terça-feira, 6 de novembro de 2012

Gilberto Dimenstein


Até onde Haddad resiste?



Como era previsto, alas do PT já pressionam Fernando Haddad para ocupar as subprefeituras e as áreas sociais (como assistência social, saúde e educação) com nomes políticos e não técnicos. Até onde o prefeito eleito vai resistir?
Afinal, sua candidatura deve-se a Lula, em primeiro lugar, e ao PT, em segundo. Haddad poderia ser sabotado na Câmara pelo seu próprio partido? Ele tem cacife para criar uma barreira?
Fato: se Haddad topar essa maluquice, começará o seu mandato muito mal.
Secretários políticos em pastas sociais significam possíveis candidatos para as próximas eleições, decisões que desconsideram a consistência técnica e, para completar, o engajamento nas eleições estaduais que já se aproximam. Ou seja, a cidade como trampolim.
Haddad foi eleito para trazer soluções inovadoras, especialmente na área social (como a saúde). E não há nada mais velho do que lotear cargos politicamente.


O novo --e belo-- rosto da direita francesa [Marion Maréchal-Le Pen]



ELIZABETH DAY
DO "OBSERVER"

Em uma de suas primeiras sessões como deputada na Assembleia Nacional francesa, Marion Maréchal-Le Pen foi interpelada por um deputado: "Ele me perguntou de quem eu era secretária", ela conta.

Marion Maréchal-Le Pen»

Charles Platiau/Reuters
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A deputada da Frente Nacional Marion Maréchal-Le Pen durante sessão da Assembleia Nacional em Paris
Em junho, Maréchal-Le Pen, 22, se tornou a mais jovem deputada na moderna história francesa, depois de vencer a eleição em seu distrito de Carpentras, em Vaucluse, sudeste da França, com 49,09% dos votos. No entanto a coisa mais desconcertante a respeito de sua vitória talvez não seja sua idade, mas a postura política da nova deputada:
Maréchal-Le Pen representa a Frente Nacional, e é a nova face da extrema direita francesa. Seu avô, Jean-Marie Le Pen, fundou o partido que ela agora representa, uma agremiação que desaprova a integração europeia e a globalização, e acredita em controles severos de imigração e em protecionismo nacional.
"A integração deixou de ser possível", diz Maréchal-Le Pen. "Quando você é o único francês no meio de dez tunisianos, a maioria imporá sua forma de vida à minoria".
Loira, esbelta e linda, Maréchal-Le Pen fala de modo fluente e envolvente. Em seu apertado gabinete na Assembleia Nacional, em Paris, ela nos recebeu de rabo de cavalo, e vestindo roupas elegantes porém discretas: uma blusa preta com zíperes detalhando os ombros, calças bege justas, botas de salto médio. Em um edifício ocupado principalmente por homens de ternos escuros, ela se destaca.
A verdade é que ela parece uma jovem de 22 anos --ainda que dotada de foco e ambição incomuns-- e talvez seja isso que torna difícil acreditar que defenda algumas das posições linha dura que são parte de sua herança pessoal e da plataforma de seu partido. Ela diz que está acostumada a ser subestimada.
"Acontece", diz, dando de ombros. "As pessoas dizem que sou um fantoche, um instrumento de meu avô, mas acho que logo percebem que falo por mim mesma, que tenho autonomia em minhas ações. Acho que todos logo percebem que sou capaz de me defender".
No entanto, por mais que ela tente se distanciar disso, a história sombria da Frente Nacional está sempre presente. Maréchal-Le Pen nasceu em 1989, dois anos depois que seu avô alegou em uma entrevista que as câmaras de gás nazistas eram "apenas um detalhe na Segunda Guerra Mundial", e seis meses antes que partidários da Frente Nacional fossem acusados de profanar um cemitério judaico em Carpentras, a cidade que ela mais tarde viria a representar no Legislativo.
Ela cresceu cercada por ideias políticas de extrema direita, em uma casa de tijolos vermelhos chamada Pavillon de l'Ecuyér em Saint-Cloud, um subúrbio a oeste de Paris, lar dos Le Pen há diversas gerações. Por trás da fileira de carvalhos e coníferas que protegem a casa de olhares curiosos, ela continua a abrigar toda a dinastia: Jean-Marie, 84, o veterano líder, comanda o domicílio e tem um escritório no térreo. Marine Le Pen, a mais jovem de suas três filhas e sua sucessora como líder do partido, a partir do ano passado, vive em um apartamento construído no piso superior de um antigo estábulo, na mesma propriedade.
Marion vive com a mãe, Yann, a segunda filha de Le Pen, no segundo piso da casa principal. Os pais divorciados de Maréchal-Le Pen são ambos militantes sérios da Frente Nacional; sua mãe organiza os comícios do partido e seu pai, Samuel Maréchal, no passado comandava o movimento jovem da agremiação.
É em parte como resultado dessa curiosa ordenação que muita gente acusa Maréchal-Le Pen de ser pouco mais que uma testa de ferro fotogênica para um partido que busca abandonar seu passado arruaceiro e conquistar mais credibilidade junto ao eleitorado convencional. Há quem questione se ela realmente acredita nas posições políticas que defende publicamente.
"Ela fala muito bem", diz Agnès Poirier, uma comentarista cultural francesa, "mas se parece um pouco com uma estudante de direito que tenha decorado sua dissertação".
E é verdade que sua presença no cenário político é parte de uma tentativa mais ampla de mudar a imagem do partido. Marine, a tia de Maréchal-Le Pen, teve papel importante na condução da imagem da Frente Nacional para a era moderna, abandonando a retórica racista, reafirmando o secularismo e insistindo em que a França deve cuidar de si mesma e abandonar o euro.
Em abril de 2011, Marine expulsou o vereador Alexandre Gabriac do partido depois que uma foto que o mostrava fazendo uma saudação nazista vazou para a imprensa. Quando Marine se candidatou à presidência, no começo do ano, ela eletrizou a disputa ao conquistar 17,9% dos eleitores no primeiro turno --mais de seis milhões de votos--, chegando em terceiro atrás de François Hollande e Nicolas Sarkozy.
Mas nem tudo vem correndo sem obstáculos: embora sua sobrinha tenha sido eleita para a Assembleia, Marine mesma foi derrotada por 118 votos em sua tentativa de eleição ao Legislativo, em junho.

