terça-feira, 2 de julho de 2013

Quadrinhos

folha de são paulo
CHICLETE COM BANANA      ANGELI
ANGELI
PIRATAS DO TIETÊ      LAERTE
LAERTE
DAIQUIRI      CACO GALHARDO
CACO GALHARDO
NÍQUEL NÁUSEA      FERNANDO GONSALES
FERNANDO GONSALES
NÍQUEL NÁUSEA      FERNANDO GONSALES
FERNANDO GONSALES
MUNDO MONSTRO      ADÃO ITURRUSGARAI
ADÃO ITURRUSGARAI
MALVADOS      ANDRÉ DAHMER
ANDRÉ DAHMER
GARFIELD      JIM DAVIS
JIM DAVIS

HORA DO CAFÉ      TOLLES
TOLLES

Minha história: 'Há um abismo que separa mulheres e tecnologia'

(...) Depoimento a
YURI GONZAGA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA DE SÃO PAULO

Atualizado em 05/11/2012 às 11h28.
Levar mais mulheres brasileiras para o campo científico-tecnológico. Com esse objetivo e a experiência como embaixadora no Instituto Anita Borg por mulheres e tecnologia é que a estudante de doutorado Larissa Romualdo Suzuki, atualmente na Inglaterra, pretende voltar para o Brasil.
Arquivo Pessoal
"[Larissa Romualdo Suzuki]":http://www0.cs.ucl.ac.uk/staff/L.Romualdo/, pesquisadora da University College London quer trazer projetos por mulheres e tecnologia ao Brasil
Larissa Romualdo Suzuki, pesquisadora da University College London quer trazer ao Brasil projetos semelhantes aos que faz parte, com o intuito de aproximar mulheres e tecnologia
A hoje pesquisadora da University College London recebeu o aceite de 12 instituições de ensino superior nacionais e internacionais para seu projeto de doutorado, além de sete bolsas de estudo, incluindo uma do Google, empresa que também a convidou para um estágio científico.
*
Não sou de família rica. Nasci em Ribeirão Preto, onde estudei nos colégios Orlando Jurca, Santos Dumont e Otoniel Mota --todos públicos. Meus irmãos estudavam computação. Foi isso que despertou em mim o interesse por tecnologia.
Terminando o Ensino Médio, entrei em uma faculdade privada para estudar ciências da computação. Já trabalhava, mas tive que financiar meu curso por meio do Fies (Fundo de Financiamento Estudantil, do Ministério da Educação).
Em outras palavras, fui eu quem pagou minha faculdade. Na verdade, quem paga --porque até hoje as parcelas não terminaram (risos).
Uma vez dentro da Mauá, fiz uma prova para iniciação científica e passei. A "bolsa" era uma dedução de 20% na minha mensalidade.
Formei-me em uma turma de mais de 30 pessoas, entre as quais eu era a única mulher, e decidi seguir na pesquisa. Fiz alguns processos seletivos e consegui entrar em um mestrado em engenharia elétrica pela USP, no campus de São Carlos.
No mestrado, tinha bolsa da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, também do governo federal) e fazia estágio, trabalhando como professora assistente.
Na USP, percebi uma certa resistência --e até desprezo-- por parte de alguns docentes. Não sei se por então ter saído de uma faculdade particular ou por outros motivos que não faço ideia. Na verdade, acredito que muitos duvidaram da minha capacidade intelectual e que eu completaria meu curso.
Mas essas pessoas que me desestimulavam eram insignificantes para a ciência. Os que me incentivavam, que não eram poucos, sempre foram pessoas extraordinárias dentro da academia.
Terminei o meu mestrado, que era sobre diagnóstico médico por imagem, e dei início a um doutorado com linha de pesquisa semelhante na FMRP (Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da USP).
