sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Poema de Sete Faces - Carlos Drummond de Andrade


Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.
As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.
O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.
O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.
Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus,
se sabias que eu era fraco.
Mundo mundo vasto mundo
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.
Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.

A história refém da memória - DENISE ROLLEMBERG

O Globo - 01/11/2013

Seguindo o lúcido raciocínio pode-se dizer que difamações e invasão de privacidade falam dos biógrafos, não dos biografados

O historiador que estuda a ditadura
civil-militar já conhece o debate
que agora ganha maior amplitude
devido à expectativa em relação à
decisão judiciária sobre a ação movida por
editores, questionando a faculdade de os biografados
ou seus herdeiros proibirem biografias.
Para o pesquisador, historiador, jornalista
etc, ter acesso à documentação produzida
pelos órgãos de informação e de repressão,
na qual alguém estivesse citado, era
necessária autorização do mesmo ou da família,
caso já tivesse falecido. As restrições
criaram, assim, graves distorções observadas
sem maiores dificuldades, justamente e sobretudo,
nas biografias, fossem escritas por
historiadores ou jornalistas.

O debate atual, independentemente da época
em que o biografado viveu ou vive, enfrenta aspectos
semelhantes.

Não há como negar que a autorização interfere
na autonomia e na independência de que
o pesquisador precisa para escrever, ainda
mais, um texto biográfico. No acordo estabelecido
entre biografado e biógrafo, estabelecese
uma espécie de dívida que pode comprometer
interpretações que venham na contracorrente
do que o biografado ou sua família
esperam ou desejam ver publicado. O biógrafo
torna-se refém do biografado.

Se assim não for, ele, o biógrafo, parece ter
quebrado a confiança que nele fora depositada,
para não falar do impedimento da publicação
de seu trabalho.

Seja quem for o biografado, é certo que sua vida e
sua obra estarão permeadas por aspectos de todo
tipo, dos mais aos menos nobres, para não entrar
aqui nos casos de personagens tais como ditadores,
genocidas etc. O fato é que há uma enorme dificuldade
de se enfrentar o lado escuro da Lua, os aspectos
pouco edificantes na vida de quem quer que seja,
como se as trajetórias humanas não fossem feitas
também de desacertos, equívocos, misérias.

Assim, para se obter a autorização, não raramente
se fica — ou se pode ficar — refém de
uma relação cujo compromisso nem sempre se
baseia na produção do conhecimento, mas, frequentemente,
na construção e/ou preservação
de determinada memória.

No confronto entre a memória e a história, a
história tem perdido. A memória é seletiva, apaziguadora,
maleável às vontades do presente. A história,
não. Releva o personagem sem retoques, em
sua grandeza e sua pequeneza, e tudo mais que
existe entre os dois extremos. Muitas das biografias
autorizadas são hagiografias e, portanto, nenhum
interesse têm para quem quer conhecer a
história de homens e mulheres cujas trajetórias tiveram
— ou têm — importância em sua época. A
narrativa dessas vidas não pode ser acessível a
uns e não a outros. Ninguém deve se tornar guardião
da memória, dono da história. Nem da própria
história, principalmente quem se colocou no
mundo através da política, da arte, do esporte etc.,
expressando suas ideias e posições, deixando,
portanto, nele seu registro.

É exatamente a possibilidade de narrar a história
de homens e mulheres dignos de biografias,
abordando-os em sua dimensão humana,
em suas contradições e tensões, do tempo e deles
mesmos, a maior homenagem que se lhes
pode fazer. O desrespeito seria deformá-los como
seres perfeitos, mantendo-os desconhecidos
e isolados do mundo no qual atuaram.

