quarta-feira, 26 de junho de 2013

Aniversário infantil saudável? - Nina Horta

folha de são paulo
Começa-se a passear pela internet, esse enorme parque de diversões, e de repente descobre-se um blog, aquele te manda para outro, e acaba-se achando alguma coisa da qual não se tinha ideia.
Fui parar no rachellaudan.com. É uma historiadora que gosta de comida e passeia pelo mundo atrás dos seus dois assuntos preferidos.
Em 2011, fez um sucesso de escândalo com artigo que publicou “A Plea for Culinary Modernism: Why We Should Love New, Fast, Processed Food” (um apelo para culinária moderna: por que deveríamos amar a nova e rápida comida processada).
Li o artigo que pode ser encontrado no número um da revista “Gastronomica” e no jornal “New York Times”. Censurava a moda da nostalgia e nos convencia de que a palavra de ordem é a do aperfeiçoamento da comida processada. Descobri que temos algumas ideias em comum, ou meias ideias, sujeitas ainda à verificação.
Por exemplo, acho um exagero separar o lixo em três, se sabemos que ele vai parar no mesmo lixão. Quer dizer, não me importo nada com os três lixos, cada um tem quantos lixos quiser. Mas, de mania em mania, tenho medo que a outra geração saia com medo de comida, apavorada com todos os problemas dos quais tem que cuidar.
No outro dia, numa festa que estava fazendo, vi um menino de uns três anos, surtado, em frente a quatro latas de lixo. Já havia aprendido em casa a lidar com três, mas queria jogar alguma coisa fora e não conseguia adivinhar onde. Tremia de angústia, juro, pequenininho e aterrorizado com o enigma do lixo.
Uma casa de festas nos pediu menus de aniversários infantis saudáveis. Já me arrepio toda, fico com uma pena das criancinhas, no dia do aniversário, comendo sanduíche de pão preto com brotos, bolo de cenoura, vagens e pepinos espetados na coalhada, brigadeiro de tofu! (deve existir). Vão crescer esquisitos em relação à comida, garanto.
É que sou bem ignorante quanto às pegadas que vamos deixando para trás. Como se mede isso? Vejo na TV, num programa sobre crianças (assisto um bocado de TV, é verdade) em que são levadas para parques para plantarem um feijãozinho, com as caras mais felizes de quem está salvando o planeta.
Assisto à saída de carro com a mãe, ao trânsito, ao avental branco e ao sapato ficando pretos de lama, imagino que vai ser preciso lavar o carro, o sapato, o avental na máquina, tomar um banho… Bem, se a criança estivesse em casa assistindo a um desenho ou plantando o feijão na varanda acho que o mundo ganharia uma boa meia hora.
E uma festa para mil no interior, onde não se pode usar nada de papel mesmo sendo reciclável pela santa causa da sustentabilidade? E o transporte dos pratos de caminhão e a lavação de pratos e copos e talheres pelas mulheres contratadas para tal, que vão chegar em São Paulo depois de três horas de viagem e, só então, começar a volta para casa em mais três ônibus? Exaustas? Que sustentabilidade é essa?
Daí me chamarem de antiecológica. Ora, vão ter que acoplar um aparelho medidor de sustentabilidade no meu braço, para me convencer de muita coisa que andam tramando por aí.

Quadrinhos

folha de são paulo
CHICLETE COM BANANA      ANGELI
ANGELI
PIRATAS DO TIETÊ      LAERTE
LAERTE
DAIQUIRI      CACO GALHARDO
CACO GALHARDO
NÍQUEL NÁUSEA      FERNANDO GONSALES
FERNANDO GONSALES
MUNDO MONSTRO      ADÃO ITURRUSGARAI
ADÃO ITURRUSGARAI
BIFALAND, A CIDADE MALDITA      ALLAN SIEBER
ALLAN SIEBER
MALVADOS      ANDRÉ DAHMER
ANDRÉ DAHMER
GARFIELD      JIM DAVIS
JIM DAVIS

HORA DO CAFÉ      ALVES
ALVES

Análise: Isolada do Congresso, presidente flerta com a democracia direta

folha de são paulo
IGOR GIELOW
DIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