Sou apaixonada por computação. É maravilhoso saber que podemos usá-la para o bem da humanidade, como para diagnosticar câncer.
VIRADA
Eu tinha começado meu doutorado na faculdade de medicina havia três meses quando recebi o "sim" da universidade em que estudo atualmente, a University College London, e de outras 11 instituições britânicas para fazer doutorado.
Também fui selecionada nos processos de seis bolsas de estudo. Tive de recusar todas elas, menos a que usufruo atualmente, concedida pelo EPSRC (Conselho de Pesquisa em Engenharia e Ciências Físicas, na sigla em inglês).
Meu doutorado, sobre integração de sistemas de cidades, é feito em conjunto com a Imperial College London. Ambas as instituições são universidades públicas de pesquisa.
Fui extremamente bem recebida nas instituições daqui da Inglaterra. O meu orientador,Anthony Finkelstein --que também é decano, uma espécie de reitor da universidade--, por exemplo, faz questão de me corrigir quando o trato formalmente em uma conversa. "Não me chame de "professor Finkelstein": meu nome é Anthony!", ele diz.
Recebo 16 mil libras esterlinas por ano (cerca de R$ 4.300 por mês) mais um adicional por dar aulas.
Neste ano, fiz um curso de docência pela Academia Britânica de Educação Superior. Sempre tive facilidade em ensinar. Comecei a lecionar aos 16 anos, dando aulas de música. O meu sonho é ser professora de uma universidade federal brasileira.
MENINAS E CIÊNCIA
Meu objetivo é também levar ao Brasil os projetos que existem aqui (Reino Unido) e nos EUA para atrair mulheres para a tecnologia.
Sou embaixadora do Instituto Anita Borg por mulheres e tecnologia, para o qual trabalho ajudando a promover eventos e difundir suas ideias.
Nos eventos, que juntam milhares de pessoas, muitas mulheres apresentam seu trabalho. A ideia é mostrar para quem está começando que qualquer uma pode ter uma carreira brilhante na área.
As meninas olham uma mulher com dois filhos e que é do alto escalão de uma empresa como a Cisco, por exemplo, e pensam "nossa, é mesmo possível".
Trabalhar com computação, encarando durante o dia inteiro uma tela, é pesado. Mas não acho que seja por isso que haja tão poucas mulheres na área de tecnologia. As meninas crescem acreditando que videogames, computadores não são para elas. Isso precisa mudar.
Ajudei a fundar uma associação por mulheres e tecnologia dentro da minha faculdade, com a ajuda de uma supervisora administrativa. Qualquer instituição ou projeto que tenha objetivo semelhante pode contar com o meu apoio.
Está na hora de o Brasil ter algo nesse sentido: levar meninas, crianças mesmo, à computação, para que mais tarde elas se tornem parte do progresso científico-tecnológico do país.
GOOGLE
Já depois de um tempo dentro do Anita Borg, recebi uma bolsa do Google para apoiar meu trabalho como promotora do Instituto.
Fui uma das dez estudantes de doutorado que ganharam essa bolsa (entre 40 bolsas oferecidas, também para estudantes de mestrado e de graduação). Seis engenheiros do Google avaliaram a proposta de cada uma das candidatas e só as melhores levaram.
A empresa deixou claro que eles dão oportunidade para pesquisadores que se dispuserem a estudar o Google e seus serviços para um eventual trabalho aprofundado.
Estou estudando um pouco do que faz o Google. Eles me ofereceram outra bolsa, dessa vez de estágio como pesquisador, para o ano que vem. Acho que vou aceitar.
Mas ainda estou lutando para terminar meu doutorado, que é difícil.

