quarta-feira, 4 de junho de 2014

Frei Betto - Renasce o fascismo‏

Renasce o fascismo
 
Mussolini se dizia socialista e o partido de Hitler se chamava Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães


Frei Betto
Escritor, autor de Batismo de sangue (Rocco), entre outros livros
Estado de Minas: 04/06/2014


Jean-Marie le Pen, líder da direita francesa, sugeriu deter o surto demográfico na África e estancar o fluxo migratório de africanos rumo à Europa enviando, àquele sofrido continente, “o senhor Ebola”, uma referência diabólica ao vírus mais perigoso que a humanidade conhece. Le Pen fez um convite ao extermínio.

O ex-presidente francês Nicolas Sarkozy propôs a suspensão do Tratado de Schengen, que defende a livre circulação de pessoas entre 30 países europeus. Já a livre circulação do capital não encontra barreiras no mundo. E, nas eleições de 25 de maio, a extrema-direita aumentou o número de seus representantes no Parlamento Europeu. A queda do Muro de Berlim soterrou as utopias libertárias. A esquerda europeia foi cooptada pelo neoliberalismo e, hoje, frente à crise que abate o Velho Mundo, não há nenhuma força política significativa capaz de apresentar uma saída ao capitalismo.

Aqui no Brasil, nenhum partido considerado progressista aponta, hoje, um futuro alternativo a esse sistema que só aprofunda, neste pequeno planeta onde nos é dado desfrutar do milagre da vida, a desigualdade social e a exclusão.

Caminha-se de novo para o fascismo? Luis Britto García, escritor venezuelano, frisa que uma das características marcantes do fascismo é a estreita cumplicidade entre o grande capital e o Estado. Este só deve intervir na economia, como apregoava Margareth Thatcher, quando se trata de favorecer os mais ricos. Aliás, como fazem Obama e o FMI desde 2008, ao se desencadear a crise financeira que condena ao desemprego, atualmente, 26 milhões de europeus, a maioria jovens.

O fascismo nega a luta de classes, mas atua como braço armado da elite. Prova disso foi o golpe militar de 1964 no Brasil. Sua tática consiste em aterrorizar a classe média e induzi-la a trocar a liberdade pela segurança, ansiosa por um “messias” (um exército, um Hitler, um ditador) capaz de salvá-la da ameaça.

A classe média adora curtir a ilusão de que é candidata a integrar a elite, embora, por enquanto, viaje na classe executiva. Porém, acredita que, em breve, passará à primeira classe. E repudia a possibilidade de viajar na classe econômica. Por isso, ela se sente sumamente incomodada ao ver os aeroportos repletos de pessoas das classes C e D, como ocorre hoje no Brasil, e não suporta esbarrar com o pessoal da periferia nos nobres corredores dos shoppingcenters. Enfim, odeia se olhar no espelho.

O fascismo é racista. Hitler odiava judeus, comunistas e homossexuais e defendia a superioridade da “raça ariana”. Mussolini massacrou líbios e abissínios (etíopes) e planejou sacrificar meio milhão de eslavos “bárbaros e inferiores” em favor de 50 mil italianos “superiores”. O fascismo se apresenta como progressista. Mussolini, que chegou a trabalhar com Gramsci, se dizia socialista, e o partido de Hitler se chamava Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães, mais conhecido como Partido Nazista (de Nationalsozialist). Os fascistas se apropriam de símbolos libertários, como a cruz gamada, que, no Oriente, representa a vida e a boa fortuna. No Brasil, militares e adeptos da quartelada de 1964 a denominavam “Revolução”.

O fascismo é religioso. Mussolini teve suas tropas abençoadas pelo papa quando enviadas à Segunda Guerra. Pio XII nunca denunciou os crimes de Hitler. Franco, na Espanha, e Pinochet, no Chile, mereceram bênçãos especiais da Igreja Católica. O fascismo é misógino. O líder fascista jamais aparece ao lado de sua mulher. Como dizia Hitler, às mulheres fica reservada a tríade Kirche, Kuche e Kinder (igreja, cozinha e criança). O fascismo é anti-intelectual. Odeia a cultura. “Quando ouço falar de cultura, saco a pistola”, dizia Goering, braço direito de Hitler. Quase todas as vanguardas culturais do século 20 foram progressistas: expressionismo, dadaísmo, surrealismo, construtivismo, cubismo, existencialismo. Os fascistas as consideravam “arte degenerada”.

O fascismo não cria, recicla. Só se fixa no passado, um passado imaginário, idílico, como as “viúvas” da ditadura do Brasil, que se queixam das manifestações e greves e exalam nostalgia pelo tempo dos militares, quando “havia ordem e progresso”. Sim, havia a paz dos cemitérios, assegurada pela férrea censura, que impedia a opinião pública de saber o que de fato ocorria no país.

O fascismo é necrófilo. Assassinou Vladimir Herzog e frei Tito de Alencar Lima; encarcerou Gramsci e madre Maurina Borges; repudiou Picasso e os teatros Arena e Oficina; fuzilou García Lorca, Victor Jara, Marighella e Lamarca; e fez desaparecer Walter Benjamin e Tenório Júnior. Ao votar este ano, reflita se por acaso você estará plantando uma semente do fascismo ou colaborando para extirpá-la.

TeVê

TV paga



Publicação: 04/06/2014

 (Cauê Porto/Canal Brasil)


Madrugada quente

Estreia hoje, à meia-noite, no Canal Brasil, o programa Pornolândia, comandado pela atriz Nicole Puzzi. Como sugere o título, a atração tem como tema central o sexo, em entrevistas que prometem ser reveladoras. A apresentadora abre a série com as também atrizes Noelle Pine e Fabiane Thompson; a dominatrix profissional Dommenique Luxor e Madame Sher (foto), dona de uma grife de espartilhos, além de Paulão de Carvalho, vocalista da banda Velhas Virgens e fã de  pés femininos.

Documentários e curtas  são os destaques da grade

Como faz toda quarta-feira, o canal Curta! apresenta, às 20h, a sessão A vida é curta, com três filmes em sequência: Não estamos sonhando, de Luiz Pretti; Na idade da imagem ou Projeção nas cavernas, de Bruno Safadi; e Na sua companhia, de Marcelo Caetano. Às 21h, a emissora exibe a série Soy Cuba, de Mikhail Kalatozov, hoje com o episódio “O mamute siberiano”. No Futura, às 21h20, estreia o programa Viva caatinga, mostrando a fauna, a flora e alguns personagens do sertão.