No mais, quando ouço o argumento segundo
o qual o biografado se vê vulnerável a difamações
e invasão de privacidade, lembro-me de
Theodor Adorno que disse ser uma ofensa procurar
nos judeus a razão da perseguição dos nazistas.
O problema, defendeu o filósofo alemão,
não estava nos judeus, e sim nos nazistas, nos
perseguidores, e não nos perseguidos. Seguindo
o lúcido raciocínio, pode-se dizer que difamações
e invasão de privacidade falam dos biógrafos,
não dos biografados

Tv Paga

TV paga 


Estado de Minas: 01/11/2013


 (Animal Planet/Divulgação )

Uma causa nobre


O canal Animal Planet entrou na batalha pela proteção dos rinocerontes. Uma das espécies mais ameaçadas de extinção no mundo, esses animais são tema de Luta pelos rinocerontes (foto), minissérie em três episódios que estreia hoje, às 22h. A produção acompanha o trabalho de preservacionistas na África do Sul, onde vivem 80% dos indivíduos da espécie. Segundo dados oficiais, nos últimos quatro anos, mais de 2 mil desses animais foram sacrificados. Estima-se que este ano outros 800 rinocerontes morrerão e que, em menos de uma década, eles poderão desaparecer completamente da África do Sul. O objetivo da caça predatória é a extração e venda dos chifres, que valem tanto quanto ouro no mercado ilegal em países como Vietnã e China, onde se acredita tenham propriedades medicinais.

Gary e Bill de novo na
estrada do Discovery


No Nat Geo, às 22h30, estreia a série Obsessões, com o episódio “Tecnologia viciante”, seguido de “A mentira de Gemma” e “Cyberbullying”. No Discovery, às 20h, estreia a segunda temporada de Aventura 4x4, com Gary Humphrey e Bill Wu enfrentando novos desafios off road no México. No canal History, “Abdução de humanos” é tema de hoje de Alienígenas do passado, às 21h, e na sequência, às 22h, vem a série Decifrando milagres com episódio gravado também no México e na Argentina.

Tim Allen acreditava
que era muito macho


No Comedy Central, às 21h, estreia a segunda temporada de Last man standing, série de humor estrelada por Tim Allen. Ele faz o papel de Mike Baxter, protagonista que se acha o cara mais machão do pedaço, até descobrir que quem manda são a mulher e as três filhas.

Gavin analisa os discos
de Milton Nascimento


As atrações musicais são muitas, mas o destaque é mais uma vez o Canal Brasil. Começando com Bárbara Eugênia em Cantoras do Brasil, às 18h45, dando continuidade às homenagens ao centenário do poeta Vinicius de Moraes, recriando os clássicos Soneto da separação e Formosa. Já às 21h30, em O som do vinil, Charles Gavin revela detalhes da produção dos primeiros álbuns de Milton Nascimento.

Boas alternativas para
quem curte o cinema


Hoje tem sessão dupla com Nicolas Cage no Megapix, em Motoqueiro fantasma (20h25) e Motoqueiro fantasma: espírito de vingança (22h30). No Universal Channel, o especial de Halloween continua com Os espíritos (20h), Vozes do além (22h) e Luzes do além (23h30h). Na Cultura, destaque para a Mostra Internacional de Cinema, com Soul kitchen, de Fatih Akin, às 22h. No mesmo horário, o assinante tem mais seis opções: Além da estrada, no Canal Brasil; Minha cadela Tulipa, no Futura; Liz & Dick, na HBO HD; Os três mosqueteiros, no Telecine Action; Ted, no Telecine Pipoca; e A entidade, no Telecine Premium. E ainda: A dama oculta, de Alfred Hitchcock, às 21h30, no Arte 1; e Espíritos condenados, às 23h, no Cinemax.


