terça-feira, 3 de dezembro de 2013

16 dias de ativismo feminino - OLGAMIR AMANCIA

Correio Braziliense - 03/12/2013

A violência contra a mulher não é distúrbio patológico. É herança cultural da nossa milenar civilização ocidental e machista. Não é problema privado, como diz o ditado popular “em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher”. É questão pública, de Estado, de governo, da sociedade. Não é coisa de pobre nem de rico. Perpassa todas as classes sociais, todas as estratificações humanas. Não elege cor nem raça, nem escolhe lugar. Ocorre em todo o mundo. No Brasil. Em Bangladesh. Na Etiópia. No Canadá.

No momento, cerca de 160 países se mobilizam contra essa epidemia global. É a campanha dos 16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência Contra a Mulher. Criada em 1991, por 23 mulheres de diferentes nações, reunidas pelo Center for Women´s Global Leadership (Centro de Liderança Global de Mulheres), a iniciativa tem o objetivo de debater e denunciar as várias formas de violência contra as mulheres no planeta.

As pioneiras da mobilização escolheram um período de significativas datas históricas, marcos de luta das mulheres. A campanha começou no dia 25 passado, Dia Internacional da Não Violência Contra as Mulheres, e termina em 10 de dezembro, Dia Internacional dos Direitos Humanos. Vincula, desse modo, o respeito à dignidade das mulheres à defesa dos direitos humanos.

Nos 16 dias de ativismo, que incluem ainda o 1º de dezembro, Dia Mundial da Luta contra a Aids (boa parte dos infectados são mulheres), e 6 de dezembro, Dia do Laço Branco (em que os homens se solidarizam com as mulheres), a sociedade conclama os governos a tomar atitude mais firme diante da violação dos direitos humanos das mulheres.

No Brasil, a campanha foi adotada pelo movimento feminista em 2003. Logo, ganhou a adesão de outros setores da sociedade — governos, empresas, entidades civis. No Distrito Federal, tem o apoio do GDF, por meio da Secretaria da Mulher. Nos 16 dias, há debates, palestras e eventos culturais, em parceria com a Eletronorte e a ONU Mulheres, para estimular a reflexão acerca do problema. Dados da Secretaria de Segurança mostram que, de janeiro a agosto deste ano, foram registradas no DF 10.095 ocorrências relacionadas à Lei Maria da Penha: média de 1.260 casos por mês, 42 por dia e quase dois por hora. É inaceitável.

A violência contra a mulher é problema grave e complexo. O combate exige articulação em rede do Estado e da sociedade. Assim, a Secretaria da Mulher atua em sintonia com os demais órgãos do governo local e federal, empresas privadas e entidades civis. Adota abordagem multidisciplinar que, além da segurança, envolve ações de educação, saúde, assistência social, cultura, esporte e, principalmente, trabalho, emprego e renda, já que a independência econômico-financeira é fator decisivo para a eliminação da violência doméstica.

Nessa linha, programas como o Rede Mulher Artesã, o Prospera Mulher e o Mulheres na Construção proporcionam qualificação profissional e acesso ao mercado de trabalho para o público feminino. O Rede Mulher Artesã atende moradoras de várias cidades do DF que trabalham com artesanato. Por meio dos encontros de economia solidária e feminista, incentiva as artesãs a se unirem em grupos, para facilitar a obtenção de crédito e outros apoios, e concede o selo Rede Mulher, certificação que viabiliza a comercialização dos produtos.

O Prospera Mulher é programa de microcrédito em parceria com o BRB. Em apenas um ano de existência, já emprestou mais de R$ 6 milhões a pequenos empreendimentos urbanos e rurais, formados majoritariamente por mulheres. O Mulheres na Construção, realizado em conjunto com o Instituto Federal de Brasília (IFB), a Superintendência do Desenvolvimento do Centro-Oeste (Sudeco) e o Sindicato da Construção Civil (Sinduscon), oferece cursos de pintura e azulejista. Lançado em maio do ano passado, já formou 322 mulheres, boa parte delas dividindo hoje canteiros de obras com os homens num dos mercados de trabalho mais machistas do país.