Energia limpa requer desvios - Diane Cardwell

folha de são paulo
new york times

Jonathan Wolfson e Harrison Dillon começaram daquele jeito mítico do Vale do Silício. Há uma década, os dois amigos de faculdade se puseram a trabalhar na garagem de Dillon, cultivando algas em tubos de ensaio, na esperança de usarem a biotecnologia para criar energia renovável. Aí encontraram um pequeno grupo de investidores.
Agora, eles lançaram seu primeiro óleo derivado de algas em escala comercial: pálido, inodoro e fornecido em um frasquinho dourado, ele não é voltado para tanques de combustível, mas para o rosto de mulheres preocupadas com o envelhecimento cutâneo.
Cada frasco de 30 ml custa US$ 79, e, talvez graças a ele, a empresa da dupla, a Solazyme, consiga ir além do ponto onde tantas outras companhias de tecnologia limpa perderam o gás: a passagem para a produção em escala comercial.
A esperança da Solazyme é se manter à tona fabricando óleos que sirvam a diversas funções -como hidratar a pele ou substituir a manteiga e os ovos em receitas de forno. O passo seguinte é fabricar enormes quantidades de produtos de energia renovável a um preço capaz de concorrer com os combustíveis fósseis.
Há anos, gestores públicos, ambientalistas e empreendedores alardeiam a promessa de domar a energia do sol, do vento, das ondas, dos resíduos sólidos urbanos ou, agora, das algas.
Desde 2007, o consumo de energia oriunda de fontes renováveis nos EUA cresceu quase 35%. Hoje, ele representa cerca de 9% do total, segundo a Administração de Informação Energética.
Mas houve fracassos proeminentes. Empreendimentos de energia limpa outrora promissores, que haviam atraído milhões de dólares em apoio do governo americano -como a fábrica de painéis solares Solyndra, a usina de etanol celulósico Range Fuels e o fornecedor de baterias A123 Systems-, faliram. A próxima geração de biocombustíveis, baseada em plantas não alimentícias, ainda luta para conseguir decolar.
O capital de risco se desacelerou, e novas empresas dessa área precisam queimar grandes volumes de capital em muitos anos de pesquisa e em equipamentos antes de comprovarem suas promessas. Em nível global, o capital de risco investido em tecnologias limpas diminuiu de US$ 9,61 bilhões em 2011 para US$ 7,4 bilhões em 2012, uma queda de quase um quarto, segundo o banco de dados i3 Platform, do Cleantech Group.
Por isso, as empresas de energia limpa não podem se apoiar na clássica abordagem em que os investidores recebem dividendos rápidos e polpudos. Elas precisam de uma combinação de verbas governamentais, parcerias setoriais e uma disposição para buscar linhas de produtos com maior valor agregado, como parte da rota que leva a mercados maiores, mas com margens mais reduzidas.
A história da Solazyme mostra como pode ser sinuoso o caminho que leva até tecnologias energéticas lucrativas.
Quando começaram, Dillon e Wolfson cogitaram priorizar o uso de algas para produzir hidrogênio, mas os veículos movidos a hidrogênio nunca decolaram.
Os sócios da Solazyme perceberam que precisavam criar um produto que pudesse usar equipamentos e infraestrutura existentes, e o óleo combustível parecia a melhor aposta.
O problema em produzi-lo é que o volume é quem manda. Fazer um produto incrível não era o importante -se a Solazyme não conseguisse fazê-lo em quantidade suficiente, o negócio nunca teria sucesso.
O combustível celulósico pode em breve alcançar uma escala real: o Departamento de Energia dos EUA prevê que haverá 303 milhões de litros em produção comercial até 2015. Mas o uso de algas pelas empresas irá demorar até 2022, preveem as autoridades.
Na Solazyme, os sócios aceleraram os testes preliminares, tentando fazer algo que imitasse o óleo combustível existente. Eles também reprogramaram os micro-organismos para ver o que mais poderia resultar.