CARAS & BOCAS » Último capítulo
Simone Castro





Desfecho de Amora (Sophie Charlotte), mocinha que fez as vezes de vilã em Sangue bom, pode surpreender   (Bob Paulino/TV Globo-13/6/13)
Desfecho de Amora (Sophie Charlotte), mocinha que fez as vezes de vilã em Sangue bom, pode surpreender


Termina, hoje, Sangue bom (Globo), trama de Maria Adelaide Amaral e Vincent Villari, que empolgou a audiência como há muito não se via em uma novela das sete. E além de se confirmar a identidade do sabotador, que já dizem por aí ser Tito (Rômulo Neto), o filho playboy de Wilson (Marco Ricca) e Damáris (Marisa Orth), a maior dúvida é sobre o desfecho de Amora (Sophie Charlotte), mocinha que se tornou vilã em certos momentos, mas pode sair por cima, e com quem ficará Bento (Marco Pigossi). Além de Amora, outra forte candidata ao coração do florista é Malu (Fernanda Vasconcelos). Mas então Maurício ficaria sem o seu grande amor? Já Fabinho (Humberto Carrão) e Giane (Isabelle Drummond), com certeza, terminarão juntinhos. Vincent Villari teceu alguns comentários sobre a trama ao site Caras online. “O final da Amora será tão surpreendente quanto a própria personagem. Talvez, o desfecho que vai ser mais inesperado para o público é o de Amora”, diz. Comenta-se que ela poderá se tornar uma professora. Ainda, como na incógnita para os pares românticos principais, também é um mistério se Érico (Armando Babaioff) e Verônica (Letícia Sabatella) ficarão juntos. “As torcidas estão bem divididas! O que podemos adiantar é que os personagens terão desfechos consequentes da trama que contamos. Assim, alguns gostarão e outros possivelmente não, já que esta novela se prestou a interpretações muito distintas e, por vezes, até opostas do público”, diz Vincent. Para ele, o recado em relação ao tema da novela de mostrar a diferença entre o ser e o ter foi dado. “Escolhemos duas cenas que melhor representam essa discussão: a felicidade do Bento plantando árvores e distribuindo flores aos passantes, mostrando que esses são os bens que permanecem, ou seja, as sementes que se plantam; e o aniversário dele, no início da novela, no qual se reúnem todos os personagens do seu núcleo, demonstrando o forte laço afetivo que existe entre os membros daquela comunidade.”

NOVAS PARTICIPAÇÕES
NA SÉRIE THE BLACKLIST


A ótima série The blacklist, da norte-americana NBC, exibida no Brasil no canal Sony (TV paga), terá gente nova no elenco. Segundo o site Inside TV, ao ator James Spader, que interpreta o protagonista Raymond Reddington, se juntarão William Sadler, Andrew Dice Clay e Justin Kirk. A trama é de um ex-criminoso que se junta ao FBI e ajuda a capturar terroristas de uma lista negra. Mas ele só fala com a agente Eizabeth Keen (Megan Boone).

FERNANDA LIMA FESTEJA
PROGRAMA SOBRE SEXO


A apresentadora Fernanda Lima, em entrevista à revista Vogue deste mês, revelou que está feliz com o resultado do seu trabalho à frente do Amor & sexo (Globo). “A Globo apostou em mim, sinto que segurei a peteca e isso me deu muita confiança. É um tabu falar de sexo, não é fácil, ainda mais na maior emissora do país. Desde o início, mexi no texto do programa. Nas duas últimas temporadas fui mexendo mais e com mais propriedade”, disse Fernanda. Segundo ela, para agradar às famílias a aposta foi no bom humor. “Quando você faz as pessoas rirem, você ganha pontos também”, afirma.

RAQUEL É A SOROPOSITIVA
DA NOVELA AMOR À VIDA


Inaiá, enfermeira interpretada por Raquel Villar em Amor à vida (Globo), será soropositiva. O autor Walcyr Carrasco divulgou, há alguns dias, via Twitter, que uma mulher da trama teria HIV, sem revelar a identidade da personagem. Mas a atriz comentou ao site Caras online: “Tenho gravado as suspeitas, ela está com um resfriado que não passa, mas não descobriu ainda. O que me foi passado há um tempinho é que ela teria (HIV), mas como a novela é uma obra aberta, as coisas podem mudar a todo momento. Até então, não tenho escrito o momento que ela descobre”. Para a atriz, é importante que a novela toque no assunto e passe o tipo de informação para as pessoas. Na trama, a personagem tem envolvimento com vários parceiros.

