quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Gilberto Dimenstein


Pequena vitória contra a imbecilidade

FOLHA DE SÃO PAULO
Uma gigantesca obra "[pintada num prédio]": http://catracalivre.folha.uol.com.br/2012/12/artista-organiza-crowdfunding-para-manter-graffiti-na-luz/ na Luz, região central de São Paulo, perto da área mais conhecida como cracolândia, tem gerado uma bela história de solidariedade. Vemos aí um gesto de respeito com São Paulo, coisa rara em nossa cidade.
Tal painel está ameaçado de destruição por um simples motivo: o artista Daniel Melim, autor da obra, tem que pagar o aluguel da parede. A conta: R$ 26 mil por ano. Melim recebeu um prazo antes que tudo fosse pintado de branco. Mas ele não tinha dinheiro --e já estava conformado.
Em movimento inusitado de preservação da paisagem de uma cidade, foi criado nesta manhã um pedido de ajuda num site de vaquinhas chamado Catarse. A manutenção da obra ali, na parede, foi apresentada como um presente para São Paulo.
Quando o artista teve essa ideia, um tanto desesperada, para salvar seu painel, muita gente desconfiou, achou que, especialmente no fim de ano, ninguém prestaria atenção.
No começo da tarde desta quinta-feira, a vaquinha já tinha viralizado a tal ponto que boa parte do dinheiro já tinha sido arrecado.
São estes gestos que nos permite encontrar a beleza de São Paulo. Uma vitória contra a imbecilidade. Pequena. Mas uma vitória.
Divulgação/Daniel Melim
Obra do artista Daniel Melim, na Luz, em São Paulo
Obra do artista Daniel Melim, na Luz, em São Paulo

Quadrinhos


CHICLETE COM BANANA      ANGELI

ANGELI
PIRATAS DO TIETÊ      LAERTE

LAERTE
DAIQUIRI      CACO GALHARDO

CACO GALHARDO
NÍQUEL NÁUSEA      FERNANDO GONSALES

FERNANDO GONSALES
NÍQUEL NÁUSEA      FERNANDO GONSALES

FERNANDO GONSALES
MUNDO MONSTRO      ADÃO ITURRUSGARAI
ADÃO ITURRUSGARAI
MALVADOS      ANDRÉ DAHMER

ANDRÉ DAHMER
GARFIELD      JIM DAVIS

JIM DAVIS

Regulamentação da profissão de médico é aprovada em comissão


Profissionais como enfermeiros temem que lei limite sua atuação
JOHANNA NUBLATDE BRASÍLIAApós uma década de tramitação, o projeto de lei que regulamenta a profissão de médico caminha para a última votação no Congresso.
O chamado "Ato Médico" foi aprovado ontem pela Comissão de Assuntos Sociais do Senado e segue para votação no plenário da Casa. Se aprovado, vai à sanção da presidente Dilma Rousseff.
O texto define normas gerais para a profissão e define o que são ações privativas do médico, como indicação de internação e alta nos hospitais, diagnóstico de doenças e prescrição terapêutica.
O projeto é apoiado pelo CFM (Conselho Federal de Medicina), mas vem sendo bombardeado de críticas por outras profissões da saúde, como a enfermagem e a psicologia. Isso porque elas consideram que, ao definir o que é privativo dos médicos -por exemplo, o diagnóstico-, o texto limitou os campos de ação das demais profissões.
Gelson Albuquerque, primeiro-secretário do Conselho Federal de Enfermagem, diz que a aprovação do projeto pode ter impacto negativo na rede pública de saúde.
"Os médicos não querem ir para o interior, para fronteiras, para o Norte (...) Muitas coisas que os médicos deveriam fazer estão sendo feitas pela enfermagem. E se não tem médico? Tchau e [o enfermeiro] vira as costas?"
Deverá haver pelo menos uma mudança na rede pública com o projeto, explica Salomão Rodrigues, coordenador da comissão do "Ato Médico" no CFM. Ele diz que as equipes de saúde da família deverão, todas, ter médicos.
"Mais de metade das equipes não tem médico, o que é um fator negativo. Como posso entender uma equipe que cuida da saúde de 5.000 pessoas não ter médico?"
O texto deve ser votado em março de 2013. Para o Conselho Federal de Enfermagem, se for aprovado como está, haverá questionamentos quanto à sua constitucionalidade. Os senadores que relataram o projeto afirmaram que o texto não limita as demais profissões.
    FOLHA DE SÃO PAULO

Estudo questiona o uso de medida única para a inteligência


Canadenses usaram ressonância magnética e teste com mais de 40 mil pessoas na internet para estudar cognição
Resultados mostraram que memória, raciocínio e habilidade verbal são independentes; dado vai contra medição de QI
FERNANDO MORAESCOLABORAÇÃO PARA A FOLHA DE SÃO PAULOUm estudo publicado ontem na revista científica "Neuron" traz evidências de que não existe uma propriedade única e geral do cérebro chamada inteligência, passível de ser medida por meio de testes como os de QI.
"Outros estudos já haviam sugerido que há vários tipos de inteligência. Contudo, o nosso trabalho é o primeiro a mostrar que cada um deles está associado a um tipo diferente de área cerebral", explicou à Folha Adam Hampshire, líder da pesquisa, que trabalha na Universidade de Ontário Ocidental (Canadá).
A pesquisa utilizou ressonância magnética funcional, modelagem computacional e o maior teste de inteligência online jamais feito para chegar aos resultados.
Dezesseis pessoas responderam a uma bateria de 12 testes cognitivos envolvendo memória, raciocínio, atenção e habilidades de planejamento enquanto passavam pela ressonância magnética.
O exame mapeava uma região chamada córtex MD, que estudos anteriores haviam relacionado a uma série de tarefas cognitivas.
Os resultados mostraram que atividades em que era utilizada a memória de curta prazo (usada para lembrar um novo número de telefone por alguns segundos, por exemplo) ativavam uma rede específica do córtex MD.
Em tarefas nas quais a informação era processada a partir de regras, como o raciocínio dedutivo, a rede ativada se mostrou diferente.
"Ao examinarmos a atividade cerebral e as diferenças individuais de desempenho, mostramos que há pouca evidência de que exista uma única inteligência geral dominante", diz Hampshire.
A mesma bateria de 12 testes foi aberta a qualquer pessoa na internet. Também havia um questionário sobre a formação dos que responderam e seus hábitos.
Mais de 100 mil pessoas participaram da pesquisa, das quais 44,6 mil preencheram o questionário de forma completa e correta.
Isso trouxe uma quantidade imensa de informações sobre como certos fatores (idade, gênero, tendência a jogar videogame etc.) influenciam as funções cerebrais.
Os dados mostraram que a idade é o fator mais importante na performance intelectual geral. O desempenho é significantemente afetado nas pessoas com 60 anos ou mais quando comparadas àquelas de 20.
A habilidade verbal é a menos afetada com a idade. Já o hábito de jogar videogame está ligado a um melhor desempenho em atividades que envolvem raciocínio e memória de curto prazo, mas pouco influi na habilidade verbal.
E a ansiedade atrapalha de forma moderada a memória de curto prazo, mas tem um impacto quase desprezível nos outros fatores.
Os dados dão suporte à ideia de que esses componentes da inteligência têm base em sistemas cerebrais relativamente independentes.
"Cada tipo de inteligência está relacionado a um diferente conjunto de variáveis demográficas e sociais", diz Hampshire. "Portanto, comparar a inteligência de diferentes populações por meio de um número de QI é uma grande simplificação."

