quinta-feira, 6 de junho de 2013

Estilo Dilma - Rogerio Gentile

folha de são paulo
Estilo Dilma
SÃO PAULO - Dois anos e meio depois da sua posse, Dilma Rousseff ainda governa o Brasil como se fosse ministra da Casa Civil. Gasta mais tempo com os detalhes da administração do que com os rumos do país. Privilegia a tecnocracia em detrimento da articulação política. E, em vez de estimular a criatividade, usa broncas como método de trabalho.
Dilma não é uma presidente formuladora, como foi FHC. Tampouco tem a intuição e a sensibilidade de Lula ou mesmo a sua capacidade de enfrentar situações difíceis, inclusive na economia, na base do gogó.
A presidente também tem grande dificuldade para escolher auxiliares. FHC tinha Malan, Serra, Armínio Fraga e Pedro Parente. Lula tinha Dirceu, Palocci, Thomaz Bastos, Henrique Meirelles e a própria Dilma.
Pode-se gostar ou não de cada um deles, mas é inegável que compunham núcleos consistentes e capacitados de governo. Não é à toa que FHC e Lula tornaram-se dois dos mais importantes presidentes da história do Brasil. Dilma trabalha praticamente sozinha.
Reportagem publicada pela Folha na semana passada é simbólica sobre o jeito Dilma de governar. Por não tolerar turbulências em seus deslocamentos aéreos, a presidente verifica pessoalmente o plano de voo do avião presidencial, aprendeu a ler os dados do painel da cabine do piloto e até modifica as rotas oficiais.
A presidente-gerente, como seus aliados costumam dizer, de fato toca o governo como quem supervisiona o embarque de um avião. Auxilia os passageiros, agiliza as filas, arruma a gola do piloto, reclama do penteado das aeromoças, observa se as malas estão devidamente etiquetadas e manda limpar de novo o banheiro dos aviões.
Se o país estivesse voando em céu de brigadeiro, seu estilo centralizador, detalhista e reclamão seria apenas folclórico. Em tempos de crescimento econômico baixo e de inflação batendo novamente à porta, é motivo para preocupação.

    Só há inclusão com união verdadeira - José Junior

    folha de são paulo
    TENDÊNCIAS/DEBATES
    Não há futuro na infelicidade pessoal provocada pela exclusão. É para somar que o AfroReggae chega a São Paulo, após 20 anos no Rio
    O Brasil vive uma oportunidade histórica. Já éramos fortes por sermos mestiços. Agora, reduzimos diferenças econômicas. O país caminha para a inclusão social, e os benefícios disso estão por toda parte.
    De uma hora para a outra, pessoas vindas de realidades distantes passaram a dividir o hall do aeroporto e os mesmos produtos no supermercado. Passaram a ter automóveis. Isso é bom. Mas não basta. É preciso ir além. Ir mais fundo.
    Não há futuro no apartheid, seja ele social, econômico, racial ou de gênero. Não há futuro na infelicidade pessoal provocada pela exclusão. Essas ideias motivaram a criação, em 1993, do Grupo Cultural AfroReggae e o inspiram até hoje.
    O clima no Rio de Janeiro daquele tempo era irrespirável. Violento, preconceituoso, distante. O jornalista Zuenir Ventura foi o primeiro a notar e definiu: "Uma cidade partida". Havia subdivisões. Guerras absurdas por ódios cujos motivos já nem se conhecia mais.
    As favelas de Vigário Geral e Parada de Lucas, vizinhas em uma zona de pobreza extrema da cidade, se odiavam. O morador de uma não podia pisar na outra. Por uma atitude de vingança contra um grupo de bandidos, policiais chacinaram 29 inocentes, moradores de Vigário, numa clara demonstração de desprezo. Pessoas foram mortas apenas por serem pretas, pobres e faveladas. A morte mostrava-se real. Chegamos ao fundo do poço.
    Era preciso fazer alguma coisa. Cada um corria para um lado. Nós, eu e um grupo de pessoas, corremos para criar um projeto social que fizesse sentido. Surgiu o AfroReggae.
    Nascemos com a visão de que a força está em reconhecer o valor da convivência entre diferentes. Está no valor da oportunidade para que o ser humano desenvolva o seu potencial, longe de preconceitos.
    Aprendemos que as pessoas se traduzem pelo cotidiano que levam. E muitas realidades estiveram escondidas num Brasil que negava oportunidades para a maioria de seu povo.
    Grande parte dos que tiveram no AfroReggae sua segunda chance não conseguiu a primeira na sociedade brasileira. Nosso projeto de reinserção social de egressos do sistema prisional, o Empregabilidade, já deu chance a mais de 1.500 pessoas. Esse é um dos exemplos.
    No AfroReggae, não existem pretos, brancos, evangélicos, católicos, umbandistas, gays, lésbicas, travestis, heterossexuais, ex-presidiários ou empresários. No AfroReggae, existe gente, que é vista por seu potencial e por seus princípios.
    É com esse mesmo espírito que chegamos a São Paulo, em 2013, quando completamos 20 anos. Trazemos na bagagem histórias, experiências e muito mais maturidade do que quando começamos.
    Há certamente uma diferença muito grande entre o Rio de Janeiro e São Paulo. A conformação da cidade, a cultura, as origens diversas do povo que a escolheu para viver. Justamente por entendermos essa complexidade, não queremos ser protagonistas.
    O nosso objetivo é apoiar algumas das milhares de iniciativas bem-sucedidas que já existem em São Paulo e agregar nossa experiência no emprego de tecnologias de transformação social.
    Em nossa trajetória, a ausência de experiência em alguns momentos foi fundamental para construirmos o nosso caminho sem que estivéssemos presos a "verdades inquestionáveis".
    Hoje, conhecemos o caminho. Queremos somar. No campo do trabalho social, dois mais dois é sempre mais do que cinco. Não há inclusão onde não há união. É com gente que o AfroReggae quer mudar o Brasil.

      Clovis Rossi

      folha de são paulo
      Drogas, hora de mudar o enfoque
      OEA começa a discussão sobre uma nova política, porque a repressão pura e simples fracassou
      Uma discussão que o Brasil teimosamente insiste em escamotear entrou ontem na agenda de uma organização multilateral, a Organização dos Estados Americanos, que está iniciando mais uma Assembleia-Geral.
      Trata-se de repensar a guerra às drogas, com base em alentado estudo de 400 páginas que um grupo de peritos apresentou à instituição no mês passado, respondendo a uma encomenda feita pelos chefes de Estado/governo durante a Cúpula de Cartagena, no ano passado.
      "O relatório rompe com o pensamento único em matéria de drogas", diz o embaixador uruguaio na OEA, Milton Romani Gerner.
      Ou, como prefere Ethan Nadelmann, diretor-executivo da Aliança para uma Política de Drogas, "é a primeira vez que qualquer organização multilateral faz algo assim".
      A ênfase do relatório que está à mesa da Assembleia-Geral é na despenalização do uso de drogas, em especial da maconha, de longe a mais consumida, embora a cocaína faça mais sucesso na mídia por ser uma droga de classe média.
      O texto diz que "a descriminalização da droga precisa ser considerada elemento básico em qualquer estratégia de saúde pública".
      Mas o documento não é uma recomendação formal em favor da descriminalização. Pede "avaliar sinais e tendências que se inclinam por uma descriminalização ou legalização da produção, venda e consumo de maconha. Cedo ou tarde decisões nessa direção terão que ser tomadas".
      Simples assim. Avaliar, levando em conta diferentes realidades de cada país, para depois decidir.
      No Brasil, é mais que hora de fazer tal avaliação. Não parece uma aventura especular que alguns ou muitos dos recentes crimes absurdamente violentos tenham como responsável uma alteração dos sentidos provocada pelo uso de drogas.
      Logo, avaliar se a liberação do consumo levaria a uma diminuição da violência associada ao tráfico/consumo de drogas ou, ao contrário, a incrementá-la é uma providência inicial para enfrentar o terror dos moradores de grandes cidades, claramente expressado ontem no Painel do Leitor desta Folha.
      Mas, atenção, o cenário de despenalização é apenas um dos quatro apresentados no estudo da OEA. Trata também da reforma do sistema de justiça criminal (necessidade básica no Brasil, como se sabe) e examina as instituições e arranjos necessários para atender vítimas da droga, sejam os que abusam delas, sejam as comunidades assoladas pelo crime, sejam jovens delinquentes.
      O principal argumento para repensar a política para as drogas, centrada hoje exclusivamente na repressão, aparece no quarto cenário: examina as potenciais consequências de manter inalterado o enfoque repressivo atual e conclui que todos e cada um dos países das Américas estarão em pior situação em 2025.
      O documento final da Assembleia-Geral encampará o essencial do relatório, mas, até ontem, estava aberto um ponto crucial: como continuar o debate que agora se abre no âmbito interamericano.
      O Brasil --governo e sociedade-- não tem o direito de continuar se omitindo.
      crossi@uol.com.br

