sábado, 26 de janeiro de 2013

Segredos da escrita

ESTADO DE SÃO PAULO


Em Ficcionais, escritores contam, em primeira pessoa, aspectos curiosos do processo criativo de um livro



Maria Fernanda Rodrigues - O Estado de S.Paulo
Saber o que acontece a alguém durante o processo de escrita de um livro, descobrir que aquela história é, em certa medida, a história de seu autor, ou de um amigo, ou do pai, e que o escritor quase abandonou o livro porque teve um bloqueio criativo são questões que não deveriam mudar a relação que se cria com a obra - mas que despertam a curiosidade do leitor. Nenhuma orelha ou quarta capa de livro explica isso, ou de onde veio a ideia para aquela história, o que pretendia o autor ao escrevê-la e, principalmente, o que leva alguém a mergulhar fundo no projeto de um livro já que o processo é tão doloroso. Entrevistas dão algumas pistas, mas é por meio dos raros relatos de um autor que chegamos, se chegamos, mais perto de sua verdade.
Em Ficcionais - Escritores Revelam o Ato de Forjar Seus Mundos (Cepe, 120 págs., R$ 15), que terá lançamento hoje com debate na Livraria da Vila, da Vila Madalena, esse universo desconhecido da escrita, da relação do autor com seu objeto é, em parte, revelado. Estão ali textos em primeira pessoa de escritores diversos, de idades variadas, como Bernardo Carvalho, Ana Maria Machado, Daniel Galera, Michel Laub, Elvira Vigna, Ronaldo Correia de Brito, Marcelino Freire, que contam sobre o processo de escrita de um livro específico. São 32 textos no total, todos feitos a pedido de Schneider Carpeggiani, editor do Pernambuco, suplemento literário do Diário Oficial do Estado (antigo Suplemento Cultural), que completa agora cinco anos, e foram publicados na coluna Bastidores.
Foi Bernardo Carvalho quem, indiretamente, deu a ideia dessa coluna. Ele estava lançando O Filho da Mãe, da série Amores Expressos, e Carpeggiani pediu que ele relatasse o período que passou em São Petersburgo, para onde foi mandado com a incumbência de voltar com uma história de amor. "Mais que um relato sobre um livro feito em viagem, numa situação artificial, ele me enviou uma confissão de como aquela história foi criada. O texto é uma espécie de 3X4 do que é o Bernardo Carvalho criando", conta o editor e organizador da obra. A partir daí, ele resolveu investir nesse tipo de provocação.
Foram poucas as recusas desde a criação da coluna, há cerca de quatro anos. Mas a dúvida é unânime: como fazer isso? "Aí entra o trabalho de psicólogo que todo editor deve exercer. Teve um escritor que eu não posso revelar o nome que disse: 'Mas eu não posso escrever isso, porque eu sou o personagem. E ninguém pode saber, porque essa história é complicada'. Respondi: 'Se seu romance é 'real', então faça um texto ficcional dizendo como criou aquela ficção. Ninguém vai notar'. E ele fez. Ou seja, na cabeça dele, o texto de ficção de verdade é o texto da coluna Bastidores. Parece um jogo de espelhos de Borges", conta.
A ausência mais sentida no livro é de um texto de Moacyr Scliar publicado às vésperas de sua morte. "A família dele fez várias exigências para liberar o texto, entre elas que o livro só tivesse uma edição. Aí a gente deixou de fora, mas o texto é lindo." O último a dizer não à coluna foi Daniel Galera. O escritor, que acaba de lançar Barba Ensopada de Sangue, disse que já tinha falado muito sobre a obra. Ele, porém, está no livro com um texto sobre Cordilheira, seu romance que ganhou o Prêmio Machado de Assis.
Vencedor do Prêmio APCA - o último do ano a ser anunciado - de romance por O Céu dos Suicidas, Ricardo Lísias também contou sobre o que estava por trás de seu romance premiado. Abre seu texto dizendo que em 2008, quando terminava O Livro dos Mandarins, recebeu a notícia do suicídio de um amigo. "Nos primeiros meses depois do telefonema, racionalizei. Não pensei muito no assunto. (...) Quando voltei a escrever, depois do descanso que tiro entre cada livro, percebi que eu estava com um problema: eu só conseguia falar do meu amigo. (...) O assunto começou a me dominar. Lembro que não aceitava ninguém colocando qualquer problema em um suicida. Comecei a ficar muito nervoso e, como se não houvesse outra saída, planejei O Céu dos Suicidas", escreve Lísias.
Entre outros temas abordados, está a insegurança da mudança de estilo. A romancista Ana Maria Machado, autora também de uma vasta obra infantojuvenil, escreve sobre quando decidiu tirar seus poemas da pasta de cartolina e publicá-los em Sinais do Mar. Discutem também o tempo que dedicam à escrita, se sabem o final quando começam o livro, a busca da palavra exata.
Nos textos, estão as histórias que os autores resolveram confessar. Vale lembrar que são todos ficcionistas, contadores de histórias. Há muito mais atrás disso, em lugares que nem leitores e às vezes nem autores podem acessar.


