quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Os peixes e a preservação


Fernando Reinach - O Estado de S.Paulo
Santuários marinhos são regiões onde é proibido pescar. Geralmente, a implementação dessas reservas é combatida pelas comunidades de pescadores, que se sentem prejudicadas. Agora, os ecologistas conseguiram um novo argumento para convencer os pescadores a permitir a criação de reservas: elas exportam peixes fáceis de pescar.

Apesar de a maioria dos ecologistas defender a criação de santuários marinhos como uma arma importante para preservar a biodiversidade dos mares, a criação e a manutenção de áreas preservadas têm se mostrado difíceis, quando não impossíveis.

Enquanto a população mundial se identifica com a sobrevivência de um simpático macaquinho ou um filhote de leopardo e se comove com um elefante assassinado, uma lagosta ou um bacalhau despertam o apetite em vez da simpatia nos seres humanos. 

Visitar uma reserva marinha é bem menos interessante que visitar uma reserva de grandes mamíferos. Observadas da superfície, as reservas nada mais são do que áreas de oceano, idênticas a quaisquer outras, em que a entrada de pescadores é proibida. Como na maioria das vezes o ideal é proteger exatamente uma parte da área utilizada por comunidades que vivem da pesca, sua criação e manutenção é sempre polêmica.

Nas últimas décadas, os ecologistas têm utilizado dois argumentos para convencer os pescadores da utilidade dessas reservas. O primeiro argumento é o do transbordamento. Os ecologistas demonstraram que, na ausência de pescadores, os animais que vivem nas reservas crescem mais; além disso, sua densidade populacional aumenta muito e, após alguns anos, isso provoca o transbordamento desses animais para fora das reservas, onde podem ser pescados, beneficiando a comunidade. 

O segundo argumento é o do subsídio cruzado. Dentro das reservas, os animais, em razão das condições favoráveis, produzem um número muito maior de ovos e filhotes. Como esses filhotes são carregados facilmente pelas correntes, grande parte deles é transportada para fora da reserva e auxilia na manutenção das populações que vivem nas regiões onde a pesca é permitida.

Agora, um grupo de cientistas fez um descoberta simples, mas que acrescenta um terceiro argumento importante. Foram estudadas três reservas nas Filipinas. Em cada uma, foram analisados três grupos de peixes, os Chaetodontidea, que não são pescados, e os Acanthuridae e Scaridae, que são ativamente pescados na imediações das reservas. 

O experimento é extremamente simples. Um mergulhador se coloca a 8 ou 10 metros de um exemplar de um desses peixes e nada lentamente em direção ao peixe, carregando dois instrumentos. Um mede a distância que separa o mergulhador do peixe; o outro mede o tamanho do peixe.

O nadador vai se aproximando, até que, com medo, o peixe foge ou se esconde. A distância em que o peixe decide fugir é chamada de Distância de Início da Fuga (FID, na sigla em inglês). Essa medida foi estabelecida para centenas de peixes de cada grupo em quatro áreas distintas: uma bem dentro da reserva, outra bem fora da reserva e, em duas faixas, de 200 metros cada uma, na borda externa e interna da reserva.

Os cientistas descobriram que os peixes de dentro das reservas são maiores e têm FID muito menor que os peixes que vivem bem fora das reservas. Mas nas bordas externas da reserva foi encontrado um grande número de peixes grandes com FID baixo, típico dos peixes que vivem no interior das reservas. Esse resultado foi obtido somente para as espécies de peixes que são normalmente pescadas por seres humanos fora da reserva. Na espécie que não é pescada, não existe diferenciação entre os peixes de dentro e de fora da reserva.

Esse resultado confirma que os peixes de dentro da reserva, protegidos dos pescadores, atingem um tamanho maior que os que vivem fora da reserva. Também demonstra que peixes grandes, de dentro das reservas, "transbordam" para fora como se suspeitava. Mas o mais importante é que esses peixes grandes que transbordam não têm medo do ser humano (FID baixo), permitindo que os mergulhadores se aproximem bastante, facilitando o uso do arpão. Em outras palavras, são peixes gordos e ainda "inocentes", pois nunca foram perseguidos por pescadores.

A descoberta de que as reservas marinhas produzem uma população de peixes grandes e fáceis de pescar nas suas imediações foi usada com grande sucesso pelos cientistas para convencer os pescadores da região do valor econômico das reservas. 
Fernando Reinach é biólogo.
MAIS INFORMAÇÕES: SPILLOVER OF FISH NAÏVETÉ FROM MARINE RESERVES. ECO. LETT.,  VOL. 16,  PÁG. 191,  2013.

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Marina Colasanti - Hora de casamento gay‏


Marina Colasanti
Estado de Minas: 14/02/2013 
Como foi possível, nos perguntamos hoje, que até 1990 a Organização Mundial da Saúde incluísse em sua lista de doenças mentais o homossexualismo? E como nós, que enchíamos a boca com a palavra democracia, pudemos suportá-lo?

