sexta-feira, 6 de junho de 2014

OMAHA:DE PRAIA SANGRENTA A SANTUÁRIO DA LIBERDADE

A Tarde 06/06/2014

MEMÓRIA A TARDE percorreu o roteiro do teatro da guerra e relata o desembarque



JC TEIXEIRA GOMES
Da Normandia, Especial para
A TARDE

“Nesta praia só ficarão dois tipos de homens: os que já morreram e os que vão morrer”. Com esta frase terrível o coronel americano George Taylor resumiu a dramática situação dos fuzileiros navais encurralados na praia de Omaha, na Normandia, no dia seis de junho de 1944, sob impiedoso fogo de canhões, metralhadoras, morteiros e fuzis dos nazistas entrincheirados.

O desembarque das tropas aliadas, que exatamente no dia de hoje completa setenta anos e será objeto de comemorações no mundo inteiro, constituindo uma extraordinária façanha militar jamais igualada, apressou a libertação da França, da Europa e o fim do regime de Hitler.

A praia sangrenta

Omaha Beach passou à posteridade como “a praia sangrenta”, tal a enormidade das perdas dos EUA nas primeiras horas de combate, iniciado na madrugada de seis de junho: entre mortos e desaparecidos foram cerca de duas mil e quinhentas baixas, com os corpos mutilados
acumulando-se nas areias ou boiando nas ondas agitadas, pois muitos soldados se afogaram antes de iniciar a luta, caindo no mar com o peso do equipamento, ao tentar sair das barcas de transporte Higgins. No total, os aliados perderam cerca de 10 mil soldados no primeiro dia do confronto.

O roteiro do teatro da guerra inclui quase mil quilômetros de pontos vitais como a cidade de Caen e seu famoso Memorial, toda a extensão d praia sangrenta com os seus monumentos, e a pequena cidad de Sainte Mère Église, famosa pelos combates e pelo fato surpreendente de um paraquedista
americano ter-se enroscado na torre da igreja.

Passa ainda pelas escarpas da “Pointe du Hoc”, soberba elevação sobre o mais extenso promontório da Normandia. Desta parte privilegiada, os nazistas podiam, com artilharia encravada, atacar simultaneamente as duas áreas mais importantes do desembarque, as praias de Utah e Omaha, ao lado das praias de Juno, Gold e Sword, todas objeto da Operação Overlord, nome genérico da ação comandada pelo general americano Eisenhower.

Tudo parecia perdido

O meticuloso planejamento do desembarque parecia ter falhado em grande parte do primeiro dia na praia de Omaha, onde a encarniçada reação nazista dizimava as tropas invasoras.

O mais graduado general americano após Ike, Omar Bradley, chegou a conceber um recuo e o recolhimento das tropas, enquanto outros chefes militares imaginavam um retorno aos navios.

Estes, desde as horas iniciais da manhã, não paravam de atirar contra as fortificações alemãs, ajudados por um dos mais intensos bombardeios aéreos da II Guerra Mundial. A infantaria americana, porém, estava acuada e imobilizada nas areias.

Ironicamente, a única proteção de que os invasores dispunham contra a fuzilaria mortal eram os obstáculos que o marechal Rommel tinha mandado espalhar pela costa normanda: armações metálicas conhecidas como tetraedros, triângulos e ouriços de aço, madeiras transversais fincadas nas areias, chamadas de “os aspargos de Rommel”.

Além destas peças, milhões de minas protegiam a Muralha do Atlântico, organizada pelo marechal que ficara famoso como “a raposa do deserto”, nas lutas da África.

Completava a defesa da extensa costa, ao lado da enorme concentração de tropas, abrigos subterrâneos de concreto, recheados de canhões, potentes e espessas casamatas de aço e cimento com peças de artilharia, canhões antitanques, abrigos de morteiros, bases de lançamento de foguetes, bem como uma infinidade de ninhos de metralhadoras e quilômetros de arame farpado em pontos estratégicos.

Para superar os obstáculos e proteger a infantaria, os aliados inventaram tanques flutuantes, 27 dos quais afundaram por inabilidade desastrosa logo no primeiro dia, e tanques removedores de minas. Tudo funcionara mal nas ações iniciais.

O milagre do avanço
O avanço das tropas em certas áreas parecia um milagre militar. Mais do que o prolongado treinamento militar e as informações acumuladas pelos aliados sobre as defesas alemãs durante três anos, a enormidade da armada invasora e o poder de fogo dos seus navios e aviões acabaram tornando triunfante o desembarque ameaçado.

