sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Eternamente 'femme fatale' - Elaine Guerini

Valor Econômico - 04/10/2013
Collet Guillaume/SIPA/Newscom / Collet Guillaume/SIPA/Newscom

"Quem nunca viveu uma paixão (...) daquelas em que o casal não consegue ficar junto nem se separar não sabe o que é o amor"


De todos os longas-metragens que rodou, quase 70, Fanny Ardant nunca se esqueceu de "A Mulher do Lado" (1981), sua primeira incursão pelo universo do diretor François Truffaut (1932-1984). "Talvez Mathilde Bauchard, minha personagem no filme, ainda me assombre tanto por ter sido a mais próxima de mim de toda a minha carreira. Por escolher ver a vida por um ângulo trágico, sempre acreditei ser possível morrer de amor. Não necessariamente a morte física, mas a da alma, que é ainda mais triste", diz a francesa de 64 anos, projetada mundialmente ao estrelar com Gérard Depardieu a história dos amantes que se reencontram e caem novamente nas armadilhas que os afastaram anos antes. A atuação rendeu a Fanny sua primeira indicação para o César, o Oscar francês. "Quem nunca viveu uma paixão sem remédio, daquelas em que o casal não consegue ficar junto nem se separar, como em 'A Mulher do Lado', não sabe o que é o amor."

Por já não receber tantos convites para filmar romances ("como se os sexagenários perdessem a capacidade de amar", diz), Fanny disse um sonoro "sim" quando a cineasta francesa Marion Vernoux a chamou para rodar "Os Belos Dias". Uma das atrações da 15ª edição do Festival do Rio, que ocorre até quinta-feira, o drama segue os passos de Caroline, uma dentista forçada a se aposentar. Com a agenda livre pela primeira vez na vida, ela tenta ocupar o tempo num clube para a terceira idade. Mas em vez de se dedicar às aulas de teatro ou de computação, Caroline inicia um caso extraconjugal com um professor com idade para ser seu filho (Laurent Lafitte), o que desencadeia o seu redespertar erótico.

Depois da passagem pelo Rio (com exibições neste sábado, às 13h30 e 21h45, no Estação Rio 1), o filme estreia no circuito comercial brasileiro no dia 11.

"O que mais me fascina na personagem é o seu espírito livre, a ponto de se lançar no romance, ainda que ela ame muito o seu marido [interpretado por Patrick Chesnais]", afirma a atriz. "As tramas que envolvem traições no cinema de hoje muitas vezes tentam pateticamente justificar a ação, com um casamento infeliz, por exemplo. Ninguém considera que uma mulher pode decidir viver um tórrido caso simplesmente em nome do desejo e do prazer."

Para Fanny, o filme trata da "disposição para abraçar a vida intensamente", o que segue na contramão do conformismo, "algo que se espera de uma mulher de mais 60 anos". "Quando amamos a vida, estamos abertos e aceitamos o que ela nos propõe, por mais maluca que seja a oferta. O que costuma nos impedir de viver, independentemente da idade, é o medo. Seja o medo das consequências dos nossos atos ou do julgamento que os outros farão de nós. Felizmente, vivi tudo o que pude e nunca liguei para a opinião da sociedade", diz a atriz, que foi a última companheira de Truffaut, com quem teve uma filha, Josephine, de 30 anos.

"François foi o homem da minha vida", afirma Fanny, que também rodou "De Repente num Domingo" (1983) com o diretor da nouvelle vague. Antes dele, ela foi mulher do ator francês Dominique Leverd, pai de sua primeira filha, Lumir, de 37 anos. Depois de Truffaut, ela viveu com o produtor italiano Fabio Conversi, pai de sua terceira filha, Baladine, de 23 anos. "Quando impomos regras a nós mesmos, a existência vira um tédio. Só recebe os presentes da vida quem está de coração aberto. É melhor se machucar do que deixar de viver."

O fato de Fanny ser um ícone do cinema francês ou ter a imagem eternamente associada à da "femme fatale" nunca influenciou as suas escolhas nas telas. "Sempre acho que estão falando de alguém que não conheço quando falam de mim. Nunca fiz esforço para projetar isso ou aquilo com as personagens que interpretei. Sempre gostei de ser uma mulher contraditória, o que me libertou imensamente", comenta. "Talvez por isso eu nunca tenha ousado me engajar na política, apesar da minha inclinação pelos partidos de esquerda. Ainda que os políticos estejam totalmente desacreditados hoje em dia, o discurso ainda exige certa coerência. Só que a vida não é assim. Viver é, muitas vezes, administrar sentimentos e pensamentos opostos."

O olhar curioso e a leveza para encarar a profissão como "um jogo" foram qualidades determinantes na longevidade de sua carreira, na visão de Fanny. "Como atriz, nunca me levei a sério demais." Todos os prêmios que conquistou (como o César por "Loucas Noites de Batom", em 1996), ao longo de mais de 30 anos nas telas, nos palcos e nos estúdios de TV, foram encarados como "prazeres de criança". "Recebi os troféus como se eu fosse uma garotinha diante de um sorvete. Sempre tomei na mesma hora por saber que aquilo não duraria para sempre. A maior recompensa sempre foi o fato de eu ganhar a vida fazendo o que mais amo. Não há luxo maior."

Embora a paixão pela atuação continue intacta, Fanny volta a se arriscar atrás das câmeras com "Cadences Obstinées", produção francesa de baixo orçamento que ela acabou de filmar em Lisboa. A atriz estreou como cineasta em 2009, com "Cinzas e Sangue", sobre uma viúva exilada no sul da França que decide retornar à Romênia para o casamento da prima. "De todos os cineastas com quem trabalhei, os que mais me marcaram foram os que filmaram com paixão, como Truffaut, Ettore Scola e Michelangelo Antonioni. E é isso que eu procuro imitar, antes de mais nada. Uma filmagem precisa ser como um bom caso de amor: rápido e intenso", afirma, abrindo um sorriso.

Para gritar "ação!" pela segunda vez num set, Fanny escolheu uma trama que ela mesma escreveu. Com estreia prevista em dezembro na França, "Cadences Obstinées" retrata a trajetória de um arquiteto obstinado em restaurar um antigo hotel em ruínas, enquanto seu casamento com uma violoncelista desmorona. "Sempre quis contar o fim de uma história de amor com o mesmo empenho com que cineastas costumam narrar o começo. Enquanto o hotel é construído, a relação é desconstruída." À medida que o dia da inauguração se aproxima, um abismo nascerá entre o casal, vivido pela italiana Asia Argento e pelo português Nuno Lopes. "Para mim, não há nada mais doloroso do que testemunhar a morte de um grande amor."



O gigante fragilizado

Valor Econômico - 04/10/2013

 Luciano Máximo e Viana de Oliveira

Especialistas debatem o futuro do SUS, uma promessa da Constituição que confronta a adversidade há 25 anos.

Em 25 anos de história, completados em outubro deste ano, o Sistema Único de Saúde (SUS) está longe de observar os princípios que orientaram sua criação e seu funcionamento, conforme foi estabelecido na Constituição de 1988: ser universal, integral e igual.

Especialistas em saúde pública reconhecem limitações nas áreas de atendimento, gestão, financiamento e participação social, mas consideram o SUS o melhor modelo de saúde pública para o país. Para que um SUS melhor seja realidade, porém, recomendam mudanças, a começar pelas que aumentem a capacidade de investimento do sistema.

Para fazer o balanço do primeiro quarto de século de existência do SUS, o Valor realizou um debate entre o ex-ministro da Saúde José Gomes Temporão, o médico sanitarista Gonzalo Vecina Neto, superintendente do Hospital Sírio-Libanês, o diretor-presidente do Instituto Performa, Bernard Couttolenc, e o professor Mário César Scheffer, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

"O maior problema é o subfinanciamento crônico. O SUS foi pilhado desde a origem, faz milagre com o pouco que tem. Países com sistemas universais, nos quais o SUS se inspirou, reservam, em média, 7% do PIB para a saúde pública. No Brasil, são 3,6%. Estamos numa encruzilhada", questiona Scheffer.

Especialista em economia da saúde, Couttolenc afirma que a oferta de serviços a 100% dos brasileiros é inviável. Uma saída para o SUS, diz ele, seria aprimorar a integração com a iniciativa privada, que investe mais em saúde que o setor público. "A promessa do SUS me parece inviável, política e economicamente. Ninguém conseguiu fazer isso. Nem Inglaterra nem Canadá, ninguém promete tudo de graça para todos. Isso passa pela discussão do papel relativo do setor privado no SUS. Não há recursos suficientes para dar conta de 200 milhões de pessoas."

Temporão é enfático ao discordar: "No Canadá ou na Inglaterra, todos os cidadãos são obrigados a passar pelo clínico geral do serviço público, do peão ao presidente. Temos que discutir qual modelo queremos. O que aconteceu para não termos o SUS que queremos? Desde o início, os setores do operariado, na retórica, apoiavam o SUS, mas na prática promoviam o plano de saúde privado por categoria no acordo coletivo de trabalho. Isso fragiliza a força política e estratégica do SUS até hoje."

Vecina lembrou que saúde foi uma das principais demandas projetadas nas manifestações de junho. Portanto, o SUS não teria outra saída, a não ser buscar a eficiência. "A sociedade brasileira nunca deu bola para eficiência, mas hoje ou a gente é mais eficiente ou não tem saída. Tem um conjunto de arranjos possíveis que temos que discutir", acrescentou o médico, referindo-se a parcerias com o setor privado e opções para elevar o investimento público no SUS.