Canais Arte 1, Film&Arts  e Bis apostam em música


No Arte 1, o destaque de hoje é um documentário sobre o pianista mineiro Nelson Freire, dirigido por João Moreira Salles, às 20h30. No Film&Arts, às 21h, a série Os salões da música, apresenta um dueto com os músicos franceses Antoine Tamestit (violino) e Cédric Tiberghien (piano). E no canal Bis, às 23h, a série Ritmo & Futebol revela curiosidades musicais no mundo da bola.

Até Palmirinha entra no  clima da Copa do Mundo


Por falar em futebol, até Palmirinha Onofre entra em campo, no canal Fox Life, com a equipe do Ser mulher, na prorrogação. Para começar, às 21h45, a simpática culinarista recebe os meninos de Homens gourmet, Guga Rocha, Carlos Bertolazzi, Dalton Rangel e João Alcântara, com uma deliciosa focaccia. Já às 22h, Helô e a filha Ticiane Pinheiro, Gustavo Sarti e Junior vão bater bola com a apresentadora esportiva Gabriela Pasqualin e Marisa Cintra, uma das cinco melhores atletas do mundo no futebol freestyle. Em tempo: à meia-noite, estreia na Fox Life o programa Design de acessórios, competição entre 12 concorrentes comandada pela atriz e modelo Molly Sims.

Telecine Cult apresenta filmes de Sidney Lumet


O Telecine Cult abre hoje uma seleção de filmes do diretor Sidney Lumet, começando com Até os deuses erram, às 19h55; e Doze homens e uma sentença, às 22h. Na concorrida faixa das 22h, o assinante tem mais oito opções: Cara ou coroa, no Canal Brasil; Quem quer ser um milionário, na MGM; Frida, no Studio Universal; Anônimo, no Max HD; Jogo de morte, no Space; Christine – O carro assassino, no TCM; Wall Street – O dinheiro nunca dorme, no Telecine Touch; e Elysium, na HBO. Outras atrações da programação: O tigre e o dragão, às 21h45, no Megapix; Invasão do mundo: Batalha de Los Angeles, às 22h05, no Universal; e Trainspotting – Sem limites, às 23h, no Cinemax.


CARAS & BOCAS » Tudo por amor
Simone Castro
Estado de Minas: 04/06/2014
Zelão (Irandhir Santos) dá repaginada no visual para conquistar professora  (Reprodução/Gshow/Meu pedacinho de chão)
Zelão (Irandhir Santos) dá repaginada no visual para conquistar professora

Juliana, a doce professora vivida por Bruna Linzmeyer, é o grande amor do capanga Zelão (Irandhir Santos). Com o sentimento, ele tem se transformado em um novo homem. Nos últimos capítulos de Meu pedacinho de chão (Globo), a mudança alcançou o visual do homem rude, cuja marca mais evidente era o seu cabelo cobrindo parte do rosto. Agora, depois do corte feito com um punhal, ele deu adeus aos fios compridos e surgiu um figurino cheio de charme, ao estilo toureiro espanhol A roupa de Zelão também está diferente e é destacada pela cor vermelha. A intenção é essa mesma: representar o amor. É o que explica, no site oficial da trama, a figurinista Thanara Schönardie: “A transformação do Zelão é como homem e pelo amor. É por amor que ele está se alfabetizando e se tornando uma nova pessoa”. Thanara, sobre o estilo do capanga, acrescenta que o modelo é quase o mesmo, mas perde as formas de caubói para ganhar as de um toureiro. “Ele fica muito mais sofisticado. Antes era aquele bonequinho de brinquedo rústico, primitivo, com as cores primárias, os materiais eram de plástico e borracha. Agora, ele começa a ter tecido nas roupas, o acetato e os plásticos fazem a composição nos detalhes, que deixaram de ser brutos e ganharam riqueza.” Por fim, a figurinista destaca o ponto mais marcante da mudança: o cabelo de Zelão. O personagem cortou as madeixas com um punhal. Já na vida real, a tosa da franja e as novas ondas são obra do caracterizador Rubens Libório. A repaginada do rosto deixa à vista um detalhe: os olhos de Zelão marcados com um kajal. Puro charme!

PELEZINHO VAI ANIMAR  A CRIANÇADA NA COPA


Na série Planeta futebol, serão exibidos episódios da animação Pelezinho, neste mês da Copa do Mundo, no canal Discovery Kids (TV paga). Com 13 episódios, o programa é uma coprodução da emissora com a Maurício de Sousa Produções e mostra o personagem e seus amigos numa viagem pelo mundo do futebol. Dois minutos de duração levam a turma e o telespectador a conhecer a cultura e hábitos de vários países que disputarão o mundial, como México, Itália, França, Argentina, entre outros.

LÍVIA ANDRADE É VíTIMA  DE PERFIS FALSOS NA WEB

Por meio de um comunicado, o SBT informou que a atriz e apresentadora Lívia Andrade foi vítima de perfis falsos no Facebook. Pessoas se passaram por ela para expressar opiniões e comentários inverídicos. “As informações nesses falsos perfis não correspondem com as reais opiniões e postura da apresentadora, que não possui e nunca teve uma conta ou página no Facebook”, diz o comunicado, que informou, ainda, os únicos perfis de Lívia Andrade em redes sociais: Twitter (@liviaandradesbt) e Instagram (@liviaandradereal).

MUSICAL DO CANAL VIVA LEMBRA O ASTRO CAZUZA


O canal Viva (TV paga) exibe, no sábado, às 20h15, o Globo de ouro. Com os apresentadores Isabela Garcia e César Filho, as atrações são o grupo RPM, comandado por Paulo Ricardo, que canta 4 coiotes, com direito a coro da plateia; Cazuza, que mostra Ideologia, faixa do álbum homônimo – o terceiro trabalho solo do cantor. Ele estava de volta ao Brasil depois de se submeter a um tratamento de aids nos Estados Unidos. Outros destaques são a banda Kid Abelha, com a música No meio da rua, e Lulu Santos, com o hit Toda forma de amor. A canção Deslizes, de Fagner, ocupa o primeiro lugar das paradas de sucesso.