Implacáveis em terra, os alemães não dispunham de aviões para combater os aliados. ALuftwaffe de Goering já se aproximava do colapso, os poucos aviões nazistas na Normandia tinham sido transferidos por um erro inconcebível de comando.

Na verdade, as belas praias da Normandia não constituem um cenário de guerra. Toda a Normandia é um estirão de terras verdes cultiváveis, repleto de fazendas com cercas vivas (que tanto dificultaram a movimentação dos tanques e blindados aliados) e praias paradisíacas,
foi feita para a alegria e a confraternização do homem com a natureza.

Um dos marco locais é a presença do cemitério normando das tropas norte-americanas, que abriga quase dez mil corpos dos fuzileiros mortos não apenas nos primeiros momentos da ação, mas, igualmente, no curso dos ferozes combates travados no interior para expulsar os nazistas das cidades que ocuparam durante longos anos.




Paraquedista

A pequena cidade de Sainte Mère Église ficou com destaque na história da invasão por um fato incrível: descendo no lugar errado como tantos dos seus colegas, que logo foram fuzilados pelos soldados nazistas, o paraquedista americano John Steele enroscou seu equipamento na torre da igreja normanda,e láf icou, pendurado e exposto, ensurdecendo-se com o sino.

Localizado por um soldado alemão, recebeu um tiro no pé, foi capturado e depois resgatado. Os habitantes da cidade cotizaram-se e mandaram colocar no mesmo lugar, no topo da igreja, um manequim de paraquedista com o tamanho de um homem, que até hoje relembra para os visitantes a história de Steele. Mais de doze invasores morreram ao cair no centro da cidade, onde moradores e tropas alemães se empenhavam em apagar um incêndio, em cujas chamas estouraram alguns dos paraquedistas desgarrados, portadores de explosivos. Ao lado dessas tragédias, Sainte Mére ficou nas crônicas pela rudeza dos combates para conquistá-la, pois os aliados consideravam-na um
entroncamento vital para sua penetração em direção ao interior da Normandia e Paris. A marcada aventura de Steele é visível emvários pontos, inclusive no formato do Museu de Guerra lá existente: um paraquedas aberto, de cimento branco.

Ponta du Hoc

O nome “Pointe du Hoc”, em francês, talvez não seja familiar aos leitores, mas o local é cultuado na Normandia como um dos pontos mais relevantes nos combates de seis de junho de 1944. Trata-se da mais longa projeção da costa normanda rumo ao Atlântico, um promontório em cima de
escarpas de trinta metros de altura, em que os nazistas se instalaram para atirar nos invasores, atingindo simultaneamente as praias de Utah e Omaha. Um lugar, portanto, essencialmente estratégico.

Na madrugada de seis de junho, antes mesmo de começar o desembarque, para ali rumou um comando especial composto de 225 soldados sob a chefia do coronel James Rudder, herói de guerra. Não é difícil imaginar o que poderia ter acontecido a um grupo de homens subindo por falésias rudes e abruptas, com tropas inimigas a metralhá-los lá de cima: apenas 99 sobreviveram e conseguiram dominar os nazistas, para descobrir, decepcionados, que ali não estavamos canhões denunciados pela Resistência francesa.

Mas lá se encontravam, afinal, as imensas casamatas de cimento e aço,umadas quais, tendo resistido aos frequentes bombardeios que espalharam crateras gigantescas em toda a área.O acesso se dá por uma estreita abertura, pois tudo era planejado pelos alemães para dificultar ataques e só permitir no interior dos blocos a movimentação das suas guarnições.

Centenas iguais àquela estavam disseminadas por toda a Normandia e foramo único legado que restou das defesas planejadas por Rommel e seus engenheiros.

Caen

Caen, uma das cidades mais belas e importantes da Normandia, foi completamente destruída durante os combates ente as tropas aliadas e os nazistas lá encastelados havia quatro anos. Pelo nível da devastação a que foi submetida, até porque os alemães em retirada imitaram o que fizeram em Varsóvia e atacaram e incendiaram prédios, Caen ganhou o apelido de “cidade- martírio”. Hoje, restaurada e novamente bela, é sede universitária repleta de barulhentos estudantes.

Ao lado da sua relevância na crônica da guerra, Caen é hoje um centro indispensável de romaria dos estudiosos, pelo magnífico memorial que lá foi construído,não apenas alusivo às batalhas normandas, mas a II Grande Guerra em geral.

Dividido em duas seções, “O Mundo antes e depois de 1945”, o Memorial de Caen fala-nos da falência da paz, dos anos negros da França, da guerra total e das batalhas da Normandia, das cidades destruídas, do confronto das ideologias, das crises geradas pela guerra fria, do equilíbrio provocado pelo terror atômico, das ameaças da crise de Berlim, e exibe ao visitante o filme “Esperança”.