A seguir, os principais trechos do debate.

Valor: Como se compara o atual SUS com a saúde pública antes de 1988? É possível enxergar uma evolução nesses 25 anos e fazer um balanço daquilo que não deu certo?

José Gomes Temporão: O SUS é um sucesso estrondoso. Sem ele, estaríamos numa situação de barbárie social, em que cada um teria a saúde que pudesse pagar no mercado. Os demais países olham o Brasil como a experiência mais interessante das últimas décadas. O SUS surgiu no contexto da luta política contra a ditadura. Havia um forte olhar para mudanças estruturais, que modificassem o padrão de saúde. A melhora nos indicadores de saúde são impressionantes: expectativa de vida ao nascer, mortalidade infantil, controle de doenças infectocontagiosas, redução da mortalidade de doenças crônicas. Na atenção à saúde individual, os resultados são heterogêneos. Houve coisas importantes, como o Programa Nacional de Imunização - é, disparado, o melhor do mundo. O Brasil é o país onde mais transplantes de órgãos são feitos, depois dos Estados Unidos. O SUS está fragilizado por questões macroestruturais, que foram se acumulando ao longo dessa trajetória. Chamaria a atenção para quatro ameaças: disputa político-ideológica, financiamento, a questão do modelo assistencial e gestão.

Gonzalo Vecina Neto: É importante olhar o passado. Parece que o SUS é uma ruptura, mas não é. O sistema de saúde está inserido no processo de urbanização e industrialização do Brasil. Na década de 1970, só as capitais tinham Secretaria Municipal de Saúde. No início dos anos 1980, 90% da população urbana tinham acesso à Previdência Social. Em 1986, na 8ª Conferência Nacional de Saúde, surge a ideia do SUS, mas ele já estava em gestação. Não tem ruptura na construção do que a sociedade brasileira tem hoje; nem no setor privado, que nasce nos anos 1950 em torno do Iapi [Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Industriários], que não conseguia dar atenção adequada aos operários.

Temporão: Antes do SUS, 90% da população urbana, que constituía 40% da população, tinham garantia de algum tipo de atenção. E os outros? Eram objeto de caridade e morriam à míngua. Era natural morrer sem assistência. Isso mudou radicalmente.

Bernard Couttolenc: O SUS representa um ponto de inflexão, embora seja fruto de um processo evolutivo, político. Não se pode comparar diretamente o SUS com a situação anterior. Em algumas áreas, houve uma revolução. Em outras, houve avanços. Há algumas em que se avançou muito pouco.

Valor: Mas foi um "sucesso estrondoso"?

Couttolenc: Não diria isso. Um aspecto que o SUS revolucionou foi a lógica do sistema de saúde. Antes, não havia um sistema, mas uma coleção de subsistemas fragmentados. Hoje, temos um desenho claro e estruturado. Há um planejamento unificado em saúde pública. Mas um sistema que se quis único e universal não conseguiu ser isso. A parte privada ficou de fora e cresceu. Outro ponto de inflexão é a alocação de recursos. Antes do SUS, 90% dos recursos iam para atenção curativa, principalmente hospitalar. A partir dos anos 1990, priorizou-se a atenção primária. Isso se reflete nos indicadores de saúde. Na atenção secundária e terciária, as comparações são mais complexas. O Brasil era muito atrasado em indicadores de saúde, mas recuperou bastante terreno. É resultado do SUS? Não só. Junto com o SUS, houve uma série de mudanças importantes que afetam os indicadores de saúde. A redução das desigualdades sócioeconômicas, por exemplo. O nível de renda da população de baixa renda melhorou bastante. A melhoria no acesso à água e ao saneamento também seriam importantes.

Mário César Scheffer: O SUS é um projeto de inclusão. Se analisarmos a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) antes do SUS e hoje, mais que dobrou o acesso da população a serviços de saúde. Antes do SUS, as pessoas tinham acesso de acordo com sua capacidade de pagamento ou inserção no mercado de trabalho. Aos 25 anos, o SUS é um projeto viável. Só não podemos deixá-lo morrer por causas externas. É um projeto incompleto. Não foram dadas condições para efetivar o SUS constitucional, mas o SUS adquiriu uma base legal sólida e uma experiência técnica operacional enorme. O problema do SUS é a sustentabilidade política e financeira. Ele não se tornou uma política de Estado. O SUS tem problemas de gestão. Temos dificuldades de acesso e, quando o paciente acessa o serviço, não tem seu problema resolvido. Mas seu maior problema é o subfinanciamento crônico.

Valor: Nesses 25 anos, o SUS sofreu alguns "golpes", com prejuízo para seu financiamento.

Scheffer: Foi pilhado desde a origem. A Constituição diz que o SUS deveria ter 30% do orçamento da Seguridade Social. Se isso estivesse vigorando hoje, seriam R$ 195 bilhões. O orçamento federal do SUS está em R$ 84 bilhões. Perdemos a base de cálculo das contribuições sociais, da folha de pagamento, depois tivemos a extinção da CPMF, a criação da DRU [Desvinculação das Receitas da União]. O SUS faz milagre com o pouco que tem. Os países com sistemas universais, nos quais o SUS se inspirou, reservam, em média, 7% do PIB para a saúde pública; o Brasil investe 3,6%. Estamos numa encruzilhada. Não vislumbramos o SUS como sistema universal, como diz a Constituição. Mas também não podemos vislumbrar um sistema predominantemente privado como o chileno, o colombiano ou o americano, que são fracassos estrondosos. O alento está nas manifestações de rua de junho, pedindo serviços públicos de qualidade, principalmente serviços de saúde.

Couttolenc: Um ponto central é o financiamento. O SUS, legalmente, foi desenhado como um sistema que ofereceria tudo para todos de graça, e não houve condições políticas e econômicas para assegurar um financiamento compatível. Não conheço nenhum país em desenvolvimento, com o nível de renda do Brasil, cujo sistema de saúde consiga oferecer tudo para todos de graça.

Valor: O SUS deveria ser menos ambicioso?

Couttolenc: A promessa do SUS me parece inviável, política e economicamente. Ninguém conseguiu fazer isso. Nem a Inglaterra nem o Canadá, ninguém promete tudo de graça para todos. Isso passa pela discussão do papel relativo do setor privado dentro do SUS. Não há recursos suficientes para dar conta de 200 milhões de pessoas.

Scheffer: Temos um sistema peculiar. Constitucionalmente universal, mas uma estrutura de gastos com predominância privada. Temos pouco mais de 8% do PIB para saúde, mas 60% desses recursos são privados. Essa é a raiz da desigualdade e da dificuldade em efetivar a universalidade proposta pelo SUS. Não acho que devamos abdicar desses pilares. Temos é que conversar, inclusive em praça pública, sobre as contas da saúde.

Valor: O povo não percebe o SUS como um sucesso estrondoso. Se outros países se inspiram no Brasil, por que a população vê outra coisa?

Temporão: Como se dá o processo de construção da consciência em saúde coletiva na sociedade? Como a população avalia um sistema de saúde? Pelo contato diário, concreto. Discordo da ideia de que o SUS é inviável política e economicamente. Depende do sistema que se quer montar. Não temos uma porta de entrada única, como no Canadá ou na Inglaterra, em que todos os cidadãos são obrigados a passar pelo clínico geral. Temos que discutir que modelo queremos. O que aconteceu para não termos o SUS que queremos? Primeiro, financiamento. Segundo, desde o início, os setores do operariado, na retórica, apoiavam o SUS, mas na prática promoviam o plano de saúde privado por categoria no acordo coletivo de trabalho. Isso fragiliza a força política e estratégica do SUS até hoje.

Couttolenc: Quando digo que tem um conflito entre a promessa do SUS e o volume de recursos necessário e quando também falo de viabilidade econômica, não estou questionando a existência do SUS. Ele precisa ser adaptado em várias questões. Não faz sentido, por exemplo, ter o SUS e o sistema privado completamente separados. E tem o chamado racionamento. Qualquer país na área de saúde raciona o acesso a serviços.

Scheffer: Aí perde-se o teor de integralidade.

Couttolenc: Dá para garantir integralidade apesar disso. Em todos os sistemas existe algum racionamento. Ou de maneira clara, com regras explícitas, ou por omissão. Quem pode, pode. O exemplo mais truculento é o sistema americano. Países europeus e o Canadá racionam atendimento em função de um critério de custo e efetividade.

Temporão: A diferença desses países para o Brasil é que lá a racionalidade vale para todos, sem exceção. Do presidente ao operário.

Couttolenc: É a vantagem dos critérios objetivos. A sociedade brasileira ainda não discutiu isso. Temos uma promessa generosa, mas a sociedade, digamos assim, não concorda em bancar o custo do que quer receber. O descompasso precisa ser resolvido.

Scheffer: A relação público-privado é mal resolvida. O sistema de saúde brasileiro nunca será puro público ou puro privado. Sempre teremos que trabalhar com essa sobreposição de lógicas. A agenda reformista do movimento sanitário emplacou a saúde como direito na Constituição, mas a Constituinte foi confrontada com os interesses do setor privado. Sempre teremos que trabalhar com essa dualidade, mas, ao longo do tempo, há uma contradição nas dificuldades impostas ao SUS universal pelas políticas cumulativas de privatização da saúde pública.

Valor: O gasto das famílias com saúde, ao longo desses 25 anos, aumentou muito. O SUS universaliza vários serviços, mas, mesmo assim, as famílias estão gastando mais.