É com esse modelo de gestão em rede e multidisciplinar que a Secretaria da Mulher mais uma vez se associa à campanha dos 16 Dias de Ativismo. Temos a clareza de que o enfrentamento da barbárie das relações desiguais de gênero exige ações criativas, eficazes e ousadas que derrubem preconceitos e garantam às mulheres o direito à emancipação, à autonomia e, principalmente, a uma vida sem violência.

Tv Paga

Estado de Minas: 03/12/2013 



 (Guto Costa/Divulgação )

Boa música


O Canal Brasil anuncia para hoje, às 19h, o programa Estamos aí, dirigido por Rodolfo Novaes, que faz um mergulho no universo do gaitista Maurício Einhorn (foto). Músico autodidata e de temperamento forte que jamais se rendeu à imposição do mercado, Einhorn é carioca e tem 81 anos. Dono de uma memória prodigiosa e criatividade à flor da pele, ele é considerado um patrimônio da cultura nacional. O filme conta com imagens de arquivo de shows e depoimentos de músicos como Toots Thielemans, Paulo Moura, Cláudio Roditi, Idriss Boudrioua e Gabriel Grossi.

Poetas vão encarar  Antônio Abujamra


Ainda no Canal Brasil, às 21h30, José Wilker bate papo com o colega ator Guilherme Weber em mais um programa Palco e plateia. Curitibano, Weber foi o fundador da Sutil Companhia de Teatro ao lado de Felipe Hirsch e aqui vai falar de seus trabalhos na TV e no cinema e de espetáculos como Temporada de gripe e Thom Pain. Na Cultura, às 23h30, no Provocações, Antôno Abujamra recebe dois jovens representantes da poesia contemporânea: os paulistas Cláudio Machado e Caco Pontes, um dos representantes da Poesia Maloqueirista.

Canal Brasil exibe  Filme de Giorgetti


E mais uma do Canal Brasil: a emissora exibe o longa Cara ou coroa, de Ugo Giorgetti, às 22h. Na mesma faixa das 22h, o assinante tem mais oito opções: Sombras da noite, na HBO; Desejos, no ID; Anjos da noite – Underworld, na MGM; O dobro ou nada, no Max Prime; John Carter – Entre dois mundos, no Telecine Premium; O idiota do meu irmão, no Telecine Pipoca; O exótico Hotel Marigold, no Telecine Touch; e Fausto, no Telecine Cult. Outros destaques da programação: Zona Verde, às 20h , no Universal Channel; Caçador de recompensas, às 20h20, no Megapix; A pele que habito, às 20h50, no Max; Uma equipe muito especial, às 21h, no Comedy Central; O som ao redor, às 21h50, na HBO Family; Grease – Nos tempos da brilhantina, às 22h05, no TCM; Morte por encomenda, às 22h15, no Space; O pianista, também às 22h15, no Studio Universal; e Desejo atroz, à meia-noite, na Cultura.

+Globosat vai passear  pelo Museu Porsche


O 33º episódio de Mundo museu vai deixar com água na boca os fãs de carros bonitos e potentes. A produção visita hoje o Museu da Porsche, na Alemanha. Um automóvel que escreveu boa parte do que o mundo entende hoje como bom gosto, a Porsche foi fundada por um engenheiro austríaco e tem quase um século de atividade. Ela se tornou um dos melhores exemplos de sucesso em design, com a beleza encontrando a funcionalidade e marcando época. O museu em Stuttgart é também um marco da arquitetura contemporânea, abrigando uma coleção que faz vibrar os apaixonados por carros e design. Confira às 21h, no +Globosat.

Programação do Bio  é de causar arrepios

Na edição inédita de Minha história de fantasma, que o canal Bio apresenta às 22h, investigadores conseguem evidências em vídeo de que uma casa é habitada pelo espírito de um pastor evangélico que se enforcou após matar seu filho. Um casal também usa uma câmera noturna para gravar imagens assustadoras de atividade paranormal em sua residência. Já em um antigo hotel da Flórida, os corredores ficam subitamente gelados e vozes de espíritos brincalhões podem ser ouvidas. E por fim, imagens do fantasma de uma menina que perambula por um hospital da Guerra da Secessão.