O acervo inclui displays e documentos sobre o domínio nazista, propaganda ideológica, o governo de Petain, a perseguição aos judeus, campos de extermínio e concentração, filmes dos guetos na Europa, a liberação de Paris, a batalha da Inglaterra, a invasão da Polônia, cidades destruídas, o cerco de Leningrado e a batalha de Stalingrado, fotos do desembarque na Normandia, a bomba atômica etc. Em suma, tudo aquilo que o ser humano não deve esquecer nunca (e esquece sempre), exibindo os horrores e a insânia de todas as guerras.

TeVê

TV paga

Publicação: 06/06/2014

 (Les Films du Poisson/Divulgação)

Drama ou romance?


Um casal vive feliz com seus quatro filhos em um vilarejo da Austrália. Depois da morte repentina do pai, Simone, de 8 anos, passa a dividir um segredo com sua mãe, Dawn: ela acredita que seu pai pode conversar com ela através das folhas de sua árvore preferida e passa horas ali, sentindo a presença dele. Esse é o enredo do filme A árvore, de Julie Bertuccelli, com Charlotte Gainsbourg (foto). Confira às 22h, na Cultura.

De Niro lidera elenco de
fita do Telecine Premium


Hoje tem estreia no pacotão de filmes: é a comédia O casamento do ano, com Robert De Niro, Diane Keaton, Susan Sarandon e Amanda Seyfried, às 22h, no Telecine Premium. No mesmo horário, o assinante tem mais oito opções: Condenado à liberdade, no Canal Brasil; Louca obsessão, no AXN; O despertar de uma paixão, na MGM; Hedwig – Rock, amor e traição, no Max; Uma ladra sem limites, no Telecine Pipoca; Prometheus, no Telecine Action; Campo dos sonhos, no Telecine Cult; e Chinatown, no TCM. Outras atrações da programação: Rocco e seus irmãos, às 21h30, no Arte 1; O Besouro Verde, às 22h20, no Universal Channel; e De pernas pro ar 2, às 23h50, no Megapix.

Nova série do Discovery
analisa mães compulsivas


Novidade no Discovery Home & Health: às 22h20, o canal estreia a série Mães fora de controle. Dividida em seis episódios com uma hora de duração, a produção acompanha famílias nas quais as mães são emocionalmente instáveis e desenvolveram compulsão direcionada a diferentes comportamentos.

Documentário relembra
os horrores do nazismo


Dois documentários merecem atenção especial do assinante. Às 18h, o canal +Globosat exibe Terra em erupção, que acompanha o trabalho de cientistas que exploram os vulcões ativos no Havaí, como registra o Observatório de Vulcões, que monitora toda a atividade vulcânica da ilha. Às 23h30, no Curta!,
Memórias dos campos revela os horrores dos campos de concentração nazistas.

Multishow vai de samba,
o canal Bis prefere o rock


O Multishow vai transmitir hoje, ao vivo, a partir das 23h15, o show do cantor Zeca Pagodinho, comemorando 30 anos de carreira com seus grandes sucessos. No canal Bis, às 21h, vai ao ar um especial relembrando os melhores momentos da última edição do Rockness Festival.


CARAS & BOCAS » Chá da tarde
Simone Castro/simone.castro@uai.com.br

Palmirinha, Karina Bacchi e Guinho, em gravação de mais um programa da culinarista   (Fox Life/Divulgação)
Palmirinha, Karina Bacchi e Guinho, em gravação de mais um programa da culinarista

Com seu jeitinho suave, a culinarista Palmirinha Onofre recebeu a atriz e apresentadora Karina Bacchi, na terça-feira, para a gravação de mais um programa da nova temporada de sua atração na Fox Life (TV paga). As duas, com a presença do boneco Guinho, o inseparável companheiro de Palmirinha, dividiram um chá da tarde, com direito a bolo, chá e docinhos, em um cenário que remete ao estilo “casa da vovó”, todo em tons pastéis, cheio de detalhes e num clima bem aconchegante. A convidada mostrou ainda seus dotes culinários e fez a receita de bruschetta. No bate-papo, falaram sobre carreira, família, a vida no interior e, claro, guloseimas. Uma tarde inesquecível para Karina: “Palmirinha é muito amorosa, a vovó que todos gostariam de ter”, disse. Palmirinha, que vai completar 83 anos em julho, voltou à ativa depois de cinco meses longe da TV, cuidando de uma grave infecção urinária.

