sexta-feira, 26 de abril de 2013

Nuvem que ronda - Fabio Seixas

folha de são paulo

Após um início de ano empolgante, Massa tem que se entender com os pneus para não fracassar
A grande novidade deste ano na F-1 parecia ser Massa. O brasileiro começou o ano fazendo coisas que não conseguia havia um bom tempo.
Após o GP da Malásia, colocou- -se à frente do companheiro de equipe, cenário inédito em três anos. Na China, liderou um treino --a segunda sessão livre--, o que não fazia desde Índia-2011. De quebra, mantinha-se melhor do que Alonso no grid, uma série que já vinha desde o final da temporada passada.
Mais do que os números, porém, o que chamava a atenção era seu discurso. Uma autoconfiança que em nada lembrava o claro abatimento dos últimos campeonatos.
Em suas próprias palavras, a "nuvem negra" que pairava sobre sua cabeça se dissipara. Ele estava de volta.
Durou pouco.
Do apagar das luzes na China à bandeira quadriculada no Bahrein, o Massa que se viu nas últimas duas etapas foi aquele da primeira metade do último Mundial.
Em Xangai, Alonso venceu e ele foi sexto. Em Sakhir, final de semana terrível para a Ferrari, ficou em 15º, sete posições atrás do espanhol.
Comparações à parte --até porque é injustiça comparar a grande maioria do grid ao espanhol--, ele foi mal mesmo. E a explicação pega carona na coluna da semana passada: são os pneus.
Massa abriu mão da luta pela pole no Bahrein. Sua ideia foi sacrificar a performance no sábado, usando os pneus mais duros, e colher os dividendos no domingo, com um primeiro pit stop tardio.
A estratégia havia funcionado com Vettel na China. Poderia funcionar com ele.
Não deu certo. Os pneus do seu carro duraram apenas dez voltas, e ele entrou nos boxes na mesma janela dos pilotos que estavam com os compostos mais macios.
Massa é um piloto rápido, talentoso, mas fica cada vez mais evidente que tem uma deficiência crônica no trato com os pneus. E, de novo evocando o texto da última sexta, isso significa que está lascado: pneus, hoje, são tudo.
Não por coincidência, seu discurso após a prova já foi num tom diferente: "Não consigo encontrar explicação para tantos problemas".
O Mundial está no começo. Massa é o sexto colocado. Em 2012, após as mesmas quatro provas, era o 17º.
Não dá para delirar em vê-lo lutando pelo título, mas, sim, é possível esperar um ano mais digno. Até por sua sobrevivência na categoria.
No Rio, dias antes de embarcar para a abertura da temporada, Massa não gostou quando foi questionado sobre a pressão do fim do contrato com a Ferrari e as especulações sobre seu provável substituto no time.
"Já vão começar com isso?", perguntou, na ocasião.
Ele tinha toda a razão naquele momento. Precisa se acertar logo com os pneus para continuar tendo.

O assunto é:Transparência - Tendências/Debates

folga de são paulo

JOÃO CAPIBERIBE
TENDÊNCIAS/DEBATES
O ASSUNTO É: TRANSPARÊNCIA
Por gastos públicos mais cristalinos
Afora o governo federal, alguns Estados e municípios e outros poucos entes, a maioria descumpre a Lei da Transparência, de 2009
No início dos anos 1990, antes da chegada da internet ao Brasil, então prefeito de Macapá, passei a publicar mensalmente a execução orçamentária da prefeitura em "outdoor" instalado à porta da sede da municipalidade.
Eleito governador, convoquei os técnicos da Empresa de Processamento de Dados do Amapá (Prodap) e lhes perguntei se era possível colocar, em tempo real, as receitas e despesas do governo estadual na internet, que engatinhava no país.
A prioridade do Prodap passou a ser a criação do programa que extraísse diretamente da contabilidade os dados da execução orçamentária, no momento em que eram empenhados, e colocá-los em tempo real na internet. Hoje isso é uma operação muito simples --mas não naquele tempo.
Ao chegar ao Senado, em 2003, apresentei projeto de lei tornando obrigatório que todos os entes públicos do país colocassem seus gastos na internet em tempo real, à semelhança do portal criado no Amapá.
Enquanto o projeto tramitava, convenci o então ministro de Ciência e Tecnologia, Roberto Amaral, a colocar no site do ministério um link para os gastos da pasta.
No fim de 2004 o projeto de transparência foi aprovado por unanimidade no Senado, seguindo para a Câmara. Nesse mesmo ano, Waldir Pires, que à época era ministro da Controladoria-Geral da União, gostou tanto da ideia que decidiu implantá-la em todo o governo federal, antes mesmo de sua votação na Câmara dos Deputados.
No governo, a ideia de implantar o Portal Transparência sofreu forte reação. O então tesoureiro do PT, Delúbio Soares, proferiu uma opinião que ficou célebre: "Transparência demais é burrice".
Waldir Pires teve que fazer concessões. A principal foi a de colocar os gastos depois de executados e pagos, no dia seguinte à liquidação. Um pequeno detalhe, mas que descaracterizou a proposta, pois não possibilita que prováveis compras superfaturadas sejam investigadas antes da execução dos serviços.
O projeto foi finalmente aprovado em 2009, transformando-se na lei complementar nº 131/2009.
Infelizmente, esse instrumento de combate à corrupção pública vem encontrando dificuldades para ser aplicado, devido à falta de fiscalização. Tirante o governo federal, alguns governos estaduais e municipais e outros poucos entes públicos, a maioria descumpre a lei.
A regulamentação da lei pelo Executivo descartou a imposição original de ser implantada em tempo real ou on-line por todos os entes da federação e, ainda, pecou por não impor aos entes federativos um padrão.
Em 27 de maio próximo, a Lei da Transparência entra em vigor de forma plena, findo o prazo para que os municípios com até 50 mil habitantes passem a divulgar na internet a sua execução orçamentária. No entanto, hoje o que se vê são portais de transparência díspares.
No pioneiro portal amapaense, o detalhamento da informação chega aos nomes dos servidores que empreenderam viagens a serviços do Estado (o que na maioria dos demais é negado) e é possível saber, ainda, quais médicos estão de plantão nas emergências do SUS ou quais delegados estão de plantão.
Por isso seria de bom alvitre que o Executivo fizesse um aperfeiçoamento na regulamentação da Lei 131, obrigando a divulgação em tempo real ou on-line, e criasse um padrão com as devidas adequações, que poderia ser disponibilizado pelo Executivo a custo zero para todos os entes federativos.
Essa padronização facilitaria a navegação de todos nos portais de transparência, hoje confusa graças à multiplicação de programas diferentes que limita o incentivo à fiscalização das contas públicas.