Scheffer: Com 70% da rede hospitalar privada, o SUS depende de prestação e financiamento privados. Com duas novidades recentes: a privatização galopante da gestão, com a presença das OSs [organizações sociais] nos postos de saúde e hospitais públicos, por exemplo, que contribuem para afastar o SUS de seu projeto original, e o crescimento do mercado de planos de saúde. Há dois projetos claros em disputa: um é o projeto do movimento sanitário, o original, que significaria mais recursos públicos para o SUS e regulação do setor privado; o outro é o crescimento artificial dos planos de saúde, com planos baratos no preço e medíocres na cobertura.

Couttolenc: Mudaram as expectativas da população. Se a população critica o atendimento, em parte não é por que o SUS piorou as coisas. É por que as expectativas aumentaram mais do que aquilo que o SUS conseguiu oferecer. Aumentou a renda, aumentou a educação, as pessoas querem mais do que só ser atendidas. Antes, ser atendido era central. Isso é um sinal de sucesso. Outra coisa é que o setor privado não é necessariamente melhor que o SUS. O setor privado é uma catástrofe. Plano de saúde é uma droga. Temos que batalhar por um melhor desenho de integração dos sistemas.

Vecina: Toda ação é derivada de um sonho. E sonhamos fora da realidade, em outro espaço. Se a gente só sonhasse na realidade, continuaria reproduzindo as coisa eternamente. O sonho do SUS busca construir uma nova realidade. Qual é a solução? De onde vem o dinheiro? Não tem solução nem de onde vem o dinheiro. Tem arranjos que foram socialmente construídos e que precisam continuar sendo construídos. O SUS é fruto disso..

Valor: A iniciativa privada se apoia muito na estrutura da saúde pública?

Vecina: A relação do Estado com o setor privado é promíscua. O capital tem envolvimento importante na determinação da vida política. A sociedade brasileira nunca deu bola para eficiência, mas hoje, com mais comensais à mesa, ou a gente é mais eficiente, ou não tem saída. Tem um conjunto de arranjos possíveis que temos que discutir.

Scheffer: Há um compartilhamento de serviços, um livre trânsito de profissionais e pacientes entre um sistema e outro. Cerca de 60% dos médicos trabalham ao mesmo tempo no público e no privado. São 50 milhões de brasileiros com planos de saúde, mas que usam o SUS constantemente pelas inúmeras exclusões de cobertura, mas também por aquilo que só o SUS oferece. Precisamos refazer as contas em praça pública. A população precisa ser convidada a participar do debate das deduções tributárias, das isenções e dos benefícios fiscais que o setor público dá ao privado. O fundo público sustenta em grande parte o mercado privado. Apesar de o ressarcimento ser previsto em lei, o SUS não recebe toda vez que um cliente de plano de saúde particular é atendido em hospital público. Há muito recursos públicos em favor do setor privado. Estamos chegando ao ponto de o SUS ser uma espécie de resseguro, um sistema compensatório do setor privado.


Valor: Alguém já conseguiu mapear quanto recurso público está no privado?

Temporão: Muito. O sistema de saúde brasileiro sempre foi uma mistura de público e privado. Nesses 25 anos, a oferta pública ambulatorial cresceu estupidamente, mas a oferta de leitos hospitalares continua mais da metade na mão do setor privado. O privado a serviço do universal é possível. A questão do trabalho médico é central nessa promiscuidade. A Constituição garante que o médico possa ter dois empregos públicos em entes distintos da federação e pode ter uma atividade privada. Ao se formar, o médico deveria ter de optar entre o público, em que teria de ser bem remunerado, claro, e o privado. Os médicos não querem nem ouvir falar nisso. Querem trabalhar 20 horas e dar muitos plantões, ter muitos vínculos. Surgem muitos conflitos de interesses. Na gestão, defendo um modelo público de fundação estatal regida pelo direito privado. O que é isso? Os funcionários vão ser contratados pela CLT [Consolidação das Leis do Trabalho] como qualquer trabalhador brasileiro.

Valor: O ponto é o Estado ter autonomia para contratar e demitir quando precisar?

Vecina: Veja o que aconteceu com a rede hospitalar do Rio de Janeiro: onde João Figueiredo [presidente da república entre 1979 e 1985] foi se tratar?

Temporão: No Hospital dos Servidores do Estado.

Vecina: Hoje, onde os políticos se tratam? O que aconteceu com o Hospital dos Servidores? Também no Rio de Janeiro, o que aconteceu com o Inca [Instituto Nacional de Câncer]? E a Fiocruz? Esses têm fundações privadas de apoio. A fundação é o órgão de apoio contra o qual se insurge o Ministério Público, porque é uma solução jurídica esdrúxula. É uma fundação chamada de terceiro tipo. É privada com objetivo de administração pública.

Valor: Isso ocorre porque a gestão pública é engessada, não?

Scheffer: Talvez o cenário seja uma competição de várias modalidades. Não me parece adequada a epidemia de organizações sociais. A cidade de São Paulo foi esquartejada entre 11 organizações sociais. Elas competem por recursos humanos predatoriamente, cada uma com uma forma de remuneração, um maneira de gerir o serviço. Abdicamos de ter parâmetros homogêneos e padronizados na saúde sem resolver o problema.

Vecina: Mas quem dita a política é o Estado, que tem o poder regulador. O problema é o Estado não ser capaz de ditar a política de gestão.

Couttolenc: Embora o Brasil tenha uma coleção razoável de experiências e modelos, não construiu duas coisas: um consenso sobre o que funciona melhor e o que não funciona, e um consenso para evoluir para um determinado modelo. É preciso uma reforma de fundo do papel e do funcionamento do Estado, da modalidade de gestão pública.

Temporão: O Inca é uma entidade de referência em câncer. Se um neurocirurgião do Inca se aposenta, é preciso contratar outro. Como funciona? O Inca manda o pedido para o Ministério da Saúde. Isso leva seis meses. Vai para o Ministério do Planejamento e leva mais um ano e meio. Depois, faz um concurso público, que leva mais seis meses. São dois anos e meio sem o cirurgião. O que o Inca fazia? A fundação contratava. O modelo em que o diretor de um instituto gasta dois anos para substituir um profissional está morto.

Valor: Por que é difícil mudar isso? É corporativismo de trabalhadores ou o governo resiste?
Vecina: Concepção do Estado.

Couttolenc: O modelo da administração direta não funciona e temos uma série de experiências interessantes que deveriam ser aproveitadas, mas não se criou um consenso sobre a direção a seguir. Também não se criou uma filosofia e mecanismos para avaliar objetivamente o que é feito.

Valor: E os conselhos de saúde, que papel exercem nesse emaranhado de polêmicas?

Vecina: Foram tomados pelas corporações. O controle social é um dos pontos de clivagem fundamentais da construção do SUS. Mas o Conselho Nacional de Saúde e a maioria dos conselhos municipais foram tomados pelas corporações. Seja de profissionais, seja de representantes de doenças...

Scheffer: O Conselho Nacional de Saúde foi totalmente cooptado pelo Ministério da Saúde.

Couttolenc: Tem gente tentando inovar, propondo modelos alternativos. Há também um movimento forte contrário a qualquer modelo alternativo. O meio-de-campo do que precisamos e podemos fazer é uma bagunça.

Vecina: Sobre o financiamento, existem diversos arranjos e um país deste tamanho não tem como ter um só. O Hospital Federal de Clínicas de Porto Alegre é uma empresa pública. A rede Sarah Kubitschek é um serviço social autônomo. Tem as fundações de apoio. A PPP [parceria público-privada] do Hospital do Subúrbio de Salvador está indo muito bem. O que faz a diferença? A capacidade regulatória do Estado. O que é gestão? A capacidade de mobilizar recursos para atingir objetivos. Comprar coisas e contratar pessoas. Quando é o caso, demiti-las. Temos que rever a estabilidade.

Scheffer: Mas também não se mantém um sistema de saúde com contratos precários.

Vecina: A realidade do mercado é essa. Não tem como contratar todo mundo por CLT.

Valor: O Ministério do Trabalho não fiscaliza?

Vecina: Fiscaliza, mas não tem saída. O mercado funciona assim.

Couttolenc: O que não quer dizer que esses arranjos sejam os melhores possíveis.

Scheffer: São os piores possíveis.

Vecina: É o mercado. Como ignorar que a realidade anda desse jeito?

Valor: A discussão sempre volta para o financiamento. O melhor seria melhorar o modelo que existe ou financiar algo menos ambicioso?

Temporão: Seja qual for o modelo, só aceito se for para todos. Da presidente até o peão. A Inglaterra gasta 8% do PIB com saúde e os EUA, 17%. Comparando os indicadores, os americanos ficam muito atrás: são 50 milhões sem cobertura. Um ponto é a relação entre gasto público e privado. As famílias que têm plano gastam um per capita bem maior que o do SUS, que oferece muito mais porque vai da prevenção até o tratamento de doenças crônicas. E tem o gasto tributário, renúncias e subsídios. Em 2011, o total desse gasto foi de R$ 16 bilhões, 24% do total do gasto federal em saúde. O gasto tributário é elemento de indução da política fiscal, mas não tem critério. Mais da metade da renúncia beneficia famílias de mais alta renda. O Estado tira do SUS R$ 16 bilhões e põe no mercado.

Scheffer: Foi um movimento simultâneo: o desfinanciamento do SUS e os aportes públicos para o setor privado de saúde. E o mercado quer mais. Em março, as maiores seguradoras foram bater na porta da Presidência em Brasília para pedir mais isenções.