NEYMAR CONFESSA CIÚMES
DAS CENAS DA NAMORADA


O Caldeirão do Huck (Globo) vai mostrar amanhã a entrevista que Luciano fez com o jogador Neymar, na Europa. Agora reconciliado com a namorada, a atriz Bruna Marquezine, ele admitiu que banca o “zagueirão” fora de campo, segundo o site oficial do programa. “Sou ciumento!”, confessou o craque, que revelou não assistir às cenas românticas dela na novela Em família: “Parei de assistir faz um tempo... e olha que eu sou noveleiro!”. Em tempos de Copa do Mundo, um aviso não podia faltar, e Neymar deu: “Chegou a hora! Prometo dar o meu melhor”. Davi Lucca, filho do jogador, fez uma participação especial na matéria.

SAIBA O QUE SE DEVE FAZER
PARA ENFRENTAR AS CHUVAS


O Globo ecologia deste sábado aborda a necessidade de as cidades se planejarem para enfrentar o desastre natural que mais afeta o Brasil: as fortes chuvas, que, mais frequentes por conta das mudanças climáticas observadas nas últimas décadas, atingem milhões de pessoas. A reportagem detalha algumas estratégias que vêm sendo implementadas – entre elas, um sistema de monitoramento e alerta de desastres naturais, com um complexo que dá cobertura a 310 municípios.

AUTOR RECLAMA DE TEMPO
DE GAME OF THRONES NA TV


George R. R. Martin, autor da saga As crônicas de gelo e fogo, que originou a série Game of thrones, atração do canal HBO (TV paga), disse, em entrevista à revista Entertainment weekly, que sete temporadas serão insuficientes para “contar a história que estamos contando nos livros”. Os roteiristas David Benioff e D. B.Weiss declararam à revista Vanity fair que pretendiam encerrar a série em sete ou oito temporadas. Para Martin, a série deveria ter mais tempo. “Como tenho dito por anos, eu gostaria que eles tivessem mais horas. Toda vez que vejo outros programas da HBO, eu imagino por que nós só temos dez e eles têm 13. Mas nós fizemos algumas coisas grandes esse ano, como o casamento roxo e o julgamento de Tyrion (Peter Dinklage). E o julgamento por combate foi incrível também.” George R. R. Martin lamentou, ainda, que trechos dos livros acabem fora dos episódios. “Eu gosto de muitas das cenas que eles colocaram, mas sinto falta de algumas que ficaram de fora. Obviamente, eu as coloquei no livro por alguma razão, sinto que elas acrescentavam algo à história.”
 (Nickelodeon/Divulgação)

DORA BATE BOLA

Em clima de Copa do Mundo, vai ao ar, a partir de segunda-feira, às 8h30, no canal Nickelodeon (TV paga), o especial A grande partida de futebol da Dora (Dora super soccer showdown). Os fãs da animação vão acompanhar a viagem de Dora (foto) ao Brasil para jogar no grande torneio de futebol. Dora e seu time têm a missão de vencer os monstros e levar para casa um belo troféu!

VIVA
“Acorda, Luiza!”. A garota mimada, personagem de Bruna Marquezine, ouviu um sermão e tanto da avó, Chica, em mais uma cena de destaque de Natália do Vale na trama de Em familia (Globo).

VAIA
Totalmente desnecessária a explicação de William Bonner sobre a “bufada” ao vivo de Patrícia Poeta, no Jornal nacional (Globo). Com direito a abertura do noticiário, então, foi uma prova de antijornalismo. 

Brasil em casa‏ - Ailton Magioli

Brasil em casa 

Maria Bethânia lança disco com canções que remetem à infância e ao povo brasileiro. Meus quintais tem composições de autoria de Dori Caymmi, Tom Jobim e Chico César 

 
Ailton Magioli
Estado de Minas: 06/06/2014


Bethânia diz que novo álbum reflete a memória dos bons momentos passados ao lado dos irmãos     (Tomas Rangel/Divulgação)
Bethânia diz que novo álbum reflete a memória dos bons momentos passados ao lado dos irmãos

Preparando-se para comemorar meio século de carreira em fevereiro do ano que vem, Maria Bethânia volta a surpreender público e crítica com o lançamento de Meus quintais, disco de carreira conceitual, no qual canta como ninguém coisas do Brasil, como índios e povos, que considera os verdadeiros donos do país.

Com uma única regravação –, o clássico Mãe Maria, de Custódio Mesquita e David Nasser –, o primeiro disco que Bethânia faz depois da morte da mãe, Dona Canô, na verdade segue a reconhecida linha de trabalho da artista que, nos últimos anos, brindou os fãs com pérolas fonográficas como Maricotinha (2001) e Brasileirinho (2003), entre outras.