FABIANA SIVIERO
TENDÊNCIAS/DEBATES
O ASSUNTO É: TRANSPARÊNCIA
Tribuna, sim; palanque, não
Distinguir o discurso espontâneo do cidadão do discurso de encomenda deve ser um foco na modernização de nossas normas eleitorais
O Google divulgou ontem a sétima atualização de seu Relatório de Transparência, que objetiva mostrar o tamanho e o escopo dos pedidos governamentais por dados e censura na Internet. É um barômetro da liberdade de expressão na rede --e a pressão, infelizmente, está subindo.
Durante o segundo semestre de 2012, o Google recebeu 2.285 pedidos de entidades governamentais no mundo inteiro (incluindo o Poder Judiciário) para remover 24.179 peças de conteúdo, contra 1.811 pedidos para remoção de 18.070 peças no primeiro semestre do ano passado.
No Brasil, recebemos 697 ordens de remoção de conteúdo de nossas plataformas, uma média de 3,5 ordens por dia. Chama atenção o fato de que cerca de metade das ordens (316) se baseava na proibição constante em nosso Código Eleitoral sobre qualquer expressão que represente "ofensa à dignidade ou decoro" dos candidatos e foi expedida em caráter liminar, ou seja, sem análise e decisão definitiva.
A maior parte dos pedidos de remoção não teve o impacto pretendido pelo requerente, e o Google foi obrigado a remover conteúdos em resposta a 35 dos casos baseados no Código Eleitoral. Nos demais, o debate segue em andamento.
Se os usuários têm ou não o direito de se expressar e expor suas ideias durante o período eleitoral ou se seguiremos equiparando toda forma de expressão na Internet à "propaganda eleitoral negativa" é um debate da maior relevância.
A liberdade de expressão é um valor crítico para a missão do Google de "organizar as informações do mundo e torná-las universalmente acessíveis e úteis".
Na nossa visão, conteúdo postado por usuários nas diversas plataformas e redes sociais está protegido pelo Artigo 19 da Declaração Universal de Direitos Humanos, bem como pela Constituição Federal.
Esse direito de expressão, como já afirmou o Supremo Tribunal Federal, não pode ser limitado, especialmente em época eleitoral, quando o fluxo de informações deve ser ainda maior e mais livre, para que os eleitores possam se expressar e também acessar mais informações.
Informação é poder: conhecendo melhor os candidatos, os eleitores poderão votar de forma consciente.
A manifestação responsável de opinião é um aprendizado saudável das sociedades democráticas.
De forma particular na internet, que oferece hoje oportunidades sem precedentes para as pessoas se manifestarem por texto, áudio, foto ou vídeo, a opinião é muitas vezes acompanhada do contraponto.
Trata-se de espaço participativo e contempla o comentário ou a réplica, garantindo voz a todos os afetados. Pedidos de remoção de conteúdo exercem um efeito coercitivo e inibidor, silenciando os cidadãos.
Durante o período do debate eleitoral, é esperado que cada cidadão manifeste sua opinião e preferência. Os que defendem o controle do discurso político na internet atribuem a cada fala e a cada posição uma intenção orquestrada da oposição, como se todo e qualquer cidadão fosse um cabo eleitoral a serviço do adversário --e isso não é verdade na vasta maioria dos casos.
Distinguir o discurso espontâneo e sagrado de cada cidadão do discurso de encomenda deve ser um dos focos na modernização de nossas normas eleitorais.
A censura não ajuda na difícil missão de ampliar a participação política dos cidadãos nem no alcance do objetivo maior de ter no país um eleitorado mais informado e capaz de acessar e discernir entre uma ampla diversidade de pontos de vista.

Quadrinhos

folha de são paulo

CHICLETE COM BANANA      ANGELI
ANGELI
PIRATAS DO TIETÊ      LAERTE
LAERTE
DAIQUIRI      CACO GALHARDO
CACO GALHARDO
NÍQUEL NÁUSEA      FERNANDO GONSALES
FERNANDO GONSALES
MUNDO MONSTRO      ADÃO ITURRUSGARAI
ADÃO ITURRUSGARAI
PRETO NO BRANCO      ALLAN SIEBER
ALLAN SIEBER
MALVADOS      ANDRÉ DAHMER
ANDRÉ DAHMER
GARFIELD      JIM DAVIS
JIM DAVIS

HORA DO CAFÉ      AUNÉ
auné

TV PAGA

Estado de Minas - 26/04/2013


Bourdain na estrada

O canal TLC promove duas estreias esta noite. Para começar, às 20h, o chef norte-americano Anthony Bourdain (foto) comanda o programa Fazendo escola, e o desafio é conhecer um destino inesperado em apenas 48 horas. Em cada episódio, de uma hora de duração, ele tem a missão de transformar seus itinerários, totalmente afastados das rotas turísticas e percorridos em poucas horas, em excursões repletas de informação e ação. De Nova York a Cingapura, e gastando pouco. Às 21h, é a vez da nova temporada de NY Ink, com Ami James e sua equipe de tatuadores.