Temporão: Querendo desenvolver produtos simplificados para a nova classe média.

Scheffer: Planos de saúde pobres para pobres. Olha onde podemos parar.

Temporão: Outro ponto do financiamento é o absurdo de dizer que a saúde é um direito de todos e dever do Estado, mas subsidiar plano de saúde de funcionários públicos. Isso, sem entrar nos gastos com saúde dos senadores, assistência médica para a família inteira, sem um valor de teto, sem critério.

Scheffer: Fora a cobertura que o SUS garante em função das exclusões dos planos de saúde. Isso é incalculável e tem a ver com a leniência da ANS [Agência Nacional de Saúde Suplementar]. Ela foi capturada pelo mercado que deveria regular. É um mercado com sérios problemas de cobertura, rede insuficiente, reajustes abusivos.

Couttolenc: Subsídios em si não são o problema. A questão é: qual é o objetivo? Contribuem para o fortalecimento do sistema? Para preencher lacunas do sistema público? Hoje, não tem critério. É contraproducente.

Temporão: O ideal seria que esses gastos tivessem um foco. Na alta complexidade, na atenção primária. Resolver gargalos.

Valor: Fala-se muito nessa agenda, do público versus privado, mas sem unidade. Como fazer esse debate ficar mais profícuo?

Temporão: Caímos na armadilha de opor melhor gestão e mais dinheiro. Esforços de melhoria de gestão são uma obrigação de qualquer governo, em qualquer época. E tem gente que diz que o dinheiro é suficiente, basta gastar melhor. Isso não é verdade.

Scheffer: Mesmo a demanda atual de destinar 10% da receita corrente da União para a saúde não daria R$ 190 bilhões em seis anos. Passaríamos apenas de 3,6% para 4,5% do PIB em recursos públicos. É muito pouco.

Couttolenc: A questão do financiamento não vai avançar se ficar limitada a mais dinheiro para o SUS. Tem que rediscutir o papel do público e do privado, como alavancar o dinheiro do privado para contribuir no sistema como um todo. O Brasil gasta 9% do PIB em saúde. É muito num país em desenvolvimento. O que acontece com esse dinheiro? O que a sociedade quer do sistema de saúde? Quanto custa isso?

Scheffer: Só não pode cair na armadilha de dizer que dinheiro não é problema. A estrutura de gastos predominantemente privados está na raiz da estrutura de castas na nossa saúde. Todos os sistemas universais têm mais de 70% de gastos públicos. Aqui são 40%. Não é possível, sem mais recursos públicos e novas fontes de recursos, chegar a um sistema de saúde universal.

Valor: As manifestações de junho cobraram claramente melhorias nos serviços públicos de saúde. Qual é o espaço para discutir o que a população quer do sistema de saúde?

Scheffer: Na Olimpíada de Londres, o Sistema Nacional de Saúde britânico fez parte da abertura. Isso mostra o orgulho que eles têm. Ninguém está satisfeito com a saúde no Brasil: nem quem depende do SUS nem quem usa o setor privado. A sociedade tem que entender o que está acontecendo e decidir que sistema de saúde quer. Não vislumbramos o SUS como foi idealizado há 25 anos, mas um sistema predominantemente privado não é solução.

Temporão: Nos países inseridos no modelo de bem-estar social, o sistema surge de um processo de maturação da democracia: querem um sistema igual para todos. É parte da consciência coletiva britânica que o sistema de saúde seja um bem público de valor inestimável. Tem um profundo sentido de solidariedade nisso. Agora o povo está na rua pedindo saúde pública de qualidade. Não vi nenhum cartaz dizendo que quer mais plano de saúde.

Vecina: Estou cético quanto a isso. Não existe acumulação de conhecimento suficiente nem disposição da sociedade para caminhar nessa direção. As pessoas não têm a percepção do público. É uma evolução que teremos de atravessar na consolidação da democracia. O sistema inglês é solidário, mas foi criado em 1948, depois da guerra.

Scheffer: Há um pouco mais de consciência social. As ruas reivindicam algo diferente.

Valor: A resposta imediata do governo federal no plano da saúde simboliza o quê?

Scheffer: Nada. Foi uma resposta insuficiente e precária.

Valor: Nem o Mais Médicos foi suficiente? Ele foca uma insuficiência de recursos humanos. Talvez o sistema de saúde devesse olhar mais para a formação de profissionais.

Couttolenc: A questão básica não é a insuficiência de médicos, mas sua alocação. O Mais Médicos é uma estratégia emergencial.

Scheffer: É uma política focalizada e, como tal, tem seus méritos.

Vecina: E a estrutura à atenção básica? Aumentamos bastante o número de escolas médicas. Em 20 anos vamos fechar esse buraco. Mas falta médico no país. O tempo de considerar um médico para mil habitantes era o tempo da atenção vertical. Estamos vivendo uma carga de doenças que exigem atenção horizontal. Não é mais uma consulta sobre pneumonia, mas tratar hipertensão e diabetes para o resto da vida. Esse modelo consome a percepção de um médico para cada 300 habitantes.

Scheffer: O programa Mais Médicos tem o aspecto meritório de contratar médicos para locais onde eles faltam. É melhor que nada, mas não é uma resposta para o que estamos discutindo. Temos três níveis de desigualdade de distribuição de profissionais: regional, entre público e privado - só 60% dos médicos atuam no SUS, muito pouco para um sistema que se pretende universal. O terceiro nível é o de formação. Não temos profissionais formados para atender às reais necessidades de saúde da população, principalmente as necessidades da atenção primária.


Temporão: A responsabilidade do governo é: como levo médicos para atender às necessidades básicas? A Austrália tem dificuldade de colocação de médicos e tem uma política para isso. Mas é ingênuo acreditar que abrir uma faculdade de medicina no interior vai fixar os médicos ali. Precisa ter uma política diferenciada, com estímulos. Acho que deve haver um serviço civil obrigatório para alunos de universidade pública. Essa lei dorme no Congresso há décadas, ninguém quer mexer nisso.

Valor: O que a política pública de saúde precisa olhar nos próximos 25 anos do SUS?

Vecina: O que queremos? Um serviço de qualidade voltado para a carga de doenças que temos. Isso implica repensar o SUS. Como enfrentar essa carga de doenças? Precisa de muito mais intersetorialidade. Essas causas não se enfrentam com remédio e hospital, mas com maior capacidade de ação social.

Couttolenc: O SUS e o sistema como um todo, da forma como o serviço de saúde está organizado, não fazem frente ao desafio. O SUS herdou da história o desafio de, ao mesmo tempo, recuperar o tempo perdido - ainda temos crianças morrendo de diarreia - e o surgimento do perfil epidemiológico, que exige outra organização. O SUS foi bem-sucedido ao recuperar o atraso, ajudado pela transição demográfica, que implicou ter menos crianças para tratar.

Temporão: Uma série de transições vai impactar o sistema. As três principais são a demográfica, a epidemiológica e a alimentar. Estamos nos aproximando do padrão de diabetes tipo dois e hipertensão arterial dos EUA. Em 2030 vamos ter mais brasileiros acima de 60 anos do que entre 0 e 19 anos. As demências senis, distúrbios neuropsíquicos, depressão vão ser muito importantes.

Scheffer: Os pontos a repensar são: financiamento, gestão, política de recursos humanos e relação público-privado. Há uma descontinuidade, cada gestão cria uma marca, uma saída, uma nova porta de entrada no SUS. A gestão é fragmentada, dificultando a organização do sistema. Talvez tenhamos ido longe demais na municipalização. O SUS alcançou uma base legal, experiência técnica e operacional, mas tem um problema de sustentabilidade política e financeira. A participação da sociedade é fundamental.

Couttolenc: Tem muita ineficiência sistêmica que decorre da dualidade entre público e privado, com sobreposição, setores que não conversam entre si, médicos que pulam de um lado para o outro. Eu gostaria que evoluíssemos de discutir o SUS para discutir o sistema de saúde. O SUS pretende ser o sistema único, mas não é. Para mudar isso, não se trata de estatizar o privado, mas trazê-lo para dentro do desenho de um sistema único.

Vecina: Eu acrescentaria a participação do setor de saúde na produção de valor, pela ativação da indústria em torno da saúde. Equipamentos, medicamentos, prestação de serviços hoje geram mais de 8% do PIB e são um dos maiores empregadores do país.

Temporão: O modelo do complexo industrial da saúde no Brasil é inovador. Envolve o BNDES, o setor privado, laboratórios, o poder de compra do Estado como promotor da internacionalização da capacidade de produção. China e Índia são grandes "players" no mercado internacional de genéricos, mas a produção industrial e o setor de saúde não têm nenhuma relação. Suas populações não têm acesso aos genéricos que eles exportam. Estamos tentando fazer uma coisa diferente.

Scheffer: O Sistema Único de Saúde é o sonho de que as pessoas possam ter acesso à saúde de acordo com sua necessidade e capacidade de contribuição, não de pagamento. Acreditava-se que a classe média estava totalmente divorciada do SUS. Parece que não é bem assim. O que vamos fazer com nossa riqueza coletiva, se o Brasil está crescendo? Vamos investir no projeto de um sistema único, universal, de qualidade, ou vamos ficar no sistema estratificado, desigual, injusto? A saúde pública está na pauta como nunca.