    Conteúdo do ensino superior está amarrado à profissionalização


    ANÁLISE
    ANTONIO FREITASESPECIAL PARA A FOLHA DE SÃO PAULO
    AO INGRESSAR NO ENSINO SUPERIOR, aluno BRASILEIRO DEIXA DE LADO A FORMAÇÃO MAIS ABRANGENTE
    Pela primeira vez o IBGE identificou que 11% dos universitários já tinham outro diploma de curso superior e buscaram um segundo diploma, talvez pela inadequação do sistema universitário brasileiro, em que o aluno tem que fazer escolhas prematuras sobre profissões, eventualmente, dissociadas do mercado de trabalho.
    A adequação desses profissionais ao mercado de trabalho, quase sempre, vem de cursos de pós-graduação lato ou stricto sensu.
    A relevância do conteúdo do ensino superior no Brasil está amarrada na decisão pregressa de que a educação superior existe para oferecer educação profissional, isto é, a profissionalização precoce.
    Logo, desde o ensino médio, com uma evasão superior a 50%, inicia-se um processo de restrição da visão do mundo das gerações futuras, tornando-se candidatos à profissão antes de serem candidatos ao saber.
    Ao ingressarem nas instituições de ensino superior, tendo vindo do ensino básico, em geral, de péssima qualidade, salvo as exceções de elite, os estudantes brasileiros orientam-se para uma matriz profissionalizante, deixando de lado uma formação mais abrangente, humanística, histórica, social, enfim, a educação verdadeira.
    E o que acontece com os que não chegam ao ensino superior? Lotam as cadeias, ficam subempregados ou dependentes da caridade dos governos.
    É um crime não cumprir a Constituição oferecendo educação de qualidade a todos os brasileiros. Quantos Joaquim Barbosa, Villa-Lobos, Oscar Niemeyer e tantos outros brasileiros, com igual potencial, são abandonados no meio do caminho?

      11% dos universitários do país estão na 2ª graduação
      Conclusão é do Censo de 2010; descontentamento com carreira é uma hipótese
      Apesar disso, apenas 10,8% dos jovens com mais de 25 anos tinham completado o ensino superior até 2010
      PEDRO SOARESVENCESLAU BORLINA FILHODO RIOConcluir um curso de nível superior é para uma minoria no Brasil, mas um grupo ainda mais seleto (10,8% do total dos estudantes matriculados no país) voltou para as universidades, segundo dados inéditos do Censo de 2010 do IBGE.
      Os alunos que buscavam sua segunda graduação eram, em geral, mais velhos -o percentual chegava a 30,1% entre as pessoas com mais de 40 anos- e estudavam mais em instituições públicas, onde 13,2% dos estudantes já tinham frequentado curso de nível superior.
      Não havia, porém, diferença significativa entre homens e mulheres, apesar de elas estarem mais presentes em cursos universitários.
      O IBGE não indagou os motivos que levaram os alunos a voltar à faculdade, mas as hipóteses são o descontentamento com a carreira profissional escolhida, a exigência do trabalho atual ou mesmo novas oportunidades de emprego.
      "Como mais estudantes ocupados já tinham concluído o curso de graduação, isso sugere que o mercado de trabalho também proporciona o retorno à universidade", diz Vandeli Guerra, técnica do IBGE.
      Apesar do avanço nos últimos anos, só 10,8% dos jovens com mais de 25 anos tinham completado o ensino superior até 2010 -eram 6,8% em 2000.
      No outro extremo, 49,3% não tinham o ensino fundamental completo -em 2000, esse percentual era de 64%.
      O IBGE pesquisou ainda os tipos de cursos procurados e o maior número de formados era das áreas de ciências sociais, negócios e direito (38,4%), seguidas pela área de educação (20,2%).
      DESLOCAMENTO
      Com a menor oferta de cursos superiores, sobretudo em municípios menores, mais pessoas saíam das cidades onde viviam para estudar.
      No caso dos cursos de graduação, o índice chegava a 29,2%. Já em cursos de pós-graduação, mestrado e doutorado, quase um terço (32,6%) vivia em outras cidades.
      Na média, dos 59,6 milhões de alunos do país (em todos os níveis da educação formal), 7,2% (ou 4,3 milhões de pessoas) faziam o curso fora do município onde moravam e se deslocavam para poder frequentar as aulas.

        FRASE
        "Como mais estudantes ocupados já tinham concluído o curso de graduação, isso sugere que o mercado de trabalho também proporciona o retorno à universidade"

          Haddad quer manter aliado de Kassab na presidência da SPTuris


          Prefeito eleito convida Marcelo Rehder a ficar no cargo; secretário Miguel Bucalem será conselheiro na gestão
          Petista, que elogiou o prefeito na cerimônia de diplomação, quer mostrar que incentiva a aproximação PT-PSD
          EVANDRO SPINELLIGIBA BERGAMIM JR.FOLHA DE SÃO PAULOAmigo do prefeito Gilberto Kassab (PSD), o engenheiro Marcelo Rehder deve ser mantido por Fernando Haddad (PT) como presidente da SPTuris, empresa municipal que administra o Anhembi e o autódromo de Interlagos.
          Kassab não pediu. Foi Haddad quem consultou o prefeito sobre a possibilidade de manter algum de seus auxiliares do primeiro escalão.
          Trata-se de um sinal que Haddad emite à presidente Dilma Rousseff e ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que está fazendo sua parte para garantir a aproximação do PT com o PSD.
          Haddad se esforça para elogiar Kassab publicamente. Ontem, na sua diplomação, gastou um minuto e meio para elogiar o comportamento do prefeito na transição.
          "O prefeito tem se conduzido da maneira mais adequada, mais comprometida com o futuro da cidade, tem colocado 100% de sua equipe à disposição", disse.
          Depois, em entrevista coletiva, retomou os afagos.
          "Quando tem uma eleição e um novo prefeito vai assumir, a conduta daquele que está deixando o cargo faz muita diferença para a democracia. E eu não tenho reparos à maneira como ele [Kassab] vem se conduzindo."
          REUNIÕES
          Além de passar as informações à equipe de transição, Kassab tem tomado a iniciativa de informar Haddad sobre eventuais problemas.
          Foi assim no caso da compra de uniformes escolares, que está atrasada pela resistência de empresas em oferecer parte do material pelo valor estabelecido em licitação.
          Kassab também convida seu sucessor para as reuniões setoriais com a atual equipe. Na segunda-feira, por exemplo, Haddad participou da exposição de técnicos da prefeitura sobre áreas de risco.
          No primeiro dia após a eleição, Kassab disse que o PSD apoiaria Haddad, discurso que encontra resistência entre vereadores da legenda.
          Haddad vai hoje com a família para o litoral nordestino. Quando voltar, após o Natal, vai bater o martelo sobre a permanência de Rehder.
          Outros auxiliares de Kassab serão aproveitados. O secretário de Desenvolvimento Urbano, Miguel Bucalem, que voltará a dar aulas na Escola Politécnica da USP, será conselheiro da SP Urbanismo -receberá R$ 6.000 por mês.


          FRASES
          ANTES
          "Temos o pior prefeito do país, todas as pesquisas mostram. A Dilma está cuidando do povo e nós temos um prefeito que não quer saber. A cidade está muito abandonada"
          FERNANDO HADDAD (PT)
          em comício em Interlagos, na zona sul, em 19 de agosto
          DEPOIS
          "O prefeito tem se conduzido da maneira mais adequada, mais comprometida com o futuro da cidade, colocado 100% de sua equipe à disposição. Não tenho reparos à maneira como ele vem se conduzindo"
          FERNANDO HADDAD (PT)
          na cerimônia de diplomação, ontem

            DIPLOMA NA MÃO
            Continência
            Os vereadores Paulo Telhada (PSDB) e Conte Lopes (PTB), ambos da reserva da PM, levaram práticas militares à diplomação dos vereadores ontem, na Sala São Paulo. Cada aperto de mão era precedido de uma continência. Telhada, ex-comandante da Rota, estava fardado.
            Black power
            Já o vereador Netinho de Paula (PCdoB) ergueu os punhos cerrados assim que recebeu o diploma, em gesto parecido com o dos Panteras Negras, movimento político da comunidade negra americana, fundado nos anos 1960. Netinho será o secretário de Igualdade Racial na gestão de Haddad.
            Vereadores 3G
            Durante o discurso de Roberto Tripoli (PV), o vereador mais votado nas eleições, cinco colegas dele -Antonio Donato (PT), Juliana Cardoso (PT), Patrícia Bezerra (PSDB), Edir Sales (PSD) e Eduardo Tuma (PSDB)- passaram boa parte do tempo digitando ou lendo mensagens no celular.
            Luz na passarela
            A vereadora Noemi Nonato (PSB) destoou dos demais colegas no quesito "traje de diplomação". Um vestido laranja fluorescente se destacava em meio a ternos cinzas ou pretos e vestidos escuros.
            Opositor?
            Assim que Fernando Haddad (PT) foi diplomado prefeito de São Paulo, o vereador Milton Leite, do DEM, partido que faz oposição ao PT no plano nacional, se levantou para abraçá-lo. O parlamentar não confirma se fará oposição ao petista. "Aê, Miltão!", gritaram os colegas.