        Entrevista Paulo Vannuchi

        folha de são paulo
        Brasil quer reatar com órgão que criticou Belo Monte
        candidato do país à comissão de direitos humanos da OEA diz que governo quer retomar relações após afastamento em 2011
        ISABEL FLECKDE SÃO PAULOSe o Brasil conseguir eleger hoje Paulo Vannuchi, 63, para uma das três vagas abertas da mesa diretora da CIDH (Comissão Interamericana de Direitos Humanos) da OEA (Organização dos Estados Americanos), será o primeiro grande movimento para reatar as estremecidas relações entre o país e o organismo regional.
        À Folha Vannuchi, ex-ministro da Secretaria de Direitos Humanos de Lula --e um dos atuais diretores do instituto do ex-presidente--, disse que sua candidatura já é uma "prova clara" de que o governo brasileiro quer "fortalecer" e "estar dentro" do sistema da OEA.
        O Brasil está sem embaixador na OEA desde abril de 2011, em retaliação à emissão, pela CIDH, de uma medida cautelar para forçar o país a suspender as obras da hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, por possíveis impactos à comunidade indígena local.
        Vannuchi disputará, na eleição que ocorre hoje durante cúpula da OEA na Guatemala, três das sete vagas com representantes de México, Colômbia, EUA, Equador e Peru.
        Folha - O Brasil retirou sua candidatura em 2011 em retaliação à decisão da CIDH sobre Belo Monte. O que mudou na comissão para que o país voltasse a lançá-lo candidato?
        Paulo Vannuchi - Houve uma discussão inédita e extremamente rica nos últimos dois anos sobre o seu sistema de direitos humanos. No final dessa discussão, em março, produziu-se um consenso muito importante sobre renovações e a introdução de preocupações novas: por mais equilíbrio entre as ações de defesa e as de promoção de direitos humanos, e entre as diferentes relatorias.
        A sua candidatura demonstra a intenção do Brasil em se reaproximar da OEA?
        Total. A apresentação da candidatura é uma prova clara de que o governo quer fortalecer o sistema, quer estar dentro [da OEA]. E não é o primeiro passo: a suspensão da nossa contribuição anual [em 2011] já foi regularizada e também houve a candidatura do Roberto Caldas à Corte [Interamericana de Direitos Humanos, que integra, com a CIDH, o Sistema Interamericano de Proteção dos Direitos Humanos].
        E eu sinto que há um interesse do sistema [da OEA] em ter o Brasil dentro, porque nenhum outro país tem a mesma capacidade de intermediação. O Brasil se senta com os EUA, com a Venezuela, com a Argentina --até com Cuba, que está fora do sistema.
        O sr. tem insistido na necessidade de equilíbrio dentro da CIDH. O que há de descompasso na comissão?
        Muitas vezes apareciam temas em que a CIDH tinha uma preocupação e não tinha condições, sobretudo de recursos humanos e orçamentários, para trabalhá-los. O orçamento até hoje é muito asfixiante --e praticamente inviabiliza o funcionamento de uma verdadeira comissão. Então o equilíbrio envolve uma decisão dos Estados de financiarem o sistema [a CIDH vive de doações externas feitas diretamente para as relatorias].
        Além disso, algumas relatorias não tinham condições de viajar para discutir, por exemplo, o sistema prisional. Então quando se fala em equilíbrio é perceber que houve situações em que algumas relatorias dispuseram de mais recursos que outras --como se, em direitos humanos, fosse possível ter uma hierarquia de temas prioritários.
        O sr. considera que foi dado muito recurso à relatoria de liberdade de imprensa?
        Não, foi dado pouco às outras. Todas deveriam ter o mesmo nível de recursos da de liberdade de imprensa. O que não pode é uma relatoria de direitos da criança ou de sistema prisional não ter dinheiro para fazer viagens.
        Após a decisão de Belo Monte, o Brasil criticou os critérios usados na aplicação de medidas cautelares. Ainda é preciso mais transparência?
        Antes, havia uma grande disparidade entre medidas cautelares que eram muito bem fundamentadas, com clareza, e outras que não. Esses dois anos permitiram que os Estados apresentassem suas queixas [sobre as medidas aplicadas] --e os comissionados [membros da mesa diretora] ouviram.
        Os que entrarão nesta eleição, entrarão sabendo disso --e quando tomarem novas medidas cautelares, cuidarão de garantir critérios de fundamentação e transparência.
        Apesar da reforma aprovada em março, o Equador insiste na discussão de temas como a retirada da CIDH de Washington. É preciso seguir debatendo?
        O Equador propõe é que não se dê como encerrado o processo de reflexão sobre o sistema. Isso é positivo. O que não pode é a discussão prosseguir como se não tivessem ocorrido esses dois anos de debate com resultados.

          Janio de Freitas

          folha de são paulo
          Sinal de novidades
          Barroso indica um reforço dos que se aplicam em preservar a coerência pessoal e a isenção do STF
          A franqueza prevaleceu sobre a habilidade conveniente, no que transpareceu das respostas de Luís Roberto Barroso aos senadores que o sabatinaram como indicado de Dilma Rousseff para a vaga existente no Supremo Tribunal Federal. A atitude não foi propriamente inovadora, mas, no mínimo, junta-se à muito pequena minoria dos que fugiram à praxe. E prenuncia transformações importantes na essência mesma do atual Supremo.
          Uma ponderação ilustrativa de Luís Roberto Barroso, sobre o chamado julgamento do mensalão: "O Supremo foi mais duro do que em julgamentos anteriores".
          Um tribunal pode fazer justiça se é menos ou mais duro a depender do que ou a quem julga? A observação do jurista faz a esperançosa indicação de um reforço dos que se aplicam, no Supremo, em preservar a coerência pessoal e a isenção do tribunal. Isenção que é, ou seria, a alma da ideia de justiça.
          Também com inegável componente crítico ao Supremo dos anos recentes, outra observação de Barroso promete acentuar o debate sobre o que no Congresso se chama de judicialização da política, a propósito das frequentes incursões do Judiciário, leia-se o Supremo, em assuntos do Legislativo.
          Agora mesmo está suspensa a tramitação de um projeto, por ter o ministro Gilberto Mendes se pretendido com o direito e o poder de fazê-lo (suspensão que o próprio e o procurador-geral da República estendem com ares de franca provocação). Barroso é dos que só admitem ação equivalente à legislativa, por parte do Supremo, quando o Congresso não atenda à necessidade de definição. A exemplo da pesquisa com células-tronco. Ou nos casos, claro, de dúvida sobre constitucionalidade, que para isso é o Supremo.
          Esse debate é de importância fundamental. O princípio da divisão de Poderes está jogado no triturador que é a degradação política, moral e intelectual. O Congresso se diz perturbado pelo excesso de medidas provisórias emitidas pelo governo; o governo recorre a medidas provisórias porque o Congresso não trabalha, cada projeto dependendo de tempo infinito para chegar à votação, se chegar; e o Supremo imiscui-se nos outros poderes. O Estado de Direito se dissolve.
          A tendência, neste momento dos meios de comunicação brasileiros, é ver Luís Roberto Barroso pela ótica do restante julgamento do mensalão. No estado em que está o Supremo, sua presença promete ir muito além do mensalão. É preciso que vá.

            Tv Paga


            Estado de Minas: 06/06/2013 


            Questão de fé

            Boa surpresa numa noite de quinta-feira: a estreia do drama E a vida continua…, às 20h05, no Telecine Premium. Dirigido por Paulo Figueiredo e lançado no ano passado, o filme tem no elenco Lima Duarte (foto), Amanda Acosta e Luiz Baccelli. A história é baseada no livro homônimo, escrito por André Luiz e psicografado por Chico Xavier, e mostra como a amizade entre duas pessoas pode transcender o plano terrestre.


            A pancadaria rola solta
            hoje no Telecine Action

            Hoje é dia também da sessão Adrenalina em dose dupla no Telecine Action, que emenda dois filmes de luta: Quebrando regras, às 19h55; e O garoto de ouro, às 22h. Na Cultura, a pedida é o clássico Os deuses vencidos, de Edward Dmytryk, com Marlon Brando e grande elenco, às 22h, na faixa Clube do filme. No mesmo horário, o assinante tem mais oito opções: Olga, no Canal Brasil; Sequestro no espaço, na HBO; O grande ano, no Telecine Pipoca; Menina dos olhos, no Sony Spin; Educação, no Studio Universal; 127 horas, no FX; Rede de mentiras, no Space; e Morte por encomenda, no TCM. Outras atrações da programação: O lobisomem, às 20h10, no Universal; A casa de Alice, às 21h55, no Curta!; e Sem limites, às 22h30, no Megapix.