Meus quintais abre (Alguma voz, de Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro) e fecha (Dindi, de Tom Jobim e Aloysio de Oliveira) com o requinte característico da cantora baiana, acompanhada, ao piano, por André Mehmari e Wagner Tiso, respectivamente. “Trata-se de dois pianos diferentes e extraordinários. Felizmente, eles têm um entendimento do meu cantar”, disse na entrevista coletiva on-line, realizada na manhã de ontem, no Rio de Janeiro, onde vive a cantora baiana.

Entre uma faixa e outra, respinga a reconhecida brasilidade do repertório de Bethânia, que vai do samba de roda à folia de reis, passando por outros gêneros. A essência de tudo, claro, é a canção brasileira, à qual Maria Bethânia dispensa o carinho de sempre.

Do Xavante, de Chico César, aos Povos do Brasil, do novato Leandro Fregonesi, passando pela Lua bonita, de Zé Martins e Zé do Norte, Imbelezô eu/Vento de lá, de Roque Ferreira, e Uma Iara/Uma perigosa Yara, de Adriana Calcanhotto sobre texto de Clarice Lispector editado por Fauzi Arap e pela própria cantora, Bethânia é o que Chico César classifica como “o arco da velha índia/ é corda vocal insubmissa”, em Arco da velha índia.

Ela conta que a escolha da parceria de Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro (Alguma voz) para abrir o disco foi feira porque, “de algum modo, a canção é uma memória minha com os meus irmãos. Este disco é para os meus, para os da minha casa”, afirma. “Deus sempre ali, na janela do horizonte, cantando, trabalhando.”

Infância

A presença de crianças nos vocais de Meus quintais, segundo a cantora, tem a ver com a rica formação vivida em Santo Amaro da Purificação, no Recôncavo Baiano. “A infância é o broto de tudo”, reconhece ela, que diz ter tido “a felicidade de uma linda família, com oito irmãos e muitos primos em companhia dos quais curtiu a infância, com direito a “educação muito boa, em escola pública, rigorosa, e muito amor”.

“Meus pais se amaram muito. Isto era nítido entre eles”, admite a cantora, cuja infância “era festa o tempo todo”. “A infância pode, sim, construir a pessoa”, diz Maria Bethânia, que pôde desfrutar de muita música em uma das principais fases da vida, conforme reflete agora em Meus quintais.

Enquanto em discos anteriores ela apresentava o sentimento do povo brasileiro, dessa vez ela canta o que é dela. “Acho o quintal o melhor lugar do mundo, onde aprendi absolutamente tudo, com a característica liberdade do espaço”, afirma Bethânia. Caçula da família Veloso, a cantora lembra da sorte de ter os irmãos por perto na infância. “Caetano está acima de mim. Sorte tê-lo nas brincadeiras, silêncios e observação do quintal”, reconhece. “O quintal é família, sexo, agasalho. Tudo começa ali”, conclui a cantora, que segue fazendo o show Carta de amor.

NEUROLOGIA » Pressão alta depois dos 50 prejudica a memória‏

NEUROLOGIA » Pressão alta depois dos 50 prejudica a memória
Flávia Franco
Estado de Minas: 06/06/2014


A lista de complicações ligadas à hipertensão é longa: riscos de infarto, acidente vascular cerebral (os populares derrames), angina e insuficiência cardíaca. Um estudo que acaba de ser divulgado indica que há também a chance de desenvolvimento de problemas que estão além do sistema cardiovascular. Cientistas do Instituto Nacional sobre Envelhecimento dos Estados Unidos alertam que a pressão alta depois do 50 anos pode afetar a memória e a capacidade de pensamento.

Detalhada na revista Neurology, da Academia Americana de Neurologia, a pesquisa foi feita com mais 4.057 participantes livres de demência. Os voluntários tiveram a pressão arterial aferida na meia-idade (por volta dos 50 anos) e quando se tornaram idosos, com 76 anos, em média. Além disso, foram submetidos a exames de ressonância magnética para a análise da estrutura do cérebro e a busca de possíveis danos a pequenos vasos cerebrais. Também fizeram parte do experimento testes que mediram a capacidade de memória e de raciocínio.

Lenor Launer, líder da pesquisa, conta que constatou-se que alterações causadas pela pressão arterial durante a velhice dependiam do histórico de hipertensão na meia-idade. O estudo associou elevações nas pressões sistólica e diastólica (números mais alto e mais baixo indicados na medição, respectivamente) a um risco maior de lesões e pequenas hemorragias no cérebro.