              Pasquale Cipro Neto


              "Dilma ou Lula venceriam"
              Muitas vezes, a opção pela flexão verbal é contextual e pode revelar a posição de quem fala ou escreve
              Chego para trabalhar, e a amiga e colega Thaís Nicoleti me fala de leitores que escreveram para contestar a concordância empregada na manchete da edição do último domingo da Folha ("Se a eleição fosse hoje, Dilma ou Lula venceriam").
              "A concordância está errada", disseram alguns desses leitores. A razão do erro citada por eles? "Só um dos dois pode vencer a eleição; esse 'ou' é excludente." Devagar com o andor, caros leitores.
              Pois bem. Em muitos casos, a opção pela flexão verbal é essencialmente contextual. O título da Folha se enquadra nesse "perfil". Antes de entrar no mérito da questão em si, lembro que, quando os núcleos do sujeito são unidos por "ou", há duas hipóteses: a) o verbo fica no singular quando o "ou" é excludente: "Arranca Toco ou Bala Mistura será rebaixado" (só um dos dois será rebaixado); b) o verbo fica no plural quando o "ou" não é excludente: "Pedro ou Paulo podem substituir o contundido João" (embora só um dos dois vá substituir o titular, ambos têm condição de fazê-lo).
              Posto isso, volto ao título da Folha. Para começar a entrar na contextualização, lembro o que se lê no início do subtítulo, que nos ajuda na compreensão do contexto: "Datafolha revela que petistas seriam eleitos no primeiro turno". Quem são os "petistas" do subtítulo? São exatamente Dilma e Lula.
              Quem leu a matéria toda viu que em nenhum momento Dilma e Lula aparecem como hipotéticos adversários na pesquisa. Sim, eles são excludentes como candidatos do partido, ou seja, Dilma ou Lula será o nome do PT em 2014 (aí, sim, o verbo fica no singular, ao menos por enquanto, já que política e intestino de crianças sempre podem apresentar "surpresas"...).
              O fato é que a pesquisa indica a vitória do PT na eleição de 2014, qualquer que seja o candidato do partido (Dilma ou Lula). Em suma, embora se saiba que só um dos dois será candidato, o que se quer dizer é que neste momento ambos são imbatíveis.
              É como dizer que pizza ou macarrão agradam. Explico: você recebe um convite para jantar na casa de alguém. Essa pessoa lhe pergunta o que você gostaria de comer, e você diz que prefere a culinária italiana. Aí vêm as propostas da/o anfitriã/o: pizza ou macarrão? E você diz: "Escolha você. Pizza ou macarrão me agradam muito". Por que o plural, embora se saiba que só um dos pratos será escolhido? Porque os dois agradam.
              O que está no título do jornal é semelhante, visto que o que se quer dizer é que Dilma venceria, se fosse a candidata do PT, e Lula venceria, se fosse o candidato do PT. Então, "Dilma venceria" + "Lula venceria" = "Dilma ou Lula venceriam".
              Se a pesquisa revelasse outro panorama (por exemplo, o candidato do PT, qualquer que fosse, em empate técnico com outro candidato, de outro partido), a história e a manchete seriam diferentes. Seria o caso, por exemplo, de publicar algo como "Se as eleições fossem hoje, o candidato do PT ou o do PSB (ou 'o do PSDB' etc.) venceria".
              Por fim, caro leitor, lembro que tratei essencialmente da comprovação da correção da forma verbal escolhida. Em nenhum momento afirmei que não seria correto optar pelo singular, o que também seria possível, se se levasse a ferro e fogo a premissa de que só um dos dois ocuparia a Presidência, ainda que um não concorresse com o outro na eleição. Como afirmei, a escolha é contextual. Se se quer pôr em relevo o fato de que os dois são imbatíveis e que não existe a hipótese de serem adversários, a opção pelo plural parece a mais adequada. É isso.

              Não é bonito dizer isso, mas assassinar muitas pessoas é uma questão de tática


              ANÁLISE
              RICARDO BONALUME NETO
              FOLHA DE SÃO PAULOMatar alguém com uma arma de fogo é fácil. Matar várias pessoas dá mais trabalho. É uma questão de tática e de tecnologia.
              O alvo está parado ou é móvel? Está em um lugar fechado ou ao ar livre? E que arma ou armas usar?
              Ironicamente, a legislação americana pode ter facilitado o trabalho do atirador. Não são vendidos fuzis automáticos nos EUA, mas uma versão semiautomática está disponível.
              Nas arma semiautomáticas, é preciso apertar o gatilho todas as vezes em que se atira.
              No caso da automática, o sujeito aperta uma vez e toda a munição vai embora.
              Ou seja, dependendo do alvo, uma pode ser melhor que a outra. Uma arma automática gasta mais munição e, disparando uma rajada, tem menos precisão.
              A arma semiautomática pode servir para alvos mais precisos, um tiro de cada vez. Como crianças indefesas.
              Claro, o atirador pode também se preparar com munição adicional e o método de reabastecer a arma, como aconteceu em caso recente no Brasil.
              A arma usada nos EUA no massacre de Connecticut na semana passada é conhecida como Bushmaster calibre 0,223 polegada ou 5,56 milímetros, da mesma família de armas do clássico fuzil M-16, usado pelos americanos na guerra do Vietnã e ainda empregado por muitas forças armadas.
              Esse tipo de arma é historicamente conhecida como "fuzil de assalto", classificação meio obsoleta, que tem a ver com o desenvolvimento dos primeiros fuzis automáticos de assalto ("Sturmgewehr") na Segunda Guerra pelos alemães.
              Havia então armas tradicionais como os fuzis -de ferrolho, semiautomáticos, ou automáticos- e submetralhadoras.
              O fuzil tinha maior potência e alcance; a "sub" tinha a capacidade de atirar em rajadas, mas com munição menos potente.
              O "fuzil de assalto" era um híbrido, com um cartucho de calibre intermediário, com menor alcance que um fuzil tradicional, mas com a capacidade de disparar rajadas.
              Virou moda e é a arma básica de todos os exércitos hoje, como o clássico fuzil de assalto russo AK-47, calibre 7,62 mm.
              O M-16 emprega um cartucho de menor calibre que a AK-47, mas tem um bom "poder de parada" do alvo -isto é, faz a vítima recuar ao ser atingida, graças ao efeito de choque produzido por sua alta velocidade.
              E o calibre 5,56 mm tem a vantagem de permitir aos soldados -ou assassinos- carregarem mais munição.
              Não é bonito dizer isso, mas matar pessoas é uma questão de tática.
              Quantas? Onde estão? Elas têm como escapar? Que arma usar? É assim que pensam os assassinos.