CLARA enfim ENGATA  O  NAMORO COM MARINA

Cadu (Reynaldo Gianecchini) toma a decisão de se separar de Clara (Giovanna Antonelli), na trama de Em família. Enquanto o chef aceita o convite de Verônica (Helena Ranaldi) para dividirem o apartamento, sua ex começa o namoro com Marina (Tainá Müller). Por enquanto, nada de beijo entre elas. Ivan (Victor Figueiredo) sofre com a separação dos pais e se mostra arredio com a mãe, rejeitando também a aproximação de Marina.

APOSENTADORIA  DO RUSSO

Figura marcante das atrações da Globo, o assistente de palco Russo não teve o contrato renovado com a emissora. Aos 84 anos, ele se despediu da TV. Russo, que começou a fazer sucesso na frente das câmeras e nos bastidores ainda nos tempos do Chacrinha, era aposentado desde os 65 anos. Ele fez cinco pontes de safena e toma remédios por causa de um infarto que sofreu há dois anos. Em sua trajetória, trabalhou nos programas de Xuxa, Fausto Silva e Luciano Huck, entre outros. Antônio Pedro de Souza e Silva nasceu em Santa Catarina e começou a trabalhar na TV como animador de plateia, em 1965, a convite
de Chacrinha.

VIVA
Cena em que Cadu (Reynaldo Gianecchini) conhece a família do doador do seu coração, na trama de Em família.

VAIA

Taís Araújo como mocinha sempre se repete. Agora, não é diferente com a Verônica, de Geração Brasil (Globo).

Cadernos de viagem - A cantora Marisa Monte lança CD e DVD

A cantora Marisa Monte lança CD e DVD com o registro de seu mais recente espetáculo, Verdade uma ilusão, gravado ao vivo durante a longa turnê realizada entre 2012 e 2013



Ailton Magioli
Estado e Minas: 04/06/2014



Neste novo espetáculo, Marisa valoriza  especialmente as canções  de amor (Catarina Henriques/Divulgação)
Neste novo espetáculo, Marisa valoriza especialmente as canções de amor

Longe do impacto visual que às vezes roubava escancaradamente a cena da música em si, Marisa Monte lança, nos formatos CD, DVD e Blu-ray, o registro da vitoriosa turnê Verdade uma ilusão, na qual volta a cantar, principalmente, canções de amor. “Amar alguém só pode fazer bem. Não há como fazer mal a ninguém”, avisa, para decepção dos que resolveram tachá-la de brega.

Verdade que depois de viajar o Brasil inteiro e o exterior, entre 2012 e 2013, a cantora deixa transparecer certo cansaço vocal, com provável risco de fadiga. Nada, no entanto, que comprometa a bela performance cênico-musical da artista, que, mais uma vez, está à frente de praticamente tudo o que faz. Concepção, produção e arranjos (com banda), por exemplo, são de responsabilidade da própria Marisa.

Produzidas pela Conspiração Filmes, as filmagens tiveram direção de Cláudio Torres, que também divide a direção do show com o empresário da cantora, Leonardo Netto. Anteriormente, Cláudio já havia dirigido outros DVDs da artista, que convocou uma plateia de fã-clubes para os dois dias de gravação, na Grande Sala da Cidade das Artes, do Rio de Janeiro.

Além do power trio do grupo Nação Zumbi, formado por Lúcio Maia (guitarras, violão e sitar), Dengue (baixo) e Pupillo (bateria e cocktail drums), a banda da cantora inclui o parceiro Dadi (violões de aço e de nylon, guitarra, backing vocal, ukulele e guitarra pignose) e Carlos Trilha (teclados, voz e programação).

Um quarteto de cordas – formado por Pedro Mibielli e Glauco Fernandes (violinos), Bernardo Fantini (viola) e Marcus Ribeiro (violoncelo) – e o bandoneonista argentino Lautaro Greco também estão na formação, cuja solista exibe ainda o talento e charme da própria cantora tocando ukulele, violão e guitarra em algumas faixas.

A projeção da obra de artistas plásticos contemporâneos – Luiz Zebini, Cao Guimarães e Rivane Neuenschwander, Marcos Chaves, José Damasceno, Mana Bernardes, Tunga, Thiago Rocha Pitta e Marilá Dardot, entre outros – também é prejudicada, à exceção da faixa Depois, em que Dream sequence I, de Janaina Tschãpe, se destaca.

Vale lembrar que no show Marisa canta pela primeira vez E.C.T., da parceria com Nando Reis e Carlinhos Brown, lançada por Cássia Eller. Da dupla Antonio Amurri e Bruno Canfona, ela interpreta Sono come tu mi vuoi, que durante a turnê ela diz ter descoberto na voz da italiana Irene Grandi. Curioso poder observar como Marisa Monte vem desenvolvendo belos vocalizes, que casam bem a voz dela às cordas.

Oportuna, ainda, a capacidade da compositora em trazer à cena histórias como a do Profeta Gentileza na faixa homônima ao nome do filósofo popular. Paulista de nascimento, ele se transformou em verdadeira personalidade urbana carioca ao criar frases como “Gentileza gera gentileza”.


Três perguntas para...

Cláudio Torres
Diretor

O show da gravação parece não ser o mesmo que o público assistiu durante a turnê, que primava pelo uso de efeitos imagéticos. O uso da tecnologia poderia prejudicar de alguma forma a filmagem?
O repertório do DVD é ligeiramente diferente do show, mas filmamos todas as músicas que tinham projeções. A grande diferença é que ao vivo você assiste a uma imagem tridimensional, e muito do cenário que o Batman Zavareze (direção de arte) criou com o Marcelo Lipiani (cenografia) visava exatamente explorar essa tridimensionalidade. O DVD é 2D, então o que acredito que você define como efeitos imagéticos não pode ser capturado. Depois existe a questão da escala. As projeções eram gigantes e o som idem. Na TV fica restrito. Não existe nada como um show ao vivo. Ainda mais aquele show ao vivo. O que o DVD oferece é a proximidade. É estar perto da Marisa, dentro da banda, degustar a música decupada nos seus instrumentos. Sentar em lugares que nem são vendidos nos teatros, dentro do palco.

