segunda-feira, 1 de setembro de 2014

O novo programa do PSB - Renato Janine Ribeiro

Valor Econômico 01/09/2014

A reforma política de Marina quer aumentar a participação popular, mas suas propostas concretas vão em outra direção

Confesso: o programa de governo que li com maior atenção foi o de Marina Silva. Posso criticá-lo e o farei, mas jamais ocultei a admiração por ela e pelo que traz para a discussão pública. Vejamos as propostas políticas do início de seu Eixo I, "Estado e democracia de alta intensidade". Recomendo a leitura do programa. Um dos maiores elogios à candidatura é que ela escreve e assina o que realmente quer. Não é um documento só para a Justiça eleitoral. Tenho ouvido gente dizer que programa se compra ou se encomenda, e depois se esquece. Advirto: não é essa a intenção da candidata.

O melhor da Rede é a vontade de empoderar a sociedade para discutir o que, hoje, é monopólio dos partidos e dos políticos. O projeto acerta ao dizer que não bastam choque de gestão ou eficiência gerencial, pois conferem mais poder ao gestor e desconhecem o caráter essencialmente político, até popular, da reforma do Estado - que deve aumentar seu teor de democracia, assim como democratizar mais a sociedade. A democracia atual é de baixa qualidade porque avessa às formas de participação: diagnóstico de esquerda, com o qual o PSDB dificilmente concordaria. Marina quer mais povo, não menos, no Estado. Critica a concentração de poder. Exige transparência, facilitada pelos recursos digitais hoje disponíveis. Não é fortuito que só ela, dentre as lideranças de oposição, não tenha atacado o decreto de Dilma Rousseff sobre a participação popular. Propõe "plebiscitos e consultas populares, conselhos sociais ou de gestão de políticas públicas, orçamento democrático, conferências temáticas e de segmentos específicos". Elenca um rol admirável de formas de participação.

O projeto de fazer a política sair dos gabinetes, das câmaras, para estar na sociedade, seja em reuniões presenciais, seja em formas de atuação virtuais, é ético e oportuno. É enorme o atual desinteresse pela política, o desdém pelos políticos; quer-se reverter isso. O PT na oposição falava em democracia direta, a Rede em democracia de alta intensidade. Não são a mesma coisa. O PT pensou na democracia direta a partir de movimentos sindicais, aos quais se associavam, com igual legitimidade, movimentos sociais e de vizinhança, grupos unidos por queixas e projetos comuns, como homossexuais, negros, mulheres, usuários de drogas, artistas, em suma, quem acreditasse que outro mundo é possível. A Rede saúda os movimentos sociais "históricos" e quer combiná-los com "as mobilizações que surgem por meio das novas tecnologias", em referência às assim chamadas revoluções do Twitter e do Facebook. É um pouco vago, mas saúdo esse aprofundamento do projeto de democracia participativa de Franco Montoro ou essa retomada da democracia direta do PT em suas primeiras décadas.

Uma participação maior do povo é o tema principal

Mas, quando chegamos à página 15, um "box" pretende traduzir este arrazoado - sério, correto, prioritário - em medidas que devam "deflagrar" a reforma política. Contudo, esse minirresumo executivo não bate com a filosofia antes exposta. Os meios não dialogam com os fins! Da filosofia se passa para medidas práticas - mas sem relação com ela. No "box", é só política institucional. O que se propõe de prático e de imediato? Primeiro, a coincidência de todos os mandatos, inclusive municipais, numa única eleição a cada cinco anos, sem reeleição. Já defendi a reeleição e não volto ao tema. Mas há no país uma queixa constante sobre as eleições federais e estaduais que, sendo simultâneas, nos fazem preencher ao mesmo tempo cinco ou seis cargos. Somar-lhes as municipais fará elegermos de uma só vez sete ou oito cargos. Ora, se este ano a campanha presidencial nublou a dos governadores, para não falar dos legislativos, como será se renovarmos todos os cargos ao mesmo tempo? E por que eleições mais espaçadas, e não mais frequentes? Tudo isso despolitiza. A escolha será menos meditada do que já é hoje. O que vai contra os ideais do programa.

E uma contradição: quer-se preencher os "cargos proporcionais" segundo "a Verdade Eleitoral", definida como a regra de proclamar eleitos os candidatos individualmente mais votados, sem levar em conta o partido ou coalizão a que pertençam. É curioso que isso seja exatamente o "distritão" proposto pelo vice-presidente Michel Temer. Aliás, assim os cargos deixam de ser preenchidos proporcionalmente, portanto a expressão "cargos proporcionais" deveria ser trocada por "deputados e vereadores". Mas isso acaba com os partidos. Na verdade, as candidaturas avulsas, adiante recomendadas, deixam de ser a exceção e se tornam a regra. Todas as candidaturas serão avulsas. Não conheço país no mundo que adote esse critério, dado que esses cargos são preenchidos pelo voto ou distrital ou proporcional.

Há duas más consequências: primeira, cada candidato terá como adversários todos os demais candidatos, não sendo de seu interesse aliar-se ou somar suas forças a ninguém que dispute o mesmo cargo. Segunda, os partidos se liquefazem.

Assim o mandato deverá pertencer ao eleito, não ao partido. Daí, a troca de partidos estará na lógica do sistema. Há o risco de que, em vez de criar canais paralelos aos da democracia representativa, esta última fique mais frágil, mais vulnerável ao canto de sereia do Poder Executivo. Isso pode até piorar nossa política! Porque, enfim, o programa tem um descompasso entre a meta nobre da maior participação popular, mas que não se traduz em nada concreto, e as reformas concretas, só que confusas e possivelmente com efeitos indesejados. Ainda estamos longe do ideal, que aprovo, de uma democracia de alta intensidade.

Renato Janine Ribeiro é professor titular de ética e filosofia política na Universidade de São Paulo. 
E-mail: rjanine@usp.br


TeVê

TV paga
Estado de Minas: 01/09/2014



Humor ao vivo
Estreia esta noite, às 22h30, no Multishow, a segunda temporada do humorístico Vai que cola (foto). A grande novidade é uma laje, com piscina e churrasqueira. Novos personagens também vão dar as caras no programa, que será transmitido ao vivo, sem direito a erros, mas com muita descontração, num clima de peça de teatro. E por falar em teatro, o SescTV exibe hoje, às 20h, o documentário Continente teatral ibero-americano, que faz um balanço do Festival de Artes Cênicas de Santos de 2010.