                Clovis Rossi


                A felicidade mora aqui
                O PIB pode desacelerar, mas a sensação de bem-estar do brasileiro só faz aumentar
                O BRASILEIRO está razoavelmente bem colocado no campeonato mundial de felicidade. Ocuparia o 16º lugar entre 147 países pesquisados pelo Gallup, com a nota média de 7,1 que se autoatribui.
                É o que mostra pesquisa com 3.800 famílias feita pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e divulgada na terça-feira.
                É preciso algum cuidado com a colocação brasileira, porque o Ipea usou os dados colhidos em outubro de 2012 no Brasil para inseri-los na pesquisa Gallup Global feita em 2010.
                Pode ser, portanto, que o Brasil seja de fato o 16º país mais feliz do mundo, como pode ser, sabe-se lá, o 20º ou o 10º, o que acaba sendo menos relevante que a nota em si: 7,1 é muita felicidade, convenhamos.
                O que o Ipea constata é o que os ingleses chamam de "feel good factor". O brasileiro sentia-se tão bem em 2010 que elegeu uma virgem em disputas eleitorais chamada Dilma Rousseff, já que considerava o governo de seu padrinho Lula o responsável ao menos em parte por tamanha felicidade (a nota média de 2010 já era suculenta, 6,8).
                Um pouco de autopropaganda: em 2010, quando José Serra ainda era o líder nas pesquisas, atrevi-me a dizer que Dilma acabaria eleita, exatamente pelo "feel good factor".
                Dois anos depois, mudou para melhor, acha a maioria dos brasileiros, tanto que Dilma ou Lula ganharia de novo a Presidência se a eleição fosse agora, como mostrou no domingo o Datafolha.
                Os fatores que geram bem-estar são os óbvios: emprego e renda.
                O Ipea lembra que o IBGE registra desemprego nos menores níveis da série iniciada em 2002 e rendas crescendo bem mais que o PIB per capita.
                O desemprego vai continuar nesse patamar baixo, perto dos 5%, também em 2013, segundo avaliação de dez consultorias ouvidas pelo "Valor Econômico". Logo, a felicidade se estenderá a 2013.
                Quanto à renda individual média da população de 15 a 60 anos de idade, subiu 4,89% de 2011 para 2012, contra taxa média de 4,35% ao ano entre 2003 e 2012.
                A pesquisa desmente a tese de que dinheiro não traz felicidade: a nota média de quem ganha acima de dez salários mínimos é de 8,4, acima, portanto, da média geral de 7,1 e muito acima dos 3,7 que os sem renda se atribuem na escala da felicidade.
                O que fica evidente é que há no Brasil um forte descompasso entre Produto Interno Bruto e felicidade interna bruta. O PIB desacelerou tanto que virou "pibinho", ao passo que o bem-estar se acelerou a ponto de quase virar "felicidadona".
                É importante entender, no quesito felicidade/intenção de voto, porque a percepção de corrupção, que aumentou, não afeta a popularidade de Dilma/Lula. A pesquisa do Datafolha mostra que elevado número de consultados aponta corrupção em todos os governos do pós-ditadura, com um pico de 79% no período Fernando Collor.
                O que se pode deduzir daí? Que o eleitor parece seguir a lógica do rouba, mas faz. Ou seja, se todos supostamente roubam, voto no que faz (crescer o emprego e a renda).

                FHC defende julgamento do mensalão dos tucanos


                Quem errou precisa ser preso, diz ex-presidente
                DO RIOO ex-presidente Fernando Henrique Cardoso defendeu ontem que se inicie o julgamento do mensalão mineiro, que envolve políticos do PSDB, e criticou a atuação do partido na CPI do Cachoeira e o governador tucano Teotônio Vilela (AL) pelo apoio a Lula.
                FHC disse na Associação Comercial do Rio, onde foi homenageado, que a análise da Justiça de casos de corrupção de políticos "deve ser rotineira" e defendeu a prisão de quem fez "algo errado".
                O ex-presidente criticou o fato do julgamento do mensalão ter "parado o país". Para ele, tal atenção mostra que são raras as decisões judiciais que envolvam políticos.
                Questionado se o comentário incluía a análise do mensalão mineiro, respondeu: "Claro, isso vale para todos. Não sou uma pessoa de ficar... Está ou não errado? Não sou juiz. Não sei. Tem que julgar, e julgar rápido."
                O mensalão tucano foi um suposto esquema de desvio de recursos públicos e financiamento irregular da campanha do então governador Eduardo Azeredo (PSDB-MG), que tentava a reeleição em 1998. Está desde 2009 no STF.
                FHC criticou o governador de Alagoas, Teotônio Vilela (PSDB), por ter prestado "solidariedade" a Lula: "A solidariedade não é pelo que ele fez por Alagoas. É para evitar que se façam questões sobre o presidente Lula", disse FHC.
                Ele criticou ainda a CPI do Cachoeira, que acabou sem indiciar ninguém -inclusive o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB).

                  Painel - Vera Magalhães


                  Tabelinha
                  A decisão de Roberto Gurgel de pedir ontem a prisão imediata dos 25 condenados no mensalão contrariou ministros do STF. Eles lembram que, dois dias antes, o procurador-geral da República rejeitou apelo de Celso de Mello para que o plenário deliberasse sobre o tema antes do recesso. "É sintomático, para dizer o mínimo", afirma Marco Aurélio Mello. A avaliação na corte é que Gurgel postergou o pedido para obter decisão monocrática favorável do presidente Joaquim Barbosa.
                  -
                  Placar Pela contabilidade interna, se tivessem sido analisadas pelo colegiado, as prisões seriam negadas por pelo menos 6 dos 9 ministros.
                  Tema único Ainda que decida apenas amanhã, Joaquim Barbosa será bombardeado com perguntas sobre o caso na entrevista que já havia convocado para hoje. O presidente-relator pretendia fazer balanço do julgamento.
                  Risco Ministros argumentam que seria prudente esperar a proclamação do resultado para arbitrar sobre as prisões. Se algum condenado a regime fechado tiver a pena revista para o semi-aberto na análise dos embargos, poderá pedir reparação do Estado por suposta prisão indevida.
                  O bicho... O vídeo em que Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência) conclama a militância do PT a reagir aos "ataques sem limites" contra Lula preocupa petistas por ter sido gravado no Palácio do Planalto.
                  ... vai pegar Sem mencionar o Rosegate nem o novo depoimento de Marcos Valério, o ministro foi filmado em sua mesa, em frente ao retrato oficial de Dilma Rousseff, o que pode ensejar contestação judicial por campanha antecipada, além de trazer a crise para o colo do governo.
                  Papai... Antes e depois do discurso de 42 minutos que fez ontem na posse da nova direção do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Lula exibia bom humor. Encerrado o evento, saboreou churrasco com os líderes sindicais da entidade e da CUT.
                  ... Noel O ex-presidente tirou fotos com a equipe de limpeza e do bufê. Aos que se aproximavam com o telefone celular para registrar sua presença, avisava: "Aproveitem, vou deixar a barba crescer".
                  Fera ferida Paulo Vieira estuda trocar de advogado pela segunda vez em uma semana. Para interlocutores, o ex-diretor da ANA tem "rompantes'' e contraria a defesa ao insistir na delação premiada ao Ministério Público. Ele negocia com Leônidas Scholz, próximo do ex-ministro Márcio Thomaz Bastos.
                  Saldo A Justiça Federal desbloqueou parcialmente as contas da Facic, faculdade controlada pela família de Vieira em Cruzeiro (SP).
                  Inimigos... O PSDB decidiu ontem apoiar José Américo (PT) à presidência da Câmara paulistana. Tucanos indicaram Claudinho Souza para a primeira secretaria e Andrea Matarazzo para a Comissão de Política Urbana.
                  ...íntimos A oficialização do acordo PT-PSDB é uma resposta à articulação de Roberto Trípoli (PV), que ensaia candidatura "avulsa" ao comando do Legislativo.
                  Anticlímax Ao diplomar o vereador Marco Aurélio Cunha (PSD), o juiz Marco Antonio Vargas quis se contrapor à euforia dos torcedores do Corinthians após o título mundial: "Saudações tricolores", disse o magistrado ao ex-cartola do Morumbi.
                  Pluviômetro Preocupa o QG de Fernando Haddad a limpeza de 200 pontos de alagamentos em São Paulo. O petista monitora a migração dos funcionários da Limpurb para a nova autarquia responsável pelo serviço.
                  com FÁBIO ZAMBELI e ANDRÉIA SADI
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                  TIROTEIO
                  "Gurgel desrespeita o STF ao buscar decisão monocrática sobre as prisões. Celso de Mello disse que o plenário estava apto a deliberar."
                  DO ADVOGADO ANTONIO CARLOS DE ALMEIDA CASTRO, sobre o procurador pedir a Joaquim Barbosa prisões dos condenados no mensalão em pleno recesso.
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                  CONTRAPONTO
                  Elixir da felicidade
                  Ao deixar, anteontem, a Secretaria da Casa Civil de São Paulo, Sidney Beraldo advertiu o sucessor, Edson Aparecido, que acabara de ser empossado no Palácio dos Bandeirantes, sobre o acúmulo de tarefas da pasta:
                  -O Emanuel Fernandes, ex-secretário de Planejamento, me dizia após aquelas longas reuniões que era impossível ser feliz e chefe da Casa Civil ao mesmo tempo.
                  Ao discursar, em seguida, Geraldo Alckmin tentou tranquilizar o novo articulador político de seu governo:
                  -Espero sinceramente que o Edson não dê ouvidos ao Emanuel. Ele é um brincalhão.
                    FOLHA DE SÃO PAULO