País em protestoO presidente do Supremo, Joaquim Barbosa, definiu ontem esta crise de 2013 como "grave", mas ressalvou sua fé na resiliência institucional brasileira. A narrativa futura mostrará se o que aconteceu entre anteontem e ontem irá corroborar seu argumento.
Do ponto de vista político, o governo demonstrou dificuldades. Dilma Rousseff tomou decisões de forma isolada, com o novo "núcleo duro" no qual se sobressai o "primeiro-ministro" Aloizio Mercadante, nominalmente titular da Educação, mas que está a atuar como chefe da Casa Civil na prática.
Primeiro, o governo ofertou ao Congresso a solução da constituinte exclusiva para a reforma política sem combinar com os aliados ou com a Constituição, pelo entendimento de grande parte dos especialistas.
Recuou então com um contorcionismo verbal para dizer que "não era bem isso", mas radicalizou ao tratar do item que mais incomoda hoje: a continuidade dos protestos.
Ao sugerir um plebiscito com perguntas diretas, o Planalto dá uma resposta ao que Barbosa chamou de "necessidade de incluir o povo" no debate político.
Mas poderá atrair mais críticas dos que veem nas iniciativas de democracia direta um flerte com o pior do bolivarianismo preconizado pelo já morto Hugo Chávez.
Até aqui, descartada a polêmica da constituinte, está tudo no regulamento. O problema é que a pressa em oferecer um sinal aos manifestantes criou o risco de tornar um tema complexo em jogo de "sim" e "não".
Quem votou em 1993 pela definição do sistema político lembra da pobreza com que o debate foi feito. A batata quente inevitavelmente cairá no colo do Congresso, que é quem tem a prerrogativa de encaminhar a lista de perguntas no caso de plebiscito --ao Executivo, cabe sugeri-la.
Como a oposição mesmo reconhece, o sistema político precisa de reforma. Ao menos de forma mais imediata, a procrastinação que sempre acompanhou o tema não poderá ser explícita: os manifestantes voltarão hoje à Esplanada dos Ministérios com mais esse item na agenda.
Não por acaso, as duas Casas correram para analisar projetos que já estão ou que podem estar na lista de desejos dos ativistas.
Outro ponto de atrito institucional grande está na relação com Estados e municípios. Ao servir um "prato feito" de medidas díspares a governadores e prefeitos, Dilma angariou mais inimizades.
Sem poder criticar em público neste momento as sugestões de "pacto", sob pena de serem acusados de subestimar a crise nas ruas, os governantes aquiesceram. Mas poucos aceitaram o fato de que Dilma os usou como coadjuvantes ao televisionar seu discurso e desligou as câmeras na hora de ouvi-los.
Isso pode ter efeitos diversos de médio e longo prazo. E, não menos importante, será lembrado na composição dos apoios na eleição de 2014.

minhas 7 quedas - paulo leminski

minhas 7 quedas

minha primeira queda
não abriu o pára-quedas

daí passei feito uma pedra
pra minha segunda queda

da segunda à terceira queda
foi um pulo que é uma seda

nisso uma quinta queda
pega a quarta e arremeda

na sexta continuei caindo
agora com licença
mais um abismo vem vindo

Paulo Leminski 

Painel - Vera Magalhães

folha de são paulo
Discutindo a relação
Excluída do debate que levou ao anúncio de uma constituinte para a reforma política, a cúpula do PMDB fez pesados ataques à decisão de Dilma Rousseff anteontem, em reunião no Palácio do Jaburu. Antes, Michel Temer disse a Aloizio Mercadante (Educação) que a proposta era inviável e que, se tivesse sido consultado, teria feito ressalvas. No motim na residência do vice-presidente, um dos presentes chegou a dizer que estavam querendo implantar o "chavismo" no Brasil.
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Bombeiro Parlamentares que estiveram no Jaburu contam que o ministro da Educação passou todo o dia de ontem tentando aplacar a insatisfação dos aliados.
Fica a dica Ontem, quando Temer foi a Dilma para apresentar sua proposta sobre o assunto, ele deixou claro que gostaria de ter sido ouvido antes do anúncio.
Como assim? Peemedebistas criticaram ainda o fato de o governo ter consultado Fernando Henrique Cardoso. "E o vizinho? Esqueceram do aliado", ataca um cacique.
Bússola Integrantes do governo também se queixaram sobre o fato de Dilma restringir seu rol de conselheiros a Mercadante e Fernando Pimentel (Desenvolvimento). "Ela ouve Mercadante sobre temas constitucionais e Temer sobre economia", ironiza um aliado da presidente.
Alto lá Quando Dilma falou, na reunião com governadores e prefeitos, que a redução de PIS/Cofins dada pelo governo permitiria baixar a tarifa de ônibus, o prefeito de Maceió, Rui Palmeira, disse: "Presidente, não é assim automático". Ela fechou a cara.
Rango livre Integrantes do Movimento Passe Livre que estiveram com Dilma anteontem chegaram à reunião sem almoçar. Ministros da presidente, como Gilberto Carvalho (Secretaria Geral), pediram que funcionários providenciassem sanduíches para os ativistas.
Sintonia... A proposta de reforma política não chamou a atenção dos espectadores do pronunciamento que Dilma fez em cadeia nacional de TV na última sexta-feira. Pesquisas que chegaram ao governo mostram que apenas 10% deles citaram o projeto como um dos principais temas da fala da presidente.
...fina O tópico mais lembrado foi o fato de Dilma ter reconhecido que os "manifestantes têm direito de questionar e criticar tudo", com 23%. O levantamento foi feito no sábado em São Paulo, Salvador, Brasília e Rio.
Sem clima A turbulência provocada pelas manifestações suspendeu indefinidamente as viagens de Dilma e Lula pelo Brasil para comemorar os 10 anos do PT no poder. A direção do partido vai consultá-los hoje para tentar remarcar os seminários.
Na carne Geraldo Alckmin (PSDB) quer anunciar um corte de despesas de seu governo em resposta às manifestações. Secretários receberam a missão de apresentar um pacote de economia das contas de telefone e de gasolina dos carros oficiais.
Semente O governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), foi convidado para dar uma palestra a mil pequenos produtores rurais de Santa Catarina. Ele ainda não confirmou presença.
Desliga 1 O PRB decidiu retirar seu único senador do bloco do governo. Eduardo Lopes (RJ) passará a integrar o grupo de parlamentares formado por PTB, PR e PSC.
Desliga 2 O partido diz que, no bloco do governo, não tinha espaço para relatar projetos na Casa. A vaga de Lopes era de Marcelo Crivella, que se licenciou para assumir o Ministério da Pesca.
com ANDRÉIA SADI e BRUNO BOGHOSSIAN
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TIROTEIO
"Dilma tentou fazer marketing diante da crise, mas desta vez nem João Santana conseguiu explicar direito o que a presidente quer."
DO PRESIDENTE DO DEM, AGRIPINO MAIA, sobre o recuo de Dilma Rousseff após as críticas à convocação de uma constituinte para a reforma política.
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CONTRAPONTO
Vira-casaca?
Dirigentes sindicais reunidos ontem em São Paulo se entreolharam quando o presidente da CUT (Central Única dos Trabalhadores), Vagner Freitas, chegou ao encontro vestindo uma camiseta estampada com uma bandeira da Escócia.
Um sindicalista estranhou a ousadia do colega na hora de escolher o uniforme, no momento em que bandeiras brasileiras estão espalhadas pelas ruas e o nacionalismo dá o tom de manifestações nas capitais do país. Brincando, cochichou:
--Este aí está mesmo fora da casinha!