Novo Lifetime já chega
com produção própria
Outra produção brasileira que estreia na telinha é Mulheres em ação, do novo canal Lifetime, que substitui o antigo Sony Spin. O programa vai ao ar às 18h30, mostrando a dura rotina de mulheres policiais.; Na mesma emissora, às 22h30, estreia o reality show de dança Bring it!, que explora as competições de hip hop nos Estados Unidos. E às 23h30 é a vez da série Filhas do bom pastor, em sua segunda temporada.

Canal Brasil valoriza a
arte nas capas de discos
Novidade também no Canal Brasil, que estreia a série Arte na capa, formada por interprogramas, com duração de até 5 minutos e sem horário definido, exibidos ao longo da programação. A produção vai contar a história por trás de importantes capas da música brasileira, trazendo entrevistas com artistas, produtores
e designers.

O popstar Billy Joel faz
show na tela do MGM
E se o papo é música, vale destacar o show que Billy Joel fez no Shea Stadium, em Nova York, em 2008, pouco antes de o famoso estádio ser demolido, e que o MGM vai mostrar às 22h. Entre os convidados, Tony Bennett, John Mayer, Steven Tyler e Paul McCartney. Também hoje, às 18h, o Film&Arts exibe o documentário Rocksteady – A raiz do reggae, contando a história do estilo musical nascido na Jamaica.

Obsessão estreia hoje
no Telecine Premium
Dois dias depois do aniversário de 11 anos da morte do ator Charles Bronson, o Telecine Cult inicia a exibição do Bang bang especial Charles Bronson, com uma seleção de clássicos do gênero, começando com O trem do inferno, às 20h10. No FX, o especial Números sinistros vai tomar toda a semana, abrindo hoje com o filme 2012, às 22h30. No Telecine Premium, às 22h, estreia o suspense Obsessão, com Matthew McConaughey, Nicole Kidman e Zac Efron. Outras atrações da programação: O lobisomem, às 20h10, no Universal; Millennium – Os homens que não amavam as mulheres, às 22h05, no Max Prime; e Guerra é guerra!, às 22h30, na Fox.


CARAS&BOCAS » SERÁ QUE ELES SÃO?
Simone Castro
Publicação: 01/09/2014 04:00
Cantora Rosemary encarna Carmen Miranda em reality sobre famosos (Roberto Nemanis/SBT  )
Cantora Rosemary encarna Carmen Miranda em reality sobre famosos

A segunda noite de apresentações do Esse artista sou eu, do SBT/Alterosa, promete. O público deve se surpreender com a caracterização dos participantes. A cantora Rosemary vai encarnar Carmen Miranda, em apresentação comovente; Léo Maia interpreta a música Hit the road Jack, de Ray Charles; Vanessa Jackson dá show ao cantar Oh, happy day, do clássico do cinema Mudança de hábito, com Whoopi Goldberg, acompanhada de um lindo coral que enriqueceu sua apresentação. E tem mais: Christian Chávez, ex-RBD, irreconhecível em performance do grupo Village Peoplee, arrasa com as clássicas YMCA e Macho man; Li Martins será Anitta; Marcelo Augusto vai requebrar como Elvis Presley; e Syang "para o casamento" ao encarar a famosa canção da ternurinha Wanderléa. O Esse artista sou eu vai ao ar às 23h.

FIQUE POR DENTRO DAS
PRINCIPAIS NOTÍCIAS

Confira no Jornal da Alterosa – 1ª edição desta segunda-feira, as principais notícias no estado, o que acontece na sua cidade, no trânsito, na segurança, na saúde. E todos os flagrantes dos fatos que mexem com a vida dos mineiros. A primeira edição vai ao ar logo depois do Alterosa esporte.

LUAN SANTANA FAZ SHOW
EM CAPÍTULO DE MALHAÇÃO

O cantor Luan Santana estará no capítulo de Malhação (Globo) de amanhã. Ele faz uma participação especial com um show ao lado de Mari, uma aspirante a cantora sertaneja, aluna do Ribalta, vivida por Maria Luiza Campos. A "dupla" vai cantar Tudo o que
você quiser.

SBT TRANSMITE DEBATE COM
CANDIDATOS À PRESIDÊNCIA

O SBT/Alterosa exibe hoje o seu debate com os candidatos à presidência da República. Estarão presentes Dilma Rousseff (PT), Aécio Neves (PSDB), Eduardo Jorge (PV), Pastor Everaldo (PSC), Levy Fidelix (PRTB), Luciana Genro (PSOL) e Marina Silva (PSB). Com início às 17h45 e apresentado por Carlos Nascimento, o evento será transmitido ao vivo pela emissora. A duração total é e 1h40, dividido em quatro blocos.

FILMES RETRATAM INÍCIO DA
SEGUNDA GUERRA MUNDIAL

O 1º de setembro de 1939 foi considerado o estopim de um conflito militar global, que envolveu todas as grandes nações do mundo. A data marca a invasão das forças da Alemanha nazista de Adolf Hitler na Polônia, ataque prontamente respondido por Reino Unido, França e pela Comunidade das Nações. Para relembrar esse capítulo da história mundial, o Canal Brasil exibe oito filmes nas duas primeiras semanas deste mês, de segunda a quinta, sempre às 19h. A estreia é com O relógio do meu avô. Amanhã, será a vez de Senta a pua!. Entre outros títulos, estão Rádio Auriverde – a FEB na Itália e Olga.

QUEM MATOU?
Na reta final, O rebu (Globo) está bombando e prendendo a atenção do telespectador com o inevitável "quem matou?" Bruno Ferraz (Daniel de Oliveira). E a pergunta está agitando os internautas no site da novela no Gshow. A disputa sobre a identidade do assassino está acirrada. Para 21% dos internautas, Duda (Sophie Charlotte) cometeu o ato insano, enquanto que 15% e 12% apostam em Angela Mahler (Patrícia Pillar) e em Gilda (Cássia Kiss), respectivamente. Os autores da trama, George Moura e Sérgio Goldenberg, listaram no site 17 personagens que podem ser os autores do crime. Confira em gshow.com/orebu e faça também suas apostas!

