terça-feira, 11 de junho de 2013

USP lança curso on-line de física e de estatística

folha de são paulo
SABINE RIGHETTI
DE SÃO PAULO

A USP lança amanhã seus primeiros cursos abertos e gratuitos na internet, na onda do que já tem sido feito nos EUA nos chamados Moocs (sigla em inglês para curso massivo on-line e aberto).
Por aqui, os cursos serão de física mecânica básica e de probabilidade e estatística. Ambos compõem o primeiro ano das engenharias.
Os interessados devem se inscrever a partir de amanhã no Veduca (veduca.com.br), plataforma na internet que reúne os cursos.
De acordo com os organizadores da Poli USP, os cursos podem ser feitos por qualquer pessoa. Mas são montados tendo em mente um estudante do primeiro ano de um curso de engenharia.
"A qualidade USP tem de ser acessível a toda sociedade", diz o físico Vanderlei Salvador Bagnato, da USP de São Carlos, responsável pelo curso de física mecânica básica.
Esse curso tem 45 videoaulas acompanhadas de exercícios. As atividades devem levar pelo menos três meses para serem concluídas.
Ao final, há um exame. Se aprovado, o aluno ganha um certificado -que não vale, ainda, como crédito de graduação ou de pós-graduação.
"Mas pode ser que, no futuro, alguns cursos de engenharia passem a usar o certificado do nosso curso on-line como crédito", acredita.
No curso de probabilidade e estatística, as videoaulas duram em média 15 minutos. "Senão o aluno se distrai", diz Melvin Cybalista, da Poli-USP, que ministra o curso.
O modelo da Veduca segue plataformas já usadas nos EUA como edX (com 59 cursos) e Coursera (com 386 cursos), de universidades de ponta como Harvard e MIT.
Nessas plataformas, há desde introdução à programação até noções sobre direitos humanos. A USP também quer expandir a oferta.
A iniciativa não é inédita no Brasil. A ABMES (Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior) já conduziu um Mooc independente, sobre língua portuguesa, que começou em abril e terminou ontem, com mais de 5.000 inscritos.
*
SAIBA MAIS
Cursos oferecidos
Física mecânica básica (com certificado)
Probabilidade e estatística (sem certificado)
Valor
Gratuito
Duração
Média de três meses, mas o ritmo é determinado pelos alunos
Quem pode fazer
Qualquer pessoa. Não há exigência de formação, mas os cursos são planejados para estudantes de cursos de engenharia
Inscrições
Abertas a partir de amanhã, no site Veduca (www.veduca.com.br), que servirá como plataforma para os cursos

Bolsa Família enfraquece o coronelismo e rompe cultura da resignação, diz socióloga