BICAMPEÃO OLÍMPICO


O ator Daniel Radcliffe, o eterno bruxinho da saga Harry Potter, ganhou um presentão: ele vai interpretar o atleta Sebastian Coe, bicampeão olímpico e recordista do mundo britânico nos 1.500 metros. Em Gold, será mostrada a rivalidade entre Coe e seu compatriota Steve Ovett nos anos 1980. Longe do atletismo, Coe lançou-se na política e foi deputado conservador de 1992 a 1997. Além disso, presidiu o comitê organizador dos Jogos Olímpicos de Londres em 2012. As filmagens de Gold estão marcadas para abril de 2014. Os produtores ainda não escolheram o ator que viverá Ovett.

VIVA
Trilha sonora de Joia rara (Globo). Seleção de primeira.

VAIA

Exagero de Leila (Fernanda Machado), em Amor à vida. 

Carlos Herculano Lopes-Aquela mulher‏

Aquela mulher
Carlos Herculano Lopes


carloslopes.mg@diariosassociados.com.br


Estado de Minas: 01/11/2013



Quando ele chegou àquele salão, onde estava ocorrendo o lançamento de um livro, o primeiro da carreira da escritora, que com mais de 60 anos fazia sua estreia na literatura, depois de um longo período de maturação da obra, o movimento já era grande, com as pessoas conversando animadamente. Garçons iam e voltavam com bandejas, que logo eram esvaziadas. O vinho e o champanhe estavam fartos.

Como conhecia vários dos presentes, alguns amigos de longa data, muitos dos quais não via há tempos, o homem ia cumprimentando um e outro: apertava mãos, abraçava, perguntava pela família, queria saber de conhecidos dos projetos em andamento; enfim, de como ia caminhando a vida. Alguém falou que lá fora, para amenizar o calor que estava sufocante, tinha começado a chover.

Foi então que, por uma destas coincidências, os olhos do homem se encontraram com os daquela mulher. Acompanhada de outra, que talvez fosse sua amiga, ela era bastante alta. Usava um vestido longo esverdeado, tinha os cabelos castanhos e, ao se sentir observada, esboçou um leve sorriso. “De onde será que a conheço?”, perguntou-se o homem, que, naquele momento, conversava com uma conterrânea.

Amiga de longa data, esta lhe contava que quando estavam vindo para o evento, ela e o marido tinham sido vítimas de um acidente de trânsito na Rua da Bahia, quase na esquina com Álvares Cabral. Uma moça, que vinha dirigindo distraída, falando ao celular, tinha batido na traseira do carro deles.

Nada grave, mas o suficiente para causar bastante transtorno, porque o estrago havia sido grande. A polícia precisou ser acionada, foi necessário fazer boletim de ocorrência, estas coisas chatas, mas inevitáveis em situações desse tipo, que estão ficando cada vez mais comuns nesta cidade. “É por isso que ele ainda não chegou, nem sei se conseguirá vir”, ela disse, preocupada, pois já passavam das 22h.

Mas os pensamentos daquele homem, por mais que se esforçasse em prestar atenção na conversa, só estavam voltados para a outra mulher. Com postura elegante, que realçava ainda mais sua beleza, ela continuava no mesmo lugar, junto à amiga. “De onde será que a conheço?”, ele voltou a se perguntar e, de maneira discreta, sem que ela percebesse, tornou a olhá-la, enquanto tomava mais uma taça de champanhe. A festa, àquelas alturas, já havia atingido seu ponto máximo, com o salão completamente lotado.