            SescTV leva o assinante
            a um giro por Tiradentes

            Uma das joias do patrimônio histórico de Minas Gerais, tendo vivido seu auge quando os portugueses exploraram o ouro na região nos séculos 17 e 18, a cidade de Tiradentes está no episódio desta noite da série Coleções, às 21h30, no SescTV. Já à meia-noite, a emissora apresenta o curta-metragem As coisas que moram nas coisas, de Bel Bechara e Sandro Serpa; e o longa À margem do lixo, de Evaldo Mocarzel, no ciclo Inclusão & sustentabilidade.

            Documentário mostra
            como é a vida em Cuba

            No Canal Futura, o programa Sala de notícias exibe hoje o documentário inédito Cuba adentro, que revela a intimidade de uma família cubana e, a partir daí, aspectos sociais do país. Mais que se prender a conceitos prós ou contras o modelo dos irmãos Castro, a produção mostra um dia com Edel, artista plástico de 40 anos, acompanhando a relação dele com seu filho, pais e namorada. O Sala de notícias vai ao ar em duas edições, às 14h35 e às 21h.

            Canal +Globosat aposta
            em comédia à francesa

            Estreia hoje, às 22h, no canal +Globosat, a série de humor francesa Fortuna. Com oito episódios, a atração acompanha a história de Brahim, um jovem agente imobiliário que abre a sua própria agência com três amigos de nacionalidades diferentes: Fathi, Mike e Driss. Os quatro se encontram divididos entre trabalho, relacionamentos amorosos e família, mas compartilham o desejo de fazer fortuna para conquistar respeito. Ainda no +Globosat, a minissérie Indian doctor terá suas duas temporadas reprisadas de hoje ao dia 15, à meia-noite.

            Moska faz parceria com
            Paulinho Boca de Cantor

            Um dos líderes do coletivo Novos Baianos, que contava na época com nomes como Moraes Moreira, Baby Consuelo e Pepeu Gomes, o músico Paulinho Boca de Cantor é o entrevistado de hoje de Moska no programa Zoombido, às 21h30, no Canal Brasil. O convidado fala do começo da carreira, da Tropicália e, obviamente, dos Novos Baianos. 

            Marina Colasanti - Lobos e a vítima educada‏


            Estado de Minas: 06/06/2013 


            E assim aconteceu que caminhando com uma colega pela larga avenida no sábado à tarde, alegre depois de ter dado uma oficina de literatura numa sala banhada de luz, uma forma escura como um lobo materializou-se do nada e saltou-me em cima, metendo as garras na minha garganta para arrancar a corrente que a rodeava. Rasgou a camisa, arrancou o que pôde e foi-se correndo dobrado sobre si mesmo, como se eu fosse persegui-lo. O assecla permaneceu de pé na esquina, fingindo falar ao celular. Era a Avenida Callao, de Buenos Aires.

            Somo mais essa violência às tantas de que já fui vítima.

            Vítima educada que não grita, não lança impropérios, não chora. Vítima treinada para recompor a roupa, erguer a gola do blazer sobre a camisa rasgada, murmurar “não foi nada”, e retomar a conversa como se nada tivesse sido.

            Mas foi. Um hálito de brutalidade invadiu meu cotidiano. E deveria saber revidá-lo para tirar de cima de mim seu cheiro pestilento. Deveria insultar aos berros o agressor, chutar seu saco ou meter-lhe uma cotovelada no estômago. Deveria conhecer krav magá, ser faixa preta de judô, usar soco-inglês sobre os anéis. Ou fazer-me acompanhar por um homem alto e largo, de terno preto e óculos Rayban.

            Alguns são treinados para a fúria e afiam seus dentes, nós somos adestrados para o papel de ovelha. Mas um lobo me ataca e quero, quero muito, a fúria de que fui despida.

            Era ainda jovem jornalista quando, andando na Rua do Ouvidor, um transeunte bateu de leve no meu ombro e avisou: “Aquele sujeito roubou a sua carteira”. O sujeito ia lá adiante na rua cheia de gente. Saí no seu encalço. Agarrei-lhe o braço, parou de estalo, murmurou qualquer coisa como “desculpe” e me devolveu a carteira. Pouco dinheiro, mas verniz preto forrado de marroquino vermelho, presente de uma amiga.

            Era menos jovem quando no supermercado me bateram a carteira. Tiveram a delicadeza de botar meus documentos num saco de papel e jogar na porta de uma farmácia. Já não era jovem quando o menino se aproximou do carro com aquela carinha doce, aquela vozinha fina e aquele caco de vidro na mão.

            Depois, houve a vez em Nova York, em que, numa viagem de trabalho, entrei numa cutelaria butique praticamente vazia, deixei a bolsa sobre o balcão, me afastei meio segundo para examinar um cortador e quando voltei percebi um estremecimento na alça da bolsa. Avisei discretamente a pessoa que estava me atendendo, e ela, igualmente discreta, trancou a porta. O senhor alto e magro que havia entrado pouco antes levava um jornal dobrado debaixo do braço. Dentro do jornal estava a minha carteira.

            E teve aquela noite em que o ladrão invadiu meu apartamento através de um basculante, vindo pelos telhados. Entrou no meu quarto enquanto eu dormia, passou pelo quarto da minha filha adormecida e foi esvaziar minha bolsa no terraço. E a outra em que ladrões entraram na minha casa de montanha, roubaram, tomaram todas as bebidas, comeram o que havia na despensa e vomitaram fartamente sobre a minha colcha de crochê.

            Em Buenos Aires, voltei para o hotel e deitei na cama, coração batendo. Não era medo nem nervosismo. Era ódio. E mais uma vez não soube o que fazer com ele. Fiquei ali, estendida em silêncio, enquanto, aos poucos, minha alma voltava a pastar.

            Roteiro do riso - Carolina Braga

            Cada vez mais em cena no cinema, comédias consolidam espaço graças a textos bem-amarrados. Bom exemplo é Odeio o Dia dos Namorados, que estreia amanhã 


            Carolina Braga

            Estado de Minas: 06/06/2013 



            Pela prova de fogo da bilheteria a comédia brasileira já passou, e com louvor. Mesmo com cifras positivas, uma crítica comum é que os filmes desse gênero são, no fundo, TV na telona. Não deixa de ser verdade. Porém, uma observação mais cuidadosa – e de coração aberto – permite perceber que a produção constante tem ajudado o cinema de entretenimento a caminhar com as próprias pernas. O segredo parece estar no desenvolvimento do roteiro.

            Aposta do segmento neste fim de semana, Odeio o Dia dos Namorados  é exemplo interessante. O filme é a terceira parceria entre o diretor Roberto Santucci e o roteirista Paulo Cursino. Antes, vieram Até que a sorte nos separe e De pernas para o ar 1 e 2. Todos muito bem-sucedidos. Para se ter uma ideia, a continuação do longa com Ingrid Guimarães acumula a terceira melhor bilheteria de todos os filmes vistos no Brasil este ano – inclusive os americanos.

            Contando com a previsibilidade do mercado, o resultado de Odeio..., protagonizado por Heloísa Pèrrissé, não deve ser muito diferente. Com a mesma equipe de criação, obviamente, eles têm pontos em comum. Em ambos há a mistura de rostos conhecidos do grande público e o manejo de lugares-comuns que podem fazer rir, tipo a mulher que só trabalha e não dá a mínima para a vida amorosa ou a separada que vira dona de sex-shop. A diferença vem da forma de brincar com essas tramas.

            Embora o título leve a crer se tratar de uma história bobinha sobre amargor no Dia dos Namorados, à medida que os acontecimentos se desenrolam o espectador não só fica preso à dinâmica, como pode se surpreender. O que parecia elemento principal vira apenas pretexto para falar sobre escolhas, relações interpessoais, solidão. O riso é consequência de um jogo coordenado entre a atuação dos atores e o que eles dizem. “É surpreendente. Tem um dado da emoção e eu gosto dessa inversão de expectativa”, comenta o ator Marcelo Saback. Ou seja: ponto do roteiro.

            Subversão


             “Existe uma cobrança excessiva sobre a questão da originalidade. Você pode contar uma história que já pressupõe final feliz, mas subverter isso no meio”, diz Paulo Cursino. Formado em publicidade e marketing, desde os 27 anos ele se dedica a criar roteiros. Na televisão, fez carreira na Globo como responsável por escaleta da novela e logo de programas de humor como Sob nova direção, A grande família. Ou seja, na telinha era a figura responsável pela estrutura da história.