ESPERANÇA

As esperanças do Partido no Legislativo agora estão depositadas em Maréchal-Le Pen, que é vista como uma jovem astuta e de boa imagem na mídia, capaz de mobilizar apoio amplo e revigorar o debate sobre a imigração. Mas existem aqueles que questionam sua dedicação, acreditando que ela seja pouco mais que uma porta-voz das ideia de seu avô.
De acordo com Matthew Fraser, professor da Universidade Americana em Paris, "o velho [Jean-Marie] está se afastando relutantemente --e a relutância é real: há rumores de que ele senta falta da atenção da mídia. Não se pode dizer que esteja aposentado. Por enquanto, sua neta é um símbolo jovem e atraente --mas provavelmente não tem poder real no sistema".
Perguntei a Maréchal-Le Pen se ela discute estratégia política com os familiares, na mansão da família, durante o jantar. "Não, de modo algum", ela responde. "Todos nós levamos nossas vidas separadas. Temos sorte por sermos uma família tão unida, com meu avô e meus primos em torno de nós. É uma benção. Acredito que porque sempre tivemos de enfrentar adversidades, vindas de fora, nos tornamos mais próximos em função disso, porque precisávamos nos unir para resistir a esses golpes".
Ela diz que começou a se interessar por política aos 16 anos, e que apoiou Sarkozy na eleição presidencial de 2007. Mas logo se desencantou com ele e, aos 19 anos, começou a ajudar nas campanhas da Frente Nacional e a trabalhar como voluntária na organização jovem do partido. Ela combina seu trabalho legislativo à pós-graduação em direito público, na Universidade Panthéon-Assas, uma instituição tradicional de direita.
Seu avô, ex-paraquedista do Exército que mais tarde se formou em direito, foi, em sua época o mais jovem deputado na Assembleia francesa, ao se eleger pela primeira vez aos 28 anos, em 1956. O avô tem orgulho em vê-la preservar as tradições da família?
"Creio que sim", responde Maréchal-Le Pen. "Espero que sim. Ele tem orgulho daqueles que buscam reencontrar seu legado pessoal, é passional quanto à França e está feliz pelo envolvimento dos jovens [o sucesso eleitoral de Marion se deve em parte à sua popularidade entre os jovens dos 18 aos 25 anos]. Não concordo com tudo que ele diz, mas concordo com o espírito essencial daquilo em que acredita, e ele tem orgulho disso. O que ele mais odeia é a inércia, pessoas que assistem em lugar de fazer".
Qual é a posição política de Maréchal-Le Pen, então? Ela menciona os pontos de sua plataforma, um a um, em ritmo acelerado --em dado momento, está falando tão rápido que seu assessor Arnaud, tem de pedir que ela desacelere porque francês não é meu idioma nativo.
"Mas que droga, estou falando !", ela diz, e prossegue no mesmo ritmo de metralhadora. Quanto à economia, ela quer que a França abandone o euro e volte a usar o franco. Quer regulamentação mais severa das instituições financeiras, depois da crise bancária, e impostos mais baixos para as empresas francesas a fim de reconquistar a confiança dos consumidores.
É veementemente oposta à União Europeia --uma posição que ecoa entre os eleitores republicanos franceses que acreditam que a integridade da nação esteja sob ameaça de parte do governo federal supranacional. E alega que a Frente Nacional adotou posições verdadeiramente "feministas" quanto à licença-maternidade, propondo uma norma sob a qual os pais e mães que prefiram ficar em casa para criar seus filhos recebam um salário-maternidade.
No entanto, quando pergunto se ela se considera feminista, a resposta é: "Não, não especialmente. Não sou obcecada pelos direitos da mulher, e sua defesa pode ser um tanto excessiva. Quero homens e mulheres postos em condição igual, mas acredito que homens e mulheres sejam diferentes. Creio que sejamos iguais, mas diferentes". Ela combate a discriminação positiva ou os sistemas de quotas, acreditando que as mulheres devam ser tratadas de acordo com seus méritos.
"E temos também, é claro, nossas políticas quanto à imigração", ela prossegue. "Mais e mais comunidades vêm solicitando a adoção de leis religiosas específicas a elas, e isso é uma ameaça ao Estado laico. É uma questão particularmente forte nas comunidades muçulmanas. Não todos os muçulmanos", ela se apressa a acrescentar.
"A maioria dos muçulmanos franceses não são fundamentalistas. O que surpreende é que a primeira geração de imigrantes tenha sido assimilada com tamanha facilidade. Eles não usavam véus em público. Mantinham sua religião na esfera privada. Agora, comunidades inteiramente formadas por imigrantes estão sendo criadas de forma separada --em função de políticas de passados governos."

CIDADANIA FRANCESA

Na França, onde a separação entre Igreja e Estado foi um dos fundamentos da revolução do século 18, a secularização é vista como preceito básico do pensamento progressista. Desde abril de 2011, as mulheres estão proibidas de usar burcas ou véus em público. Nesse contexto, os comentários de Maréchal-Le Pen não são especialmente controversos. Mas ela vai além, delineando um plano para privar os imigrantes de segunda geração de sua cidadania caso cometam crimes ou se recusem a aprender francês.
"Hoje, se alguém nasce na França automaticamente tem cidadania francesa mesmo que não se esforce para se integrar", diz. "Acreditamos que as pessoas francesas francês devam ter prioridade na habitação social e nas oportunidades de emprego, se demonstrarem igual competência".
Mas e quanto aos franceses "genuínos"? Eles também perderão a nacionalidade, caso cometam crimes?
"Não. Estamos falando de pessoas a quem fizemos um favor". Maréchal-Le Pen se inclina em minha direção, com os cotovelos apoiados sobre os joelhos, as pernas separadas. Ela fala olhando nos olhos do interlocutor, com um charme fácil que, nas circunstâncias certas, talvez tenha algo de hipnótico. "Nós concedemos alguns privilégios a eles, e se eles não se mostrarem dignos da cidadania francesa, não há nada de incorreto em revogá-los".
Isso tudo é expresso com uma tal fluência que o significado da declaração demora um pouco a se fazer claro: as leis, sob um governo da Frente Nacional, significariam uma coisa para os imigrantes e coisa completamente diferente para o que Maréchal-Le Pen define como a "verdadeira" raça francesa.
É uma postura racista? "Essa acusação foi usada muitas vezes por nossos oponentes para nos desacreditar. Não vejo em que priorizar os cidadãos franceses possa ser racista. Não estamos falando de branco ou negro. É normal que os franceses que pagam impostos sejam tratados com prioridade, da mesma forma que um argelino naturalizado tem prioridade [na habitação social e emprego]".
Ela ponta para o fato de que as pessoas da Martinica, por exemplo, não ficariam sujeitas às restrições de nacionalidade propostas, porque a ilha do Caribe é parte oficial do território francês, e cita alguns militantes da Frente Nacional que tem origens étnicas diversificadas, entre as quais Charlotte Soula, a chefe de gabinete de Marine Le Pen, de origem argelina (ela se converteu do islamismo ao catolicismo).
"O argumento do racismo é muito violento mas funciona cada vez menos", disse Maréchal-Le Pen. "Nas bases, as pessoas já não pensam assim sobre nós. Compreendem que é só uma tática política. A maior parte das pessoas acreditam que estejamos certos".
"É um debate que desperta emoções, é claro. É difícil falar a respeito por conta da dimensão humana, que afeta as pessoas. Não somos monstros. Sinto empatia. Meu avô sempre disse que não devemos nos zangar com os imigrantes, mas sim com a classe política que criou essa situação. Nada tenho contra pessoas que vieram para a França em busca de uma vida melhor. Se a França tivesse como acolher a todos, nós o faríamos. Mas não temos. Estamos endividados. Nosso sistema previdenciário está desabando em função dessa pressão. Temos um deficit colossal. É triste, mas precisamos ter a coragem política de dizer 'chega'. E é triste porque, ao dizermos 'não', o fazemos a um homem ou uma mulher. Mas não há como evitar esse aspecto".
A imigração, ela admite, "também fez bem" à França. O problema, em sua interpretação, é que as políticas de governos anteriores fracassaram, causando ressentimento àqueles que acreditam que seu país esteja sendo avassalado por "forasteiros". Ela acrescenta que existem mulheres muçulmanas, forçadas a usar a véus pela pressão de suas comunidades, que apoiam sua posição.
"Há mulheres que me dizem que não podem usar saia, ou que serão insultadas caso não usem o véu ou não vão à mesquita. Existe uma pressão dentro da comunidade, imposta por alguns. Essas pessoas mais e mais pedem que ajamos porque somos os únicos a considerar o Estado laico como fundamentalmente importante".