VIVA
Marcos Palmeira, como o delegado Pedroso em O rebu, arrasa. E faz ótima parceria com Dira Paes (Rosa) e Patrícia Pillar (Angela).

VAIA
Andreia Horta, atriz de mão cheia e pouco aproveitada em Império. Maria Clara, a personagem do núcleo principal, é quase uma figurante.

Admiração declarada - Carolina Braga

Admiração declarada
Carolina Braga
Estado de Minas: 01/09/2014


Nina Becker seduz com repertório dedicado a Dolores Duran (Caroline Bittencourt/Divulgação)
Nina Becker seduz com repertório dedicado a Dolores Duran
É difícil falar em Nina Becker sem pensar no adjetivo elegância. Talvez por isso, o encontro dela com o repertório de Dolores Duran, antes mesmo da audição já seduz. Depois de percorrer as 13 faixas, a constatação é de que Minha Dolores – Nina Becker canta Dolores Duran está à altura da dupla. Há reverência àquela que marcou a música brasileira na década de 1950, mas com originalidade de quem se apropria do repertório no século 21.

O álbum é dedicado a Bertha Becker, avó da jovem cantora. Foi por influência dela que Nina se viu encantada pelo cancioneiro de Dolores, com o qual demonstra intimidade no CD. Se a relação com as composições de Dolores era algo que ficava dentro de casa, nos momentos solitários de voz e violão, foi o DJ Zé Pedro quem incentivou Nina a escancarar a admiração.
A escolha por arranjos com destaque para o bandolim de Luis Barcelos e o violão de 7 cordas de Lucas Porto vem daí. Chama atenção a versão de Estrada do sol, parceria com Tom Jobim. Especialmente nela o bandolim parece formar um suave dueto com Nina.

Entre as 13 canções escolhidas há composições de Dolores (Solidão), com parceiros ilustres além de Tom, Lúcio Alves (Vou chorar). Entre as canções gravadas ao longo da carreira, destaque para criações de Billy Blanco (Outono, Feiura não é nada, Coisa mais tarde, Estatuto de boate); Ismael Silva (Tradição); Ismael Neto (Carioca 1954, em dupla com Antonio Maria; Marca na Parede, com Marcio Fachini); e a dupla Flavio e Celso Cavalcanti (O amor acontece, Manias). 

Bem no alvo

Personalização da medicina para um tratamento mais eficaz contra o câncer preserva as células saudáveis e leva esperança aos pacientes
 

Celina Aquino
Estado de Minas: 01/09/2014





"Poderei não curar, pois o câncer é inteligente e cria outros mecanismos, mas vou mudar o curso da doença", Carlos Barrios, diretor do Grupo Latino-americano de Pesquisa em Oncologia (Lacog) e do Instituto do Câncer do Hospital Mãe de Deus, em Porto Alegre

O câncer não é mais visto como uma única doença. Técnicas cada vez mais modernas permitem identificar as alterações genéticas que estimulam o crescimento das células cancerígenas de cada tipo de tumor. Com isso, os tratamentos passam a ser direcionados a alvos específicos e os ganhos na oncologia se mostram expressivos. As novas opções terapêuticas levam esperança para os pacientes e indicam que a medicina personalizada, uma realidade em todo o mundo, pode ser mesmo promissora.

O tratamento do câncer começou a mudar a partir do Projeto Genoma Humano, concluído em 2003, que mapeou toda a sequência do DNA. Em seguida, surgiram análises moleculares precisas, que permitiram dividir a doença de acordo com a alteração genética relacionada a cada tumor. Já se sabe, por exemplo, que existem mais de 30 tipos de câncer de pulmão. “O câncer está sendo estratificado segundo alterações moleculares passíveis de ser tratadas por medicamentos específicos. É como se estivéssemos tratando doenças completamente diferentes, entre elas doenças raras, que atingem 1% dos pacientes”, informa o presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), Evanius Wiermann.

Os avanços apontam para o que se chama de medicina personalizada, em que medicamentos são desenvolvidos para combater um determinado tipo de tumor. A terapia-alvo é uma das estratégias que revolucionaram o tratamento do câncer, por ser capaz de atingir partes específicas das células cancerígenas, oferecendo menos danos às células saudáveis e reduzindo efeitos colaterais. “Individualizar o tratamento não é nada mais que conhecer melhor a doença, descobrir o que está ocorrendo e usar a droga certa. Se sei que as células cancerígenas precisam de novos vasos sanguíneos para se desenvolver, vou inibir o processo”, esclareceu o diretor do Grupo Latino-americano de Pesquisa em Oncologia (Lacog) e do Instituto do Câncer do Hospital Mãe de Deus, em Porto Alegre, Carlos Barrios. “Poderei não curar, pois o câncer é inteligente e cria outros mecanismos, mas vou mudar o curso da doença.”

Os primeiros a se beneficiar da terapia-alvo foram pacientes diagnosticados com leucemia mieloide crônica, que passaram a ser tratados com inibidores de tirosina quinase, remédios que conseguem destruir a proteína ligada ao crescimento das células cancerígenas. A doença é controlada de tal maneira que os pacientes vivem décadas com qualidade de vida e virtualmente curados. As novas drogas também aumentaram a sobrevida de pacientes com câncer de pulmão originado por uma mutação genética específica. Eles chegam a viver três vezes mais. “Estamos caminhando para descobrir outras moléculas que podem ser alvo de bloqueio. Não quer dizer que vamos ficar sem o tratamento convencional com quimioterapia, mas significa que, às vezes, vamos associá-lo com outros medicamentos”, pontua o diretor de relações institucionais do Cetus Hospital Dia, Charles Pádua.