Documentário reúne  os veteranos do surfe


Dirigido e narrado pelo lendário Stacy Peralta, Riding giants é mais que um documentário de surfe. É um tributo não só a um esporte, mas a um elevado estado de espírito e estilo de vida. Dessa forma, o canal Off apresenta a atração desta noite, às 22h. Várias gerações comentam sobre as origens do surfe, o nascimento de sua cultura e a mitologia das ondas grandes surfadas por gigantes como Greg Noll, Jeff Clark e Laird Hamilton.

Discovery mostra que  perder peso não é fácil


Ainda no pacote de documentários, o Discovery Channel exibe, às 22h20, o programa Medicina de peso, que narra histórias de crianças obesas e seus esforços para perder mais peso antes de se submeter a cirurgias. No Nat Geo, às 22h15, o especial Sextas de histórias extraordinárias emenda as produções Viver sem limites e Além da escuridão, sobre jovens que lutam para superar doenças ou acidentes que os deixaram mutilados. No canal History, às 20h, vai ao ar uma maratona da série Alienígenas do passado, com quatro episódios em sequência: “Tecnologia alienígena”, “Viajantes do tempo”, “Fundadores e alienígenas” e “Alienígenas e seitas mortais”.

Bio narra trajetória do ator Dustin Hoffman


Há mais de 50 anos dando vida a diferentes personagens, o ator Dustin Hoffman é um nome consagrado de Hollywood. Nascido em uma família de imigrantes judeus poloneses, Hoffman começou a atuar ao lado de Gene Hackman em 1956, no Teatro Pasadena Playhouse, e posteriormente acompanhou o amigo em sua ida a Nova York, onde estudou e se dedicou na carreira. Sua estreia no cinema foi em A primeira noite de um homem (1967). Com Kramer versus Kramer (1979), ele ganhou o Oscar de melhor ator, feito que repetiria em Rain man (1988). Confira tudo isso e mais às 17h, no canal Bio.

Muitas alternativas na  programação de filmes


Além de Ilha do medo, que vai ao ar às 22h, o canal FX promove hoje a sessão Duplex, com Homem de Ferro, às 18h, e a sequência Homem de Ferro 2, às 19h50. Sessão extra também no Universal Channel, com Ben Stiller nas comédias Duplex, às 20h20, e Entrando numa fria maior ainda com a família, às 21h55. Na Cultura, o filme japonês Aquiles e a tartaruga será reprisado às 22h. agora em versão dublada. Também às 22h, o Futura exibe Para não falar de todas estas mulheres, de Ingmar Bergman. Na mesma faixa das 22h, o assinante tem mais oito opções: O sol do meio-dia, no Canal Brasil; Quero matar meu chefe, na HBO; Se beber, não case – Parte 2, no Max Prime; Ethan Frome, no Spin; A última casa, no Space; Imortais, no Telecine Premium; Big – Quero ser grande, no Telecine Cult; e O chamado, no TCM. Outras atrações da programação: O pecado original, às 21h30, no Arte 1; Tão forte e tão perto, às 22h05, na HBO 2; O ultimato Bourne, às 22h30, no Megapix; e Hancock, às 23h, no AXN.


Eduardo Almeida Reis» Sertanejas‏

Aos domingos, são 200 canais transmitindo aos berros, ao vivo e em cores, as indecorosas manhãs sertanejas 


Eduardo Almeida Reis

Estado de Minas : 26/04/2013 

Preciso perguntar ao meu advogado se posso escrever o nome da operadora de TV a cabo que fiz a besteira de instalar, já paguei três mensalidades e o contrato é de um ano. Se o doutor disser que posso e que, em caso de processo, incumbe meia dúzia dos muitos advogados de seu escritório da minha defesa, vou explicar direitinho como funciona, isso é, “como não funciona” a parabólica parafusada na parede externa aqui do apê. É a maior porcaria jamais instalada em qualquer lugar do planeta. Se chove em Nova Iguaçu, Baixada Fluminense, o sinal some na Zona da Mata de Minas e aparece um aviso para desligar o equipamento e aguardar cinco minutos. Ora, bolas, pensei que uma parabólica, virada para o céu, não tivesse relação com eventuais e rapidíssimos cortes de luz, de resto segurados pelo nobreak. Sim, botei o nobreak de 600VA no conjunto televisivo, quando o equipamento não segurou o novo computador, que exigiu nobreak de 1.200VA e tem aguentado firme. Já lhes disse que meu “plano” dá direito a uns 60 canais, 70 dos quais religiosos. Pode? Acho que pode, porque é religião à beça e à bessa, com o seguinte fenômeno: aos domingos, são 200 canais transmitindo aos berros, ao vivo e em cores, as indecorosas manhãs sertanejas. É um sertanejar que não acaba mais, osso duro de roer para quem morou na roça a vida inteira e não suporta duplas sertanejas. Duplas e conjuntos de uma porção de sertanejos com aqueles chapéus ridículos, mas há coisa pior: um dos canais exibe, há dias, o Campeonato Mundial de Curling, sem favor algum o esporte mais idiota inventado até hoje. Para os que não o conhecem, dou algumas informações, que Tiro e Queda é serviço: criado na Escócia por volta do século 16, o curling teve suas primeiras regras escritas em 1838. O objetivo do “esporte” idiota é despachar pedras redondas de granito polido até um alvo, utilizando para isso da ajuda de “varredores” que ficam alisando a pista de gelo à frente das pedras deslizantes.