Brasileiros não sabem quanto paga de juros

folha de são paulo

CARTÃO DE CRÉDITO
Levantamento do SPC Brasil (Serviço de Proteção ao Crédito) mostra que 72% dos brasileiros não sabem quanto pagam de juros no cartão de crédito, em caso de pagamento mínimo da fatura. Quem deixa de pagar a fatura integral pode arcar com uma taxa média de juros de 200% ao ano.

    MARTHA MEDEIROS - Vem pra rua, não pra estrada

    Zero Hora - 26/06/2013

    Todos estão opinando sobre as manifestações que vêm ocorrendo no país. Tenho pouco a acrescentar: concordo que veio em boa hora esse alerta de que não somos tão acomodados, e ao mesmo tempo lamento que ignorantes promovam a destruição do patrimônio público e privado, desviando a atenção do que realmente importa nesses protestos.

    Afora chover no molhado, venho sugerir uma reflexão sobre os locais de agrupamento. A rua sempre foi o lugar ideal para se manifestar: em grandes avenidas e praças, alcança-se o impacto pretendido. Com toda a população por testemunha, saímos a pé em direção à casa da presidente, dos governadores e dos prefeitos para dizer de viva voz que não toleramos mais a corrupção e o alto custo de vida. O trânsito de carros é redirecionado e ninguém perde sua liberdade de ir e vir. É legítimo e eficiente.

    Mas interromper rodovias é outra coisa. Compreendo (sem apoiar) que moradores que vivam às margens de uma estrada a interrompam momentaneamente para chamar a atenção para o número excessivo de acidentes e atropelamentos que ali acontecem, exigindo melhor sinalização. É uma reivindicação relacionada diretamente ao local do protesto. Porém, no caso das manifestações de massa que clamam por direitos diversos, interromper as ligações de acesso à cidade é um ato de vandalismo também. É povo x povo. Não faz sentido.

    Cidadãos trabalham e estudam em outras localidades, precisam trafegar entre os municípios, cumprir seus compromissos. Pessoas viajam para visitar parentes, realizar cursos, fazer consultas em hospitais: não é justo que fiquem presos por um longo tempo dentro de um veículo sem condições de conforto, higiene e alimentação.

    Há idosos ali, doentes, crianças, mulheres grávidas. Sem falar no transporte de carga, que fica impedido de abastecer nossas metrópoles. Interromper uma estrada é criar constrangimento e promover um prejuízo a quem, em vez de se aliar a nós, se torna uma vítima. Ela é penalizada da mesma forma que os donos dos estabelecimentos destruídos por vândalos.

    Quando o povo se manifesta, ele faz em nome da liberdade também. A liberdade de escolher quais são suas causas, a liberdade de se unir com quem defende o mesmo que ele e de voltar para casa na hora que quiser, com segurança. A liberdade de gritar palavras de ordem, cantar o hino, levantar cartazes, usar as roupas que melhor traduzem sua indignação ou esperança, enfim, exercer plenamente sua cidadania.

    A maioria dos jovens está pensando no seu futuro, mas também construindo um passado: querem, daqui a 20 anos, se orgulhar de terem feito parte disso. Aderem ao movimento para, entre outras coisas, dar um sentido à própria vida. É um objetivo maior e mais nobre do que simplesmente aporrinhar por aporrinhar.

    A rua é uma arquibancada democrática. Mas interromper a liberdade de deslocamento do outro é uma tirania que diminui o tamanho do gigante que acordou.

