terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Fragmentos - Vladimir Maiakóvski

FRAGMENTOS

1

Me quer ? Não me quer ? As mãos torcidas
os dedos
               despedaçados um a um extraio
assim tira a sorte enquanto
                                       no ar de maio
caem as pétalas das margaridas
Que a tesoura e a navalha revelem as cãs e
que a prata dos anos tinja seu perdão
                                                      penso
e espero que eu jamais alcance
a impudente idade do bom senso

[Vladimir Maiakóvski]
(tradução Augusto de Campos)

















via Francesca Cricelli no Facebook

Let the sun shine, let the sunshine in ... let the sun shine in.
FRAGMENTOS

1

Me quer ? Não me quer ? As mãos torcidas
os dedos
despedaçados um a um extraio
assim tira a sorte enquanto
no ar de maio
caem as pétalas das margaridas
Que a tesoura e a navalha revelem as cãs e
que a prata dos anos tinja seu perdão
penso
e espero que eu jamais alcance
a impudente idade do bom senso

[Vladimir Maiakóvski]
(tradução Augusto de Campos)

Helio Schwartsman

FOLHA DE SÃO PAULO

Contra o hiperativismo parental
A genética tende a ser mais forte que a criação no comportamento dos filhos, mas ainda sobra espaço para o ambiente
A seção de puericultura da Livraria Cultura traz 2.038 itens. Ali abundam títulos como "Criando Filhos Vitoriosos" ou "Como Multiplicar a Inteligência do Seu Bebê". Será que pais têm realmente todo esse poder sobre o futuro de suas crianças?
Evidentemente, nós gostamos de acreditar que sim. Imaginar que controlamos o mundo circundante é um dos mais poderosos -e ilusórios- vieses cognitivos do homem. As evidências, entretanto, sugerem um quadro bem diferente.
Para começar, boa parte do futuro da criança é definida num período de tempo relativamente curto que varia de 24 a 48 horas, que é quando ocorre a fusão dos gametas maternos e paternos.
Embora grande parte dos pedagogos seja alérgica ao termo "genética", não há como deixar de reconhecer o forte papel da hereditariedade biológica.
O peso dessas evidências é tanto que mesmo um cientista tido como campeão do antideterminismo, sir Michael Rutter, autor de "Genes and Behavior" (genes e comportamento), escreve: "Qualquer crítico desapaixonado terá de concluir que a evidência em favor de uma importante influência genética sobre diferenças individuais é inegável".
Com efeito, uma série de trabalhos feitos com gêmeos e adotados mostra que as forças da natureza vencem as da criação para a maioria das características que desejamos para nossos filhos. Aí estão incluídos não apenas qualidades em que isso é fácil de aceitar, como altura, peso, beleza física e personalidade, mas também traços mais elusivos, como inteligência, sucesso profissional, felicidade, religiosidade, propensão ao uso de drogas e até para cometer crimes.
Isso significa que podemos desistir de educar as crianças e deixar que a biologia siga seu curso? Nem tanto. Os fatores genéticos tendem a ser mais fortes que os efeitos da criação, compreendida como o ambiente que irmãos gêmeos, fraternos ou adotivos compartilham e é em larga medida definido pelos pais, mas ainda sobra um enorme espaço para o chamado ambiente não compartilhado, que é um outro nome para a história única de cada indivíduo -algo que a ciência ainda não sabe como medir e nem mesmo analisar direito.
Existem, porém, algumas pistas interessantes. Judith Harris, autora de "The Nurture Assumption" (a hipótese da criação), sustenta que a socialização dos jovens não se dá através dos pais, mas principalmente por meio de seus pares, de outras crianças da mesma faixa etária e sexo.
Um dos muitos argumentos que ela usa para apoiar sua teoria é o fato de que filhos de imigrantes não terminam falando com a pronúncia dos pais, mas sim com a dos jovens com os quais convivem.
Pode parecer até meio banal, mas a conexão linguística é especialmente interessante para o debate hereditariedade X criação, porque ela é uma das poucas características que não embaralha fatores genéticos e ambientais. Com efeito, o idioma que falamos e a forma como o fazemos não são determinados pelos genes, mas só pelo meio em que vivemos.
Outros livros interessantes nessa mesma linha são "Reclaiming Childhood" (reivindicando a infância), de Helene Guldberg, e "Selfish Reasons to Have More Kids" (razões egoístas para ter mais filhos), de Bryan Caplan, que já resenhei nesta seção. Por não dizerem exatamente o que desejamos ouvir, são um pouco mais difíceis de encontrar, mas quem procurar bem conseguirá achá-los. Fazem um bom contraponto ao hiperativismo parental, inaugurado por Locke e Rousseau, que é a marca da modernidade.

Sentimental demais

FOLHA DE SÃO PAULO

Para filósofo britânico, é preciso rever os conceitos sobre o amor romântico, hoje tão valorizado que chega a ocupar o lugar da religião no mundo ocidental
Fotos Danilo Verpa/Folhapress
Arte sobre foto de pichação em muro no bairro de Perdizes, em SP
Arte sobre foto de pichação em muro no bairro de Perdizes, em SP
JULIANA CUNHACOLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O amor está longe de ser a solução para o fim do sofrimento humano. Pelo menos aquele amor romântico de filmes e novelas.
Quem defende essa ideia é o filósofo Simon May, professor do King's College, em Londres, e autor de "Amor - Uma História", lançado aqui no fim do ano passado.
Para ele, o sentimento está supervalorizado: ocupou o espaço deixado pela religião e se tornou o novo deus do Ocidente.
"Somos todos fanáticos. Exigimos que nosso sentimento seja eterno e incondicional e camuflamos sua natureza condicional e efêmera. É a mais nova tentativa humana de roubar um poder divino", disse, em entrevista à Folha.
De acordo com o filósofo, a religião do amor incondicional é reforçada pela cultura. Ele cita filmes em que um dos personagens não quer saber de namorar e só pensa na carreira. No final, ele sempre descobre que sem uma paixão sua vida não será completa.
Tanta pressão em cima de um sentimento frágil e humano, para o autor, termina em frustração coletiva. "Nada humano é verdadeiramente incondicional, eterno e completamente bom. Essa é uma forma de amor que só Deus pode ter. Esse entendimento gera expectativas altas, que relacionamentos cotidianos não são capazes de suprir."
O mesmo defende o filósofo alemão Richard David Precht, autor de "Amor - Um Sentimento Desordenado". "O papel de nos aceitar por inteiro, com todos os nossos defeitos e limitações, cabia a Deus. Hoje buscamos alguém que possa cumprir essa função e ainda dormir conosco. É realmente pedir demais", diz.
ROMANTISMO
No livro, Simon May traça um histórico das diferentes concepções de amor ao longo da história e atribui ao romantismo do século 19 a culpa pela supervalorização do sentimento.
Segundo ele, desde então, enquanto a sociedade mudou, a idealização do sentimento continua como no passado. Inovações como a liberação sexual, a pílula e a luta pelos direitos dos gays só possibilitaram que mais pessoas passassem a perseguir o amor ideal ao incluir homossexuais e divorciados no jogo.
A psicanalista Regina Navarro Lins também pesquisou a história do sentimento, mas chegou a uma conclusão diferente. "O amor romântico está com os dias contados. Domina filmes e novelas, mas está saindo de cena na vida real", afirma ela, que em 2012 publicou "O Livro do Amor", obra em dois volumes.
Para a psicanalista, o futuro aponta para o "poliamor" e para formas menos convencionais que o casamento. "As pessoas estão mais individualistas, buscam sua própria satisfação. Isso irrita os conservadores, mas aumenta as chances de cada um ser feliz", diz.
Navarro Lins, no entanto, concorda com Simon May ao considerar o amor romântico irreal. "Você conhece uma pessoa, atribui a ela características que ela não possui e passa a vida infernizando a criatura, querendo que ela seja como você imaginou", diz a psicanalista.
A troca de exigências gera um "rancor matrimonial", uma sensação de que o parceiro nos enganou ao não cumprir nossas expectativas.
Simon May não acredita que a solução seja dar menos importância ao sentimento, mas rever os conceitos. "Precisamos mudar nossas expectativas, não reduzi-las. É preciso abandonar a ideia de que amor implica em intimidade incondicional, benevolência e altruísmo. Para mim, amor é algo completamente condicional. Ele só existe enquanto a outra pessoa parece dar sentido à nossa existência."