Paralisados pelos transtornos mentais‏

Estudo mostra que desordens psiquiátricas são o problema que mais incapacita pessoas no mundo. Piores impactos vêm da depressão, da ansiedade e dos distúrbios causados pelo uso de drogas



Bruna Sensêve

Estado de Minas: 03/12/2013



Historicamente, transtornos mentais e por uso de substâncias lícitas e ilícitas não são uma prioridade de saúde global, especialmente quando comparados a doenças como câncer e problemas cardiovasculares. No entanto, eles são a primeira causa, nas 187 principais nações do planeta, a levar indivíduos a viverem com incapacidade. Apenas em 2010, foram mais de 175 milhões de anos de vida perdidos pela população mundial em situação de impotência causados prioritariamente por depressão, uso de drogas ilegais e esquizofrenia (em ordem decrescente de impacto). O cálculo foi feito pelo grupo internacional de pesquisadores que compõem o Estudo Global da Carga de Doenças (GBD), divulgado recentemente na revista científica The Lancet.

Eles alertam para o perigo da negligência nos serviços de saúde referentes ao tratamento dessas desordens, que, em muitos países, estão até mesmo separados dos cuidados majoritários, com mobilização de recursos incompatível com o seu impacto global. Em 20 anos, a carga desses distúrbios na saúde global aumentou em quase 40%. Os pesquisadores acreditam que a maioria deles foi impulsionada pelo crescimento da população e pelo envelhecimento. O primeiro trabalho, realizado em 1990, mostrou que os transtornos neuropsiquiátricos – que, na época, englobavam distúrbios neurológicos, demência, uso de substâncias e distúrbios mentais – foram responsáveis por mais de um quarto de toda a carga não fatal.

Carga global Cinco das 10 principais causas de incapacidade no mundo já estavam incluídas na categoria de desordem neuropsiquiátrica. “Hoje, essas desordens são responsáveis por uma carga global na saúde maior que a tuberculose, o HIV/Aids, o diabetes ou as lesões por transporte”, reforça a autora do estudo, Louisa Degenhardt, do Centro de Pesquisa Nacional em Drogas e Álcool da Faculdade de Medicina da Universidade de South Wales, na Austrália. No total, em 2010, doenças mentais e por uso de substância foram responsáveis por 183,9 milhões de anos de vida perdidos tanto por morte prematura quanto por serem vividos com incapacidade, medida conhecida na epidemiologia por Daly (sigla em inglês). O número corresponde a 7,4% de todos os Dalys no mundo.

Desse universo, os transtornos depressivos são os grandes representantes (40,5%), seguidos por distúrbios de ansiedade (14,6%), pelos transtornos causados pelo uso de drogas ilícitas (10,9%), pelo uso de álcool (9,6%) e por desordens altamente debilitantes, como a esquizofrenia (7,4%) e o distúrbio bipolar (7%). Diferentemente de outros males que comprometem drasticamente a saúde e levam ao óbito precoce, essas desordens têm um impacto maior na qualidade de vida do indivíduo. Dos quase 200 milhões de Dalys atribuídos a elas, somente 8,6 milhões estão associados aos anos perdidos por morte prematura, o equivalente a 232 mil fatalidades. A grande maioria deles (81,1%) está ligada a transtornos pelo uso de substâncias.

Efeitos regionais A quantidade de Dalys teve uma grande variação por sexo. Curiosamente, os meninos menores de 10 anos tiveram uma proporção maior de carga do que as meninas em idade equivalente. Essa diferença foi especialmente evidente no caso de distúrbios de comportamento na infância, nos quais a carga dos meninos foi mais que o dobro do impacto registrado para o outro sexo.

Louisa chama a atenção para a variação regional dos transtornos. Os distúrbios alimentares tiveram a maior diversidade, sendo mais de 40 vezes maior na região da Australásia que no Oeste da África Subsaariana. O uso do álcool também variou em mais de 10 vezes entre as regiões.

Ela conta que o efeito dos conflitos regionais pode ser claramente observado em países como o Afeganistão, o que é consistente com as análises do modelo de desordens de ansiedade e depressão nos quais o estado de conflito tem um efeito significativo para a prevalência dessas doenças. Apenas a China, a Coreia do Norte, o Japão e a Nigéria produziram Dalys totais estatisticamente menores que a média global.