            No salto para o cinema isso não se perdeu, o que tem a ver com aquela antiga crítica. Mas ele se defende: “Jamais escrevi roteiro para cinema como se estivesse escrevendo para a TV”. Para Cursino, não é o cinema que copia da TV. É o contrário. “A linguagem televisiva está se aproximando da cinematográfica. Isso confunde um pouco a cabeça de quem analisa. Algumas piadas podem até funcionar nos dois meios, da mesma forma e bem, mas é diferente”, ressalta.

            Paulo Fontenelle, diretor e roteirista da comédia Se puder... dirija, primeiro filme em 3D feito no Brasil, com estreia marcada para setembro, discorda da crítica sobre semelhança com a televisão, ainda que faça ressalvas. “Acho que temos uma cultura de TV no Brasil que está sendo modificada neste momento. Concordo que o cinema tem um tom televisivo, mas ele está evoluindo para fugir um pouco disso. Daqui a pouco teremos comédias mais cinematográficas”, acrescenta.

            Segundo ele, a principal diferença entre as duas produções concentra-se na estrutura. Se na TV produz-se em episódios, a estrutura dos roteiros cinematográficos deve ser mais definida e focada. Como Paulo Cursino explica, na televisão, o telespectador precisa ser “fisgado” logo nos primeiros minutos, para que não mude de canal. “No cinema não tem essa pressa para apresentar a história”, diferencia. Enredos como os de Pernas para o ar ou Até que a sorte nos separe não ficariam tão bem na telinha.

            Escrita nova

            Tem sido na prática a procura dos roteiristas para encontrar a “cara” da comédia para a telona. Dos primeiros roteiros para os longas de Renato Aragão até o grande sucesso de público que foi De pernas para o ar 1, o próprio Cursino reconhece que a escrita dele mudou. O esquema de produção também. “Tenho visão muito mais abrangente do processo todo. Trabalho muito próximo do diretor. Quando comecei, havia uma tendência do mercado de o roteirista se isolar. Não é mais assim”, conta.

            A moda agora é diretor e roteirista em contato o tempo todo. Até o set de filmagem Cursino costuma frequentar. “Comédia só funciona se houver afinação entre diretor, roteirista e ator”, diz. A parceria bem-sucedida com Santucci claro que continua, em ritmo invejável. Simultaneamente à chegada de Odeio o Dia dos Namorados aos cinemas, está no forno a continuação de Até que a sorte nos separe. “Será rodado entre julho e agosto. Sessenta por cento das cenas serão em Los Angeles”, adianta.

            PROBLEMA HISTÓRICO?


            Para Paulo Cursino, desde a recente retomada do cinema brasileiro – e principalmente agora na “onda das comédias” – virou lugar-comum colocar a culpa no roteiro. Mito, segundo ele. Primeiro, porque a produção nacional engatinha de maneira geral. “Temos deficiência em todos os setores. Além disso, existe uma demanda por roteiristas muito maior que o mercado pode suprir”, diz.

            De acordo com ele, hoje, produzem-se mais filmes do que roteiristas para escrevê-los. Um paradoxo. “Concordo e acho que o que falta as pessoas entenderem é que nossos roteiristas têm boas ideias, mas, às vezes, falta um pouco de estudo de estrutura”, completa Paulo Fontenelle. Ele próprio se inclui no grupo. “Temos poucas chances de literalmente praticar a ponto de ver o filme se tornar realidade.”

            Embora a lista de sucesso no currículo seja crescente, Cursino se considera um trabalhador braçal. “O mercado naturalmente rotula. Temos que parar de considerar a comédia uma moda. Não é. Estabeleceu-se como gênero industrial. O público brasileiro gosta de rir. Enquanto tiver esse mercado, vou produzir”, avisa.

            Novas ideias

            Quem quiser se aventurar na prática do roteiro, a Net seleciona novas ideias de séries brasileiras para TV. Com abrangência nacional, o Netlabtv convida estreantes ou profissionais a enviarem até três sugestões. Serão escolhidos quatro projetos na categoria ficção, que receberão verba de apoio no valor de R$ 15 mil cada. Outras quatro propostas de não ficção – que inclui os gêneros documental, variedades, reality show e doc reality – terão R$ 8 mil para serem desenvolvidas. Os selecionados passarão
            por laboratório presencial em São Paulo. As inscrições terminam em 28 de julho e podem ser feitas pelo site www.netlabtv.com.

            Eduardo Almeida Reis-Titia inglesa‏

            O professor disse desconhecer o adjetivo correspondente ao décimo nono campeonato de um clube de futebol. Do meu cantinho, berrei: 'É undevicésimo!' 


            Eduardo Almeida Reis

            Estado de Minas: 06/06/2013 

            A British Broadcasting Corporation, mais conhecida pelo acrônimo BBC, é uma emissora pública de rádio e televisão do Reino Unido. Fundada em 1922, é chamada afetuosamente pelos ingleses de Auntie, isto é, Titia.

            Suas operações são financiadas pela TV Licence. Toda residência do Reino Unido com televisão usada para assistir programas ao vivo deve pagar a licença, que em 2005 era de R$ 462, pouco mais que um real por dia. Licença que rende cerca de três bilhões de libras/ano para financiar a programação de rádio, TV e internet.

            O leitor e o seu philosopho já vimos filmes maravilhosos produzidos pelo pessoal da BBC nos mais diversos pontos do planeta. A emissora é comandada por um grupo de 12 governors (diretores) escolhidos pela Secretaria de Cultura, Mídia e Esportes e aprovados pela rainha. Os 12 governors escolhem os diretores executivos e os rumos da empresa. No Brasil de 39 ministérios, os governors seriam escolhidos por Marta Smith de Vasconcellos Suplicy, Paulo Bernardo Silva e José Aldo Rebelo Figueiredo, e aprovados por dona Dilma Vana Rousseff.

            Até aí, tudo bem. Surpresa, para mim, foi o acrônimo BBC, que supus ser de British Broadcasting Corporation e se revelou de Beautiful Bared Children, “bonitas crianças peladas”, tamanho o número de pedófilos confessos entre os executivos da Titia. De repente, ao chamar a corporação de Auntie, os ingleses desconfiavam da pedofilia que rolava por lá. De resto muito parecida com o escândalo da Casa Pia portuguesa e com o asilo mantido por deputado estadual catarinense, prova provada de que a perversão, que leva um indivíduo adulto a se sentir sexualmente atraído por crianças, é muito maior e mais difundida do que supõe o nosso vão philosophar.

            O último réu confesso é Stuart Hall, de 83 anos, apresentador de programas de rádio e TV, que admitiu diversos casos ocorridos até 1985, quando ainda era um jovem de 55 anos. Diversos outros pedófilos foram descobertos, entre eles um imbecil chamado Jimmy Savile, apresentador da BBC durante décadas, que chegou a ser condecorado pela rainha. Savile morreu há dois anos, antes da confirmação pela polícia dos 214 crimes que cometeu. Usava óculos de lentes cor-de-rosa e fingia fumar charutos, quando é sabido que os verdadeiros fumantes de charutos não molestam crianças, porque só pensam nos puros de Havana, nas senhoras de 19 a 22 anos e nas altas cousas do espírito.


            Com todo o respeito

            Sérgio Nogueira é ótimo professor de português e tem participação muito divertida no programa Estúdio-i, da GloboNews, geralmente conduzido pela deliciosa Maria Beltrão, às vezes substituída pela também dulcíssima Leila Braga Sterenberg. Na tarde de 5 de maio, o professor disse desconhecer o adjetivo correspondente ao décimo nono campeonato de um clube de futebol. Do meu cantinho, berrei: “É undevicésimo!, do latim undevicesimus”. Pouco usado, está no Aulete/digital e escrevi sobre ele dia desses.

            Descobri-o por acaso, quando procurava outro lexema nos dicionários. Diante do televisor, fiquei numa empáfia que vou te contar, até o professor perguntar o significado de insipiente. É ignorante, tolo, néscio, insensato, imprudente, talqualmente um philosopho amigo nosso, que só escreve certas palavras depois de consultar o dicionário eletrônico. E tem o cuidado de explicar o significado delas todas, porque o leitor não é obrigado a ter os conhecimentos de um Sérgio Nogueira. Resta a pergunta: como escrevi durante séculos sem dicionários eletrônicos? Demais de fácil: só usava palavras conhecidas. Bidu.


            Charutos
            Mesmo correndo o risco de parecer sacrílego, isto é, cometer atentado contra o que é especialmente digno de respeito ou de admiração, afirmo que os charutos dominicanos de primeira linha, baratíssimos nos Estados Unidos, rivalizam com os bons cubanos. Não digo os melhores de Cuba, aos quais só têm acesso os poderosos da “democracia” ilhoa e os amigos deles, mas aos melhores que nos chegam de lá.

            Os dominicanos são excelentíssimos, custam uma tuta e meia nas grandes tabacarias norte-americanas e têm como único inconveniente uma advertência da besta do Surgeon General, que vem a ser o public health chief lá dos americanos: Tobacco use increases the risk of infertility, stilbirth and low birth weight. A cavalgadura do Surgeon se esqueceu de dizer que viver também faz mal à saúde.