O pequeno Bandeira - José Castello


O Globo - 26/01/2013

Vivemos no século da técnica. Embora
nos preste serviços inestimáveis,
ela também obscurece nossa
relação com o mundo. A técnica é
uma armadura, ela nos protege,
nos permite avançar, aumenta
nossa potência, mas também nos engole. Nosso
embate com a técnica se acirrou ao longo do século
XX e se espalha por todas as áreas do pensamento.
Na literatura, um dos registros mais
preciosos dessa luta é o “Itinerário de Pasárgada”,
autobiografia poética que o poeta Manuel
Bandeira (1886-1968) lançou no ano de 1954, e
que está sendo relançado pela Global Editora.

A autobiografia, nos avisa o próprio Bandeira,
percorre um período que começa em 1904, ano
em que o poeta adoeceu de tuberculose, e termina
em 1917, quando publica seu primeiro livro,
“A cinza das horas”. Trata, portanto, dos antecedentes
do nascimento de sua poesia, e ainda
de sua primeira fase, que abarca não só “A cinza
das horas”, mas “Carnaval” e “O ritmo dissoluto”,
seus dois livros seguintes, ambos publicados em
1924. Fase em que Bandeira viveu sob o fascínio
da técnica e que, segundo ele mesmo nos diz, só
se encerra em 1921, quando chega ao “verso livre
pleno”.

Sua guinada rumo à liberdade e a si mesmo só
se materializa em 1930, com a publicação de seu
quarto livro, “Libertinagem”. Se Vinicius de Moraes,
na juventude, atravessou sua “fase metafísica”,
também Bandeira quando jovem teve que
experimentar uma estranha e áspera “metafísica
da técnica”, e, do mesmo modo, superá-la para,
enfim, chegar a sua própria voz. Tal virada já se
evidencia a partir de 1925, quando começa a escrever
para o “Mês Modernista”.

Observando essa fase inicial, o próprio Bandeira
o define: “Os três livros ainda estão contaminados
pela lucidez”. É só quando afrouxa os
grilhões da razão com o vento da poesia livre
que ele, enfim, realiza o sonho antigo de se tornar
não um “grande poeta” — manto que pesa e
sufoca —, mas, sim e apenas, um “poeta menor”.
Um pequeno, mas fabuloso, Bandeira.

Para isso, é preciso que o poeta fixe seus próprios
limites e desista — como ensina o grande sonho
tecnológico — de tudo possuir. Ele mesmo assim
descreve essa descoberta: “Foi nesses 13 anos
que tomei consciência de minhas limitações, nesses
13 anos que formei a minha técnica”.

A ênfase, aqui, está no possessivo “minha”. Não
se trata de abdicar, ou desistir, da técnica que, afinal,
está no fundamento do humano.
Para sugar o seio da mãe,
já o bebê indefeso necessita de
alguma “técnica”, ainda que ela
venha temperada pelo instinto;
tornamo-nos humanos porque
a desenvolvemos. Trata-se de
outra coisa: chegar a uma técnica
pessoal (um “estilo”), o que
justamente nos protege de sermos
engolidos pela grande técnica
desumana.

É com grande esforço que Manuel
Bandeira escreve suas memórias poéticas.
Não são anos fáceis de relembrar. Severo consigo,
comenta: “O meu arrependimento vem do nenhum
prazer que encontro nessas evocações, da
mediocridade que elas respiram”. Começou a trabalhar
nessas memórias estimulados pelos amigos
Fernando Sabino e Paulo Mendes Campos. “O
compromisso que assinei com eles nada tinha de
irrevogável, porque um e outro são criaturas humanas,
compreensivas”. Fernando e Paulo tinham,
na época, um projeto de revista, que não
vingou. Foi então que Bandeira e seu projeto caíram
nas mãos crespas do amigo João Condé, que
editava o “Jornal de Letras”. Ele passou a cobrar a
encomenda com insistência. Bandeira não conseguiu
escapar e fez o que não queria fazer. Ainda
bem que aconteceu assim.