DESESPERO

A Frente Nacional está se tornando uma força política digna de atenção na França? A eleição de Maréchal-Le Pen em junho, em companhia de Gilbert Collard, outro integrante do partido, deu à agremiação sua primeira presença no Legislativo desde a metade dos anos 80, mas o sistema de voto distrital puro prejudica os partidos menores. Como resultado, a popularidade da Frente Nacional --especialmente nas áreas empobrecidas e pouco urbanizadas onde o desemprego é elevado-- pode ser bem maior do que os resultados eleitorais sugerem.
Como escreveu Hugh Schofield, correspondente da BBC em Paris, em um artigo publicado em abril passado, "nas regiões semiurbanizadas da França rural, as pessoas sentem o desespero de uma vida que será passada na pobreza, sem a compensação das tradições e estruturas que a tornaram suportável no passado".
"As lojas agora em geral se localizam fora das cidades; ninguém vai à igreja; as pessoas trabalham a 50 quilômetros de casa. E o custo dos dois produtos básicos --cigarros e gasolina-- disparou descontroladamente", ele afirmou.
"Para essas pessoas, votar na Frente Nacional oferece tanto um protesto (contra os ricos, contra a União Europeia, contra o sistema) quanto uma alegação de identidade e de direito a uma forma de vida tradicionalmente francesa", concluiu Schofield.
Nas áreas urbanas, também, há medo de imigração em massa --um medo intensificado pelos distúrbios de 2005, causados em sua maioria por jovens franceses de origem norte-africana moradores nos subúrbios de Paris e de outras grandes cidades. Os tumultos colocaram em destaque as tensões crônicas causadas pela imigração e desemprego, e os partidos mais convencionais começaram a adotar a retórica da Frente Nacional. Sarkozy, na época ministro do Interior, se referiu aos participantes dos distúrbios como "racaille", ou escória --termo que alguns consideram ter conotações implicitamente racistas.
"Sarkozy venceu em 2007 ao mudar sua posição para a direita e roubar votos da FN", explica Matthew Fraser. "Nesse sentido, [Jean-Marie] Le Pen esteve adiante de seu tempo --determinar se suas posições são ou não desprezíveis é uma questão moral, mas o certo é que são populares em termos eleitorais. E seus adversários compreendem o fato. Daí o paradoxo: eles fingem que a FN é inaceitável ideologicamente mas roubam o discurso e plataforma do partido para vencer eleições. É como usar a casa de alguém para dar uma festa, mas sem convidar o proprietário".
A França tem um longo histórico de movimentos de extrema direita, tradicionalmente aliados à Igreja Católica (até o antigo presidente François Mitterrand, socialista, esteve envolvido em movimentos conservadores e nacionalistas, na juventude), e as tentativas de Marine Le Pen de descontaminar a imagem da FN não deixam de ter sucesso. "Hoje, a realidade é que a extrema direita nos rejeita", ela alegou em entrevista a "The Nation", no ano passado. "A Frente Nacional evoluiu".
A despeito dos avanços conquistados nas províncias francesas, porém, o partido continua a ser visto com desaprovação entre as classes falastronas de Paris.
"Na França, é aceitável, e até moda, defender convicções políticas de extrema esquerda, mas absolutamente inaceitável pertencer à extrema direita", diz Fraser. "A explicação é principalmente histórica. A França tem de conviver com a vergonha de ter colaborado com o nazismo sob o regime de Vichy, e depois disso a extrema direita se viu marginalizada daqueles que são vistos como valores políticos aceitáveis na França".
E há aqueles que acautelam contra acreditar que um leopardo possa mudar suas manchas. Alain Jakubowicz, presidente da Licra, liga internacional de combate ao racismo e ao antissemitismo, expressa a posição da seguinte maneira: "Hoje, o partido é representado por uma jovem com uma aparência moderna e normal, mas a FN continua a mesma, com seu ADN xenófobo, racista e antissemita".
No gabinete de Maréchal-Le Pen, ela insiste em que a transformação da Frente Nacional não é apenas um exercício superficial de relações públicas.
"O partido evidentemente evoluiu", diz. "Os problemas não são mais os mesmos, e com isso aconteceu uma evolução natural... Quando a Frente Nacional surgiu, nos anos 70, foi diante de um pano de fundo de comunismo e guerra fria. A ameaça era real, e esse deixou de ser o caso. Agora, nossa principal causa é o combate à globalização".
Ela insiste em que encontrou apenas "reações positivas", nas ruas. "Até mesmo as pessoas que não compartilham de minha posição política dizem que não fazem parte da Frente Nacional mas que estão felizes por existirmos porque isso garante que exista debate".
Arnaud, seu assessor, a interrompe para ajudar, a essa altura, e a lembra de sua recente passagem por um restaurante da moda em Paris, onde foi espontaneamente aplaudida pelos presentes. Maréchal-Le Pen fica sem graça.
"O proprietário foi muito gentil, e me levou de mesa em mesa dizendo que 'hoje recebemos a senhorita Maréchal-Le Pen'", ela acrescenta, apressada. "Foi muito gentil".
Ela já recebeu correspondência hostil?

"UMA CARTA"