Em compensação, parece que o público ganhou em termos musicais, com o acréscimo de novas canções. Até que ponto Marisa Monte preferiu privilegiar a música em detrimento dos recursos de imagem?
A ideia foi registrar um concerto. Capturar sem muita afetação, sem cortes rápidos ou o uso de pós-produção. Filmar a música sendo tocada, tendo como diálogo o sentido cênico daquelas videoartes.

Como avalia a experiência de dirigir Marisa Monte, experiência que dividiu com o empresário dela, Leonardo Netto?
Trabalho há muitos anos com Marisa e Leo, desde 1988. Ninguém dirige a Marisa. Ela nos dirige. Somos os olhos e os ouvidos dela fora do palco. Mas mais do que tudo somos amigos. Alem de espantosamente talentosa, Marisa é uma mulher muito inteligente.

Nem comédia, nem favela

Cinema brasileiro descobre novos caminhos para filmes adultos, que vão além dos blockbusters. Cinebiografias também se firmam no mercado com nova safra



Mariana Peixoto
Estado de Minas: 04/06/2014

Leandra Leal e Milhem Cortaz em O lobo atrás da porta, de Fernando Coimbra, que vai estrear em 60 salas brasileiras (Imagem Filmes/Divulgação)
Leandra Leal e Milhem Cortaz em O lobo atrás da porta, de Fernando Coimbra, que vai estrear em 60 salas brasileiras

Duas comédias ocupam os últimos lugares dos 10 filmes mais vistos no país neste ano, até 1º de junho: Até que a sorte nos separe 2 e S.O.S. Mulheres ao mar. É um dado que vem ratificar o que ocorreu nos anos anteriores. Em 2013, duas produções do mesmo gênero ficaram entre as 10 mais: Minha mãe é uma peça e De pernas pro ar 2. Em 2012, foi uma só no ranking, mas também uma comédia: Até que a sorte nos separe. Porém, uma leva de filmes que chegam nos próximos meses nos cinemas prova que existe vida no cinema nacional para além dos chamados blockbusters.

São as produções médias, para o público adulto que, “comendo pelas beiradas”, tenta ocupar as salas comerciais entre um X-Men e um Homem-Aranha. “As comédias e os filmes biográficos são apostas de menor risco para o produtor. Mas hoje em dia acho que há uma baixa rejeição de qualquer tipo de filme brasileiro. Com a performance que o longa teve em festivais, estou vendo que o público está querendo ver uma coisa diferente, que não seja comédia ou filme de favela”, afirma o cineasta Fernando Coimbra, diretor de O lobo atrás da porta, thriller que estreia amanhã.

Primeiro longa-metragem de Coimbra O Lobo..., é inspirado num crime que os mais velhos darão notícia. Em 1960, um triângulo amoroso culmina no assassinato trágico de uma menina no subúrbio carioca, no caso que ficou chamado de a “Besta da Penha”. Com Leandra Leal, Milhem Cortaz e Fabíula Nascimento, O lobo atrás da porta vai estrear em 60 salas do país, um lançamento de pequeno para médio porte, ainda distante do três dígitos em número de salas que cercam as grandes produções.

“Estamos apostando no que pode vir a acontecer. E a maior bilheteria do cinema brasileiro não é uma comédia”, completa Coimbra, referindo-se ao grande campeão de qualquer ranking, Tropa de elite 2, que em 2010 levou 11 milhões de espectadores aos cinemas. Referendado por uma série de prêmios (melhor filme em festivais de San Sebastián, na Espanha; Havana, em Cuba; Miami, nos EUA; e Rio), O lobo atrás da porta também não se encontra naquele espaço que muitas vezes “engole” vários longas, o do chamado “filme de arte”.

“Acho que está faltando que os filmes se diferenciem. Tem os filmes de mercado, que são grandes, e os de arte. Muitos se tornam inacessíveis porque têm dificuldade de se colocar (no mercado). E há vários nichos”, afirma o cineasta Paulo Sacramento, que lança nesta semana, em algumas capitais, Riocorrente, seu primeiro longa de ficção. A história, ambientada em São Paulo, é, pela definição do diretor, um drama urbano. Também está em foco um triângulo amoroso, que passeia pelas diferentes classes sociais – e consequentemente, pelos diferentes mundos que formam a metrópole.

“É um filme inteirinho de locação, filmado de forma semidocumental. Não transformamos as locações em set de cinema, filmamos com as pessoas que estavam circulando na região”, afirma Sacramento. As filmagens ocorreram dois anos atrás, muito antes das manifestações populares, mas ele acredita que o lançamento justamente agora vai ajudar o filme. “O filme tem cenas em show de rock pesado, artistas (como eles próprios) como Arnaldo Baptista e uma outra série de referências pop. Essa ponte é acessível a um público jovem, pois a história conversa diretamente com o que ocorreu no ano passado.” Talvez por isso, apesar de estrear quase que simultaneamente à Copa do Mundo, um período difícil, Sacramento acredite que ele pode provocar discussão. “Não adianta querer vender o cinema brasileiro como um todo, cada produção é muito específica.”

Drama urbano
Quando Boa sorte, estreia na ficção de Carolina Jabor, chegar aos cinemas, todo o barulho da Copa já terá arrefecido – o drama urbano deve estrear em 9 de outubro. A diretora também aposta na força de seu elenco para levar o público aos cinemas: Deborah Secco faz a protagonista Judite e Fernanda Montenegro tem uma participação importante. Já o principal papel masculino é de um ator pouco conhecido, João Pedro Zappa, escolhido por meio de teste.

Uma Deborah Secco bem magra, com aspecto distante do que o grande público está acostumado a vê-la, interpreta uma viciada de 30 e poucos anos que conhece João, um jovem que é internado pelos pais na mesma clínica de reabilitação. O vício dele é Frontal com Fanta, título do conto de Jorge Furtado de onde Carolina tirou a inspiração para o longa. O roteiro é do próprio Furtado, com seu filho Pedro. Uma história de amor, quase como uma educação sentimental, como define Carolina, mostra o encontro de uma mulher que está no fim da vida com um jovem que está prestes a começá-la.

“Nunca tive vontade de fazer uma produção de época ou regional. Acredito que Boa sorte seja um filme para um jovem resolvido, mais ligado, sensível e delicado. E trata de um tema muito contemporâneo, que é a droga lícita. Minha busca foi na intenção de fazer um filme do nosso tempo”, finaliza.