Ainda agora, quando França e Inglaterra se movimentam para legalizar o casamento gay, cartazes contrários se erguem em alguns pontos da multidão. Leio um deles na foto do jornal? “O casamento é para homem e mulher, não cabe ao Parlamento mudar o eterno plano de Deus”. Uma senhora gorduchinha e de ar benévolo o segura, em uma praça de Londres.

A senhora em questão, que acredita defender a família cristã e nessa defesa enfrenta cansaço e o frio do inverno, está certa de abrigar bons sentimentos. Alguém precisaria lhe dizer que o casamento nunca fez parte dos planos de Deus. Tivesse feito, Ele o teria promovido ainda no paraíso terrestre, unindo legalmente Adão e Eva – autoridade para isso não lhe faltava. Mas os dois saíram escorraçados, com uma mão na frente e outra atrás, literalmente, sem qualquer vínculo entre si que não fosse o fato de serem a única opção recíproca possível sobre a Terra. A parte do plano de Deus que levaram consigo, e que depois foi necessário organizar através de vários modelos de casamento, era apenas o impulso de amar-se fisicamente e procriar. 

E como pode aquela senhora respeitável, de cabelos brancos e óculos, acreditar como acredita que a mão de Deus tudo comanda, se coloca os gays fora da proteção dessa mão? Por que Deus os teria criado e teria posto amor no seu coração se houvesse erro na realização desse amor? 

A senhora londrina, como tantas pessoas em tantos outros países, acha que a família tradicional estará ameaçada se os casais gays também puderem fundar a sua. Não acha, porém, que a família esteve ameaçada ao longo de tantos séculos, quando os gays foram obrigados a se fingir de héteros, a se casar com héteros, a ser infelizes com héteros, e a pôr em risco a felicidade de seu cônjuge hétero.

Onze países já legalizaram o casamento gay. Portugal, com grandes discussões internas. E a Argentina, nossa vizinha que sempre olhamos com ares de superioridade liberal, foi o sexto e, sem ser supostamente careta, nos passou a perna mais uma vez. Obama, Cameron e Hollande já declararam, vão batalhar para aumentar esse conjunto e não pretendem perder.

Tenho visto paradas de orgulho gay mundo afora, fantasias, cílios postiços, falsas cabeleiras e falsos bigodes, meias arrastão e ligas, Barbies e sadomasô. Meu pensamento é que está na hora de mudar esse modelo. No princípio há de ter sido necessário exacerbar, agredir os chamados bem pensantes, impactar as cidades e gerar notícias. Carnavalizou-se a questão como forma de escancarar a presença gay, tornar pública a grande saída do armário. Mas esse momento passou.

Hoje, gostaria de ver na parada de orgulho gay as pessoas vestidas como o são no seu cotidiano. Sem peruca, sem maquiagem, talvez identificadas por profissão, médicos, advogados, cineastas, lixeiros, contadores, babás, vendedores ambulantes, dançarinos, militares, publicitários, cozinheiros. Porque a hora é de dizer que os gays não são diferentes, diferente é somente sua vertente sexual. E que não “estão entre nós”, mas são nós.

MEMÓRIA » O tesouro da mestra(Lina Bardi)‏


Estado de Minas 14/02/2013

Arquivo da arquiteta Lina Bardi, guardado na Casa de Vidro, pode ser consultado. Acervo reúne 17 mil fotografias e seis mil documentos, cuja organização durou um ano e meio
São Paulo – A arquiteta ítalo-brasileira Lina Bo Bardi tinha um jeito direto de dizer o que pensava. Em 1964, já vivendo no Brasil havia quase duas décadas, ela foi convidada a apresentar na Itália o projeto do Museu do Mármore para a Toscana, perto da região de Carrara. Não pôde ir por conta do conturbado contexto do golpe militar brasileiro. “Aqui a situação é complicada e tenho grandes responsabilidades no Nordeste. Fiz esboços em Milão, rapidamente”, escreveu, naquele ano, a arquiteta a um dos comissários do projeto. Lina acreditava fielmente que os italianos não entenderiam seu esboço de moderno museu e jardim selvagem sem que ela própria pudesse explicá-lo a seus conterrâneos. “Uma discussão baseada nas minhas anotações resultaria numa interpretação errada, especialmente em um país como a Itália, ainda acostumado a julgar arquitetonicamente em termos formais e não de conteúdos”, argumentou.

A carta da arquiteta, escrita em italiano, está entre os seis mil documentos e cerca de 17 mil fotografias que formam o Arquivo Documental Lina Bo Bardi – preciosidade para pesquisadores que até então estava abrigada em caixas, sem nenhum tipo de organização. O material está disponível para o público a partir deste mês. “São arquivos complexos, de uma época em que não existia computador. Portanto, as pessoas usavam telegramas, quando absolutamente necessário, e cartas. E Lina estava acostumada a anotar. Anotava tantas coisas, até seus pensamentos, por isso é interessante”, diz Anna Carboncini Masini, uma das diretoras do Instituto Lina Bo e P.M. Bardi.