RESULTADOS Duas pacientes do centro de oncologia participam de um estudo internacional que analisa a eficácia de um medicamento oral, testado em estágio avançado de câncer de mama. O tratamento tenta bloquear um mecanismo intracelular intimamente relacionado com a resistência do tumor. “O medicamento está sendo associado à droga convencional para reverter o mecanismo de resistência que é adquirido ao longo do tratamento das mulheres. Em determinado momento, temos que mudar a estratégia, porque o câncer fica resistente à droga”, explica Pádua, o único investigador de Belo Horizonte. O oncologista já utiliza outros medicamentos que interferem em diferentes alterações genéticas ligadas ao câncer de mama.

Outra maneira de personalizar o tratamento do câncer é utilizar a imunoterapia, cujas drogas estimulam o sistema imunológico, em vez de atuar diretamente no tumor. “Por algum motivo que não conhecemos, os mecanismos naturais de defesa acabam falhando no combate à doença. A ideia é fazer com que o corpo reconheça como estranhas as células tumorais e possa combatê-las”, informa o oncologista clínico do A.C. Camargo Cancer Center, Fábio Nasser Santos. Estudos internacionais mostram resultados promissores em pacientes com melanoma, câncer de pele mais agressivo ligado a uma mutação específica. Até então, não havia nenhuma opção terapêutica para eles. Ainda não se pode falar em cura no contexto da doença avançada, mas Santos diz que o novo tratamento consegue controlar o câncer por mais tempo. A sobrevida dos pacientes com melanoma, que antes era, em média, de nove a 10 meses, pulou para 20 meses com a imunoterapia, ganho significativo para a oncologia.

Menos agressivo

Fora do Brasil, é realidade a terapia celular, considerada um estágio mais avançado da imunoterapia. Médicos norte-americanos e europeus podem recorrer a uma droga que funciona como vacina para tratar câncer de próstata avançado. O medicamento é produzido a partir de células do próprio paciente, manipuladas em laboratório para que possam combater o tumor. A vantagem da terapia celular é ser um tratamento pouco agressivo e aumentar em quatro meses a sobrevida dos pacientes.

Além de desenvolver medicamentos dirigidos, individualizar o tratamento é identificar os pacientes que podem se beneficiar dele. O diretor de relações institucionais do Cetus Hospital Dia, Charles Pádua, lembra que, num passado não muito distante, todas as mulheres com câncer de mama eram submetidas à quimioterapia para complementar o tratamento cirúrgico. “Hoje, temos testes genéticos que podem determinar se a pessoa com tumor em estágio inicial está ou não em determinado grupo de risco. Isso nos possibilita avaliar quem vai ser eleito para a quimioterapia”, destaca. O problema é que o exame custa cerca de R$ 10 mil e não está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS).

“Infelizmente, individualizar o tratamento não é barato. A medicina personalizada economiza recursos, porque você tem a possibilidade de saber quem são os pacientes que vão precisar daquela droga, mas é tudo muito caro”, lamenta o presidente da SBOC, Evanius Wiermann. Considerando que quase 80% da população no Brasil é dependente do SUS, o oncologista percebe que os brasileiros acabam divididos entre os pacientes de convênio, que conseguem ter acesso aos medicamentos, e os da saúde pública, que estão restritos a poucas opções terapêuticas. O desafio dos países em desenvolvimento, de oferecer os novos tratamentos para toda a população, será discutido no congresso da SBOC do ano que vem.

CUSTO ALTO Cada dose do medicamento da linha de imunoterapia que trata pacientes com melanoma custa aproximadamente R$ 70 mil. É preciso tomar pelo menos quatro, o que gera um custo de R$ 280 mil. Alguns convênios cobrem o tratamento, mas o SUS não. Para ter acesso à vacina para câncer de próstata, os brasileiros precisam ir aos Estados Unidos. Wiermann teme que a droga nem chegue ao Brasil, devido ao alto custo (mais de R$ 200 mil por três aplicações). “Muitas das patentes vão cair ao longo do tempo e dar espaço para os medicamentos similares, forçando a queda dos preços”, enxerga. Por enquanto, muitos pacientes precisam recorrer à Justiça para receber do governo o tratamento gratuito.

Por outro lado, o oncologista Charles Pádua acredita que é preciso ter critério para incluir tanto na rede pública quanto na privada tratamentos que realmente deem resultados. “Temos que tirar o foco do valor do remédio e pensar na pessoa que precisa dele. Não importa se custa R$ 1 mil ou R$ 100 mil, desde que mude a vida do paciente”, pontua. No início do ano, foram incluídos no rol da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) vários novos medicamentos para o câncer, que devem ser oferecidos pelos convênios. O SUS também passou a oferecer novas drogas, mas ainda não abrange todos os tratamentos.

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Daqui para o futuro

Novas mutações genéticas


É bem provável que o caminho para a cura do câncer passe pela medicina personalizada. Por isso, o oncologista clínico do A.C. Camargo Cancer Center, Fábio Nasser Santos, lembra que falta aprofundar os estudos de novos medicamentos, pois a solução para o problema não está em simplesmente desenvolver drogas que atuam em determinado mecanismo celular. O desafio, na opinião do especialista, é entender por que certos tratamentos funcionam por um determinado tempo e descobrir uma maneira de combater a resistência do câncer, já que células cancerígenas mais resistentes acabam sobrevivendo e voltam a se multiplicar. Assim, será possível oferecer aos pacientes medicamentos que agem em novas mutações genéticas, permitindo que eles respondam melhor ao tratamento e vivam por mais tempo.

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Personagem da notícia

Ricardo José do Amaral Caldeira
63 anos, coronel reformado

Curado de um melanoma

O diagnóstico se confirmou há nove anos. Ricardo descobriu que uma verruga no braço era sinal de melanoma, câncer de pele mais agressivo. Cinco anos depois, o militar carioca teve que operar para retirar três nódulos nos pulmões e um na coxa direita. Um deles voltou no ano seguinte. Como se recusou a ir de novo para a sala de cirurgia, Ricardo buscou outra alternativa. Começou primeiro pela quimioterapia, mas o tumor voltou a crescer. Foi então que os médicos decidiram testar um novo medicamento com probabilidade de 5% de resultado positivo, e o câncer de Ricardo desapareceu. Nem a equipe responsável pelo exame que constatou o sumiço acreditou, pois nunca tinha visto um melanoma regredir. “Ainda existe uma chance de o câncer voltar, mas do jeito que o remédio atacou meu organismo, não acredito. Em novembro, vai fazer dois anos que não estou tomando mais nada”, comemora. Ricardo conseguiu fazer o tratamento gratuitamente no A.C. Camargo Cancer Center, em São Paulo.