Trinta, de Paulo Machline, com Matheus Nachtergaele, chega às telas em setembro (Fox Films/Divulgação  )
Trinta, de Paulo Machline, com Matheus Nachtergaele, chega às telas em setembro


Vida real nas telas

Getúlio, a cinebiografia que reconta os últimos dias da vida do presidente brasileiro que mais tempo ficou no poder, estreou em todo o país em 1º de maio. Ao longo de seu primeiro mês em cartaz, o filme de João Jardim teve que disputar espaço com quatro blockbusters: O espetacular Homem-Aranha 2, Godzilla, X-Men – Dias de um futuro esquecido e Malévola. Até domingo, Getúlio havia alcançado um público de 470.400 espectadores.

Filão com forte apelo de público, a cinebiografia terá ao longo deste ano outros quatro lançamentos de peso. O primeiro é Tim Maia (previsto para 7 de agosto), de Mauro Lima, inspirado no livro Vale tudo – O som e a fúria de Tim Maia, de Nelson Motta. Uma semana mais tarde deve estrear Não pare na pista, coprodução Brasil/Espanha dirigida por Daniel Augusto. A narrativa retrata a vida de Paulo Coelho antes de se tornar o autor internacional de best-sellers. No recorte do filme, está a juventude do escritor, na década de 1970, seu envolvimento com as drogas e as internações em clínicas psiquiátricas.

Na sequência, em 23 de setembro, está marcada a estreia de Trinta, de Paulo Machline, longa que traz Matheus Nachtergaele como o carnavalesco Joãosinho Trinta. Por fim, em 27 de novembro, deve chegar aos cinemas Irmã Dulce, de Vicente Amorim, biografia sobre a religiosa baiana. Como a produção vai percorrer diferentes fases da freira, ela terá duas intérpretes: Bianca Comparato, quando jovem, e Regina Braga, adulta.

Vida real nas telas


Getúlio, a cinebiografia que reconta os últimos dias da vida do presidente brasileiro que mais tempo ficou no poder, estreou em todo o país em 1º de maio. Ao longo de seu primeiro mês em cartaz, o filme de João Jardim teve que disputar espaço com quatro blockbusters: O espetacular Homem-Aranha 2, Godzilla, X-Men – Dias de um futuro esquecido e Malévola. Até domingo, Getúlio havia alcançado um público de 470.400 espectadores.

Filão com forte apelo de público, a cinebiografia terá ao longo deste ano outros quatro lançamentos de peso. O primeiro é Tim Maia (previsto para 7 de agosto), de Mauro Lima, inspirado no livro Vale tudo – O som e a fúria de Tim Maia, de Nelson Motta. Uma semana mais tarde deve estrear Não pare na pista, coprodução Brasil/Espanha dirigida por Daniel Augusto. A narrativa retrata a vida de Paulo Coelho antes de se tornar o autor internacional de best-sellers. No recorte do filme, está a juventude do escritor, na década de 1970, seu envolvimento com as drogas e as internações em clínicas psiquiátricas.

Na sequência, em 23 de setembro, está marcada a estreia de Trinta, de Paulo Machline, longa que traz Matheus Nachtergaele como o carnavalesco Joãosinho Trinta. Por fim, em 27 de novembro, deve chegar aos cinemas Irmã Dulce, de Vicente Amorim, biografia sobre a religiosa baiana. Como a produção vai percorrer diferentes fases da freira, ela terá duas intérpretes: Bianca Comparato, quando jovem, e Regina Braga, adulta. 

REGENERAÇÃO CEREBRAL » Descoberto neurônio que aciona células-tronco‏

REGENERAÇÃO CEREBRAL » Descoberto neurônio que aciona células-tronco
Estado de Minas: 04/06/2014




Até poucas décadas atrás, acreditava-se que o cérebro totalmente desenvolvido era incapaz de gerar novos neurônios. Hoje, sabe-se que o órgão jamais perde essa habilidade. Agora, mais uma vez, os cientistas são surpreendidos. Na Universidade de Duke, pesquisadores identificaram um tipo de célula cerebral que pode ordenar a produção de novos neurônios. O estudo, embora em fase in icial, levanta a esperança de que, um dia, o órgão possa se autorregenerar.

Os neurocientistas já suspeitavam que o cérebro tinha algum potencial de fabricar novos neurônios, mas não se sabia de onde vinham essas instruções, explica Chay Kuo, professor de biologia celular, neurobiologia e pediatria da instituição americana. Em uma pesquisa com ratos, a equipe de Kuo descobriu uma população de neurônios na zona subventricular do cérebro adulto. Essas células expressam a enzima colina-acetiltransferase (ChAT), necessária para produzir o neurotransmissor acetilcolina. Com ferramentas da optogenética – técnica não invasiva que permite visualizar e manipular circuitos neurais –, os pesquisadores conseguiram ver claramente que os neurônios dessa população estão associados com grupos de células-tronco. A pesquisa foi publicada na edição da revistsa Nature Neuroscience.

A população de neurônios ChAT+ maduros é apenas uma parte de um circuito neural pouco conhecido, que aparentemente “conversa” com células-tronco cerebrais e “encomenda” a elas o aumento da produção de novos neurônios, diz Kuo. Ele explica que ainda não foram desvendadas todas as partes da rede nem qual o código ela usa. Contudo, ao manipular os sinais dos ChAT+, a equipe de Duke teve certeza de que esse grupo de células é necessário para controlar a produção na região subventricular do cérebro.

“Temos trabalhado para determinar como a neurogênese se sustenta no cérebro adulto. É muito animador descobrir esse caminho escondido, um circuito neural que pode instruir diretamente as células-tronco a fazer mais neurônios imaturos”, diz Kuo. Ele espera que, no futuro, à base de células-tronco, seja possível estimular a neurogênese no cérebro, logo após uma lesão, fazendo com que funções afetadas sejam regeneradas. 