    Matias Spektor

    folha de são paulo
    Desordem e progresso
    Os protestos revelam o que há de trincado no lulismo e encerram o modelo de ascensão dos últimos anos
    Entre 2004 e 2010, o Brasil viveu seu mais intenso processo de ascensão internacional.
    Isso ocorreu porque Lula teve a fortuna de um ambiente global favorável e a virtude de um projeto de política externa talhado para galgar posições no mundo.
    A diplomacia foi posta a serviço de sua obra-prima: um capitalismo politicamente orientado e integrado aos fluxos da globalização; um raro alinhamento entre capital, sindicalismo e massas emergentes; e a redução de hipotecas sociais de modo gradual e sem rupturas.
    Só que os ventos mudaram e problemas diplomáticos se acumularam antes mesmo de Lula deixar o Planalto, tirando fôlego da ascensão.
    Agora, os gigantescos protestos de rua revelam o que há de trincado no lulismo e encerram o modelo da ascensão tal qual o conhecemos nos últimos anos.
    A retomada da trajetória ascendente, quando ocorrer, terá de ser feita em novas bases que hoje é difícil imaginar.
    Isso não é necessariamente ruim.
    A política externa do lulismo uniu progressismo e conservadorismo, bebendo nas fontes de Jango e Geisel. Definiu o interesse nacional em termos da expansão do capitalismo brasileiro e da manifestação de uma nacionalidade emancipada. Usou uma linguagem de corte anticolonial e instrumentalizou coalizões ao Sul para barganhar com o Norte.
    Nos temas cruciais, acomodou-se à Casa Branca, onde encontrou fonte inesperada de legitimação.
    Em nenhum momento a política externa adaptou-se para servir aos novos atores engendrados pelo próprio lulismo: a nova classe média e o subproletariado emergente.
    O desenvolvimento, diz o bordão oficial intocado desde a época da ditadura, seria função do fortalecimento do capitalismo industrial nacional e da autonomia da tecnocracia de Brasília diante dos gigantes industrializados. Hoje, o brado das ruas retumba contra essa tese, consciente que é dos horrores que podem dela resultar.
    Qual será o impacto das últimas semanas na política externa ninguém sabe, mas sempre é possível fantasiar.
    Imagine se Dilma colocasse a diplomacia a serviço da desmilitarização responsável da polícia brasileira. A truculência policial é prato cotidiano de boa parte da população brasileira, mas ganhou relevo no YouTube.
    Em vez de atuar na retranca nos organismos internacionais relevantes, como faz hoje, o Brasil reorientaria sua postura com o fim explícito de acelerar a reforma policial.
    Nada disso vai acontecer, claro. Como explicam nossos representantes nesses foros, "desestabilizaria o pacto federativo".
    E, como o governo estima que poderá devolver o gênio à garrafa sem antes descascar esse abacaxi, fica por isso mesmo.
    Restará a uma nova geração realinhar a política externa ao que pode surgir de novo na esteira das jornadas históricas de 17 e 18 de junho.
    Talvez esse ajuste nos permita montar a próxima onda ascendente, no dia em que a maré começar a virar a nosso favor, com alguma sustentabilidade.
    Da atual desordem, quiçá resulte algum progresso.

      Thiaguinho, Pezinho e Vitinho são os 'grandes' nomes da MPB de hoje

      folha de são paulo
      OPINIÃO
      Lista das canções mais executadas no país é dominada por promiscuidade musical entre sertanejos e pagodeiros
      MÚSICAS DE TIM MAIA E BEN JOR SÓ APARECEM ENTRE AS MAIS TOCADAS POR CAUSA DOS KARAOKÊS
      THALES DE MENEZESEDITOR-ASSISTENTE DA "ILUSTRADA"Entre as músicas mais tocadas no país em 2012, algumas foram compostas por Thiaguinho, Rodriguinho, Pezinho e Vitinho. A campeã de execuções tem cinco palavras no título, das quais quatro são monossílabos. Sem dúvida, a música brasileira vive agora um momento menor.
      A liderança é incontestável. "Ai Se Eu Te Pego" rodou o mundo, de coreografia de gol do Real Madrid à trilha sonora de estação espacial. Com sua letra, digamos, minimalista, não teve barreiras.
      Mas a análise da lista mostra que o hit de Michel Teló não é uma fatalidade isolada, é indício de uma pandemia.
      A lista recém-divulgada pelo Ecad (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição, órgão responsável pela arrecadação de direitos autorais no país) engloba execuções em rádios, shows, casas noturnas e bares com música gravada ou ao vivo, salões de festas e até karaokês.
      Juntando tudo isso, o domínio é forte do sertanejo universitário --o Ministério da Educação deveria fazer algo contra essa denominação.
      Teló leva medalhas de ouro e bronze, porque aparece também em terceiro, com "Humilde Residência". Entre as telonianas, surge "Balada", de Gusttavo Lima, exemplo mais bem-acabado do ídolo sertanejo moderno, de calça justa e cabelo espetado.
      Em quarto lugar aparece o pagodeiro Thiaguinho e sua "Fugidinha". Ele é autor de quatro canções entre as 50 mais executadas, com os parceiros Pezinho, Rodriguinho e Gabriel Barriga.
      Não é aconselhável se falar em um embate entre sertanejo e pagode. Em busca de sucesso amplo e fácil, artistas de um gênero cantam sem preconceito hits do outro. O exemplo mais célebre dessa promiscuidade é Teló incluir "Fugidinha" em seus shows.
      A inglesa Adele, maior vendedora de CDs no planeta, é a única estrangeira entre as dez mais, com duas músicas.
      Percorrer a lista até a 50ª posição mostra muitos títulos da fórmula "pegar você". Alguns chamam a atenção, como "Camaro Amarelo", de Munhoz & Mariano, em 17º --cada geração tem o "Fuscão Preto" que merece-- e "Sou Bravo (Sou Foda)" (16º), obra de Vitinho Avassalador que dispensa comentários.
      Os únicos nomes de uma MPB mais consolidada no top 50 são Tim Maia, com "Não Quero Dinheiro" (15º) e "Gostava Tanto de Você" (47º), e Ben Jor, com "País Tropical" (38º). A presença desses hits mais antigos se deve às execuções em karaokês.
      Como casas de festas estão incluídas, "Parabéns a Você" surge em 13º lugar! Sim, a música que todos cantam nos aniversários tem registro oficial. Foi composta por duas irmãs americanas em 1912 e tem tradutores brasileiros.
      Se esse ranking representasse qualidade musical, "Parabéns a Você" superaria sertanejos e pagodeiros.