                  Janio de Freitas


                  Ações de marginal
                  Fraude da apreciação dos 3.059 vetos é o escancaramento, pelo próprio Congresso, de sua marginalidade constitucional
                  O CONGRESSO está em situação inconstitucional há mais de dez anos e, com isso, fora do Estado de Direito.
                  O golpe legislativo planejado entre suas lideranças, para votar por meio fraudulento 3.059 vetos presidenciais, não é causa, é apenas efeito e confirmação da proposital marginalidade do Congresso em relação à Constituição.
                  Foi o Congresso mesmo que, em 2001, desgastado pelas gritantes trapaças com vetos e medidas provisórias, durante o governo Fernando Henrique aprovou a inovação constitucional de 30 dias de prazo para apreciar os vetos presidenciais em parte ou no todo de projetos aprovados pelo Legislativo. O não cumprimento do prazo exige a paralisação automática da pauta de votações.
                  Desde que se negou a apreciar vetos e ao consequente "trancamento da pauta" -há vetos com 12 anos de espera-, o Congresso optou pela inconstitucionalidade.
                  Tornada o seu estado permanente, com a continuada deliberação de relegar os vetos até este imoral acúmulo de 3.059. Os vetos sem decisão legislativa incluem inúmeros casos que se traduzem como traições congressistas a ansiedades da população e necessidades da vida nacional.
                  A fraude da apreciação conjunta dos três milhares de vetos pendentes é o escancaramento, pelo próprio Congresso, de sua marginalidade constitucional. Já à primeira vista, por tratar como normalidade do Poder Legislativo a recusa sistemática e cumulativa de cumprir o preceito constitucional relativo aos vetos.
                  Também por propor-se a uma represália ao reconhecimento pelo ministro Luiz Fux, do Supremo, de que o artigo 66 da Constituição induz a apreciação de vetos presidenciais em sua ordem cronológica, não permitindo que os vetos de Dilma Rousseff, no caso dos royalties do petróleo, passassem à frente dos milhares estagnados. Por fim, obra ainda da marginalidade, o golpe legislativo como solução.
                  A fraude da votação conjunta dos 3.059 vetos pendentes mostrou-se já no catálogo que os juntou, a título de cédula, para marcações com "x" por cada congressista em aprovação, recusa ou abstenção. Quem teria tempo de examinar cada uma das 463 páginas impressas desse catálogo de vetos, refletir sobre assuntos muitos deles inertes há anos, e registrar suas 3.059 opções? Tudo em menos de um dia.
                  Além disso, as normas regimentais do Congresso exigem que a votação dos vetos a cada projeto seja precedida de um parecer próprio, elaborado por comissão específica. Logo, indispensável a votação em separado. Mas, tratando-se esta de mais uma norma a ser descumprida, o deputado Paulo Cesar Lima, piauiense da patota de Gilberto Kassab, recebeu a incumbência de dar a cara para o papel de relator dos 3.059 vetos de uma só vez, considerando todos aprovados com exceção, apenas, do que manteve os royalties do petróleo em conformidade com os contratos vigentes. Mais uma contribuição do PSD de Kassab à degradação política.
                  Cada catálogo é, inteiro, o voto a ser posto em um dos caixotes feitos para passar por urna. Mas qual era a garantia de não haver trocas por catálogos impressos a mais, para tramoias? Nenhuma. Congressistas informavam que outros estavam recebendo catálogos já marcados, segundo determinados interesses, para trocar pelo seu. Indicação de que havia catálogos em excesso para possíveis trocas entre a votação e o final da apuração.
                  Apuração? Isso exigiria a verificação de 1.817.040 quadrinhos de "xis", considerando-se as opções (ainda que em branco) dos 594 congressistas multiplicados por 3.059 vetos. Mais uma colaboração da fraude para o golpe legislativo.
                  Não por acaso, o motivo da combinação de golpe e fraude, no Congresso que renegou sua legitimidade e portanto o Estado de Direito, é dinheiro.
                  PRESENTES
                  Os preços, em geral, de possíveis presentes estão assaltantemente aumentados. Livros resolvem, e fazem bem. Por exemplo, "Primeiras Leituras", do talentosíssimo Paulo Mendes Campos, aí como o cronista que tanto ombreou com Rubem Braga. Ou "O Velho Graça", de Denis Moraes, precursor da moderna biografia brasileira, outra vez brilhante, com Graciliano Ramos.
                  Ou, claro, "Marighella" de Mario Magalhães, o melhor jornalismo -em todos os sentidos, desde a precisão minuciosa à inteligência expositiva- a serviço da história e suas verdades.
                    FOLHA DE SÃO PAULO

                  Tendências/Debates


                  CANDIDO MENDES
                  TENDÊNCIAS/DEBATES
                  Folha de São paulo
                  O Vietnã e a guerra excessiva
                  Chama a atenção a onipresença das lembranças de guerra, com bombas e tanques em jardins de centros culturais, e as noivas de branco dominando as ruas
                  O Vietnã avulta como nação com seus quase 100 milhões de habitantes e com uma determinação multissecular de sua individualidade, exposta desde as invasões chinesas e japonesas, na sua obstinada identidade cultural.
                  Destaca-se mais ainda pela firme liderança na modernidade dos após-guerras, no que se contrapõe Ho Chi Minh a Mao Tsé-Tung, num comando histórico, sem qualquer esgarce ou contestação.
                  O rigor da economia socialista acompanha toda a força da memória, cultivada, sobretudo, no século passado, com a luta contra o colonialismo francês, definitivamente esmagado na batalha de Dien Bien Phu, em 1954.
                  Sobreveio-lhe a brutalidade ímpar da invasão americana, acompanhada dos mais hediondos bombardeios. Expunha-se o país, como dito pelo general Curtis Lemay, aos desfolhantes e ao agente laranja, a mutilar os vietnamitas, até hoje a exibir as deformidades e as violências desfiguradoras da geração da guerra e da subsequente.
                  Os museus vietnamitas são, por isso mesmo, os da memória da guerra -fundadora da identidade emergente do país-, juntando as fotografias das monstruosidades, do aparato de guerra. Há uma macabra coreografia das bombas e dos tanques ocupando os jardins dos centros culturais.
                  O país de Ho Chi Minh poderia ser também chamado de a nação das 11 mil noivas, na réplica às 11 mil virgens, em torno de Santa Úrsula, dos calendários cristãos.
                  É inédito o choque visual de Hanói, em plena "wedding season", com noivas em todas as esquinas de monumentos célebres ou templos religiosos, sentadas nas calçadas a esperar o momento em que os fotógrafos encontrem o ângulo para o flash definitivo. Um enxame de roupas brancas, a maioria deles na conformidade do sacramento cristão.
                  Não nos esqueçamos de que, hoje, 30% do Vietnã continuam católicos. Sucedem-se as fachadas de edifícios rematadas pelas estátuas da Virgem nas varandas.
                  Muito mais do que a antiga Saigon, hoje Ho Chi Minh Ville, Hanói mantém o urbanismo novecentista francês das praças, assombreadas pela volúpia dos verdes tropicais e dos lagos. A paternidade fundadora de Ho Chi Minh vai ao ensino da educação prática, saída das escolas para a escuta dos pleitos dos mais desfavorecidos.
                  Subestimamos, talvez, a importância do Sudeste Asiático no jogo emergente da globalização não hegemônica. Nela, o Vietnã é a cunha da autonomia da península, contra o abraço de Pequim, frente ao Laos e ao Camboja. É o país, severo na sua resistência histórica, o bastião contra os consumismos fáceis que possam rondar o progresso do welfarismo socialista.
                  A lição do "tio Ho" não é a da acomodação ao já logrado, mas da habituação aos reclamos e às exigências de um "povo à obra", à vista de todos os seus músculos, e dentro da dureza dessa prospectiva, educada por uma economia de guerra permanente sob a qual se construiu a nação vietnamita.


