do oceano, o grande tubarão-branco. 

        Leonardo Da Vinci tinha 
        contato com alienígenas?


        Mais dois documentários da série Alienígenas do passado serão exibidos em sequência hoje à noite, na Semana do desconhecido, do canal History. Em “A conspiração Da Vinci”, às 22h, pinturas, esboços, desenhos e publicações particulares de Leonardo da Vinci são analisadas em busca de evidências de uma tecnologia de outro mundo e a existência de seres extraterrestres. Em seguida, às 23h, “Viajantes do tempo” discorre sobre a teoria de que extraterrestres possam ser na realidade evidências de viajantes do futuro. 

        Ação, drama e humor na
        programação de cinema


        O faroeste Pacto de honra, dirigido por Raoul Walsh em 1954 e com Alan Ladd e Robert Douglas nos papéis centrais, é a atração de hoje do Clube do filme, às 22h, na Cultura. No mesmo horário, o Megapix exibe a produção brasileira Cidade dos homens: E ainda: For all – O trampolim da vitória, no Canal Brasil; O contador de histórias, no Space; Vovó… zona 3: tal pai, tal filho, no Telecine Fun; A toda prova, no Telecine Pipoca; Fase um, no Max Prime; Procurando encrenca, no Sony; Um jantar para idiotas, no FX; e Os estranhos, na MGM. Outras atrações da programação: Robin Hood (2010), às 19h30, no Universal; Lembranças de Hollywood, às 21h, no Comedy Central; e 16 quadras, às 23h, no ID.

        Clovis Rossi

        FOLHA DE SÃO PAULO

        É tempo de fechar a porta do inferno
        O mundo empresarial começa a coincidir com os ambientalistas, ao soar o alarme sobre o clima
        Se houvesse no mundo meia dúzia de líderes de verdade, a emergência ambiental que se está dando em cidades chinesas faria soar todos os alarmes: o mundo todo está vivendo uma situação de mudança climática que anuncia uma catástrofe em algum momento futuro.
        Sei que esse tipo de alerta costuma cair no vazio quando feito por entidades ambientalistas, desprezadas como ecochatas.
        Mas, agora, as sirenes estão sendo acionadas pelo empresariado, exatamente aquele que hesita em pagar os custos da adaptação da economia a modos de produção mais amigáveis ao ambiente.
        O mais recente deles está no relatório "O Mundo em 2050" que uma portentosa consultoria, a PwC (PricewaterhouseCoopers), acaba de divulgar. Como se sabe, as Nações Unidas têm se esforçado, inutilmente, para que sejam adotadas medidas para que o aumento de temperatura global não passe de 2 graus, sob pena de ocorrer um apocalipse ambiental.
        Pois bem, a PwC diz que, mantidas as coisas como estão, suas previsões para o crescimento da economia levariam a aumento de temperatura de 6 graus ou mais no longo prazo, três vezes além do aumento que abriria as portas do inferno.
        Outro relatório oriundo do mundo empresarial, o dos Riscos Globais 2013, encomendado pelo Fórum Econômico Mundial, vai na mesma linha: "após um ano de medo causado por fenômenos climáticos extremos, do furacão Sandy às inundações na China, os pesquisados consideraram as crescentes emissões de gases do efeito estufa como o terceiro maior risco global, ao passo que o fracasso da adaptação à mudança climática é visto como o risco ambiental que terá o maior impacto na próxima década".
        Não é difícil entender por que o mundo dos negócios soa o alarme: é o custo dos desastres, como reconhece Axel Lehmann, chefe do Escritório de Risco do grupo segurador Zurich, citado no relatório do Fórum. "Com o crescente custo de eventos como o furacão Sandy, as grandes ameaças às nações-ilhas e às comunidades costeiras, e com nenhuma solução para a emissão de gases do efeito estufa, está escrito nas paredes que é tempo para agir", diz Lehmann.
        Levantamento de outra seguradora, a Munich Re, mostra que o custo global de catástrofes naturais relacionadas ao clima foi, no ano passado, de US$ 160 bilhões (R$ 325 bilhões).
        Não custa aplicar o bom senso demonstrado por Peter Höppe, chefe de Pesquisas de Risco da Munich Re: "Numerosos estudos apontam um aumento de períodos de seca no verão na Costa Leste dos EUA no futuro e uma crescente possibilidade de severos ciclones ao longo da Costa Leste dos Estados Unidos no longo prazo. O aumento do nível do mar causado pela mudança climática aumentará ainda mais o risco de uma escalada de tempestades. E, sem perspectiva de progressos nas negociações sobre mudança climática, a adaptação para tais riscos, usando medidas protetoras adequadas, é absolutamente essencial".
        Atenção, não é o Greenpeace falando.