        Tv Paga


        Estado de Minas: 26/06/2013 



        Com trilha sonora composta pelo cantor argentino Kevin Johansen e fotografia de Walter Carvalho, o programa Sangue latino traz, às 21h, entrevistas gravadas na Argentina e no Brasil e aborda temas como profissões, sotaques e visões de mundo. Nesse episódio, às 21h30, no Canal Brasil, Eric Nepomuceno recebe Julio Bressane (foto), cineasta brasileiro vencedor de diversos prêmios. Na entrevista, o diretor fala, em tom poético, sobre sua vida e de temas como a amizade e como lidar com o erro.


        Copa põe segurança
        em primeiro plano

        O Discovery Channel exibe, às 18h, o programa Rio de Janeiro: segurança em jogo. Pela primeira vez na história, em 2016, os Jogos Olímpicos ocorrem na América do Sul, no Rio, que será sede também da final da Copa de 2014. A atração questiona: o Rio é seguro o bastante para abrigar os eventos? Especialistas discutirão a questão, que mostrará os riscos e os benefícios desses tipos de eventos no Brasil.

        Família caipira e rica
        está de volta à TV

        Depois de conquistar 9,6 milhões de espectadores nos Estados Unidos, Os reis dos patos volta ao Brasil para sua terceira temporada, no A&E, às 22h. Mais uma vez, o programa apresenta a rotina maluca de seus protagonistas, uma família caipira e moderna, que, mesmo fiel às suas raízes, está à frente de um negócio multimilionário. Na estreia, está aberta a temporada de caça  aos patos e os homens exercem sua tradição de acampar na noite anterior.

        Filme iraniano traz
        uma realidade distante

        Depois de passar anos na Alemanha, Ahmad volta ao Irã, e seus amigos organizam três dias de comemoração e convidam para a festa a jovem Elly. Dirigido por Asghar Farhadi, o filme Procurando Elly traz, às 21h30, no Arte 1, no elenco Golshifteh Farahani, Shahab Hosseini, Taraneh Alidoosti, Merila Zare'i, Mani Haghighi, Peyman Moaadi e Ra'na Azadivar.

        Um crime que chocou
        todo o povo brasileiro

        A série Investigação Criminal, do A&E, às 20h, apresenta o caso do assassinato de Isabella Nardoni, aos cinco anos. A sequência que levou ao assassinato começou quando, pouco antes de seu aniversário, a menina foi passar o final de semana na casa do pai e sua então mulher, Anna Carolina Jatobá. Após ser levada para m passeio, porém, a garota foi agredida na testa e, em seguida, levada para o apartamento, onde mais uma vez foi espancada. A crueldade culminou em seu enforcamento. Para se livrar do corpo, seu pai a jogou pela janela.

        Missão em algum
        lugar no espaço

        Sequestro no espaço é a atração às 19h45, no HBO. No filme, agente condenado injustamente por espionagem tem a chance de evitar a pena por criogenia caso aceite resgatar a filha sequestrada do presidente. A produção francesa, com direção da dupla James Mather e Stephen St. Leger, traz no elenco os atores Guy Pearce e Maggie Grace.  

        FERNANDO BRANT » O país está vivo‏

        Vivíamos uma ditadura violenta e há muito tempo não se ouvia a voz do brasileiro, só sussurros


        Estado de Minas: 26/06/2013 

        As ruas se enchem de jovens e todos pensávamos que eles estavam nos shoppings, nos bares e nas baladas, de costas para a vida real. Meus olhos estão molhados e minha alma canta: estarei mesmo vendo o que eles me revelam? A vida nas cidades anda tão difícil, desgastante e perigosa. E os jornais e as tevês insistindo em nos dizer que estamos no melhor dos mundos e tudo vai pelo melhor.

        Tudo o que vivi já não vale nada, a sabedoria está é nas pesquisas escritas e faladas por jornalistas e por cientistas políticos?
        Diante de qualquer problema real e fundamental para o dia a dia dos brasileiros, chame-se o marqueteiro oficial e ele doura a pílula, transformando fel em mel, enganando com imagens bonitas e palavras vãs os incautos.


         Até quando abusariam de nossa paciência?


        O que o povo está dizendo nas ruas nesses dias me traz à lembrança fatos que ocorreram há muitos anos, em 1977. Vivíamos uma ditadura violenta e há muito tempo não se ouvia a voz do brasileiro, só sussurros ao pé do ouvido, todos desconfiados e amedrontados pela repressão que se anunciava a cada esquina e entrara sorrateiramente no íntimo de cada um.