Foi necessário um ano e meio de trabalho intenso para catalogar e fotografar os documentos e imagens referentes ao arquivo pessoal e de trabalho da arquiteta, projeto realizado com cerca de R$ 250 mil cedidos ao Instituto Lina Bo e P.M. Bardi pela Petrobras.

Por meio de um edital da Fapesp, foi possível colocar todo o material em móveis e mapotecas especiais agora abrigados em dois quartos de serviço da Casa de Vidro, no Bairro do Morumbi, patrimônio tombado de arquitetura, local que Lina projetou e construiu para viver com seu marido, o historiador Pietro Maria Bardi, ex-diretor do Museu de Arte de São Paulo (Masp).

Os visitantes da Casa de Vidro, conservada fielmente à maneira como nela viveram Lina e Pietro (com móveis desenhados pela arquiteta e mesclando obras das artes erudita e popular), encontrarão, depois da cozinha da residência, os pequenos quartos de serviço nos quais estão as mapotecas com os documentos e fotografias catalogados. É uma surpresa poder manusear revistas da vanguarda europeia, como exemplares da holandesa Wendingen, ou edições japonesas trazidas da Itália pelo casal de italianos que se naturalizou brasileiro.

ARTE POPULAR
 Outra curiosidade entre escritos, inclusive referentes a projetos não concretizados, como o do Museu à Beira do Oceano, de 1951, para São Vicente (SP), é a documentação que Lina Bo Bardi organizou espontaneamente sobre arte popular, uma de suas bandeiras.

Em uma carta de 1965, a arquiteta faz menção à censura que sofreu em relação a uma exposição de objetos da cultura nordestina que faria em Roma a pedido do Itamaraty. A mostra, semimontada com carrancas, ex-votos e bonecos de barro, foi proibida de ser inaugurada pelo então embaixador brasileiro, que disse, segundo a arquiteta: “Não abro essa exposição porque é miserável”.

O próximo passo será a digitalização do arquivo documental. “Os 7,5 mil desenhos de Lina, entre projetos elaborados e esboços, já estão arrumados, catalogados e acondicionados em mapotecas. Terminamos agora esse projeto e as obras foram fotografadas”, conta Anna Carboncini. Segundo a diretora, há interesse crescente – inclusive de pesquisadores estrangeiros – em torno de Lina Bo Bardi, que terá o centenário de seu nascimento comemorado em 2014.

O Centro Pompidou da França tenta, há anos e avidamente, adquirir para seu acervo conjunto de desenhos da arquiteta que projetou o Masp, o Sesc Pompeia e o Solar do Unhão, na Bahia. Há a necessidade de também catalogar o arquivo de Pietro Maria Bardi que está abrigado na Casa de Vidro (outra grande parte dos documentos e livros do historiador foi doada ao Masp).




RITUAL SECRETO » Ritual para a história - Gustavo Werneck‏

RITUAL SECRETO » Ritual para a história 

Iepha-MG documenta banho com cachaça da imagem de Nosso Senhor dos Passos para inventário sobre tradições da semana santa. Pela primeira vez em 200 anos, mulheres assistem à cerimônia
 

Gustavo Werneck
Estado de Minas: 14/02/2013 
Uma tradição secreta de mais de 200 anos foi quebrada ontem no distrito colonial de Morro Vermelho, em Caeté, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Pela vez, as mulheres puderam assistir ao início da cerimônia de banho com cachaça de Nosso Senhor dos Passos, que ocorre às 12h da quarta-feira de Cinzas na Matriz de Nossa Senhora de Nazareth. Também de forma pioneira, uma equipe de pesquisa – no caso, do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha-MG) – documentou o ato compartilhado apenas por homens, leigos, e com duração de uma hora. A partir das entrevistas com moradores, gravações e investigação das origens do ato, os técnicos vão fazer um inventário, que, no futuro, poderá tornar o banho patrimônio imaterial. Com a cerimônia, o Iepha deu início ao projeto Ritos da Quaresma e Semana Santa, que se ampliará por todo o estado e não tem data para terminar. 

A cerimônia começou com meia hora de atraso, e para surpresa de mães filhas e até meninas de colo que estavam no gramado diante da igreja, todas foram convidadas a entrar. A permissão partiu do coordenador do grupo, o aposentado Nildo Jesus Leal, de 71 anos, que desde os 18 honra a tradição, que recebeu novos adeptos. “Não tem problema, elas só vão ficar uns minutos, o tempo de tirar a imagem do altar”, disse Nildo. Com efeito, logo que os irmãos Antônio Lopes, de 52, o Toinzinho, e José Márcio Lopes, o Biló, de 54, desceram escultura de cedro, do século 18, e a entregaram a José Carlos Sacalina Dias, de 63, e Nildo, o grupo feminino deixou o templo, sem reclamar.

“Foi emocionante, um momento histórico”, disse a estudante capixaba Juliana Corsino, de 21, que passou os feriados de carnaval no distrito do início do século 18. Ao lado, a prima Daiana Corsino, de 26, estudante de arquitetura e também residente no Espírito Santo, gostou de ver, pelo menos por 10 minutos, o começo do rito bicentenário. 