NA TEORIA
O Livro do Amor - vols. 1 e 2
Regina Navarro Lins
EDITORA BestSeller
QUANTO R$ 30 cada volume (362 págs. cada)
Em um panorama do amor da pré-história à atualidade, a autora destrincha temas como o papel da mulher, fidelidade, monogamia e homossexualidade.
Amor - Uma História
Simon May
EDITORA Zahar
QUANTO R$ 60 (376 págs.)
O livro traça um histórico do amor baseado na visão de pensadores como Spinoza, Ovídio e Rousseau. Para o autor, buscamos um modelo de amor que não corresponde à realidade atual.
Amor - Um Sentimento Desordenado
Richard David Precht
EDITORA Casa da Palavra
QUANTO R$ 45 (319 págs.)
Escrito por um filósofo e jornalista alemão, explica o amor segundo a ciência, a história e a filosofia. Para Precht, o amor passou a substituir a religião.

    'Falta de amor não é o maior problema das grandes cidades'
    Viver dignamente traz mais alegria que a busca pelo par ideal, diz filósofo
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHADepois de publicar "Amor - Uma História", o filósofo Simon May, professor do King's College, em Londres, prepara seu próximo livro: "Love - A Phenomenology" (amor, uma fenomenologia). May é conhecido fora do Brasil pela obra "Thinking Aloud" (pensando em voz alta, 2009), que, na época, foi escolhida como um dos livros do ano pelo jornal "Financial Times". Em entrevista à Folha, ele fala como a filosofia pode dar respostas sobre o amor.
    Folha - São Paulo está cheia de cartazes pedindo "mais amor". Essas manifestações tem a ver com a sua tese sobre o amor enquanto religião?
    Simon May - Sim, isso tem a ver com enxergar o amor como a solução para todos os problemas. Uma cidade como São Paulo deve ter problemas bem maiores que a falta de amor, mas hoje as pessoas subestimam o poder das questões sociais como componentes da felicidade. Viver em paz, com emprego e dignidade, provavelmente traz mais alegria duradoura que o amor.
    Se o amor é uma religião, como você explica o troca-troca de parceiros? Crentes não trocam de igreja muitas vezes.
    Trocar muito de parceiro não contradiz a tese de que o amor é uma religião. Um dos motivos para tanta troca é que estamos tentando encontrar o par perfeito, a pessoa que irá preencher a ânsia por um amor incondicional, eterno. Como a ideia toda é impossível, trocamos de par a vida inteira. Quando os relacionamentos terminam, em vez de culpar o modelo, culpamos a outra pessoa.
    Você escreve que tudo mudou no último século, menos a visão sobre o amor. O sentimento não é mais valorizado hoje?
    O amor fica cada vez mais valorizado à medida que a sociedade se torna mais individualista e outras formas de pertencimento no mundo declinam. O que não mudou é a tentativa de comparar o amor humano ao amor divino. Isso gera pensamentos do tipo "se você me amasse incondicionalmente, não faria x e y".
    Existe um modelo de amor mais saudável?
    O amor é a paixão que sentimos por aqueles que suscitam em nós a esperança de uma fundamentação indestrutível para a nossa vida. É uma necessidade de raízes, de encontrar um sentido para nossa própria existência. Poucas pessoas podem nos dar essa segurança, e é por isso que o amor é tão raro.
    A solução é compreender o sentimento do modo correto e, assim, não ficar tão arrasado quando o amor se mostrar destrutivo ou não correspondido. Também é preciso buscar o amor em outros lugares, não só em um parceiro sexual.
    Hoje, amor é tema de livros de autoajuda: as pessoas querem resolver seus problemas. É papel da filosofia dar respostas?
    Faz tempo que o amor não é um tema central para a filosofia. Até o século 17 era importante para os grandes filósofos: Platão, Aristóteles, Agostinho e outros trabalharam em definições detalhadas sobre a natureza do amor. Hoje, só questionamos qual seria a melhor forma de alcançá-lo ou de mantê-lo.
    Acho que é papel da filosofia sugerir alguns caminhos, sim. O mais importante é: certifique-se de que você e seu parceiro têm um profundo sentimento de enraizamento um no outro. Esse sentimento é inconfundível, é como se os dois fossem maçãs da mesma cesta, mesmo que cada um tenha vindo de uma origem muito diferente.


      LINHA DO TEMPO
      Pré-história
      Desconhecia-se o vínculo entre sexo e procriação e a noção de casal. O matrimônio funcionava por grupos: dentro de uma mesma tribo todos pertenciam a todos. As crianças tinham vários pais e várias mães
      Grécia
      A figura feminina era desvalorizada, só o homem podia ser amado. Surge a efebia, relação entre um homem mais velho e um adolescente. O cidadão grego tinha à sua disposição a mulher, a concubina e os efebos
      Roma
      Surge a ideia de que o homem deve ser prudente e controlado. O romano evitava sentimentos apaixonados. Homens não podiam fazer sexo oral em mulheres, afinal, um soldado não deveria servir a uma mulher
      Antiguidade tardia
      A mulher passa a ser vista como má. Acredita-se que a ela seja sexualmente insaciável por isso precise de muitos homens. O cristianismo começa a valorizar a castidade e a considerar o ato sexual imundo
      Idade Média
      Berço do amor cortês, pai do amor romântico. O homem devia servir à dama, suplicar por sua atenção. O amor é calcado na idealização da pessoa amada, que deve ser perfeita e inacessível. Não se pode casar por amor
      Renascença
      A mulher ainda só tem duas opções: ou é santa ou é feiticeira, objeto de adoração ou depósito de uma luxúria abominável, mas surgem precursoras do feminismo, como a poeta francesa Louise Labé
      Iluminismo
      O amor sai de moda entre as pessoas mais instruídas. É preciso deixar que a razão guie todas as decisões. Surge a galanteria, uma rotina socialmente exigida e cheia de rituais que envolviam sedução e adultério
      Romantismo
      A sociedade burguesa passa a valorizar a sensibilidade, um estado de espírito hiperemocional. Era bonito estar pálido, sofrer de insônia ou de melancolia. Havia manuais que ensinavam as mulheres a desmaiar
      Primeira metade do século 20
      O carro e o telefone mudaram a forma como os casais se relacionavam. Finalmente, é possível marcar um encontro e ter um pouco de privacidade, longe dos portões das casas e dos olhares das famílias
      Pós-guerra
      O casamento por amor vira regra. A busca, agora, é por um par ideal. Inconscientemente, predetermina-se como deve ser o relacionamento, o que cada pessoa deve sentir e como reagir
      Anos 60
      É a década da evolução sexual: surge a pílula, popularizam-se os movimentos gay e feminista. A busca pelo prazer compete com a busca pelo amor. Surgem novos tipos de relacionamento como o casamento aberto

        FOCO
        Projeto virtual reúne fotos de casais anônimos
        COLABORAÇÃO PARA A FOLHAA jornalista e empresária Daniela Arrais, 28, é responsável pela série "Amores Anônimos", uma seleção colaborativa de fotos de casais apaixonados na rua, registrados em fotos tiradas com celular. Antes disso ela produziu uma série de entrevistas em seu site, "Don't Touch My Moleskine", chamada "O Que é o Amor para Você Hoje?", na qual coletou depoimentos de anônimos e celebridades.
        Daniela é uma seguidora assumida da religião do amor. "Quando terminei um relacionamento complicado, cheio de idas e vindas, comecei a me focar muito nesse assunto. Acho curioso como está todo mundo buscando o amor e tão pouca gente encontra", afirma.
        Junto com a publicitária Luiza Voll, 28, ela mantém o perfil "Autoajuda do Dia" na rede social Instagram, pelo qual compartilham dicas. O tema principal, claro, é o amor. "A felicidade em outras áreas, no trabalho, na família, é importante. Mas o amor é uma coisa tão forte que, quando as coisas estão bem com ele, tudo bem se o resto da vida está meio torto", diz.