folha de são paulo
ELEONORA DE LUCENA
DE SÃO PAULO

Dez anos após sua implantação, o Bolsa Família mudou a vida nos rincões mais pobres do país: o tradicional coronelismo perde força e a arraigada cultura da resignação está sendo abalada.
A conclusão é da socióloga Walquiria Leão Rego, 67, que escreveu, com o filósofo italiano Alessandro Pinzani, "Vozes do Bolsa Família" (Editora Unesp, 248 págs., R$ 36). O livro será lançado hoje, às 19h, na Livraria da Vila do shopping Pátio Higienópolis. No local, haverá um debate mediado por Jézio Gutierre com a participação do cientista político André Singer e da socióloga Amélia Cohn.
Durante cinco anos, entre 2006 e 2011, a dupla realizou entrevistas com os beneficiários do Bolsa Família e percorreu lugares como o Vale do Jequitinhonha (MG), o sertão alagoano, o interior do Maranhão, Piauí e Recife. Queriam investigar o "poder liberatório do dinheiro" provocado pelo programa.
Aproveitando férias e folgas, eles pagaram do próprio bolso os custos das viagens. Sem se preocupar com estatística, a pesquisa foi qualitativa e baseada em entrevistas abertas.
Professora de teoria da cidadania na Unicamp, Rego defende que o Bolsa Família "é o início de uma democratização real" do país. Nesta entrevista, ela fala dos boatos que sacudiram o programa recentemente e dos preconceitos que cercam a iniciativa: "Nossa elite é muito cruel", afirma.
Karime Xavier-31.mai.13/Folhapress
Socióloga Walquiria Leão Rego, uma das autoras do livro sobre o Bolsa Família, que será lançado hoje, às 19h, na Livraria da Vila, em SP
Walquiria Leão Rego, uma das autoras do livro sobre o Bolsa Família, que será lançado hoje, às 19h, na Livraria da Vila, em SP
Folha - Como explicar o pânico recente no Bolsa Família? Qual o impacto do programa nas regiões onde a sra. pesquisou?
Walquiria Leão Rego - Enorme. Basta ver que um boato fez correr um milhão de pessoas. Isso se espalha pelos radialistas de interior. Elas [as pessoas] são muito frágeis. Certamente entraram em absoluto desespero. Poderia ter gerado coisas até mais violentas. Foi de uma crueldade desmesurada. Foi espalhado o pânico entre pessoas que não têm defesa. Uma coisa foi a medida administrativa da CEF (Caixa Econômica Federal). Outra coisa é o que a policia tem que descobrir: onde começou o boato. Fiquei estupefata. Quem fez isso não tem nem compaixão. Nossa elite é muito cruel. Não estou dizendo que foi a elite, porque seria uma leviandade.
Como assim?
Tem uma crueldade no modo como as pessoas falam dos pobres. Daí aparecem os adolescentes que esfaqueiam mendigos e queimam índios. Há uma crueldade social, uma sociedade com desigualdades tão profundas e tão antigas. Não se olha o outro como um concidadão, mas como se fosse uma espécie de sub-humanidade. Certamente essa crueldade vem da escravidão. Nenhum país tem mais de três séculos de escravidão impunemente.
Qual o impacto do Bolsa Família nas relações familiares?
Ocorreram transformações nelas mesmas. De repente se ganha uma certa dignidade na vida, algo que nunca se teve, que é a regularidade de uma renda. Se ganha uma segurança maior e respeitabilidade. Houve também um impacto econômico e comercial muito grande. Elas são boas pagadoras e aprenderam a gerir o dinheiro após dez anos de experiência. Não acho que resolveu o problema. Mas é o início de uma democratização real, da democratização da democracia brasileira. É inaceitável uma pessoa se considerar um democrata e achar que não tenha nada a ver com um concidadão que esteja ali caído na rua. Essa é uma questão pública da maior importância.
O Bolsa Família deveria entrar na Constituição?
A constitucionalização do Bolsa Família precisava ser feita urgentemente. E a renda tem que ser maior. Esse é um programa barato, 0,5% do PIB. Acho, também, que as pessoas têm direito à renda básica. Tem que ser uma política de Estado, que nenhum governo possa dizer que não tem mais recurso. Mas qualquer política distributiva mexe com interesses poderosos.
A sra. poderia explicar melhor?
Isso é histórico. A elite brasileira acha que o Estado é para ela, que não pode ter esse negócio de dar dinheiro para pobre. Além de o Bolsa Família entrar na Constituição, é preciso ter outras políticas complementares, políticas culturais específicas. É preciso ter uma escola pensada para aquela população. É preciso ter outra televisão, pois essa é a pior possível, não ajuda a desfazer preconceitos. É preciso organizar um conjunto de políticas articuladas para formar cidadãos.
A sra. quer dizer que a ascensão é só de consumidores?
As pessoas quando saem desse nível de pobreza não se transformam só em consumidores. A gente se engana. Uma pesquisadora sobre o programa Luz para Todos, no Vale do Jequitinhonha, perguntou para um senhor o que mais o tinha impactado com a chegada da luz. A pesquisadora, com seu preconceito de classe média, já estava pronta para escrever: fui comprar uma televisão. Mas o senhor disse: 'A coisa que mais me impactou foi ver pela primeira vez o rosto dos meus filhos dormindo; eu nunca tinha visto'. Essa delicadeza... a gente se surpreende muito.
O que a surpreendeu na sua pesquisa?
Quando vi a alegria que sentiam de poder partilhar uma comida que era deles, que não tinha sido pedida. Não tinham passado pela humilhação de pedi-la; foram lá e compraram. Crianças que comeram macarrão com salsicha pela primeira vez. É muito preconceituoso dizer que só querem consumir. A distância entre nós é tão grande que a gente não pode imaginar. A carência lá é tão absurda. Aprendi que pode ser uma grande experiência tomar água gelada.
Li que a sra. teria apurado que o Bolsa Família, ao tornar as mulheres mais independentes, estava provocando separações, uma revolução feminina. Mas não encontrei isso no livro. O que é fato?
É só conhecer um pouco o país para saber que não poderia haver entre essas mulheres uma revolução feminista. É difícil para elas mudar as relações conjugais. Elas são mais autônomas com a Bolsa? São. Elas nunca tiveram dinheiro e passaram a ter, são titulares do cartão, têm a senha. Elas têm uma moralidade muito forte: compram primeiro a comida para as crianças. Depois, se sobrar, compram colchão, televisão. É ainda muito difícil falar da vida pessoal. Uma ou outra me disse que tinha vontade de se separar. Há o problema de alcoolismo. Esses processos no Brasil são muito longos. Em São Paulo é comum a separação; no sertão é incomum. A família em muitos lugares é ampliada, com sogra, mãe, cunhado vivendo muito próximos. Essa realidade não se desfaz.