Para a estudante de direito e técnica em enfermagem Suely Nazareth Pinheiro, de 31, moradora de Morro Vermelho, a oportunidade foi única, “pois nunca deixaram a gente ver nada”, enquanto a gestora cultural Adriana Pinheiro Leal lembrou que o fato foi realmente inédito, embora os homens tenham mantido todos os contatos com o padre Wellington, titular da Matriz de Nossa Senhora do Bom Sucesso, que não participa por se tratar de um ato exclusivo de leigos. “Desta vez, juntamos dinheiro e compramos uma peruca nova para a imagem, de cabelos naturais”, contou Adriana.

GAMELA Vestidos com roupas do dia a dia, mas participando da cerimônia como se fosse de uma sociedade secreta, o grupo de oito homens, assim que a imagem é retirada do altar, a despe das vestes de veludo roxo e roupas brancas de baixo. Este ano, tão logo a peça sacra ficou despida, os repórteres e técnicos do Iepha tiveram que desligar as câmeras. 

Em seguida, a escultura de tamanho natural foi colocada, de pé, numa gamela, e assim começou o banho do Senhor dos Passos com pinga da região, que depois é recolhida em garrafas e usada com fins terapêuticos. “Este ano, eu curei uma dor de cabeça insuportável. Minha mulher passava a pinga na minha testa e cabelos e dizia que eu iria melhorar”, revelou Toinzinho. Ao lado, José Carlos tomou um gole numa cuia, gesto seguido pelos companheiros.
Proteção contra todos os males

Um dos momentos comoventes, e que chegou a arrancar lágrimas de muita gente, foi quando o autônomo Sílvio Pinheiro Neto, de 58, nascido em Morro Vermelho, se ajoelhou e lavou as pernas do Cristo com aguardente. “Peço saúde”, disse Silvinho, como é mais conhecido, que está com tumor cerebral e chegou acompanhado do filho, Hélder Cassimiro Pinheiro, de 20, estudante de engenharia mecânica em Ouro Preto. Participando há 26 anos, Antônio Itamar Vieira, de 60, o Gelatina, ressaltou que a coroa do Cristo, quando retirada, deve ser passada na garganta para afastar as doenças. Já a peruca antiga é colocada sobre a cabeça de cada um, a fim de proteger contra todos os males. “Deixei de trabalhar hoje para vir aqui”, contou Gelatina.

Da cerimônia não podem participar crianças, jovens menores de 18 anos e mulheres.“Eu era menino e ficava olhando os mais velhos, pela fresta da porta, ansioso para chegar o dia em que poderia estar presente. O meu avô era um dos que davam o banho de cachaça no Cristo, mas meu pai, não. Quem me trouxe pela primeira vez foi o avô do meu amigo Toinzinho”, lembrou-se Nildo ao fim da cerimônia, quando José Leal, de 75, bate o sino característico anunciando que para ele, a pinga é benta. Depois do banho, a escultura é vestida com o manto e colocada de joelhos, com a cruz às costas, até a semana santa, quando sairá em procissão pela cidade. 

Há 37 anos participando da cerimônia, o aposentado Walter Estefânio, de 63, disse que o registro pelos técnicos do Iepha é importante para preservar o rito. Conforme a tradição, o banho com cachaça serve para evitar que a madeira se deteriore ao longo dos anos ou seja alvo dos cupins. Coincidência ou não, o fato é que essa é a única peça sacra da Matriz de Nossa Senhora de Nazareth ainda não atacada pelos insetos ou destruída pela ação do tempo. 

A equipe da Gerência de Patrimônio Imaterial do Iepha, comandada por Luís Gustavo Molinari Mundim, foi representada pelo restaurador Ailton Batista da Silva, o antropólogo Leonardo Augusto Silva Freitas e o técnico Adalberto Mateus. “Este é, certamente, o único rito deste tipo no país”, disse Ailton, lembrando que agora será feita a pesquisa bibliográfica. “O inventário é o primeiro passo para a manifestação se tornar patrimônio imaterial”, disse Adalberto. 


ENQUANTO ISSO...
...CHAROLA NAS ÁREAS RURAIS

O distrito de Morro Vermelho tem outro tipo de tradição secular. Durante a quaresma, uma imagem pequena de Nosso Senhor dos Passos percorre comunidades rurais vizinhas de Caeté, Barão de Cocais, Raposos, Sabará e Santa Bárbara, convidadas para as cerimônias da semana santa no povoado. Reza a tradição que a imagem não pode passar por perímetros urbanos. Ela é carregada numa charola, um pequeno andor enfeitado, e costuma passar a noite na casa dos fiéis. Há cerca de 20 anos, uma devota acendeu uma vela e o fogo destruiu a escultura de madeira, que remontava ao século 19. O jeito foi fazer uma nova, o que não interrompeu a tradição nem diminuiu a fé do povo.