Quanto menos cor, melhor‏

Quanto menos cor, melhor 
 
Pesquisadores da UFMG desenvolvem uma forma mais simples, barata e rápida de medir a quantidade de corantes artificiais presentes em bebidas e balas 
 
Paula Carolina
Estado de Minas: 01/09/2014


Scanner leva apenas um minuto para mandar as figuras das amostras para o computador, enquanto no método tradicional gastam-se 15 ( Edésio Ferreira/EM/D.A Press)
Scanner leva apenas um minuto para mandar as figuras das amostras para o computador, enquanto no método tradicional gastam-se 15
Imagens geradas por equipamentos de baixo custo, como scanners e aparelhos de telefone celular, são essência de pesquisa de alunos de mestrado, doutorado e iniciação científica do Departamento de Química da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). O objetivo dos trabalhos, cuja linha de desenvolvimento é a aplicação da quimiometria (área em que se aplicam estatísticas multivariadas em dados químicos), é, por meio das imagens obtidas e analisadas em softwares específicos, saber a quantidade de corantes presentes em bebidas e balas. O método, que pode ser aplicado na indústria, desde que haja profissionais qualificados, é mais econômico, rápido e simples.

Como parte do trabalho de doutorado, o engenheiro de alimentos Bruno Gonçalves Botelho, com a ajuda da aluna de iniciação científica Luciana de Paula Assis, e sob a orientação do professor Marcelo Martins de Sena, mestre e doutor em química analítica, decidiu verificar a quantidade do corante amarelo crepúsculo (sunset yellow) presente em refrigerantes do tipo Fanta laranja e isotônicos da mesma cor. Foram usadas somente bebidas em que esse é o único corante adicionado. O projeto foi financiado pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Bioanalítica (INCT-Bio/CNPq) e pelos programas Pronoturno e de recém-doutores das pró-reitorias de Graduação e de Pesquisa da UFMG, respectivamente.

“A linha de pesquisa é o uso da quimiometria aplicada na química analítica, que tem a preocupação de desenvolver métodos de análise que sejam mais baratos, mais rápidos e mais simples”, afirma o professor Marcelo Martins de Sena. No caso da verificação de presença dos corantes, ele ressalta a importância da parte econômica: enquanto um scanner custa cerca de R$ 200, os equipamentos usados no método tradicional, espectrofotômetro e cromatógrafo, têm preço em torno de R$ 30 mil e R$ 300 mil, respectivamente.

E não é só isso. “No método tradicional, é preciso usar solvente para separar o corante. Isso gera um resíduo, que depois tem que ser descartado. Como, no método que usamos, a separação é feita pelo computador depois da leitura das imagens, não há resíduo, o que é uma vantagem também ecológica, e nem ocorre a destruição do material pesquisado, que é preservado”, continua Bruno. “Aliás, quanto menos se manipula a amostra, melhor e menor a chance de erro”, acrescenta. Economia e tempo também estão relacionados: “A rapidez reflete-se no que seria o preço final da análise, com economia de mão de obra. Para escanear leva-se um minuto, enquanto no cromatógrafo gastam-se 15”, compara.

Amostras Foram usadas 83 amostras de 25 marcas de refrigerantes e isotônicos semelhantes, sendo que, de cada uma, foram analisadas cerca de três amostras de lotes diferentes. No caso dos refrigerantes, o primeiro passo foi colocar as amostras em um aparelho de ultrassom para que fosse retirado o gás (os isotônicos não precisam). Em seguida, foram distribuídas em placas de petri (recipientes usados em cultura de micro-organismos) e colocadas em uma bandeja para serem levadas ao scanner. Pronto. “A separação física foi substituída pela separação matemática”, explica Bruno. E o restante ficou por conta do computador, ou melhor, do recorte e análise das imagens com a aplicação de complexos recursos de álgebra e matemática aplicados à química. Claro que só foi possível graças ao conhecimento e domínio dos softwares pelos pesquisadores. Essa, aliás, é a grande dificuldade da indústria para uso desse tipo de método, segundo o professor e orientador da pesquisa. “Falta mão de obra qualificada para a interpretação dos dados”, ressalta Marcelo.

Os dados obtidos foram confrontados com o método tradicional de uso do cromatógrafo, sendo compatíveis, respeitando-se a margem de erro permitida, que, para o caso, é entre menos de 20% e mais de 10%. Todas as bebidas analisadas estavam dentro do padrão aceito pela legislação brasileira. Aliás, foi detectada a presença do corante em índices muito inferiores ao máximo permitido. Do amarelo crepúsculo, segundo Bruno, são permitidos 100 miligramas (mg) de corante por litro da bebida e, em nenhuma, esse valor passou da metade. Uma curiosidade foi que as marcas menos conhecidas de refrigerante foram as que apresentaram maior quantidade de corante na bebida. Nos isotônicos, o índice foi bem baixo: entre 7mg e 10mg.

Os pesquisadores acrescentam, porém, que o baixo teor de corantes em relação ao permitido por lei não é motivo para comemoração, já que existem grandes discussões com o objetivo de tornar a legislação brasileira mais rígida. “A questão é estética e isso tem que ser discutido do ponto de vista toxicológico. Se a Fanta laranja fosse transparente, o gosto seria o mesmo”, pondera a química Kele Cristina Ferreira Dantas, mestranda em química analítica, que também participou do trabalho.

celular Dando continuidade, Bruno pesquisou o teor do corante vermelho 40 presente em balas do tipo Ice Kiss, dos sabores morango, cereja e tutti-frutti. Nessa fase, a dificuldade foi pensar uma maneira de obter as imagens, já que a bala, no estado sólido, não teria como ser escaneada da mesma forma. “Então, resolvi usar o celular para fazer a foto da bala e, a partir daí, usar o mesmo método”, afirma. Para garantir a qualidade da imagem e em igualdade de condições para todas as balas, Bruno criou uma caixa preta, com espaço para colocação do produto e acesso à câmera do celular. Aí, foi só repetir o processo de análise das imagens por computador. Da mesma forma, os dados obtidos foram confrontados com o método tradicional, dentro da margem de erro aceitável, em torno de 10%. Do vermelho 40 são aceitáveis até 300mg por quilo de bala e em nenhum das balas analisadas foram detectados mais de 100mg.