Mas há indícios de mudança?
Indícios, sim. Certamente elas estão falando mais nesse assunto. Em 2006, não queriam falar de sentimentos privados. Em 2011, num povoado no sertão de Alagoas, me disseram que tinha havido cinco casos de separação. Perguntei as razões. Uma me disse: 'Aquela se apaixonou pelo marido da vizinha'. Perguntei para outra. Ela disse: 'Pensando bem, acho que a bolsa nos dá mais coragem'. Disso daí deduzir que há um movimento feminista, meu deus do céu, é quase cruel. Não sei se dá para fazer essa relação tão automática do Bolsa com a transformação delas em mulheres mais independentes. Certamente são mais independentes, como qualquer pessoa que não tinha nada e passa a ter uma renda. Um homem também. Mas há censuras internas, tem a religião. As coisas são muito mais espessas do que a gente imagina.
O machismo é muito forte?
Sim. E também dentro delas. Se o machismo é muito percebido em São Paulo, imagina quando no chamado Brasil profundo. Lá, os padrões familiares são muito rígidos. É comum se ouvir que a mulher saiu da escola porque o pai disse que ela não precisava aprender. Elas se casam muito cedo. Agora, como prevê a sociologia do dinheiro, elas estão muito contentes pela regularidade, pela estabilidade, pelo fato de poderem planejar minimamente a vida. Mas eu não avançaria numa hipótese de revolução sexual.
O Bolsa Família mexeu com o coronelismo?
Sim, enfraqueceu o coronelismo. O dinheiro vem no nome dela, com uma senha dela e é ela que vai ao banco; não tem que pedir para ninguém. É muito diferente se o governo entregasse o dinheiro ao prefeito. Num programa que envolve 54 milhões de pessoas, alguma coisa de vez em quando [acontece]. Mas a fraude é quase zero. O cadastro único é muito bem feito. Foi uma ação de Estado que enfraqueceu o coronelismo. Elas aprenderam a usar o 0800 e vão para o telefone público ligar para reclamar. Essa ideia de que é uma massa passiva de imbecis que não reagem é preconceito puro.
E a questão eleitoral?
O coronel perdeu peso porque ela adquiriu uma liberdade que não tinha. Não precisa ir ao prefeito. Pode pedir uma rua melhor, mas não comida, que era por ai que o coronelismo funcionava. Há resíduos culturais. Ela pode votar no prefeito da família tal, mas para presidente da República, não.
Esses votos são do Lula?
São. Até 2011, quando terminei a pesquisa, eram. Quando me perguntam por que Lula tem essa força, respondo: nunca paramos para estudar o peso da fala testemunhal. Todos sabem que ele passou fome, que é um homem do povo e que sabe o que é pobreza. A figura dele é muito forte. O lado ruim é que seja muito personalizado. Mas, também, existe uma identidade partidária, uma capilaridade do PT.
Há um argumento que diz que o Bolsa Família é como uma droga que torna o lulismo imbatível nas urnas. O que a sra. acha?
Isso é preconceito. A elite brasileira ignora o seu país e vai ficando dura, insensível. Sente aquele povo como sendo uma sub-humanidade. Imaginam que essas pessoas são idiotas. Por R$ 5 por mês eles compram uma parabólica usada. Cheguei uma vez numa casa e eles estavam vendo TV Senado. Perguntei o motivo. A resposta: 'A gente gosta porque tem alguma coisa para aprender'.
No livro a sra. cita muitos casos de mulheres que fizeram laqueadura. Como é isso?
O SUS (Sistema Único de Saúde) está fazendo a pedido delas. É o sonho maior. Aliás, outro preconceito é dizer que elas vão se encher de filhos para aumentar o Bolsa Família. É supor que sejam imbecis. O grande sonho é tomar a pílula ou fazer laqueadura.
A sra. afirma que é preconceito dizer que as pessoas vão para o Bolsa Família para não trabalhar. Por quê?
Nessas regiões não há emprego. Eles são chamados ocasionalmente para, por exemplo, colher feijão. É um trabalho sem nenhum direito e ganham menos que no Bolsa Família. Não há fábricas; só se vê terra cercada, com muitos eucaliptos. Os homens do Vale do Jequitinhonha vêm trabalhar aqui por salários aviltantes. Um fazendeiro disse para o meu marido que não conseguia mais homens para trabalhar por causa do Bolsa Família. Mas ele pagava R$ 20 por semana! O cara quer escravo. Paga uma miséria por um trabalho duro de 12, 16 horas, não assina carteira, é autoritário, e acha que as pessoas têm que se submeter a isso. E dizem que receber dinheiro do Estado é uma vergonha.
Há vontade de deixar o Bolsa Família?
Elas gostariam de ter emprego, salário, carteira assinada, férias, direitos. Há também uma pressão social. Ouvem dizer que estão acomodadas. Uma pesquisa feita em Itaboraí, no Rio de Janeiro, diz que lá elas têm vergonha de ter o cartão. São vistas como pobres coitadas que dependem do governo para viver, que são incapazes, vagabundas. Como em "Ralé", de Máximo Gorki, os pobres repetem a ideologia da elite. A miséria é muito dura.
A sra. escreve que o Bolsa Família é o inicio da superação da cultura de resignação? Será?
A cultura da resignação foi muito estudada e é tema da literatura: Graciliano Ramos, João Cabral de Melo Neto, José Lins do Rego. Ela tem componente religioso: 'Deus quis assim'. E mescla elementos culturais: a espera da chuva, as promessas. Essa cultura da resignação foi rompida pelo Bolsa Família: a vida pode ser diferente, não é uma repetição. É a hipótese que eu levanto. Aparece uma coisa nova: é possível e é bom ter uma renda regular. É possível ter outra vida, não preciso ver meus filhos morrerem de fome, como minha mãe e minha vó viam. Esse sentimento de que o Brasil está vivendo uma coisa nova é muito real. Hoje se encontram negras médicas, dentistas, por causa do ProUni (Universidade para Todos). Depois de dez anos, o Bolsa Família tem mostrado que é possível melhorar de vida, aprender coisas novas. Não tem mais o 'Fabiano' [personagem de "Vidas Secas"], a vida não é tão seca mais.
"VOZES DO BOLSA FAMÍLIA"
AUTOR Walquiria Leão Rego e Alessandro Pinzani
EDITORA Editora Unesp
QUANTO R$ 36 (248 págs.)
LANÇAMENTO hoje, às 19h, na Livraria da Vila - Shopping Higienópolis (av. Higienópolis, 618; tel. 0/xx/11/3660-0230)