          Medo e vergonha - Denise Fraga

          FOLHA DE SÃO PAULO

          VIDA REAL
          DENISE FRAGA - denise-fraga@uol.com.br
          Medo e vergonha
          Não sou uma pessoa medrosa, mas, naquele dia, alguma coisa acionou o motor de minhas pernas
          O medo é um evento poderoso que toma o nosso corpo, nos põe em xeque, paralisa alguns e atiça a criatividade de outros. Uma pessoa em estado de pavor é dona de uma energia extra capaz de feitos incríveis.
          Um amigo nosso, quando era adolescente, aproveitou a viagem dos pais da namorada para ficar na casa dela. Os pais voltaram mais cedo e, pego em flagrante, nosso Romeu teve a brilhante ideia de pular, pelado, do segundo andar. Está vivo. Tem hoje essa incrível história pra contar, mas deve se lembrar muito bem da vergonha.
          Me lembrei dessa história por conta de outra completamente diferente, mas na qual também vi meu medo me deixar em maus lençóis.
          Estava caminhando pelo bairro quando resolvi explorar umas ruas mais desertas. De repente, vejo um menino encostado num muro. Parecia um menino de rua, tinha seus 15, 16 anos e, quando me viu, fixou o olhar e apertou o passo na minha direção. Não pestanejei. Saí correndo. Correndo mesmo, na mais alta performance de minhas pernas.
          No meio da corrida, comecei a pensar se ele iria mesmo me assaltar. Uma onda de vergonha foi me invadindo. O rapaz estava me vendo correr. E se eu tivesse me enganado? E se ele não fosse fazer nada? Mesmo que fosse. Ter sido flagrada no meu medo e preconceito daquela forma já me deixava numa desvantagem fulminante.
          Não sou uma pessoa medrosa por excelência, mas, naquele dia, o olhar, o gesto, alguma coisa no rapaz acionou imediatamente o motor de minhas pernas e, quando me dei conta, já estava em disparada.
          Fui chegando ofegante a uma esquina, os motoristas de um ponto de táxi me perguntaram o que tinha acontecido e eu, um tanto constrangida, disse que tinha ficado com medo. Me contaram que ele vivia por ali, tomando conta dos carros. Fervi de vergonha.
          O menino passou do outro lado da rua e, percebendo que eu olhava, imitou minha corridinha, fazendo um gesto de desprezo. Tive vontade de sentar na guia e chorar. Ele só tinha me olhado, e o resto tinha sido produto legítimo do meu preconceito.
          Fui atrás dele. Não consegui carregar tamanha bigorna pra casa. "Ei!" Ele demorou a virar. Se eu pensava que ele assaltava, ele também não podia imaginar que eu pedisse desculpas. Insisti: "Desculpa!" Ele virou. Seu olhar agora não era mais de ladrão, e sim de professor. Me perdoou com um sinal de positivo ainda cheio de desprezo. Fui pra casa pelada, igual ao Romeu suicida.

            Perigo no espaço

            FOLHA DE SÃO PAULO

            Riscos à saúde dos astronautas em futuras missões a Marte vão de má qualidade do sono a alzheimer
            SALVADOR NOGUEIRACOLABORAÇÃO PARA A FOLHAImagine a calorosa recepção aos primeiros astronautas a fazer a viagem de retorno de Marte, um grupo de desmemoriados senis.
            Esse cenário bem poderia acontecer se uma agência espacial qualquer decidisse enviar agora, com a tecnologia atual, uma missão tripulada ao planeta vermelho.
            A conclusão, em um estudo financiado (mas pouco divulgado) pela Nasa, vem de um grupo da Universidade de Rochester, nos EUA.
            Eles demonstraram que a radiação cósmica à qual os astronautas seriam submetidos durante meses e meses na longa travessia até Marte pode causar danos severos ao sistema nervoso central.
            Em particular, os cientistas observaram que cérebros irradiados começam a mostrar sintomas de alzheimer.
            Essa doença neurodegenerativa, marcada no cérebro pela presença crescente de placas de uma substância chamada beta amiloide, costuma afetar só idosos.
            Entretanto, com a exposição a um certo tipo de radiação, o processo de degeneração avança mais depressa.
            Para sair da Terra e chegar a Marte usando a rota mais econômica leva-se de oito a dez meses. Isso só na ida.
            Durante esse período, os intrépidos viajantes estarão longe da atmosfera e do campo magnético terrestres -o que os deixa expostos à radiação vinda do Sol e das outras estrelas.
            Essa radiação é composta pelas mais variadas partículas. As mais leves podem ser defletidas por magnetismo ou bloqueadas pelo casco da espaçonave. As mais pesadas passam direto. Foi com essas que os pesquisadores fizeram os experimentos, irradiando átomos de ferro (acelerados no Laboratório Nacional de Brookhaven) sobre o cérebro de camundongos.
            Segundo Kerry O'Banion e seu colegas escrevem no periódico científico "PLoS One", a radiação de partículas de ferro resultou em danos cognitivos e aumento de placas de beta amiloide em doses cumulativas similares às que astronautas seriam expostos em missões exploratórias ao espaço profundo e a Marte.
            RESSALVAS
            Os camundongos do teste foram modificados geneticamente para apresentar os sintomas iniciais de alzheimer. E os pesquisadores admitem que não usaram um grupo-controle para verificar se os mesmos efeitos são observados em roedores comuns.
            Além disso, embora a dose de radiação seja equivalente à de uma viagem até Marte, ela foi aplicada de uma só vez, e somente com um tipo de partícula, nos animais.
            No espaço, a composição da radiação seria mais complexa, e a exposição seria leve e constante, em vez de intensa e pontual. Por fim, cérebros de camundongo e de gente são diferentes em tamanho, composição e nível de redundância funcional.
            "Não acho que o modelo seja suficientemente bom para tirar conclusões claras sobre o que aconteceria num humano", disse à Folha Kerry O'Banion.
            Como é mais complexo e tem mais massa branca, o cérebro humano pode ser até mais suscetível aos danos por radiação, segundo o pesquisador. Mas os humanos podem estar mais protegidos que os roedores por terem mais cérebro "disponível".
            De toda forma, será preciso desenvolver novas formas de proteger uma espaçonave contra a radiação. Ir até Marte não é como um passeio na Lua, que, entre ida e volta, consome uma semana.

              Simulação bagunça o sono de voluntários
              COLABORAÇÃO PARA A FOLHAUm estudo publicado ontem na "PNAS", revista da Academia Nacional de Ciências dos EUA, avaliou o padrão de sono de um grupo isolado por 520 dias em módulos espaciais.
              Os seis "tripulantes" passaram quase dois anos num simulador nos arredores de Moscou para recriar uma missão até Marte.
              A pesquisa mostrou que o sistema que regula o sono e o despertar ficou "doido" durante a falsa viagem.
              O ciclo de dia e noite da Terra nos condiciona a saber a que hora dormir e quando ficar acordado. Em isolamento, com luz artificial, esse negócio todo vai para o beleléu.
              O sedentarismo toma conta ao longo da missão. Entediados, os astronautas dormem mais, mas a qualidade do sono cai.
              Apesar das dificuldades, os voluntários consideraram o resultado positivo. "Humanos são capazes de resistir a uma viagem dessas, dada a seleção e mentalidade apropriadas", disse à Folha Diego Urbina, italiano que participou do confinamento.
              Para os cientistas, as conclusões são outras. Qualquer missão dessa magnitude deverá simular as condições da Terra ou corre o risco de fracassar.


                NA FICÇÃO
                Asimov tratou do problema da radiação
                Na década de 1970 escritores já destacavam os perigos da radiação na exploração espacial. O conto "Stranger in Paradise" (Estranho no Paraíso), da coletânea "The Bicentennial Man and Other Stories" (O Homem Bicentenário e Outras Histórias), de Isaac Asimov, é um exemplo. O texto fala das dificuldades de uma missão a Mercúrio, planeta mais próximo do Sol. Lá, a radiação é tão intensa que nem os poderosos cérebros positrônicos dos robôs da ficção asimoviana podiam resistir.

                USP e CNPq vão apurar suspeita de fraude em artigos

                FOLHA DE SÃO PAULO

                Artigo de grupo capitaneado por diretor do Instituto de Ciências Biomédicas da USP foi "despublicado"; três outros terão erratas
                FERNANDO TADEU MORAESCOLABORAÇÃO PARA A FOLHAO CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e a Universidade de São Paulo vão apurar as acusações de fraude científica feitas contra o diretor do ICB (Instituto de Ciência Biomédicas), Rui Curi. Um artigo do pesquisador, escrito em parceria com ex-alunos, foi "despublicado" no fim de dezembro.
                "Acabamos de tomar conhecimento do caso e ele será analisado", disse Paulo Beirão, coordenador da Comissão da Integridade na Atividade de Pesquisa do CNPq. "Faremos uma análise técnica prévia que irá subsidiar os trabalhos da comissão quando o caso for levado a ela, creio que em março".
                Rui Curi é pesquisador 1A do CNPq, grupo que engloba a elite da ciência nacional, e recebe uma bolsa do órgão.
                No caso de confirmação da fraude, o pesquisador pode sofrer cortes de verbas de pesquisa pelo CNPq.
                O pró-reitor de Pesquisa da USP, Marco Antônio Zago, disse que "o assunto está no gabinete do reitor". Para ele, o conjunto dos acontecimentos indica a necessidade de uma investigação por parte da universidade.
                "Uma retratação de artigo sempre merece uma explicação, especialmente num contexto como esse, em que há acusações de fraude."
                Zago lembrou, no entanto, que somente a retratação do artigo não implica necessariamente má conduta por parte do cientista.
                Três dos autores da pesquisa são professores do programa de pós-graduação em Ciência do Movimento Humano da Unicsul (Universidade Cruzeiro do Sul).
                O pró-reitor de pós-graduação e pesquisa da Unicsul, Danilo Duarte, disse que após o fim do recesso escolar, no dia 15 deste mês, os professores envolvidos serão convocados para prestar os devidos esclarecimentos.