Terapias negligenciadas
Para Sérgio Tamai, doutor em psiquiatria pela Universidade de São Paulo (USP) e membro da Associação Brasileira de Psiquiatria, a disponibilidade, o acesso e a busca por tratamento dos transtornos mentais são menores que em outras doenças. “Sabemos que, no mundo inteiro, os sistemas de saúde, sejam privados ou públicos, não têm capacidade de lidar com o número de pessoas que têm transtorno mental. Isso é uma realidade.”

O texto da equipe de Louisa Degenhardt mostra que, apesar dos custos pessoais e econômicos, as taxas de tratamento para as pessoas com transtornos mentais e por uso de substâncias são baixas, com lacunas de tratamento de mais de 90% nos países em desenvolvimento. Três principais razões para isso são a escassez de recursos humanos e financeiros disponíveis, as desigualdades na distribuição desses recursos e a ineficiência ao usá-los.

Mesmo em países desenvolvidos, o tratamento seria fornecido muitos anos após o início da desordem. Já uma característica comum a todos os países é o estigma sobre os transtornos mentais e o uso de substâncias. Isso seria responsável por uma restrição do uso dos recursos disponíveis. “A combinação de estigma e grandes lacunas de tratamento contribui para a exclusão social e as violações dos direitos humanos básicos dos indivíduos com transtornos mentais”, afirma Degenhardt.

Tamai acredita que o investimento nessa área também ainda é muito tímido. “Embora seja um quadro grande de pacientes e uma causa importante de incapacitação das pessoas para trabalhar e para viver, o investimento é muito pouco”, lamenta.

Estudo realizado pelo Fórum Econômico Mundial estimou que o efeito dos transtornos mentais acumulado em termos de produção econômica perdida pode chegar a US$ 16 trilhões nos próximos 20 anos. O valor seria equivalente a 25% do PIB global em 2010. Os problemas associados com a carga dos transtornos mentais e uso de substâncias são especialmente graves nos países em desenvolvimento, que gastam menos de 2% de seus orçamentos de saúde na saúde mental.

Palavra de especialista
Análise ampliada
Laura Helena Guerra Andrade,
psquiatra do Instituto de Psiquiatria
do Hospital das Clínicas da USP
“Os distúrbios mentais já são conhecidos como uma das principais causas de incapacidade desde os anos de 1990, quando o primeiro estudo foi feito. O que eles fizeram, agora, foi ampliar a avaliação e incluir algumas desordens e características, como o uso danoso do álcool e de outras substâncias que também são uma grande causa de incapacitação. O uso prejudicial do álcool pode ter vários desfechos: a doença, a intoxicação, os acidentes, e isso também pode ser associado às drogas.”

Nicolas Behr recomenda autocrítica a candidatos a escritor.‏

Em BH para ministrar oficina, o poeta Nicolas Behr recomenda autocrítica a candidatos a escritor. Pioneiro da literatura marginal, ele vai autografar Meio seio no Sesc Palladium


Carlos Herculano Lopes

Estado de Minas: 03/12/2013



O cuiabano Nicolas Behr diz que a crítica sincera   é essencial na formação de um escritor (Bruno Peres/CB/D.A Press)
O cuiabano Nicolas Behr diz que a crítica sincera é essencial na formação de um escritor

No já distante 1977, em plena ditadura militar, um jovem poeta chamado Nicolas Behr surgia no cenário da literatura brasileira com um livreto mimeografado que trazia um título bem estranho: Iogurte com farinha. Vendido de mão em mão em bares e universidades, o pequeno volume logo se tornou best-seller. Estava ali um dos precursores do movimento que ficaria conhecido como literatura marginal, cujos autores produziam e distribuíam por conta própria os exemplares – muitos deles de contestação política.

Nascido em Cuiabá, em 1958, Behr morava em Brasília naqueles anos 1970. Trinta e seis anos depois de Iogurte com farinha, o Brasil mudou, a poesia de Nicolas também, mas a capital federal continua sendo a obsessão do autor. “Ela é uma cidade nova, uma folha em branco, lugar instigante. Ainda há muito o que escrever sobre Brasília, porque não tem o peso da tradição”, diz. Hoje e amanhã, Nicolas estará em BH para ministrar oficina de poesia, no Sesc Palladium, lançar o livro Meio seio e participar de bate-papo sobre literatura com o poeta Bruno Brum.