Amarelo Depois de participar como ajudante na pesquisa de Bruno, a química Kele Cristina Ferreira Dantas decidiu, para o desenvolvimento de sua dissertação de mestrado em química analítica, pesquisar bebidas com a presença de dois corantes: o amarelo crepúsculo e a tartrazina, de tom amarelo-claro. Juntos, os dois corantes são encontrados em refrigerantes e isotônicos cítricos como a Fanta maracujá e refrigerantes de maçã. A pesquisa ainda está em andamento e o objetivo é ver se o método criado funciona também quando existe a presença de dois corantes.
O professor Marcelo Martins orienta os estudantes   Kele Cristina (mestrado) e Bruno Gonçalves (doutorado) em seus trabalhos   ( Edésio Ferreira/EM/D.A Press)
O professor Marcelo Martins orienta os estudantes Kele Cristina (mestrado) e Bruno Gonçalves (doutorado) em seus trabalhos

Alguns são permitidos

A Resolução 44 da Comissão Nacional de Normas e Padrões para Alimentos (CNNPA), do Ministério da Saúde, de 1977, com algumas alterações e acréscimos da Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) 5/2007, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), regulamenta o uso de corantes em alimentos e bebidas no Brasil. Entre os corantes orgânicos sintéticos artificiais (caso dos analisados na pesquisa, pois há também os corantes naturais), são permitidos atualmente: amarelo crepúsculo, tartrazina, azul brilhante FCF, indigotina, amaranto, eritrosina, ponceau 4 R, vermelho 40, azorrubina, verde rápido e azul patente V. Os três últimos, conforme explica a professora de ciência de alimentos da Faculdade de Engenharia de Alimentos da Unicamp Helena Teixeira Godoy, não fazem parte da legislação brasileira, mas foram acrescentados em função do Mercosul e da consequente entrada de produtos dos países-membros no Brasil. Ela explica que, caso a indústria brasileira queira usá-los, basta pedir autorização à Anvisa. Os corantes sintéticos são frequentemente tema de pesquisas sobre o possível grau de nocividade à saúde. Alguns como o amaranto e o ponceau 4 R já foram banidos em países como os EUA. Problemas como hiperatividade e até câncer são ligados ao uso de corantes em alimentos. No entanto, a professora Helena ressalta que os estudos são controversos e até hoje ainda não existe comprovação dos males que causam à saúde, daí o fato de ainda serem permitidos não só no Brasil mas em muitos países.

O que são muletas Eduardo Amaral Gomes

Eduardo Amaral Gomes
Médico ortopedista e traumatologista
Estado de Minas: 01/09/2014 



O uso de muletas, seja qual for o tipo, é extremamente útil na reabilitação de lesões traumáticas ou pós-operatórias, bem como em outras patologias. Tem maior aceitação social, ao contrário das bengalas, talvez pelo uso por pequenos períodos, e é de uma praticidade ímpar, além de ser realmente efetiva. Seu uso dá até certo status social, com múltiplas gentilezas ao usuário, principalmente ao atravessar uma rua ou entrar na fila de um banco.

Basicamente, temos dois tipos de muletas: a axilar e a canadense. A muleta axilar é também conhecida como muleta-padrão ou regular. Ela é constituída, essencialmente, de hastes duplas, no sentido proximal, terminando com uma haste somente, no sentido distal. A parte axilar é encurvada, arredondada e almofadada, seguindo a forma da axila, visando ao maior conforto. O suporte para a mão, chamado empunhadeira ou manopla, é revestido com a chamada almofada de aderência. É confeccionada em madeira ou em alumínio, com um dispositivo para regulagem de altura da mão e outro para a regulagem do comprimento. Contém uma ponteira de borracha para evitar o escorregamento. É mais usada para os casos agudos de pacientes que precisam de maior base de sustentação.

A muleta tipo canadense, também chamada muleta de antebraço, tem uma haste única, de alumínio, com regulagem de altura e um suporte para o antebraço, tipo calha, chamada braçadeira. Essa braçadeira é, em certos casos, articulada e deve achar-se logo abaixo de cotovelo com um dispositivo onde se encaixa a mão: a empunhadeira ou manopla. Também tem uma ponteira revestida de borracha, para efeito antideslizante. Ela permite maior estabilidade dos membros superiores e é usada para os casos mais crônicos e para os jovens. Tem melhor aspecto estético, é mais leve e fácil de transportar, principalmente em automóveis, por ser menor e mais delicada.

Quanto ao tamanho, existem o tamanho P (pequeno, entre 1,28m a 1,50m), M (médio, entre 1,48m a 1,70m), G (grande, entre 1,68m a 1,90m) e GG (extragrande, de 1,90m). Para crianças, há o tamanho pequeno, que varia de 1,30m a 1,50m. De modo geral, suportam o peso de até 100kg; para um peso maior, usam-se as muletas tamanho GG, geralmente confeccionadas em madeira.

O uso das muletas, qualquer que seja o tipo, visa reduzir a descarga de peso em um membro inferior e melhorar o equilíbrio e a estabilidade, para que o paciente possa deambular com maior facilidade e desenvoltura. De preferência, devem ser usadas aos pares; o uso de uma só muleta provoca uma marcha com desequilíbrio acentuado da postura. Nesse caso, uma bengala é indicada. As muletas axilares não devem se apoiar na axila. A parte axilar deve ficar de 2cm a 3cm abaixo da linha axilar, ou seja, justamente para não se apoiar na axila. O apoio deve ser feito no tórax, lateralmente, nas mãos e nos punhos. O cotovelo deve formar um angulo de 30 graus com o antebraço e a mão e o punho devem estar firmemente apoiados na empunhadura. Deve-se, também, regular a altura total das muletas e da empunhadura, para formar o ângulo de 30 graus com o cotovelo.