CIÊNCIA » Asteroide passará 'de raspão'-Roberta Machado‏

Rocha espacial de 45m de diâmetro ficará a 27 mil quilômetros da Terra amanhã, uma distância 10 vezes menor da que separa o planeta da Lua. Especialistas da Nasa garantem que não há risco de choque 

Roberta Machado
Estado de Minas: 14/02/2013 

Poucos devem notar, mas amanhã um brilho discreto e incomum vai passar rapidamente pelos céus. O borrão luminoso será o sinal do maior asteroide a se aproximar do planeta desde que esses corpos se tornaram objeto de constante estudo e monitoramento, há 15 anos. Em termos espaciais, a rocha vai passar ‘de raspão’ na Terra, a 27 mil quilômetros. Para se ter uma ideia, o corpo transitará numa linha entre os satélites de comunicação e os de GPS, 10 vezes mais perto do planeta que a Lua. Mas astrônomos asseguram que ele só está de passagem e que não há riscos de choque.
A visita, na verdade, deve ser fugaz: o asteroide conhecido como 2012 DA14 viaja a 28 mil quilômetros por hora, deixando para trás um brilho mais fraco que o de Vênus. A distância pode torná-lo aparentemente insignificante, mas o corpo tem 45m de diâmetro (o equivalente à metade de um campo de futebol) e pesa 130 mil toneladas. Ele poderia causar um impacto equivalente a 2,4 milhões de toneladas de dinamite se atingisse a superfície terrestre. A última vez que um corpo dessa dimensão se chocou contra o planeta foi em 1908, sobre a Sibéria, derrubando milhões de árvores. 
Estima-se que existam meio milhão de objetos espaciais do tamanho do DA14 nas proximidades da Terra, mas uma aproximação desse tipo só ocorre a cada 40 anos. E somente um deles chega a atravessar a atmosfera a cada 1.200 anos.
O vulto brilhante deixado pela rocha espacial será visível na Europa Oriental, na Ásia e na Austrália, onde a noite vai facilitar o registro da visita. O momento de maior aproximação deve ser às 17h24 (horário de Brasília), quando ele vai atravessar o céu da Indonésia. O DA14 vai levar 33 horas para transitar pelo espaço entre a Terra e a Lua. Mesmo com a proximidade notável, o objeto não deve ter qualquer influência sobre a gravidade terrestre, nem atingir os satélites que orbitam o planeta. “Mesmo assim, estamos trabalhando com os gestores dos satélites para que estejam conscientes da passagem do asteroide. Eles podem usar essas informações para compará-las com as próprias previsões, e ver onde os satélites estarão naquele momento”, ressaltou Donald Yeomans, gerente do Programa de Observação de Objetos Próximos à Terra (NEO, na sigla em inglês), da Nasa (agência espacial norte-americana). “Ninguém levantou um alerta, eu certamente não antecipo nenhum problema.”
Embora o asteroide tenha uma órbita que coincide com a terrestre, os pesquisadores da agência espacial norte-americana, que estimaram o caminho da rocha pelo próximo século, asseguram que ela não deve se chocar contra o planeta no futuro. O retorno do asteroide está marcado para 2046, quando ele vai cruzar a órbita do planeta a uma distância de 1 milhão de quilômetros.

Descoberta O 2012 DA14 foi descoberto em fevereiro do ano passado por pesquisadores de um pequeno observatório em Mallorca, na Espanha. A equipe do grupo de pesquisa espacial La Sagra só viu o objeto depois de ele ter passado pela Terra, quando os astrônomos estudaram os registros de áreas pouco exploradas e notaram uma deformação que indicava a passagem de alguma coisa a 4,3 milhões de quilômetros. “Tivemos sorte em encontrá-lo. Passamos horas vendo as imagens, pois é  difícil encontrar novos objetos próximos à Terra fora dos pontos pesquisados pelos EUA, que fazem isso muito bem”, comentou Jaime Nomen, astrônomo que encontrou o objeto.
O encontro só foi possível, de acordo com Nomen, porque ele e seus colegas haviam acabado de receber uma doação para a compra de uma câmera mais avançada do que o equipamento amador que usavam até então. “No primeiro momento que vimos o objeto, era quase tão claro quanto o ar. Ele não é um ponto nas imagens, você vê que ele está se movendo depressa pela distorção da trilha. Com as câmeras antigas não daria para vê-lo”, conta. O grupo já contabiliza 6 mil objetos encontrados nos últimos dois anos, 51 deles a distâncias relativamente próximas.
O DA14 está entre os 5% de asteroides de grande proporção que passaram despercebidos pelo programa de observação da Nasa. “Quando um objeto como esse faz uma aparição muito rápida, ele poderia ser encontrado por qualquer um que estivesse buscando o céu”, justifica Timoty Spahn, diretor do Centro Harvard Smithsonian de Astrofísica. A suspeita é que ele tenha transitado rapidamente por uma janela da varredura feita pela agência, num ponto próximo ao polo da Terra.
A Nasa chegou a receber críticas por ter ignorado um objeto com quase 50m de diâmetro, registrado por um pequeno grupo de astrônomos com um equipamento de nível amador. Mas para Spahn, o desencontro não é motivo para colocar em xeque o trabalho da agência americana. “O La Sagra usa a palavra ‘amador’ de uma forma vaga. Esse é um bando de pessoas com habilidades profissionais, que estavam pagando para manter a pesquisa. Eles estão perfeitamente preparados para fazer esse tipo de trabalho. É absolutamente impressionante o que os chamados ‘amadores’ fazem”, argumenta.
A Nasa agora não pretende mais perder o notável asteroide de vista, e vai monitorar a passagem histórica pelo radar Goldstone do Sistema Solar, na Califórnia. A agência espera definir com mais precisão a trajetória do corpo celeste e simular as aproximações seguintes. A equipe também deve definir com mais precisão as características do DA14, como o seu tamanho e material. “As imagens que vamos conseguir não serão tão detalhadas, pois o 2012 DA14 é um objeto muito pequeno. Não conseguiremos imagens lindas, mas o radar vai fazer um ótimo trabalho para nos ajudar a entender a trajetória dele”, adianta Amy Mainzer, pesquisadora do Centro de Observação em Infravermelho Neowise, também da Nasa.