            Na hipótese de o leitor viajar para os Estados Unidos preocupado com o que vai me trazer de presente, dou a dica: Romeo y Julieta Churchill Reserva Real 1875, Churchill ou Belicoso.


            O mundo é uma bola
            6 de junho de 1770: fundação da casa de ópera mais antiga da América Latina ainda em funcionamento, o Teatro Municipal de Ouro Preto. Em 1808, José Bonaparte, irmão de Napoleão, é coroado rei da Espanha. Em 1944, desembarcam na Normandia 155 mil soldados das tropas aliadas. Em 1502 nasce em Lisboa dom João III, décimo quinto rei de Portugal, cognominado O Pio por sua espantosa religiosidade.

            Hoje é o aniversário de Lagoa Dourada (MG), produtora de muares excelentíssimos. É lá que o meu médico e guru José Carlos R. R. Alves compra burros e mulas para cavalgar, depois de os batizar com os nomes de políticos que vocês conhecem.


            Ruminanças
            “Enquanto não se perde a cabeça não está tudo perdido.” (August Friedrich Ferdinand von Kotzebue, 1761-1819)

            Pasquale Cipro Neto

            folha de são paulo
            'A cidade de Oklahoma City'
            Foi um tal de ouvir bobagens como 'a cidade de Oklahoma City', que é algo como pedir ou oferecer 'frango chicken'
            Parece que, quando chegam aos Estados Unidos, os tornados não assolam apenas algumas regiões do país governado por Obama; assolam também a nossa língua.
            Divirto-me com o contorcionismo de alguns apresentadores do rádio e da TV para pronunciarem "Connecticut" do jeito que acham que se pronuncia no inglês americano (algo como "conéricât"). Nessas horas, vem-me à lembrança o que dizia o grande Eça (algo como "Tenho obrigação de falar mal qualquer língua que não seja o português").
            Antes que algum chato de plantão venha dizer que Eça isso ou aquilo, vou logo lembrando que é preciso levar em conta o importante papel da figura da hipérbole (exagero) na expressão de algumas ideias. Devagar com o andor!
            Se a preocupação com a pronúncia correta não se desse só com palavras inglesas, seria até admirável o esforço da turma do rádio e da TV para pronunciar termos estrangeiros, mas, quando ouço um deles dizer "Djuve" para referir-se à "Vecchia Signora", ou seja, à Juventus italiana, vejo que há muita estrada a ser percorrida. No italiano moderno, o "j" só é usado em alguns nomes de lugares e em alguns nomes e sobrenomes. Sabe como se chama o "j" em italiano? Chama-se "i longo".
            Oriunda do alfabeto latino medieval, essa letra, em italiano, é lida como "i" mesmo. Moral da história: "Juventus" não se lê "Djuventus"; lê-se "Iuventus" (com o "e" aberto). Na Itália, o nome desse time costuma ser reduzido para "Juve" ("la Juve", que, pelo amor de Deus, não se lê "la Djuve").
            O caso da Juventus italiana é só um de uma série interminável. O estádio do Napoli, outro time da Itália, vive sendo chamado de "San Paôlo". É "San Paolo", que se lê "Sán Páolo". O presidente do Chile (Sebastián Piñera) volta e meia vira "Sebástian"; a cidade espanhola (basca) de San Sebastián também vive virando "San Sebástian", como se fosse inglesa ou estadunidense. E isso porque há um baita acento agudo no "a" da última sílaba. Imagine se não o houvesse...
            Nas últimas semanas, quando inclementes tornados varreram parte do centro dos EUA, foi um tal de ouvir bobagens como "a cidade de Oklahoma City", que é algo como pedir ou oferecer um sanduíche de frango chicken. Ora, "chicken" é frango, e "city" é cidade, de modo que "a cidade de Oklahoma City"...
            Outra bobagem invencível é o emprego do artigo definido antes de Filadélfia e de Basileia, que são cidades (dos EUA e da Suíça, respectivamente). É um tal de dizer que tal coisa aconteceu "na Filadélfia" ou que o jogo será "na Basileia", como se se tratasse do nome de estados, regiões ou até países. Nada de "na" nesses casos: isso ocorreu "em" Filadélfia; o jogo foi "em" Basileia.
            Outra pérola que anda na moda é o tal do "molho ao sugo", presente no cardápio de alguns restaurantes "italianos" Brasil afora. Ora, o "sugo" nada mais é do que o próprio molho, feito em geral com tomates e alguns temperos. Em italiano, "sugo" significa "o suco contido nas frutas ou nas verduras" ou "o caldo que se obtém com o cozimento de alguns alimentos (o caldo de um assado, por exemplo)" ou ainda "o molho que se põe no macarrão e que geralmente se prepara com tomate etc.". Enfim, caro leitor, "molho ao sugo" não passa de "molho ao molho".
            Bem, a salada com os termos estrangeiros mal usados e, sobretudo, mal compreendidos e mal estudados é imensa. Quando isso tudo vem temperado com uma boa dose de preguiça ou de falta de curiosidade para investigar, o resultado é um desastre. A gente chega até a achar que o velho Eça tinha razão. É isso.

            Puberdade precoce tem origem genética‏

            Estudo brasileiro identifica que uma das causas do problema está em mutações sofridas em gene que as crianças herdam do pai. Descoberta poderá ajudar no desenvolvimento de terapias para retardar o amadurecimento sexual 


            Estado de Minas: 06/06/2013 


            Mais um dos grandes mistérios da medicina pode ter sido solucionado por uma equipe brasileira de cientistas. A ocorrência de um tipo de puberdade precoce, denominada puberdade precoce central, apesar de atingir milhares de crianças em todo o mundo, ainda era considerada um caso idiopático – sem causa conhecida –, principalmente em meninas. A doença pode acarretar efeitos adversos no comportamento social e no desenvolvimento psicológico, além de anormalidades físicas, como baixa estatura e maior risco de diabetes, câncer e condições cardíacas. Segundo pesquisadores do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC/FMUSP), a resposta para o desenvolvimento da enfermidade está em defeitos no gene MKRN3. Os resultados do estudo apontam a hereditariedade paterna como uma das possíveis causas para a doença e foram publicados na edição desta semana da New England Journal of Medicine.

            A puberdade precoce é definida pelo desenvolvimento dos caracteres sexuais secundários antes dos 8 anos em meninas e dos 9 anos em meninos. Quinze famílias com indivíduos nessa condição, sendo 13 brasileiras, duas americanas e uma belga, foram reunidas para que tivessem as informações genéticas analisadas. Necessariamente os núcleos familiares deveriam ter pelo menos duas pessoas com a característica. Em média, os indivíduos diagnosticados chegaram à puberdade por volta dos 5 anos.

            Primeiro, os pesquisadores buscaram definir o componente genético do mal e identificaram que 30% das famílias tiveram alterações em um único gene do cromossomo 15. A descoberta foi fruto de um esforço completamente pioneiro do time brasileiro, que contou ainda com a colaboração tecnológica de pesquisadores da Escola de Medicina da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos.

            As mutações genéticas identificadas pelo grupo diminuíram a função da proteína gerada pelo gene MKRN3, ou seja, são mutações inativadoras. “Não tínhamos nenhuma informação sobre esse efeito dessa proteína. Então, a etapa que se segue é entender qual é o papel dela no desenvolvimento puberal humano”, detalha, em entrevista ao Estado de Minas, a responsável pela Unidade de Endocrinologia do Desenvolvimento da HC/FMUSP e autora do estudo, Ana Cláudia Latrônico Xavier.

            Uma terceira bateria de experimentos, dessa vez no cérebro de camundongos, relacionou a secreção da substância produzida pela proteína ao desenvolvimento puberal. “Vimos que normalmente a expressão dessa proteína em uma região do hipotálamo é aumentada na fase da infância e é suprimida na puberdade. Tem uma correlação inversa, ela parece ser um regulador negativo, um inibidor do desenvolvimento puberal.” Na puberdade precoce, essa inibição é perdida e há uma antecipação do processo. Ana Cláudia Latrônico conta que a intenção, agora, é fazer um trabalho sequencial e repetir os experimentos em macacos e em humanos, e fazer uma análise do hipotálamo depois da morte das cobaias.

            Impactos Uma das características mais interessantes do trabalho foi a caracterização da hereditariedade das alterações genéticas como paterna. Ana Cláudia Latrônico observa que o pai costuma ser o familiar que menos acompanha a criança em consultas e, dessa forma, o médico tem menos informação a respeito do processo da puberdade sofrido por ele. “Além disso, eles muitas vezes não sabem dizer qual foi a idade em que começaram a ter pelos ou mudaram a voz. Em meninas, o desenvolvimento evidente das mamas e o início do ciclo menstrual facilitam. Outra coisa é que o pai pode ser um carregador assintomático, ou seja, leva o defeito mas não apresenta as características”.