                  Usuário de estação de trem vai tocar piano ao usar escada

                  FOLHA DE SÃO PAULO

                  FOCO
                  Eduardo Knapp/Folhapress
                  Escada interativa transforma degraus em teclados com som de nota musical de piano em estação da CPTM
                  Escada interativa transforma degraus em teclados com som de nota musical de piano em estação da CPTM
                  OLÍVIA FLORÊNCIACOLABORAÇÃO PARA A FOLHAEm um dia comum, a ida ao trabalho começa com você tocando piano. Na estação Osasco da CPTM, os degraus de uma escada reproduzem algumas teclas do instrumento e cada um deles responde à pisada com um som.
                  Se os passos na escada forem sincronizados é possível até "dedilhar" um Chopin com os pés, segundo os responsáveis pelo projeto.
                  Os 34 degraus sonoros, de um total de 42 da escada, já chamavam a atenção ontem. Um teste na escada-piano, que ainda estava fechada, despertou a curiosidade de quem utilizava as escadas rolantes ao lado.
                  A vendedora Nádya Munis, 18, observava a brincadeira e disse que também queria experimentar.
                  "Muito legal! É uma boa forma de incentivo. Eu curti. Agora vou começar a subir pela escada e ver se chamo uns amigos pra tocar", diz.
                  INSPIRAÇÃO SUECA
                  A ideia da escada veio da longínqua Suécia. O site The Fun Theory reúne ideias que visam melhorar o comportamento das pessoas e a cada ano escolhe uma delas.
                  Em 2009, a ideia vencedora foi a escada-piano, instalada no metrô de Estocolmo. Aqui, a escada será aberta ao público oficialmente hoje e ficará por lá até 24 de fevereiro (o sistema de som é removível). De segunda a sexta, a escada funcionará das 9h às 22h. Nos fins de semana, das 9h às 19h.
                  Numa estação por onde circulam cerca de 120 mil pessoas por dia, a iniciativa é um estímulo ao exercício.
                  "A ideia é incluir a atividade física na vida das pessoas. Além do esporte e da academia, existe a atividade na rotina das pessoas", diz Marcelo Paulino, do Sesc Osasco, unidade responsável pela instalação. O custo final da iniciativa não foi divulgado.
                  Rodrigo Barbosa, da empresa Zoomb, desenvolvedora do projeto, disse que a instalação partiu do zero.
                  "Os caras [suecos] fizeram do jeito deles, a gente desenvolveu um nosso. Fizemos um software e um hardware (teclas e caixas que recebem os sinais das teclas) exclusivos para a instalação."
                  Os irmãos Vinícius, 13, e Mateus Mota, 9, testaram a escada piano antes e aprovaram. "Achei bem divertido", disse Mateus. "Como a gente vive disputando, vai ser legal. A gente vê quem consegue tocar uma música primeiro", disse Vinícius.

                    The sex is on the table

                    FOLHA DE SÃO PAULO

                    Garotas de programa de Belo Horizonte terão aulas de inglês, organizadas de forma gratuita por associação de prostitutas, para receber os turistas na Copa de 2014
                    LUIZA BANDEIRADE BELO HORIZONTEA ideia é ensinar o básico. "Fruits" (frutas), por exemplo. Mas o "vocabulário técnico", como "condom" (preservativo), também estará presente em aulas de inglês que prostitutas de Belo Horizonte terão para receber os turistas na Copa de 2014.
                    "Elas vão aprender frutas, verduras, legumes. Mas algumas palavras a gente pode trabalhar mais, no sexo, no fetiche", diz Cida Vieira, 46, presidente da Associação de Prostitutas de Minas Gerais.
                    Cerca de 20 garotas de programa já se inscreveram para participar do curso gratuito, organizado pela instituição. A expectativa de Cida é que até 300 das 4.000 associadas frequentem as aulas até o final do ano.
                    As classes de idiomas já têm local para acontecer: uma sala cedida pela Associação dos Amigos da Rua Guaicurus (zona de prostituição de Belo Horizonte).
                    VOLUNTÁRIOS
                    O grupo busca professores voluntários. A vice-presidente Laura do Espírito Santo, 54 (mas "colocando muita menina de 20 no chinelo"), diz que a associação já conta com psicólogos e médicos voluntários, o que a faz acreditar que não haverá dificuldade.
                    Se for preciso, porém, serão contratados profissionais.
                    A ideia é que o curso dure entre seis e oito meses e que as primeiras turmas tenham início até março. A associação planeja ainda aulas de francês e italiano.
                    QUALQUER PROFISSÃO
                    Para Pollyana Temponi, 27, "profissional do sexo há três", o inglês vai servir para negociar preço e combinar como vai ser o programa com o cliente.
                    "Hoje em dia em qualquer profissão você tem que saber inglês", diz.
                    Outras sonham mais alto: "Vou fazer o curso porque a única coisa que sei falar hoje é 'I love you'. É inglês, né? Te amo? Isso fica difícil falar. Mas talvez, quem sabe? Posso me apaixonar", diz a prostituta C., 54, que não quis ter seu nome divulgado.


                      FRASES
                      "Elas vão aprender frutas, verduras, legumes. Mas algumas palavras a gente pode trabalhar mais, no sexo, no fetiche"
                      CIDA VIEIRA, 46
                      presidente da Associação de Prostitutas de Minas Gerais
                      "Vou fazer o curso porque a única coisa que sei falar hoje é 'I love you'. É inglês, né? Te amo? Isso fica difícil falar. Mas talvez, quem sabe? Posso me apaixonar"
                      C., 54
                      prostituta que não quis ter seu nome divulgado

