sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Homenagem da astronomia ao Star Trek

folha de são paulo

Lua de Plutão pode ganhar nome de Vulcano, planeta do Sr. Spock

DA REUTERS


O ator William Shatner, o capitão James T. Kirk da série "Jornada nas Estrelas", e milhares de fãs estão fazendo uma campanha para que uma das novas luas de Plutão ganhe o nome de Vulcano, planeta onde nasceu o personagem alienígena Sr. Spock, interpretado por Leonard Nimoy.
Divulgação
Leonard Nimoy, o Sr. Spock dos anos clássicos de "Jornada nas Estrelas"
Leonard Nimoy, o Sr. Spock dos anos clássicos de "Jornada nas Estrelas"
Shatner, estrela do programa lançado em 1966 e que deu origem a uma série de filmes, propôs o nome a cientistas no início do mês. Mais de 100 mil dos 330 mil votos são por Vulcano na eleição organizada pelo Instituto Seti, na Califórnia, responsável pela descoberta dos satélites.
Além do nome do planeta do Sr. Spock, outros 20 nomes estão concorrendo.
"Estamos nos aproximando de 120 mil votos por Vulcano no plutorocks.com ! Você já votou hoje?", postou Shatner em seu perfil no microblog Twitter.
Até agora, as duas luas, cada uma com diâmetro de 20 km a 30 km, são conhecidas como P4, descoberta em 2011, e P5, em 2012.
Divulgação/Nasa
Imagem do telescópio Hubble mostra as cinco luas que orbitam Plutão; a mais nova, P5, está em destaque
Imagem do telescópio Hubble mostra as cinco luas que orbitam Plutão; a mais nova, P5, está em destaque
Antes desses achados, os astrônomos identificaram e batizaram três satélites --Charon, Nix e Hydra.
A votação para escolher os nomes das novas luas acaba no dia 25 de fevereiro. Os vencedores serão avaliados para a União Astronômica Internacional. "Vamos esperar que a IAU ache que Vulcano é um bom nome", escreveu Shatner em outro post na rede social.

Unicamp forma hoje a primeira turma de 'cotistas por mérito'


folha de são paulo

MARÍLIA ROCHA
DE CAMPINAS

O programa de inclusão social da Unicamp, que inspirou o modelo paulista de cotas, forma hoje sua primeira turma.
São 54 alunos oriundos de escolas públicas de Campinas (a 93 km de São Paulo) que fizeram uma espécie de curso à parte, com aulas de várias áreas de conhecimento.
Eles têm até hoje para escolher qual graduação querem seguir. Dos 67 cursos da Unicamp, 61 terão vagas.
Criado em 2010, o programa serviu de inspiração para a proposta do governo de São Paulo de montar um curso destinado a estudantes de escolas públicas no Estado que queiram entrar na Unicamp, na USP e na Unesp.
Caio Kenji/Folhapress
O estudante Dionys Dener Antonio, que participou do programa de inclusão social da Unicamp, em sua casa, em Campinas
O estudante Dionys Dener Antonio, que participou do programa de inclusão social da Unicamp, em sua casa, em Campinas
A proposta ainda terá de ser aprovada pelos Conselhos Universitários.
A seleção para o programa da Unicamp, chamado de Profis, usa como base a nota do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio). Ao menos um aluno de cada escola pública de Campinas é chamado.
O curso tem 120 vagas anuais e pode ser concluído entre dois e três anos. Quem se forma tem vaga garantida na universidade, sem prestar vestibular, mas a entrada na graduação depende do número de vagas disponíveis e do rendimento do aluno.
"Nós damos essa opção como uma ação afirmativa, mas mantemos a seleção pelo mérito", afirma o pró-reitor de graduação da Unicamp, Marcelo Knobel.
Um dos requisitos para se formar é fazer uma pesquisa de iniciação científica.
Quem não quiser continuar na universidade terá um certificado de conclusão, que não é de ensino superior.
Os professores são voluntários da instituição e usam a infraestrutura já existente.
Editoria de Arte/Folhapress
COMPLEMENTO
Além das aulas obrigatórias, os alunos podem cursar disciplinas da graduação.
Knobel diz que a intenção não é "nivelar" quem vem de escola pública com os estudantes aprovados pelo vestibular, mas oferecer um complemento à graduação.
"O aluno que passa pelo Profis sofre exigências e passa por processos como qualquer outro aluno da Unicamp, não é um cursinho. Só que ele sai com uma base de formação muito mais ampla."
Um dos objetivos é corrigir uma distorção: em média, 80% dos concluintes do ensino médio em São Paulo são de escolas públicas, mas apenas cerca de 30% dos alunos da Unicamp têm esse histórico, segundo a universidade.
As inscrições para 2013 estão encerradas. As aulas da nova turma começarão na próxima semana.


Exigência do programa de inclusão é como na graduação, diz aluno

DE CAMPINAS

Alunos que vão se formar no programa de inclusão social da Unicamp dizem que o nível de exigência do curso e a formação interdisciplinar refutam a eventual visão de que tenham tido acesso "facilitado" à graduação.
"Diferente das cotas, passamos por muitas provas antes. Por isso não acho que haverá a sensação de que 'roubamos' vagas", afirma o estudante Valdiney Batista, 19.
O estudante Conrado Moraes, 20, diz que o nível de exigência do Profis é tão alto quanto na graduação. "Se eu ouvir que entrei pela porta dos fundos, mostrarei que está errado, que vamos bem."
Dionys Dener Antonio, 19, que até 2010 não sabia da possibilidade de cursar universidade sem pagar, diz que chegou a fazer uma aula com alunos do 4º ano de física e não sentiu que sabia menos.
Mesmo com os pontos positivos, um levantamento feito pela Unicamp com alunos da primeira turma mostra que 63% dos alunos estão insatisfeitos com as vagas disponíveis na graduação.
O Diretório Central dos Estudantes questiona o limite de vagas para quem conclui o Profis. "Isso gera uma disputa enorme entre os estudantes", diz Lunara Correa da Silva, da diretoria.
O pró-reitor de graduação Marcelo Knobel diz que cerca de 15% de cada turma não deve conseguir a primeira opção. A diferença entre a oferta e a demanda de vagas será avaliada, diz ele. (MARÍLIA ROCHA)