        Sinais de esgotamento do regime militar se evidenciaram nas vitórias da oposição nas eleições de 1974 para o Senado. O pacote de abril foi a resposta pesada dos ditadores, mas as manifestações diante do corpo de Vladimir Herzog reabriram as veias do povo no rumo da reconquista da liberdade.


        Foi aí que a juventude saiu às ruas, ela que estava calada pelas baionetas.


        As ruas voltaram a anunciar um novo tempo. Comovido, fiz com Milton Nascimento uma canção de esperança e alegria pelo reencontro com a cidadania. A partir das passeatas era inevitável que a ditadura se dissolvesse. Em homenagem aos  jovens de hoje, recito o nosso Credo:

        “Caminhando pelas ruas de nossa cidade

        Acendendo a esperança e apagando a escuridão.

        Vamos, caminhando pelas ruas de nossa cidade

        Viver derramando a juventude pelos corações.


        Tenha fé no nosso povo que ele  resiste

        Tenha fé no nosso povo que ele insiste.

        E acorda novo, forte, alegre, cheio de paixão

        Vamos, caminhando de mãos dadas com a  alma nova

        Viver semeando a liberdade em cada coração


        Tenha fé no nosso povo que ele acorda

        Tenha fé em nosso povo que ele assusta.

        Caminhando e vivendo com a alma aberta Aquecidos pelo sol que vem depois do temporal

        Vamos, companheiros pelas ruas de nossa cidade


        Cantar

        Semeando um sonho que vai ter de ser real.

        Caminhemos pela noite com a esperança

        Caminhemos pela noite com a juventude.”

        Plebe e nobreza - Frei Betto

        A esperança é que o clamor popular encontre ouvidos no castelo e as demandas sejam prontamente atendidas


        Frei Betto

        Estado de MInas: 26/06/2013 

        Era uma vez um reino governado por um rei despótico. Sua majestade oprimia os súditos e mandava prender, torturar, assassinar quem lhe fizesse oposição. O reino de terror prolongou-se por 21 anos. Os plebeus, inconformados, reagiram ao déspota. Provaram que ele estava nu, denunciaram suas atrocidades, ocuparam os caminhos e as praças do reino, até que o rei perdesse a coroa. Vários ministros do rei deposto ocuparam sucessivamente o trono, sem que as condições econômicas dos súditos conhecessem melhoras. Decidiu-se inclusive mudar a moeda e batizar a nova com um título nobiliárquico: real. Tal medida, se não trouxe benefícios expressivos à plebe, ao menos reduziu as turbulências que, com frequência, afetavam as finanças da corte.

        Ainda insatisfeita, a plebe logrou conduzir ao trono um dos seus. Uma vez coroado, o rei plebeu tratou de combater a fome no reino, facilitar créditos aos súditos, desonerar produtos de primeira necessidade, ao mesmo tempo em que favorecia os negócios de duques, condes e barões, sem atender os apelos dos servos que labutavam nas terras de extensos feudos e clamavam pelo direito de possuir a própria gleba.

        O reino obteve, de fato, sucessivas melhoras com o rei plebeu. Ele, porém, aos poucos deixou de dar ouvidos à vassalagem comum e cercou-se de nobres e senhores feudais, de quem escutava conselhos a quem beneficiava com recursos do tesouro real. Obras suntuosas foram erguidas, devastando matas, poluindo rios e, o mais grave, ameaçando a vida dos primitivos habitantes do reino.

        Para assegurar-se no poder, a casa real fez um pacto com todas as estirpes de sangue azul, ainda que muitos tivessem os dedos multiplicados sobre o tesouro real. Do lado de fora do castelo, os plebeus sentiam-se contemplados por melhorias de vida, viam a miséria se reduzir, tinham até acesso a créditos para adquirirem carruagens próprias. Porém, uma insatisfação pairava no reino. Os vassalos eram conduzidos ao trabalho em carroças apertadas e pagavam caros reais pelo transporte precário. As escolas quase nada ensinavam além do bê-á-bá, e os cuidados com a saúde eram tão inacessíveis quanto as joias da coroa. Em caso de doença, os súditos padeciam, além das dores do mal que os afetava, o descaso da casa real e a inoperância de um SUStema que, com frequência, matava na fila o paciente em busca de cura.

        Os plebeus se queixavam. Mas a casa real não dava ouvidos, exceto aos aplausos refletidos nas pesquisas realizadas pelos arautos do reino. O castelo isolou-se do clamor dos súditos, sobretudo depois que o rei abdicou em favor da rainha. Infestado de crocodilos o fosso em torno, as pontes levadiças foram recolhidas e as audiências com os representantes da plebe canceladas ou, quando muito, concedidas por um afável ministro que quase nenhum poder tinha para mudar o rumo das coisas.

        Em meados do ano, a corte promoveu, com grande alarde, os jogos reais. Vieram atletas de todos os recantos do mundo. Arenas magníficas foram construídas em tempo recorde, e o tesouro real fez a alegria e a fortuna de muitos que orçavam um e embolsavam cem.