"A intenção era uma linha reta até os combustíveis, mas começou a ficar claro o quanto isso iria demorar", disse Wolfson, comentando a evolução da empresa até desenvolver múltiplas linhas de produtos.
A grande descoberta foi que as algas podem produzir óleos que, do ponto de vista bioquímico, se parecem muito com outros encontrados na natureza ou já em uso no mercado. Mas os sócios haviam vendido aos investidores uma empresa de energia, não uma fábrica de cosméticos, suplementos nutricionais e sabão.
Eles também haviam dito ao seu conselho que conseguiriam produzir combustível por meio da fotossíntese, mas o cultivo de algas onde houvesse luz solar suficiente exigiria enormes lagos e ameaçaria causar uma perda de vegetação.
Após procurar às pressas uma alternativa, Wolfson e Dillon informaram ao seu conselho que cultivariam as algas em tanques para produzir óleos especiais para mercados secundários, usando o faturamento dessas vendas para amparar o negócio de combustíveis durante o seu desenvolvimento. Seus principais patrocinadores, que já haviam investido juntos cerca de US$ 1,3 milhão, concordaram em financiar novos testes para essa ideia.
Vários conselheiros acabaram saindo, e vários investidores de risco que haviam demonstrado interesse nas rodadas preliminares de financiamento se retiraram pelo fato de os criadores insistirem em perseguir múltiplos mercados, segundo Wolfson.
"É bem verdade que, se você tenta fazer coisas demais e não tem um enfoque enquanto companhia, você vai fracassar -o enfoque realmente importa", disse ele. "O que eles realmente não entenderam é que a nossa plataforma é uma plataforma que está focada na produção óleos."
A empresa tem um acordo de vários anos com o conglomerado japonês Mitsui para desenvolver óleos específicos para os mercados químico e industrial.
Em parceria com a Solazyme, a Bunge, multinacional gigante do setor agroalimentar, está construindo uma fábrica ao lado da sua usina de etanol de cana no centro-sul do Brasil. Ela vai usar o açúcar para alimentar as algas e espera produzir até 114 milhões de litros de óleo por ano para produzir sabão e outros produtos.
"Quanto maiores os dividendos que pudermos demonstrar de cada fábrica no começo, mais rápido conseguiremos financiar e construir fábricas", disse Wolfson. A empresa espera vender os óleos cosméticos a um preço 60% superior ao valor de custo, frente a 30% de lucro para os combustíveis e produtos químicos e 40% para os produtos nutricionais.
Uma tentativa de diversificação caiu por terra em 24 de junho, quando a Solazyme dissolveu uma parceria com a beneficiadora de amidos Roquette Frères.
As empresas estavam usando algas para produzir gorduras com baixo teor de saturação e óleos sem gorduras trans, além de um suplemento em pó, o Almagine, que deveria substituir ovos e gorduras saturadas. Mas as empresas disseram não ter chegado a um acordo sobre a estratégia de marketing.
Analistas dizem que as cifras operacionais da empresa sugerem que, por enquanto, ela é mais promessa do que realidade.
No ano passado, a Solazyme teve um prejuízo líquido de US$ 83 milhões sobre um faturamento de US$ 44 milhões. Ela também assumiu uma dívida de cerca de US$ 185 milhões no começo deste ano.
Mesmo assim, os analistas estão otimistas com as perspectivas da empresa, embora alguns manifestem ceticismo quanto à possibilidade de a Solazyme algum dia desenvolver combustíveis.
"Os combustíveis ainda são uma oportunidade para eles", disse Rob Stone, analista de pesquisas que monitora tecnologias limpas. Mas ele acrescentou que a nova capacidade produtiva em escala comercial poderia ser usada inteiramente para satisfazer à demanda nos mercados de maior valor agregado, então talvez não faça mais sentido para a Solazyme esgotar seu espaço produtivo fabricando combustíveis com margem de lucro menor.
"Acho que eles podem fazer uma companhia enorme sem jamais fazer praticamente nada no negócio dos combustíveis."