Tão direto como seus versos – “Os três poderes são um só: o deles”, diz um deles –, Nicolas Behr avisa: nas oficinas que vem realizando pelo Brasil, não costuma passar a mão na cabeça de ninguém. No seu entender, “a porrada é bem mais importante que o elogio”: sincera, ela ajuda a nortear os rumos do candidato a escritor.

SINCERIDADE
As oficinas fazem com que o poeta se questione sobre os próprios limites e desafios. “Não sou rude e muito menos grosseiro, mas sincero e franco. Acredito que o aluno valoriza muito mais a crítica sincera sobre seu trabalho que um elogio fácil. O questionamento benfeito faz o poeta crescer e ampliar seus horizontes”, acredita.

Autor dos livros Brasilíada e Laranja seleta, que foi um dos finalistas do Prêmio Portugal Telecom em 2008, Nicolas Behr também se dedica a um antigo hobby: o cultivo de árvores nativas do cerrado. “Já espalhei milhares de mudas por aí”, revela.

Questionado se ainda existe espaço para a literatura marginal, Behr não pensa duas vezes: diz que ela nunca acabou, porque nunca teve um manifesto ou um líder. Além de ser antidogmática por natureza, apesar de ter originado muitas teses. “Todo poeta tem sua fase heroica, que é quando faz seus próprios livros em edições limitadas. Assim foi com Drummond, Bandeira, João Cabral, comigo e muitos outros”, conclui.


VOZES DO CERRADO


brasília!!! brasília!!!
onde estás
que não me respondes?
em que bloco
em que superquadra
tu te escondes?

>>Poema de Nicolas Behr

PROJETO
CARO LEITOR

>> Hoje e amanhã, das 19h às 22h. Oficina de poesia com Nicolas Behr. Mezanino do Sesc Palladium
(Rua Rio de Janeiro, 1.046, Centro). Inscrições gratuitas: acervopalladium@sescmg.com.br
>> Quinta-feira, às 20h. Bate-papo com Nicolas Behr e Bruno Brum. Lançamento do livro Meio seio.
Teatro de Bolso Júlio Mackenzie
(Rua Rio de Janeiro, 1.046, Centro). Entrada franca, com retirada
de senha uma hora antes.
Informações: (31) 3270-8100.   

Mais secas e temporais numa Europa mais quente‏

Mais secas e temporais numa Europa mais quente Estudo feito por 27 centros de pesquisa ao longo de três anos indica que o Velho Continente sofrerá fenômenos climáticos extremos, podendo registrar elevação na temperatura


Estado de Minas : 03/12/2013


Tempestade em outubro afetou o Nordeste da Europa, deixando 300 mil casas sem energia e suspendendo sistema ferroviário e aéreo. Em Londres, vendaval com chuvas derrubou diversas árvores (DANIEL SORABJI/AFP %u2013 28/10/13  )
Tempestade em outubro afetou o Nordeste da Europa, deixando 300 mil casas sem energia e suspendendo sistema ferroviário e aéreo. Em Londres, vendaval com chuvas derrubou diversas árvores

Paris – A Europa provavelmente será um lugar muito mais quente no final deste século, castigada por tempestades frequentes que atingirão todo o continente, que sofrerá também ondas de calor e secas no Sul, alertou um novo estudo publicado ontem. O Velho Continente pode registrar uma elevação média da temperatura de 1 a 5 graus em 2100, destacaram os autores do trabalho em um comunicado anunciando os resultados de uma análise climática feita ao longo de três anos por 27 instituições de pesquisa. “Vemos que a Europa aquece a um ritmo mais acelerado do que a média global”, declarou à agência France-Presse o climatologista Robert Vautard, do Centro Nacional de Pesquisas Científicas (CNRS) francês, ao comentar as descobertas.

Segundo ele, em meados do século a temperatura será de 1 a 3 graus mais elevadas durante o verão no Sul da Europa e de 1 a 4 graus Celsius mais elevada durante o inverno no Norte do continente. Esses níveis são maiores do que a média de temperatura global projetada com base em cálculos do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), que a situam entre 0,5 oC e 2 oC no mesmo período.