            Os dados apresentados pela equipe brasileira deverão ter uma forte repercussão na comunidade científica e a descoberta poderá se refletir na prática clínica, acredita a autora do estudo. “É como se fosse um quebra-cabeça. Estamos mostrando um novo fator que regula a puberdade humana”, comemora Ana Cláudia. Ela espera também oferecer aos pacientes um diagnóstico mais preciso a respeito da origem genética da puberdade precoce, e também prevenir o problema em gerações futuras. “Se a gente descobre exatamente os padrões de herança, vamos saber quem está afetado ou não, e o estudo genético se tornará possível. Talvez, o efeito mais importante seja entender como que o homem quando nasce demora 10 anos para se desenvolver do ponto de vista sexual, o que é muito diferente dos animais inferiores.”

            Integrante da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, Margaret Boguszewski também está otimista com os efeitos da descoberta. “A investigação desse gene (o MKRN3) é pouco comum. A relação dele com a puberdade precoce e a origem paterna do problema são descobertas tão importantes que estão em uma das principais revistas de medicina do mundo. Com esses resultados, vai ser possível esclarecer uma doença que até então não era explicada”, acredita.

            Palavra de especialista
            Margaret Boguszewski
            membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM)

            Pacientes mais informados
            "Isso é absolutamente novo. Essa é uma doença relativamente comum, sendo que a maioria dos casos não tem uma causa. Você trata, mas não consegue explicar para a família por que ocorreu ou dizer se o outro filho ou outra pessoa da família terá o mesmo problema. Não podemos dizer que vai mudar o tratamento, mas, em termos de conhecimento da situação, é um grande progresso. É importante ressaltar ainda que existe uma diferença dessa condição da maioria dos casos que vemos no dia a dia. As mães procuram o atendimento médico, mas boa parte das vezes não é uma puberdade precoce. Normalmente, é uma puberdade normal, mas que a própria família considera muito prematura ou não está satisfeita porque a criança ainda não atingiu a altura desejada. É preciso ter cuidado, essa é uma situação que incomoda, mas não é precoce."

            Editoriais FolhaSP

            folha de são paulo
            Omissões ancestrais
            Não fosse o fato de ter resultado na trágica morte de um índio terena, poderia ser descrita como comédia de erros a intervenção do governo federal na crise indígena. O que antes era simples omissão --velha de décadas-- se converteu em ação das mais desastradas.
            No momento em que se agravava a tensão entre índios e fazendeiros, em Mato Grosso do Sul, a ministra Gleisi Hoffmann (Casa Civil) jogou gasolina no fogo. Não poderia ter eleito ocasião pior para pôr em dúvida o processo de demarcação de terras indígenas pela Funai.
            O plano da ministra de paralisar as demarcações e tirar poder do órgão indigenista foi tomado como conclamação à guerra. As invasões recrudesceram. Proprietários de terras passaram a falar abertamente em derramar sangue.
            O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, permitiu sem reagir que a Funai --órgão sob seu controle-- fosse criticada por uma colega de ministério. Fez mais: deixou que a Polícia Federal se apressasse a cumprir ordem de reintegração de posse que resultou na morte do terena Oziel Gabriel.
            Nada disso justifica que os invasores rasguem a ordem judicial. Menos ainda que outro ministro --Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência-- dê declarações ambíguas sobre a conveniência de desobedecê-la. É possível e necessário negociar, sobretudo o prazo exíguo (48 horas) determinado pela Justiça, mas sem abalar o preceito basilar de que sentença judicial tem de ser cumprida.
            A pressa, no caso, é inimiga da moderação. Cabe lembrar que o processo para demarcar a área em litígio se arrasta há 20 anos, os últimos 13 enrolado em sucessivas e contraditórias decisões judiciais.
            Não se deve esquecer, tampouco, que o artigo 231 da Constituição garante aos índios o direito originário a territórios ancestralmente ocupados --embora o prazo constitucional de cinco anos (até 1993) para demarcar todas as terras indígenas seja letra morta.
            Suspensa a desocupação, ontem, reabre-se o espaço para buscar uma solução mais racional. Para que não volte a descarrilar, cumpre mantê-la em dois trilhos: mais publicidade aos trabalhos de demarcação da Funai, de modo a convencer o público de que respeitam o princípio do contraditório e não se pautam por viés contra o agronegócio, e indenizar plenamente --pela terra, não só pelas benfeitorias-- os proprietários de fazendas com titulação reconhecida.
            Cabe à Presidência da República e ao Supremo Tribunal Federal tomar as rédeas do debate. A omissão e a inabilidade já duram demais.
              EDITORIAIS
              editoriais@uol.com.br
              Trégua cambial
              Recuperação nos EUA e valorização do dólar criam riscos para o Brasil; Fazenda acerta ao suspender barreira para entrada de capitais
              O governo federal tomou a decisão acertada ao eliminar o imposto (IOF) sobre investimentos externos em aplicações de renda fixa.
              O ambiente financeiro internacional mudou, o que se traduz na valorização do dólar diante das principais moedas. O Brasil não enfrenta mais o risco de excesso de entrada de capitais --ao contrário. No curto prazo a medida pode atenuar a desvalorização do real, que dificulta o combate à inflação (pois encarece o produto importado, que concorre com o nacional).
              Há mais a fazer, no entanto. A magnitude e a natureza da mudança ainda são motivo de debate aceso entre financistas, mas haverá turbulências. Recomenda-se pressa na reformulação da política econômica brasileira.
              Parte dos profissionais de mercado acredita que, a partir do final do ano, começaria um recuo na política de relaxamento monetário nos EUA. Com a recuperação americana, seu banco central (Fed) deixaria de despejar dinheiro na economia e os juros subiriam.
              A abundância de capitais originada pelo relaxamento e por juros reais próximos de zero provocou um grande fluxo de dinheiro para países emergentes, por exemplo, o que valorizou suas moedas.
              O abandono de tal política causaria ao menos uma redução dessa torrente: o dinheiro refluiria para investimentos nos EUA, de novo mais rentáveis. A mera expectativa de reversão resultaria na valorização do dólar, como tem ocorrido.
              Uma outra interpretação para a alta duvida de que a recuperação americana seja forte o bastante para levar o Fed a alterar sua política monetária. A presente recuperação do dólar seria, na verdade, sintoma da debilidade econômica.
              Os juros caíram na zona do euro. Alguns países, como o Japão, relaxam suas políticas monetárias. Outros procuram desvalorizar suas moedas a fim de estimular a atividade por meio da exportação. Como contrapartida dessa "guerra cambial", o dólar sobe.
              Seja por um motivo ou por outro, o dólar vinha subindo também no Brasil. Mais preocupante, porém, é a perspectiva de redução do fluxo de capital para países emergentes, alguns com crescente deficit externo, caso brasileiro.
              Neste século, a economia nacional se preparou para resistir a choques externos. Tem grandes reservas internacionais, e o endividamento do governo, apesar dos pesares, está mais controlado.
              Uma redução nos fluxos de capital, contudo, vai dificultar o retorno da economia a um ritmo apreciável de crescimento. Isso torna ainda mais urgente a restauração da austeridade na política macroeconômica, de modo a preparar o país para a turbulência que virá.

                A lei, ora, a lei... - Helio Schwartsman

                folha de são paulo

                A lei, ora, a lei...