Diz a Wikipédia que o nome da imbecilidade esportiva se origina do verbo inglês to curl, que significa girar, e se deve ao fato de as pedras serem levemente giradas no lançamento descrevendo uma parábola em sua trajetória. Louras lindíssimas trabalhando como “varredoras” na pista de gelo, quando, evidentemente, poderiam varrer o assoalho aqui do apê e aproveitar a oportunosa ensancha para comprar o philosopho em 60 prestações mensais, taxa zero, ainda com o IPI reduzido.


Trauma de thauma
Ando com trauma de thauma. Trauma, do grego traûma,atos 'ferida, avaria, derrota, desastre', por influência do francês trauma 'violência, traumatismo, choque emocional'. Pois é, ando em choque emocional depois que recebi o livro Thauma, do nosso Délcio Vieira Salomon. Não sou crítico literário, nada sei de literatura, não passo de simples leitor, que sabe quando gosta ou não gosta de um livro. Gostei de Thauma e acho que nas 357 páginas Délcio escreveu O LIVRO, assim mesmo, em caixa alta. No Google, vejo que thauma é grego e quer dizer “o espanto, a admiração, a perplexidade, o assombro”, talqualmente fiquei depois de ler o livro do ilustre brasileiro, um romance de ideias que mistura investigação filosófica, mitológica, sociológica, psicológica/psiquiátrica – mistureba, como diz o autor.

Ainda no Google aprendo que Platão e Aristóteles indicaram com precisão a experiência que, segundo eles, dá origem ao pensar filosófico. É aquilo que os gregos chamaram thauma (espanto, admiração, perplexidade). A filosofia, pois, começa quando algo desperta nossa admiração, nos espanta, capta nossa atenção (Que é isso? Por que é assim? Como é possível que seja assim?), nos interroga insistentemente, exige uma explicação. Espantar-se diante das coisas, interrogá-las, é próprio da condição humana. Qualquer cultura, por mais primitiva que seja, tem, desde sempre, seu arsenal de respostas e explicações às questões que normalmente são postas. Vitória editorial da Cultuarte.

Desvendado o efeito protetor da circuncisão - Bruna Sensêve


Bruna Sensêve

Estado de Minas: 26/04/2013 

A circuncisão masculina reduz de 50% a 60% o risco de infecção por HIV em homens e diminui a incidência e a prevalência do vírus herpes simplex 2 (HSV-2) e do papilomavírus humano (HPV). Estudos mostram o impacto do procedimento também nas infecções bacterianas transmitidas sexualmente mais comuns, como a clamidíase, a gonorreia, a sífilis e a infecção pelo protozoário causador da tricomoníase. O benefício é estendido às mulheres com parceiros circuncidados – elas apresentam menor risco de contrair essas DSTs. Apesar de comprovado cientificamente, o processo que leva a essa proteção nunca foi compreendido pela comunidade médica. Cientistas de um grupo formado por diversas instituições americanas de pesquisa acreditam que a resposta para esse enigma pode estar em alterações no conjunto de micro-organismos que habitam o pênis após a cirurgia de circuncisão.

As descobertas foram descritas na edição deste mês da revista científica da Sociedade Americana de Microbiologia. A equipe liderada por Lance Price, do Instituto de Pesquisa Genômica Translacional e da Universidade George Washington, contou com mais de 156 voluntários em Uganda, na Região Central africana, inicialmente não circuncidados. A ideia era estudar os efeitos da circuncisão masculina sobre os tipos de bactérias que vivem no prepúcio antes e depois da cirurgia, também conhecida como postectomia clássica. Primeiramente, foram recolhidas amostras da microbiota do sulco coronal peniano, região logo abaixo da glande, de todos os participantes. Em seguida, 79 homens foram circuncidados e 77 voluntários selecionados para o grupo de controle – não submetido ao procedimento.

Um ano depois, os voluntários foram novamente recrutados para uma segunda coleta da microbiota, que teve o resultado comparado com o do material inicial. Enquanto todos estavam na mesma condição, isso é, antes da cirurgia, a microbiota dos dois grupos de homens tinha índices bastante parecidos tanto em diversidade quanto em quantidade de micro-organismos. Após a cirurgia, a carga bacteriana de todos os homens sofreu um declínio, sendo que nos circuncidados essa queda foi muito mais expressiva. Os pesquisadores observaram também que, entre os tipos de bactérias presentes na região, os homens circuncidados tiveram uma grande diminuição dos micro-organismos anaeróbicos e um aumento dos aeróbicos (veja infográfico).

“A mudança nas comunidades é muito caracterizada pela perda de anaeróbicos. É dramático. Do ponto de vista ecológico, é como rolar uma pedra e ver o todo o ecossistema mudar. Você remove o prepúcio e aumenta a quantidade de oxigênio, diminuindo a umidade. Estamos mudando o ecossistema”, analisa Price. O líder do estudo considera que, para a saúde pública, os resultados são realmente interessantes, já que alguns dos micro-organismos decrescentes são aqueles que podem causar inflamações. “Estamos acostumados a pensar em como interromper o microbioma intestinal pode tornar alguém mais suscetível a uma infecção. Agora, acho que talvez esse distúrbio (no microbioma do pênis) possa ser uma coisa boa. Poderia ter um efeito positivo”, complementa.

Fim da cirurgia Os próximos planos da equipe, segundo Price, é entender se as bactérias presentes no pênis afetam a transmissão do HIV. Isso será feito por meio do estudo de possíveis ligações entre as mudanças no microbioma e as respostas de citocinas – mecanismos que podem ativar o processo de sinalização do sistema imunológico. O pesquisador acredita que compreender as mudanças no microbioma seguinte à cirurgia poderia, eventualmente, levar a intervenções que tornem o procedimento cirúrgico desnecessário. “O trabalho que estamos fazendo, por potencialmente revelar os mecanismos biológicos subjacentes, pode revelar alternativas à circuncisão que teriam o mesmo impacto biológico. Em outras palavras, se achar que um grupo de anaeróbicos é responsável por aumentar o risco de HIV, podemos encontrar formas alternativas para derrubá-los”. Dessa forma, segundo Price, seria possível prevenir a infecção pelo HIV em todos os homens sexualmente ativos.