Quadrinhos

folha de são paulo

CHICLETE COM BANANA      ANGELI

ANGELI
PIRATAS DO TIETÊ      LAERTE

LAERTE
DAIQUIRI      CACO GALHARDO

CACO GALHARDO
NÍQUEL NÁUSEA      FERNANDO GONSALES

FERNANDO GONSALES
NÍQUEL NÁUSEA      FERNANDO GONSALES

FERNANDO GONSALES
PRETO NO BRANCO      ALLAN SIEBER

ALLAN SIEBER
MALVADOS      ANDRÉ DAHMER

ANDRÉ DAHMER
GARFIELD      JIM DAVIS
JIM DAVIS

HORA DO CAFÉ      ALVES

Alves

Cientistas criam orelha impressa em 3D

folha de são paulo


FERNANDO TADEU MORAES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Cientistas da Universidade Cornell, nos EUA, conseguiram criar orelhas biológicas com técnicas de impressão 3D. Os resultados foram publicados nesta semana na revista científica "PLoS One".
Primeiro, a equipe digitalizou a imagem 3D da orelha de uma criança de cinco anos. Essa imagem serviu de base para a impressão de um molde em três dimensões.
Lindsay France/Cornell/AFP
Lawrence Bonassar, professor em Cornell, nos EUA, mostra orelha impressa em 3D em seu laboratório
Lawrence Bonassar, professor em Cornell, nos EUA, mostra orelha impressa em 3D em seu laboratório
Os pesquisadores desenvolveram um colágeno de alta densidade dotado de uma consistência gelatinosa que foi injetado no molde.
Depois, adicionaram células cartilaginosas de orelhas de vacas. O colágeno impresso em 3D serviu como uma estrutura sobre a qual a cartilagem se desenvolveu.
O processo é rápido. "Demora metade de um dia para desenhar o molde, um dia para imprimi-lo e 30 minutos para injetar o gel. Podemos remover a orelha [do molde] 15 minutos depois", disse Lawrence Bonassar, um dos autores do trabalho.
A orelha é, então, deixada por dias numa cultura de células cartilaginosas antes de ser implantada no dorso de ratos para avaliar a durabilidade e a estabilidade da estrutura por três meses.
BIOLÓGICA
A diferença desse experimento para outros que implantaram orelhas em ratos é que, antes, a estrutura tinha algum componente sintético para manter suas dimensões.
Agora, os cientistas conseguiram gerar uma estrutura com formato idêntico ao da orelha usada como referência e que poderá receber material celular do paciente.
Para os autores do estudo, foi demonstrada a formação de uma cartilagem de orelha estável a longo prazo com propriedades comparáveis às da orelha nativa.
Ed. de arte/Folhapress
A nova técnica pode beneficiar pessoas que sofrem de microtia, uma deformidade congênita na qual a orelha não se desenvolve, e aquelas que a perderam por um acidente ou doença.
Segundo Carlos Komatsu, diretor da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, as técnicas atuais de reconstrução de orelha são baseadas na retirada da cartilagem da própria pessoa.
O material é retirado principalmente da costela e, por isso, a técnica é preferencialmente aplicada em crianças, já que nelas essa cartilagem é bastante maleável.
A cartilagem é então esculpida e implantada. As limitações do procedimento, diz o cirurgião, são a consistência mais dura e a maior espessura da cartilagem retirada das costelas, o que gera um resultado esteticamente insatisfatório.
Segundo Komatsu, a nova técnica consegue contornar essas dificuldades.
Os pesquisadores advertem que a impressão 3D ainda precisa de ajustes antes do uso em humanos.
O grupo pretende iniciar em breve testes com células cartilaginosas humanas, que são muito mais difíceis de cultivar que as células bovinas.
Os cientistas também trabalham para reconstruir outras estruturas cartilaginosas com a impressora, como nariz e traqueia.
"A técnica é bastante promissora, mas é algo que só será viável a longo prazo", afirmou Komatsu.
Com agências internacionais

Anvisa aprova uso de remédio oncológico para câncer de mama

folha de são paulo

Aval à indicação do everolimo é primeiro passo para inclusão no SUS
JOHANNA NUBLATDE BRASÍLIAUma nova opção de tratamento contra o câncer de mama avançado deve ficar mais ao alcance das brasileiras.
Na semana passada, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) estendeu para essa doença a indicação do everolimo -droga já usada no país para outros fins.
A expectativa é que o remédio possa ser usado por 15% das pacientes com câncer de mama, doença que, segundo estimativas, atingiu 52 mil mulheres em 2012 no Brasil.
A Anvisa segue o entendimento de agências nos EUA e na Europa, que aprovaram em 2012 o uso do everolimo para pacientes na pós-menopausa com câncer de mama avançado, desde que o tumor seja hormonodependente -característica de até 70% do total dos casos.
Segundo Maira Caleffi, presidente da Femama (Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama), a droga é uma opção para quem teve metástase, fez tratamento com terapias hormonais, mas se tornou resistente às drogas.
"É uma grande arma e é uma droga oral", diz ela.
Álvaro Caldas, gerente médico do Afinitor (única marca do everolimo, da Novartis), diz que um estudo com 724 mulheres identificou o impacto contra a doença.
"O everolimo mais que dobra a sobrevida livre de progressão da doença, e a paciente chega a ter uma redução do risco de recorrência da ordem de 55%."
O medicamento e o tratamento hormonal que o acompanha custam R$ 8.000 por mês. Algumas mulheres vinham tendo acesso ao remédio por alguns planos de saúde e pela via da Justiça.
Esse foi o caso da advogada Laís Barbosa, 60, que ganhou liminar contra o Estado do Rio Grande do Sul na semana passada. Depois da primeira aparição do câncer, em 2003, a doença voltou em 2012 duas vezes em locais diferentes. Da segunda vez, começou a tomar o everolimo, obtido por doação.
"Em dezembro, fiz uma ressonância magnética do crânio e a melhora foi gritante. Daí saiu toda a vontade de lutar e pedir o remédio na Justiça", conta ela.
Patrick Eckert, gerente-geral de oncologia no Brasil da Novartis, diz que a empresa deve encaminhar ao Ministério da Saúde, nos próximos dias, um pedido para que o uso do remédio seja incorporado à rede pública.

    Luiz Carlos Mendonça de Barros

    folha de são paulo

    O sapo e o escorpião
    As intervenções na economia desestabilizaram o pacto construído ao longo dos anos Lula
    Mais uma vez uso uma conhecida fábula popular para trazer aos leitores da Folhaminhas reflexões sobre a economia -e a política- brasileira nos dias de hoje.
    Recentemente, ao preparar uma palestra sobre a gestão da economia no governo Dilma, recordei-me da fábula do sapo e do escorpião.
    Os leitores conhecem a imagem de um escorpião que pediu ao sapo para atravessá-lo de uma margem à outra de um lago. O sapo negou-se a fazê-lo, dizendo que o escorpião acabaria por picá-lo. A essa colocação o escorpião respondeu dizendo que, se fizesse isso, ele também morreria. Mas o sapo, encerrando a conversa, disse: eu sei disso, mas a sua natureza vai forçá-lo a fazê-lo.
    No caso do governo Dilma, o sapo é representado pela economia de mercado, e que, ao longo de seu primeiro mandato, poderá levá-la à reeleição em 2014. Na sociedade brasileira de hoje, com a classe média representando mais de 50% dos eleitores, o voto depende essencialmente da situação da economia no período eleitoral. Ideologia e imaginário representam muito pouco.
    A presidente sabe disso, pois seu criador -o presidente Lula- ensinou-a nos anos de sucesso que compartilharam nas eleições de 2016 e 2010.
    Mas -como o escorpião da fábula- o governo, parece que por sua natureza, não perde uma oportunidade para aferroar seu aliado na travessia do primeiro mandato. Nesta semana mais uma ferroada foi aplicada nas empresas privadas, permitindo que o governo interfira em contratos -assinados- de concessão licitados anteriormente.
    Isso aconteceu no caso da medida provisória que regulou as condições em que serão realizados os contratos de concessão para exploração de portos e terminais de carga por empresas privadas. Repete-se o mesmo procedimento utilizado no caso recente do setor elétrico.
    O que mais chama a atenção do analista é a total falta de importância das novas regras em investimentos já realizados, principalmente nos anos FHC. Somente uma mesquinharia política -ou ideológica- pode explicar esse procedimento.
    Sabemos que a concessão de serviços públicos ao setor privado é elemento fundamental para aumentar a oferta de serviços em vários setores da economia que esgotaram, ao longo dos últimos anos, sua capacidade operacional.
    Mas, para que isso aconteça, é necessário que as regras fixadas nos leilões respeitem as condições mínimas para que a atividade privada possa ser realizada com retorno compatível com as taxas de mercado e com os riscos incorridos e, ainda, com segurança jurídica. Até agora isso não vem ocorrendo.
    Nos dois primeiros anos de seu mandato, o governo Dilma tem procurado impor condições inaceitáveis ao capital privado, seja via taxas de retorno inviáveis ou por pouca clareza nas condições legais dos contratos firmados.
    A origem de tudo isso parece vir da contradição -como no caso do escorpião- entre a necessidade de trazer o setor privado para realizar os investimentos necessários para acelerar o crescimento e a natureza estatista -em alguns momentos até soviética- de boa parte da equipe da presidente.
    Esse dilema não existiu no período Lula, que conseguiu equilibrar de forma eficiente a dinâmica do setor privado para realizar seus investimentos e gerar crescimento e a de um governo que cuidava de interferir na forma como os frutos gerados seriam distribuídos.
    Essa receita, que deu certo e modificou a sociedade brasileira, representou o escorpião vencendo sua natureza e deixando o sapo carregá-lo com liberdade de uma margem à outra do lago.
    Infelizmente, em seus primeiros dois anos de governo, a presidente Dilma mudou a forma de interagir com a economia privada. Suas intervenções na economia acabaram por desestabilizar o pacto construído ao longo dos anos Lula.
    O resultado foi uma desaceleração do crescimento econômico
    -principalmente pela queda da confiança dos empresários nas regras do jogo- de tal ordem que está criando condições políticas eleitorais totalmente diferentes das que prevaleceram nos anos Lula.
    Lentamente o veneno do escorpião está minando a resistência e o dinamismo do sapo, ou melhor, do setor privado.