Quando fala do “grande poeta”
que desistiu de ser, Bandeira
se lembra do francês Paul Valéry,
para quem o grande poeta
era aquele “o mais consciente
possível”. Recorda Bandeira que
Valéry chegou a dizer, um dia,
que “preferia compor uma obra
medíocre em total lucidez do
que uma obra-prima no estado
de transe”. Desde então, sob o
peso das influências francesas,
o poeta passou a perseguir a mais absoluta disciplina.
Mas isso o desgostava. “Na minha experiência
pessoal fui verificando que o meu esforço
consciente só resultava em insatisfação, ao passo
que o que me saía do subconsciente, numa espécie
de transe ou alumbramento, tinha ao menos a
virtude de me deixar aliviado de minhas angústias”.
Em outras palavras: era mais verdadeiro.

Não foi outro o motivo que levou Bandeira,
seis anos depois de publicar suas memórias poéticas,
a entregar a seus leitores um livro de poemas
chamado justamente “Alumbramento”. Poderia,
também, se chamar “Transe”. O título, seja
como for, registrava esse laço difícil, mas essencial
da poesia com o arcaico e o inconsciente.

Não é, no entanto, um acesso fácil, e por isso
alguma técnica é sempre necessária. Ao mesmo
tempo em que celebra sua reconciliação com o
“subconsciente”, Bandeira admite que, antes
ainda de conhecer a obra de Stephane Mallarmé
— o grande mestre dos poetas cerebrais — já
começava, sem saber, a se aproximar de suas
ideias. “Compreendi, antes de conhecer a lição
de Mallarmé, que a literatura está nas palavras,
se faz com palavras (técnica, eu acrescento), e
não com ideias e sentimentos”. Contudo, imediatamente
depois, o poeta faz uma importante
ressalva: “Muito embora, bem entendido, seja
pela força do sentimento ou pela tensão do espírito
que acodem ao poeta as combinações de
palavras onde há carga de poesia”.

Entende Bandeira que, sem a técnica (a linguagem
elaborada) não se faz poesia, mas “só
pelo calor do sentimento das emoções morais se
transformam em emoções estéticas”. Resume,
assim, sua descoberta: “o metal precioso eu teria
que sacá-lo a duas penas, ou melhor, a duas
esperas, do pobre minério das minhas pequenas
dores e ainda menores alegrias”.

A sombra desses segredos mais profundos se
esconde, talvez, no Sanatório de Cladavel, na
Suíça, para onde Bandeira partiu no ano de
1913, para tratar uma grave tuberculose. Nos
nove anos seguintes, o poeta perderia, seguidamente,
a mãe (em 1916), a irmã que lhe servia
de enfermeira (1918), o pai (1920) e o irmão
(1922). Graves lacunas dificultavam seu caminho.
O pressentimento dessa dor profunda ficou
perdido em “Poemetos melancólicos”, na
verdade seu primeiro livro de poemas, escrito
durante a temporada em Cladavel e esquecido
(de propósito?) no sanatório no dia de sua volta
para o Brasil.

A nova batalha de Stonewall

O GLOBO - 26/01/2013

DIREITOS GAYS EM DEBATE

Reino Unido põe em votação casamento de homossexuais; Rússia e Polônia cerceiam comunidade


Quase quatro décadas e meia após gays indignados resistirem a mais uma batida da polícia de Nova York no bar Stonewall Inn, a semana que passou revelou-se um termômetro do atual estágio da luta pelos direitos dos homossexuais, iniciada naquela tumultuada madrugada de 28 de junho de 1969. Os altos e baixos registrados indicam como o tema mobiliza a sociedade em vários países.

Ontem, o governo do Reino Unido — onde até 1967 eram consideradas crime as relações sexuais entre homens — enviou ao Parlamento um projeto de lei que permite o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Embora a aprovação não seja garantida, dada a polêmica em torno do projeto e sua rejeição dentro do partido do premier David Cameron, a simples apresentação da legislação por um líder conservador já indica um avanço de mentalidades.