                      Aos 14, estudante brasileiro é ouro em olimpíada de ciências no Irã

                      FOLHA DE SÃO PAULO

                      Aos 14, estudante brasileiro é ouro em olimpíada de ciências no Irã
                      Matheus Camacho traz medalha inédita ao país após 10 dias de provas em torneio internacional
                      Bolsista em colégio particular de São Paulo, garoto do ensino fundamental respondeu provas do nível médio
                      Karime Xavier/Folhapress/São Paulo/SP
                      Estudante do ensino fundamental Matheus Camacho, 14, medalha de ouro na olimpíada internacional de Ciências, disputada na capital do Irã
                      Estudante do ensino fundamental Matheus Camacho, 14, medalha de ouro na olimpíada internacional de Ciências, disputada na capital do Irã
                      FÁBIO TAKAHASHIDE SÃO PAULOCom quase dois anos a menos que os 180 concorrentes de 28 países, Matheus Camacho, 14, foi à capital do Irã no início do mês passado para participar da Olimpíada Internacional de Ciências. Após dez dias de provas, voltou com a medalha de ouro por equipes na principal prova da competição, a prática.
                      Matheus foi o brasileiro mais novo que já participou da competição, que começou em 2004 e reúne principalmente estudantes com 15 anos. Muitos já têm quase 16.
                      "O resultado dele foi impressionante. Não tenho notícia de que haja outro medalhista tão novo", disse Márcio Martino, organizador da competição no Brasil.
                      "Gosto muito de estudar. E me esforcei. Acho que foi isso", afirmou Matheus, aluno bolsista do colégio Objetivo, na capital paulista.
                      O esforço significa que, de manhã, ele assiste às aulas regulares. À tarde, são mais quatro ou cinco horas, específicas para preparação de olimpíadas. E, em casa, mais uma ou duas horas.
                      "Não posso dizer que ele fica cansado. É o prazer dele", afirmou a mãe, Simone Camacho, 45, formada em direito e funcionária do Judiciário. O pai é coronel do Exército.
                      As outras diversões são cinema ("filmes de qualquer tipo"), videogame e música. Ouvindo os Beatles, aprendeu e ficou fluente em inglês.
                      A precocidade do estudante teve de ser compensada com a carga de estudos. Ele é do ensino fundamental. As provas são do nível do médio.
                      Até março, o jovem nunca tinha visto uma aula de física, e a primeira de química foi em abril. Em maio, ele já estava na primeira eliminatória nacional, que contou com cerca de 2.500 alunos e cobrou as duas disciplinas.
                      Ao final, Matheus e outros cinco foram escolhidos para representar o país na competição mundial, em Teerã.
                      A PROVA
                      A Olimpíada Internacional possui três etapas. Uma, de testes. Outra, de questões dissertativas. A terceira, com maior peso e mais importância, é a experimental.
                      Na edição 2012, o tema foi DNA. Em uma das frentes, eles tiveram de, a partir de sequências identificadas, descobrir quais eram as outras, comparando as informações entre os dois grupos.
                      Um dos trios brasileiros (que contava com Matheus e dois alunos de Fortaleza, do colégio Farias Brito) alcançou os 40 pontos possíveis.
                      A medalha de ouro foi inédita para o país. Na colocação geral, o país ficou em quinto, sua melhor posição. Taiwan foi o vencedor.
                      DESESTÍMULO
                      Por pouco, o talento de Matheus não se perdeu pelo sistema de ensino. Ele estudava em um colégio particular que tinha boas aulas regulares, mas poucas atividades extras. "Ele estava desestimulado, nem queria ir para a escola", afirmou a mãe.
                      Ao final de 2011, Matheus e a família tiveram a certeza de que o problema era a falta de desafios. Na nova escola, a chance de participar da Olimpíada impulsionou-o.
                      Agora, em plenas férias, Matheus segue em ritmo de estudos. Quer, no final do ano, ganhar uma medalha de ouro individual -no ano passado, foi prata.
                      Para isso, terá de participar em maio novamente da primeira eliminatória nacional. Quem quiser se inscrever deve acessar o site www.ijso.com.br, a partir do fim do mês.

                        Francisco Daudt

                        FOLHA DE SÃO PAULO

                        Vasto tempo
                        'As coisas tangíveis tornam-se insensíveis à palma da mão. Mas as coisas findas, muito mais que lindas, estas ficarão'
                        Einstein submetia-se por sua fama a situações constrangedoras. Ocasião de gala. Sentado junto à socialite, ouviu dela uma dessas perguntas feitas para preencher o silêncio: "Professor, poderia me explicar o conceito de tempo na sua teoria da relatividade?" Conformado, respondeu: "Imagine-se por duas semanas junto a quem mais ama. Agora se imagine por trinta segundos sentada sobre uma chapa em brasa. O que demorou mais a passar?"
                        O escritor Carlos Sussekind me apresenta sua intriga: "Agora me dizem que é preciso viver o presente. Não entendo isso. Minha mente transita sem parar entre o passado e o futuro, qualquer que seja o estímulo atual".
                        Consolo-o: todos nós somos assim. Só quem vive apenas o presente é quem tem Alzheimer. Se o leitor vivesse isto, essas manchas de tinta que vê não teriam sentido algum. Sem perceber, seu curso de alfabetização é presente.
                        A principal característica que nos diferencia de outros animais é quantitativa, e nosso bê-a-bá dá a dimensão dos bilhões de terabites contidos no nosso cérebro.
                        É um erro comum pensar que o inconsciente freudiano é inalcançável por conta da repressão. Não é. O tamanho de informação inconsciente que carregamos é infinitamente maior do que o reprimido, apesar de um contaminar o outro.
                        Mas está inconsciente por quê? Pela mesma razão que as fundações do prédio onde você mora nunca mais serão vistas: elas são básicas, mas são passado enterrado. Tanto quanto nossa incapacidade de reconstruir nossa alfabetização (que, aliás, continua em processo: pense em excitação; hesitação; exceção; estender; extenso; tenho "uma dó" ou tenho um dó? Você não hesita antes de escrevê-las?). É passado e presente ao mesmo tempo, já que nosso inconsciente é atemporal.
                        Quem não teve dor de barriga em janeiro, pensando no vestibular em dezembro?
                        Lá vêm os gregos de novo em nosso socorro. Foi ontem mesmo (há 2.400 anos) que eles pensaram na ideia de kairós, o tempo oportuno, ou o momento em que as coisas se encaixam. Ele é intensivo, em contraste com cronos, o tempo medido, extensivo, o que se estende.
                        Escrevo no 31 de dezembro. Um dia perdido no cronos, mas não no kairós. Temos uma impressão, ancorada no inconsciente, de que ele tem algo de especial, um poder mágico de virada, hora de olhar o ano que passou, planejar o que vai começar, dimensionar a velhice.
                        Andei pensando nesses conceitos de tempo ainda outro dia, e resolvi escrever sobre eles, mas só hoje me dei conta de que escrevo num caderno chamado "Cotidiano", e de que é Réveillon: vai ser kairós assim no Hades...
                        Drummond escreveu uma crônica num dia de apagão, descrevendo sua casa vista à luz de um foco de lanterna, e de como cada fragmento iluminado ganhava um mundo de memórias que, se visto em conjunto, não seriam despertadas. Para cair no esquecimento do inconsciente assim que o foco se movia.
                        É dele também este primor da atemporalidade da mente: "...as coisas tangíveis tornam-se insensíveis à palma da mão. Mas as coisas findas, muito mais que lindas, estas ficarão".

                          Clovis Rossi

                          FOLHA DE SÃO PAULO

                          Chávez, o rei fantasma
                          Chavismo está fazendo do presidente doente um monarca, cujo "mandato" só termina com a morte
                          A situação venezuelana se assemelha a uma ópera-bufa, digna de uma república bananeira, o que a Venezuela não é, por mais que setores da oposição achem o contrário.
                          Começa pela adaptação da Constituição -obra exclusiva do chavismo, é bom lembrar- às necessidades de turno dos herdeiros do caudilho doente. Achar que o juramento constitucional no dia 10 de janeiro é mero "formalismo" não passa de truque barato.
                          É cristalino o artigo 231, que reproduzo em espanhol porque é de facílima tradução e para não perder o sabor original: "El candidato elegido o candidata elegida tomará posesión del cargo de Presidente o Presidenta de la República el diez de enero del primer año de su período constitucional, mediante juramento ante la Asamblea Nacional. Si por cualquier motivo sobrevenido el Presidente o Presidenta de la República no pudiese tomar posesión ante la Asamblea Nacional, lo hará ante el Tribunal Supremo de Justicia".
                          Ou seja, a data é fixa e inamovível. Móvel pode ser apenas o local do juramento. A data é inamovível porque, em países democráticos sérios, a duração do mandato do governante é perfeitamente delimitada. Qualquer outra interpretação é chicana política.
                          Prorrogar o mandato de Chávez indefinidamente, como estão defendendo o vice-presidente Nicolás Maduro e o presidente da Assembleia, Diosdado Cabello, é transformar Chávez em rei. Reinados são para sempre, até a morte.
                          Ou, como prefere Antonio Pasquali, em "El País" de ontem: "O chavismo deve ter calculado o risco de uma rápida perda de carisma depois da eventual morte de seu líder e tenta blindá-lo com um salto atrás para a irracionalidade, criando uma atmosfera em que, mesmo morto, Chávez continue sendo o grande totem protetor presente em cada ato político".
                          Até entendo as razões dos chavistas: você já imaginou o que aconteceria se, no dia 10, Chávez fosse declarado permanentemente incapacitado para exercer o governo, novas eleições fossem convocadas e o eleito empossado, mas, daqui a digamos seis meses, o doente recuperado reaparecesse em Caracas?
                          O "totem" assombraria o sucessor, qualquer que fosse.
                          O razoável, portanto, seria declarar Chávez temporariamente incapacitado, o que abriria um período de 90 dias, prorrogáveis por mais 90, para verificar as condições físicas e mentais do presidente, para só então deslanchar o processo sucessório, se fosse o caso.
                          Hoje por hoje, nem há razões para que o chavismo tema perder a eventual nova eleição. O momento é chavista: duas vitórias eleitorais consecutivas (as presidenciais de outubro e as estaduais do mês passado), crescimento econômico robusto (5,2% no ano passado), desemprego em queda, pobreza idem. Manter tais condições por 180 dias não é missão impossível. Por mais tempo, é entrar no imponderável.
                          O problema é que os chavistas estão confessando, com suas chicanas constitucionais, que só Chávez tem o "software" da tal "revolução boliviariana". Temem, pois, o salto no vazio.
                          crossi@uol.com.br

                            MARIA ESTHER MACIEL » Tempo de folias‏

                            Estado de Minas:08/01/2013



                            Os trigêmeos Belchior, Gaspar e Baltazar nasceram num dia ensolarado de janeiro, perto do Rio do Sono, entre João Pinheiro e Paracatu – Noroeste de Minas Gerais. Mas a mãe, que tinha a saúde frágil, não resistiu e morreu nos braços da parteira, logo após o nascimento dos filhos. Os meninos, assim, tiveram que ser criados pelo pai e a avó, indo morar em Varjão de Minas, onde viveram uma infância digna e quase feliz.