Os problemas foram ainda mais evidentes nos voluntários que não apresentavam quadros de hipertensão por volta dos 50 anos. A cientista explica que pessoas sem nenhum histórico do problema, mas que apresentaram elevação na pressão diastólica na velhice, tiveram um risco 50% maior de desenvolver lesões cerebrais severas do que indivíduos com pressão baixa na terceira idade.

Depois dos experimentos, constatou-se também que, em voluntários com histórico de hipertensão na meia-idade, quadros de pressão diastólica menor na velhice estavam diretamente relacionados a um menor volume cerebral. Esse fato seria o responsável pela interferência na memória e no desempenho do raciocínio. Segundo Lenor, tratar a pressão alta em idosos sem histórico da doença pode ser benéfico. “Essas pessoas têm grandes riscos de sofrer lesões cerebrais”, alerta.

Cardiologista do Hospital do Coração do Brasil, Sidney Cunha explica que essa suscetibilidade ocorre porque, além do AVC, que obstrui grandes artérias do cérebro, existem artérias microscópicas que podem ser obstruídas. “Quando isso ocorre, há o comprometimento da memória e do raciocínio lógico, principalmente em hipertensos”, diz.

Sequelas Por outro lado, os voluntários que tinham pressão alta na meia-idade, mesmo quando o problema estava sob controle na velhice, apresentaram riscos de maiores sequelas. Os resultados mostram, nesse caso, um risco 10% maior de problemas de memória. “Esses idosos podem ter um encolhimento do cérebro, além de graves problemas de memória e de raciocínio”, afirma a pesquisadora americana.

Para Cunha, a explicação desse quadro mais delicado está associada ao tempo de exposição do organismo humano a uma situação crítica. “Quanto mais tempo de histórico de pressão alta, maior será o risco de dano cerebral, principalmente se a pressão arterial não estiver bem controlada.”

Preocupação nacional

De acordo com pesquisa mais recente do Ministério da Saúde, em 2012, 24,3% da população brasileira tinham hipertensão arterial, contra 22,5% em 2006. O estudo indicou ainda que o risco de desenvolver a doença aumenta com a idade: 3,8% dos entrevistados com 18 a 24 anos disseram ser hipertensos, contra 59,2% participantes com mais de 65. A doença também foi relatada com frequência entre pessoas com diabetes e/ou fatores de risco para doenças cardiovasculares, como colesterol elevado e obesidade.  

PESQUISA SINO-BRASILEIRA » Descoberta nova espécie de pterossauro‏

PESQUISA SINO-BRASILEIRA » Descoberta nova espécie de pterossauro

Vilhena Soares
Estado de Minas: 06/06/2014


Uma nova espécie de pterossauro foi descoberta por pesquisadores chineses em parceria com brasileiros. A identificação do réptil voador extinto surgiu depois de análises de ovos e fósseis encontrados em excelente estado de conservação, no Sudeste da China. Achada em um sítio na província de Hami, perto da Mongólia, a espécie foi batizada de Hamipterus tianshanensis e traz novos dados sobre a morfologia desses animais, como o tamanho e a vivência em grupos.

“Acreditávamos, por exemplo, que somente o macho teria um adorno grande na cabeça, servindo para o acasalamento. Agora, com as novas amostras, vemos que os dois sexos tinham o adorno, mas o do macho era maior”, destaca Taissa Rodrigues, professora da Faculdade de Biologia da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e coautora do trabalho, publicado na Current Biology.

Além disso, a análise mostrou que a envergadura dos pterossauros podia variar de 25cm a 12m. Outra novidade diz respeito à sociabilidade dessa ordem pré-histórica. “Suspeitávamos, mas agora temos uma constatação física, de que eles eram animais mais gregários, viviam juntos em colônias, já que foram desenterradas muitas ossadas no mesmo local, que seriam dos pais e das mães, e cinco ovos encontrados até agora”, diz.

Taissa Rodrigues explica que os ovos em questão são os mais bem preservados achados até agora. “Eles foram encontrados em estado tridimensional, ou seja, estavam mais inteiros e não espatifados, como de costume. Acreditamos que essa conservação tenha se dado pelas tempestades de areia, além da lama, que os cobriram e os protegeram com o passar do tempo. Eles tinham a casca muito fina. Por isso precisavam ser enterrados, para serem protegidos”, destaca. A cientista tem esperanças de que mais ovos possam ser encontrados. “Caso tenhamos sorte, um ovo com embrião também pode existir nesse depósito.”