        Foi então que o caldo entornou. A plebe, inconformada com o alto preço dos ingressos e o aumento dos bilhetes de transporte em carroças, ocupou caminhos e praças. Pesou ainda a indignação frente à impunidade dos corruptos e à tentativa de calar os defensores dos direitos dos súditos contra os abusos dos nobres. A vassalagem queria mais: educação da qualidade da que se oferecia aos filhos da nobreza; saúde assegurada a todos; controle do dragão inflacionário cuja bocarra voltara a vomitar chamas ameaçadoras, capazes de calcinar, em poucos minutos, os parcos reais de que dispunha a plebe.

        Então a casa real acordou! Archotes foram acesos no castelo. A rainha, perplexa, buscou conselhos junto ao rei que abdicara. Os preços dos bilhetes de carroças foram logo reduzidos. Agora, o reino, em meio à turbulência, lembra que o povo existe e detém um poder invencível. O castelo promete abrir o diálogo com representantes da plebe. Príncipes hostis à rainha ameaçam tomar-lhe o trono. Paira no horizonte o perigo de algum déspota se valer do descontentamento popular para, de novo, impor ao reino o regime de terror. A esperança é que se abram os canais entre a plebe e o trono, o clamor popular encontre ouvidos no castelo, as demandas sejam prontamente atendidas. Sobretudo, dê a casa real ouvidos à voz dos jovens reinóis que ainda não sabem como transformar sua indignação e revolta em propostas e projetos de uma verdadeira democracia, para que não haja o risco de retornarem ao castelo déspotas corruptos e demagogos, lacaios dos senhores feudais e de casas reais estrangeiras. 

        Tesouros do acervo do pintor Alberto da Veiga Guignard estão reunidos em BH e e Ouro Preto.-Walter Sebastião

        Tesouros do acervo do pintor Alberto da Veiga Guignard estão reunidos em Belo Horizonte e Ouro Preto. Documentos, anotações e objetos ainda não foram integralmente catalogados 


        Walter Sebastião

        Estado de Minas: 26/06/2013 


        Todo mundo sabe que Alberto da Veiga Guignard é autor de algumas das mais belas vistas de Minas Gerais. Tão surpreendente quanto sua pintura é o próprio artista, que nasceu em Nova Friburgo (RJ) em 25 de fevereiro de 1896 e morreu em Belo Horizonte em 26 de junho de 1962. Na capital, ele fixou residência 18 anos antes de falecer – com direito a pausas para longas temporadas em Ouro Preto a partir de 1954. Amigos se lembram do pintor como um homem elegante, educado, alegre e generoso, embora sua vida familiar, pessoal e amorosa tenha sido atravessada por muitos dramas.

        Minas Gerais guarda duas coleções de documentos com preciosas informações sobre o pintor. Elas estão na Escola Guignard da Universidade do Estado de Minas Gerais (Uemg), em BH, e no acervo do Museu Casa Guignard, em Ouro Preto, pertencente à Superintendência de Museus e Artes Visuais da Secretaria de Estado da Cultura. Uma traz, basicamente, anotações de aula, enquanto a outra reúne documentos e objetos pessoais. Ambas com catalogação parcial e acesso exclusivo para pesquisadores.


        “Nosso acervo é pequeno em relação à vida e à obra do artista, mas significativo”, explica Ramon Vieira Santos, diretor de Arquivos Museológicos da Superintendência de Museus e Artes Visuais, onde está a maior das coleções. São cerca de 370 itens: fotos, mobiliário, diplomas, inventários, cartas, entrevistas – 40% deles expostos na Casa Guignard. O restante fica no Museu Mineiro, em Belo Horizonte, reserva técnica das instituições estaduais.


        “Grande parte do material está em bom estado de conservação. Alguns documentos necessitam de intervenções pontuais, mas tudo se encontra bem acondicionado. É necessário prosseguir a digitalização, pois isso facilitaria acesso à documentação sem que o material tenha de ser manipulado, o que é proteção”, observa Ramon.

        Origem A colecionadora Priscila Freire, ex-diretora do Museu de Arte da Pampulha, reuniu documentos do artista como acervo inicial para a Casa Guignard, aberta em 1987. Documentos vieram da Fundação de Arte de Ouro Preto (Faop), da correspondência do pintor com a escritora Lúcia Machado de Almeida e, mais tarde, da aquisição de peças como o violão pintado por ele e a coleção de cartões enviados a Amalita, uma de suas musas.


        “Pode existir mais alguma coisa. Entretanto, acredito que o material que se encontrava em Minas Gerais por ocasião da morte de Guignard está nesse acervo. Ainda falta dar a esse artista a importância que ele merece”, adverte Priscila Freire.
        Apesar de reconhecido como pintor excepcional e autor emblemático para a arte brasileira, Guignard ainda não conta com um catálogo de suas obras. “Isso é grave, sobretudo neste momento em que vêm aparecendo, com frequência, obras falsificadas dele, principalmente cabeças de Cristo”, acrescenta Priscila. O Projeto Guignard, atualmente interrompido, não deveria se limitar à catalogação “parcialmente feita” de suas obras, adverte a ex-diretora do MAP. “Deveria ser criada uma comissão que autenticasse as obras. Poderíamos pesquisar, localizar e publicar toda a documentação, além de criar banco de dados sobre o artista”, acrescenta.


        “Guignard foi uma pessoa educada e reservada, que tinha consciência do valor de sua própria arte. Foi um homem elegante, refinado, discreto, embora tudo isso ainda não seja claro para as pessoas”, lamenta Priscila.