Quadrinhos

folha de são paulo
CHICLETE COM BANANA      ANGELI
ANGELI
DAIQUIRI      CACO GALHARDO
CACO GALHARDO
NÍQUEL NÁUSEA      FERNANDO GONSALES
FERNANDO GONSALES
MUNDO MONSTRO      ADÃO ITURRUSGARAI
ADÃO ITURRUSGARAI
BIFALAND      ALLAN SIEBER
ALLAN SIEBER
MALVADOS      ANDRÉ DAHMER
ANDRÉ DAHMER
MALVADOS      ANDRÉ DAHMER
ANDRÉ DAHMER
GARFIELD      JIM DAVIS
JIM DAVIS

HORA DO CAFÉ      ALVES
ALVES

Vontade de morrer - Iara Biderman

folha de são paulo
Vontade de morrer
Taxa de suicídio entre jovens cresce 30% em 25 anos no país, mas falar sobre o tema continua a ser tabu até para profissionais de saúde
IARA BIDERMANDE SÃO PAULOÉ uma das primeiras causas de morte em homens jovens nos países desenvolvidos e emergentes. Mata 26 brasileiros por dia. E ninguém quer falar no assunto.
No Brasil, a taxa de suicídio entre adolescentes e jovens aumentou pelo menos 30% nos últimos 25 anos. O crescimento é maior do que o da média da população, segundo o psiquiatra José Manoel Bertolote, autor de "O Suicídio e sua Prevenção" (ed. Unesp, 142 págs., R$ 18).
A curva ascendente vai contra a tendência observada em países da Europa ocidental, nos Estados Unidos, na China e na Austrália. Nesses lugares, o número de jovens suicidas vem caindo, ao contrário do que acontece no Brasil, aponta um estudo da University College London publicado no periódico "Lancet" no ano passado.
"Na década de 1990, a taxa de suicídios aumentava em todos os países do mundo, e a OMS [Organização Mundial da Saúde] lançou um programa de prevenção. Os países que fizeram campanhas de esclarecimento conseguiram baixar os números. É importante falar do assunto", diz o psiquiatra Neury Botega, da Unicamp.
TABU
O tema é tabu até para profissionais de saúde. Nos registros do Datasus (banco de dados do Sistema Único de Saúde), aparece como "mortes por lesões autoprovocadas voluntariamente". Um longo eufemismo, segundo Botega. Evita-se a palavra, mas o problema se perpetua.
Em cursos de prevenção, o psiquiatra registrou as crenças de profissionais de saúde. Muitos acham que perguntar à pessoa se ela pensa em se matar já pode induzi-la a consumar o ato.
"Não temos esse poder de inocular a ideia na pessoa. E, se não tentarmos saber o que ela está pensando sobre o assunto, não conseguiremos ajudá-la", diz o psiquiatra.
A taxa cresce por uma conjugação de fatores. "A sociedade está cada vez menos solidária, o jovem não tem mais uma rede de apoio. Além disso, é desiludido em relação aos ideais que outras gerações tiveram", diz Neury.
Há ainda uma pressão social para ser feliz, principalmente nas redes sociais. "Todo mundo tem que se sentir ótimo. A obrigação de ser feliz gera tensão no jovem", diz Robert Gellert Paris, diretor da Associação pela Saúde Emocional de Crianças e conselheiro do CVV (Centro de Valorização da Vida).
O aumento de casos de depressão em crianças e adolescentes é outro componente importante. "Mais de 95% das pessoas que se suicidam têm diagnóstico de doença psiquiátrica", diz Bertolote.
Junte-se tudo isso ao maior consumo de álcool e drogas e a bomba está armada.
"ELENA"
A cineasta e atriz mineira Petra Costa tinha sete anos quando a irmã mais velha se suicidou. Mais de 20 anos depois, Petra dirigiu o documentário "Elena", atualmente em cartaz, em que tenta entender e comunicar o que a irmã pensava e sentia.
"As pessoas têm dificuldade de falar e de ouvir sobre o assunto. A sociedade brasileira tem que aprender a conversar sobre suicídio, porque o número de casos só aumenta", disse Petra à Folha.
Falar de suicídio nunca foi tabu para a diretora. "Desde que eu tinha sete anos, quando Elena se suicidou, minha mãe conversava comigo sobre isso, nunca me escondeu nada", conta.
Mas ela logo percebeu que, fora de casa, o tema era proibido. "A primeira vez que falei do assunto com outras famílias que passaram por isso foi aos 27 anos, quando procurei grupos de parentes de suicidas. Então me senti compreendida em minha dor."
Petra conta que, logo após a morte de Elena, sua mãe procurou pessoas que tinham sido próximas de alguém que se matou. Mas todos se recusaram a conversar com ela.
Ela também lamenta que, à época do suicídio da irmã, as pessoas ao seu redor não tinham informações sobre o assunto, nem sabiam como falar sobre ele.
"O mais lamentável em relação à Elena é que, nos anos 1990, no grupo de pessoas com quem ela convivia, sabia-se pouco sobre bipolaridade, depressão, suicídio. A desinformação levou à tragédia", afirma Petra.
A cineasta tem interesse nessa causa. A produtora do filme, Busca Vida, está organizando debates sobre o tema. E Petra planeja criar o instituto Elena, para prevenção de suicídios.
PREVENÇÃO
A troca de informações sobre o suicídio pode evitar muitos casos: de acordo com a OMS, dá para prevenir 90% das mortes se houver condições para oferta da ajuda.
Quem pensa em suicídio está passando por um sofrimento psicológico e não vê como sair disso. Mas não significa que queira morrer.
"O sentimento é ambivalente: a pessoa quer se livrar da dor, mas quer viver. Por dentro, vira uma panela de pressão. Se ela puder falar e ser ouvida, além de diminuir a pressão interna, passa a se entender melhor", diz Paris.
O CVV oferece apoio 24 horas pelo telefone 141 e pelo site www.cvv.org.br.
    COMO TOCAR NO ASSUNTO
    Ouça mais, fale menos
    Não interrompa a pessoa ou diga o que ela tem que fazer nem dê exemplos pessoais
    Demonstre interesse
    Deixe claro que você percebe que a pessoa não está bem, pergunte-lhe sobre o que ela está pensando e em que você pode ajudar
    Desenvolva empatia
    Coloque-se na situação do outro. Tente sentir o que a pessoa está sentindo
    Seja espontâneo
    Demonstrar sua preocupação com a pessoa não significa dar um tom grave e formal para a conversa
    Mantenha a calma
    Prepare-se antes para não transmitir insegurança ou desespero
    Não condene
    Julgar a pessoa em relação ao que ela diz ou fez pode fazer com que ela se sinta ainda pior
    Procure ajuda
    Informe-se sobre grupos de apoio e serviços de saúde mental que dão orientação e suporte a pessoas em risco de suicídio
      Folha vai debater a prevenção e as causas de suicídio
      DE SÃO PAULO
      Folha promoverá hoje (11), às 20h, um debate sobre o aumento do número de casos de suicídio, especialmente entre adolescentes, as possíveis causas e medidas de prevenção.
      José Manoel Bertolote, psiquiatra que acaba de lançar um livro a respeito do tema, Rosely Sayão, psicóloga e colunista da Folha, e Robert Gellert Paris Junior, membro do Conselho Curador do Centro de Valorização da Vida, farão parte da mesa. O debate será mediado pela jornalista Cláudia Collucci.
      Para se inscrever, ligue para (11) 3224-3473 (das 14h às 19h) ou mande um e-mail paraeventofolha@grupofolha.com.br, informando seu nome completo, RG e telefone. O debate será no Auditório Folha (al. Barão de Limeira, 425, 9º andar).