Para o professor de urologia da Universidade Estadual de Feira de Santana José de Bessa Júnior, os resultados desse estudo, de alguma maneira, confirmam pesquisas mais robustas realizadas na África subsaariana que demonstram a redução da contaminação pelo HIV por meio da circuncisão. Mas ele não acredita que o trabalho tenha um impacto importante na prática clínica de imediato, já que seu nível de evidência científica é menor do que o de estudos anteriores. “Difícil prever o impacto futuro desses achados. Entendo que será menor do que os estudos já publicados anteriormente que demonstraram os benefícios ‘clínicos’ da circuncisão na diminuição da transmissão do HIV e de outras doenças sexualmente transmissíveis tanto para os sujeitos operados quanto para as suas parceiras.”

Bessa Júnior esclarece que dados precisos quanto à incidência da circuncisão no Brasil são desconhecidos, mas ele acredita que, no caso brasileiro, os benefícios populacionais do procedimento são mínimos, dada a baixa prevalência de circuncidados. Segundo o especialista, dados iniciais, ainda não publicados, no estudo que ele conduz sobre a prevalência de postectomizados indicam que a prevalência é menor do que 3%, o que faz com que os benefícios do procedimento se limitem aos circuncidados. “A cirurgia tem algum papel na ‘prevenção individual’ do câncer de pênis, mas um efeito mínimo na diminuição das DSTs e na incidência do câncer de pênis quando analisamos a população como um todo”, avalia Bessa.


Só 10 minutos

A circuncisão é um procedimento cirúrgico em que o prepúcio, a pele que recobre a glande (cabeça do pênis), é removido. A cirurgia é rápida e simples, com duração de cerca de 10 minutos. Ela apresenta taxas de complicações cirúrgicas abaixo de 0,5%, sendo as mais comuns sangramentos, infecções e insatisfação estética. Como qualquer outra cirurgia, é feita sob anestesia.


Palavra de especialista

José Murillo Bastos Netto,
professor da Universidade Federal de Juiz de Fora


Preocupação maior com a higiene 

“Acho o estudo importante, pois mostra alterações sofridas na flora peniana após a circuncisão. Mas só isso não é suficiente para justificar a diminuição de doenças sexualmente transmissíveis, o que não foi avaliado pelo estudo. Os autores encontraram uma diminuição da microbiota, principalmente de bactérias anaeróbicas, nos homens circuncidados, sendo que as bactérias que mais responderam positivamente foram os estafilococos. Acredito que os homens devem se preocupar mais com os aspectos de higiene peniana e com o uso de preservativo. São poucos os estudos, até o momento, que justificam a realização rotineira de circuncisão apenas com o objetivo de prevenir doenças virais sexualmente transmissíveis. Na minha opinião, a circuncisão deve ser indicada como prevenção de DSTs ou de câncer de pênis apenas em áreas de alta prevalência dessas doenças, como na África para HIV e no Norte e no Nordeste do Brasil para câncer de pênis.” 

O caldeirão cultural dos maias-Vilhena Soares‏

Estudo publicado na revista Science reforça a ideia de que a antiga civilização americana se desenvolveu a partir da influência de diferentes povos 


Vilhena Soares

Estado de Minas: 26/04/2013 

Brasília – Os maias são famosos pela complexidade cultural e pelo notável conhecimento que demonstravam em áreas como astronomia, arquitetura, escrita e matemática. Contudo, a origem dessa sociedade, que habitava a América muito antes da chegada dos europeus, ainda carrega segredos que intrigam os historiadores. Estudiosos já levantaram duas teorias sobre como ocorreu seu desenvolvimento. Enquanto uns sustentam que o processo tenha sido por conta própria, outros acreditam que ele  aconteceu sob influência dos olmecas, que chegaram a ser apontados como uma espécie de “civilização-mãe” dos demais povos meso-americanos.

Agora, um estudo coordenado pela Universidade do Arizona, nos Estados Unidos, e publicado na edição de hoje da revista Science, reforça uma terceira direção, que tem aos poucos ganhado força, com a realização de novas análises. Ao escavarem o sítio arqueológico de Ceibal, na Guatemala, os pesquisadores encontraram fortes indícios de que houve, sim, influência cultural no desenvolvimento maia. E mais: ela não veio apenas dos olmecas, mas também de outras sociedades.

O ponto de partida do novo estudo foi um trabalho sobre Ceibal feito em 1960 por pesquisadores de Harvard. “Quando examinei o mapa desse trabalho anterior, notei um arranjo de edifícios em torno de uma praça que era parecido com os de La Venta (sítio arqueológico da civilização olmeca localizado no Golfo do México). Com isso, pensei que Ceibal seria um ótimo local para examinar a relação entre os maias e os olmecas”, conta Takeshi Inomata, líder do trabalho e professor de antropologia na Universidade do Arizona.

O estudo, no entanto, reservava surpresas para os especialistas. Durante as escavações, que duraram sete anos, eles descobriram locais para a realização de cerimônias e rituais religiosos complexos que, de acordo com o antropólogo, não poderiam ser influência dos povos olmecos que habitavam La Venta. Além disso, exames de datação por radiocarbono confirmaram que as construções descobertas foram feitas 200 anos antes de La Venta se firmar como um centro importante.

Os pesquisadores ainda levaram em conta a possibilidade de a organização encontrada no sítio estudado ter sido resultado da influência de San Lorenzo, um centro olmeca mais antigo. Mas também a descartaram. “San Lorenzo é mais antigo do que Ceibal, mas não tinha o complexo cerimonial padronizado nem as pirâmides que encontramos lá”, completa Inomata.