O mesmo ocorreu na terça-feira, quando Barack Obama fez História ao tornar-se o primeiro presidente dos Estados Unidos a mencionar os gays e apoiar seus direitos num discurso de posse. Defensor do casamento gay, ao qual já dera suporte antes, Obama pôs de forma incontestável o peso de seu cargo na promoção dos direitos homossexuais. Nesse mesmo time joga o presidente François Hollande, que enfrenta pesada oposição a seu projeto de mudar a lei francesa ainda este ano para dar a gays o direito de se casar e adotar filhos. Dias atrás, centenas de milhares de pessoas tomaram as ruas de Paris para manifestar sua desaprovação à mudança.



Mais ao leste do continente europeu, porém, a luta dos gays por direitos iguais é ainda mais difícil. Ontem, os deputados russos aprovaram por arrasadora maioria legislação que impede a propaganda, na mídia, de eventos relacionados à comunidade. Com mais duas votações, a proibição torna-se lei. E na vizinha Polônia, o Parlamento também desfechou outro golpe na luta dos gays por uma cidadania plena, rejeitando um projeto que daria direitos legais, embora limitados, a casais homossexuais.


Governo de Putin inicia cruzada contra propaganda gay


Polícia reprime com violência 

beijo coletivo de ativistas antes 
de a Duma votar pelo fim da 
divulgação de eventos



-MOSCOU- A Rússia deu o primeiro passo ontem 
para transformar em lei um projeto que prevê a 
proibição de propaganda homossexual na mídia. A iniciativa foi aprovada na primeira de três leituras previstas na Câmara Baixa, a Duma, por 388deputados  - apenas um votou contra, e outro se absteve.
A discussão despertou protestos 
de grupos a favor dos direitos homossexuais, 
que ensaiaram um beijo coletivo em frente ao 
Parlamento antes da votação. Houve confrontos 
entre ativistas gays e partidários da lei — a maioria 
formada por cristãos ortodoxos —, e a polícia 
russa prendeu 20 pessoas.

— Moramos na Rússia, não em Sodoma e Gomorra. 
Esse é um país milenar fundado em seus 
próprios valores tradicionais, e protegê-los é até 
mais importante para mim do que o gás ou o petróleo 
— afirmou momentos antes da votação o 
deputado Dmitry Sablin, do partido Rússia Unida, 
o mesmo do presidente Vladimir Putin.


Caso acabe aprovada na Câmara, no Senado, 
e sancionada por Putin, como tudo indica, a iniciativa 
proibirá a divulgação de eventos gays na 
Rússia, sob pena de multas que podem chegar a 
US$ 17 mil para os organizadores. Simpatizantes 
da medida defendem o fim de paradas gays e 
a aparição de casais homossexuais na mídia 
porque esse tipo de propaganda “afetaria a formação 
dos valores das crianças na Rússia”.


Já os ativistas afirmam que o principal objetivo 
do projeto é frear os direitos dos homossexuais, 
em contraste com o avanço da legislação sobre 
o tema em outros países. A homossexualidade, 
punida com prisão na antiga União Soviética, 
foi descriminalizada na Rússia em 1993, 
mas gays ainda são alvo de preconceitos.

— A animosidade contra gays e lésbicas é generalizada 
na sociedade. A Duma, que já aprovou 
uma série de medidas antipopulares, espera 
resgatar algo de popularidade com essa 
lei — afirmou a ativista de direitos humanos 
Ludmila Alexeyeva.


Opositores de Putin afirmam que a proposta 
é parte de uma estratégia do governo para 
atrair eleitores conservadores, principalmente 
religiosos da Igreja Ortodoxa Russa, e

recuperar a popularidade do presidente,
desgastada desde que ele voltou
ao poder, em maio do ano passado,
sob uma onda de protestos em
Moscou e em São Petersburgo. Leis
similares já estão em vigor em Arkhangelsk,
Novosibirsk e São Petersburgo,
cidade natal do presidente.

POLÔNIA REJEITA MUDANÇAS

Ontem, o Departamento de Estado dos 
EUA criticou a votação da lei antigays 
na Rússia.

— Ninguém deveria ser discriminado 
por causa de quem ama — afirmou 
a porta-voz da pasta, Victoria Nuland, 
segundo a agência AP.


O governo americano anunciou que 
desistiu de estabelecer um diálogo sobre 
direitos civis com a Rússia em protesto 
pela repressão do Kremlin a dissidentes 
e a aprovação de novas leis contra 
organizações não governamentais.