                  JOSÉ JÁCOMO GIMENES E MARCOS CÉSAR ROMEIRA MORAES
                  TENDÊNCIAS/DEBATES
                  A disputada indenização de gastos processuais
                  PEC daria a advogados públicos dinheiro que, hoje, é da União. Quando ela perde, paga custos do processo. Se ganha, porém, a verba iria para eles, sem limite
                  Quem diria, os honorários de sucumbência na Constituição!
                  É o que determina o Projeto de Emenda Constitucional 452/09, aprovada pela Comissão de Constituição e Justiça da Câmara.
                  Para quem não é muito afeto aos temas jurídicos, honorário de sucumbência é uma verba paga pelo sucumbente -o vencido no processo judicial- ao vencedor do processo. Tem por função indenizar os gastos com advogado daquele que foi obrigado a ir ao Judiciário para garantir o seu direito. Nada mais certo e justo. Está prevista no artigo 20 do Código de Processo Civil, em favor do vencedor do processo judicial.
                  Conforme a PEC 452/09, os membros da Advocacia Pública (União, Estados, municípios e congêneres), além de ampla equiparação salarial e garantias próprias do Ministério Público e magistratura -vitaliciedade, inamovibilidade e irredutibilidade de subsídio-, receberão também os honorários de sucumbência fixados individualmente nos processos em que o poder público for vencedor, centenas de milhares pelo Brasil afora.
                  Essa verba, receita indenizatória da despesa com a Defensoria Pública no processo, é atualmente recolhida ao Tesouro (no caso, da União). Com a PEC 452/09, vai para um fundo corporativo privado, diminuindo o patrimônio público.
                  O advogado público, além do salário, vai receber rateio mensal do fundo, certamente ultrapassando os vencimentos de seus equiparados, sem definição de limites.
                  O poder público paga milhões mensalmente em honorários de sucumbência, nos processos em que é vencido. Com a PEC 452/09, vai ter sócio, mas somente quando for vencedor, apenas para receber a verba indenizatória.
                  Essa sociedade poderá dificultar acordos e arquivamentos de processos de valor insignificante para o poder público, permanecendo em andamento por muitos anos, sem perspectiva, pelo interesse do advogado nos honorários de sucumbência.
                  Honorário de sucumbência é uma verba desconhecida. Pode chegar até 20% do crédito reconhecido. Tem sido objeto de apoderamentos.
                  O Estatuto da Advocacia de 1994 declarou que pertence ao advogado, afrontando a história do instituto, a lógica do processo e os princípios do devido processo legal e reparação integral. O Supremo Tribunal já enfrentou o tema. Decidiu que honorário de sucumbência tem natureza indenizatória e pertence ao vencedor do processo. Isso talvez explique a pretensão de dar status constitucional a uma questão processual, própria de lei ordinária.
                  Um forte movimento da advocacia tem trabalhado na reconceituação dos honorários de sucumbência, tentando transferir a titularidade para o advogado, sustentando natureza alimentar e autônoma da verba.
                  Na Justiça do Trabalho, que vergonhosamente não tem honorários de sucumbência indenizatórios (o trabalhador recebe apenas parte de seu direito), há um movimento para instituição da verba, mas em favor do advogado.
                  O Projeto do Novo Código de Processo Civil também carrega o mesmo desvio, transfere sutilmente os honorários de sucumbência para o advogado. Nessa toada, o vencedor do processo pode ficar sem indenização de despesa processual e o advogado recebendo de duas fontes.
                  A reconhecida importância da função estatal da Advocacia Pública, que até pode justificar equiparação salarial com o Ministério Público, entretanto, não permite avanço contra o devido processo legal justo, fundamento da democracia.
                  Não cabe no papel exemplar da advocacia pública este apoderamento. A questão remuneratória dos advogados públicos não pode ser resolvida com o enfraquecimento do processo judicial e desproteção do jurisdicionado.
                  Se definitivamente aprovada a mencionada PEC, com a transferência dos honorários de sucumbência ao advogado, além do sucumbente processual, teremos também uma Constituição sucumbente.

                    Kenneth Maxwell


                    O ano das mulheres
                    Folha de São Paulo
                    Na Europa, não há dúvida de que Angela Merkel vem sendo a maior força -não só na Alemanha, onde ela foi reeleita para a liderança da União Democrata Cristã por quase 98% dos votos na conferência anual da agremiação, mas também na União Europeia, onde resolver a crise da zona do euro se tornou sua maior preocupação.
                    Na Alemanha, onde ela exerce o poder como chanceler [primeira-ministra] há sete anos e lidera seu partido há 12 anos, Merkel é definida como uma "Machtfrau" -uma mulher de poder. Ela é teimosa, suspicaz, persistente e científica em sua abordagem. Não é dada a discursos emotivos ou a articular visões grandiosas. Sua popularidade pessoal está em 60%.
                    Angela Merkel nasceu em Hamburgo, mas se mudou para a Alemanha Oriental com seu pai, um pastor protestante, com seis semanas de idade, e foi criada lá, onde estudou física.
                    Na Grécia, em Portugal e na Espanha, Merkel é muitas vezes retratada como nazista estereotípica. Mas, no norte da Europa, ela é muito popular. Mesmo na França, pesquisas recentes demonstram que é mais respeitada que os políticos franceses. Ela aprendeu que, sob o sistema federal alemão, a formação de coalizões e consensos é essencial, e aprendeu a esperar durante as árduas negociações que fazem o sistema funcionar.
                    Na Austrália, a primeira-ministra Julia Gillard declarou no Parlamento: "Não vou ouvir sermões deste homem sobre sexismo e misoginia" (ela estava falando de Tony Abbott, o líder da oposição). "Já ouvi o bastante. As mulheres australianas já ouviram o bastante. Sempre que eu encontrar sexismo e misoginia, vou chamá-los pelo que são". A popularidade dela nas pesquisas subiu a 50%.
                    Na Inglaterra, a venerável rainha Elizabeth 2ª celebrou seu jubileu de diamante neste ano. De acordo com o "Guardian", jornal que defende o sistema republicano, sua popularidade atingiu 69%, o índice mais alto em 15 anos.
                    Nos Estados Unidos, Hillary Clinton está encerrando seu trabalho como secretária de Estado e recebendo elogios de todos os lados. Quando perguntada sobre seus planos quanto à disputa da Presidência norte-americana em 2016, ela respondeu: "Talvez eu decida apresentar um programa de decoração".
                    E, no Brasil, a popularidade da presidente Dilma Rousseff é de 78%, de acordo com a mais recente pesquisa Ibope/CNI, a despeito da perda crônica de ministros, do "mensalão", do novo escândalo quanto à antiga assessora pessoal de Lula e da lentidão da economia.