Mães aderem à higiene natural para condicionar bebê a usar penico

folha de são paulo
JULIANA VINES
DE SÃO PAULO

Valentina tinha um mês quando passou seu primeiro dia sem fraldas. A mãe, Jéssica Bonizzi, 22, depois de perceber que a filha "avisava" quando ia fazer xixi ou cocô, resolveu colocar em prática um método que tinha visto na internet, o EC (do inglês "elimination communication", comunicação de eliminação) ou higiene natural.
A técnica consiste em aprender os sinais que o bebê dá quando vai fazer xixi ou cocô e, na hora H, levá-lo ao banheiro.
"Minha filha dava sinais claros", diz Jéssica. Se ia fazer cocô, ficava vermelha e com o olhar vidrado; se era xixi, dava um gritinho. "Não tinha por que não tentar."
No primeiro teste, Jéssica e o marido já conseguiram 100% de aproveitamento: o sucesso fez com que o casal deixasse as fraldas reservadas só para a hora de dormir ou quando saíssem de casa.
Jéssica faz parte de uma comunidade brasileira no Facebook sobre higiene natural. Na semana passada, eram 373 membros, entre eles Tamara Hiller, parteira alemã radicada na Bahia e uma das pioneiras do método no Brasil.
Hiller conta que a higiene natural se popularizou nos EUA e na Europa na última década e ganha mais adeptos por aqui. Mas, lembra, "trata-se da recuperação de uma prática antiga". "Não usar fraldas é uma realidade em muitas partes do mundo."
A parteira começou a divulgar o método depois do nascimento de sua filha, há seis anos. Segundo ela, a técnica ajuda a evitar assaduras e infecções urinárias, porque o bebê não fica muito tempo sujo, além de gerar menos lixo do que usar fraldas descartáveis e ser mais prático do que lavar fralda de pano.
Ela defende que o processo comece até os três meses, porque a adaptação é mais simples. "O bebê nasce sabendo dar sinais, nós que os ignoramos."
Segundo a pediatra Fátima Rodrigues Fernandes, do Hospital Infantil Sabará, não há estudos mostrando que recém-nascidos tenham controle sobre suas necessidades fisiológicas ou a capacidade de comunicá-las a alguém.
Ela diz que a criança pode até ser condicionada a sinalizar quando vai fazer xixi mas que isso é inútil. "Talvez seja melhor gastar essa energia com outros estímulos, como a visão, que se desenvolve aos poucos."
O pediatra Marcelo Reibscheid, do Hospital São Luiz, concorda. "É forçar o desenvolvimento de uma habilidade em detrimento de outras."
Victor Moriyama/Folhapress
Jéssica Bonizzi, 22, percebeu que a filha Valentina, de um ano e oito meses, dava sinais quando queria fazer xixi ou cocô
Jéssica Bonizzi, 22, percebeu que a filha Valentina, de um ano e oito meses, dava sinais quando queria fazer xixi ou cocô
Tamara Hiller argumenta que a prática deve ser encarada como algo natural.
"Muitas mães percebem que a criança tem uma rotina de fazer xixi depois de acordar. Por que não levar o bebê para um lugar apropriado?"
A produtora Raquel Siqueira Ramos, 30, começou a praticar higiene natural com o filho quando ele tinha seis meses. "Ele começou a fazer cocô sempre na mesma hora, uma vez ao dia."
A ida ao peniquinho de manhã virou rotina, mas com o xixi ela não se arriscou. "O Caio passava o dia todo de fralda." Hoje ele está com três anos e meio e desde os dois não usa mais fraldas.
A veterinária Hellen Martins Simões, 31, que praticou higiene natural com a filha desde o primeiro mês, diz que a técnica melhora a comunicação entre pais e bebê.
"A Maria Julia está com dois anos e não tenta chamar a atenção o tempo todo. Ela sabe que, quando precisar, será atendida."
Para a psicopedagoga Georgia Vassimon, o vínculo entre mãe e bebê já é forte. "Fico pensando se essas crianças não serão superprotegidas." Outra preocupação da especialista é o fato de a maternidade já ser cheia de cobranças. "Seria mais uma coisa para se preocupar?"
Um lado bom da higiene natural é a estimulação do desfralde, afirma a psicóloga Andreia Calçada. "A fralda tira a percepção da criança de que ela fez xixi. Ela nem fica sabendo que xixi existe."
Mas esse estímulo, diz a psicóloga, deve ocorrer quando houver amadurecimento físico. Segundo Fernandes, o controle do esfíncter (músculo que segura o xixi) só acontece por volta dos 18 meses.
Reibscheid recomenda que os pais não voltem atrás depois de iniciarem o desfralde, para não confundir a criança. "Por isso é melhor não ter pressa e esperar que ela dê os sinais."