Interação ampla Se essas influências religiosas não vieram dos olmecas de La Venta ou de San Lorenzo, de onde elas teriam surgido? Os pesquisadores acreditam que, entre o apogeu dos dois centros olmecas, outros povos emergiram na região. “Chegamos à conclusão de que a civilização maia surgiu de uma interação mais ampla, incluindo sociedades do Sul da Costa do Golfo, em Chiapas, e no Sul da Costa do Pacífico também. Ou seja, de toda a Meso-América”, diz o autor principal do estudo.

Ele ressalta que houve grandes mudanças sociais nas planícies maias da região da Guatemala no período pré-clássico (1000 a.C. a 250 d.C), influenciadas pelos habitantes da Costa de Chiapas e a Costa do Golfo, e que Ceibal fez parte dessa mudança, incorporando traços de outras culturas e, consequentemente, se diferenciando em seu desenvolvimento. “O surgimento de uma outra forma de sociedade, com nova arquitetura, novos rituais, tornou-se realmente a base importante para todas as civilizações meso-americanas posteriores”, frisa Inomata.

De acordo com o historiador da Universidade de São Paulo (USP) Eduardo Santos, o novo estudo aparece na esteira de outros trabalhos, segundo os quais os olmecas não seriam os principais influenciadores da civilização maia. “Pesquisas recentes nessa área têm mostrado que, ao contrário do que pensávamos, os olmecas não seriam uma ‘civilização-mãe’. Até porque não se sabe direito quem são os olmecas, como eles se organizavam e quais eram suas relações políticas. O que sempre desconfiávamos, e esse estudo também mostra, é que existiam sim outros povos na região da Meso-América que teriam deixado traços na formação dos maias, como vemos em Ceibal”, diz. “Essa seria a explicação de uma pirâmide, um símbolo recorrente, por exemplo, ter circulado facilmente por aquela região”, detalha o especialista.


Sofisticação intelectual

A civilização maia é uma das mais antigas civilizações pré-colombianas. Segundo estudos, ela surgiu há cerca de 3 mil anos, no período determinado como pré-clássico (1000 a.C. a 250 d.C). Os maias baseavam sua economia em agricultura primitiva, mas atingiram uma sofisticação social e intelectual altíssima, com grande conhecimento sobre astronomia e matemática, o que permitiu a elaboração de calendários precisos. Para muitos estudiosos, mudanças climáticas que afetaram a produção agrícola foram a principal causa da extinção dessa civilização, mas outros especialistas consideram essa explicação excessivamente simplista.



D
ados sobre a organização social

Publicação: 26/04/2013 04:00

A descoberta de complexos espaços cerimoniais no sítio de Ceibal, na Guatemala, ajuda também a montar o quebra-cabeça da formação das sociedades meso-americanas com relação à organização social. Segundo o líder do estudo, Takeshi Inomata, os anos de pesquisa mostram que os rituais funerários realizados no local, por exemplo, apontam para uma igualdade de classes, já que é possível observar que os diversos membros da sociedade eram enterrados da mesma forma.

“O ritual e esses espaços formais representam essa igualdade de classes. A existência de ritos funerários igualitários em Ceibal aponta que a desigualdade social não era tão pronunciada na região, diferentemente do que se observa em San Lorenzo e La Venta, que provavelmente tiveram governantes”, conta o autor do artigo da Science.

Francisca Gallardo, mestre em antropologia e professora da Faculdade Iesb, explica que a prática cerimonial é um elemento importante em pesquisas que buscam descobrir como funcionava a organização das sociedades antigas. “Esse rituais demonstravam emoções coletivas, como símbolos míticos e referências de alguma manifestação religiosa. Sabe-se que as crenças e os ritos são efetivados e têm sentidos de diferentes formas, que contribuem para a formação e educação das pessoas e, portanto, do grupo social”, detalha.

Memória A professora de história da Universidade de Brasília (UnB) Susane Rodrigues acredita que o estudo contribui para novas descobertas na área das sociedades antigas que geralmente são descritas de maneira artificial. “Esses achados arqueológicos podem contribuir na recuperação e no fortalecimento das memórias e identidades indígenas da Meso-América e, consequentemente, na reformulação das teorias sobre as origens dos maias”, avalia.

Susane destaca a falta de informações sobre o tema, que não tem sido muito valorizado na história. “Ultimamente, observamos na mídia uma série de documentários que insistem em dizer que os maias se desenvolveram graças ao contato com extraterrestres. O que corrobora, ainda mais, com o apagamento do protagonismo indígena pré-colombiano”, aponta a historiadora.

“Trabalhos como esses ajudam a mostrar que o passado da região é muito mais complexo do que se pensou e que sua história foge aos padrões de uma história eurocêntrica e evolucionista, revelando a pluralidade das relações humana no passado”, complementa. (VS)

DIREITOS HUMANOS » Vetada triagem de Feliciano-Adriana Caitano‏

Grupo de deputados protesta contra a decisão de restringir o acesso à comissão da Câmara a "pessoas de bem". Presidente da Casa, Henrique Eduardo Alves, promete enquadrar pastor


Adriana Caitano

Estado de Minas: 26/04/2013 

Brasília – No dia seguinte à afirmação do deputado Marco Feliciano (PSC-SP) de que só permitira a entrada de “pessoas de bem” na Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM), o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), deu sinais de que pretende enquadrar o pastor. Após reunião com os parlamentares contrários à permanência de Feliciano à frente do colegiado, Alves prometeu reforçar a norma que obriga o deputado a abrir as reuniões do colegiado ao público – regra que ainda não foi colocada em prática.