A pesquisadora da Ufes adianta que o material deve render outros dados relevantes. Segundo ela, os pterossauros são muito frágeis e difíceis de encontrar bem preservados. “Temos alguns fósseis excelentes no Nordeste do Brasil e também na China. A diferença é que, aqui, há várias espécies, e lá existem vários indivíduos de uma só. Esse é um depósito com um potencial enorme”, aponta.

Eduardo Almeida Reis - Leitorado‏

Leitorado 
 
Quando minha visão é contrária à de um articulista ou de um cronista, deixo de ler os escritos de um e outro, que é para não me aborrecer 

 
Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 06/06/2014


Maria S., advogada, escreveu-me informando que está em vias de se tornar ex-leitora. Num segundo e-mail, justificou sua ameaça ao dizer que ando politizando meus escritos e criticando o atual governo, irritando e desgostando meus leitores que, como ela, consideram o avanço social nos últimos anos fato da maior importância: “O fato de um ‘analfabeto’ inteligentíssimo e carismático ter ocupado, e bem, a Presidência, é imperdoável para você. Temos posições políticas contrárias /.../”.

O analfabeto entre aspas é dela, pois não costumo aspear o boquirroto. Em seguida, Maria S. diz que a presidência FHC foi a maior decepção de sua vida, mete o pau no Aécio e no Antônio Augusto, e termina: “Prefiro você como escritor de amenidades com seu senso de humor inusitado e surpreendente”.

Obrigado, Maria S., pelo senso de humor inusitado e surpreendente. Também acho que o Aécio e o Antonio Augusto obraram mal quando não me ofereceram um lugar no conselho fiscal do BDMG. Informo que não aceitaria, mas ficaria muito sensibilizado. Foi grave falha nas carreiras políticas dos dois.

No que respeita às nossas posições políticas, Maria S., devem continuar contrárias, a não ser que você mude de opinião e passe a enxergar o país com lucidez. Gostaria que você soubesse que não digo do Lula e do atual governo a milésima parte do que penso: os fatos e os números falam por mim.

Tenho um truque, Maria S., que funciona muito bem: quando minha visão é contrária à de um articulista ou de um cronista, deixo de ler os escritos de um e outro, que é para não me aborrecer. Bastam-me os aborrecimentos inevitáveis, como o frio que está fazendo no dia em que componho estas bem traçadas.

O pouquinho que falo do Lula e do petismo, diante do que penso, é dever da consciência de um sujeito que tem espaço na mídia impressa e acha que ficar calado seria uma indignidade. Você não perde por esperar, Maria S., porque tenho pensado num blog em que possa falar deles tudo que penso. Registrado o domínio do blog, sei que você não vai perder uma postagem.

Especializações

Há mais de 50 anos, um professor norte-americano, acho que da Universidade de Colúmbia, disse que o homem se especializava em saber cada vez mais sobre cada vez menos, devendo atingir a perfeição no dia em que soubesse tudo sobre coisa alguma. Naquele tempo havia cursos de engenharia que formavam engenheiros. Hoje, as escolas diplomam brasileiros em engenharia elétrica, eletrônica, mecânica, aeronáutica e outras especialidades fantásticas, como a engenharia de tempos e movimentos.

Um dos jornais que assino salpicou suas páginas de cavalheiros e damas especializados em diversos assuntos. De quinze em quinze dias o colaborador escreve sobre rolantins do tip-top, almorreimas, algoritmos ou muscovita, que, como sabe o leitor, é o aluminossilicato básico de potássio monoclínico do grupo das micas, muito usado como isolante. Junto com os especializados, muitos jornais estão sendo transformados em publicações médicas, tantas são as páginas dedicadas à medicina.

Roubos

O Brasil inteiro teve notícia do roubo, em Monte Azul Paulista, de um leão de 300 quilos, peso destacado por toda a mídia. Roubo que talvez tenha sido uma recuperação, porque em Maringá, PR, o autor da proeza se dizia proprietário do animal. Estranhei o peso: tenho aqui The Encyclopedia of Mammals, editada pelo Dr. David Macdonalds, livro imenso que me custou uma fortuna, onde fui conferir a espécie Panthera leo, confirmando que o peso dos machos vai de 150 a 240 kg, enquanto as fêmeas pesam de 122 a 182 kg. A julgar pelo noticiário, o leão padece de obesidade mórbida.

Muito mais “notícia” foi o roubo, no Rio, de quatro vigas de aço especial do desmonte da Perimetral. Cada viga pesava 40 toneladas e aquele aço, produzido para durar 300 anos, não pode ser fatiado como queijo de Minas. As quatro vigas foram roubadas numa única noite e no centro da cidade, operação que exigiu guindaste e carretas especiais. Ficou tudo por isso mesmo e ninguém voltou a falar do assunto.