Tv Paga

Estado de Minas: 04/10/2013 



 (Chris Valias/Divulgação )

Sem desafinar


Dois programas de música estreiam hoje na telinha. Às 19h, o canal Bis apresenta o primeiro episódio de Áudio retrato, com Fernanda Abreu falando sobre o funk carioca, suas origens e particularidades. Pouco mais cedo, às 18h45, no Canal Brasil, Anelis Assumpção (foto) abre a nova temporada de Cantoras do Brasil, dedicada ao poeta Vinicius de Moraes. E no mesmo Canal Brasil ainda tem O som do vinil, às 21h30, focalizando o álbum Alerta geral, que Alcione gravou em 1978.

Contraplano debate
o samba hoje à noite


“O samba pede passagem” é o tema de hoje do programa Contraplano, às 22h, no SescTV. Os convidados para debater o assunto são o professor de filosofia Celso Favaretto e o artista plástico Luiz Aquila, partindo da análise dos filmes Garotas e samba (1957), de Carlos Manga; O mandarim (1995), de Júlio Bressane; Paulinho da Viola – Meu tempo é hoje (2003), de Isabel Jaguaribe; e Cartola – Música para os olhos (2005), de Lirio Ferreira e Hilton Lacerda.

Futebol é o tema de
atração do Discovery


No Discovery Channel, estreia hoje, às 19h25, Futebol 360: Jogadas de mestre. A série mostra jogadas incríveis já realizadas no esporte. O episódio de abertura, intitulado “Cobrança de falta”, mostra o que é preciso para que uma cobrança desse tipo acabe em gol. Overath Breitner da Silva, jogador do Santos, se põe à prova para mostrar os detalhes da cobrança perfeita.

TV Cultura estreia
a série Peripatético


Na Cultura, a novidade de hoje à meia-noite é Peripatético, que em sua primeira temporada vai tratar de temas como vaidade, sexo, fé, melancolia e casamento. Na atração, diferentes grupos de pessoas se reúnem com o filósofo Luiz Felipe Pondé durante um dia em uma casa de campo. A convivência e a filosofia se combinam para buscar a compreensão da vida cotidiana de cada um.

Bourdain vai ao Rio
na sua volta ao TLC


No canal TLC, às 21h, estreia a oitava temporada de Anthony Bourdain: sem reservas, em que o famoso chef de cozinha e escritor viaja pelo mundo em busca de aromas, sabores e autênticas experiências culturais, começando hoje pelo Rio de Janeiro. Ele inclusive visita favelas com um escritor da Cidade de Deus, e encontra o também chef Alex Atala.

Telecine aposta em
um filme de terror


No pacote de filmes, o maior destaque é a estreia do terror O segredo da cabana, às 22h, no Telecine Premium. No mesmo horário, o assinante tem mais oito opções: Desassossego (filme das maravilhas), no Canal Brasil; Almas à venda, na Cultura; Tio Boonmee, que pode recordar suas vidas passadas, no Telecine Cult; 007 – Operação Skyfall, no Telecine Pipoca; O noivo da minha melhor amiga, na HBO 2; Superclássico, no Max; Machete, no Max Prime; e D-Tox, no TCM. Outras atrações da programação: Domino – A caçadora de recompensas, às 20h, no Universal; A carruagem de ouro, às 21h30, no Arte 1; e Cartas para Julieta, às 22h30, no Megapix.

Freud explica - Mariana Peixoto

Sessão de terapia chega à segunda temporada apostando na TV para adultos, na contramão da estética adotada no país. O ator Cláudio Cavalcanti se despede em grande estilo do público


Mariana Peixoto

ESTADO DE MINAS: 04/10/2013 



Zécarlos Machado (c) interpreta o terapeuta Theo, que enfrenta novos desafios dentro e fora do consultório     (Adalberto Pygmeu/divulgação)
Zécarlos Machado (c) interpreta o terapeuta Theo, que enfrenta novos desafios dentro e fora do consultório


São Paulo – Para os padrões dos cortes incessantes, dezenas de cenas por capítulo e personagens à exaustão, a melhor produção da TV brasileira dos últimos anos é quase antitelevisão. A segunda temporada de Sessão de terapia estreia segunda-feira, às 22h30, já com o terceiro ano confirmado para 2014 e a missão de ir ainda mais longe. “Numa época afobada, estamos vivendo um momento histórico. Temos aqui a noção do que só iremos confirmar daqui a alguns anos: é possível se expressar fora da TV aberta”, afirmou Selton Mello, que também dirige os 35 novos episódios.

A narrativa tem início quase um ano depois da primeira temporada. Agora separado, o psicólogo Theo Cecatto (Zécarlos Machado) vive num pequeno apartamento, onde também funciona seu consultório. Sozinho e isolado, ele vai atender quatro novos pacientes nesse período de adaptação. Se no ano anterior seu questionamento se dava principalmente em torno da vida pessoal, do casamento fracassado e da paixão não concretizada por uma paciente, agora é a vida profissional que está em risco.

Entre as sessões, o terapeuta tem de se confrontar com o processo movido por Antônio (Norival Rizzo), pai de Breno (Sérgio Guizé), que o culpa pela morte do filho policial. Na nova vida, Theo se aproxima de algumas mulheres: a primogênita, Malu (Mayara Constantino), que tenta, sem muito sucesso, tirar o pai da apatia; Miriam (Renata Zhaneta), amiga de infância e primeiro amor; Lia (Luana Tanaka), a jovem vizinha; e Milena (Paula Possani), viúva de Breno.

“Desta vez, deu para ver mais claramente não só as questões que os pacientes traziam, mas o quanto o Theo carregava. Ele segue os princípios da primeira temporada, mas há um exercício maior de estudo e de aproximação”, afirma o ator Zécarlos Machado. A série é adaptação da produção israelense Be’Tipul (2005). A temporada inicial teve 9,5 milhões de espectadores no Brasil, considerando todas as exibições. “Fomos muito mais agressivos agora. A vizinha não existe na série original, a participação da filha do Theo era diferente. Na terceira temporada, a série será 100% original”, informou Roberto D’Avila, produtor do projeto.

Última mensagem


A ausência mais presente do lançamento de Sessão de terapia, num cinema paulistano, foi, obviamente, a de Cláudio Cavalcanti. Morto domingo, aos 73 anos, o veterano ator interpretou o empresário Otávio, cuja história será exibida às terças-feiras. Na sessão, foi exibido o vídeo do último dia de gravação de Cavalcanti – ele recebeu flores da equipe e disse que aquele momento “era mais importante do que a estreia com o TBC (Teatro Brasileiro de Comédia), 55 anos antes”.

“Fiquei arrasado, porque Cláudio estava com a cabeça boa e fez o trabalho sem nenhum percalço de saúde. Pensei tanta coisa nesses dias, mas agora estou em outro movimento, o de achar que poucos atores tiveram a oportunidade que ele teve, de deixar um trabalho tão lindo como última mensagem. O artista é finito, a arte, infinita. Cláudio fez algo muito poderoso nessa saída de cena”, disse Selton Mello.

* A repórter viajou a convite do GNT


Tipo exportação

Com o título Be’Tipul, a Sessão de terapia original, criada por Hagai Levi, estreou em abril de 2005, em Israel. Foram somente duas temporadas, a segunda em 2008, mas não houve economia nas versões: a produção ganhou edições nos EUA, Argentina, Canadá, Romênia, República Tcheca, Polônia, Hungria, Itália, Japão, Holanda, Rússia, Sérvia, Eslovênia e Croácia.


Em todas as frentes

Na TV de vários países, Sessão de terapia – em livro – só existe no Brasil. A convite da editora Arqueiro, a roteirista da série, Jaqueline Vargas, transformou a primeira temporada num volume de 280 páginas (R$ 29,90). Em primeira pessoa, o terapeuta Theo apresenta seu relato das sessões e do que ocorreu em sua vida pessoal durante nove semanas. Também agora chega às lojas, pela Som Livre, a caixa com os 45 episódios da temporada inicial. Está prometida também para este ano a trilha sonora, assinada por Plínio Profeta.


No sofá

Segunda-feira – Carol (Bianca Comparato), estudante de arquitetura, não consegue começar sua monografia de final de curso. A razão é uma só: há três semanas descobriu que tem um linfoma. Até chegar ao consultório de Theo, Carol não havia falado com ninguém sobre a doença. E só consegue revelá-la ao terapeuta numa folha de papel.
 (Jorge Bispo/divulgação)
Terça-feira – Antes da chegada de Otávio (Cláudio Cavalcanti, foto) à sessão, Theo lê no jornal sobre um escândalo ambiental em que a empresa do executivo está envolvida. Mas não é isso que o leva à terapia. Casado e pai de três filhos, todos vivendo bem longe dele, Otávio tem crises de ansiedade – uma delas, inclusive, no início da primeira sessão.

Quarta-feira – Paula (Adriana Lessa) é uma agressiva advogada de 41 anos. Chega ao consultório de Theo depois de ouvir do ginecologista que seus óvulos estão ficando velhos. Casada, ela nunca pensou em ser mãe. Mas a afirmativa a leva a questionamentos: se tivesse um filho, iria amá-lo? Seria boa mãe? Conseguiria deixar o trabalho de lado em prol de outra pessoa?

Quinta-feira – Daniel (Derick Lecouflé) é um garoto de 10 anos muito acima do peso. Ele não aceita a separação dos pais, Ana (Mariana Lima) e João (André Frateschi), antigos pacientes de Theo. O menino já chega ao consultório querendo ir embora, mas, em meio ao jogo de damas, em que “come” todas as peças do terapeuta, passa a revelar as dificuldades de estar no meio de uma briga.