As conversas faziam parte da redefinição 
das tensas relações entre os 
dois países, mas o Departamento de Estado 
americano considera que agora elas “não são 
apropriadas”.

Já na Polônia, os legisladores adotaram posição 
semelhante à dos russos. Acabam de ser rejeitados 
em primeira leitura três projetos de lei 
que concederiam direitos legais a casais que 
não estão casados formalmente — inclusive os 
homossexuais —, em um revés para os liberais 
que tentam desafiar o conservadorismo dominante 
no país de maioria católica.

Antes da votação, ontem, o primeiro-ministro 
Donald Tusk pediu aos legisladores que transformassem 
as iniciativas em lei, “para tornar a 
vida de muitos poloneses, também os homossexuais, 
mais digna”. As medidas buscavam garantir 
os direitos à herança, inclusão no sistema de 
saúde do cônjuge e pensão alimentícia, 
mas foram rejeitadas.

— Não se pode questionar a existência 
dessas pessoas (que vivem em uniões 
homossexuais) e não se pode argumentar 
contra as que decidem viver de 
tal maneira — disse Tusk ao Parlamento 
antes da votação.

O apelo não surtiu efeito. A Câmara 

Baixa votou contra os três projetos, um 
deles do partido do primeiro-ministro, 
a Plataforma Cívica, que foi recusado 
por 228 deputados, contra 211 a favor. O 
fracasso dessa medida em especial foi 
encarada com surpresa, pois ela era tida 
como aceitável para a maioria dos poloneses 
católicos.

Mas a votação demonstrou o contrário: 
46 integrantes do próprio partido 
de Tusk, incluindo o ministro da Justiça 
Jaroslaw Gowin, coincidiram com a 
oposição conservadora. Apesar da 
derrota, o deputado Robert Biedron, 
homossexual assumido e defensor dos 
direitos LGBT, prometeu que continuará 
lutando para ampliar os direitos legais 
de parceiros não casados, sejam homossexuais 
ou héteros.

Esse é um dos temas polêmicos discutidos hoje  
na Polônia. A legalização do aborto e de drogas  
leves, além do papel da Igreja na vida pública,  
também geram debate, mas encontram entraves 
na divisão entre conservadores e partidários 
de uma sociedade secular. 

ADESÃO À CAUSA

OBAMA
Fez discurso
histórico pelo
tratamento
igualitário
CAMERON
A favor do
casamento
gay, mas
adesão é
recente
HOLLANDE
Defendeu o
casamento gay
já na campanha
à Presidência
da
França


Cameron: governo  
conservador apoia  
medida progressista

Proposta do matrimônio gay garante autonomia às Igrejas que se oponham

-LONDRES-
Enquanto Rússia e Polônia demonstram estar longe da ampliação dos direitos gays, o Reino Unido se
aproxima da causa. O governo britânico apresentou ontem ao Parlamento um projeto de lei que pode tornar legal o casamento entre pessoas do mesmo sexo. A primeira votação da proposta está prevista para o dia 5 de fevereiro.


Em entrevista à BBC Radio 4, a ministra da Cultura, Maria Miller, afirmou que a norma visa a garantir tratamento “igual e justo” aos casais homossexuais, ao mesmo tempo em que garante autonomia às instituições religiosas que não queiram realizar as cerimônias em suas instalações.

— Casamento é uma coisa boa, e devemos incentivar mais pessoas a se casar. É exatamente o que as propostas apresentadas irão fazer — disse. — Mas queremos assegurar que iremos não só reconhecer os direitos de casais do mesmo sexo na vida civil, como garantir que Igrejas não sejam obrigadas a realizar as cerimônias.

O projeto de lei exclui os clérigos da Igreja Anglicana — da qual a rainha Elizabeth II é a chefe oficial — e outras Igrejas da obrigatoriedade de realizar esse tipo de cerimônia, numa brecha que busca apaziguar os ânimos de religiosos que se opõem à ideia.

O bispo de Leicester, reverendo Tim Stevens, disse estar grato pela “forma construtiva” como a Igreja havia sido consultada sobre a nova proposta.

— Reconheço o progresso feito nessa frente, e o compromisso do governo de assegurar que as preocupações da Igreja estejam devidamente consideradas no projeto de lei — afirmou, segundo o “Guardian”.

A iniciativa não se livrou, porém, das críticas de legisladores conservadores, que já avisaram que irão votar contra a medida — e que em ocasiões anteriores justificaram sua rejeição à Lei do Casamento argumentando que ela seria uma “distração” para o objetivo maior de reaquecer a economia.