Rosely Sayão

folha de são paulo

Ideologia do consumo na escola

Nos últimos dias, duas mães me contaram fatos acontecidos nas escolas que os filhos frequentam e que as deixaram bem aborrecidas. São dois exemplos que podem nos ajudar a pensar a respeito do papel da escola no mundo contemporâneo.
A primeira mãe contou que seu filho está num dos últimos anos do ensino fundamental e que a escola tem, anualmente, um evento que envolve as ciências da natureza.
Essa é --ou pode ser-- uma atividade muito boa para os alunos, que precisam usar os conceitos que aprendem na teoria de um modo prático e apresentar o trabalho aos visitantes do evento --em geral pais e parentes--, o que colabora para o desenvolvimento da linguagem oral ligada ao conhecimento.
Essa mãe, de um modo geral, apreciou bastante o acontecimento e ficou orgulhosa da participação do filho. Acontece que, dias depois, a escola enviou aos pais um questionário com o título "Pesquisa de Satisfação", com perguntas referentes ao evento que iam do uso do espaço à performance dos alunos.
Essa mãe não gostou nem um pouco desse questionário e, ao trocar ideias com outros pais sobre o assunto, percebeu que eles se dividem em dois grupos: os que apoiam essa atitude da escola e a consideram um ato de parceria entre família e escola e os que, como ela, não acham a atitude pertinente.
Já a outra mãe contou que a escola que o filho frequenta ofereceu "palestras" para as classes a respeito da nutrição e do valor de alguns alimentos. Acontece que quem ofereceu as tais "palestras" foi uma empresa que produz um desses alimentos, que foi distribuído graciosamente aos alunos após a explanação. Foi o que bastou para deixar essa mãe indignada e a fez procurar outra escola para o filho.
Qual é o elemento comum em situações tão diversas? O fato de pais e alunos serem tratados como consumidores pelas escolas. Sim: no mundo atual, o papel do consumidor tem merecido atenção especial de nossa sociedade, não é verdade? Direitos cada vez mais respeitados, publicidade cada vez mais cara, bens de consumo mais sofisticados. Vivemos na era do consumo.
E a escola? Qual o seu papel social nesse contexto? Repercutir essa ideologia? Claro que não. Cabe à escola, na formação cidadã de seus alunos, usar o conhecimento para que eles, em meio a tantas ofertas e pressão para o consumo desenfreado, possam fazer escolhas conscientes, bem informadas e críticas.
E é bom saber que as escolas, quer queiram ou não, formam cidadãos, principalmente no "currículo oculto", ou seja, aquilo que é ensinado pelas atitudes tomadas, como essas de nossos exemplos.
Os mais novos não vão à escola para satisfazer os pais, deixá-los orgulhosos ou para aprender a consumir. O mundo já se encarrega desse último item, muito bem por sinal.
Eles vão à escola para, por meio do conhecimento, entender melhor o mundo, desenvolver senso crítico e ser capazes de pensar de modo diferente de seus pais. É justamente isso que possibilita que o mundo mude, não é verdade? Ou queremos que eles vivam como seus pais?
Se, no entanto, a escola não pensar minuciosamente naquilo que ensina de todas as formas, ficará submetida a várias ideologias, principalmente a do consumo. É isso que queremos para os mais novos?
rosely sayão
Rosely Sayão, psicóloga e consultora em educação, fala sobre as principais dificuldades vividas pela família e pela escola no ato de educar e dialoga sobre o dia-a-dia dessa relação. Escreve às terças na versão impressa de "Equilíbrio".

Marcelo Ninio

folha de são paulo
FOCO
China cria lei que obriga contato entre filhos e pais idosos para evitar abandono
MARCELO NINIODE PEQUIM
Os filhos desnaturados que se cuidem. Uma lei que entrou em vigor ontem na China exige que os cidadãos do país visitem seus pais idosos regularmente, ou ao menos mantenham contato com eles, sob risco de processo.
A medida foi recebida com ceticismo e até deboche por muita gente, que rejeita a intromissão do Estado em assuntos de família e duvida que a lei possa ser aplicada.
Para outros, essa emenda à lei de proteção aos idosos serve de alerta para os desvios que a urbanização acelerada impôs à tradição chinesa de unidade familiar.
Somam-se a isso a política de filho único e o rápido envelhecimento da população e o resultado é um número cada vez maior de idosos abandonados.
Ninguém parece saber muito bem como a nova lei irá melhorar a situação, já que ela não especifica a regularidade com que os pais devem ser visitados nem a punição que será aplicada aos que a ignorarem.
Especialistas criticam o conteúdo vago da lei, observando que ela errou o alvo, já que a responsabilidade de assistência social deve ser dividida com o Estado. Segundo números oficiais, 45% dos chineses não têm plano de aposentadoria.
"O foco deveria ser assegurar aposentadorias e benefícios sociais adequados aos idosos, algo mais fácil de implementar", disse ao jornal estatal "Global Times" o sociólogo Yu Shaoxiang.
Casos recentes de abandono e maus-tratos a idosos causaram choque. Um dos mais comentados foi o de um agricultor da província de Jiangsu (leste), que manteve a mãe de 100 anos morando num chiqueiro.
Ainda assim, para muitos parece absurdo usar a lei em nome da unidade familiar.
"Cuidar dos pais é uma obrigação moral. Se isso vira uma lei, é sinal de que a situação é grave", lamenta Bai Yu, 32, que trabalha numa firma de relações públicas em Pequim.
Natural de Helongjiang, província no extremo norte do país que fica a mais de 1.000 km da capital, ela diz que simplesmente não tem tempo nem dinheiro para visitar os pais regularmente. "Eles entendem isso", diz.