Sexta-feira – Theo está de volta ao consultório de Dora (Selma Egrei). O terapeuta retoma as sessões com um objetivo: pedir à colega um relatório que o ajude no processo movido contra ele pelo pai do ex-paciente Breno (Sérgio Guizé), culpando-o pela morte do filho. Já no primeiro encontro, Theo desfia para a supervisora uma série de problemas de sua vida pós-separação.


SESSÃO DE TERAPIA
A segunda temporada estreia segunda-feira, às 22h30, no canal pago GNT. Exibição de segunda a sexta-feira.

Carlos Herculano Lopes - Das boas coisas

Carlos Herculano Lopes

carloslopes.mg@diariosassociados.com.br

Estado de Minas: 04/10/2013 



Se existe uma coisa boa em participar de encontros e feiras literárias, que de uns tempos para cá têm se espalhado pelo Brasil, é a chance de encontrar velhos amigos, fazer novos, conhecer lugares. De uns dias para cá, aqui no país das Gerais, tive a oportunidade de estar em dois desses eventos: o Fliaraxá – Festival Literário de Araxá, com curadoria de Afonso Borges, e o Felit – Festival Literário de São João del-Rei, cujo curador foi José Eduardo Gonçalves. Belas festas de celebração ao livro e às palavras.

Nas duas cidades, para minha alegria, estive com muita gente boa. Em Araxá, seguindo a velha tradição mineira, fui anfitrionado por ilustres filhos da terra: os irmãos Dirceu e Leila Ferreira, e um primo deles, Evandro Affonso Ferreira, cujo romance, O mendigo que sabia de cor os adágios de Erasmo de Roterdam, está entre os finalistas do Prêmio Jabuti deste ano. Não será nenhuma surpresa se for o vencedor. Numa noite, com a lua cheia, estivemos na casa de Cristina e Gustavo Pena, que fica de frente para uma lagoa, em volta da qual, como ele contou, vivem centenas de passarinhos. Do papo, que entrou noite adentro, participaram, entre outros, a empresária Ângela Gutierrez e a professora Mary Del Priore. Seu último livro, sobre a princesa Isabel, é leitura obrigatória para quem quiser saber mais sobre a história deste país.

De Araxá, onde havia ido em outras ocasiões, segui para São João del-Rei. Fui nas ótimas companhias da escritora Paula Pimenta, cujos livros, voltados para o público adolescente, estão fazendo o maior sucesso, e do romancista Ivan Ângelo. Com ele participei de duas mesas-redondas: na primeira, durante o dia, falamos para centenas de professores de várias cidades do Campos da  Vertentes, que estavam reunidos em um congresso sobre educação. E na outra, à noite, no Teatro Municipal, a discussão versou sobre a crônica e seu método de criação. Na plateia, para a nossa honra, ninguém menos que o casal Lúcia e Luis Fernando Verissimo, que estavam hospedados em Tiradentes, na casa de Zenilca Navarro. Há coisa de quatro anos, também naquela cidade, tinha me encontrado com eles.

Depois da conversa, que teve mediação do professor e também cronista José Antônio Rezende, seguimos para o Restaurante Dedo de Moça, no qual seria oferecido um jantar em homenagem ao escritor gaúcho que, justo naquele dia, 26 de setembro, estava completando 77 anos. A reunião, que entrou noite adentro, mostrou um Luis Fernando Verissimo, cuja timidez é famosa, feliz e bem disposto. Tomou uma dose da cachaça Tabaroa, provou tira-gostos e ainda guardou lugar para o linguado a Verissimo, servido como prato principal. Antes da sobremesa, outra reverência ao mestre, feita pelo Trio Serenate, lá mesmo de São João, e que é formado por Kessin no saxofone, Fábio Neves na gaita e Douglas André no violão.

Terminada a apresentação, com todos novamente em volta da mesa, perguntei a Verissimo de quais livros do seu pai ele mais gostava: “Da trilogia O tempo e o vento”, respondeu sem vacilar, como já devia ter feito outras vezes . Daí a pouco, no início da madrugada, nos despedimos. Estava quase na hora, como sempre acontece em encontros deste gênero, de pegar novamente a estrada.

P.S.: A Editora Objetiva acaba de lançar um novo livro de Luis Fernando Verissimo, Os últimos quartetos de Beethoven e outros contos.

Vacina desenvolvida no Canadá pode aumentar proteção contra tuberculose

Injeção de vírus contra a tuberculose 

Vacina desenvolvida no Canadá poderá ser aplicada com a BCG e aumentar proteção em adultos. Durante testes, imunização aumentou número de células de defesa dos voluntários



Isabela de Oliveira


Estado de Minas: 04/10/2013 


Pesquisadores canadenses divulgaram hoje, na revista Science Translational Medicine, os resultados dos primeiros testes feitos com uma vacina que pode aumentar a eficiência da imunização contra a tuberculose. Projetada na McMaster University, em Ontário, para ser aplicada após a vacinação inicial com a BCG, a terapia obteve boas respostas em testes de fase 1 com humanos. A BCG é a única imunização disponível contra a doença. A que está em teste, chamada de AdHu5Ag85A, não provocou efeitos colaterais relevantes nas cobaias e ainda aumentou a quantidade de células de defesa.

Embora consiga imunizar com sucesso bebês e crianças, a BCG encontra dificuldades em proteger adultos contra a infecções pulmonares causadas pela bactéria Mycobacterium tuberculosis, agente também chamado de bacilo de koch e causador da tuberculose. Os testes clínicos foram realizados com 24 homens e mulheres saudáveis, sendo que alguns haviam sido previamente imunizados. Todos receberam uma única dose da AdHu5Ag85A e nenhum resultado adverso considerável foi registrado. A vacina conseguiu potencializar dois tipos de linfócitos T auxiliares, os CD4+ e CD8+, em especial no grupo que já havia sido vacinado com a BCG.


Zhou Xing, um dos pesquisadores da McMaster University, explica que a vacina foi desenvolvida a partir do adenovírus recombinante humano tipo 5, o AdHu5. Esse tipo de vírus quando manipulado é capaz de expressar um antígeno da bactéria causadora da tuberculose para ativar as células T — responsáveis pela imunidade celular e pela produção de anticorpos. “A vacina AdHu5Ag85A foi um sucesso. Também demonstrou ser eficiente quando usada de forma independente e como uma otimizadora da BCG em murinos, porquinhos-da-índia , cabras e bovinos com tuberculose pulmonar”, disse Xing. 


Luiz Castello-Branco, diretor científico da Fundação Ataulpho de Paiva, única produtora da BCG no Brasil, explica que a nova vacina está longe de chegar ao mercado, pois o estudo clínico ainda está na primeira fase. Segundo o médico, que não participou do estudo, na fase 1, é verificada a segurança e a ação imunogênica do produto. O projeto ainda precisará passar por duas etapas, quando será verificada a ação do imunizador em doentes, crianças e grandes populações.

“Há pouco tempo, tínhamos um modelo de vacina que estava bem evoluída, já na fase 2. No início do ano, ela foi testada e parecia ser uma boa coadjuvante à BCG, dada como reforço. Era também feita com vírus, produzida por pesquisadores da Universidade de Oxford, mas obteve resultados ruins. Essa vacina produzida pelos canadenses pode ser algo interessante, mas ainda não podemos avaliar se ela poderá realmente ajudar. Eu espero que sim”, diz Castello-Branco.

Problema mundial Xing destaca quer a tuberculose continua sendo uma das principais causas infecciosas de morte no mundo. Cerca de 1,4 milhão de pessoas morrem a cada ano por causa da doença e um terço da população mundial está infectada de forma latente pela bactéria. Há anualmente entre 8 a 9 milhões de novos casos de tuberculose registrados no mundo, sendo os soropositivos os mais suscetíveis à doença. Pelo menos um terço dos pacientes com AIDS não resiste a ela. 


O Brasil está entre os 20 países de maior carga de tuberculose no mundo, com cerca de 72 mil novos casos e 4,5 mil mortes por ano. Os estados mais atingidos são Rio de Janeiro e Amazonas. Castello-Branco explica que a mortalidade de crianças relacionada à bactéria, como meningite tuberculosa, foi reduzida drasticamente desde que a vacina começou a ser aplicada na década de 1930. “Para as crianças, portanto, há um claro benefício. No entanto, a eficácia da BCG nos adultos é de cerca de 48%.”


Segundo Lindivânia Brandão, coordenadora do Programa de Tuberculose da Secretaria de Saúde do Distrito Federal, em 2011, a média de cura da doença no Brasil foi de 75,4% e de 83% no DF. Ela destaca que o grande dificultador do combate à doença, principalmente por parte dos adultos, é o abandono do tratamento. “É longo, dura seis meses. Ao perceberem uma melhora no primeiro mês, os pacientes acabam abandonando os medicamentos. Além de vacinas, precisamos de um tratamento supervisionado que instrua melhor a comunidade”, conclui Lindivânia.


UFMG avalia testes de diagnóstico da doença

Descobrir se novos kits de diagnóstico são eficazes e se atendem aos requisitos necessários para serem usados na rede pública de saúde é o principal objetivo da pesquisa “Avaliação de custo-efetividade por meio de amplificação de ácido nucleico para o diagnóstico da tuberculose”, conduzida pelo Laboratório de Microbactérias da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). A iniciativa tem apoio do Hospital das Clínicas da UFMG, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig). Os testes também serão realizados em outros dois estados, nas cidades de Manaus e Rio de Janeiro, para comparação dos resultados.