      Entrevista Francisco Borba Ribeiro Neto

      folha de são paulo

      TRANSIÇÃO NA IGREJA
      Novo papa tem de ser como um chefe de multinacional
      FÁBIO ZANINIEDITOR DE "MUNDO"
      PROFESSOR DA PUC DIZ QUE PONTÍFICE PRECISA SER CONSERVADOR QUE SAIBA ADMINISTRAR EGOS
      Uma das dificuldades de encontrar um novo papa é achar alguém que reúna duas características muito diferentes: solidez no pensamento conservador e jogo de cintura para administrar a igreja, inclusive seus muitos egos.
      No segundo ponto, Bento 16 deixou a desejar, segundo análise de Francisco Borba Ribeiro Neto, coordenador do Núcleo Fé e Cultura da PUC. "É preciso um papa presidente de multinacional", resume.
      -
      Folha - Esse conclave será mais longo e mais difícil do que o anterior?
      Francisco Borba Ribeiro Neto - Vai ser mais difícil, mas não sei se mais longo; afinal, ele já começou, de certa forma. Mais difícil porque não existe uma liderança tão clara como se demonstrou ser a de Joseph Ratzinger [nome do papa]. Vai ter que se construir uma.
      Existem questões muito diferentes que terão de ser resolvidas por uma mesma pessoa. Primeiro, um problema político-administrativo no Vaticano.
      É preciso um papa gerente?
      Não gerente, mas um papa presidente de multinacional. Um papa CEO. Não que precise entrar nas questões mais corriqueiras, mas que consiga administrar egos, vontades políticas e dotar todos de uma linha única.
      Por outro lado, existe um caminho de renovação cultural e espiritual da igreja que começou com João Paulo 2º, se radicaliza com Ratzinger e terá de ser continuado. Exige um perfil de papa místico, com maior bagagem teológica etc. Existem essas pessoas no conclave? Existem, mas provavelmente nenhuma delas aparece hoje como Ratzinger apareceu em 2005.
      Ratzinger no lado administrador deixou a desejar?
      Ele claramente esperava não precisar ter que exercer essa função. Não gosta dela, não tem perfil para isso.
      É possível identificar correntes definidas no conclave?
      No conclave em si, ainda é difícil. Você pode pensar em grandes correntes que existem hoje na igreja e que de certa forma se refletem no conclave. Eu diria que há três hoje, que vêm do Concílio Vaticano 2º [encontro nos anos 60 que mudou ritos da igreja].
      Duas são pró-mudança e uma tradicionalista, reacionária. Os tradicionalistas são os que claramente se colocaram contra o Vaticano 2º.
      Ainda têm o modelo Concílio de Trento [1545-63, que reagiu à reforma protestante] como da igreja ideal. Basicamente, uma liturgia bastante distante do povo. Missa em latim, por exemplo. É a ideia de que a excepcionalidade da igreja deve ficar patente em todos os seus gestos.
      Já os progressistas defendem que a igreja tem que se adaptar aos tempos modernos. Por exemplo, na questão da sexualidade.
      E os conservadores diriam que a modernidade está em crise, o humanismo está em crise. Para eles, a recuperação do humanismo não pode acontecer dentro do marco do pensamento moderno.
      Pedem um retorno às raízes do cristianismo para enfrentar essas demandas.
      Por exemplo, na questão da afetividade. Para o conservador, o mais importante não é quando o jovem pode ter uma relação sexual, mas se o jovem está preparado para amar uma pessoa.
      No conclave, o domínio é conservador?
      Não tenho dúvida. Os progressistas permanecem vivos no conjunto da igreja, mas são muito fracos dentro do conclave. O que você tem são cardeais mais sensíveis às demandas desse grupo.
      O próximo papa vai ter que abrir caminho para que o diálogo entre o pensamento católico conservador e as demandas da modernidade apareça.
      Para ele criar esse diálogo, vai aparecer como um papa aberto às demandas progressistas. Mas não necessariamente vai atender a elas.
      Em que cardeais devemos prestar atenção no conclave?
      Primeiro, nos grupos latino-americano e africano. A probabilidade de um papa latino-americano ou africano é pequena, porém sem dúvida o peso da opinião deles vai valer muito no conclave.
      Depois, um grupo forte seria o dos seguidores diretos de Ratzinger. Exemplos: Marc Ouellet [Canadá], Angelo Scola [Itália] e Christoph Schönborn [Áustria].
      As pessoas vão ouvi-los entendendo que estarão a ouvir o Ratzinger. Depois, o Gianfranco Ravasi [Itália], a figura mais progressista. Mas o fato é que a força do pensamento de Ratzinger na igreja é muito grande.
      Mesmo com a renúncia?
      A renúncia o fortalece muitíssimo, porque quebra a maior objeção que poderia ser feita a ele: de ser um homem que usou o poder para garantir a posição do seu grupo.
      Mesmo se não tiver o novo papa, como a América Latina vai ser levada em conta na escolha?
      Vai ser levada muito em conta. Mas o problema da igreja na América Latina é recuperar o elemento místico, bandeira dos conservadores, e assim conseguir fazer frente ao pentecostalismo. Ao mesmo tempo, conseguir manter a sua agenda social.
      O grupo conservador nunca foi contrário a manter a agenda social da Teologia da Libertação: reforma agrária, distribuição de renda etc.
      Se conseguir recuperar a dimensão mística e manter a dimensão social, a igreja latino-americana voltará a ser um grande referencial.