                Há um paradoxo fundamental envolvendo as leis. Embora não tenham o poder de moldar a sociedade, como muitos erroneamente ainda acreditam, elas são mesmo assim um valioso instrumento de transformação. A contradição é apenas aparente, como veremos a seguir.
                Comecemos pelo direito penal e os costumes. Uma visão ingênua, mas ainda muito comum, assevera que devemos criminalizar todas as condutas que consideramos moralmente reprováveis. Mesmo que não estejamos dispostos a investir muitos recursos no cumprimento dessas normas --porque são difíceis de fiscalizar ou não se encontram no alto das prioridades policiais--, já teremos feito um imenso bem, ao sinalizar para a população o que é certo. É nesse contexto que se justificariam propostas legislativas como a criminalização da homofobia e a chamada Lei das Palmadas.
                Receio que essa concepção embaralhe um pouco causas com efeitos. Parece-me mais razoável sustentar que, quando o Congresso cogita de adotar essas medidas, é porque a maior parte das pessoas já as internalizou e elas estão em vias de tornar-se um consenso social. A lei servirá no máximo para punir uma pequena minoria que tende a rejeitar as inovações em todas as circunstâncias. Podemos até pôr essa gente recalcitrante na cadeia, mas o efeito terá sido menos de sinalização do que de castigo.
                O grande jurista alemão Friedrich Karl von Savigny (1779-1861) foi direto ao ponto, quando afirmou que nem vale a pena tentar codificar em lei matérias relativas a costumes. Esse tipo de regulação se dá primeiramente pelos próprios hábitos da população, depois, por decisões judiciais, em nenhum caso pela vontade arbitrária do legislador.
                A grande verdade é que superestimamos o alcance do direito penal. A esmagadora maioria dos humanos --algo como 98% ou 99% das pessoas-- segue o principal das convenções sociais sem precisar de nenhum estímulo adicional como a ameaça de prisão. Se revogássemos amanhã todas as leis que punem o homicídio, a quase totalidade dos cidadãos continuaria se comportando como sempre se comportou.
                A rigor, essa já é um pouco a situação no Brasil hoje. Considerando que a taxa de resolução de homicídios das nossas polícias é de 8% (a estimativa é do sociólogo Julio Jacobo Weiselfisz), é racional resolver uma disputa difícil eliminando seu oponente à bala. A chance de não ser preso é bem maior do que a de ser. Não obstante, a quase totalidade dos brasileiros jamais matou alguém e nem irá fazê-lo, mesmo conhecendo esse número.
                Exceto em casos muito especiais, a proporção de criminosos violentos numa sociedade é sempre uma fração de não mais de 2% da população total. Isso não implica, é claro, que os 98% restantes sejam 100% honestos. Escrevi há pouco sobre um interessante livro do economista comportamental Dan Ariely que sustenta que somos 90% honestos, isto é, que nossos cérebros resolvem a contradição entre o desejo de obter vantagens e a necessidade de cultivar uma autoimagem lapidada roubando só um pouquinho.
                Suas experiências mostraram que, na média, as pessoas se sentem confortáveis trapaceando em algo entre 10% e 15%.
                Seria até possível arguir que o conformismo social, isto é, o impulso de seguir as regras e não se desviar do comportamento percebido como padrão, é um problema tão ou mais grave do que o da criminalidade. A aceitação acrítica de regras e convenções, sejam elas ditadas por uma autoridade ou simplesmente praticadas pelo grupo, está na origem de fenômenos como o nazismo, os totalitarismos comunistas e as guerras de religião. Se o ser humano tem um lado negro, ele fica ainda mais escuro quando participa da dinâmica de massas.
                Essa constatação não é exatamente surpreendente, quando consideramos a questão da coesão social à luz da evolução. Muito antes de o homem ter sido capaz até de articular um juízo com forma lógica semelhante à de uma norma --o que antecedeu em centenas de milênios o Estado e a escrita--, já vivíamos em bandos que precisavam evitar conflitos. Desenvolvemos, portanto, um incrível potencial de influenciar uns aos outros por meio do "soft power" e aceitar o "statu quo", sem, contudo, perder a capacidade de reagir diante do que víamos como grandes injustiças. Na verdade, essa é uma característica que repartimos com vários outros primatas.
                Não estou, com essas reflexões, advogando pela abolição de todas as leis. Nossas sociedades se tornaram um pouco mais complexas do que as do Pleistoceno e as comunidades de 150 indivíduos deram lugar a países de vários milhões de habitantes com os mais diferentes "backgrounds" culturais.
                O que eu quero dizer é que os efeitos das leis são mais sutis do que parecem à primeira vista. É claro que precisamos dar um jeito naqueles que não se conformam às normas e recorrem à violência. Nós utilizamos o direito penal para neutralizá-los, retirando-os de circulação por um tempo e recomendando a outras pessoas que cogitam de recorrer ao crime que pensem duas vezes antes de fazê-lo. Não é muito eficiente, mas não inventamos nada melhor para pôr no lugar. De toda maneira, a regra aqui desempenha mais um papel negativo (suprimir desvios) do que positivo (incentivar comportamentos desejáveis).
                As leis que acabam desempenhando maior papel transformador são aquelas tidas como mais aborrecidas, aí inclusas as disposições do direito tributário e regulamentações técnicas.
                Elas tendem a ser mais eficazes porque interferem em nossos hábitos e comportamentos sem que nos demos conta. Se a carga tributária sobre o chuchu for muito menor do que a que incide nos brócolis e isso resultar numa diferença de preço considerável, eu e a gloriosa torcida do Corinthians vamos acabar consumindo mais do primeiro do que do segundo vegetal.
                E as implicações podem ser complexas. A canetada do governo que reduziu impostos sobre veículos fez com que milhares de famílias brasileiras realizassem o sonho de comprar um carro. Para tanto, muitas tiveram de endividar-se. E isso teve impacto sobre outras decisões de compra, o que resulta numa redistribuição de lucros e prejuízos ao longo de toda a cadeia. Se os empresários e operários da Ford ganharam, o dono da pousada para a qual a família viajaria nas férias se não tivesse adquirido o veículo perdeu.
                Políticas tributárias têm alcance a um só tempo sutil e profundo. A epidemia de obesidade nos EUA, por exemplo, está vinculada aos fartos subsídios oferecidos aos produtores de milho, do qual se extrai a alta frutose que adoça refrigerantes e uma série de outras guloseimas que ficaram perigosamente baratos.
                O poder dos impostos para alterar hábitos é tamanho que o psicólogo Geoffrey Miller diz que, manipulando-os, podemos promover verdadeiras revoluções comportamentais, em tempo recorde e quase sem sangue.
                No limite, poderíamos substituir partes da legislação penal por regulação tributária e sanitária. Seria possível, por exemplo, tentar controlar o consumo de drogas não através de penas de prisão, que já se mostraram muito pouco efetivas, mas de impostos (preço) e do "soft power" social. Para os que acham que isso é delírio, vale lembrar que essa combinação improvável já fez com que a prevalência do uso do tabaco no Brasil caísse de 32%, em 1989, para 17,2% em 2008.
                A grande dificuldade aqui é que é praticamente impossível antecipar todos os efeitos das mudanças. Mesmo as mais simples podem esconder surpresas --tanto desagradáveis como agradáveis. O problema é matemático. Há um descompasso entre o sistema regulador, isto é, as leis, e o regulado, a sociedade. Enquanto o primeiro tende a ser extremamente simples, traduzível em juízos discretos, o segundo é terrivelmente complexo, subsumindo os desejos, interesses e necessidades conflitantes de milhões de pessoas. Sempre que editamos uma lei ou baixamos uma portaria prognosticamos, quando muito, seus efeitos mais imediatos e mais óbvios. Somos em geral incapazes de enxergar suas implicações profundas. Leis são um assunto sério demais para ficar a cargo apenas de políticos.

                Gilberto Dimenstein

                folha de são paulo

                Jovens brasileiros criam a cidade do futuro


                Tenho dito aqui que uma das mais interessantes tendências mundiais é o uso da tecnologia da informações para ajudar a fazer cidades mais inteligentes --é o que leva o nome de "smarter cities". Aí é que estão as cidades do futuro, onde as conexões digitais melhoram a vida presencial.
                Jovens do Recife, onde existe o Porto Digital, acabam de ganhar reconhecimento mundial por inventar um jeito de as cidades serem mais inteligentes.
                É uma rede social batizada de Colab para que se possa denunciar e propor soluções aos problemas nas cidades --do lixo ao carro estacionado nas ruas.
                Disputando com vários países, inclusive os Estados Unidos, um concurso promovido pela New Cities Foundation, uma entidade que busca soluções para centros urbanos.
                A ideia que começou em Recife, veio para a cidade de São Paulo, e seus idealizadores sonham em torná-lo mundial.
                *
                Uma lição: Recife investiu na criação de um polo de tecnologia para gerar empregos na cidade e reter seus talentos. Surgiu assim, numa área degradada, o Porto Digital, que tenho o imenso prazer de acompanhar desde os seus primórdios.
                Juntaram-se universidade, governo e empresários. O resultado é que uma cidade vira não só um centro de problemas, mas de soluções, como mostrou os jovens do Colab.
                Gilberto Dimenstein
                Gilberto Dimenstein ganhou os principais prêmios destinados a jornalistas e escritores. Integra uma incubadora de projetos de Harvard (Advanced Leadership Initiative). Desenvolve o Catraca Livre, eleito o melhor blog de cidadania em língua portuguesa pela Deutsche Welle. É morador da Vila Madalena.