As muletas canadenses devem ser reguladas na altura para que o cotovelo permaneça em um ângulo de 30 graus. Deve-se apoiar firmemente na empunhadura, visto que o punho recebe até três vezes o peso do corpo durante a marcha. A braçadeira deve ficar 5cm abaixo do cotovelo.

Concluindo, o uso das muletas, qualquer que seja o tipo, é extremamente benéfico para lesões específicas ou patologias do sistema locomotor. Um treino com um ortopedista é fundamental. Melhor ainda com um fisioterapeuta, pois ele foi devidamente treinado, tem tempo e paciência para tal mister.

Importante, também, é fazer o tratamento adequado com disposição e vontade férrea para a recuperação das lesões, não fazendo das muletas uma muleta.

Eduardo Almeida Reis-Um gesto‏

O barítono foi ao paletó, retirou as entradas para a plateia do Teatro Municipal e as deu ao barbeiro. Gestos como esse mostram o caráter de um homem


Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 01/09/2014





A um quarteirão do Teatro Municipal, no Rio, havia o Salão Elite, nome que irrita o honoris da Silva. Barbearia frequentada por brasileiros e turistas que certamente apupariam a presidenta (sic) inventada pelo analfaboquirroto e sufragada pela idiotice eleitoral de um país grande e bobo.

No salão trabalhava um barbeiro italiano chamado Giuseppe, que conheci velhinho quando andei aparando a juba naquele estabelecimento. Na década de 20, o famoso barítono italiano Titta Ruffo, batizado Ruffo Titta Cafiero (1877-1953), fez temporadas no Municipal. Dizia-se que namorava a soprano Claudia Muzio (1889-1936), nascida em Pavia, que também cantava no Rio.

Titta Ruffo cortava o cabelo e fazia a barba com o Giuseppe. Num dia em que o casal cantaria à noite foi muito grande a afluência de ricos e famosos ao Salão Elite pedindo ao barítono que intercedesse para conseguirem entradas, todas esgotadas. Ricos e famosos daquele tempo nunca estiveram na Ilha de Caras, mas eram conhecidos na capital federal pelos cargos que ocupavam. A todos eles o barítono explicava que nada poderia fazer, pois a lotação do Municipal estava esgotada.

Terminando a barba, pagou pelo serviço e disse: “Aspetta un puó, Giuseppe”. Foi ao paletó pendurado num cabide, retirou as entradas para duas poltronas na plateia e as deu ao barbeiro. Nessa noite, usando seu melhor terno, com a mulher metida no vestido da missa, Giuseppe assistiu à ópera sentado numa das melhores poltronas do Municipal e desde então, sempre que se referia ao fato, chorava, como chorou no dia em que me contou.

Gestos como esse, que custam pouco a quem os faz, mostram o caráter de um homem. Procurado por ministros de Estado, senadores da República, magistrados ilustres, deu as poltronas ao barbeiro. Não o conheci cantando, porque encerrou a carreira em 1931. Morreu do coração em Florença aos 76 anos, em 1953. Foi considerado gênio do bel canto por um dos mais importantes produtores de discos na década de 20.

Amaciantes

Enganam-se os que pensam que só existem amaciantes para roupas. A internet anuncia amaciantes para carnes, calçados, cabelos etc. Desconfio de que existem amaciantes para alguns jornalistas e vou explicar por quê. Antes, porém, quero aproveitar a viagem ao Google para informar que os amaciantes para roupas são agentes catiônicos que atuam na redução das cargas negativas sobre os tecidos tratados, oferecendo maciez e lubricidade às suas fibras, como também propriedades bacteriostáticas. Lubricidade, no caso, não é propensão para a lascívia, excitação, sensualidade exagerada, mas a qualidade de escorregadio, a umidade, a lisura.

Como ninguém sabe o que sejam os agentes catiônicos, volto ao amaciante midiático. Duas vezes critiquei, nesta bela coluna, o péssimo serviço de uma operadora de tevê a cabo, que me custava uma fortuna por mês. Citei o nome da operadora, de resto muito conhecida no Brasil e no exterior.

Duas vezes recebi, através do endereço eletrônico do jornal, convite para entrar em contato com uma agência do Paraná. Desconfiado que sou, fui ao site da tal agência e constatei que a sua razão social é confusa, dando a entender que foi pensada para fazer acertos de natureza obscura.

Creio desnecessário dizer que não entrei em contato com a “agência”, que não teria bala para calar um sujeito que, em 49 anos de mídia impressa, continua virgem de agentes catiônicos amaciantes.

O mundo é uma bola

1º de setembro: faltam 121 dias para acabar o ano. Em 70, destruição de Jerusalém pelo imperador romano Titus Flavius Vespasianus Augustus (39-81), que foi casado com Arrecina Tertulla em 64 e 65, trocando-a por Márci Fumila em 65: coisa feia esse negócio de trocar de mulher. Em 655 o papa Martinho I é exilado por Constantino II e o vosso philosopho, séculos mais tarde, acaba de ficar sem internet ao clicar no santo nome de Martinho I para encher linguiça neste mundo que é uma bola. Tem nada, não: a gente volta.

Pois é, internet voltou e Martinho I foi para córner, que os idiotas chamam de escanteio. Em 1081 início do pontificado de Lúcio III como sucessor de Alexandre III. Pensando bem, é maldade esquecer Martinho I, nascido em Todi, na Itália, em 1590. Mas o Google não informa seu nome de batismo, motivo pelo qual volto ao dia 1º de setembro, desta vez do ano de 1422, para contar que Henrique VI foi declarado rei da Inglaterra com oito meses de idade, ficando sua coroação para 6 de novembro de 1429, já então um idoso de sete aninhos. Casou-se com Margarida de Anjou e morreu aos 49 na Torre de Londres executado por ordem de Eduardo IV. Hoje é o Dia da Bailarina e do Bailarino, do Caixeiro-Viajante e do Professor de Educação Física.

Ruminanças

“Os escritores são de duas espécies: os sabiás e os vira-bostas” (Guilherme Figueiredo, 1915-1997).