      Nizan Guanaes

      folha de são paulo
      É a propaganda, estúpido
      A propaganda passa por transformações profundas. Mas ela nunca foi tão demandada e relevante
      A propaganda, como o jornalismo, passa por transformações profundas. Disruptivo é pouco para descrever o momento.
      Mas a propaganda, como o jornalismo, nunca foi tão demandada. E seu futuro nunca foi tão relevante, ainda que diferente do que é hoje.
      Nesta era da comunicação, que é por consequência a era da informação, compra desinformada é um hábito em extinção. O consumo é uma operação cada vez mais sofisticada, inteligente, informada. Clientes que no ato da compra têm acesso ao preço do produto comprado em vários concorrentes são só o começo das transformações em curso.
      Para competir nesse mundo informado, será preciso informar e trocar informações. Será preciso ter voz, cabeça e coração. Uma marca será mais que uma marca.
      Mas essa nova conversação surgiu antes dos serviços para atendê-la. Estamos aprendendo no caminho. E, se o novo fascina, ele também engana.
      Não se deve confundir permanência com velhice. Muitas coisas serão sempre relevantes justamente por serem antigas, testadas, verdadeiras.
      A nova propaganda tem em sua essência o DNA da velha propaganda. A arte, a inteligência e o conhecimento são atemporais. Os profissionais da propaganda e do marketing acumulam há décadas gigabytes de conhecimento empírico sobre a arte de vender e de informar o mercado sobre o que está sendo ofertado.
      O marketing e a propaganda sempre foram e seguirão fundamentais para a inovação mercadológica. São disciplinas necessárias para entender as demandas do mercado e transformá-las em novos produtos para atendê-lo. Sua importância na economia não deve nem pode ser subestimada.
      Não é coincidência que novas grandes empresas inovadoras como Facebook e Google tenham como maior receita justamente a publicidade em suas redes.
      Esta Folha noticiou na semana passada que a Amazon faturou US$ 610 milhões com publicidade em 2012, um crescimento de 45% em relação ao ano anterior. E pode chegar a US$ 800 milhões neste ano, crescimento de 30%. E a Amazon é um varejista eletrônico, não é mídia.
      Ou é? A loja virtual é também uma coletora de informações preciosas sobre seus clientes expressas na navegação que fazem ali. Com essas informações ela é capaz de oferecer anúncios muito mais focados no gosto do consumidor.
      Entendeu a força da publicidade no novo mundo em que nos comunicamos? Ela pode ter mudado, mas sua importância é vital.
      O Twitter acaba de fechar uma parceria com a WPP, o maior grupo de serviços de marketing do mundo, comandado pelo mestre sir Martin Sorell, para explorar novas formas de anunciar na rede, sempre balizadas pelas informações fornecidas pelos seus usuários, neste caso, sobre o que tuítam ou seguem, para oferecer propaganda focada.
      No Facebook, que atingiu no ano passado a fabulosa marca de 1 bilhão de usuários no mundo, 85% do faturamento vem da publicidade, e a empresa não para de inventar novas formas de anunciar. A última reformulação foi apresentada na semana passada.
      O mercado prevê crescimento mais do que chinês de 30% na receita do Facebook com publicidade neste ano, para US$ 5,6 bilhões.
      O crescimento previsto no segmento "mobile" da rede social é ainda mais vigoroso: de US$ 500 milhões em 2012 pra US$ 1,5 bilhão neste ano. Isso apesar da crise econômica global. Crise?
      Mas é olhando para o Google que a força da publicidade no novo mapa da comunicação fica mais clara. A empresa americana faturou nada menos que US$ 40 bilhões com publicidade em 2012, crescimento de mais de 20% em relação ao ano anterior.
      É preciso, diante desses números acachapantes, olhar a relação das novas formas de comunicação com a propaganda do jeito que ela é.
      Não como uma ameaça, mas uma parceira e um condutor importante para que os publicitários sigam fazendo aquilo que sabemos fazer melhor do que ninguém: entender o produto, o mercado, as mídias e a relação entre eles para proporcionar as melhores oportunidades de negócios para as empresas prosperarem.