                Ueba! Saiu o Bonde do Mantegão! - José Simão

                folha de são paulo
                Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! E o chargista Flavio anuncia: "PIB, jurão e inflação, é o Bonde do Mantegão". É um novo funk, "O Bonde do Mantegão" pela McDilma!
                E como diz o Laerte: o pior da inflação é aguentar aquele monte de charge com dragãozinho.
                É dragãozinho no colo da Dilma, dragãozinho embaixo da mesa da Dilma, dragãozinho pregando susto na Dilma, o Mantega fantasiado de dragãozinho!
                "Maaaaantega, avisa pra esses dragõezinhos que o Dragão aqui sou eu." E cospe fogo. O Dragão X Os Dragõezinhos!
                E tô adorando esses horários políticos no intervalo da novela. Primeiro foi o Aécio Never contando piada. Melhor que o Ary Toledo.
                E o PSDB vira Partido Social de Minas. Partido Social Dos Bão!
                E agora vem o DEM! DEM quer dizer Deu Merda. Porque foi todo mundo embora. Eles vão ter que pedir político emprestado pra fazer o horário. Rarará!
                A estrela vai ser o ACMeio Metro! Vai ter que gravar em cima de oito engradados de cerveja. Ele é todo arrumadinho, parece feito de Lego. O prefeito Lego.
                E Aécio devia dar receita de repôi no ái com ói: "Casca o ái, quenta o ói e foga o aí no ói quente e joga o trem no repôi".
                E o Neymar mandou avisar aos espanhóis que ele não pode emprestar dinheiro porque vai se casar com atriz global e dá muita despesa.
                Rarará!
                E avisa ao pastor Malafaia que casamento gay é opcional. Ele não é obrigado a se casar com o pastor Feliciano.
                Aliás, eles podiam se casar e passar a lua de mel em Vegas, no show da Cher. Melhor, eles podiam se casar ao som da marcha-rancho "As Pastorinhas", de Ataulfo Alves. Malafaia e Feliciano, As Pastorinhas! Rarará!
                É mole? É mole, mas sobe!
                Os Predestinados! Mais três para a minha série Os Predestinados!
                Representante permanente do Brasil na Conferência do Desarmamento: Antonio Guerreiro! Rarará!
                E um amigo foi fazer exame no São Carlos Imagens e o médico solicitante: Pedro Pinto Firmeza! Ueba! Senti a maior firmeza! Doutor Pinto Firmeza não dá moleza.
                Rarará!
                Nóis sofre, mas nóis goza!
                Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
                José Simão
                José Simão começou a cursar direito na USP em 1969, mas logo desistiu. Foi para Londres, onde fez alguns bicos para a BBC. Entrou na Folha em 1987 e mantém uma coluna que considera um telejornal humorístico.

                Mônica Bergamo

                folha de são paulo

                Moradores que fugiram de vazamento de gás no Rodoanel aguardam decisão judicial


                Terminou empatada na terça-feira (4) no STJ (Superior Tribunal de Justiça) votação em que um morador que vive próximo do Rodoanel de SP pede indenização por ter sido obrigado a deixar a sua casa por algumas horas na época das obras. O resultado orientará mais de mil ações em andamento, pelo mesmo motivo.
                APITO
                Cerca de seis famílias estão representadas em cada um dos mil processos. Os moradores dizem que sofreram abalo psicológico grave ao serem avisados, pela Petrobras, pela Dersa e pela empreiteira Camargo Correa, que as obras haviam causado um vazamento de gás na região. Deixaram suas casas. Voltaram horas depois.
                FÁBRICA
                A votação está empatada, em 2 a 2. O ministro Marco Buzzi pediu vista e dará o voto decisivo. Os magistrados que apoiaram o pagamento admitiram o dano moral. O ministro Luis Felipe Salomão, contrário, disse que há "uma indústria" de indenizações em torno do caso. E que, se os moradores vencerem, estará criado um precedente perigoso já que qualquer ação de segurança preventiva no país poderá gerar um pagamento milionário.
                BLOCO
                A ministra Gleisi Hoffmann virou máscara: os organizadores da Marcha da Maconha de São Paulo, no próximo sábado, incluíram a auxiliar de Dilma Rousseff na ala chamada de "Bloco do Atraso". Serão distribuídas também máscaras dos deputados Osmar Terra (PMDB-RS), Marco Feliciano (PSC-SP) e Givaldo Carimbão (PSB-AL), envolvidos em polêmicas sobre drogas, homofobia, racismo e demarcação de terras indígenas. Eles representariam uma "ofensiva religiosa, moralista, ruralista e conservadora" no país.
                NOSSOS GURIS
                Karime Xavier/Folhapress
                O Projeto Guri, da Secretaria de Estado da Cultura de SP, faz 18 anos. Para celebrar a data, que coincide com a idade em que os jovens terminam sua formação musical no programa, serão realizados concertos com o grupo The Rodney Mack Philadelphia Big Brass, em Bauru e no Auditório Ibirapuera, nos dias 28 e 30 deste mês.
                *
                "Também lançaremos livros sobre a iniciativa, que atende 25 mil alunos por ano, em 316 cidades", diz Alessandra Costa, diretora da Associação Amigos do Projeto Guri.
                CONTAR ATÉ DEZ
                De Nelson Jobim, ex-ministro da Defesa dos governos Lula e Dilma Rousseff, sobre o descontentamento em relação à presidente, grande inclusive em seu partido, o PMDB: "Diálogo é fundamental na política. Tem que ter paciência e parece que paciência não existe". Ele deu a declaração num evento em SP.
                SENHOR DA RAZÃO
                O padre Fábio de Melo e o deputado federal Gabriel Chalita (PMDB-SP) vão escrever mais uma obra a quatro mãos. Será "Carta entre Amigos - sobre o Tempo e a Lucidez". Os dois primeiros volumes da série, "Sobre Medos Contemporâneos" e "Sobre Ganhar e Perder", venderam juntos mais de um milhão de exemplares.
                PONTA DE PÉ
                Já tem data a abertura da primeira loja da francesa Repetto no Brasil: dia 18, no shopping Cidade Jardim, em SP. Na inauguração, haverá na cobertura do centro de compras uma apresentação de balé, dança que inspira as coleções de sapatos e roupas da marca.
                DE VOLTA AO AROUCHE
                Os atores Miguel Falabella, Marisa Orth, Aracy Balabanian, Luis Gustavo e Marcia Cabrita se reuniram, na terça-feira (4), na primeira das quatro gravações de episódios inéditos da série "Sai de Baixo", para o canal a cabo Viva. O apresentador Zeca Camargo, a humorista Dani Calabresa, as atrizes Regina Duarte e Alessandra Maestrini e o músico Junior Lima, com a namorada, Mônica Benini, estiveram na sessão, no teatro Procópio Ferreira.

                Dani Calabresa e Regina Duarte na plateia do "Sai de Baixo"

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                Zanone Fraissat/Folhapress
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                A humorista Dani Calabresa, do "CQC", foi à gravação do "Sai de Baixo", no teatro Procópio Ferreira, na terça (4)
                PÉ NO FREIO
                Teste inédito feito pela Proteste, associação de defesa do consumidor, mostra que em SP uma pessoa demorou 2 horas e 26 minutos para fazer de ônibus um percurso de 14 km (entre o Brooklin e o centro) que levou apenas 35 minutos de moto. Gastou ainda uma hora de metrô e 42 minutos de carro. Os resultados sairão na nova edição da revista da organização, na segunda.
                PÉ NO FREIO 2
                O teste foi feito também no Rio de Janeiro.
                *
                Mas a Proteste alerta que, embora mais ágil, a moto é um veículo mais perigoso e requer cuidados na direção.
                QUERIDO DIÁRIO
                José Pastore autografou a biografia "Antônio Ermírio de Moraes - Memórias de um Diário Confidencial", sobre o empresário à frente do Grupo Votorantim, na terça (4). Foram ao lançamento na Fnac Pinheiros o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o governador de SP, Geraldo Alckmin, o ator Marcos Caruso, o empresário Albano Franco e Regina Moraes Waib, filha de Antônio Ermírio.

                FHC, Alckmin e Serra em lançamento da biografia de Antônio Ermírio de Moraes

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                Zanone Fraissat/Folhapress
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                José Pastore autografou o livro "Antônio Ermírio de Moraes - Memórias de um Diário Confidencial", na terça (4), na Fnac de Pinheiros
                CURTO-CIRCUITO
                Cris Zanetti e Fê Resende lançam o livro "Vista Quem Você É - Descubra e Aperfeiçoe Seu Estilo Pessoal", às 19h, na Livraria da Vila de Higienópolis.
                Reinaldo Lourenço faz bazar com coleções passadas, em seu showroom, até 22 de junho, em Pinheiros.
                "Mais Náufragos que Navegantes", documentário de Guillermo Planel, será exibido e debatido nesta quinta-feira (6) na Câmara dos Deputados.
                O ator Freddie Highmore chega ao Brasil no dia 20 para promover a série americana "Bates Motel".
                Mônica Bergamo
                Mônica Bergamo, jornalista, assina coluna diária publicada na página 2 da versão impressa de "Ilustrada". Traz informações sobre diversas áreas, entre elas, política, moda e coluna social. Está na Folha desde abril de 1999.