FABRÍCIO CARPINEJAR - Eu sou bonito

Zero Hora - 02/07/2013

Parei de pintar as unhas depois de sete anos.

Parei de desenhar palavras na cabeça depois de cinco anos.

Parei de usar óculos coloridos de mosca depois de quatro anos.

Eu me escondia na extravagância, me ocultava com o exagero.

Ninguém falaria direto de minha feiura porque enxergaria primeiro as unhas pintadas, em seguida os cabelos estranhos, logo mais os óculos coloridos. O excesso de informação me salvaria do deboche.

Matava os olhos alheios pelo cansaço.

Atravessei minha vida distraindo o interlocutor com acessórios e disfarces. Ele não me via, ele me perdia com tanta coisa para olhar.

Se não havia jeito de anular o julgamento, complicaria o veredicto. Realmente me protegia do desaforo na irreverência. Era uma tática de guerra contra o bullying.

Como não tinha como não chamar atenção, busquei dominá-la, direcionar o alvo.

No fundo, jamais resolvi minha timidez, apenas criei um personagem para mediar os conflitos. Carpinejar foi meu amigo imaginário, Fabrício não passava de um menino encabulado vestindo as fantasias coloridas do escritor.

Mas cansei, não quero mais lutar contra a aparência, não pretendo mais combater nada nem ninguém.

Não é desistência, é aceitação de como sou. É serenidade. É sabedoria da precariedade.

Desejo a simplicidade, atrair o respeito tão somente pela voz e pelas ideias.

A alegria será a minha única loucura, o amor será meu único escândalo, a amizade será a minha mais veemente alegoria.

É óbvio que Juliana está sendo culpada pela transformação. Sempre a mulher do sujeito é dita como a responsável pela metamorfose. Como se o homem carecesse de personalidade para assumir suas escolhas.

Mas ela não fez nenhum pedido. Não interferiu em absolutamente coisa alguma. Jamais criou um pré-requisito ou estabeleceu uma condição para permanecermos juntos.

Sua existência é que me modificou. A partir dela, não preciso mais mentir, ocultar, distorcer, fingir, omitir, trapacear, exagerar.

Não tenho o porquê de não me apresentar inseguro e provisório.

Há agora em mim a honestidade de se entregar por completo, e não se envergonhar dos medos.

O que posso dizer é que com Juliana eu me sinto finalmente bonito.

Eu sou bonito. Queria dizer que eu me acho bonito.

E não guardo receio de que alguém pense o contrário.

Sou bonito. Meu espelho é a verdade, não mais a beleza.