        Bento 16 recebeu dossiê sobre 'atos impuros', diz jornal
        Segundo italiano 'La Repubblica', investigação descobriu encontros sexuais em dependências da Santa Sé; Vaticano não comenta
        CLÓVIS ROSSIENVIADO ESPECIAL A ROMAOs escândalos na Igreja Católica Apostólica Romana explodiram ontem em plena sala de imprensa do Vaticano, a uma quadra dos altos muros que separam a cidade-Estado em tese santa da pecadora Roma: padre Federico Lombardi, porta-voz do Vaticano, se viu forçado a responder que não comentaria nem desmentiria nem confirmaria extensa reportagem no jornal "La Repubblica" sobre o dossiê entregue em dezembro ao papa sobre escândalos de natureza sexual e financeira.
        O relatório foi encomendado por Bento 16 aos cardeais Julián Herranz, Salvatore de Giorgi e Josef Tomko. É devastador, se for verdadeira a reconstituição feita pelo jornal.
        Que há um relatório, Lombardi confirma: "A comissão fez seu trabalho e entregou seu relatório ao Santo Padre, do qual partira o mandato". Sobre a veracidade, acrescentou: "Não estamos correndo atrás de todas as ilações, fantasias ou opiniões que sejam expressas sobre esse tema, e não esperem que os três cardeais deem entrevistas".
        "La Repubblica" atribui a "um homem muito próximo aos que redigiram o relatório" a informação de que "tudo gira em torno à não observância do sexto e do sétimo mandamentos": "não cometer atos impuros" e "não roubar".
        Sobre "atos impuros": "Alguns altos prelados sofreram 'influência externa' [que o jornal prefere chamar de "chantagem"] de leigos aos quais são ligados por vínculos de 'natureza mundana'".
        Cita nomes como o de monsenhor Tommaso Sttenico, suspenso após entrevista ao canal La7 em que contava encontros sexuais em pleno Vaticano. Cita também "as coristas das quais amava cercar-se Angelo Balducci", homem com responsabilidades cerimoniais no Vaticano.
        Os "atos impuros" ocorriam numa sauna do bairro Quarto Miglio, em um centro estético no centro, em uma vila fora de Roma e em dependências do próprio Vaticano.
        A violação do sétimo mandamento diria respeito ao Instituto para Obras da Religião, o banco do Vaticano, mas a reportagem não dá detalhes.
        O papa recebeu as 300 páginas do relatório no dia 17 de dezembro de 2012. Mas desde abril era informado do andamento da investigação.
        A reportagem atribui às informações recebidas a fala do papa no dia 11 de outubro, em que disse aos jovens da Ação Católica: "Em 50 anos [desde o Concílio Vaticano 2º], aprendemos que a fragilidade humana está presente também na igreja".
        O relatório, guardado no cofre dos aposentos papais, será entregue ao sucessor de Bento 16, completa o jornal.
        Longe do Vaticano, um dos citados como "papabili", o cardeal Timothy Dolan, de Nova York, depôs ontem sobre abusos sexuais na arquidiocese de Milwaukee, que chefiou de 2002 a 2009. Dolan não é acusado de abuso, mas a Promotoria quer apurar eventual ocultamento.

          Moisés Naím

          folha de são paulo

          Europa, Síria e ambiente
          Há disparidade entre a necessidade de uma ação conjunta e a capacidade dos países para atuar juntos
          EM QUE se parecem a crise econômica europeia, a guerra civil na Síria e o aquecimento global? Ninguém parece ter o poder de detê-los.
          As três crises requerem a intervenção de vários países atuando em conjunto, já que nenhuma nação isolada, nem mesmo uma superpotência, pode resolvê-las por conta própria. Além disso, esses problemas se complicam pelo fato de vir diminuindo a capacidade dos países de se colocarem de acordo e atuarem de modo conjunto.
          E, ao mesmo tempo em que se reduz a capacidade da comunidade internacional de coordenar sua ação, a globalização faz com que aumentem os problemas que requerem que isso aconteça. Embora os problemas tenham se tornado globais, os acordos políticos necessários para resolvê-los continuam sendo tão locais quanto sempre.
          Dificilmente os governos dedicam recursos a problemas fora de suas fronteiras enquanto há muitos problemas sem solução dentro de seus próprios países. Além disso, novas coalizões de países e múltiplos novos atores vêm conquistando o poder de exigir que sua voz seja ouvida e seus interesses sejam representados nas negociações sobre o modo como o mundo procura lidar com seus problemas coletivos.
          Inevitavelmente, quando todos esses interesses diferentes e contraditórios são incorporados, os arranjos resultantes refletem o mínimo denominador comum necessário para que seja alcançado um acordo.
          E os acordos que são aceitáveis para todos poucas vezes possuem a força suficiente para afetar os problemas de modo significativo. Essa disparidade entre a necessidade crescente de uma ação conjunta e a capacidade menor dos países para atuar coordenadamente é o deficit mais perigoso do mundo.
          Na economia, quando a demanda supera a oferta, os preços sobem. Na geopolítica, a incapacidade dos países de satisfazer a demanda por soluções aos problemas que transcendem fronteiras nacionais gera uma instabilidade perigosa.
          As crises financeiras ou de saúde pública que se propagam internacionalmente em alta velocidade, a sobrepesca, a exploração da selva tropical, as redes criminosas transnacionais ou a proliferação nuclear constituem alguns poucos exemplos na longa lista de problemas que vão se agravar se não houver mais e melhor cooperação internacional.
          O que fazer? Há muitas propostas de como "redesenhar" a governança internacional, reformar as instituições existentes ou criar novas. Tampouco faltam ideias para fazer frente aos problemas globais.
          O que falta é o poder para levar as mudanças a cabo e colocar as novas ideias em prática. Esse poder não vai resultar de cúpulas de chefes de Estado, reuniões acadêmicas ou discursos acalorados.
          Só haverá uma gestão melhor dos problemas globais quando os cidadãos derem a seus governos o poder de se ocupar de problemas que, embora ainda pareçam distantes, acabarão por ter consequências muito concretas em todos os lares.
          Hoje em dia somos todos vizinhos, mesmo que um oceano nos separe.

          Morte de pacientes de UTI não tem razão financeira, diz investigação

          folha de são paulo

          Polícia afirma que médica suspeita de homicídio queria liberar leitos do SUS; prefeitura refuta essa hipótese
          Ontem, suposta paciente relatou à Rede Globo que ouviu acusada pedir para que desligassem aparelhos
          ESTELITA HASS CARAZZAIDE CURITIBAInvestigação conduzida pela Prefeitura de Curitiba não apontou evidências de que tenha havido vantagem financeira com a morte de pacientes no hospital em que trabalha a médica Virgínia Helena Soares Souza, 56, presa nesta semana sob suspeita de homicídio qualificado.
          A investigação, que ocorre paralelamente à da Polícia Civil, tem o apoio de um auditor do Ministério da Saúde.
          A polícia apura se a médica provocou a morte de pacientes na UTI geral do Hospital Universitário Evangélico. Ela nega as acusações.
          Segundo a polícia, há indícios de que pacientes do SUS tenham sido mortos para "liberar" vagas para outros que pagariam pelo serviço.
          O hospital tem uma dívida de cerca de R$ 260 milhões.
          Para a comissão que investiga o caso, porém, essa suspeita não se sustenta.
          "A gente acredita que é uma coisa isolada, de uma das UTIs e especificamente de uma pessoa. Não é ordem superior, não é política do hospital", afirma o auditor Mário Lobato da Costa.
          Ele justifica que os convênios pagam quase a mesma diária que o SUS e são muito rigorosos ao avaliar despesas.
          BILHETE
          Bilhete divulgado ontem pelo site G1 mostra suposto pedido de uma paciente para que fosse retirada do hospital.
          Ao "Jornal Nacional", a mulher disse que ficou internada em dezembro de 2012 e ouviu a médica mandando que desligassem seus aparelhos. "Se eu não conseguisse [sobreviver], eu não tinha chance. Só que daí uma enfermeira viu que eu estava 'agoniando' e ligou de novo."
          Médica há 30 anos, Virgínia chefiava o setor desde 2006. "Ela mandava e desmandava naquele lugar", afirmou à Folha um colega.
          A defesa, que afirma não haver provas contra Virgínia, diz que pedirá a liberdade dela.

            FRASE
            "A gente acredita que [a série de mortes] é uma coisa isolada, de uma das UTIs e especificamente de uma pessoa. Não é ordem superior, não é política do hospital"


            PERFIL
            Médica 'mandava e desmandava' na UTI, diz colega
            DE CURITIBA
            Os 14 leitos da UTI geral do Hospital Evangélico de Curitiba eram uma espécie de "reino" da médica Virgínia Helena Soares Souza, afirmaram funcionários ouvidos pela reportagem.
            "Ela mandava e desmandava naquele lugar", disse à Folha um dos profissionais que trabalhava com ela.
            Com fama de "difícil", a médica costumava gritar e acertar "tamancadas" em quem cometia erros ou a desagradava. Também fumava nos leitos e na sua sala, em frente à UTI, o que levou a Vigilância Sanitária a autuar o hospital, em 2010.
            No ano seguinte, foi afastada por um mês após discutir com uma colega.
            O marido dela, que também trabalhou no local, morreu num dos leitos.