Outros visitantes

» Há 66 milhões de anos 
O Chicxulub caiu no México, provocando uma alteração climática que terminou por eliminar os dinossauros da face da Terra

» Há 50 mil anos
Existe uma cratera no Arizona, nos Estados Unidos, atribuída a um antigo asteroide feito de metal. Os pesquisadores estimam que o objeto tenha atingido a superfície numa velocidade 10 vezes maior que a bala de um rifle

» 1908
Um asteroide de 30m a 40m de diâmetro explodiu sobre a Sibéria causando a destruição de 1,2 mil quilômetros quadrados de floresta. O choque do objeto, chamado Tunguska, foi equivalente a uma bomba nuclear

» 1914
Um asteroide de meio quilômetro de largura esteve próximo do planeta em 31 de dezembro de 1914, quando passou a 232 mil quilômetros da Terra. Não há previsões de que ele chegue tão perto novamente

» 1971
Foi o ano de maior aproximação do asteroide 2002 JE9, quando ele passou a 150 mil quilômetros da Terra. Com mais de 200m de diâmetro, ele é um dos maiores objetos que já passaram abaixo da órbita da Lua

» 2029
Daqui a 15 anos, a Terra espera a passagem de Apophis, uma rocha com largura de 270m. Ela deve passar a 36 mil quilômetros de distância

» 2040
O asteroide 2011 AG5 já teve 1% de chance de atingir a Terra, mas a Nasa afirma que o risco foi eliminado. O objeto tem 140m de diâmetro e deve passar a 890 mil quilômetros do planeta

Alivia a febre e afeta os rins - Bruna Sensêve‏

Uso de anti-inflamatórios pode comprometer gravemente a função renal em crianças 


Bruna Sensêve
Estado de Minas: 14/02/2013 


Substâncias aparentemente inocentes e que podem ser compradas na farmácia sem receita, os anti-inflamatórios não esteroides estão praticamente na casa de todos os brasileiros e são administrados sem restrição logo na primeira dorzinha de cabeça. São os medicamentos que têm como princípio ativo o ácido acetilsalicílico, a dipirona, o paracetamol, o ibuprofeno ou o nanoproxeno, comumente utilizados para aliviar a dor e a febre. Pesquisadores americanos, no entanto, fazem o alerta: o uso desses remédios em crianças pode levar à lesão renal aguda.
A conclusão é fruto de um estudo retrospectivo de todos os casos de internação por lesão renal aguda no Hospital Infantil Riley da Escola de Medicina da Universidade de Indiana. Foram 1.015 crianças internadas com o problema entre janeiro de 1999 e junho de 2010. Todos os casos que poderiam ser explicados por outros fatores, como doenças que afetam diretamente a função renal, foram excluídos, sobrando apenas aqueles em que o único fator para a lesão foi a administração de anti-inflamatórios não esteroides. Os 27 pacientes encontrados representam cerca de 3% do total. O número pode parecer pequeno, mas os pesquisadores ressaltam que a lesão grave, nesse caso, foi causada exclusivamente pela administração desses medicamentos.
Autor principal do estudo, Jason Misurac também ressalta que esse número provavelmente está subestimado. Ele chama a atenção para o fato de que muitos pacientes que foram identificados por terem desenvolvido lesão renal aguda multifatorial — e, portanto, não foram incluídos na definição de lesão associada ao anti-inflamatório — foram expostos a essa medicação, condição considerada como um do múltiplos fatores de risco. “Além disso, muitos pacientes na nossa população de doentes excluída desenvolveram a lesão como uma complicação da terapia hospitalar, sem relacionamento com a condição primária ao chegar ao hospital”, constata.
Os anti-inflamatórios não esteroides são conhecidos por afetar a função renal ao restringir o fluxo de sangue para os componente de filtragem dos rins. Os pesquisadores também observaram que, diferentemente do imaginado, as lesões associadas à administração dos anti-inflamatórios não ocorreram em situação de hiperdosagem, mas quando a medicação foi ingerida na dose recomendada. Crianças mais novas, abaixo dos 5 anos de idade, tiveram uma lesão mais severa. Elas necessitaram de diálise temporariamente e eram mais propensas do que as crianças mais velhas a serem colocadas em uma unidade de terapia intensiva, além de necessitarem de maior tempo de internação. O motivo para esse agravamento ainda é desconhecido, mas os cientistas consideram a possibilidade de uma suscetibilidade maior dessas crianças aos efeitos tóxicos renais dos anti-inflamatórios.
Professora titular do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e especialista na área de nefrologia pediátrica, Ana Cristina Simões e Silva diz que o principal fator a ser considerado nos resultados finais do estudo é que as lesões causadas pela ingestão dessas substâncias são potencialmente evitáveis. “São substâncias vistas como inócuas, prescritas e usadas indiscriminadamente. Se a pessoa tem em casa, pode tomar a qualquer hora e a qualquer dose. O risco, assim, com certeza aumenta. Mesmo na dosagem correta, é preciso ter um grau de monitoramento”, avalia. 
Carlos Rogério Tonussi, professor em farmacologia da Universidade Federal de Santa Catarina, não se mostrou surpreso com os danos causados às crianças, já que reconhece os anti-inflamatórios não esteroides como remédios capazes de diminuir a função renal e, em poucos casos, de levar à lesão aguda, principalmente se usados por um período prolongado. Ele explica que, mesmo tecnicamente nessa categoria de medicamentos, a dipirona e o paracetamol devem ser diferenciados por conta da forma de ação. “Eles são atípicos , não funcionam como anti-inflamatórios, mas apenas como analgésicos e antitérmicos”, explica.
Já as outras substâncias — como ibuprofeno, naproxeno, ketoprofeno e ácido acetilsalicílico — são metabolizadas pelos rins. “De todas, o paracetamol é a pior. Essa substância possui uma capacidade de lesão ao fígado muito grande, além da lesão renal”, diz Tonussi. Ele explica que o paracetamol tem efeito acumulativo no organismo, pois a metabolização no fígado produz radicais livres que destroem as células do órgão. “Se eu posso deixar um conselho, seria que todos os anti-inflamatórios devem ser evitados.”