Estudo relaciona uma visão cínica do mundo a deficiências cognitivas

Desconfiança ligada à demência

 
Estudo relaciona uma visão cínica do mundo a deficiências cognitivas, como as típicas do mal de Alzheimer. Não se sabe, porém, se a atitude é causa ou sintoma do problema mental



Paloma Oliveto
Estado de Minas: 04/06/2014



 (Anderson Araújo/CB/D.A Press)




Brasília – Cínico, dizia o jornalista americano H. L. Mencken, é aquele que, ao sentir cheiro de flor, já procura pelo caixão. Todo mundo conhece alguém do tipo: rabugento, mal-humorado e, principalmente, muito desconfiado. Embora até inspire certa graça, esse traço da personalidade pode ser sinal de que algo não vai bem com a saúde mental, segundo pesquisadores europeus. Ao analisar a trajetória médica de um grupo de 1,5 mil pessoas, os cientistas descobriram que, ao lado da pressão alta, do colesterol elevado e do tabagismo, o cinismo é fator de risco para a demência.
De acordo com Anna-Maija Tolppanen, psiquiatra da Universidade do Leste da Finlândia e principal autora do artigo, publicado na edição on-line da revista Neurology, esse é o primeiro estudo a fazer a associação entre cinismo e demência. Existe uma síndrome batizada com o nome do filósofo cínico Diógenes, caracterizada, entre outras coisas, pela deterioração cognitiva. Mas, nesse caso, a demência é apenas um entre diversos sintomas. Já no trabalho das instituições nórdicas, os pesquisadores acharam uma ligação direta entre o excesso de desconfiança e o comprometimento das funções mentais. A médica esclarece que não é possível dizer, ainda, o que vem primeiro. Ou seja, se a atitude cínica favorece a demência, ou se o excesso de desconfiança é um sintoma das perdas cognitivas.

No estudo, indivíduos finlandeses e suecos com média de idade de 71 anos passaram por testes que identificam traços de demência e responderam a questionários para avaliar o nível de cinismo. Por exemplo, eles tinham de dizer o quanto concordavam com afirmações, como “É mais seguro não confiar em ninguém”, “Acho que a maior parte das pessoas mente para se dar bem” e “A maior parte das pessoas vai usar meios ilegais para obter lucros”. Baseado nesses resultados, os cientistas as classificaram como muito cínicas, moderadas ou pouco cínicas. Os testes foram repetidos ao longo de oito anos. No fim, 662 pessoas participaram do experimento completo.

Durante o período da análise, 46 participantes receberam o diagnóstico de demência. Aqueles que apresentavam altos níveis de comportamento cínico tinham três vezes mais risco de sofrer de deterioração cognitiva, comparando-se aos classificados com baixo teor de desconfiança. Os pesquisadores ajustaram dados, como tabagismo, que têm associação com a demência, para se assegurar de que o cinismo, de fato, influencia a saúde da mente na velhice.

Segundo Anna-Maija, os cientistas investigaram essa relação porque, embora a prática clínica evidencie que uma forte característica de pacientes com demência é o alto índice de cinismo, a literatura médica a respeito é nula. “Sabemos da influência de fatores de risco em vários tipos de doenças, incluindo o declínio cognitivo. Por outro lado, a desconfiança cínica já foi associada a doenças cardiovasculares, ao câncer e à mortalidade em geral. Contudo, não encontramos nenhuma pesquisa que tenha investigado se pessoas com altos níveis de cinismo estão mais suscetíveis à demência”, afirma ao Estado de Minas.

Mais dados “Sabemos que algumas pessoas com demência apresentam sintomas de paranoia, confusão e mudança de humor que podem levar ao cinismo e à desconfiança. Entender mais profundamente os sintomas de demência já conhecidos, incluindo mudanças de personalidade, oscilação de humor e depressão, vai nos ajudar a aprimorar o conhecimento que temos dessa condição e melhorar o tratamento, os cuidados e o suporte que podemos fornecer”, avalia Jeremy Hughes, presidente executivo da Sociedade de Alzheimer do Reino Unido.

Contudo, Hughes acredita que o resultado da pesquisa finlandesa precisa ser replicado com um número maior de pacientes. “O estudo tenta fazer um link entre altos níveis de desconfiança cínica e demência, mas uma quantidade muito baixa de indivíduos que participaram dos testes de fato desenvolveu o problema, então creio que é precoce tirar conclusões definitivas a partir dele”, pondera.

Anna-Maija Tolppanen esclarece que precisa ampliar a amostra. “Nosso estudo sugere que o comportamento cínico pode ser um alvo de intervenções precoces para o Alzheimer e outros tipos de demência, mas temos consciência da necessidade de outros cientistas replicarem o resultado com números maiores de participantes”, diz.

Para Diane Norris, psiquiatra do Instituto de Alzheimer da Universidade de Wisconsin, a pesquisa chama a atenção sobre a necessidade de intervenções psicossociais em idosos com alterações comportamentais. Ela lembra que os danos cerebrais associados à demência geralmente levam a uma falta de controle sobre as emoções. “Embora nem todas as pessoas com perdas cognitivas vão exibir mudanças no comportamento, muitas se sentirão ansiosas, deprimidas, frustradas, raivosas, sem esperança e sem confiança nos outros. Essas não são características normais do envelhecimento, mas um sinal de que algo está errado”, adverte. A especialista lembra que tratar esses sintomas, ainda que não influencie diretamente no processo da demência – não existe cura para o mal – vai trazer mais qualidade de vida para o idoso e seus cuidadores.

Eduardo Almeida Reis - Fatos‏

Por falar em Tóquio, pergunto ao caro e preclaro leitor: que fim levou o trem-bala que ligaria o Rio à cidade de Campinas?

Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 04/06/2014

Em números redondos, Minas tem 20 milhões de habitantes ocupando 586 mil km2, enquanto a França tem 66 milhões em 674 mil km2. Considerando-se que as áreas são quase do mesmo tamanho, aqui tem menas gente, como diz o vinte sétimo honoris causa.

A lista de metros quadrados disponíveis em Belo Horizonte, publicada em nossa edição do dia 30 de abril, mostra que ainda cabe muita gente na capital de todos os mineiros. Salgado Filho, bairro que leva o nome de ilustre brasileiro, tem 600 mil metros quadrados disponíveis: cabe gente à beça. O Belvedere, com 59 mil metros quadrados em estoque, na dependência do tamanho dos prédios comporta uma nova Belo Horizonte. Precisamos acabar com esta bobagem de construir prédios de 20 ou 30 andares.