            Barbara Gancia

            folha de são paulo

            Escolha sua Yoani
            Fala-se demais na blogueira por motivos dos mais variados. Qual o subtexto que mais lhe convém?
            Impossível não se deixar cativar pela figura da blogueira Yoa­ni Sánchez. Não me lembro de latino-americana tão multiface­tada desde que minha tresloucada amiga Buci, digo, Cleide apresen­tou-me à Mercedes Sosa e ela can­tou choramingando na minha ore­lha: "Ai, la libertaaaaaad!". Isso foi, se bem me recordo, em um almoço na casa da Ruth Escobar, lá pelos idos de 1807, com a Independência do Brasil batendo à porta.
            Já que estamos nisso, como podem tratar o que restou do imperador como arqueologia? Queria ver se fosse o avô da museóloga. O homem nem bem esfriou no túmulo e já vai sendo exposto como se fosse um velociraptor. País jovem é isso: qualquer palmeira imperial de 20 anos de idade ganha status de árvore secular.
            Mas eu dizia sobre Yoani, que tanto para alegria dela quanto dos irmãos Castro, dos anticastristas em Cuba e de todo mundo que lucra enquanto o regime cubano não mudar e o embargo norte-americano não for retirado, que festas como a desta semana no Brasil continuarão a ser plenamente exitosas. Especialmente levando em conta que Yoani não é nenhum Élian Gonzáles, o garotinho náufrago, mas praticamente desconhecida em seu próprio país. Se até o Eduardo Suplicy conseguiu chamar atenção, é porque o evento foi sacudido.
            Não sei se é verdade, mas dizem que Suplicy já estava pre­sente no riacho do Ipiranga tentan­do empurrar seu livro sobre renda mínima a d. Pedro 1º, para ver se cavava uma foto nos jornais do dia seguinte.
            O que sabemos ao certo é que, nes­ta semana, o petista não desgrudou da blogueira cubana e aproveitou cada momento sob os holofotes pa­ra exercitar seu dom, o marketing de si mesmo.
            Pois eu vou imitar o Suplicy e colar na Yoani. A motivação será um pouco diversa, mas vejo nela muita legitimidade. Em apenas uma semana, a que passou, eu fui de comentarista de "t-shirt", rodeada de chapinhas em um canal de espor­tes, para uma perua assumidíssi­ma, de batom e seda pura, em um canal bacanérrimo de enfoque fe­minino. Iluminada como que por um clarão, eu pude entender por­ que existem no mundo tantos chi­cos langs e só uma Marília Gabriela. E porque é tão difícil, afinal, fazer o que ela faz. Alô, Gabi! Retiro todas as críticas a você e peço desculpas encarecidas.
            Yoani está na minha barca, a dois palitos de se deixar seduzir pelo brilho do objeto de consumo. Em 2009, para a mais alta patente nor­te-americana a visitar Cuba em dé­cadas, sabe qual foi o pedido feito pela dissidente de prestígio inter­nacional sem que ninguém as ou­visse? Que a subsecretária Bisa Williams ajudasse a liberar com­pras via internet.
            Escrevo poucas horas antes de ir ter com Yoani -vou mediar um debate seu na Livraria Cultura- e já es­tou pensando em convidá-la para bater perna comigo na Oscar Freire. Olha só: ninguém aqui está dizendo que ela não sofreu nas mãos do regime ou que Cuba não seja um estado totalitarista, ultrapassado e infame. Torrar dinheiro também não é crime e receber salário do "El País" é tão legítimo quanto respirar ou ter seu próprio tour de popstar patrocinado pela Liga das Senhoras Católicas ou os Anticastristas de Miami, por mais sebosos que eles sejam.
            Mas sempre convém entender que yoanis vêm com subtextos. Fala-se tanto na blogueira porque ela critica Cuba e isso serve aos "im­perialistas". OK. Mas serve tam­bém para desviar atenção de fatos como: 1) estamos esquecendo da li­ção de que o Brasil nunca mais ia ser leviano com a ameaça da inflação; 2) já não encaramos mais a independência do Banco Central como uma grande conquista; e 3) maquiar contabilidade é gravíssimo.

            Painel - Vera Magalhães

            folha de são paulo

            Oh, Minas Gerais
            Em conversa anteontem, Dilma Rousseff e Lula bateram o martelo sobre a necessidade de contemplar o PMDB de Minas Gerais com um ministério. A decisão foi tomada no dia em que Aécio Neves (PSDB-MG) fez seu primeiro discurso como potencial presidenciável. O ministro Fernando Pimentel (Desenvolvimento) discutiu com Michel Temer lista de nomes e a encaminhará ao Planalto. As pastas cobiçadas pela bancada mineira são Transportes, Agricultura e Aviação Civil.
            -
            Vem comigo Presidente do PMDB mineiro, Antônio Andrade se aproximava da administração de Antonio Anastasia (PSDB), o que levou à reação petista. Pimentel tem interesse em atender a sigla, pois postula a candidatura ao governo em 2014.
            Compensação Peemedebistas foram avisados de que a diretoria internacional da Petrobras, da cota mineira, deve ser extinta. Os anúncios serão feitos após a convenção do partido de Temer, prevista para 2 de março.
            Com que roupa? Ainda no espírito de Carnaval, um peemedebista faz troça com a dualidade do partido de Eduardo Campos, que ensaia voo presidencial: "O PSB está como naquela marchinha da Maria Sapatão: de dia é governo; de noite é oposição''
            Tréplica De Aécio ontem, depois do discurso de Dilma na festa do PT: "Onde estava a presidente da República quando a candidata Dilma Rousseff, ignorando o trabalho de várias gerações, diz que o PT não herdou nada e construiu tudo no Brasil?".
            Prospecção Dos 13 pontos elencados pelo tucano na tribuna do Senado como "fracassos" do governo do PT, o primeiro a ser esmiuçado será o que chamou de sucateamento da Petrobras.
            Sem gás O PSDB vai questionar a capacidade da empresa estatal de participar de todos os blocos concedidos no sistema de partilha de exploração do pré-sal.
            Realidade... Marina Silva está otimista com a coleta das 500 mil assinaturas para fundação de seu novo partido. Nos primeiros dias de funcionamento do site da sua "Rede" foram feitos 20 mil downloads de fichas de adesão e 2.500 multiplicadores voluntários se cadastraram.
            ... virtual O desafio dos marineiros agora é estruturar sedes regionais para a remessa dos impressos, já que a validação dos documentos é feita em cada zona eleitoral. Por ora, a ex-ministra tem bases instaladas em 12 Estados.
            Estratégia Quem acompanha os bastidores do Judiciário diz que Eugênio Aragão entrou na disputa por vaga no STF para se credenciar à sucessão de Roberto Gurgel na Procuradoria-Geral da República. Com o favoritismo de Heleno Torres e Humberto Ávila, o subprocurador é visto como azarão ao posto.
            Nota de corte Aferição encerrada ontem pelo Ministério do Trabalho garante a cinco das 12 centrais com registro legal acesso aos recursos da Contribuição Sindical: CUT, Força Sindical, UGT, CTB e Nova Central. Sem atingir os 7% do total de sindicalizados, a CGTB recorre para reverter a exclusão.
            Coordenado As críticas de Fernando Haddad à herança de Gilberto Kassab, acentuadas com as panes nos semáforos e o atraso nas creches, coincidem com o progressivo esvaziamento de poder do PSD nas subprefeituras. Vereadores puxadores de votos da sigla se queixam da perda de espaço no governo.
            Visita à Folha Marco Antonio Raupp, ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, visitou ontem a Folha. Estava acompanhado de José Roberto Ferreira e Simone Santana Franco, assessores.
            com FÁBIO ZAMBELI e ANDRÉIA SADI
            TIROTEIO
            Os 13 pontos que Aécio tentou explicar em seu discurso precisam de tradução simultânea. Faltou a tecla SAP na TV Senado.
            DO PRESIDENTE DO PT, RUI FALCÃO, sobre o pronunciamento em que o senador do PSDB mineiro buscava enumerar os fracassos da gestão petista.
            CONTRAPONTO
            Eu aumento, mas não invento
            Durante ato em que o PT comemorava 10 anos à frente do governo federal, anteontem, em São Paulo, Lula reclamou da confusão de números da gestão petista.
            -Precisa padronizar, unificar isso. A gente confunde.
            Dilma Rousseff tentou explicar e referiu-se ao Minha Casa, Minha Vida e a Jorge Hereda, presidente da Caixa:
            -Se você perguntar ao Hereda, que está aqui, a cada semana temos um número novo. O programa aumenta.
            Antes que o ex-presidente interviesse no discurso, Dilma completou, em tom irônico:
            -E ai dele se o número não for outro!