COLUNA DO JAECI » Mudança no calendário e na postura‏

COLUNA DO JAECI » Mudança no calendário e na postura
Todos merecem uma segunda chance? Acredito que sim. Desde que seja a pessoa certa no lugar certo 
 
Jaeci Carvalho
Estado de Minas: 01/09/2014


 (ALEXANDRE GUZANSHE/EM/D.A PRESS - 7/7/14)

Miami – No voo de Confins para os Estados Unidos havia muitos cruzeirenses ávidos por saber o resultado de Cruzeiro x Chapecoense. Como desembarcamos por volta das 19h (20h no Brasil), e levamos mais de uma hora para passar pela imigração, soubemos só mais tarde que o campeão do turno do Brasileirão agora precisará de apenas 10 vitórias para ser tetracampeão brasileiro. Conversei com alguns, que vieram para o jogo da Seleção contra a Colômbia, na sexta-feira, e outros que moram aqui e estavam voltando. Conversei também com nosso amigo José Henrique Salvador, que faz MBA em gestão em Nova York, filho do grande médico Henrique Salvador, do Mater Dei. Ele é neto do doutor José Salvador, dono do Mater Dei, referência em hospital no Brasil. Atleticano roxo, estava feliz pela convocação de Diego Tardelli, mas reticente pela volta de Dunga ao comando técnico do time. Os cruzeirenses também vibraram por saber que seus principais jogadores, Éverton Ribeiro e Ricardo Goulart (artilheiro do Nacional ao lado de Marcelo Moreno), estarão aqui, mas mostraram uma ponta de preocupação pelo fato de o time ficar três jogos sem seus dois melhores atletas.

É justamente aí que quero entrar, para dizer à CBF que se não houver uma mudança de postura com relação ao calendário mundial, nada feito. É inadmissível tirar jogadores importantes de seus clubes, causando-lhes prejuízo, já que o Brasileirão não parou. Há uma tendência de que se corrija isso quando houver competições oficiais, mas é pouco. É preciso fazer o mesmo quando houver amistosos, com uma ou duas semanas de paralisação dos nossos campeonatos. A mudança de postura deve ser total, a começar por investimento pesado na base. É engraçado que se pegarmos o currículo de Alexandre Gallo, de quem gosto como pessoa, vamos perceber que ele fracassou por onde passou após encerrar a carreira de jogador. Rebaixou o Náutico e não conseguiu fazer nem um bom trabalho pelos clubes que dirigiu. Mas caiu no gosto da CBF e hoje é o coordenador das divisões de base. A pergunta que faço é: como vamos revelar grandes atletas, se o currículo de quem comanda a base é ruim?

Aí, chegamos a Dunga, outro que foi um fracasso no comando da Seleção principal, descaracterizando o nosso futebol, jogando-o na lama de forma pobre. Todos merecem uma segunda chance? Acredito que sim. Desde que seja a pessoa certa no lugar certo. O saudoso mestre Telê Santana teve sua segunda chance em 1986, depois de perder o Mundial de 1982, com aquela Seleção que ficou na história pelo belo futebol apresentado. Aí está uma explicação convincente. Ele perdeu, mas mostrou o melhor futebol de todos os tempos. Já Dunga mostrou o contrário, e ganha de presente, caindo em seu colo, esta segunda chance. Ele deve estar pensando que, como ocorreu quando era jogador, ocorre agora de novo. Foi execrado em 1990 e levantou a taça quatro anos depois, nos Estados Unidos. Será que essa coincidência também o anima? Saber que seu novo trabalho, embora com o esquema velho, começa na Terra do Tio Sam... Superstição à parte, não creio nisso. Acho que iniciaremos com um retrocesso absurdo, pois para dirigir o maior patrimônio esportivo do povo brasileiro é preciso ter currículo, história, conquistas. Se futebol é momento, como sempre foi no passado, a hora é de Marcelo Oliveira, disparado o melhor técnico brasileiro. Mas perguntem aos cruzeirenses o que eles acham. Não estão nem aí para a Seleção e querem mais é que seu técnico e seus jogadores fiquem na Toca da Raposa.

É curioso como o nosso futebol anda maltratado, sem perspectiva. Tivemos um grupo que não treinava, aparecia nas redes sociais o tempo todo e que desempenhou o pior papel da nossa história com aquele vexame diante da Alemanha. E a gente olha e percebe que 10 daqueles fracassados chegarão aqui hoje para o começo de um trabalho que visa à Rússia em 2018. Só pode ser brincadeira. O que Maicon e Marcelo podem trazer de novo para a Seleção? Não acredito neles e nem em mais outra dúzia de fracassados. Mudança de postura implica alterar o grupo que errou. Esses jogadores estão em baixa, e, se analisarmos friamente, talvez tenha sido essa última janela a que menos exportamos atletas. Isso é grave. Nossos profissionais estão em baixa no mundo, mas, para Dunga, eles são os melhores. É preciso convocar aqueles baseados em equipes que dão certo. Pegar cinco ou seis do Cruzeiro, três do Inter, dois do Atlético, e assim formar uma base. Porém, com o calendário ajustado para que as competições sejam suspensas no período em que a Seleção joga. Ninguém quer ceder jogador e ter o trabalho do time comprometido.

Já disse que não sou revanchista como Dunga. Estarei aqui trabalhando, representando a minha empresa, e o mínimo que exigimos é o respeito mútuo. Perguntaremos aquilo que é pertinente para nosso leitor, e o técnico responde ou não. Relação estritamente profissional. Dunga não irá à minha casa jantar nem eu irei à dele. Não haverá críticas pessoais, mas muitas restrições ao profissional, pois não é a pessoa certa para o cargo. Porém, como no Brasil os valores estão invertidos, no comando da equipe canarinho não seria mesmo diferente. É com Dunga, Neymar, Maicon (foto) e Marcelo que iremos buscar o hexa na Rússia em 2018. Façam suas apostas, pois a minha já está feita, e digo, com quatro anos de antecedência, que não chegaremos como favoritos, e sim como mais um participante. A não ser que no meio do caminho haja uma mudança radical e tenhamos um técnico competente e vencedor no comando da equipe. Por enquanto, porém, vamos de Dunga mesmo.