        Avatar - Francisco Daudt

        folha de são paulo
        Avatar
        O alívio que ele traz é permitir que o superego seja olhado como algo alheio ao nosso eu
        O sentido de avatar (divindade hindu com forma humana) generalizou-se, vide o filme, e foi usado por psiquiatras ingleses para criar um rosto humano computadorizado, como o ser falante das vozes que os esquizofrênicos ouvem (ver no Google).
        É parte do paciente, mas se distingue dele. E traz-lhe grande alívio, por parecer alguém mais, e não "uma loucura da sua cabeça".
        Primeiro o esclarecimento de algo intrigante: como os esquizofrênicos ouvem vozes (o mais frequente), veem coisas, sentem cheiros e toques que não estão lá?
        Reza uma lenda carioca dos anos 70 que, quando Hugo Bidet entrou no bar com um camundongo no ombro, seus amigos alcoólatras fizeram um ar "natural" (vai que fosse um ataque de "delirium tremens"? Eles não queriam dar bandeira). Quando uma adolescente gritou "Um rato!", aliviados, eles se juntaram ao coro: "É mesmo, um rato!".
        Esse momento do alcoolismo grave pode, assim como as psicoses, produzir alucinações (percepções dos sentidos produzidas no cérebro, mas indistinguíveis das externas). Delírios são interpretações dos acontecimentos, descoladas da realidade. Geralmente megalomaníacas ("existe uma organização mundial que me persegue, aquela mosca é um deles").
        Todos nós experimentamos sentidos gerados no cérebro, vemos, ouvimos, tocamos, cheiramos coisas que vêm de dentro, e de maneira vívida.
        Só que isso acontece quando desligamos os estímulos externos, apagamos a luz, estabelecemos conforto térmico auditivo (ar condicionado, cobertas) e o descanso muscular (deitamos). Ao cessar as percepções de entrada, vindo o sono, o cérebro é capaz de gerar estímulos semelhantes a partir de seus arquivos de memória: os sonhos.
        Há vezes em que o estímulo cerebral é forte o suficiente para comandar os músculos, mesmo enquanto dormimos. No mínimo, damos uma virada de corpo por sonhar que estamos caindo. No máximo, o sonambulismo.
        O psicótico ouve vozes especiais. São sempre acusações, críticas ou mesmo xingamentos. A maior parte dos esquizofrênicos é chamada de "viado" pelas vozes.
        Esse tipo de conteúdo nos permite deduzir que é o programa superego quem emite as vozes. Popularmente conhecido como "a voz da consciência", ele nasce conosco para nos dar medo de cobras, insetos, altura e escuro, e assim nos proteger.
        Mas pode ser alimentado pela voz dos adultos para absorver críticas, padrões de perfeição, de conduta, sempre inatingíveis, de forma que sempre estamos abaixo de seu modelo, sempre devendo a ele. Por isso, Freud o chamou de "o acima de mim" ("das über-ich", em alemão).
        O alívio que o avatar traz é permitir que o superego seja olhado como um déspota que legisla, acusa e julga, sem chance de defesa, como algo alheio ao nosso eu.
        O curioso da história é que, sem a ajuda da tecnologia, venho usando o expediente de olhar o superego como um "encosto" na vida dos pacientes, de modo que eu possa agir como advogado de defesa deles, alguém que questiona as leis, o processo, a sentença e a pena que estão cumprindo, para tirá-los da cadeia da neurose. Funciona.