Arnaud interfere: "Mas se eu decidir mostrar todas aquelas que dizem como ela é 
maravilhosa, como é bonita, não há comparação", ele afirma, entusiástico.
Parece incrível que ela tenha recebido apenas uma carta hostil. Eu digo a ela que no Reino Unido, até jornalistas recebem mais mensagens hostis que isso em uma semana.
"As pessoas mais agressivas são os outros deputados", diz Maréchal-Le Pen. "Alguns deles foram muito agressivos, ainda que tenhamos sido eleitos democraticamente". Jean-François Copé, líder do partido UMP, de centro-direita, se recusou a apertar a mão dela, em algumas ocasiões. "Mesmo que ele se recuse a me cumprimentar, seus eleitores o fazem", ela rebate. Uma resposta digna de um político.
É compreensível que Maréchal-Le Pen seja vista como elegível. Em pessoa, ela tem modos envolventes e acessíveis. Há vislumbres de humor --quando discutimos o projeto de seu partido sobre as licenças-maternidade, surge uma menção à possibilidade de que ela tenha filhos. Ela quer formar família? Maréchal-Le Pen cai na risada. "Se eu encontrar um doador de esperma aceitável".
Ao mesmo tempo, seu carisma tem algo de perturbador, porque está sendo empregado em defesa de crenças bastante dúbias. Quando a entrevista se aproxima do fim, digo a ela que tenho uma pergunta final, de teor pessoal. Ela faz um aceno afirmativo, e me estimula a ir adiante.
Conto que sou casada com um homem cujo pai emigrou do Sudão para o Reino Unido. Se ele vivesse na França, sob um governo da Frente nacional, meu marido estaria naquela categoria de imigrantes de segunda geração que teriam de se provar merecedores de uma cidadania conferida a outros automaticamente. Tendo esse dado em conta, qual seria sua posição sobre casamentos entre pessoas de origens diferentes?
O ligeiro esgar que imagino ver em seu rosto talvez seja apenas resultado de minha expectativa quanto à sua reação. É um movimento muito ligeiro, a expressão de alguém que está mascarando sua surpresa.
"Não me oponho a isso", ela responde. "Para mim, o casamento é escolha muito pessoal. A única coisa que eu diria saber, pelo que pessoas me contaram em primeira mão, é que, lastimavelmente, os casamentos mistos podem resultar em conflitos quanto a questões cotidianas. Por exemplo, os nomes dos filhos --os muçulmanos precisam que seus filhos tenham nomes muçulmanos, e muitas vezes querem que suas mulheres se convertam ao islamismo. A outra coisa surpreendente é que muitas vezes, em um divórcio, os pais norte-africanos levam os filhos com eles de volta aos seus países, e as mães jamais os veem de novo. Isso causa problemas. Não julgo, mas isso causa conflito".
E no entanto, ela decerto julgou, fazendo diversas suposições abrangentes com base em muito pouco conhecimento factual sobre um determinado conjunto de circunstâncias pessoais. Talvez Maréchal-Le Pen esteja certa e a imigração precise ser discutida, e os legisladores hesitem em fazê-lo por medo de serem acusados de racismo. Algumas de suas opiniões causam uma impressão de plausibilidade. Não é difícil gostar dela. Mas o tom de sua última resposta sugere um conjunto mais perturbador de crenças em jogo, por sob a superfície: um aroma de algo podre no cerne de sua posição política e uma sensação de que o mundo é feito de pessoas que podem ser divididas facilmente em "nós" e "eles".
Tradução de PAULO MIGLIACCI.

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Extensões dos nossos corpos - Anna Veronica Mautner


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Extensões dos nossos corpos

Minha casa é minha pele. Assim como cuidamos da higiene pessoal, cuidamos da limpeza da casa

Que os instrumentos usados por nós para criar, produzir e transformar são extensões de nosso corpo já é de conhecimento geral há mais de 50 anos -Marshall McLuhan o disse.
O martelo é o prolongamento do nosso punho, o binóculo é nosso olho grande etc. Se os instrumentos são extensões do corpo, a casa onde moramos também é.
Minha casa é minha pele, parede que me separa do exterior. Como a casa, o corpo tem dentro e fora: pele, carne e entranhas. Cabe a cada um cuidar do seu funcionamento e até auscultá-lo de vez em quando.
Assim como acessamos o organismo, temos acesso ao funcionamento da casa. Assim como cuidamos da higiene do corpo, cuidamos da limpeza da casa.
Se nos alienamos do nosso corpo, deixando-o à mercê só de especialistas, a chance de percebermos tardiamente uma disfunção aumenta. O contato com o corpo facilita a compreensão de avisos -e não só de pedidos de socorro.
Quem mora numa casa cujo interior lhe é desconhecido não passa de um estranho no ninho ou alguém que vive num ninho estranho. Só quem participa do dia a dia do lar se sente em casa.
"Prevenir é melhor que remediar". Vale para a minha vida orgânica e para o ninho que a contém.
Quem não arruma a cama não percebe se o colchão e o lençol estão em bom estado. Antes que o dano seja irreversível, é bom ter contato com o que nos rodeia.
Quem nunca lava e guarda a louça não sabe o que tem, o que falta e o que é demais. Estar presente na manutenção da casa e do corpo é uma forma de garantir "longa vida". É importante que a casa seja fruto da manutenção dos que a usam. Cuidar, manter, limpar é que é ter. Quem cuida tem.
Não adianta título de propriedade se não sei onde é a caixa de luz.
Aquelas famílias que fazem coisas -mãe que borda, pai que conserta- transmitem aos filhos a sensação de que "podemos".
É raro ouvir alguém que rememore a infância sem fazer referências aos afazeres -a lembrança do dia em que o pai, o tio fez uma pipa, um bolo, uma caixinha.
A visão do adulto fazendo é uma das melhores memórias da criança. Falo em fazer em casa, onde a criança pode participar e se sentir incluída.
É bom quando a gente sabe onde está o lenço, o analgésico e a toalha. É na familiaridade com os objetos que reside minha segurança.
Esta casa é minha. Estou em casa. Não estou sozinha. Fazemos juntos. Aqui se faz.

    Castaneda mergulhou na cultura indígena e virou 'guru' hippie à revelia

    RICARDO FELTRIN

    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    No século 20, poucos escritores causaram tanta controvérsia quanto Carlos Araña Castaneda. A começar por sua nacionalidade.
    Ele teria nascido no Peru ou seria argentino, dependendo da fonte. O próprio se dizia brasileiro.
    O antropólogo formado na Universidade da Califórnia decidiu estudar o conhecimento de índios do México antigo. Naquele país conheceu seu mestre, um velho feiticeiro, o lendário Don Juan. Acabou engolido por aquela cultura, como afirmou. No total, Castaneda publicou 12 livros (dez em vida).

    PLANTA ALUCINÓGENA

    "A Erva do Diabo" ("The Teachings of Don Juan"), o primeiro, sua tese de graduação, trazia descrições sobre o uso de plantas alucinógenas. Foi lançado nos EUA em 1968, um ano após o "verão do amor", símbolo da cultura hippie. O autor foi alçado à condição de defensor das drogas, o que o desesperou.
    Nos anos seguintes, reafirmou ter sido mal interpretado e que Don Juan dissera que só lhe dera plantas por ele ser "um ocidental burro", e que sabia que "drogas causam males indizíveis ao corpo".
    Tarde demais. Sua fama de "guru das drogas" estava espalhada mundo afora. Fãs o perseguiam e veneravam. Sua suposta ligação com drogas fez com que a CIA o abordasse em uma ocasião, segundo disse pouco antes de morrer ao aprendiz Armando Torres.
    Outro problema: uma leva de espertos se aproveitou do fato de Castaneda sumir para um retiro para se passar por ele e tirar vantagens.
    Don Juan disse a Castaneda que, se ele quisesse mesmo virar feiticeiro, teria de apagar sua história pessoal e largar os amigos (regra abandonada pelos novos xamãs).
    Foi o que Castaneda fez. Entre 1970 e 1995, ele só era localizado por um ou dois amigos, um editor e seu advogado. Fora esses, ele decidia se encontrava ou não repórteres e candidatos a discípulos que o procuravam.
    No período pré-internet era mais fácil adotar uma identidade falsa (até hoje há poucas fotos confiáveis do escritor na rede). Farsantes passaram a dar cursos, palestras e autógrafos e a explorar fãs em nome de Carlos Castaneda, que chegou até a ser apresentado a um falso Castaneda em um evento ao qual ele compareceu anônimo.
    De um lado, há os livros de seus aprendizes verdadeiros (Florinda Donner-Grau e Taisha Abelar), do protegido Armando Torres e as entrevistas à brasileira Patrícia Aguirre e à jornalista espanhola Carmina Fort. De outro, há uma quantidade enorme de obras de gente que pensa ou diz que o conheceu.
    Segundo o escritor relatou a Torres, certa vez uma moça invadiu o escritório de seu advogado para protestar que estava fazendo sexo com Castaneda em troca de iniciação na feitiçaria, mas ele não estava cumprindo a promessa.
    O advogado chamou o verdadeiro mestre e perguntou à moça se ela o conhecia. A moça disse que não. "Pois este é Carlos Castaneda."
    A BBC fez um documentário sobre a polêmica em torno do mestre do xamanismo moderno. O filme, da série "Tales From the Jungle" (Contos da Floresta), está disponível no YouTube sob o título "Especial BBC Carlos Castaneda". Pessoas ligadas ao escritor falam contra e a favor dele. O mito sai meio chamuscado do filme.