DA UNIÃO AO CASAMENTO

Desde 2005 o país realiza uniões gays, já tendo sido registradas mais de 106 mil em todo o Reino Unido, número dez vezes maior do que o esperado pelas autoridades quando a lei foi aprovada.

Apenas em 2011, 6.795 casais formalizaram suas relações em cerimônias civis, um aumento de 6,4% em relação a 2010. Mas as uniões realizadas até agora contam apenas com o status de união civil, não de casamento. Há entre eles uma diferença considerada fundamental pelo movimento gay: enquanto a união civil se limita basicamente ao plano patrimonial — como o estabelecimento de uma sociedade de bens e direitos de sucessão — o casamento civil inclui o conceito de família de fato, reconhecendo, além dos direitos, a capacidade de filiação em conjunto e a necessidade de cultivar valores inerentes  
à formação de um lar.

Caso o projeto de lei seja aprovado, os  
casais que contam com o status de união  
civil poderão convertê-la em casamento.

Apesar da oposição dos conservadores,  
as chances de aprovação são  
grandes, já que a proposta conta com o  
apoio do premier David Cameron, de 
grande parte do Gabinete e da maioria  
dos legisladores dos partidos Trabalhista  
e Liberal-Democrata.

















Músicos rebatem crítica de americano ao 'inglês brasileiro'

folha de são paulo

Na internet, Jack Endino, que trabalhou com Nirvana, pediu a bandas do país que cantassem só em português
Depois de polêmica, produtor de Seattle disse ter "mexido em um vespeiro" e colocou desculpas no Facebook
LUCAS NOBILEDE SÃO PAULOTRAJANO PONTESCOLABORAÇÃO PARA A FOLHAFãs brasileiros e bandas do país vestiram o "verde e amarelo" e rebateram as declarações feitas pelo produtor americano Jack Endino em sua página no Facebook.
Na quarta, o produtor, que recebera uma gravação da banda paraibana The Noyzy, escreveu: "Bandas brasileiras, por que vocês cantam em inglês? Nunca consigo entender uma palavra".
No mesmo post, que recebeu cerca de 2.500 comentários, Endino poupou apenas o Sepultura, que, segundo ele, obteve sucesso por ter "inglês excelente, boas letras e serem representados por um selo internacional de metal".
"Scorpions é uma banda alemã que fez muito sucesso cantando em inglês, assim como o Loudness, que é do Japão. É tradição: o inglês é a língua do rock", diz Andreas Kisser, do Sepultura.
Quem também comentou as declarações do produtor foi Paulo Xisto, baixista do Sepultura. "Se essa é a opinião dele, paciência. Terão outros que gostam, gostaram ou gostarão de ver bandas brasileiras em inglês."
Após a polêmica, Endino, que trabalhou com o Nirvana e com bandas brasileiras, como os Titãs, desculpou-se, dizendo que havia "mexido em um vespeiro" e que respeitava a música brasileira.
O BRASIL EM INGLÊS
Desde a década de 1930, o Brasil conquista espaço no exterior com artistas cantando em inglês. Carmen Miranda, mesmo tendo origem portuguesa, obteve sucesso cantando não apenas em seu idioma nativo.
Nos anos 1960, standards da bossa nova ganharam projeção nos Estados Unidos com diversas versões. A mais conhecida de todas foi feita por Tom Jobim, com antológica gravação de "The Girl from Ipanema" ("Garota de Ipanema") ao lado de Frank Sinatra, que tinha versos em inglês e em português.
"Tom Jobim verteu todo o seu repertório visando ao mercado internacional. Todos têm o direito de tentar se expressar em inglês -o esperanto dos tempos modernos- ao visar a uma carreira internacional", diz Andre Matos, ex-vocalista do Angra e do Shaman.
Na década de 1970, Caetano Veloso conseguiu repercussão positiva com "Transa", em que boa parte das letras são cantadas em inglês. Nos anos 2000, "A Foreign Sound", em que ele interpretou sucessos estrangeiros, dividiu opiniões nos EUA.
Além dos metaleiros, principais representantes do sucesso brasileiro em inglês no exterior atualmente, bandas de indie daqui também se destacaram lá fora, como CSS (Cansei de Ser Sexy), Holger e Black Drawing Chalks.
"O que importa é a qualidade do que está sendo feito; se for ruim, será ruim em qualquer idioma; se for bom, ultrapassa qualquer barreira de língua", diz Rodrigo Gorky, do Bonde do Rolê.
"Ele deve estar um pouco por fora do que se produz por aqui. Deve ter parado no Nando Reis [artista produzido por Endino]. Nós tocamos em festivais fora. Isso não aconteceria se não cantássemos em inglês", defende Edimar Filho, do Black Drawing Chalks.
Procurado pela reportagem da Folha, Endino não retornou os contatos.