        Clovis Rossi

        folha de são paulo
        Você pode ter sido espionado
        Mesmo assustado com o terror, o americano ainda preza a privacidade, o que levou a espionar os outros
        É de fato correta a equação do presidente Barack Obama pela qual é impossível conciliar 100% de segurança com 100% de privacidade?
        Foi esse o argumento usado para justificar o gigantesco esquema de espionagem legal adotado nos Estados Unidos depois dos atentados de 11 de setembro de 2001.
        Minha sensação é a de que, de fato, trata-se de uma combinação impossível. Ou se cede um pouco de segurança em nome do máximo de privacidade ou se cede algo de privacidade em nome da segurança (segurança, bem entendida, contra o terrorismo, já que a criminalidade comum não está no radar do esquema de espionagem).
        O problema passa a ser, portanto, o quanto de privacidade é razoável ceder. Suspeito que a legislação norte-americana pós-11 de Setembro foi muito além do razoável.
        Primeiro, há excesso de opacidade na supervisão dos supervisores. O editorial de ontem do "Financial Times" toca na tecla certa: "Esses poderes legais podem ser necessários para lidar com as contínuas ameaças terroristas que os Estados Unidos enfrentam --fato sublinhado pelos ataques a bomba em Boston [à maratona de Boston]. Mas, para reter a confiança do público, [os poderes] deveriam sempre ser exercidos de forma proporcional [à ameaça terrorista] e sujeitos a algumas checagens efetivas".
        Mesmo nos EUA, traumatizados pela ameaça terrorista, há quem não veja a menor proporção entre ela e o arsenal legal de espionagem. É o caso de Stephen M. Walt, professor de Relações Internacionais na Universidade Harvard, em seu blog na "Economist":
        "Terrorismo convencional --mesmo do tipo sofrido no 11 de Setembro-- não é uma ameaça séria à economia norte-americana, ao modo americano de vida ou mesmo à segurança pessoal da esmagadora maioria dos americanos, porque a Al Qaeda e seus parentes não são nem poderosos ou preparados o suficiente para causar tanto dano quanto poderiam desejar".
        Walt vai ao extremo de acrescentar que os norte-americanos correm muito mais riscos com acidentes de automóvel ou mesmo na banheira do que com o terrorismo.
        Se é assim, não se justifica o aparato de espionagem irrestrita agora revelado. Até porque o caso de Boston mostra a ineficácia do mecanismo: Tamerlan Tsarnaev, o mais velho dos irmãos acusados pelo crime, entrou e saiu do radar do FBI, o que demonstra que não houve a checagem de dados levantados pela espionagem.
        Suspeito que o trauma do 11 de Setembro deixou os norte-americanos menos obsessivos com a privacidade, a ponto de aceitarem, rangendo os dentes, alguma violação a ela em troca de uma sensação superior de segurança.
        Se é assim, explica-se uma reação relativamente moderada à invasão agora exposta. Talvez porque o esquema de espionagem de dados estava voltado para fora dos EUA, ao menos na versão do governo.
        Significa que você, brasileiro distraído, pode ter tido suas comunicações vasculhadas e, pior, nem tem em quem se vingar porque não vota nos Estados Unidos.
        crossi@uol.com.br

          http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/113434-assange-aconselha-informante-a-buscar-asilo-na-america-latina.shtml

          Painel - Vera Magalhães

          folha de são paulo
          Minha tela, minha vida
          Após queda de oito pontos no Datafolha, o marqueteiro João Santana e setores do governo querem levar Dilma Rousseff à TV em breve para detalhar a nova linha de crédito para móveis e produtos da linha branca do Minha Casa, Minha Vida. A presidente fará o lançamento do subsídio amanhã, no palácio. A petista atingiu seu pico de popularidade em março, embalada pelo anúncio da redução da conta de luz e da desoneração de produtos da cesta básica, ambos em rede nacional.
          -
          Olho nele 1 A despeito do discurso de que a queda de Dilma não surpreendeu, chamou a atenção de membros do governo o crescimento de quatro pontos de Aécio Neves (PSDB) no principal cenário testado pelo Datafolha.
          Olho nele 2 Nas palavras de um interlocutor do Planalto, quando a presidente perde pontos, não são Marina Silva nem Eduardo Campos que ganham. "Aécio se firma como o candidato da oposição", diz o auxiliar de Dilma.
          Vai passar Ainda assim, no governo a aposta é que os números se estabilizarão com a esperada queda da inflação e sem novos programas do PSDB e do PSB na TV.
          Torcida? Aécio e Campos fizeram, a interlocutores, leitura idêntica da pesquisa Datafolha: o fato de Dilma ter 51% antes mesmo de qualquer campanha apontaria para um segundo turno praticamente certo em 2014.
          Claviculário A secretaria de imprensa do Planalto solicitou uma cópia da chave dos armários dos repórteres que ficam baseados no comitê de imprensa para que fique de posse do governo. Os jornalistas protestaram.
          Outro lado A secretaria de imprensa diz que o pedido é para evitar transtorno em caso de perda das chaves, e que os jornalistas podem assinar um recibo dizendo que receberam duas chaves ou entregar a cópia, que ficará em envelope lacrado.
          Antídoto O PT reúne dados econômicos da Bahia para usar como contraponto a Eduardo Campos. Um deles é o resultado da produção industrial regional de abril, que o IBGE divulgou na semana passada: a Bahia cresceu 13,8% em relação a abril de 2012, e Pernambuco, 4,9%.
          Diálogo Gleisi Hoffmann receberá hoje representantes do Conselho Indigenista Missionário e da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil para tratar da questão indígena. Na semana passada, o Cimi divulgou carta aberta criticando o governo federal e dizendo que Dilma se submete a pressões de ruralistas.
          Nas ruas São Paulo terá mais um dia de manifestações hoje. Servidores da Polícia Civil e da rede estadual de saúde se reúnem às 15h no vão livre do Masp e caminham até a Assembleia Legislativa. Eles fazem reivindicação por melhores salários.
          Sobreaviso O governo paulista quer votar hoje, na Assembleia Legislativa, uma alteração no estatuto da Fundação Casa para permitir a recondução de Berenice Giannella à presidência da entidade, após dois mandatos. Enquanto isso, ela dá expediente no gabinete da Procuradoria-Geral do Estado.
          Rural O PSD convidou o engenheiro agrônomo Marcos Jank, ex-presidente da Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar), para comandar a formulação do programa do partido para a área de agricultura. O setor é o tema do próximo ciclo de palestras organizado pela sigla.
          Visita à Folha Major Olímpio, deputado estadual pelo PDT de São Paulo, visitou ontem a Folha. Estava acompanhado de Alessandro Reis, Deni Cavalcanti e Márcio Carvalho, assessores.
          com ANDRÉIA SADI e BRUNO BOGHOSSIAN
          -
          TIROTEIO
          "Não sei se o prefeito, que defende a repressão contra manifestantes, é do PT, do PSDB ou do PSD. Parece a gestão de Fernando Kassab."
          DO VEREADOR TONINHO VESPOLI (PSOL), sobre o fato de Fernando Haddad ter defendido a ação de policiais nos protestos contra a alta da tarifa de ônibus.
          -
          CONTRAPONTO
          Santa coincidência
          Gilberto Kassab (PSD) recebeu o telefonema de um aliado cheio de empolgação no fim de maio.
          --Meu amigo, estou telefonando para avisar que você já ganhou a eleição para governador!
          O ex-prefeito indagou o motivo do entusiasmo.
          --O TSE marcou o segundo turno para 26 de outubro!
          Kassab, ainda sem entender, perguntou qual era a relação entre a data e seu eventual desempenho nas urnas.
          --Ora, 26 de outubro é dia de são Gilberto! --explicou o aliado, em referência ao dia da festa de são Gilberto de Neuffontaine, que viveu na França no século 12.