              Tendências/Debates

              folha de são paulo

              MARCELO CARDINALE BRANCO
              TENDÊNCIAS/DEBATES
              Qualidade de vida: é hora de avançar
              Um ar mais puro na capital foi uma conquista da inspeção veicular. Haddad percebeu isso. Carros de outras cidades de SP também precisam de inspeção
              Os primeiros 50 dias do prefeito Fernando Haddad à frente da prefeitura paulistana indicam o êxito de uma transição de governo comprometida com a gestão da cidade.
              Sólida e transparente, independente de coloração partidária, a transição foi seguida pela manutenção ou expansão de políticas imprescindíveis ao bem-estar e à qualidade de vida da população da capital. São exemplos os programas de proteção ao pedestre e de inspeção veicular, criados na administração de Gilberto Kassab, que trouxeram indiscutíveis benefícios aos paulistanos.
              Somadas aos demais programas encabeçados pela Secretaria do Verde e Meio Ambiente, liderada pelo então secretário Eduardo Jorge, essas duas questões foram priorizadas pela gestão Kassab, que as vê como componentes indissociáveis da sustentabilidade, da defesa do indivíduo, da qualidade de vida na cidade e de promoção da saúde pública.
              O Programa de Proteção ao Pedestre foi responsável pela redução de mais de 40% no número de mortes por atropelamento na região central da cidade e pela diminuição em 12% dessas fatalidades nas demais regiões. Isso ocorreu graças ao esforço da prefeitura e também à vontade de mudança demonstrada pelos paulistanos. É preciso avançar muito mais e a atual gestão demonstra essa disposição.
              Já a inspeção veicular -apesar de ter trazido um benefício menos tangível do que a realidade de um atropelamento- foi responsável pela redução em algumas centenas de mortes por ano na capital. Foi o resultado da redução de poluentes lançados no ar que respiramos, além da diminuição dos gases que provocam o efeito estufa na atmosfera.
              As recentes declarações do prefeito Fernando Haddad, ressaltando a necessidade de que o governo do Estado de São Paulo assumir a responsabilidade pela implantação da inspeção veicular obrigatória em âmbito estadual, reforçam o que preconiza o Plano de Controle de Poluição Veicular (PCPV), elaborado pelas Secretarias de Transportes e Verde e Meio Ambiente e publicado por decreto do então prefeito Kassab em 2011.
              O PCPV prevê a obrigatoriedade de veículos de outros municípios que circulem pela cidade de São Paulo também passem periodicamente pela inspeção obrigatória.
              A capital paulista não pode ser uma ilha de excelência no controle de emissões de poluentes veiculares perdida em um oceano de permissividade ambiental. Isso contraria a lógica e o direito dos paulistanos de respirar um ar mais limpo, além de não garantir os resultados desejados, já que a poluição não respeita divisas e fronteiras territoriais.
              A questão de cobrança ou não da tarifa que incide sobre o serviço de inspeção veicular é uma legítima decisão que cabe à gestão eleita, embora entendamos que o mais justo é que os proprietários dos veículos arquem com o custo do serviço para não onerar indiretamente os que não possuem automóveis.
              Mas Haddad demonstrou sabedoria. No projeto sobre o assunto que encaminhou à Câmara Municipal, deixou de fora a ampliação da periodicidade das vistorias nos veículos e a possibilidade de os exames serem realizados somente após o fim da garantia de fábrica dos veículos. Caso contrário, transferiria o poder de fiscalização às concessionárias das marcas de automóveis.
              Juntos, os dois programas, proteção ao pedestre e inspeção veicular, complementados por outras ações fundamentais -investimento em combustíveis menos poluentes, estímulo ao uso da bicicleta por meio das ciclofaixas, ciclorrotas e ciclovias, produção de energia a partir do metano dos aterros sanitários, expansão das áreas verdes da cidade, entre tantas outras medidas- podem elevar a qualidade de vida em nossa cidade, nosso ambiente.
              É preciso persistir e avançar cada vez mais.


              RUY MARTINS ALTENFELDER SILVA E LUIZ GONZAGA BERTELLI
              TENDÊNCIAS/DEBATES
              Ciee, 49
              Além de apoiar os jovens na busca por vagas no mercado de trabalho, é preciso ajudá-los a compensar as crescentes deficiências do ensino no país
              A um ano da comemoração de meio século de atividades voltadas à inserção profissional e cidadã do jovem, o Ciee inicia um profundo mergulho em seu passado. Tanto para avaliar, com a peneira fina do tempo, a efetividade dos resultados quanto para planejar seus rumos.
              O Ciee foi fundado por um grupo de empresários e educadores com o objetivo de superar o fosso entre a formação acadêmica e a realidade do mercado de trabalho. Inspirados em exemplos de países desenvolvidos, elegeram o estágio como a modalidade mais eficaz para complementar, com a prática em ambiente real de trabalho, a formação eminentemente teórica dos estudantes.
              Ao longo desses 49 anos, o estágio conquistou a adesão maciça das escolas e das empresas e órgãos públicos, que hoje enriquecem o balanço histórico do Ciee com os expressivos números: 28 mil instituições de ensino conveniadas e 250 mil parceiros na oferta de vagas.
              Nesse meio século, a riqueza do país se multiplicou, mas também persistiu a desigualdade da distribuição de renda e do acesso à educação. O Ciee acompanhou -e continuará acompanhando -as duas curvas, com a visão de uma organização presente em todos os Estados, com 350 pontos de atendimento e 1,2 milhão de jovens cadastrados.
              Consciente de seu papel como referência entre as entidades de assistência social de filantropia, o Ciee, há mais de duas décadas, vem reforçando seu lado escola, buscando compensar as crescentes deficiências do ensino brasileiro, que penalizam especialmente os jovens de famílias menos favorecidas.
              Há ainda outra preocupação: na faixa dos 15 aos 17 anos, 15% dos jovens não estudam e 97% não trabalham. Sem preparo, qual será o seu destino? Provavelmente, boa parte engrossará o contingente de excluídos e marginalizados.
              Foi esse cenário que, há dez anos, levou o Ciee a aderir à causa da aprendizagem, que visa dar formação social e profissional a jovens de 14 a 24 anos, ministrada em 1,4 mil salas que mantém em todo o país, além de desenvolver um programa para incluir pessoas com deficiência.
              O Ciee oferece ainda um programa de alfabetização e suplência de adultos, que já beneficiou mais de 50 mil alunos, e cursinho gratuito para o vestibular a 500 estudantes da periferia de São Paulo, em parceria com entidades locais, além de promover uma campanha nacional de prevenção ao uso de drogas.
              No futuro, o Ciee continuará a ser o grande parceiro dos futuros profissionais no desafio de ingressar num mercado de trabalho exigente, para o qual não foram adequadamente preparados pela escola e, em muitos casos, nem pela família.
              No Ciee, estudante e família encontram gratuitamente todo o apoio para a inclusão profissional. São dezenas de cursos, formatados para estimular competências e habilidades essenciais para a conquista e ótimo aproveitamento de oportunidades de estágio e aprendizagem. Todas remuneradas, permitindo que milhares deles custeiem seus estudos e auxiliem no orçamento doméstico sem ter de sair da escola.
              Além disso, integram a programação um alentado calendário de eventos culturais e artísticos, iniciativas de voluntariado, encontros de pais e alunos da aprendizagem, prêmios para estimular o gosto pela leitura e a escrita etc.
              Por essas e muitas outras razões, o Ciee adotou como lema a sábia disposição do artigo 203 da Constituição ao incluir entre os objetivos da assistência social a promoção da integração ao mercado de trabalho. Para tanto, continuará apostando na força da educação e do trabalho como os melhores caminhos para um futuro próspero e sustentável para mais e mais brasileiros.