      Xamanismo moderno vai além da ginástica



      COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

      Os exercícios dos xamãs do antigo México ensinados pelo escritor Carlos Castaneda em "Passes Mágicos" (esgotado) são sequências de movimentos combinados com respirações.
      O objetivo principal é redistribuir a energia do corpo para atingir um estágio superior de vitalidade física e mental -daí sua utilidade para os esgotados moradores das grandes cidades.
      Mas isso é só o começo. A prática, que é comparável ao tai chi chuan, por exemplo, vai muito além, segundo seus seguidores.
      "Há semelhanças com as artes marciais porque os passes também geram bem-estar e longevidade. Mas os movimentos energéticos são apenas parte desses ensinamentos, que também envolvem ferramentas para ampliar a percepção de si mesmo", diz a psicóloga Patrícia Aguirre, instrutora e tradutora de Carlos Castaneda.
      O antropólogo levou uma década trabalhando em uma versão mais moderna e genérica dessa "ginástica" de feiticeiros, batizada por ele de "tensegrity" (tensegridade, palavra que mistura "tensão" e "integridade").
      NA REDE
      O xamanismo moderno vem ganhando seguidores. "Até na Rússia começam a surgir grupos. As práticas são feitas pela internet, todos ao mesmo tempo", diz Aguirre, que é ligada à clínica Being Energy. É possível aprender os passes on-line.
      Para os interessados em uma prática contínua há um programa de formação posterior ao workshop que acontecerá em São Paulo. O curso inclui cinco aulas mensais e 14 práticas semanais on-line.
      Em São Paulo, m grupo independente treina esses movimentos no Ibirapuera.

        Feitiço antiestresse


        Discípulos de Castaneda ensinam os gestos dos xamãs que, segundo a crença, elevam o bem-estar e o poder pessoal

        Divulgação
        A terapeuta Aerin Alexander e o médico Miles Reid demonstram um dos "passes mágicos"
        A terapeuta Aerin Alexander e o médico Miles Reid demonstram um dos "passes mágicos"
        RICARDO FELTRIN
        COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

        Está bem enganado quem ainda associa o xamanismo a rituais indígenas no deserto, em volta do fogo, envolvendo encantamentos e conjuros a forças sobrenaturais.
        O xamanismo no século 21 é uma filosofia aplicada que inclui exercícios para combater estresse, fadiga e tensão, entre outros dramas urbanos.
        Esse conhecimento chega às grandes cidades por meio de workshops como o que ocorrerá em São Paulo nos dias 24 e 25 (leia à pág. 6).
        O curso será ministrado por dois discípulos diretos de Carlos Castaneda (1925-1998), o controverso antropólogo e autor de "A Erva do Diabo", um mito do século 20.
        Os professores-xamãs são os norte-americanos Miles Reid, médico formado em Buenos Aires e especialista em plantas, e Aerin Alexander, terapeuta corporal formada na Califórnia. Eles criaram a "Being Energy" (ser energia), clínica que dissemina técnicas aprendidas por ambos diretamente com o mestre Castaneda, com quem conviveram um pouco há 20 anos.
        "Esses movimentos restauram, redistribuem energia e causam bem-estar", disse Reid, em entrevista à Folha. Para quem olha de fora, tais exercícios ou "passes energéticos", como agora são chamados (Castaneda os chamava de "passes mágicos"), lembram artes marciais. São feitos em séries de oito, nove, 12 ou mais movimentos.
        Um exemplo de exercício: a pessoa posiciona as duas mãos a dez centímetros do lado esquerdo do abdome, na altura do baço, e simula estar segurando um cilindro de 30 centímetros de comprimento; roda o "cilindro" para baixo até onde o pulso aguentar por seis vezes; vai para o lado direito do abdome e faz o mesmo gesto seis vezes, agora sobre o fígado.

        TOURO BRAVO

        Há outro exercício em que o praticante leva os dois braços ao lado do corpo em posição de 90 graus (as mãos ficam abertas a 20 centímetros diante do estômago) e raspa os pés alternadamente no chão, como se limpasse a sola do sapato ou fosse um touro bravo (veja exercícios no vídeo http://folha.com/no1178394). Uma sequência completa leva 20 minutos.
        Segundo a brasileira Patrícia Aguirre, psicóloga, qualquer pessoa pode praticar.
        O empresário mineiro Jarbas Martins, 50, diz seguir esse ramo do xamanismo há oito anos. "Como efeito principal, os passes me trouxeram bem-estar físico. Quando pratico alcanço harmonia corporal, emocional e mental."
        Eduardo Silva Neto, 45, médico, faz os exercícios há dois anos. "Proporcionam um bem-estar inegável. E são uma pausa na vida atribulada, resultando em autoconhecimento e saúde mental."
        A psicóloga Heloísa Antonia Franco diz fazer os passes com frequência há dois anos e meio. "O 'caminho do guerreiro' [outro nome dado ao xamanismo] amplia nosso arsenal de ferramentas para enfrentar o campo de batalha."
        Segundo ela, a prática mudou seu corpo e sua mente. "O corpo se torna mais atento, uma antena de captação de forças que nos atravessam. Os exercícios nos preparam para usar todos os nossos recursos corporais e mentais."
        Os verdadeiros seguidores do xamanismo moderno, porém, não fazem só esses passes. Há exercícios mais complexos envolvendo respiração, recuperação de lembranças da própria vida ("recapitulação") e uma técnica intitulada "parar o diálogo interno" -quando a pessoa força a mente a silenciar enquanto faz longas caminhadas.
        Os xamãs modernos dizem ser possível a qualquer pessoa disciplinada parar o fluxo confuso de pensamentos.
        A revelação de que os feiticeiros faziam ginástica para redistribuir a energia do corpo e elevar seu poder chegou ao público em 1995, quando Castaneda ressurgiu após um retiro de quase 20 anos. Foi então que ele passou a ensinar os movimentos em seminários no México. Reid, 48, e Alexander, 44, estavam lá.
        Em 1998, pouco antes de morrer, o escritor estendeu esse conhecimento ao mundo no livro "Passes Mágicos" (esgotado no Brasil). Uma versão do livro saiu quase ao mesmo tempo em vídeo -e ambos causaram mais polêmica em torno do escritor.
        A obra trazia um novo paradigma em relação aos livros já publicados: agora já não era preciso ser um eleito para virar xamã; qualquer pessoa disposta a praticar diariamente e a ter uma vida disciplinada também poderia se tornar um adepto dessa arte.
        Apesar disso, Castaneda havia sido iniciado no xamanismo "clássico", envolvendo rituais longos, uso de plantas alucinógenas, disciplina rígida e vida solitária.