            Janio de Freitas

            folha de são paulo
            Outra visão
            Há duas inflações: uma real, indesejável mas suportável, e outra que é originária de intenções políticas
            Os entrevistados e os que escreveram sobre a queda de oito pontos na avaliação positiva de Dilma Rousseff, constatada pelo Datafolha, expõem uma visão peculiar em dois sentidos. Primeiro, e mais importante, no que se pode ter como a unânime (sem os petistas) visão de um significado de extrema força, na perda. Segundo, pela maneira também unânime como a inflação é vista nas avaliações, um fato com consequência política, mas sem antecedente político.
            Por um gráfico da Folha de ontem, via-se que Fernando Henrique chegou aos dois anos e meio do primeiro mandato com avaliação de presidente ótimo/bom por 39% dos entrevistados. Lula chegou aos primeiros dois anos e meio do seu governo com avaliação ainda mais baixa, de 36%. E com avaliação de regular e ruim/péssimo altíssima, somados, de 63%, contra sofríveis 58% de Fernando Henrique.
            Mesmo com a perda de oito pontos em idênticos dois anos e meio do seu mandato, Dilma Rousseff ainda recebe 57% de conceito ótima/boa presidente. Mais 18 pontos do que Fernando Henrique e 21 acima de Lula. E, na soma dos conceitos regular e ruim/péssima, os seus 42% são 16 pontos menores que os de Fernando Henrique e 21 menores que os de Lula.
            Ainda uma constatação curiosa: entre o Datafolha de março e o de agora, intervalo em que se registra a perda dos oito pontos, a opinião de regular e ruim/péssima sobre Dilma aumentou apenas um ponto, de 41% para 42% --na margem de erro, portanto.
            Que efeito tiveram aqueles humilhados números de Fernando Henrique e de Lula na busca das respectivas reeleições? Rigorosamente nenhum. Nem mesmo algum efeito dificultante do processo de construção, nos meses seguintes, das duas vitórias.
            A vantagem imensa de Dilma Rousseff na comparação com os dois antecessores não é uma promessa de vitória, se candidata à reeleição. Mas muito menos pode servir de base, a meu ver, quer para a dedução de perspectivas eleitorais sombrias já a esta altura, quer até mesmo de uma situação com tendência razoavelmente nítida de agravamento.
            As deduções mais negativas correspondem, suponho, ao clima propagado nos meses em que se deu a perda dos oito pontos por Dilma. Pode-se dizer que, nos comentários todos, a inflação é a causa da perda. Ou a principal. A pesquisa contém indício claro nesse sentido. Mas o que a mim parece também claro é que não foi propriamente a inflação sentida, foi a inflação ouvida e lida. Posta nas cabeças pela artilharia com que os meios de comunicação fazem os índices vizinhos do limite, a tal "meta" estabelecida há meses, parecerem uma explosão inflacionária.
            A luta por uma inflação domada tem perdido sucessivos rounds, mas não houve até agora, nem se mostra como provável, descontrole de fato assustador. Há duas inflações: uma real, indesejável mas suportável, e outra originária de intenções políticas.
            SEM PROBLEMA
            Esperada para amanhã a decisão do Supremo sobre o projeto que dificulta mais partidos, a eventual derrota da liberdade total de criá-los não dificulta a candidatura de Marina Silva --como está divulgado com frequência. Não é indispensável que tenha o seu próprio partido, a pretendida Rede Sustentabilidade, porque lhe estão oferecidas as legendas do Partido Verde e da Mobilização Democrática (ex-PPS). A ameaça é só onda.