Não sei como anda o projeto de uma torre de 85 andares, que seria ou será construída em complexo de lazer próximo ao Boulevard Shopping, número de andares que me parece pequeno quando se sabe que a Arábia Saudita está acabando um edifício de 200 andares e um quilômetro de altura.

Belô tem espaço para diversos prédios de um quilômetro ou mais. É humilhante constatar que a população total da capital, em 341 km2, anda por volta de 2,37 milhões de pessoas, contra 11,8 milhões da cidade de São Paulo, pouco importa se distribuídos numa área de 1.522 milhão de km2. Humilhante, outrossim, a notícia de que, pelo feriadão de 1º de maio, não saiu de BH nem a metade dos quase dois milhões de veículos que saíram de São Paulo.

Belo Horizonte pode anexar os 3.941 hectares do Parque Estadual da Serra do Rola-Moça para humilhar o planeta com uma população maior que a de Tóquio, de mesmo passo em que acaba com os incêndios anuais no capim do Rola-Moça.

Por falar em Tóquio, pergunto ao caro e preclaro leitor: que fim levou o trem-bala que ligaria o Rio à cidade de Campinas? Faz tempo que não vejo na mídia uma palavra sobre o projeto do “nosso” trem-bala, enquanto o Japão anuncia o seu próximo comboio de altíssima velocidade para circular 10 centímetros acima do solo. Deve entrar em funcionamento dentro de poucos anos utilizando processo magnético que não entendi na reportagem televisiva.


Calidoscópio
Tenho tido pensamentos noturnos sob a forma de calidoscópio, sucessão vertiginosa de ações e sensações. É palavra que nos chegou em 1844 através do francês kaléidoscope, do grego kalós ‘belo’ + eîdos ‘forma’ + -skopeîn ‘olhar’ – e não deve ser boa coisa nem sei quanto tempo dura, mas me lembro de tudo que soube da vida de uma pessoa, não necessariamente amiga. Algo assim como um arquivo informático que o cérebro abre à noite, sem explicação, nos períodos em que o cavalheiro está acordado.

A ciência moderna deve ter explicação para o surto mnemônico, sobretudo agora que descobriu as virtudes da melancia no tratamento da disfunção erétil, nome bonito para impotência sexual. Não por acaso a melancia é uma trepadeira: Citrullus lanatus, da família das cucurbitáceas, de folhas trilobadas, gavinhas bífidas e pepônios muito grandes, concolores ou marmorados, polpa sucosa avermelhada e doce, com sementes de que se faz bebida diurética e vermífuga. Nativa da África e naturalizada nas Américas é muito cultivada, com inúmeras variedades, pelos frutos comestíveis, também usados em cosméticos e agora para a terrível disfunção.

Soníferos devem impedir surtos mnemônicos, mas têm o defeito de ser tranquilizantes com longo tempo de duração, deixando o paciente calmo e sonolento no dia seguinte, como descobri quando andei tomando Rivotril 0,25. Enquanto der, vou convivendo com os surtos noturnos e seja o que os deuses quiserem.


O mundo é uma bola
4 de junho: faltam 210 dias para acabar o ano e poucos dias para começar a Copa das Copas. Em 1039, Heinrich III se torna imperador do Sacro Império Romano-Germânico. Cognominado o Negro (racismo?), Heinrich III (1017-1056) pertencia à Dinastia Saliana (ou Francônia) dos sacro imperadores romanos.

Casou-se com Gunhilda da Dinamarca, também chamada Cunegunda, filha do rei Canuto II da Dinamarca. Cunegunda foi a óbito depois de parir Beatriz, que seria abadessa, isto é, prelada ou superiora de mosteiro ou abadia. Viúvo, o Negro casou-se com Inês de Aquitânia, que lhe deu mais seis filhos, entre os quais Heinrich IV, sacro imperador romano.

A Francônia permite ou exige, sei lá, que os seus vinhos sejam engarrafados naquelas garrafas bojudas chamadas Bocksbeutel (testículos de bode), parecidas com as bolsas dos machos caprinos em que se transportavam os vinhos há centenas de anos. Já pensaram?

Em 1943, o Grupo dos Oficiais Unidos, fundado pelo coronel Juan Domingo Perón, comanda um golpe de Estado na Argentina, que derruba o presidente Ramón Castillo. A partir de então o peronismo destruiu a Argentina, que tinha tudo para dar certo.


Ruminanças
“Flechado na Praça dos Três Poderes, em Brasília, DF, passa bem o cabo-PM Kléber Ferreira. Parece que a flecha não tinha curare” (R. Manso Neto).

Valorizar magistrados e o Judiciário - Nelson Missias de Morais

Valorizar magistrados e o Judiciário 
 
Nelson Missias de Morais
Vice-presidente Legislativo da AMB e desembargador do TJMG
Estado de Minas: 04/06/2014




O juiz que ingressa na magistratura hoje tem o mesmo vencimento que outro com 20 anos ou mais de exercício da carreira. Nenhum deles tem direito à valorização pelo tempo de serviço, de dedicação e aprimoramento. Em muitos casos, percebem remuneração inferior a outras carreiras que não têm a mesma responsabilidade nem as restrições do magistrado. Os magistrados não podem exercer qualquer outra atividade remunerada, salvo uma de magistério, tampouco exercer cargos eletivos ou administrativos nos demais poderes (secretários, ministros, deputados e senadores, prefeito ou governador).

São também impedidos do exercício de atividade empresarial ou da advocacia. Essas restrições não existem por acaso. Ao se estabelecer esses limites constitucionais, o que se quis foi instituir agentes de Estado dedicados exclusivamente à causa da Justiça com a missão de distribuir justiça. A dedicação exclusiva e a independência do magistrado são dois pilares fundamentais para uma prestação jurisdicional célere e isenta. Assim o exige o Estado de direito. Somente quem precisa de um juiz pode reconhecer e ter a dimensão do significado da sua independência. É nela que se estabelece o equilíbrio entre o fraco e o forte para o enfrentamento das forças na hora de julgar o direito dos cidadãos.

Esses temas e seus efeitos são preocupações cotidianas e permanentes dos representantes legítimos da magistratura nacional, especialmente os da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), que estão em constante interlocução com o Congresso Nacional em defesa do aperfeiçoamento do Judiciário.