Segundo a Organização Mundial de Saúde, o Brasil ainda faz parte da lista de 22 países com maior número de casos da doença. São em torno de 70 mil novos registros, por ano. Só em Belo Horizonte, cerca de mil novos, e na região metropolitana, mais de 2 mil a cada ano. Em média, a cada dia morrem 16 pessoas vítimas da tuberculose na região. De acordo com a pneumologista Silvana Spindola de Miranda, professora do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da UFMG que coordena a pesquisa no estado, a partir da autorização expressa dos pacientes do Hospital das Clínicas da UFMG suas amostras respiratórias serão testadas usando o kit Molecular Detect-TB Labtest.

A médica explica que o novo método, altamente sensível e específico, deverá levar cerca de dois dias para ficar pronto. Atualmente, os exames negativos, que exigem a cultura de células para confirmação, podem levar até 8 semanas. Assim, como os exames de diagnóstico realizados não são tão sensíveis e específicos, e apresentam grande probabilidade de erro. Por isso, mesmo sem um diagnóstico confiável, muitos pacientes são tratados. 


Mal de todos os séculos A tuberculose é uma doença de causa bacteriana e que está relacionada com a pobreza, condições precárias de saúde, alcoolismo e doenças crônicas como diabetes. Na maioria das vezes ela compromete os pulmões, mas pode afetar outros órgãos e sistemas do organismo. Apesar de o tratamento ser financiado pelo Sistema Único de Saúde (SUS), o principal problema para o devido controle da tuberculose é o abandono do tratamento. “Quando o tratamento é iniciado, o paciente já percebe que sintomas como tosse, febres e outros são reduzidos e, por isso, acha que já está curado. Isso é grave, pois é comprovado que a doença não é curada em menos de seis meses”, alerta a professora. Pessoas com tuberculose ativa podem transmitir a doença através de espirros, tosse e também ao falar. “Por isso a importância da conscientização, principalmente em locais com maior incidência, e métodos mais eficazes para o diagnóstico”, ressalta Silvana.

Insetos preveem mau tempo e se protegem, segundo pesquisa brasileira

SEXTO SENTIDO ANIMAL » Insetos preveem mau tempo e se protegem


Vilhena Soares


Estado de Minas: 04/10/2013 


Besouro estudado na pesquisa da USP: até 12 horas antes da chuva, os animais começaram a se proteger (José Maurício Bento-USP/Divulgação )
Besouro estudado na pesquisa da USP: até 12 horas antes da chuva, os animais começaram a se proteger

“A dona aranha subiu pela parede, veio a chuva forte e a derrubou.” A letra da famosa cantiga infantil que narra as peripécias do pequeno animal durante o mau tempo não está de acordo com o comportamento dos bichos. É o que mostra uma pesquisa realizada por cientistas brasileiros em parceria com canadenses e divulgada, nesta semana, na revista Plos One. De acordo com o experimento, os insetos conseguem detectar mudanças de temperatura e, por conta disso, mudam o comportamento para evitar problemas. Ao prever ventos fortes e tempestades, por exemplo, procuram um lugar para se esconder e cessam as atividades de acasalamento. A partir da descoberta, os cientistas acreditam que não só os insetos mas também outros animais se poupem durante temperaturas hostis para evitar riscos de morte e contratempos.
O trabalho foi realizado por José Maurício Bento, professor de entomologia da Universidade de São Paulo (USP), e a aluna Ana Cristina Pellegrino. Ao observar o comportamento dos animais em laboratório, eles notaram mudanças no comportamento dos insetos conforme variações no tempo. “Quando realizamos estudos, temos que controlar as variáveis, como a temperatura e a luz. Durante as experiências, notávamos que tinha dias em que os testes funcionavam e outros que não. Para nossa surpresa, constatamos que as alterações na pressão atmosférica provocavam as mudanças dos bichos”, conta Bento.
Para comprovar as constatações, os cientistas realizaram um experimento com três insetos de características bem distintas: um pulgão, um besouro e uma mariposa. “Monitoramos as variações pelos dados fornecidos pelo Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) e notamos que, assim que a pressão atmosférica baixava, com seis a 12 horas de antecedência das chuvas, os insetos interrompiam as atividades de reprodução, como os rituais para o acasalamento, e se abrigavam, mesmo estando em um lugar fechado, como o laboratório.”
O experimento foi repetido no Canadá, na Universidade de Ontário, com uma câmara barométrica, que permitiu o controle da pressão atmosférica. As mudanças no comportamento foram novamente constatadas. Segundo Bento, a pesquisa comprova observações anteriores no mesmo sentido. “Vimos algo parecido em um tsunami que atingiu a Malásia. Alguns bichos fugiram antes da tragédia e sobreviveram. Também temos casos isolados, como o comportamento dos cachorros que uivam quando vai chover. Nossa pesquisa reforça essa suspeita de mudança (de comportamento) com um experimento, que tem valor científico ”, diz.
Para o biólogo do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Roberto Magno, que não participou do estudo, o resultado do trabalho mostra claramente umas das ferramentas utilizadas para a sobrevivência dos bichos e um comportamento evolutivo. “Os insetos estão na Terra há mais de 300 milhões de anos. Eles chegaram bem antes do homem e precisavam utilizar os recursos para se proteger até por conta da estrutura, que é pequena e frágil”, explica. De acordo com Bento, o próximo passo da pesquisa será descobrir como funciona esses mecanismos de preservação e quais os recursos utilizados por esses animais para agir dessa forma.

Os olhos do idoso - Etelvino Teixeira Coelho‏

A maior parte das doenças oculares já podem ser tratadas


Etelvino Teixeira Coelho
Oftalmologista


Estado de Minas: 04/10/2013 



O tema da Dia Mundial da Visão 2013, instituído pela Organização Mundial da Saúde, é “O olho do idoso — Olhos no futuro”. A catarata, o glaucoma, a retinopatia diabética e a degeneração macular são os principais focos da campanha . A catarata é a maior causa de cegueira tratável após os 50 anos, e a cirurgia devolve a visão plena a milhões de brasileiros. O glaucoma — que cega silenciosamente de forma irreversível, lenta e covarde — só pode ser diagnosticado com a medida da pressão intraocular, o exame de fundo de olho com análise do nervo óptico. A realização do campo visual já pode ser tratado, em sua maioria, com a instilação diária de uma simples gota de colírio e sessões de laser de argônio. A retinopatia diabética, se não tratada, lesa a visão de 80% dos diabéticos e leva à perda visual, pode ser prevenida e acompanhada, com o exame periódico de fundo de olho, associado a exames microscópicos das camadas da retina, como a angiofluoresceinografia e a tomografia de coerência óptica (O.C.T.), e tratada com aplicações de laser de argônio e injeções intravítreas de novas substancias chamadas anti VEGF – utilizadas também para tratar a degeneração macular senil. Os acidentes vasculares com obstrução da rede artério venosa da retina também se beneficiam com essa terapia associada ao laser de Argônio.

Programas de doação de córneas devem ser implementados pelo Ministerio da Saúde para estimular os brasileiros a doarem suas córneas, e o objetivo até 2020 é “zerar a fila dos transplantes de córnea”. Com o “teste do olhinho”, hoje obrigatório nos berçários das maternidades, o médico pode examinar o fundo de olho dos recém-nascidos, em busca de doenças congênitas, tumores, catarata e glaucoma, que podem ser tratadas de imediato. As crianças em fase escolar portadoras de defeitos da refração (miopia, astigmatismo e hipermetropia), olho preguiçoso , estrabismo e dislexia apresentam sérios problemas na aprendizagem e na alfabetizaçao, que levam à repetência e mesmo à evasão escolar. Os exames nos escolares contribuem para a melhora da aprendizagem e redução da repetência. Defeitos da refração, como a miopia, a hipermetropia, o astigmatismo, a presbiopia (vista cansada), hoje já podem ser tratados e curados com o excimer laser, em segundos, eliminando o uso dos óculos; o ceratocone (córnea cônica) hoje já é tratado com o implante de segmentos acrílicos no interior da córnea e a aplicação de radiação UV associada a riboflavina (cross linking de colágeno), que podem evitar o transplante de córnea, antes inevitável.

As distrofias da retina, como a retinose pigmentar, que levam à cegueira, já apresentam esperança de novos tratamentos, ainda que experimentais, com a utilização de terapia de células-tronco e o implante de chips na retina. Assim, vemos que, felizmente, a maior parte das doenças oculares podem ser evitadas, prevenidas e tratadas com sucesso. Por isso mesmo, visite anualmente o seu oftalmologista e faça a rigorosa prevençao dessas doenças, que podem lesar para sempre a visão —que é o mais importante sentido do ser humano.

EDUARDO ALMEIDA REIS - Férias em Marrocos‏

Férias em Marrocos 

Minas, hoje, se divide entre antiatleticanos e anticruzeirenses, se considerarmos somente as equipas que disputam a Série A do Brasileirão 

Estado de Minas: 04/10/2013

Quase toda a mineiridade só pensa nos 446 mil km2 do Reino de Marrocos, capital Rabat, monarquia constitucional, primeiro-ministro Abdelilah Benkirane, rei Mohammed VI, dinastia alauita, línguas oficiais árabe marroquino e berbere, mas o francês é muito falado e usado em documentos do Governo, 34 milhões de habitantes, moeda dirham, PIB modesto, IDH modestíssimo, cidade mais populosa Grande Casablanca, cerca de 3,3 milhões de habitantes.