Essas descobertas – um conjunto de simulações baseado em diferentes cenários de aquecimento global – foram publicadas em dois periódicos científicos e divulgadas ontem como uma ferramenta gratuita para desenvolvedores de políticas públicas ambientais. Elas foram disponibilizadas pelo grupo Experimentos Regionais em Pequena Escala Coordenados (Cordex, na sigla em inglês).

Uma descoberta-chave, disse Vautard, foi a probabilidade de chuvas mais intensas em toda a Europa, “o que significa dizer temporais mais frequentes”. “Outra forte conclusão é um aumento projetado das ondas de calor na Europa, nas regiões Sul e central, com secas mais frequentes”, afirmou. Vautard disse ainda que as simulações do Cordex permitiriam planejar a resposta ao impacto climático em uma escala muito localizada, com um espaçamento entre os pontos do mapa de cerca de 12 quilômetros, em comparação com o espaçamento de 100 quilômetros a 200 quilômetros, mais comumente usado em projeções climáticas como essa.

Pequeno barco ancorado no meio do Lago Gruyere, na Suíça: região foi afetada por extrema seca (FABRICE COFFRINI/AFP %u2013 20/4/11  )
Pequeno barco ancorado no meio do Lago Gruyere, na Suíça: região foi afetada por extrema seca

Os países-membros da Organização das Nações Unidas (ONU) estão negociando um novo acordo para tentar limitar a elevação da temperatura média global a 2 oC com base em níveis pré-industriais, uma meta que muitos cientistas afirmam estar fora de alcance. Os cientistas afirmam que a humanidade precisa reduzir drasticamente as emissões de gases de efeito estufa derivadas da combustão de combustíveis fósseis para evitar os piores efeitos das mudanças climáticas: mais tempestades severas, secas e uma elevação do nível do mar capaz de provocar grandes inundações.

CHUVAS INTENSAS EM CUBA 

Um total de 135 desmoronamentos foi registrado em Havana neste fim de semana, como consequência das chuvas persistentes que castigaram o Oeste de Cuba durante três dias. “Até o momento, ocorreram 135 desmoronamentos, dos quais 117 parciais e 18 totais”, disse Juan Montalvo, vice-presidente do Conselho de Administração (governo) de Havana, ao jornal Trabajadores. O saldo foi de dois mortos e mais de 1,5 mil pessoas desalojadas. Chuvas associadas à quarta frente fria da temporada, que se manteve estática no Oeste da ilha, provocaram sérias inundações em ruas e avenidas da cidade da noite de quinta-feira até domingo.

Adeus a um hábil negociador - Denise Rothemburg

Adeus a um hábil negociador - Denise Rothemburg
 
Governador de Sergipe, Marcelo Déda, morre aos 53 anos, vítima de um câncer no estômago. Como deputado federal, o petista ganhou destaque na Câmara por sua capacidade de diálogo 


Estado de Minas: 03/12/2013

 (Carlos Moura/CB/D.A Press 
)
Déda morreu na madrugada de ontem:O céu acaba de ganhar mais uma estrela , postou sua família no Twitter

Brasília – “Minha luta vai ser outra em 2014”. A frase foi dita pelo governador de Sergipe, Marcelo Déda, em 23 de março, em um almoço em Brasília com o governador da Bahia, Jaques Wagner. Ambos tinham acabado de participar da reunião da presidente Dilma Rousseff com os governadores do Nordeste. Déda se referia ao câncer no estômago, diagnosticado no ano passado, contra o qual lutou até as 4h45 de ontem, no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. Tinha 53 anos, 31 dedicados à vida pública.

Em 2009, Déda fez uma cirurgia para a retirada de um nódulo no pâncreas. Quem assume o posto deixado por ele é Jackson Barreto (PMDB). O corpo do governador, que será cremado hoje em Salvador, chegou a Aracaju, capital de Sergipe, na tarde de ontem. Após as saudações oficiais, seguiu em cortejo num carro do Corpo de Bombeiros pelas principais ruas da cidade até o Palácio Museu Olímpio Campos, onde ocorre o velório.