        SONHANDO ACORDADO

        O escritor já havia sido acusado de mistificador quando escreveu que também por meio de disciplina era possível a qualquer um vivenciar os sonhos com consciência parecida com a que temos quando acordados.
        "Isso é absurdo", atacaram psicólogos e outros especialistas na psique humana. O mesmo disseram alguns sobre a afirmação de que é possível interromper o fluxo de pensamentos.
        Grosso modo, a técnica de "parar o diálogo interno" também é praticada por outras linhas filosóficas aplicadas, como a "Quarto Caminho", escola criada pelo armênio George Ivanovitch Gurdjieff (1866-1949).
        Assim como o hinduísmo, o budismo e a medicina chinesa, os xamãs acreditam que o corpo é controlado por centros energéticos invisíveis aos olhos. Esses centros seriam manipuláveis, por agulhas ou movimentos coordenados.
        Até 2010, Reid e Alexander (que são casados e pais de Axl, 5) integraram a Cleargreen, uma instituição criada pelo próprio escritor nos anos 1990. Após deixar o grupo, eles renomearam os "passes mágicos" e passaram a divulgar o conhecimento em seus próprios workshops.
        "Não sentimos que houve uma ruptura ou um rompimento [com a Cleargreen]. O que há é a ampliação dos veículos e das formas de divulgar o conhecimento do mestre", afirmou Reid.

          Leitura nos olhos dos outros - Rosely Sayão


          Se ler é bom, por que nós, adultos, lemos tão pouco? No Brasil, a média por pessoa é de só um livro por ano


          Recentemente foi comemorado o Dia Nacional do Livro. A data lembrou a importância da leitura na vida das crianças e de todos nós.
          Esse é um bom motivo para refletirmos sobre a contribuição que o mundo adulto dá para que os mais novos tenham a chance de desenvolver o gosto pela leitura.
          Primeiramente, é bom reconhecer que temos uma posição bastante moralista a esse respeito. Famílias e escolas repetem à exaustão que ler é uma coisa boa.
          Desde os primeiros anos escolares até o último ano do ensino básico, a lista de livros obrigatórios é enorme.
          Mas será que ler é mesmo bom? Se é, por que temos de repetir tanto essa recomendação e nem assim conseguimos resultados?
          Talvez porque obrigação não combine com prazer e ler deveria ser uma questão de prazer. Muita gente se preocupa em desenvolver o hábito da leitura. Prova disso é que nossas crianças ficam com a agenda abarrotada de coisas para ler.
          Entretanto, hábito é coisa bem diferente de vontade. Em relação à leitura, o que podemos fazer é plantar nos mais novos a vontade de ler, mostrando as emoções que essa experiência proporciona.
          A segunda questão que temos é a seguinte: se ler é tão bom assim, por que é que nós, os adultos, lemos tão pouco? Pesquisas mostram que o índice de leitura espontânea no Brasil é de pouco mais de um livro por ano! Muito pouco, quase nada, na verdade.
          Isso significa que, depois que o jovem sai da escola, ele simplesmente deixa de ler.
          O que podemos fazer para que os jovens encontrem seu próprio caminho no mundo dos livros? Para que desenvolvam um gosto verdadeiro pela leitura?
          Os pais podem, por exemplo, ler e contar histórias para os filhos pequenos. Muitas famílias já cultivam o momento da história, lendo para os filhos de até seis anos antes de a criança se recolher. A questão é que eles não sabem como seguir com esse ritual depois que a criança cresce.
          A partir dos sete, oito anos, muitas famílias se rendem aos outros interesses que a criança passa a ter: programas de televisão, internet, videogames, jogos de computador etc.
          Entretanto, ouvir e contar histórias para os filhos é um hábito que poderia seguir até o fim da infância como um grande incentivador não apenas do gosto pela leitura, mas também como um elemento intensificador das relações familiares.
          Depois que a criança ganha fluidez, é hora de pedir para que ela também leia para os pais. Mostrar interesse pelos livros que ela escolhe, ouvir com atenção as histórias que a criança conta sobre sua própria vida e ler ao seu lado são excelentes maneiras de estimular a atividade leitora dos mais novos.
          As bibliotecas também poderiam funcionar como locais de incentivo do gosto pela literatura. Para isso, precisariam ser fisicamente mais atraentes, com livros e atividades interessantes. As famílias poderiam incluir a ida à biblioteca como um programa familiar, não é verdade?
          Ler sempre -mesmo que por pouco tempo-, comentar sobre os livros que estão lendo e incluir alguns exemplares na bagagem das férias são atitudes que os pais podem adotar para mostrar aos filhos, na prática, que ler é bom de verdade.
          E as escolas? Essas têm um enorme potencial para desenvolver com seus alunos o interesse pela leitura. A maioria tem optado pelos caminhos mais fáceis e menos produtivos: responsabilizar as famílias por isso e obrigar os alunos a ler. Poucas são as escolas particulares que têm uma biblioteca atraente.
          Aliás, aí está uma boa questão para os pais que procuram escolas para os filhos: visitar a biblioteca escolar e saber como ela é usada por alunos e professores.
          E, por falar em professor, quantos deles demonstram aos alunos que têm paixão pela literatura?
          Se ler é mesmo bom, vamos provar isso aos mais novos.

          Humanos graças à cozinha - @suzanahh


          NEURO

          O Homo sapiens não seria energeticamente viável se seguisse uma dieta crua como a dos outros primatas

          O que nos torna humanos, seres com capacidade cognitiva superior à dos outros animais? "Nosso enorme número de neurônios" é a resposta que damos em meu laboratório.
          Mesmo com um cérebro menor do que o de elefantes e baleias, somos provavelmente os seres com o maior número de neurônios no cérebro, cerca de 86 bilhões.
          Como conseguimos tantos neurônios em um cérebro só? Por que um gorila chega a ser três vezes maior do que nós, mas tem o cérebro três vezes menor do que o nosso, com três vezes menos neurônios?
          Um novo trabalho de nosso laboratório, publicado na PNAS ("Proceedings of the National Academy of Sciences") em outubro e que ganhou os jornais do mundo, ofereceu pela primeira vez resposta às duas questões: a energia fornecida pela dieta limita o tamanho de corpo e de cérebro que os primatas conseguem sustentar -e estamos aqui porque conseguimos burlar essa limitação.
          Com sua dieta crua, manter o corpo e o cérebro que têm já custa aos gorilas quase oito horas diárias de alimentação; quando a estação não ajuda, eles perdem peso.
          Fazendo as contas, mostramos que, para um gorila, sustentar além do corpo enorme um cérebro maior ainda não seria energeticamente viável.
          Pelas mesmas contas, dado nosso cérebro com três vezes mais neurônios que o dos gorilas... também não deveríamos estar aqui. Com a mesma dieta dos outros primatas, o Homo sapiens não é energeticamente viável: deveríamos passar mais de nove horas por dia comendo para conseguir sustentar o corpo e o cérebro que temos.
          Mas estamos aqui e não precisamos passar nove horas por dia comendo. Por quê? Fazemos coro com o primatólogo Richard Wrangham: o que possibilitou o aparecimento de nossa espécie, com seu cérebro cheio de neurônios, foi uma invenção sensacional de algum antepassado nosso, possivelmente Homo erectus: a cozinha.
          Cozinhar é uma forma de pré-digestão que não só mais que dobra o rendimento energético dos alimentos como reduz drasticamente o tempo necessário para ingeri-los.
          Quando fica fácil conseguir em pouco tempo todas as calorias necessárias para passar o dia, ter um cérebro grande deixa de ser um risco e passa a ser uma vantagem -e propomos que foi essa mudança que impulsionou o aumento enorme e rápido do tamanho do cérebro de nossos antepassados.
          Excelente. O problema, contudo, é que nossas invenções seguintes, como a agricultura, a geladeira e o supermercado, tornaram fácil demais... comer demais.