                      Paula Cesarino Costa


                      Fora de foco
                      Folha de São Paulo
                      RIO DE JANEIRO - Proteção e Defesa do Consumidor, Prevenção à Dependência Química e Envelhecimento Saudável e Qualidade de Vida. Poucos diriam que são temas de pouca importância ou que não merecem atenção prioritária de um governo. A dois anos do final da sua administração de oito anos, o governador do Rio, Sérgio Cabral Filho (PMDB), decidiu que é hora de olhar para esses assuntos.
                      Foi aprovado anteontem na Assembleia projeto de lei do Executivo que cria 228 novos cargos em comissão (sem concurso), alguns para novas secretarias, a um custo anual de R$ 4 milhões. Cabral tem hoje 22 pastas, menos do que o governo anterior.
                      O que se questiona é por que só agora. Por que a urgência?
                      O discurso de gestor preocupado com a gerência financeira do Estado -por causa da eventual perda de parte da verba originária da distribuição dos royalties do petróleo- parece ser contraditório com esse novo gasto.
                      É evidente que R$ 4 milhões são risíveis num orçamento de quase R$ 72 bilhões. Mas o problema não é financeiro. É uma questão de transparência e política administrativa. O governo parece não julgar necessário explicar muita coisa. Na justificativa enviada à Alerj, nem especifica quais seriam as novas pastas.
                      A oposição diz que vai entrar com uma ação de inconstitucionalidade, mas só sete deputados votaram contra. Acredita que a medida faz parte de acordo político feito de olho em 2014, quando o vice-governador Luiz Fernando Pezão deverá ser o candidato de Cabral à sua sucessão.
                      O governador murchou depois do chamado "escândalo dos guardanapos", em que autoridades fluminenses viajaram à Europa acompanhadas de empresários. Reduziu aparições públicas, só dá entrevistas curtas e rápidas sobre temas pontuais.
                      Sem futuro político definido, seu governo, que tem méritos em diversas áreas, parece perder o foco.

                      Valdo Cruz


                      De joelhos
                      Folha de São Paulo
                      BRASÍLIA - Diz o dito popular que, ajoelhou, tem de rezar. Pois bem, posto de joelhos pelo STF (Supremo Tribunal Federal), o Congresso até que tentou ir até o fim e votar, no rodo, nada menos do que 3.060 vetos presidenciais esquecidos nas gavetas, alguns desde 2000.
                      Manobra articulada para escapar do castigo imposto pelo Supremo, que obrigou o Legislativo a desistir de votar, em separado, o veto da presidente Dilma sobre a distribuição de royalties do petróleo.
                      É bom lembrar que partiu do próprio Congresso, em recurso encaminhado ao STF, a definição de que o Legislativo ficou de "joelhos frente a outro Poder" após ser impedido de adotar a operação fura-fila -tentativa de deixar para trás 3.059 vetos.
                      Se ficou genuflexo, foi por conta e obra própria. Não por culpa do Supremo, que apenas lembrou ao Congresso sua obrigação de seguir seu regimento. Lá está escrito que vetos devem ser apreciados por ordem cronológica, em 30 dias.
                      Vetos que se acumulam por causa da ineficiência do Legislativo e de interesses do outro Poder, o Executivo, que muitas vezes prefere vê-los engavetados a correr o risco de serem derrubados.
                      Sem falar que a cúpula do Congresso adora ter na gaveta um veto complicado, com grandes chances de cair, para usá-lo como arma na busca de benesses federais.
                      No caso em questão, o veto gera uma guerra entre Estados produtores e não produtores de petróleo na divisão dos royalties. Estes últimos, maioria no Congresso, serão os beneficiados se ele cair. Resultado: a sessão de ontem virou uma batalha regimental e não vingou.
                      Foi uma confusão só. Congressistas com cédulas de votação de 463 páginas, com mais de 3.000 vetos, a serem preenchidas manualmente. Tudo preparado para ser feito de afogadilho, numa tentativa de fazer num dia algo que deveria ter sido feito ao longo de 12 anos. Nem com reza brava. Sem palavras.

                        Rogerio Gentile


                        Grampolândia
                        FOLHA de SÃO PAULO - O governador Alckmin deveria prestar mais atenção ao que diz o orador Alckmin. Como é comum na política, o comportamento do primeiro não está em exata sintonia com a pregação do segundo.
                        Na semana passada, ao receber um prêmio, o tucano fez uma defesa enfática da transparência no serviço público. "A sociedade tem o direito de saber o que é feito, como é feito, quando é feito", afirmou.
                        Três dias depois, no entanto, foi possível perceber que a prática não é bem essa em sua administração. Sem grandes explicações, o governo paulista começou a desmontar uma central de escutas instalada, desde 2006, num prédio da Polícia Militar no interior de São Paulo com o objetivo original de investigar o crime organizado.
                        O problema é que pairam muitas desconfianças sobre a tal central de escutas. Suspeita-se que, além de criminosos, delegados, políticos e até mesmo jornalistas foram espionados pelo órgão sem a devida autorização legal. Em 2012, ao menos 81,8 mil grampos foram feitos no Estado.
                        Tempos atrás, o deputado estadual Campos Machado (PTB), aliado do governador, externou o assunto na Assembleia, criticando o então secretário da Segurança Pública, Ferreira Pinto: "Todos ficaram receosos, senhor secretário, receosos do seu poder. Ou alguém tem alguma dúvida sobre o grampeamento que existe em todo o Estado?".
                        Questionado sobre o desmonte da central de escutas e as suspeitas de espionagem, o governo Alckmin limitou-se a lavar as mãos, dizendo que o órgão é de responsabilidade do Ministério Público, que, por sua vez, nega ter relação com o assunto.
                        Ou seja, além de não investigar eventuais crimes cometidos ali, o governo simplesmente afirma não ter nada a ver com a central, que operava num prédio da PM, era formada por policiais e coordenada por um coronel da reserva. Como diria o orador Alckmin: "A sociedade tem o direito de saber o que é feito, como é feito, quando é feito".

                          Editoriais da FolhaSP


                          A última negociata
                          CPI que investigou ligações de políticos com Cachoeira foge de pedir indiciamento de suspeitos, desfecho lamentável, mas previsível
                          Quem acompanha o noticiário da política brasileira não poderá se dizer surpreendido pelo final vergonhoso da CPI do caso Cachoeira. Havia meses que ninguém mais esperava que a comissão parlamentar pudesse produzir alguma investigação proveitosa.
                          Nem por isso deixa de ser consternador que o relatório que encerra oito meses de trabalho da CPI não chegue a preencher duas páginas. O documento, elaborado pelo deputado Luiz Pitiman (PMDB-DF) e aprovado por 21 a 7, não pede nenhum indiciamento.
                          Produzida como relatório alternativo, a peça de Pitiman foi a opção dos parlamentares diante do texto de Odair Cunha (PT-MG), que pecava pelo desequilíbrio, mas sugeria o indiciamento de 29 pessoas e a responsabilização penal de 12 políticos com foro privilegiado.
                          Na lista de Cunha estavam, por exemplo, o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), o prefeito de Palmas, Raul Filho (PT), o deputado federal Carlos Alberto Leréia (PSDB-GO), o ex-senador Demóstenes Torres (ex-DEM-GO) e o empresário Fernando Cavendish, dono da construtora Delta.
                          Ficava de fora pelo menos um personagem que mereceria mais averiguações: o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT). Apesar de ter sido investigado pelo Superior Tribunal de Justiça, terminou blindado na CPI.
                          Cunha procurava, assim, manter a comissão dentro do plano traçado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que via no inquérito uma oportunidade de apurar ligações de membros da oposição com Carlos Augusto Ramos, o famigerado Carlinhos Cachoeira.
                          A ideia era fustigar oposicionistas e desviar a atenção do julgamento do mensalão. Entretanto, não deram certo as maquinações de Lula, já que os tentáculos de Cachoeira, revelados por operações da Polícia Federal, também alcançavam aliados do governo.
                          Dado esse caráter eclético, não estranha que os deputados tenham não só esterilizado os instrumentos de investigação como também interrompido os trabalhos da comissão por mais de um mês. Vê-se, ainda, por que um relatório desequilibrado estava fadado a ser substituído por um documento inócuo.
                          PMDB e PSDB ainda se entregaram a uma derradeira negociata. Em troca do apoio tucano à eleição de Renan Calheiros (PMDB-AL) à presidência do Senado no ano que vem, uniram votos contra o relatório de Cunha e livraram Marconi Perillo e Fernando Cavendish.
                          Após ter seu texto rejeitado, Cunha vociferou: "[A CPI] se nega a fazer aquilo que é a sua missão essencial. Levantar provas, identificar indícios e apresentar conclusões. As conclusões aqui são nada, um vazio, uma pizza geral".
                          Cunha tem razão. Mas ele não pode dizer que não tenha contribuído para esse desfecho lamentável.