No início do mês, o pastor determinou, com o aval de aliados na CDHM, que as sessões passariam a ser restritas a funcionários, jornalistas e parlamentares. Após ser diretamente repreendido por Henrique Eduardo Alves, que considerou a decisão “inviável”, Feliciano passou a iniciar as sessões limitando a quantidade de presentes. Quando as manifestações ficavam barulhentas, ele trocava a reunião de sala e a reiniciava a portas fechadas, como permite o Regimento Interno da Casa. Anteontem, porém, o encontro já começou restrito – até o acesso ao corredor das comissões estava fechado.

No início da sessão, o pastor tentou se justificar, mas o argumento foi polêmico. “Pedi para a polícia da Casa observar o perfil das pessoas, porque dá para saber se vão participar de maneira ordeira. A ordem dada é que entrem pessoas de bem e que saibam se manifestar de forma silenciosa”, disse, para uma plateia formada apenas por assessores, jornalistas, deputados e cerca de 30 evangélicos que o apoiam. Um único ativista contrário ao pastor conseguiu participar da reunião, mas foi retirado à força por seguranças ao protestar.

Providências Diante da afirmação controversa, integrantes da Frente Parlamentar em Defesa dos Direitos Humanos – criada por ex-membros da CDHM que se recusaram a permanecer no grupo tendo Feliciano na presidência – marcaram um encontro com Henrique Eduardo Alves. Na reunião, eles relataram o comportamento do pastor e pediram providências. “O presidente da Câmara disse que vai fazer uma nova resolução sobre os limites que o Feliciano tem na comissão, porque ele não pode simplesmente impedir as pessoas de entrar porque acha que elas não são de bem”, contou Chico Alencar (PSOL-RJ).

De acordo com os deputados, Alves determinou também que os corredores das comissões não serão mais bloqueados, e os seguranças estão impedidos de fazer uma triagem de quem participará das sessões.

No encontro, o grupo ainda apresentou ao presidente da Casa um dossiê com denúncias sobre agressões que teriam sido feitas por policiais legislativos contra oito manifestantes. O documento, de 40 páginas, traz relatos das vítimas, depoimentos prestados ao Departamento de Polícia Legislativa e imagens dos dias de protestos. Em anexo, os parlamentares entregaram um requerimento para que seja apurado o “abuso da força da polícia da Câmara em desfavor de cidadãos brasileiros”.

Um ato contra a permanência de Feliciano na CDHM aconteceu ontem na praça Roosevelt, Região Central de São Paulo, com a presença do cartunista Laerte Coutinho e do deputado federal Jean Wyllys. 

Temperatura em alta entre os poderes-Juliana Braga, Leandro Kleber, Diego Abreu e Adriana Caitano

Em um dia marcado por declarações fortes de parlamentares e ministros do STF, presidente da Câmara suspende tramitação da PEC que dá ao Congresso o poder de barrar decisões da Corte


Juliana Braga, Leandro Kleber, Diego Abreu e Adriana Caitano

Estado de Minas: 26/04/2013 

Brasília – A crise institucional iniciada pela aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 33/2001, que dá ao Legislativo a palavra final sobre as decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) atingiu o ápice ontem e, após declarações fortes de integrantes dos Três Poderes, levou o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), a suspender a tramitação do projeto. Ontem, após reunião, Henrique Alves e o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), elevaram o tom e admitiram haver uma crise entre o Legislativo e o Judiciário. Eles chamaram de “invasão” do STF no Congresso a decisão do ministro Gilmar Mendes de suspender a tramitação do projeto que dificulta a criação de partidos. Alves e Calheiros entraram com um agravo regimental no Supremo contra a liminar do ministro.

Com a reação imediata e negativa de ministros do Supremo, de partidos de oposição e do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, em relação à aprovação da PEC 33 na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, Henrique Alves anunciou que, “enquanto não tiver uma definição muito clara” sobre o assunto, está suspensa a criação da comissão especial que iria analisar a proposta. O ministro Gilmar Mendes chegou a dizer que se a medida for aprovada pelo Legislativo será melhor “fechar” a Suprema Corte. “A PEC é inconstitucional do começo ao fim, de Deus ao último constituinte que assinou a Constituição. Eles rasgaram a Constituição. Se um dia essa emenda vier a ser aprovada, é melhor que se feche o Supremo Tribunal Federal”, recriminou.

Em Nova York, pouco antes de embarcar para o Brasil, o presidente do STF, Joaquim Barbosa, afirmou, por meio de sua assessoria de imprensa, que uma eventual aprovação da PEC fragilizaria a democracia. “Tem quase 80 anos a tradição já consolidada de se permitir que o Supremo Tribunal Federal declare a inviabilidade jurídica de uma lei votada pelo Congresso por violação de uma cláusula constitucional. Por que alterar isso agora, em pleno século 21? Essa medida, se aprovada, fragilizará a democracia”, criticou.

Apesar da suspensão da tramitação, tanto Henrique quanto Renan mantiveram a tensão e subiram o tom do discurso. “A separação entre os poderes não pode se resumir a uma mera questão emocional”, respondeu, referindo-se à possível retaliação da decisão de Gilmar Mendes. Os dois passaram o dia ontem reunidos com outros parlamentares, traçando qual seria o contra-ataque do Congresso ao que consideraram uma “invasão” do STF.

Mandado de segurança O PSDB e o MD (fusão do PPS com o PMN) protocolaram ontem mandados de segurança para que o Supremo impeça a tramitação da PEC 33. O autor da proposta, deputado Nazareno Fonteles (PT-PI), disse que não esperava tamanha repercussão com a aprovação do texto porque a proposta está disponível há dois anos, desde que foi protocolada na Casa. Ao negar que haja uma estratégia de retaliação ao STF após o julgamento do mensalão, o parlamentar argumenta que há exatamente um ano uma PEC semelhante foi aprovada no mesmo colegiado, também sob a relatoria do tucano deputado tucano João Campos (GO). “Como pode ser uma retaliação a algo que ainda nem tinha acontecido (julgamento do mensalão)”, questionou. Ele classificou as críticas como “desonestidade intelectual”.