          Monstro caipira


          Cientistas acham osso de grande dinossauro carnívoro no interior de SP

          REINALDO JOSÉ LOPES
          EDITOR DE "CIÊNCIA+SAÚDE"


          O Brasil pré-histórico acaba de ficar um pouco mais aterrorizante. Nas rochas do interior de São Paulo, paleontólogos encontraram pela primeira vez um osso de um grande dino carnívoro, membro do grupo formado por alguns dos maiores predadores da Era dos Dinossauros.
          Tais criaturas, conhecidas pelo indigesto nome de carcarodontossaurídeos, rivalizavam com o célebre Tyrannosaurus rex, chegando a medir 13 m de comprimento.
          Até hoje a presença dos monstros em território nacional era inferida apenas pela presença de dentes isolados na Bacia Bauru, como é conhecido o conjunto geológico que abrange boa parte do interior paulista e de outros Estados (MG, PR, MS e GO).
          Editoria de Arte/Folhapress

          Agora, a equipe coordenada por Carlos Roberto Candeiro, da Universidade Federal de Uberlândia, e Lílian Paglarelli Bergqvist, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), começa a preencher essa lacuna com a descoberta de um pedaço de osso de 13 cm, parte do maxilar direito de um dos dinos do grupo.
          O fragmento, que abriga ainda um dente, foi encontrado no município de Alfredo Marcondes, perto de Presidente Prudente, e tem idade estimada em torno de 70 milhões de anos.
          "Com base no fragmento e no dente, conseguimos identificar com confiança a família do animal, mas não a espécie", explica Bergqvist.
          Também é possível estimar o tamanho total do crânio do animal em vida --algo como 80 cm de comprimento--, embora seja mais difícil dizer que tamanho o bicho todo tinha. A julgar pelo crânio, no entanto, parece ser um dino menor que os representantes mais avantajados de seu grupo, talvez chegando aos 10 metros, afirma Candeiro.
          Também de Alfredo Marcondes e de outro município da região, Flórida Paulista, vêm fragmentos de ossos de outros dinos carnívoros estudados pela equipe, cuja identificação em níveis mais específicos não foi possível.
          O fato de esse material todo aparecer apenas na forma de cacos tem algo de misterioso. É que a Bacia Bauru é rica em outros fósseis de predadores dessa época. Em geral, são primos terrestres dos atuais crocodilos, pertencentes a uma grande variedade de espécies e, às vezes, com todo o esqueleto preservado.
          "Ainda não há uma explicação para isso. A gente brinca que, na Bacia Bauru, os crocodilos são a praga do Cretáceo [período do qual datam os fósseis]", diz Bergqvist. "Há o mesmo problema com os mamíferos, que são muito difíceis de achar por lá."
          O carcarodontossaurídeo paulista, aliás, viveu "só" alguns milhões de anos antes do sumiço dos dinos e do início da Era dos Mamíferos.
          A equipe publicou a análise dos fósseis na revista científica "Cretaceous Research". Também assinam o estudo Rodrigo Azevedo, Felipe Simbras e Miguel Furtado.

          INTERIOR SEMIDESÉRTICO

          Os dados geológicos indicam que, no fim do período Cretáceo, boa parte do interior brasileiro era um imenso semideserto.
          A alternância entre períodos de seca prolongada e chuvas torrenciais criava rios e lagoas temporárias, em cujas margens se refugiavam animais como tartarugas e crocodilos.
          Alguns dos fósseis dessa época que chegaram até nós parecem ter sido preservados quando vários animais se enfiaram na lama para tentar suportar o calor.
          Sabe-se que, apesar da seca, grandes dinossauros herbívoros de pescoço longo também viviam ali. (RJL)

          JAIRO MARQUES



          Viver com fé

          Faltam atitudes que remetam a elementos ligados ao amor ao próximo, à paixão pela construção de virtudes
          Fiquei desolado quando o escapulário dado pela minha mãe havia dois anos escorreu do mármore da pia diretamente para o ralo. Não que eu o considerasse um instrumento poderoso de sorte ou de proteção, mas ali residia um pensamento constante de fé.
          Tentei recuperar o símbolo de todas as formas. Dava para ver um pedacinho de Nossa Senhora, com o Menino Jesus no colo, no meio daquela escuridão do cano que sabe Deus onde descambaria. Em vão. Foi para o além de meus olhos, dedos e pescoço.
          Fiquei triste. Mamãe calou-se após conhecer detalhes do ocorrido, mas antes soltou aquele "Ahhhhh, filho" que me deixou com o sagrado coração apertadíssimo. O detalhe é que, naquele dia, eu iria visitar o Vaticano. Estava em viagem à Itália.
          Por onde olho, atualmente, noto que faltam escapulários, fitinhas do Bonfim, guias. Faltam pensamentos e atitudes que remetam ao ambiente, às pessoas, às atitudes, a elementos ligados ao amor ao próximo, à paixão pela construção de virtudes e de uma sociedade mais fraterna.
          Como me disse um motorista aqui do jornal, o Benê: "Não importa se seja pelo candomblé, pela Seicho-No-Ie, pela Igreja Católica, pelo espiritismo, as pessoas precisam agir mais, pensar mais positivo para melhorar o lugar onde vivem. Não dá para ser cada um por si em torno da sua religião".
          O foco está direcionado demais aos resultados, ao melhor desempenho no trabalho, ao que fazer com o 13º salário. Junte-se a isso o trânsito do cão das grandes cidades, as dívidas do cartão de crédito e a violência. Pronto, acabou o espaço para pensar na fé.
          Não quero provocar a fúria daqueles que não botam fé em valores imateriais como crer em uma força intangível, mas, para mim, muitas e muitas dores, dissabores, injustiças, desigualdades, preconceitos e outras desgraceiras só sucumbem a partir do momento em que se acredita.
          Não é à toa que tenho devotado um pouco do meu tempo de descanso para apreciar o "Viver com Fé", um programa de TV que, estrelado pela atriz Cissa Guimarães, vai entrar em sua segunda temporada pelo canal pago GNT. Um bálsamo.
          Com uma fórmula bem simples, gente desabrochando seus testemunhos do poder da fé, independentemente da sigla que se professa, o programa é inspirador para motivar reflexão em torno do espaço exaustivo que se costuma doar ultimamente para demandas que nem é preciso ir muito a fundo para caracterizar como pífias.
          Enquanto uns agem com brutalidade com quem erra, há outros pacientemente agradecendo pela oportunidade de voltar a jogar; ao passo que enquanto uns se enervam pelo negócio perdido, pessoas sorriem grande por ganhar novas oportunidades.
          Viver com fé ajuda a incentivar as crianças a gostar mais do arco-íris e a ter menos medo de tempestades. E crianças são as construtoras do sonhado e tão surrado "mundo melhor".
          Na semana passada, chegou lá em casa um pacote embrulhado em papel pardo cuja remetente era "minha santa". Dentro, afora muitos papéis amassados, um novo escapulário. Mamãe não mandou nenhum recado, nem colocou cartão. Mas é certo que não precisava. Ela botou ali a fé de que eu entenderia sua mensagem.