                            Quando completaram 15 anos, o pai – que era capitão de uma folia de reis das redondezas – disse-lhes que era o momento de se tornarem foliões. Os três ficaram radiantes, pois sempre sonharam seguir os passos do pai, tendo já aprendido a entoar os cantos e a tocar alguns dos instrumentos. Poderiam, a partir daquele momento, participar de todas as apresentações do grupo, entre o Natal e o Dia de Reis (ou até o Dia de São Sebastião) em diversas cidades vizinhas. Belchior foi escalado para tocar o reco-reco; Gaspar ficou com o triângulo; Baltazar, com o pandeiro. Apresentaram-se, pela primeira vez, nos festejos do distrito de Andrequicé. E, pelo que se soube, saíram-se muitíssimo bem.

                            Conheci os trigêmeos foliões muito tempo depois, na casa de minha avó paterna, em Patos de Minas. Eu devia ter por volta de 10 anos. Eles já eram homem feitos e pareciam réplicas um dos outros, de tão parecidos de rosto e de corpo. Nessa época, os grupos de folias de Reis já se reuniam todo ano no auditório da Rádio Clube de Patos, graças a uma campanha promovida pelo inesquecível radialista Patrício Filho. E os foliões aproveitavam a ida à cidade para fazer também apresentações nas casas de família, a convite dos moradores. Era meu pai quem os levava, de caminhonete vermelha, à casa de minha avó Maria. Ela preparava panelas de galinhada e tutu de feijão para recebê-los da melhor maneira possível. Vizinhos, parentes e amigos também participavam da festa, que não tinha hora para terminar. Tudo era uma grande alegria sem fim.

                            Foi um dos trigêmeos que contou, em público, a história de vida dos três, agradecendo muito à Nossa Senhora da Abadia por terem se tornado foliões como o pai, o eterno capitão do grupo. Depois disso, não os vi mais. Mas nunca me esqueci dos três rapazes: esguios, de pele muito negra e brilhante, dentes lindos e sobrancelhas fartas. Tocavam, dançavam e cantavam como verdadeiros artistas. Ou magos.

                            Recordei-me de tudo isso anteontem, Dia de Santos Reis. Com o auxílio da imaginação, é claro. E, curiosa para saber se ainda existia a tradição das folias em Patos, recorri à internet. Descobri que sim. Soube, inclusive, que elas passaram a ser consideradas Patrimônio Cultural Imaterial de Patos de Minas, em 2007, pelo poder público. Ou seja, parece que a tradição das folias de reis continua bastante viva por lá. O festival também tem acontecido todo ano, no auditório da Rádio Clube de Patos, reunindo diversos grupos da região, com fins culturais e filantrópicos. Tenho que voltar à cidade em algum mês de janeiro, só para ver as apresentações. Quem sabe reencontro os trigêmeos foliões de minha infância?

                            Li, ainda, que Minas é o estado com o maior número de folias de reis do Brasil. Para a minha surpresa, até em Belo Horizonte elas existem. Ou, melhor, resistem.

                            Tereza Cruvinel - Nas águas da Bahia‏

                            Dilma sabe que sua campanha à reeleição será bem diferente da de 2010, quando ela era um poste vistoso puxado por um guindaste de alta potência, o então presidente Lula 

                            Estado de Minas: 08/01/2013 
                            Não se deve enxergar um fato, mas apenas um gesto, no convite da presidente Dilma Rousseff ao governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), para o almoço que tiveram sábado, na Base Naval de Aratu, do qual participou também o governador da Bahia, Jaques Wagner (PT). Mais substância deve ter havido no passeio de barco que ela fez no domingo com o governador baiano e a mulher dele, Fátima, cujo humor Dilma muito aprecia. Ele é o mais provável coordenador da campanha dela à reeleição, o que depende das equações que vier a montar para sua própria sucessão na Bahia.

                            O convite a Campos ela fez em 27 dezembro, quando já circulava uma entrevista dele à revista Época, assegurando que vai apoiá-la em 2014. Mas, como declaração não é compromisso, Dilma novamente o afagou, tratando de mantê-lo como aliado. Segundo relatos, o almoço, com a presença dos parentes de todos, ficou no “social”, não tendo havido conversa reservada a dois ou a três. Jaques, contrariamente aos petistas ressentidos com Campos e seu PSB por causa das disputas eleitorais de 2012, que acarretaram derrotas ao PT, tem agido para mantê-lo no campo lulodilmista, tendo até declarado que ele pode ser o candidato da coalizão em 2018. Tem aparado arestas e buscado inserir o colega pernambucano nos palcos em que pisa. Levou-o consigo, por exemplo, aos funerais da venerada dona Canô. De outro lado, Campos enfrenta as pressões do PSB para que comece a articular a candidatura.

                            Independentemente disso, Dilma deve saber que sua campanha à reeleição, se for mesmo candidata, será bem diferente da de 2010. Ela era um poste vistoso puxado por um guindaste de alta potência, o então presidente Lula. Agora, ele a apoiará, mas já não é presidente, por mais popular que ainda seja. Ela terá que se virar, costurar alianças e seduzir aliados, e essa não é sua praia. Mas é a de Jaques, com o qual tem uma relação de identidade e confiança. Para coordenar a campanha dela, ele terá que arrumar primeiro o tabuleiro baiano. Já estando no segundo mandato, tentará fazer um sucessor petista. Estão no páreo o senador Walter Pinheiro, o ex-presidente da Petrobras Sergio Gabrielli e o deputado Rui Costa. Não será uma escolha fácil. 

                            O principal aliado do PT no estado, hoje, é o PSB. E aí começam os problemas. Para garantir o apoio do PSB, a estratégia natural do governador seria oferecer-lhe a vaga de senador, optando ele por concorrer à Câmara. Ele se elegeria praticamente sem fazer campanha, podendo se dedicar à candidatura de Dilma. Mas a senadora e principal liderança dos socialistas na Bahia, Lídice da Mata, também quer ser candidata ao governo. A vaga no Senado não interessa, ela ainda tem quatro anos de mandato pela frente.

                            Essas são as questões da política baiana que se conectam com o futuro de Dilma e, certamente, foram abordadas no passeio pelo mar da Bahia.

                            A crisma e o alvo

                            O ex-presidente Fernando Henrique crismou o senador Aécio Neves como candidato a presidente pelo PSDB em 2014. Tendo se afastado do cotidiano partidário nos últimos anos, ele voltou ao proscênio na certeza de que, se o PSDB não se renovar e não formular um novo discurso, o PT é que ficará 20 anos no poder, tal como projetou um dia seu amigo Sergio Motta para os tucanos. A isso tem se dedicado – a instigar o partido e a colaborar com Aécio – desde o almoço que tiveram logo que foram apuradas as urnas de 2012. Partiu dele a orientação para que o PSDB mire a política econômica de Dilma e comece a fazer dela o alvo direto do confronto, até então centrado na figura do ex-presidente Lula. Esse é o contexto em que devem ser compreendidos os ataques ao ministro da Fazenda, Guido Mantega, por causa dos remanejamentos de recursos realizados para garantir a meta fiscal de 2012. Carga tributária, risco inflacionário, incerteza regulatória e excesso de intervencionismo são outros temas que, daqui para a frente, os tucanos vão esgrimir contra a política econômica de Dilma.

                            Para ela, chegou o momento da verdade. Se em 2013 o crescimento não der o ar de sua graça, começará a ser acusada de ter interrompido a trajetória anterior, pois mais que o cenário externo tenha contribuído para isso. 