Fonteles criticou ainda a decisão de Henrique Alves de não instalar a comissão especial na Câmara para analisar a proposta. “Ele não tem esse poder. Só tem a obrigação de criar a comissão especial e não pode fazer um ato contra a CCJ, que já deliberou”, ressaltou. Em nota, o presidente da CCJ, deputado Décio Lima (PT-SC), afirmou que a polêmica em torno da aprovação da PEC 33 “não passa de tempestade em um copo d’agua”. Segundo ele, o debate entre os poderes é normal e nenhum assunto é proibido. O ministro do STF Dias Toffoli também tentou amenizar o debate acalorado. “O ruim seria se o Congresso e o Judiciário não estivessem atuando. Por isso, não há crise. O que há são os Poderes funcionando. E que bom que estejam funcionando. Isso é melhor para a democracia”, avaliou.

O vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB), também a aprovação da PEC 33. “Eu lamento até dizer isso, mas acho que houve uma demasia. A palavra última há de ser sempre a do Poder Judiciário, especialmente em matéria de constitucionalidade e vinculação de uma determinada decisão para os tribunais inferiores”, disse.

Mensaleiros A participação de deputados condenados no julgamento do mensalão na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara – José Genoino (PT-SP) e João Paulo Cunha (PT-SP) – também é motivo de crítica. O ministro do Supremo Marco Aurélio Mello observou que nenhum integrante da CCJ questionou o teor da PEC 33. “E é sintomático que na comissão tenhamos dois réus da Ação Penal 470 (mensalão)”, disse. O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, alertou que os dois parlamentares petistas não deveriam sequer estar na Câmara.


Recurso para manter votação Presidentes da Câmara e do Senado rejeitam %u201Cinvasão%u201D do Judiciário e anunciam agravo contra decisão de ministro do Supremo que suspendeu a tramitação de projeto sobre partidos

Juliana Braga e Adriana Caitano
Brasília – A criação do Rede Sustentabilidade, partido pelo qual a ex-senadora Marina Silva pretende candidatar-se à Presidência da República em 2014, corre o risco de enfrentar novos obstáculos nos próximos dias. Depois de o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes conceder mandado de segurança suspendendo a tramitação do projeto que dificulta a criação de legendas e veta a transferência do tempo de TV e do Fundo Partidário para as novas legendas, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), entrou com um recurso na Corte contra a decisão. Ele pede a revisão da decisão pelo plenário.

Caso seja acatado o pedido de Renan, o texto que muda as regras de divisão do Fundo Partidário e do tempo de televisão volta a tramitar no Senado. Tanto Renan quanto o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), consideram que houve uma “invasão” do Judiciário no Legislativo. “Da mesma forma que nós nunca influenciamos decisões do Judiciário, nós não aceitamos que o Judiciário influa nas decisões legislativas. De modo que nós consideramos isso uma invasão. É inconcebível que haja uma tentativa de influir no andamento do processo legislativo”, ressaltou Calheiros. Rodrigo Rollemberg (PSB-DF), autor do pedido de mandado de segurança, por outro lado, acusa a base governista de “autoritarismo”.

Pela manhã, Henrique Alves criticou a liminar. “Nós estranhamos muito porque foi uma decisão soberana desta Casa que, de forma democrática e transparente, cumpriu todos os preceitos regimentais”, comentou. Mais tarde, disse que o PSB se equivocou ao pedir o mandado de segurança no STF. “(O Supremo) foi provocado de forma equivocada. Não aceitamos essa intromissão na nossa competência”, sustentou.

Já Rollemberg disse que está confiante em relação à decisão que o STF tomará. “Nós temos muita convicção que o Supremo derrubará esse projeto. Toda vez que um projeto de lei é feito para atingir um objetivo pessoal ou pequeno grupo de pessoas, isso é uma medida inconstitucional, uma medida ilegal e foi assim que o Supremo entendeu e entendeu corretamente”, afirmou.

Rollemberg ainda criticou a base aliada, que estaria “perdendo a medida das coisas”. “Esse viés autoritário é extremamente prejudicial à democracia. Nós não podemos, através de uma lei ordinária, querer mudar uma interpretação da Constituição feita recentemente pelo STF”, alfinetou.

O recurso apresentado por Renan, na prática, terá papel mais político. O pedido para o mérito ser avaliado no plenário é redundante, já que a questão seria avaliada por todos os ministros de qualquer forma. Mas a avaliação dos aliados do peemedebista é que, dessa forma, o Senado marca posição e garante que sua argumentação será levada em conta quando o assunto for analisado pelo Supremo.

Favorecidos No mandado de segurança, Gilmar Mendes acata a argumentação de Rollemberg e alega “extrema velocidade” na apreciação da matéria, caracterizando casuísmo em prejuízo de minorias políticas. A rapidez na tramitação da proposta no Congresso foi articulada pela base governista, com a finalidade de que as mudanças atinjam o partido que Marina Silva pretende criar.

Quem também tem pressa na tramitação da proposta é o DEM, que conseguiu incluir, ainda na Câmara, uma emenda que muda a divisão do tempo de TV e favorece a legenda. Hoje, o tempo é dividido de duas formas: um terço é repartido igualmente entre todas as legendas e os outros dois proporcionalmente levando em conta a bancada eleita de cada partido. O deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO) conseguiu inserir mudança na parte fixa do tempo distribuída. Um terço dela – ou seja, um nono do total – continuaria sendo repartida igualmente e o restante também atenderia à proporcionalidade. Com isso, o DEM consegue reduzir o impacto da perda de 11 deputados federais para o PSD.