Clovis Rossi

folha de são paulo
Quando a rua é golpista
A praça Tahrir está substituindo o Parlamento e chamando os militares de volta ao poder
Nesta hora em que se tornou praticamente compulsório tomar a voz das ruas como a de Deus, é bom deixar claro que há momentos em que a rua é golpista. No Egito, é assim.
A praça Tahrir, que foi o ponto de encontro que derrubou a ditadura de Hosni Mubarak há dois anos, agora lançou-se abertamente à deposição de Mohammed Mursi, o primeiro presidente eleito democraticamente na história egípcia.
"A praça Tahrir é o verdadeiro Parlamento, e é nela que um voto de desconfiança ao presidente está sendo dado", escreve Boaz Bismuth, para o conservador jornal israelense "Israel Hayom".
Essa anarquia provoca uma inversão das alianças feitas para derrubar Mubarak: naquela ocasião, os jovens liberais e de esquerda que lideravam os protestos aceitaram a tímida adesão da Irmandade Muçulmana contra um regime que tinha o respaldo das Forças Armadas (até que os Estados Unidos retiraram o apoio ao ditador).
Agora, os jovens liberais e de esquerda pedem que os militares destronem Mursi, que saiu dos quadros da Irmandade Muçulmana.
Nem é um apelo disfarçado. O socialista Hamen Sabbahi, um dos dois grandes líderes da oposição (o outro é Mohammed ElBaradei) incitou o Exército a intervir para "fazer respeitar a vontade do povo". O Exército ouviu e deu prazo de 48 horas ao presidente para atender a rua.
Vamos ser claros: é golpe. Não se inventou ainda outra maneira de medir "a vontade do povo" que não seja a velha e boa eleição livre e justa. No Egito ou no Brasil.
A de Mursi foi assim, pela primeira vez na história do Egito. Só outra consulta similar pode anulá-la.
Que a gestão do presidente não foi propriamente brilhante não há dúvida. O crescimento nos primeiros nove meses do presente ano fiscal foi de apenas 2,3%, insuficiente para um país que já vinha em crise no final do período Mubarak. O desemprego, em consequência, subiu de 12,5% no primeiro trimestre de 2012 para 13,2% em 2013.
O deficit fiscal aumentou 48% na comparação com o ano anterior e o endividamento externo já bateu em 80% do Produto Interno Bruto.
Um mau desempenho econômico deve servir como propaganda para a oposição, mas não para derrubar um presidente legítimo, ainda mais um que está há apenas um ano no cargo e teve uma herança maldita.
O Ocidente, que deu apoio à derrubada de Mubarak, repetirá a sustentação agora que a vítima será um presidente legítimo?
Seria um erro. A Irmandade Muçulmana de Mursi tem sólida e antiga implantação popular. Velha de 85 anos no Egito, substituiu o Estado junto a setores populares de que sucessivas ditaduras jamais cuidaram devidamente. É por isso que ganhou a eleição há um ano.
Aliás, vale a mesma observação para países vizinhos também afetados pela chamada Primavera Árabe, que resultou na ascensão dos braços da Irmandade em cada um deles. Ou seja, ganharam pela presença constante, não pela suposta ou real agenda islamita de que tanto se desconfia no Ocidente.
Interditar a Irmandade "manu militari" equivale, pois, a revogar a Primavera.
crossi@uol.com.br

    LUÍS AUGUSTO FISCHER - João, Caetano, Vitor

    Zero Hora - 02/07/2013

    João Gilberto em entrevista de 1971, respondendo a pergunta acerca de uma eventual identificação sua com Caetano Veloso: “Não sei bem. Eu vejo mais o Caetano como um pensamento. Sabe, para mim, o Caetano é um pensamento. Acho que existe alguma identidade, porque no fundo o Caetano em música procura o mesmo que eu”.

    Fonte: o essencial livro João Gilberto, organizado por Walter Garcia para a editora Cosac Naify, contendo todas as entrevistas dadas pelo gênio-zen da bossa nova, mais uns depoimentos e ensaios sobre o papel dele nessa história toda.

    O que é que João e Caetano procuram, desde tanto tempo? Os dois querem ao mesmo tempo o passado e o futuro, a aldeia e o universo, o jeitão local e a dicção cosmopolita; estendem uma mão para alcançar a tradição e a outra para acompanhar o tempo que vem vindo; entenderam que caminhar para diante depende de saber de onde é que as coisas vieram. Por isso é que há um pensamento atrás de tudo, uma consciência que se faz voz.

    Vitor Ramil, em e-mail desses tempos: “Ao convidar Caetano para cantar (a Milonga de Los Morenos, no CD délibáb) comigo, eu estava seguro de que sua voz, por tudo que representa, iluminaria a ponte que ela estabelece entre as milongas de Jorge Luis Borges e as de João da Cunha Vargas, uma ponte que se estende entre a musicalidade brasileira e a sul-americana”.

    A fonte: o imperdível songbook Vitor Ramil, lançado semana passada (junto com o CD duplo Foi no Mês que Vem), pela editora Belas-Letras. O livro conta com as minuciosas partituras de 62 canções, de todos os discos que já gravou, além de trazer uma excelente reportagem biográfica por Juarez Fonseca, um criativo ensaio de Celso Loureiro Chaves e um texto deste vosso criado aqui.

    Caetano não apenas canta essa milonga: ele funciona como uma referência, um pensamento (que canta), um marco na paisagem para Vitor. Tendo tomado a lição de João Gilberto, Caetano continuou e segue em frente; Vitor, que cresceu ouvindo os dois (e o tango, e tanta coisa mais), entendeu o recado, repensou o já pensado e, com talento e teimosia, chegou lá, no lugar em que a melhor arte brasileira olha para as coisas e de onde retorna para nos dizer como é que é, como é que fica.