                            Baixa sentida 

                            Beto Vasconcelos, secretário-executivo da Casa Civil, surpreendeu a ministra Gleisi Hoffman e a própria presidente com seu pedido de afastamento por causa de um projeto acadêmico. Pela sólida formação jurídica e pela relação de confiança, Dilma contava com ele para resolver eventuais substituições no Ministério da Justiça ou na Advocacia-Geral da União (AGU).

                            CIÊNCIA » Papel de plástico 100% brasileiro - Flávia Ayer‏

                            Em parceria com a Universidade Federal de São Carlos, empresa paulista desenvolve produto a partir da reciclagem de embalagens de picolé, salgados e biscoitos 

                            Flávia Ayer
                            Estado de Minas: 08/01/2013 
                             
                            Imagine um papel que não amarela nem molha, não rasga facilmente e pode ser usado normalmente para escrita ou impressão. Esse produto existe e tem tecnologia 100% brasileira, resultado de uma parceria entre uma multinacional situada em São Paulo e a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), no interior paulista. Apesar de ter o aspecto do material de origem vegetal, o papel, na verdade, é feito de plástico e foi desenvolvido a partir da reciclagem de embalagens de biscoito, picolé, salgadinhos e rótulos. Batizado de vitopaper, o produto se assemelha ao papel couché, com superfície muito lisa e uniforme, e já foi empregado na confecção de livros, relatórios empresariais e até cadernos. A cada uma tonelada de vitopaper produzida, a estimativa é de que 750 quilos de plásticos deixem de ir para os depósitos de lixo.
                            O vitopaper é o primeiro papel sintético produzido com material reciclado “pós-consumo”. A principal matéria-prima são os polipropilenos biorientados (BOPP/PP), usados na produção de embalagens flexíveis, como de picolés, barrinhas de cereais e bombons. Até então, o PP não tinha uma cadeia de reciclagem ativa e, ainda que reciclados, acabavam parando em lixões e aterros sanitários. Uma das vantagens é que o papel é fabricado nas mesmas máquinas que produzem as embalagens. “Nossa preocupação era não desenvolver um subproduto, como as vassouras feitas de plástico, e conseguir adotar a mesma tecnologia que já usamos nas embalagens flexíveis”, afirma a gerente de produtos da Vitopel, Patrícia Gonçalves.
                            A diferença principal em relação à fabricação do BOPP/PP – e segredo guardado a sete chaves – é o acréscimo de aditivos para conferir ao produto aspecto de papel. “As embalagens são cortadas, passam por uma lavagem e se transformam em pequenas bolinhas, que chamamos de pellets. Esse material recebe aditivos e é esticado em uma máquina, se transformando num filme bem fininho”, explica Patrícia. Para completar o processo, depois de cortado, o papel sintético recebe descargas elétricas como parte de um tratamento de superfície. O projeto levou cerca de três anos para ser desenvolvido e contou com a participação do Departamento de Engenharia de Materiais da UFSCar.
                            À receita do papel sintético, a UFSCar acrescentou a possibilidade de se incorporar outros tipos de plásticos, mais uma inovação do produto. Até então, não havia no mundo tecnologia que empregasse diversas variedades de plástico na reciclagem. Com isso, passaram a compor a fórmula do vitopaper o polietileno de baixa densidade (usado para confeccionar as sacolinhas de supermercado), o polietileno de alta densidade (frascos de produtos de higiene e limpeza), além do poliestireno (embalagens de iogurte e copos descartáveis). Para viabilizar a fabricação do papel de plástico, a Vitopel firmou parceria com associações de reciclagem de Votorantim (SP), onde a empresa está sediada.
                             
                            CARACTERÍSTICAS Além de 75% reciclado e 100% reciclável, o vitopaper, no mercado há cerca de três anos, é 30% mais leve que o papel comum. Com coloração perolada, o produto pode receber todas as tonalidades durante a impressão e usa 20% menos de tinta em relação ao convencional. Um dos poréns é que não pode ser usado por impressoras caseiras. Os modelos a laser também são vetados, pois o material não resiste a temperaturas acima de 120 graus. Em compensação, água não é problema para o papel de plástico, que não absorve líquidos. Em relação à escrita, a única limitação são as canetas tinteiras – lápis e consequentemente borrachas, além das canetas esferográficas estão liberados. Não é possível em uso para embalar alimentos também é proibido por ser um produto reciclado e seu uso, por enquanto, se limita à indústria gráfica.

                            Resistente a traças, o papel sintético não tem prazo de validade. “O livro vai durar tanto quanto seu conteúdo”, comenta Patrícia. O produto já foi empregado na produção de livros como o infanto-juvenil Guerra e Paz, de Eraldo Miranda e ilustrações de Marcelo Alonso, inspirado nos painéis homônimos de Cândido Portinari. A Petrobras é uma das empresas que usou o vitopaper na confecção do seu relatório anual e o Itamaraty, o Ministério das Relações Exteriores, prepara resumo sobre a Rio +20 também produzido com o material. Além desses volumes, o produto já foi usado em cardápios, revistas e cadernos. Até agora, a estimativa é de que 1 mil toneladas do papel de plástico tenham chegado ao mercado.

                            Um dos entraves para a disseminação do vitopaper é o fato de ele ser mais caro que o papel convencional. Dois motivos pesam nesse aspecto: a ausência de uma grande escala de produção e os impostos. Ao contrário do papel de celulose, que para aplicação de livros e periódicos é isento de impostos, o vitopaper conta com os tributos. A isenção do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) foi conquistada em 2011, mas o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) continuando pesando e, para se ter uma ideia, por causa disso, o produto fica 18% mais caro, percentual de ICMS aplicado em São Paulo.

                            Painel - Fábio Zambeli [interino]

                            FOLHA DE SÃO PAULO

                            Grande elenco
                            Atento à inquietação de peemedebistas que enxergam sinais de reaproximação de Dilma Rousseff com o PSB de Eduardo Campos, Michel Temer entrou em campo ontem para rebater o que chama de "intriga". "Aplaudo qualquer contato com o Eduardo. Nosso interesse, meu e da presidente, é uma nuvem de aliados para 2014 e o PSB é importantíssimo", disse o vice-presidente à coluna, negando que os socialistas representem ameaça ao papel do PMDB no projeto de reeleição.
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                            Senha A apreensão entre dirigentes do PMDB aumentou com o encontro de Dilma e Campos, sábado. "Vão dizer que já temos a presidência das duas Casas no Congresso", diz um peemedebista que teme o PSB vice na chapa presidencial em 2014.
                            Onipresente O governador pernambucano usará o horário de TV de seu partido em todos os Estados no transcorrer do ano, além dos 40 minutos reservados à direção nacional. Campos quer vitaminar palanques regionais.
                            Sonho meu Azarão na disputa pela presidência da Câmara, Júlio Delgado (PSB-MG) redigiu documento que detalha uma das bandeiras de sua campanha: rever o pacto federativo para evitar submissão do Legislativo ao Executivo e ao Judiciário.
                            Vácuo Para o deputado, o STF só deliberou sobre temas que seriam prerrogativa do Congresso, como a Ficha Limpa, por omissão da Casa.
                            Photoshop O favorito Henrique Alves (PMDB-RN) fala em valorizar a atividade parlamentar. Se eleito, promete campanha para melhorar a imagem da Câmara.
                            Axé Após dois encontros com Jaques Wagner (PT-BA) durante suas férias na base naval de Aratu, Dilma disse ao governador que pretende retornar a Salvador para o Carnaval. A presidente aprovou a estrutura do local, preparada com ajuda da primeira-dama Fátima Mendonça.
                            Guilhotina Além de garantir que "vai sobrar energia'' em 2013, Edison Lobão (Minas e Energia) afirma que, apesar do acompanhamento diário do sistema elétrico, não há situação emergencial. "Se houvesse, cabeças teriam rolado. Inclusive a minha".
                            Sonho de verão Questionado sobre o nível dos reservatórios, o ministro lembra que quando assumiu a pasta, em 21 de janeiro de 2008, não havia uma "gota de chuva'' na maioria das regiões do país. Neste ano, compara, "já choveu em Estados importantes".
                            Upgrade Sai no final do mês relatório de comissão das Minas e Energia sobre 42 subestações estratégicas. Iniciada após série de apagões em oito Estados, a varredura deve sugerir troca e modernização de equipamentos.
                            Presente Em meio à temporada de enchentes, Fernando Haddad corre para fechar o calendário de festividades dos 459 anos de São Paulo, celebrados no dia 25, seu aniversário. Gilberto Kassab deixou as providências finais para o sucessor. A prefeitura estuda promover show no Anhangabaú.
                            Boa... Haddad telefonou ontem a Luiz Marinho. Quer visitar o campus de universidade federal em São Bernardo do Campo, aprovado em sua passagem pelo MEC.
                            ... vizinhança Marinho não resistiu: pediu ao correligionário que doe área para o piscinão do Jaboticabal, na divisa dos dois municípios.
                            Romaria Além do PR, o PRB abrirá esta semana tratativas com Geraldo Alckmin para 2014. A sigla de Celso Russsomanno se diz desprezada pelo PT, aliado nacional, na montagem do primeiro escalão paulistano.
                            com ANDRÉIA SADI e DANIELA LIMA
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                            TIROTEIO
                            "Ao escolher FHC como guru eleitoral, o que Aécio fará se Dilma evitar o racionamento de energia elétrica? Oposição no escuro?"
                            DO DEPUTADO FEDERAL VICENTE CÂNDIDO (PT-SP), sobre o tucano ter optado pelo ex-presidente como precursor de sua candidatura ao Planalto em 2014.
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                            CONTRAPONTO
                            Existe amor no Senado
                            Eduardo Suplicy (PT-SP) ocupava a tribuna do Senado, em dezembro, para defender a inclusão da palavra "amor" antes do lema "Ordem e Progresso" na bandeira brasileira. Cristovam Buarque (PDT-DF) interveio:
                            -Se fôssemos fazer uma bandeira para o povo brasileiro, seria preciso tirar tudo o que está escrito, porque dez milhões não sabem ler. O que temos é um problema geométrico: não cabe mais uma palavra naquele espaço!
                            Suplicy defendeu, encerrando sua fala:
                            -Quando houver amor de todos nós ao povo brasileiro certamente não haverá mais analfabetos no Brasil...