                          O transtorno dos vistos
                          No dia 25 de outubro, a Justiça concedeu liminar à estatal Correios e suspendeu a contratação de uma empresa privada pelo consulado dos Estados Unidos em São Paulo para devolver passaportes às pessoas que haviam requerido visto de entrada naquele país.
                          Em consequência, os documentos ficaram retidos, gerando transtornos para os solicitantes. A liminar foi suspensa em 27 de novembro, mas somente agora a situação parece voltar ao normal.
                          A regularização do serviço não resolve, porém, dois problemas de fundo. O primeiro é a própria obrigatoriedade do visto para os EUA. Os argumentos sobre imigração ilegal, se já eram duvidosos, são agora indefensáveis. O Brasil de hoje não é um país do qual os cidadãos queiram sair a todo custo.
                          Não por acaso, muitas vozes se levantam nos EUA contra essa exigência. O fluxo de turistas brasileiros dispostos a gastar em cidades americanas só tem aumentado.
                          De 2005 a 2011, a quantidade de visitantes brasileiros nos EUA triplicou, passando de 485 mil para estimados 1,4 milhão. Pode chegar a 3 milhões em 2016.
                          Cada viajante desembolsa nos EUA, em média, US$ 5.918 (cerca de R$ 12 mil) -aumento de 250% desde 2003. Os brasileiros já estão em terceiro lugar entre os que mais deixam dólares em solo americano.
                          Se, há dez anos, 40% dos brasileiros que pediam visto eram rejeitados, hoje nem 5% o são. Diante desse cenário, autoridades dos dois países já buscam entendimentos para suspender a exigência. Espera-se que um acordo não tarde.
                          O outro aspecto do imbróglio é o estatuto monopolista dos Correios. Em 2009, o Supremo Tribunal Federal autorizou que empresas privadas atuassem em alguns setores, como entregas rápidas, mas confirmou o monopólio da estatal na emissão de selos e serviços postais de cartas pessoais e comerciais, além de faturas, talões de cheques e cobrança de tributos.
                          Se tal exclusividade pode ter sido justificável no passado, a fim de alcançar economia de escala e assegurar preços baixos para a troca de mensagens entre particulares, ela perdeu muito do sentido numa época em que predomina a comunicação eletrônica.
                          Grandes organizações dão preferência a serviços de encomendas porque confiam mais neles do que nos Correios para entrega de documentos e objetos. Ganhariam todos se a estatal fosse mantida nesse salutar regime de competição.
                            folha de são paulo

                          Charge - Angeli


                          Charge


                          folha de são paulo

                          Keila Jimenez - Outro canal


                          TV aberta dedicou quase 100 horas ao Corinthians
                          Se você é daqueles que acham que a TV aberta só falou de Corinthians nos últimos dias, você está certo.
                          Do dia 3 ao dia 18, Globo, Record, SBT, Band e RedeTV! dedicaram juntas quase 100 horas ao time, o que daria uma média de 6,2 horas diárias. O número vem de um levantamento da Controle da Concorrência, empresa que monitora inserções comerciais para o mercado.
                          A empresa computou o tempo dedicado ao Corinthians na TV devido ao Mundial de Clubes, vencido pelo time no último domingo.
                          Segundo o levantamento, a Band foi a rede que mais deu espaço ao Corinthians: 39 horas em dezembro.
                          Do dia 3 até a última terça-feira, a Globo passou 27 horas falando do time. Sem os direitos de transmissão do Mundial, a Record dedicou quase 16 horas ao assunto; a Rede TV!, dez horas e meia; e o SBT, cinco horas.
                          Entre os programas dominados pela nação corintiana estão o "SPTV" 1ª Edição e o "Encontro com Fátima Bernardes", ambos da Globo.
                          O telejornal, que enviou o âncora César Tralli para o Japão para cobrir o Mundial, tinha metade de sua duração (40 minutos) preenchida com reportagens sobre o tema. Na quarta-feira (12), o programa de Fátima Bernardes separou 40 minutos, de 1h19 no ar, para falar de Corinthians.
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                          Lourival Ribeiro/SBT
                          ONIPRESENTE Sucesso da pegadinha de Silvio Santos, a "menina fantasma" (Anna Lyvia) grava com o diretor Reynaldo Boury participação em "Carrossel" (SBT)
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                          Definição A Corrida de São Silvestre ganhará neste ano transmissão em HD na Globo. A 88ª edição da prova terá 15 câmeras em alta definição e irá ao ar após do "Bom Dia Brasil", no dia 31.
                          Bagagem O humorista Paulinho Serra renovou contrato com a MTV. Em 2013, ele participará do "Verão MTV", do "Trolalá" e ainda ganhará um outro programa.
                          Bagagem 2 A nova atração será uma espécie de "Paulinho Viaja", só que os lugares visitados serão todos na periferia das cidades.
                          Fixo Outro humorista que renovou contrato, só que com a Globo, foi Marcelo Marrom. Ele seguirá integrando e equipe de criação e com um quadro solo no "Altas Horas", de Serginho Groisman.
                          Balanço O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso é o convidado especial do programa "Manhattan Connection" (Globo News) em sua última edição do ano, no dia 30.
                          Dupla Em negociação com a Band, Dani Calabresa pode levar dois programas de uma só vez. A humorista foi convidada a integrar o time do "CQC" e pretende ter uma atração solo na rede.
                          O NÚMERO É...
                          Já garantida em 2013, "Tapas & Beijos" (Globo) encerrou sua temporada anteontem registrando 21 pontos de audiência. Cada ponto equivale a 60 mil domicílios na Grande SP.
                          Atrás A série de Cláudio Paiva marcou mais ibope do que a trama das 19h da Globo, "Guerra dos Sexos" (19h), que alcançou 20 pontos.

                          Melhor do dia


                          Minissérie "Suburbia", de Luiz Fernando Carvalho, chega ao fim
                          Globo, 23h55, classificação não informada. No último capítulo da minissérie "Suburbia", Cleiton (Fabrício Boliveira) -que havia sido metralhado em uma emboscada- consegue sobreviver e vira pastor, para o alívio de sua mãe, Margarida (Maria Salvadora).
                          Ainda no último episódio, Conceição (Erika Januza) é coroada rainha da bateria da escola de samba fictícia União Carioca em cenas que contam com a presença de todo o elenco. Depois disso, ela e Cleiton ficam noivos.
                          Dirigida por Luiz Fernando Carvalho e coescrita por ele e Paulo Lins, a minissérie estreou no dia 1º de novembro na Globo com o objetivo de mostrar a vida dos negros no subúrbio.
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                          Trio conhece Israel em "Volta ao Mundo"
                          Multishow, 21h30, 10 anos. Em episódio inédito de "Volta ao Mundo", Esther Ohana, Sophia Reis e Michelle Schlanger vão a Israel. Com um orçamento diário de US$ 150, visitam Tel Aviv, Jerusalém e Massada.
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                          Lisa Edelstein participa da série "Elementary"
                          Universal, 22h, 14 anos. A atriz Lisa Edelstein -a doutora Lisa Cuddy, da série "House"- participa de episódio inédito da primeira temporada de "Elementary". Ela dará vida à empresária Heather Vanowen.

                            CRÍTICA
                            "Mutum" mostra o vasto mundo pelos olhos de um menino
                            INÁCIO ARAUJOCRÍTICO DA FOLHAQuem não quiser fazer uma incursão pela madrugada terá como opção "Mutum" (Canal Brasil, 19h, 12 anos), interessante filme de Sandra Kogut a partir de Guimarães Rosa. E a partir de uma palavra, mutum -isto é, mundo.
                            A transposição da linguagem de Rosa em imagens é coisa ingrata, mas Kogut se dá bem ao mostrar o vasto mundo visto pelos olhos de um menino.
                            À parte "Mutum", há uma série de filmes manjados e um para o qual ninguém nunca deu muita bola, a não ser fãs de kung fu, que é "Nico - Acima da Lei" (TCM, 1h10, 16 anos), em que Steven Seagal, veterano do Vietnã, hoje policial nos EUA, enfrenta na mão (e pés, claro) traficantes da pesada. É dirigido pelo parceiro Andrew Davis, que mais tarde faria "O Fugitivo".