              Marina Silva - Ativismo autoral

              folha de são paulo

              Ativismo autoral
              Entra em cena a militância 2.0, que está ampliando a democracia no mundo contemporâneo. Tenho falado sobre esse assunto para públicos diversos e noto que as pessoas ligadas à estrutura política institucional têm mais dificuldade para entender o que está acontecendo. Eis porque caracterizo este como um fenômeno "de borda", pois o lugar que ocupa na cena pública é ao redor do centro.
              Nestes dias, porém, a borda invadiu o centro. Primeiro, com a chegada ao Senado de mais de 1 milhão e meio de assinaturas reivindicando o impeachment do presidente recém-eleito da Casa. Segundo, com a visita ao Brasil e a audiência na Câmara da cubana Yoani Sánchez, cujo blog desde Cuba mostra ao mundo suas críticas ao regime político de seu país.
              A reação dos que ocupam o centro da política convencional revela uma falta de entendimento que resulta em grave falta de coerência quanto à defesa dos direitos humanos e da liberdade de expressão. No caso das assinaturas contra o presidente do Senado, a falsa indiferença cheia de temor mostra que os dirigentes do Legislativo sabem que estão "mal na foto", mas desprezam os esforços cidadãos de ampliar a democracia e de criar novas formas de a população influir na política e nas instituições.
              O caso da blogueira cubana é mais grave: foi acionada uma campanha difamatória, com atos públicos de rejeição e -ato gravíssimo- impedimentos à sua liberdade de expressão, em que um grupo usou o ambiente democrático para reduzir a própria democracia. O irônico é que o Brasil, hoje chamado de "imperialista" nas ruas da Bolívia, do Peru e de demais vizinhos latino-americanos, parece esquivar-se do dever de qualificar sua democracia, duramente conquistada com a defesa firme da liberdade e dos direitos humanos, também em outros países.
              Mas o que chama a atenção é a quebra da estagnação da política convencional feita pelos que espalham sua ação numa rede ampla, com recursos digitais ao alcance de qualquer um: um blog, uma coleta de assinaturas. Não foram pautados por governos, partidos, ONGs ou sindicatos. Começaram sozinhos, sendo autores e mobilizadores de sua proposta e ação.
              É claro que o sucesso tem muitos pais; muita gente ligada a diversos organismos institucionais quer, hoje, "dar uma força" a essas e outras iniciativas. Isso, entretanto, só mostra que estão a reboque da nova força que emerge no mundo. Tudo bem, é melhor que tentem segui-la, em vez de impedi-la. Para usar uma saudação à moda antiga: vida longa ao ativismo autoral.
              O grande desafio para essa nova forma de prospectar meios atualizados de realização da democracia é transitar do autoral para o coautoral, na defesa dos interesses coletivos, sem o que não há como realizar nenhuma transformação.

              Ruy Castro

              folha de são paulo

              Comida e poder
              RIO DE JANEIRO - Nos anos 70, ao ouvir que o McDonald's acabara de inaugurar sua primeira loja em Tóquio, o linguista nipo-americano S. I. Hayakawa comentou: "Que terrível vingança por Pearl Harbor!". Queria dizer que a delicada dieta japonesa sofreria muito mais com a penetração da "junk food" do que a base americana no Havaí com o ataque dos aviões e navios do Japão em 1941. Afinal, o bombardeio de Pearl Harbor só durou uma manhã. O do McDonald's seria para sempre.
              O uso de comida ou bebida para fins de dominação é conhecido. Vide a visita do presidente Richard Nixon à China de Mao Tse-tung, em 1972. Os EUA passaram a vender Pepsi-Cola aos chineses, e o que aconteceu? Assim que começaram a tomar a gororoba pelo canudinho, os jovens chineses nunca mais quiseram saber da Revolução Cultural.
              A comida pode ser também uma arma secreta, e não é de hoje. No século 16, os soldados espanhóis no México foram amistosamente recebidos pelos astecas e comeram do bom e do melhor. Em troca, mataram o imperador Montezuma e tomaram conta do pedaço. Mas pagaram caro. A comida dos astecas provocou-lhes uma tal diarreia que, até hoje, qualquer infecção intestinal em viagem, não importa onde, tornou-se "a vingança de Montezuma".
              Pois, durante séculos, o Brasil viveu de vender açúcar e café no mercado externo, leia-se EUA. O fato de a economia nacional depender de produtos tão singelos, feitos para o café da manhã ou para a sobremesa, era até simbólico. Significava que o Brasil não participava do grande banquete internacional.
              Bem, as coisas mudaram. Hoje, esse banquete consiste justamente na "junk food": hambúrguer, batata frita, mostarda, ketchup, cerveja. Bilhões de pessoas passam a isso todos os dias. E são empresários brasileiros que estão abocanhando, engolindo e tomando esse mercado.

                Eliane Cantanhêde

                folha de são paulo

                Um espanto!
                BRASÍLIA - Alguém precisa ensinar aos embaixadores da Venezuela e de Cuba que, tudo bem, seus chefes são amigos de Lula, do governo e do PT, mas que isso aqui não é a casa da mãe-joana. Se Chávez e os irmãos Castro não irão fazê-lo, o governo brasileiro deveria ajudá-los nessa aula básica de diplomacia.
                Foi-se o tempo em que embaixadores norte-americanos, por exemplo, conspiravam abertamente no Brasil, ora contra o governo brasileiro, ora com o próprio governo.
                Não é profissional, nem trivial, nem aceitável que embaixadores estrangeiros participem de reuniões partidárias ou promovam encontros para atiçar militantes do país com qualquer finalidade política. De tão básicos, esses princípios nem precisariam constar de documentos internacionais. Mas constam.
                Apesar disso, o embaixador venezuelano, Maximilien Arveláiz, participa de ato do PT em apoio a condenados pelo Supremo Tribunal Federal pelo mensalão. E o cubano, Carlos Zamora, reúne na embaixada militantes brasileiros e até um funcionário da Secretaria-Geral da Presidência da República para divulgar um dossiê malicioso e articular atos dentro do país contra a blogueira cubana Yoani Sánchez. Um espanto!
                A ação comprova que ditaduras, além de tudo, são ousadas e burras. Cubanos não entendem patavinas de jornalismo e, ao organizar uma recepção com insultos e grosserias, deram outra dimensão à viagem da "perigosa" Yoani, que comete o crime de falar, escrever e discordar.
                Em vez de algumas linhas na chegada, ela foi alçada durante dias às primeiras páginas e à TV. Em vez de lançar um livro e divulgar um documentário no aconchego do interior da Bahia, ela fez isso dentro do Congresso Nacional. Virou uma estrela.
                Fidel e Raúl Castro, porém, ainda têm uma boa chance de dar a volta por cima, mostrando que o regime se abre, Yoani exagera e tudo será diferente daqui para a frente. Depende de como receberão a moça na volta..