                              Avanço do Alzheimer é mais rápido nas mulheres - Paloma Oliveto‏

                              Pesquisa feita nos EUA conclui que a atrofia cerebral aparece primeiro em pacientes do sexo feminino. A descoberta pode ajudar no desenvolvimento de novas drogas 

                              Paloma Oliveto
                              Estado de Minas: 08/01/2013 

                              Passados mais de 100 anos desde que foi descrito, o mal de Alzheimer ainda desafia a medicina, que, apesar de avanços nas últimas décadas, não decifrou por completo a doença degenerativa, caracterizada pela morte gradual dos neurônios. Uma das particularidades desse tipo de demência é a diferença entre gêneros. Estudos epidemiológicos e pesquisas baseadas em exames de imagem mostram que os danos aparecem primeiramente nas mulheres, que sofrem maior perda de massa cinzenta do que os homens.

                              O trabalho mais recente sobre a variação da doença de acordo com o sexo foi apresentado na reunião anual da Sociedade Radiológica da América do Norte. Um estudo da Universidade Médica do Sul da Califórnia, em Charleston, mostra que a atrofia cerebral e a morte de células do órgão progridem mais rapidamente nas mulheres. Na pesquisa, Maria Vittoria Spampinato, professora de radiologia da instituição, avaliou as informações médicas de 109 pacientes que participam da iniciativa de neuroimagem para a doença de Alzheimer, uma pesquisa que acompanha centenas de indivíduos saudáveis e pessoas que já sofrem algum tipo de declínio. Todos os participantes do estudo de Spampinato apresentavam sinais de transtorno cognitivo leve, condição na qual ainda não existe a demência e as funções cognitivas estão preservadas. Contudo, os pacientes já sofrem problemas de memória. O transtorno é considerado um dos mais fortes fatores de risco para o Alzheimer. 

                              Durante cinco anos, foram realizados mapeamentos cerebrais de 60 homens e 49 mulheres, com média de idade de 77 anos, por meio de exames de ressonância magnética periódicos. “Estudar o Alzheimer ainda é uma dificuldade porque apenas a análise do tecido cerebral, que só pode ser feita após a morte, fornece o diagnóstico definitivo da doença. Porém, a tecnologia de imagem tem se mostrado uma aliada dos pesquisadores porque, de forma não invasiva, podemos ver o que está se passando no cérebro dos pacientes”, afirma Spampinato.
                              Ao fim de meia década, todos os 109 voluntários haviam evoluído para o Alzheimer. Usando as imagens da ressonância que avaliaram os cérebros dos indivíduos 12 meses antes do diagnóstico e 12 meses depois, foi possível criar mapas que ilustraram as alterações na massa cinzenta dos pacientes. Essas avaliações revelaram que, comparadas aos homens, as mulheres apresentavam uma atrofia muito maior um ano antes de o Alzheimer ser detectado. 

                              As ressonâncias mostraram tambémque os homens e as mulheres da pesquisa perderam massa cinzenta em áreas cerebrais diferentes. Os danos provocados pelo Alzheimer, porém, são idênticos quando a doença já está bem estabelecida tanto em homens quanto em mulheres. “Depois de cinco anos, a atrofia era igual, independentemente do gênero. Isso indica que apesar de a doença demorar mais para se manifestar nos homens, quando isso ocorre ela vem de forma bastante agressiva”, constata a radiologista. 

                              Para Spampinato, os resultados do estudo sugerem que o direcionamento dos testes farmacológicos e das estratégias preventivas precisam levar em conta a diferença de gêneros. “Há pesquisas ainda bastante embrionárias, mas que podem ser promissoras no sentido de buscar drogas que evitem a progressão do Alzheimer. Caso o resultado do nosso estudo seja replicado, e já estamos trabalhando na ampliação da amostra, ele pode ter fortes implicações no desenvolvimento de futuros medicamentos. Não podemos dizer agora se as drogas deveriam ter diferentes formulações; acredito que esse não seja o caso, mas a decisão de quanto e quando administrá-las poderá ser influenciada pelo gênero do paciente”, defende.

                              Influência genética Ainda não se sabe por que o Alzheimer destrói a massa cinzenta das mulheres antes de começar a danificar os neurônios dos homens. Para um grupo de pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de Stanford, parte do problema pode ser explicada por uma variante genética já associada anteriormente à doença. Eles descobriram que a mutação do gene ApoE4 interrompe o funcionamento normal do cérebro de mulheres idosas e saudáveis, mas em homens nas mesmas condições ele tem um impacto pouco significativo. Mulheres que carregam a variante apresentam padrões neurodegenerativos muito antes que qualquer outro sintoma se manifeste, segundo os médicos de Stanford. 

                              Pesquisas anteriores já haviam demonstrado que tanto homens quanto mulheres que herdam duas cópias do gene mutante — uma probabilidade pequena, que afeta apenas 2% da população — têm grande risco de desenvolver Alzheimer. Mesmo nesse grupo, porém, as mulheres estão mais propensas a apresentarem sinais da doença do que os homens. Os pesquisadores descobriram isso por meio de amostras do líquido cerebrospinal, um fluido que é transportado do cérebro à espinha medular. Punções lombares em mulheres com duas cópias do ApoE4 revelaram um elevado nível da proteína tau, implicada com o desenvolvimento da doença (veja infográfico). Além disso, exames de imagem revelaram uma atividade cerebral anormal. Nos homens, mesmo que portadores da variante, nada disso ocorreu. 
                              De acordo com Michael Greicius, professor de ciências neurológicas e diretor médico do Centro de Stanford para Distúrbios da Memória, para cada três mulheres com Alzheimer existem dois homens. “É verdade que mulheres vivem mais, e que a idade avançada é o maior risco para a doença, mas a disparidade de gêneros persiste mesmo se você fizer ajustes de longevidade. Acreditamos que por trás disso pode estar o impacto do ApoE4, o que, no futuro, é capaz de ser um fator importante para terapias gênicas”, afirma. 

                              “Cada vez mais, reforça-se a ideia de que as lesões cerebrais relacionadas ao Alzheimer surgem antes nas mulheres. As manifestações clínicas do distúrbio não apenas aparecem mais cedo, como são mais severas nos primeiros anos”, afirma Lisa L. Barnes, pesquisadora do Centro Rush de Controle do Alzheimer, em Chicago. “Há várias linhas de pesquisa indicando fatores de risco, como variantes genéticas ou falta de algum fator protetivo, como o estrógeno, que fica deficiente depois da menopausa. Todas essas questões merecem estudos aprofundados, pois, ao entender como a patologia do Alzheimer e de outras demências diferem em homens e mulheres, poderemos compreender melhor a doença e mesmo desenvolver estratégias mais específicas e direcionadas de prevenção”, acredita.