Feito em casa - Carlos Herculano Lopes‏

Livrarias de Belo Horizonte resolvem investir no produto que conhecem bem, o livro, e criam pequenas editoras com catálogo selecionado. O grande problema é a distribuição 

Carlos Herculano Lopes
Estado de Minas: 14/02/2013 
Exemplos de livreiros que, de tanto lidar com o produto, com o passar do tempo acabaram também se tornando editores são comuns na história brasileira. Talvez o caso mais famoso seja o de José Olympio, que, em 1931, em São Paulo (transferindo-se depois para o Rio), criou a José Olympio Editora, hoje incorporada ao Grupo Editorial Record, que se tornaria uma das casas editoriais mais lendárias do país. Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, Rachel de Queirós e José Lins do Rego, entre outros, passaram por lá. Sair pela José Olympio, durante muitos anos, foi sinônimo de privilégio e qualidade.

Aqui em Minas, de uns anos para cá, essa tradição vem sendo retomada, numa demonstração de que o livro, apesar de muitos dizerem o contrário e da concorrência da internet, continua em alta. É o caso de Welbert Belfort, o Betinho. Mineiro de Ouro Preto, de 48, há 19 chegou a Belo Horizonte, onde, em 1997, resolveu abrir uma livraria, a Scriptum, que inicialmente funcionava na Rua Pernambuco, na Savassi, antes de ser transferida para o endereço atual, na Rua Fernandes Tourinho, no mesmo bairro. 

Ex-bancário e ex-estudante de história, Betinho conta que a Scriptum, desde sua inauguração, sempre procurou apoiar movimentos culturais, seja oferecendo seu espaço, confeccionando cartazes ou até mesmo auxiliando com dinheiro. Mas a ideia de transformá-la em editora só surgiu em 2004, como uma maneira de fortalecer institucionalmente a marca. Depois de formado um conselho editorial, que continua tendo “todos os poderes” em relação às publicações, ele se recorda de que o primeiro livro que conseguiram lançar pelo selo Scriptum foi a coletânea de poemas Trívio, de Ricardo Aleixo. 

De lá para cá, diz o livreiro e editor, além de algumas revistas ligadas à área de psicanálise, como Estudos lacanianos, que é editada em parceria com o curso de pós-gradução em psicologia da UFMG, e Curinga, que tem o apoio da Escola Brasileira de Psicologia de MG, já publicaram cerca de 90 livros de gêneros diversos, como poesia, contos, romances, ensaios, crítica literária e história, entre outros. 

“Fomos a primeira editora brasileira a lançar Ana Martins Marques e Carlos Brito e Melo, que hoje estão na Companhia das Letras, ganhando prêmios e fazendo sucesso país afora”, diz. Na área da psicanálise, que é um dos fortes da casa, já colocaram nas livrarias autores como Sérgio de Castro, Margarete Couto, Graziela Bessa e Celso Rennó, além de alguns estrangeiros. 