Daí a pouco, vencendo a timidez, ele pediu licença à conterrânea, suspirou fundo e, depois de se aproximar daquela mulher, que lhe pareceu ainda mais alta, perguntou: “Desculpe-me, mas qual é seu nome?”. “Chamo-me Larissa”, ela respondeu com um sorriso. “E você?”. “Sou o Tiago”, o homem disse, estendendo-lhe a mão, que ela apertou com firmeza. Lá fora não estava mais chovendo, e a escritora, feliz da vida, continuava a autografar o livro.
  

Hábitos saudáveis podem se tornar obsessões‏

Hábitos saudáveis podem se tornar obsessões


Aguilar Pinheiro
Neurocientista


Estado de Minas: 01/11/2013 



Uma mania pode ser um hábito saudável como, por exemplo, certificar-se se um alimento está em condições de consumo, antes de comê-lo. Os cães, lobos e felinos fazem isso como mecanismo de sobrevivência. Ter esse comportamento e adequá-lo aos contextos pode ser altamente favorável. O problema é quando isso sai do controle e a pessoa fica refém de suas manias, tornando-as uma compulsão.

As manias podem ser associadas a algumas atividades ou comportamentos. Um exemplo é quando o indivíduo está nervoso e recorre às compras para obter tranquilidade, ou quando está ansioso e acaba roendo a unha para se sentir relaxado. Por outro lado, algumas pessoas apresentam manias compulsivas. Todos nós possuímos um mecanismo biológico que atribui valores de potenciais neuroquímicos que determinam os nossos comportamentos. Se, ao roer
unhas, a pessoa se sente, realmente, relaxada e isso se repete algumas vezes, o processo de habituação cria um condicionamento de reforço positivo, associando o roer unhas com a sensação de relaxamento. Então, o indivíduo passa a fazer isso compulsivamente, como um ratinho de laboratório que consome porções de açúcar em troca de choques. Em um dado momento, roer unhas passa a machucar, denegrir a imagem social e profissional, acarretando problemas de saúde e de estética. Porém, o cérebro continua compensando tudo isso com o, talvez agora falso, sentimento de relaxamento.

As manias também fazem parte do processo de dependência química. O viciado em drogas ilícitas e lícitas passa pelas etapas de mania, compulsão e vício. A dependência química ocorre quando o organismo é tão condicionado pela substância que as doses devem ser aumentadas sempre. A pessoa cria tolerância ao agente nocivo, ao açúcar em excesso, à dor causada pela dilaceração das unhas ou ao prejuízo financeiro ao comprar sem precisar. O prazer associado a essas atividades leva o indivíduo a repetir e querer cada vez mais. Quanto mais eu compro, mais me sinto tranquilo. Quanto mais roo unhas, mais me relaxo. O prazer anula o desprazer. E, apesar de toda a racionalidade, conselhos e ameaças, o que vale é o processo vicioso, que corrói a pessoa. A mania, se bem equilibrada com nossas ações do dia a dia, não gera nenhum transtorno. A ação não tem obsessão. Uma mania pode ser boa, como conferir se a porta está realmente trancada; verificar se a tela do autoatendimento de seu banco foi fechada após uma operação, etc. Isso, se feito de forma natural, acompanhada de um sentimento de eficiência, é um hábito saudável. Descer do ônibus e voltar 10 quarteirões para conferir a porta já pode ser prenúncio de uma compulsão. É preciso recorrer a um tratamento a partir do momento que esse domínio não existe.

A Programação Neuroliguística (PNL), por exemplo, potencializa o resultado ao lidar diretamente com as representações mentais, responsáveis por nosso estado emocional. Se o problema inclui dependência química, o processo é mais complexo e, nesse caso, o indicado é procurar ajuda médica e terapia, podendo ser aliada à PNL. O ideal é observar como lidamos com as dificuldades. Ninguém está condenado a conviver com suas compulsões. O equilíbrio é um processo biológico natural do ser humano, capaz de gerar ganhos adicionais às pessoas que o mantêm. Líderes empresariais e de outras áreas sabem dosar a mania e, portanto, têm uma vida saudável e harmoniosa, incluindo a estabilidade financeira e nos relacionamentos afetivos, profissionais e sociais. 