Estratégia semelhante é adotada perante o Conselho Nacional de Justiça no acompanhamento de processos envolvendo magistrados e o próprio Judiciário e, no Supremo Tribunal Federal, em favor da elaboração da nova Lei Orgânica da Magistratura, que regula o desempenho dessa atividade e de toda a carreira. Agora, por exemplo, desenhou-se um trabalho de integração e mobilização da AMB envolvendo as principais associações de magistrados – Anamatra, Ajufe e associações estaduais – mais o Colégio Permanente de Presidentes de Tribunais de Justiça em defesa da aprovação, no Congresso Nacional, da PEC 63, que institui parcela por tempo de serviço na magistratura e no Ministério Público.

Longe de ser um privilégio, ao contrário das demais carreiras, as da Magistratura e do Ministério Público não possuem progressão horizontal, o que impede a valorização da experiência profissional, de modo que o juiz e o promotor que ingressam hoje recebem vencimentos de valor muito próximo ao dos que estão no topo da carreira, alguns com mais de 30, 40 anos de atividade.

Para magistrados e promotores não há escalonamento remuneratório em níveis, funções, gratificações, jetons e outros, como normalmente estão estruturadas as carreiras de servidores em geral, inclusive as ditas carreiras de Estado. As promoções, que corresponderiam a uma progressão vertical para magistrados, por exemplo, ocorrem somente quando há vaga, o que leva menos de 10% dos juízes a chegarem ao topo da carreira.

Segundo dados do CNJ, no ano passado, 531 magistrados e candidatos aprovados em concursos públicos deixaram os respectivos cargos por conta da baixa atratividade da carreira na atualidade, baixa remuneração e alto grau de responsabilidade. Essa é uma situação que merece profunda reflexão do legislador e de toda a sociedade. A proposta das associações de magistrados está pronta para o debate e para a votação, especialmente depois que dela foi extraída a sua natureza indenizatória, que excluía os aposentados, numa flagrante quebra da paridade com os inativos. Com sua aprovação na CCJ do Senado Federal demos o primeiro passo de uma longa caminhada. Foram dezenas de visitas aos senadores, líderes partidários e de governo no Senado Federal. Esses contatos e essa mobilização são fundamentais para se chegar ao resultado esperado pelos juízes brasileiros.

Além da integração e mobilização, é necessário manter a vigilância e o acompanhamento de cada passo da tramitação legislativa da proposta, com muita habilidade. A magistratura está madura e preparada para o debate com senadores, deputados e sociedade.

Valor dos ativos vai oscilar a cada nova pesquisa eleitoral André Delben Silva

O mercado e as eleições
 
Valor dos ativos vai oscilar a cada nova pesquisa eleitoral

André Delben Silva
Sócio da Sonar Investimentos

Estado de Minas: 04/06/2014


As eleições presidenciais são sempre importantes para o mercado financeiro, pois tendem a ser um momento de incerteza entre a continuidade e a mudança. Se voltarmos um pouco no tempo, veremos que as eleições presidenciais de 2002 tiveram um grande impacto nos ativos brasileiros. À medida que aumentava a possibilidade de Lula ser eleito, houve uma deterioração grande dos preços dos ativos do país, com o dólar chegando perto de R$ 4,00. O que estava em jogo naquele momento? De um lado, tínhamos a continuidade da política econômica do governo do PSDB, baseada na ortodoxia macroeconômica e no famoso “tripé macroeconômico”: regime de metas para a inflação, câmbio flutuante e metas de superávit fiscal primário. Do outro lado, havia muita incerteza sobre qual seria a política econômica do governo Lula. Iríamos caminhar para o comunismo? Perder todos os ganhos desde a introdução do Plano Real? Em certo momento, o mercado enxergou uma grande diferença entre os dois candidatos e ficou muito assustado com Lula. Felizmente, Lula não mudou muita coisa na condução da política macroeconômica e os mercados se acalmaram.

E hoje? Começamos o ano com a presidente Dilma favorita para ser reeleita, dada a sua popularidade e relativa fraqueza da oposição. Por volta de março, o cenário virou de maneira surpreendente, com uma pesquisa atrás da outra mostrando cada vez mais a possibilidade de que tenhamos segundo turno e que a reeleição de Dilma já não é mais algo garantido. A mudança do quadro eleitoral tem provocado movimentos fortes nos ativos. Desde então, o dólar caiu, as taxas de juros caíram, o prêmio de risco exigido dos ativos brasileiros caiu e a bolsa subiu, com as ações das empresas estatais tendo desempenho surpreendente (Petrobras, por exemplo, subiu mais de 50% desde o início de março). De certa maneira, ao acreditar na maior chance de uma vitória da oposição e com isso aumentar o preço dos ativos brasileiros, os investidores estão nos dizendo que o governo Dilma tem sido ruim para a economia (e, portanto, para os ativos financeiros) e que as alternativas seriam melhores. Essa visão dos investidores advém da percepção de que foram cometidos diversos erros na condução da economia brasileira. Em primeiro lugar, tivemos praticamente o abandono do tripé macroeconômico: a inflação corre acima da meta há vários anos e sem expectativa de retorno no curto prazo, o câmbio é fortemente controlado por intervenções do Banco Central e as metas de superávit fiscal primário somente são cumpridas às custas de muita contabilidade criativa. Além disso, o governo passou a ser cada vez mais intervencionista no funcionamento da economia, sendo o controle do preço da gasolina o maior exemplo, quando a Petrobras precisa comprar gasolina no exterior por um preço maior do que pode vender aqui dentro do país.

Tudo somado, os investidores estão dizendo que a saída de Dilma seria benéfica para a economia do país. Como estamos apenas no início de junho, o cenário eleitoral ainda vai mudar muito até a eleição e a tendência é que os ativos se movimentem ao sabor de cada pesquisa eleitoral. A não ser que caminhemos para uma decisão mais clara, como a presidente Dilma retomar sua popularidade nas pesquisas, a tendência é que tenhamos muita volatilidade até a decisão de quem será o novo presidente. E como o mercado interpreta as alternativas como muito diferentes, poderemos ter preços de ativos muito melhores ou muito piores em novembro. Isso torna a vida do gestor de recursos muito difícil neste período.