Entre os próximos lançamentos da Scriptum, programados ainda para este semestre, estão Indo ao futuro para entender as mães, de Barbara Muniz, que inaugura a coleção infantojuvenil da editora, e O silêncio anterior, do médico Narciso Bedran. O livro terá prefácio do jornalista Roberto Pompeu de Toledo.

Entre as dificuldades enfrentadas por uma pequena editora, Betinho afirma que a maior continua sendo a distribuição. Aí estão presentes uma série de fatores que entravam o envio dos livros, principalmente para outros estados, como a logística, os custos, o transporte e a burocracia fiscal. “Mas de uns tempos para cá a situação tem melhorado e em São Paulo, por exemplo, já conseguimos colocar nossos livros em livrarias como a Cultura, Saraiva, Livraria da Vila e algumas outras”, comemora. 

Clássicos
 Outro livreiro, o goiano Oséias Ferraz, que chegou a Belo Horizonte há 20 anos, também acabou transformando sua livraria, a Crisálida, numa editora. Ainda funcionando no local de origem, o Edifício Maletta, no Centro, Oséias conta que no início sua pretensão era editar apenas clássicos brasileiros e estrangeiros esgotados, como era o caso de William Blake, D. H. Lawrence e Heinrich Heine.

Nessa linha, um dos últimos lançamentos da editora foi o livro A alma encantadora das ruas, do cronista João do Rio, cuja primeira edição havia saído em 1908. Recentemente, publicaram Godard, cinema e literatura, com entrevistas feitas por Mário Alves Coutinho com 11 especialistas franceses. Para este ano, adianta, estão previstos vários lançamentos, alguns com a Editora Autêntica, cuja parceria já rendeu O belo autônomo – textos clássicos de estética, organizado por Rodrigo Duarte. “Foi uma maneira que encontramos de viabilizar nossos projetos com mais agilidade”, diz Oséias.

Assim como Betinho, o maior problema que Oséias enfrenta é a distribuição. “Isso aqui no Brasil sempre foi complicado. São muitos títulos editados, poucas livrarias e pouco espaço para exposição. Além do mais, a maioria dos nossos livreiros, infelizmente, não é leitor e só quer reproduzir nas vitrines a listas dos mais vendidos, o que faz com que as editoras que trabalham com outros nichos fiquem sem espaço”, afirma.

Parceria
 Quem também tem apostado no sonho de editar livros é Álvaro Gentil. Mineiro de Ituiutaba, de 51, e ex-estudante de agronomia, ele conta que o embrião da sua editora, a Asadepapel (nome dado em homenagem a um livro homônimo de Marcelo Xavier), foi um jornalzinho literário, Manuscritos, editado pela Livraria Café Book, onde trabalha. Como a experiência deu certo, ele resolveu aventurar-se no ramo da edição. “Percebi também que existia uma falta de editoras em Belo Horizonte voltadas para o lançamento de livros de ficção e por isso resolvi seguir em frente. O primeiro volume que conseguimos publicar foi a coletânea Crônicas do fim do tempo, do jornalista Roberto Mendonça. Isso foi há 10 anos e, de lá para cá, já lançamos cerca de 20 títulos, a maioria em parceria com os autores, em edições de 300 a 500 exemplares”, diz Gentil.

Entre os últimos lançamentos da editora, que se esmera em entregar ao leitor um produto final bem-acabado, estão os livros Até o apagar da velha chama, de Nilton Eustáquio; Concreto quase, de Fabiano Novaes; Tito, totiti, titoti, de Raquel Vale; Aonde quer que eu vá, de Cynthia França; e Donzelas para povoar, de Ana Medina. No próximo mês, a Asadepapel deve lançar Guardiões, de Gustavo Campos.

Seguindo os passos dos seus colegas livreiros, Alencar Perdigão, de 48, e que desde 1993 está à frente da Quixote Livraria, também resolveu abrir sua própria editora, Aqui se imprimem livros, nome dado em homenagem a uma passagem de Dom Quixote, de Miguel de Cervantes. “Começamos no ano passado com a publicação de dois títulos: Pedacim de mim, de Marcos Tota, e Corteatrela, da psicanalista Vera Valadares, e este ano pretendemos publicar 10 títulos, em parceria ou não com os autores”, diz. 

Assim como Betinho Belfort, da Scriptum, Oséias Ferraz, da Crisálida, e Álvaro Gentil, da Asadepapel, também para Alencar a distribuição continua sendo a grande pedra no sapato dos editores mineiros. “Não só no nosso, mas da maioria dos pequenos editores do país”, conclui.

• Livrarias e editoras

» Café Book, Rua Padre Rolim, 616, Santa Efigênia, (31) 3224-5784.
» Crisálida, Rua da Bahia, 1.148, sobreloja, 63, Centro, (31) 3222-4956.
» Livraria e Editora Scriptum, Rua Fernandes Tourinho, 99, Savassi, (31) 3223-7226.
» Quixote Livraria e Café, Rua Fernandes Tourinho, 274, Savassi,(31) 3227-3077.