Vandalismo contra o movimento social‏

Vandalismo contra o movimento social 

Maria Amélia Bracks Duarte
Procuradora do Trabalho em Minas Gerais

Estado de Minas: 01/11/2013



O pior que pode acontecer a um povo é não acreditar em suas instituições e não respeitá-las. Grandes revoluções acontecem se os valores dos governantes encontram-se em assintonia com as esperanças dos seus cidadãos. Movimentos libertários resultam da luta pela conquista de princípios vilipendiados pelos representantes do poder. Por isso, a relevância do momento histórico vivido, recentemente, no Brasil: a confissão, por dirigentes partidários, agentes políticos e expressivas autoridades da República, de violações da legislação eleitoral, tributária e penal, sem constrangimentos, sem pudor, sem medo de punição e com total descrédito à apreciação judicial dos fatos revelados.

No entanto, com um sinal de liberdade, desde junho, a população foi às ruas, clamando por redução de tarifas de ônibus, protestando por melhorias na educação, saúde, combate à corrupção, e tudo que revela a face nobre da democracia. Ocorre que, julgados os mensaleiros, essas mobilizações cessaram, os movimentos sociais se calaram, obedientes e distantes do que antes pleiteavam com berros e gritos.
Agora, ao meio de legítimos direitos postulados por professores do RJ, ou reivindicação de transporte público gratuito em SP, misturam-se bandidos escamoteados de estudantes progressistas, vilões que depredam o patrimônio público, picham museus; corja de vândalos escondidos em capuzes pretos, que enfrenta policiais, quebram vitrines de empresas privadas, depredam caixas eletrônicos de banco, destroem os terminais de bilhetes dos metrôs, incendeiam ônibus, apedrejam trabalhadores, danificam orelhões, causam incalculável prejuízo à nação, enquanto os policiais recuam com seus escudos, receosos do rótulo que lhes imporão os pseudodefensores dos direitos humanos dos marginais.

Policiais são afrontados fisicamente, impedidos de conter o tumulto e as depredações com spray de pimenta, bombas de efeito moral, gás lacrimogêneo, enquanto assistem — inertes e perfilados — manifestantes atirarem pedras, virarem o carro da autoridade na frente das câmeras de TV, sem temor, com ousadia e violência, certos do beneplácito de leis brandas e da compreensão de indivíduos comprometidos com a impunidade.

Causou repulsa a cena do comandante do Policiamento do Centro de SP, Reynaldo Rossi, ajoelhado e pisoteado por manifestantes, numa relação simbiótica com os black blocs, chutado e humilhado na integridade de quem leva a segurança às ruas, machucado por um bando de malandros encapuzados, que induz o terror à população, que vulgariza o movimento social legítimo. O PM teve escoriações em todo o corpo e quebrou uma clavícula depois de receber golpes com tábuas.

O que se vê é a desordem, a bagunça, o confronto, a insegurança, o tumulto leviano, o terror espalhado nas cidades, o vandalismo sendo protegido pelo Judiciário, tolerado pela imprensa brasileira. Esses atos não são democráticos: têm que ser punidos com rigor; esse não é o exemplo de futuro que queremos para nossos filhos e netos: isso é desordem, tirania de prepotentes que não temem a lei. Se policiais ou autoridades cometem excessos – e o fazem – que sejam igualmente punidos disciplinarmente, com severidade; julgados, condenados e presos. O que o Brasil não pode tolerar é a passeata violenta e armada, que assusta a população, que depreda concessionárias de veículos, que saqueia lojas, que explode ônibus. Esses manifestantes merecem o repúdio dos brasileiros, porque essa luta não é legítima, não é protegida pelo Estado democrático de direito, não tem o respaldo da legalidade: é anarquia, é covardia, é crime, é barbárie. É uma vergonha para o país.