O mundo é uma bola

6 de junho: faltam 208 dias para acabar o ano e pouquíssimos dias para começar a Copa das Copas. Em 1523, Gustavo I é eleito rei da Suécia e marca o fim da União de Kalmar, que ninguém sabe o que foi, mas a Wikipédia ensina: em dinamarquês, norueguês e sueco a Kalmarunionen foi uma série de uniões pessoais ocorridas entre 1397 e 1521, que unificaram os três reinos da Dinamarca, Noruega e Suécia sob monarca único. E dizer que chegamos a 1914 sem a mais mínima noção da existência da finada Kalmarunionen.

Em 1654 Carlos X sucede a sua prima Cristina, que abdicou do trono da Suécia. Nas pinturas que nos chegaram, a rainha parece um rapazinho. Era taciturna, inteligente e se interessava por livros, manuscritos, religião, alquimia, ciência e mocinhas. Queria que Estocolmo se tornasse a “Atenas do norte”. Seu estilo de vida nada convencional e comportamento masculino seriam tema de vários romances, peças de teatro, óperas e filmes. Por hoje, que é o Dia Nacional de Triagem Neonatal (teste do pezinho), basta de Suécia.

Ruminanças

“Todo o papel higiênico produzido no mundo é insuficiente para a obra do venezuelano Nicolás Maduro” (R. Manso Neto)

A deusa de branco - Carlos Herculano Lopes‏

A deusa de branco
Carlos Herculano Lopes


carloslopes.mg@diariosassociados.com.br
Estado de Minas: 06/06/2014


Um dia desses, no início de uma tarde de muito calor, um ônibus rodava pela Avenida do Contorno. Não ia muito cheio, tinha a metade da sua capacidade, ou pouco mais. Os passageiros, na sua maioria, estavam ensimesmados, entregues aos seus pensamentos. Alguns falavam ao celular; outros verificavam mensagens; e uns tantos, os mais jovens, ouviam música com fones de ouvido. Os demais, como se nada lhes importasse, olhavam pela janela, deixando a vida e o tempo passarem.

Mas tudo mudou de repente quando, nas imediações do Hospital Felício Rocho, quase em frente a um posto de gasolina, uma deusa vestida de branco, que talvez fosse médica ou enfermeira, entrou na lotação. Foi como se um vento forte, ou uma tempestade, dessas inesperadas, tivesse começado naquela hora.

O trocador, que estava cochilando, ajeitou-se na cadeira e abriu um sorriso quando ela lhe entregou o dinheiro da passagem. Um adolescente, com o rosto cheiro de espinhas, que ouvia música, deixou de lado o fone, e se voltou para ela, sem conseguir fechar a boca. Um homem gordo, que ocupava quase toda a poltrona, levantou-se às pressas para oferecer-lhe o lugar. Ao que a bela, com um sorriso, agradeceu.

“Obrigada, mas vou descer ali na frente”, disse aquela mulher. Ela era morena e alta. Tinha olhos negros e rasgados. Seus cabelos, lisos e acastanhados, quase lhe chegavam aos ombros, e a calça, muito apertada, ajudava a realçar a perfeição do seu corpo. “Como pode, meu Deus, uma maravilha dessas andando de ônibus?”, um dos passageiros, que antes olhava pela janela, comentou com o colega ao lado.

Ao que este, fingindo não ouvir, manteve-se calado. Mas seus olhos, sobre os quais não tinha domínio, não conseguiam se desviar daquela deusa, que, daí a pouco, abrindo às pressas a bolsa, tirou o celular, levou-o ao ouvido e disse baixinho, como se revelasse um segredo: “Chego daqui a um pouquinho, meu amor. Vamos, sim, almoçar juntos, naquele mesmo lugar. Estou com muitas saudades....”.

“Ah!, meu Deus, por que não é comigo...”, voltou a comentar o homem com o colega, ao que este, outra vez, o deixou sem resposta, embriagado que estava com tanta beleza. Uns quarteirões adiante, uma ambulância, com a sirene disparada, furou com imprudência o sinal, quase causando uma batida.

 E o carro foi rodando. O calor, que estava forte, tornou-se ainda mais intenso. E entraram e desceram pessoas. E nenhuma delas, por mais que tenha tentado despistar, conseguiu deixar de observar aquela deusa de branco, que, daí a algum tempo, deixando tudo novamente sem graça, deu o sinal e desceu. Em frente ao Colégio Padre Machado, o homem com o qual havia falado ao celular a estava esperando.