        Museu A Casa Guignard guarda a única exposição permanente no Brasil dedicada ao artista. Instalado num sobrado ouro-pretano do século 18 com direito a chafariz atribuído a Aleijadinho, o espaço é ambientado como ateliê e museu. “Não se trata da residência do pintor, mas do local que materializa o sonho de Guignard de ter uma casa em Ouro Preto com a obra dele”, informa Gélsio Fortes, coordenador do espaço.


        O museu desenvolve o projetos Passos de Guignard em Ouro Preto, com sugestão de nove passeios por locais que remetem às temporadas do pintor na cidade que ele amava. O guia reúne tanto pontos no Centro Histórico (como a Ponte de Marília e a Igreja de Santa Efigênia), onde ele tomava sol, quanto arredores da antiga Vila Rica, como os morros de São João e de São Sebastião, com belas vistas da região.


        “Guignard e Ouro Preto são portais um do outro”, lembra Gélsio Portes, ressaltando que essa relação ativa memórias de diversas épocas – das origens de vilas da região mineradora à cidade ícone do modernismo, visitada por artísticas e intelectuais. Além disso, a antiga capital de Minas é eterna fonte de paisagens imaginárias para o pintor, com seus balões no céu. “Conhecer esse contexto é tão fascinante quanto conhecer a obra dele”, garante Portes.



        NO MUSEU MINEIRO


        TEXTO DE PORTINARI

        Bom e grande Guignard. Pintor
        do vento e do imperceptível. Nosso
        São Cristóvão. Conversas com a água
        branca do Rio e em seus ombros de aço.

        Nos transporta através do fogo ou
        do mar. Anjo da guarda da alegria
        com os pés na terra. Vives no paraíso.
        Não ousas a voz do mal.

        No campo brincas com os passarinhos.
        E colhes silêncios da luz sutil
        Nos presenteias obras de mestre.
        Enxergas o que outros não veem.

        A poesia é tua namorada fiel.
        Amor de belas jovens infiéis, sofrerás?
        Menino anjo e santo agradeço-te
        também em nome dos inocentes.

        Portinari
        Rio, 1/10/1960




        QUESTIONÁRIO KREBS


        Em 1958, Guignard concedeu esta entrevista a Carlos Galvão Krebs. Em 1975, o autor enviou, por carta, uma cópia ao escritor Murilo Rubião.

        Quais as maiores dificuldades encontrou para seu desenvolvimento artístico?
        Falha de incompreensão, espíritos irazadíssimos.

        Em arte, segue alguma corrente ou escola?
        Arte moderna, mas com base clássica.

        Tem interesse por outras artes além das que pratica?
        Paixão pela música e um pouco de poesia e filosofia.

        O que se deveria fazer em benefício da arte nacional?
        Haver mais amizade entre os bons artistas nacionais. Deixar de serem egoístas e convencidos.


        No manuscrito enviado por Carlos Krebs a Murilo Rubião, Guignard defende: “Os verdadeiros artistas devem ser amparados pelo governo, que deve facilitar a eles dar aulas de desenho e pintura em escolas superiores”. O pintor informa que dá aulas e faz ilustrações para enfrentar as dificuldades econômicas. Com relação à arte, comenta que adora retrato e paisagem, considerando o primeiro “o mais difícil e interessante”. Guignard também reclama de temperaturas muito elevadas (“Trabalho melhor no frio”) e revela a Krebs os artistas que mais o estimulam: Leonardo da Vinci, Rembrandt, Goya e Van Gogh. 

        Remake de 'Saramandaia' tem elenco muito bem escolhido

        folha de são paulo
        CRÍTICA - NOVELA
        VERA MAGALHÃESEDITORA DO "PAINEL"A Globo aproveitou os protestos em todo o Brasil para atualizar a trama de "Saramandaia", exibida pela primeira vez em 1976 e baseada no realismo fantástico, gênero em baixa nas tramas atuais. O remake estreou anteontem.
        Frases de efeito usadas na passeata das últimas semanas foram rapidamente transpostas para os personagens de Leandra Leal (Zélia) e André Bankoff (Pedro), que comandam os "revolucionários" que querem mudar o nome da cidade de Bole-Bole, um daqueles microcosmos do Brasil das novelas de Dias Gomes (1922-1999), para Saramandaia.
        Outro fator que contribui positivamente para o "aggiornamento" da história é a evolução dos efeitos especiais e da maquiagem nos 37 anos que separam as duas versões.
        Embora ainda seja uma história surrealista, a tecnologia atual permite fazer com que José Mayer verta formigas pelo nariz ou Marcos Palmeira ressuscite após literalmente quase botar o coração pela boca de forma mais verossímil.
        Um trunfo inegável do primeiro capitulo foi o fato de Ricardo Linhares (autor da nova versão de "Saramandaia"), colaborador durante anos de Dias Gomes e, mais tarde, de seu "herdeiro" Aguinaldo Silva, ter mantido o texto cheio de neologismos divertidos, como "desmorrer" e "saramandalhas".
        Por fim, o elenco foi muito bem escolhido. Vera Holtz está irreconhecível como Dona Redonda, Matheus Nachtergaele sempre preciso em papéis mais teatrais e Lilia Cabral é um alívio de beleza natural diante do império do botox na telinha da emissora.