          Maioria apenas passeia - Gustavo Werneck‏

          Professor da área de fisioterapia e educação física da UFMG realiza pesquisa e comprova que 75% das pessoas que fazem caminhada não se beneficiam dessa atividade 

          Gustavo Werneck
          Estado de Minas: 06/11/2012 
          Chova ou faça sol, é preciso acertar o passo. E fazer exercícios ao ar livre nos parques, praças, avenidas ou em volta da Lagoa da Pampulha. No feriado emendado ao fim de semana, milhares de belo-horizontinos fizeram suas caminhadas – alguns num ritmo adequado, como orientam os educadores físicos, outros sem compromisso com a intensidade do exercício e movimentos do corpo. As cenas, claro, vão se repetir sempre, mas, antes de sair de casa da próxima vez de tênis e boné, preste bem atenção num ponto fundamental e responda sinceramente: “Você caminha ou passeia?” Com base em estudo feito nas nove regionais da cidade, o professor do Departamento de Fisioterapia da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Anderson Aurélio da Silva responde sem titubear: “A maioria passeia”.

          O trabalho desenvolvido entre o fim de 2011 e o primeiro semestre deste ano avaliou 142 pessoas, na faixa de 40 a 60 anos, e constatou que cerca de 75% do grupo observado na caminhada diária não conseguia se beneficiar totalmente do exercício. A maior parte dos entrevistados pratica em intensidade abaixo da ideal e os outros o fazem com intensidade acima do recomendado, expondo o corpo a lesões. “Dessa forma, apenas uma em cada quatro pessoas faz a caminhada de maneira correta, dentro dos parâmetros de segurança e eficiência.” 

          Anderson explica que, ao caminhar, a pessoa deve se preocupar com a chamada “sobrecarga” ou a boa relação entre duração, frequência e intensidade do exercício – na pesquisa, a sobrecarga das 142 pessoas foi medida por meio da frequência cardíaca. Segundo ele, há um número que é encontrado pela fórmula: 220 menos a idade da pessoa: “Essa é a frequência cardíaca máxima, a qual é calculada pela idade da pessoa. Entre 60% e 80% desse valor, o exercício traz os benefícios máximos. Acima disso, pode causar lesões e, abaixo, traz poucos benefícios”, explica. O ideal, por exemplo, é que a sobrecarga de um homem de 40 anos varie de 108 a 144 batimentos por minuto. 

          A equipe do EM acompanhou o professor Anderson à orla da Pampulha, nas primeiras horas, já bem movimentada, podendo conhecer, na prática, um pouco do comportamentos dos belo-horizontinos. “Algumas pessoas que caminham mostram um bom movimento dos braços, passos ritmados. Outros, vê-se nitidamente, estão apenas passeando”, conferiu o professor, que conversou e deu dicas para garantir rendimento no exercício. Ele explicou que as mulheres se adaptam bem à caminhada e têm um desempenho melhor. Já os homens preferem correr. Um dado curioso é que não houve diferenças entre as nove regionais, embora se note um rendimento melhor na Pampulha, Centro-Sul e Barreiro. “A explicação é que, nessas três, as pessoas não precisam ficar parando para atravessar vias públicas.”

          RITMO CERTO Acompanhado da filha, a estudante de educação física Bruna Gamallo Ferreira, de 20 anos, o financista Paulo Brant, de 45, contou que faz ginástica em academia cinco vezes na semana e caminha duas. “Já perdi seis quilos e tenho mais disposição desde que comecei, em janeiro, a me exercitar”, contou Brant, morador da Pampulha. “A Bruna está aqui para me dar uma força”, brinca o financista, antes de pegar o passo e seguir pela orla, próximo à Igrejinha de São Francisco de Assis.

          Atento a todos os que passavam pela orla – a pesquisa nasceu da observação de Anderson nos lugares de caminhada –, o professor deu uma orientação valiosa para quem pretende se iniciar na caminhada ou não está com bom rendimento. “Conversar muito ao longo do trecho significa que a atividade está fraca, portanto, deve aumentá-la. E se não estiver conseguindo conversar, estiver ofegante, indica que deve diminuir.” A pesquisa, acrescenta, mostra que a maioria das pessoas obtém poucos benefícios na caminhada porque anda muito devagar. “Algumas pela comodidade, outras porque a caminhada precisa ser interrompida para cruzar ruas e avenidas. Falta orientação adequada e é preciso, antes de começar a se exercitar, procurar um professor de educação física ou fisioterapeuta.” O trabalho teve a participação das estudantes de fisioterapia da UFMG Daniela Alves e Gabriella Ferreira. 
          TECNOLOGIA Vendo muita gente passar com frequencímetros e outros equipamentos eletrônicos nos braços e peito, Anderson lembra que a tecnologia tem sido uma aliada importante para manter a forma e a saúde. O casal Renato Mercado, de 41, e Juliana Araújo, de 36, morador do Bairro São Luiz, na Região da Pampulha, conta que se exercita três vezes por semana, durante uma hora, na lagoa, e volta para casa correndo. “É alternar caminhada com corridas leves”, assegura o professor. E indica os melhores horários para a prática: antes das 10h e depois das 17h.

          Os benefícios são sentidos pela aposentada Maria de Lourdes Pinheiro, de 61, residente no Bairro Ouro Preto, na Região da Pampulha. “Caminho todos os dias no mínimo uma hora há mais de 10 anos. Se não pratico a atividade, vou ficando desanimada. Quando chego em casa, tenho disposição para tudo”, diz. Já um morador que preferiu não se identificar reconheceu que “estava passeando, “por enquanto”, mas pretende caminhar com atitude. “Quero perder 10kg em seis meses.” 

          Segundo Anderson , os praticantes de atividades físicas que não têm aparelhos para calcular a frequência cardíaca podem recorrer ao chamado “cansaço subjetivo” a fim de medir a intensidade de seu esforço. “Tal cansaço é aquele que se sente durante o exercício, mas que desaparece minutos depois do fim da prática esportiva. Serve para medir a intensidade correta do exercício. A pessoa tem que sentir um cansaço de leve a moderado. Ela não pode ficar ofegante nem tranquila demais”, analisa o professor, que corre há 27 anos. O professor observa que o resultado do estudo, além de alerta, serve como ajuda para a elaboração de políticas públicas. “A pesquisa pode norteá-las no sentido de orientação física dos moradores. As prefeituras devem contar com profissionais especializados (educadores físicos e fisioterapeutas) para ensinar as pessoas a obter o máximo de suas caminhadas, conhecendo sua sobrecarga e intensidade ideais.” O estudo do professor Anderson Aurélio será publicado em revista científica.