A presidente Dilma Rousseff chegou a Aracaju na noite ontem para participar do velório. Em sua conta oficial no Twitter, ela lamentou o falecimento de Déda. “O Brasil e o estado de Sergipe perderam hoje um grande homem. Marcelo Déda exerceu a política com P maiúsculo”, postou. Em outra mensagem, ela lembrou a relação de amizade com o governador. “Eu perdi hoje um grande amigo, daqueles das horas boas e más”. Em nota oficial, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva também lamentou a perda do “grande amigo, compadre e irmão”. Para a maior estrela petista, Déda “foi um exemplo de dignidade e compromisso público na atividade política”.

Após saber da notícia do falecimento, a família do político publicou a seguinte mensagem no perfil que o governador mantinha no Twitter: “O céu acaba de ganhar mais uma estrela, Marcelo Déda voou ‘nas asas da quimera’. Paz & Bem – família Marcelo Déda”.

TrÂnsito em todos os partidos

O petista desembarcou em Brasília como deputado federal em 1995, no primeiro ano do governo Fernando Henrique Cardoso. Logo se destacou na bancada por duas qualidades: a solidez intelectual e a capacidade de diálogo, coisa rara no PT daquele começo de gestão tucana. Ele se filiou em 1981, aos 21 anos. Depois de uma temporada como advogado da CUT e de sindicatos associados e algumas eleições perdidas, elegeu-se deputado estadual em 1986, mas não conseguiu a reeleição em 1990.

Conhecedor da literatura e da ciência política, era aberto a conversas com todos os partidos, o que fazia com que ele, muitas vezes, tivesse embates internos, uma vez que uma grande parcela petista resistia às negociações com o PSDB. A boa convivência só deixava de ocorrer na hora dos embates em plenário, quando o então líder do governo, deputado Luís Eduardo Magalhães (PFL-BA), acionava o rolo compressor para aprovar os projetos de interesse do governo. Certa vez, Déda chegou a comentar, brincando com Luís Eduardo: “O pai do senhor (senador Antônio Carlos Magalhães) é tão educado, e o senhor tão duro. Com quem aprendeu a ser assim?” Diante da resposta “Com a minha mãe”, os dois riram juntos, dada a fama de Toninho Malvadeza que acompanhou o senador baiano por toda a vida.

A boa convivência fazia com que as festas de aniversário de Déda em Brasília virassem notícia por causa dos adversários do PT que costumavam ser convidados. O governador gostava de cantar, fez várias parcerias com o atual ministro do Tribunal de Contas da União José Múcio Monteiro, que, assim como o político sergipano, toca violão. Em Sergipe, na seara das festas, criou o Forrocaju para fazer frente ao são-joão de Campina Grande (PB) e de Caruaru (PE), os mais famosos do país.

A ala do PT mais afeita às conversas políticas com a oposição se ressentiu quando Déda renunciou ao mandato parlamentar no fim de 2000 para assumir a Prefeitura de Aracaju. Dois anos depois, quando Lula foi eleito presidente, ele  acabou ficando fora do grupo que dominou o governo federal. Essa condição, entretanto, lhe permitiu buscar um diálogo com a oposição e atuar nos bastidores de forma a auxiliar a blindagem sobre o Planalto e a preservar Lula, quando estourou o mensalão, em 2005.

Com Lula reeleito, em 2006, Déda, novamente, ficou fora do desenho do primeiro escalão federal porque venceu João Alves Filho na disputa pelo governo de Sergipe. Em 2010, no ano seguinte à descoberta do primeiro câncer (no pâncreas) e a duas cirurgias, Déda foi reeleito governador contra o mesmo João Alves, do DEM. A disputa, entretanto, foi mais acirrada, uma vez que o governador se viu obrigado a ficar 100 dias afastado do cargo para cuidar da saúde. Mesmo assim, conquistou mais de meio milhão de votos.

O governo decretou luto de sete dias em Sergipe e ponto facultativo hoje. As aulas das escolas estaduais  foram suspensas. Déda estava internado no Hospital Sírio-Libanês desde 27 de maio, acompanhado da mulher, Eliane, e dos filhos. No sábado, os médicos avisaram à família que era hora de se despedir. Alguns amigos foram visitá-lo, entre eles o senador Antônio Carlos Valadares (PSB-SE) e o ex-prefeito Edvaldo Nogueira (PCdoB-SE), parceiro de chapa de Déda nas duas eleições para a prefeitura. O governador deixa cinco filhos: Marcella, Yasmin, Luísa, João Marcelo e Matheus.