                Helio Schwartsman

                folha de são paulo

                Bom-mocismo diáfano
                SÃO PAULO - É comovente a tentativa de Marina Silva e seus associados de lançar um partido diferente, que aliaria os padrões éticos do PT de outrora com uma agenda pró-sustentabilidade nos moldes dos PVs europeus, mas me reservo o direito de manter o ceticismo em relação ao sucesso da empreitada.
                Minha primeira impressão é que os fundadores ainda não têm clareza se querem uma legenda que entre para jogar o jogo normal da política ou uma que corra por fora, apoiado numa espécie de bom-mocismo diáfano, que extrairia sua força, não de cargos, mas de uma suposta superioridade ética de seus membros.
                A ambiguidade fica patente na diretriz do protopartido de não aceitar doações que venham de fabricantes de bebidas alcoólicas, cigarros, armas e agrotóxicos. Muito bacana, mas, como bem observou o Fernando Rodrigues, cadê as empreiteiras? Se a ideia é distanciar-se da corrupção, fica complicado aceitar dinheiro das grandes construtoras, que já se envolveram em tantos escândalos, e recusar o de cervejarias e mesmo de vinícolas orgânicas.
                E será que não exageram no fogo contra os agrotóxicos? Há quem os chame de defensivos agrícolas e é bom lembrar que, sem esses produtos, não haveria meio de alimentar os cerca de 7 bilhões de humanos que, hoje, vivem no planeta. Alguma proposta de como reduzir esse número?
                Se os neoverdes quisessem, poderiam ter contornado o problema. Bastava proibir todas as doações de empresas, aceitando apenas contribuições de pessoas físicas nos limites preconizados pela legislação. Se fizessem isso, porém, condenariam o partido a seguir a via alternativa, já que experimentariam dificuldades na maioria das campanhas. Esse caminho é arriscado, como sabemos todos depois do que ocorreu com o PT. Mas a aposta na ambiguidade deixa a suspeita de que a pureza da nova sigla está mais associada ao marketing do que a convicções.

                  Editoriais FolhaSP

                  folha de são paulo

                  Juiz eletrônico
                  Após o teste sem percalços no Mundial de Clubes, em 2012, a Fifa anuncia que usará recursos tecnológicos para dirimir lances duvidosos em partidas da Copa das Confederações, que se realiza em junho, e da Copa do Mundo, em 2014.
                  A decisão parece trivial, mas equivale no meio futebolístico à derrocada de um dogma. Há anos a entidade máxima do esporte resiste à ideia de recorrer à TV ou a outro meio para auxiliar os árbitros em decisões críticas.
                  Um exemplo famoso é o gol validado a favor da seleção inglesa, na final da Copa de 1966, numa jogada em que a bola não teria cruzado a baliza defendida pela Alemanha. Os ingleses venceram o Mundial, mas o fatídico lance continua a ser questionado.
                  Foi justamente em casos como esse que a Fifa deliberou ceder. Nas duas competições que serão disputadas no Brasil, os estádios contarão com a chamada "tecnologia da linha do gol" (GLT, em inglês), que permitirá saber se a bola entrou ou não na meta.
                  Recurso análogo é usado nos torneios mais importantes do circuito mundial de tênis, nos quais os jogadores têm direito a um número limitado de "desafios" às decisões do juiz de linha. Quando isso ocorre, consulta-se a imagem gerada por um sistema eletrônico que mostra a trajetória da bola.
                  Os argumentos conservadores contêm, no entanto, pontos a considerar. É impossível, por exemplo, implantar a tecnologia em todos os campos oficiais do planeta. Cria-se, portanto, uma desigualdade na arbitragem do mesmo esporte.
                  Além disso, o futebol teria a peculiaridade de ser uma disputa na qual nem sempre vence o melhor. Fatores variados, alguns fortuitos, podem interferir numa partida e propiciar um placar inesperado. O erro de arbitragem, na visão dos que rejeitam a tecnologia, seria um desses fatores e precisaria seguir como parte do jogo.
                  É difícil, contudo, sustentar essa visão quando milhões de espectadores -para não falar de investidores e patrocinadores- podem constatar pela TV que a arbitragem errou num lance crucial.
                  Se há possibilidade de minimizar tais equívocos, ainda que somente em competições de ponta, não há por que deixar de fazê-lo.

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                    Aquecimento eleitoral
                    Movimentações partidárias indicam competição mais acirrada no pleito de 2014, o que pode ser bom -se não degenerar em sectarismo
                    Esta semana marcou a abertura explícita das transações partidárias rumo à disputa presidencial de 2014. Os primeiros passos indicam que a presidente Dilma Rousseff será mesmo o nome do PT -e que sua reeleição não será exatamente um passeio.
                    Movimentam-se para confrontá-la, há tempos, dois políticos competitivos: o senador Aécio Neves (PSDB) e a ex-ministra Marina Silva -que corre para lançar sua Rede até outubro e, assim, habilitar-se.
                    Também se pôs em prontidão um quarto elemento interessado na disputa, Eduardo Campos (PSB). O governador de Pernambuco teria o desafio de concorrer numa penumbrosa faixa entre situação e oposição -seu partido compõe a coalizão de apoio à administração de Dilma, e Campos mantém ligação estreita com o ex-presidente Lula.
                    A experiência de mais de dois séculos com reeleições nos EUA corrobora a tendência observada na curta vigência do sistema no Brasil. A regra é o presidente obter o segundo mandato, mas quadros econômicos desfavoráveis e desgaste político do governante de turno ajudam a explicar as exceções.
                    Apesar da frente fria que ronda o desempenho do PIB, na primeira metade do governo Dilma, a sensação de aquecimento -principalmente no mercado de trabalho e no consumo popular- lhe é favorável. A confirmar-se, a discreta elevação na temperatura da economia prevista para 2013 e 2014 será suficiente para manter a excelente trajetória do emprego e do salário.
                    Diante da elevada popularidade presidencial e da arrebatadora capacidade de cooptação do Planalto, deveria haver poucos candidatos competitivos para 2014. Não é isso o que vai se configurando.
                    Estará em curso mudança em favor de um nome avesso às práticas usuais da política, embora ainda carente de substância programática, como Marina Silva? Abre-se oportunidade para um governador do Nordeste, Eduardo Campos, quebrar a série de cinco vitórias de políticos baseados nas regiões mais ricas do país? O anunciado fim da hegemonia paulista no PSDB dará repercussão nacional à ainda acanhada candidatura do mineiro Aécio Neves?
                    Especulações à parte, o fato é que a geografia do voto, na hipótese de figurarem esses quatro candidatos na cédula, tende a ser diferente em 2014. Nos três pleitos até 2010, foram decisivos para as vitórias de Lula e Dilma os votos acumulados em Minas e no Nordeste.
                    Com Aécio e Campos na disputa, ficará difícil repetir esse padrão. Marina, por seu turno, revelou-se competitiva entre camadas médias dos grandes centros urbanos.
                    Um processo eleitoral mais disputado será bom para o país, desde que privilegie o debate de ideias, currículos, programas e uma avaliação objetiva da gestão de Dilma.
                    Se vingarem os sinais recentes do partido da presidente, contudo, o embate será travado no campo do sectarismo truculento -como ficou patente nas agressões à repórter Daniela Lima, da Folha, e à blogueira cubana Yoani Sánchez.