Muita gente já está de passagem comprada para torcer pelos craques do exército de Kalil, o Magnífico, nas finais do campeonato mundial de clubes. Parcela quase tão numerosa de cidadãos continuará em Minas torcendo contra o campeão da Libertadores. Longos anos trabalhando como Cronista-Fifa no grande jornal dos mineiros me ensinaram que Minas, hoje, se divide entre antiatleticanos e anticruzeirenses, se considerarmos somente as equipas que disputam a Série A do Brasileirão.

Informação curiosa para os que demandarem o país africano é a de que na década de 1950, quando se tornaram mais frequentes os voos transatlânticos em quadrimotores a hélices, Marrocos foi pioneiro numa profissão hoje muito comum no Brasil, que já deve estar regulamentada pela CLT: garotos de programas.

Havia nas cidades marroquinas um sem conto de bordéis oferecendo os serviços amorosos de árabes espadaúdos, bem dotados, procurados por senhoras brasileiras da maior respeitabilidade, bem de vida, viúvas ou desquitadas, que passavam por lá férias inesquecíveis de 20 ou mais dias. Melhor que isso: só de maldade, contavam dos árabes às suas amigas de Brasil, casadas, que passavam 365 dias/ano jogando pife-pafe.

Ainda hoje circula nas colunas dos jornais impressos e televisados, neste país grande e bobo, um cavalheiro poseur, gorducho, alfabetizado, poliglota, cuja avó materna vivia de férias em Marrocos e chegou a aprender em berbere e árabe marroquino locuções importantíssimas da série "me mata!", "me bate!", "diz que eu sou a sua velhinha gostosa!".
Biografias

Seguinte: biografia autorizada é pior que autobiografia. Numa autobiografia o herói ainda pode deixar escapar fatos desabonadores de sua passagem por esta encarnação; nas biografias autorizadas há um exército de censores cortando aqui e ali, eventualmente acolá, para transformar o biografado num santo.

Os jornais deram notícia da luta de biógrafos e editores honestos para publicar seus livros sobre o grande Rosa de Cordisburgo, Mário de Andrade, que morreu solteiro, Roberto Carlos Braga, Raul Seixas, Lupicínio Rodriques, Lily Watkins, gaúcha de Porto Alegre, e vários outros brasileiros vivos ou mortos.

Lily Watkins, hoje Lily Watkins Cohen Monteverde Garbacchio Bendahan Safra, is a Brazilian philanthropist and social figure who attained considerable wealth after four marriages. Her net worth is estimated at $1 billion, ranking her as the 701st richest person in the world according to Forbes in 2009.

Tem, portanto, cerca de dois bilhões e quatrocentos milhões de reais para gastar na Justiça contra o biógrafo que dela não fale bem. Sugiro que gaste um tiquinho de sua imensa fortuna contratando como ghost-writer um philosopho amigo nosso, que escreva, na primeira pessoa, sua "autobiografia" em três ou quatro meses de trabalho estrênuo. Sendo estrênuo, do latim strénuus,a,um "diligente, ativo", o livro resultará da melhor supimpitude.

 Português


De 2 a 15 de setembro São Paulo realizou a Restaurant Week, almoços e jantares a preços fixos em restaurantes especializados em qualquer tipo de culinária – japonesa, chinesa, tailandesa, francesa, alemã, mineira, gaúcha – destinando um real de cada refeição a instituições de caridade. Não fosse o título Restaurant Week, que pode matar de raiva os meus amigos puristas, a iniciativa paulista seria interessante. Os cardápios dos restaurantes devem respeitar a sugestão da semana, que dura 15 dias. Em 2013, com o tema "primavera", foi obrigatória a utilização de flores e frutas. Preços: almoço R$ 34,90 e jantar R$ 47,90 – entrada, prato principal e sobremesa.

Pois é: tenho amigos puristas. São indivíduos preocupados com a conservação da pureza do nosso idioma, a correção da linguagem, a elegância de estilo e nada têm de puros, porque só pensam bobagens. Estão furiosos com o fato de restaurant, no dicionário do Dr. Bill Gates, explicar: "Early 19th century. < French, < present participle of restaurer < Latin restaurare "set upright again", enquanto week vem do "Old English wice < Germanic "series, succession". No entendimento dos ilustrados brasileiros, a promoção paulista deveria ser Semana de Comer, do latim tardio septimána,ae 'id.' e do latim comèdo,is ou es,édi,ésum ou estum,comedère 'comer'.

O mundo é uma bola
4 de outubro de 1910: início da revolução republicana em Portugal, que depõe o rei Manuel II. Pormenor curioso: Portugal, que tem Manuéis a montões, levou 500 anos para ter um Manuel II. Em 1942, Getúlio Vargas institui o cruzeiro como a moeda oficial do Brasil. Em 1970, com 27 aninhos, a cantora Janis Joplin exagerou na dose de heroína e passou desta para a pior. No mesmo dia do mesmo ano, pilotando uma Lotus, Emerson Fittipaldi vence a sua primeira corrida na Fórmula 1.
Em 1779 nasceu o naturalista francês Auguste de Saint-Hilaire, que viajou muitos anos pelo Brasil e nos deixou livros preciosos.

Hoje é o Dia Mundial dos Animais, motivo pelo qual entro de férias.

Ruminanças


"Sirvo-me de animais para instruir os homens" (La Fontaine, 1621-1695).

Um ardente Planeta Vermelho‏

Um ardente Planeta Vermelho 

Cientistas descobrem que, há 3,5 bilhões de anos, supervulcões entraram em erupção em Marte e provocaram as grandes crateras registradas hoje por satélites e sondas 

Roberta Machado


Estado de Minas: 04/10/2013

Brasília – Estudos detalhados sobre imagens de satélite revelam que Marte tinha supervulcões há bilhões de anos. A descoberta, publicada ontem na revista Nature, pode mudar o que os cientistas sabem sobre o passado geológico do planeta. As crateras, que antes eram relacionadas a impactos de objetos espaciais, são similares às estruturas formadas na Terra por violentas explosões de cinzas, gás e lava. Estima-se que os componentes voláteis expelidos pelas enormes formações sejam responsáveis pela formação da antiga atmosfera do Planeta Vermelho.

Supervulcões produzem mais de mil quilômetros cúbicos de material em uma única erupção e têm um formato diferente das montanhas curvadas que são popularmente associadas a esse fenômeno. As violentas explosões originadas nessas estruturas são como uma pessoa abrindo de uma vez uma garrafa cheia de refrigerante: a mudança de pressão expulsa o líquido do recipiente de uma forma diferente do que aconteceria se a cobertura fosse retirada devagar. A lava expulsa se solidifica no formato de uma parede muito alta, que acaba entrando em colapso. O que sobra é uma grande cratera, também conhecida como caldeira vulcânica.

As ruínas vulcânicas foram encontradas em uma região marciana chamada Arabia Terra, fotografada por satélites e varrida por um equipamento a laser que coleta dados topográficos do espaço. “O que aconteceu é que eu estava originalmente estudando crateras de impacto em Marte e encontrei algumas que não parecem com crateras de impacto de verdade. Algumas têm formatos muito diferentes e evidência clara de vulcanismo”, conta Joseph Michalski, autor da descoberta e pesquisador no Museu de História Natural de Londres.

Provas escassas Caso a origem das crateras seja mesmo vulcânica, estima-se que os vulcões tenham entrado em atividade há mais de 3,5 bilhões de anos. O tempo e a própria ação dos vulcões teriam apagado a maioria das provas do acontecimento geológico — tudo em um planeta que ainda está fora do alcance de qualquer ser humano. “Em geologia, nós nunca podemos absolutamente provar a origem de alguma coisa sem qualquer tipo de dúvida. Mas, nesse caso, podemos apresentar uma forte teoria, que construímos por anos de pesquisa”, acredita Michalski.

De acordo com Michalski, os gases expelidos por esses supervulcões podem ter uma participação importante na formação da atmosfera de Marte, assim como importantes mudanças climáticas que ainda não são bem compreendidas pelos cientistas. Os supervulcões também podem ser a fonte da grande quantidade de material vulcânico encontrado em todo o Planeta Vermelho. Erupções seguidas de terremotos e emissões de gás teriam levado a uma enorme explosão da crosta superior do planeta, cobrindo o solo com uma grande camada de cinzas.

Até então, os sedimentos que cobrem o solo marciano eram considerados uma misteriosa peça do quebra-cabeça que remonta o passado de Marte, pois ainda não haviam sido encontradas estruturas geológicas grandes o suficiente para causar o fenômeno. Embora existam caldeiras similares na Terra, pesquisadores acreditam que o mesmo não aconteceu devido à diferença de pressão das crostas dos planetas: a terrestre é maior, o que significa que a origem da lava é mais superficial e surge com menos expansividade.

Novas provas dependem de análises feitas diretamente com as rochas magmáticas do Planeta Vermelho, como as feitas pelo rover Curiosity há um ano. “É possível inferir aspectos da composição do manto de onde o magma foi gerado e a pressão e temperatura em que ocorreu a fusão. Também é possível inferir as condições que levaram à cristalização do magma”, enumera Edward Stolper, pesquisador do Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech).
Recentemente, Stolper e um grupo de pesquisadores foram capazes de apontar que a formação de rochas magmáticas no Planeta Vermelho é parecida com o mesmo processo terrestre. “Isso foi inesperado”, conta Stolper.