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    CHICLETE COM BANANA      ANGELI

    ANGELI
    PIRATAS DO TIETÊ      LAERTE

    LAERTE
    DAIQUIRI      CACO GALHARDO

    CACO GALHARDO
    NÍQUEL NÁUSEA      FERNANDO GONSALES

    FERNANDO GONSALES
    PRETO NO BRANCO      ALLAN SIEBER

    ALLAN SIEBER
    QUASE NADA      FÁBIO MOON E GABRIEL BÁ

    FÁBIO MOON E GABRIEL BÁ
    HAGAR      DIK BROWNE

    DIK BROWNE

    Laertevisão


    FOLHA DE SÃO

    CHARGE
    LAERTEVISÃO      LAERTE

    LAERTE

    Charge - João Montanaro

    FOLHA DE SÃO PAULO

    CHARGE

    Museus secretos Histórias e objetos curiosos estão guardados em locais escondidos de São Paulo

    FOLHA DE SÃO PAULO
    Capa
    Trecos de São Paulo
    Conheça museus desconhecidos da cidade

    DE SÃO PAULO
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
    Para chegar ao Museu da Mágica, é preciso subir quatro andares de escada. O Museu dos Óculos fica em um castelinho escondido do Bixiga. O da TV, dentro da casa de uma atriz.
    Para comemorar o aniversário de São Paulo, que aconteceu ontem (25), a "Folhinha" indica alguns "museus secretos" espalhados pela cidade. Fora do circuito turístico, estão longe de oferecer a estrutura de um Masp ou de uma Pinacoteca. Neles, o improviso costuma imperar e, muitas vezes, é preciso agendar a visita antes. Mesmo assim, guardam acervos curiosos.
    Por exemplo, óculos dos ex-presidentes Fernando Henrique e Lula, roupas de palhaços famosos, televisores antigos, truques de mágica e até um jogo de basquete de botão.
    (BRUNO MOLINERO, ALICE AGNELLI E BEATRIZ IZUMINO)
    CLIQUE AQUI!Leia mais sobre os museus em folha.com/folhinha

    Museu da lâmpada
    Do fogo à luz de LED 

    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
    O Museu da Lâmpada aborda desde a descoberta do fogo, pelo homem das cavernas, até as modernas luzes de LED. Tem lâmpadas halógenas, incandescentes, fluorescentes e até a da história do gênio, que usa querosene para fazer luz. Uma delas fazia parte de um poste que iluminava São Paulo nos anos 1940.
    No Painel das Lâmpadas, o que não faltam são botões para acender e iluminar o ambiente.
    Há um corredor iluminado por um céu estrelado, com lâmpadas até no chão, que leva ao laboratório de Thomas Edison, o inventor da lâmpada. Outros aparelhos do cientista podem ser encontrados, como o cinetoscópio (espécie de projetor de cinema), que mostra a cena de um dos primeiros filmes já feitos.
    (AA)
    QUANDO seg. a sex., das 9h às 18h (agendar antes)
    ONDE av. João Pedro Cardoso, 574; tel. 0/xx/11/2898-9360
    QUANTO 1 kg de alimento não perecível

    Museu dos Óculos 
    Armações dos presidentes

    DE SÃO PAULO
    Vizinho das macarronadas mais famosas da cidade, um castelinho azul e branco se esconde no bairro do Bixiga. É ali que, desde 1996, o Museu dos Óculos Gioconda Giannini guarda mais de 250 peças.
    A coleção tem óculos de 400 a.C. e versões mais atuais. Todos adquiridos por Miguel Giannini, filho da Gioconda que dá nome ao local. Ele é o criador de armações que já enfeitaram rostos de famosos, como Lula, Fernando Henrique e Faustão. Algumas delas estão expostas.
    (BM)
    QUANDO seg. a sáb., das 9h às 13h (sem monitor); seg. a sex., das 13h às 17h30 (com monitor; agendar antes para mais de seis pessoas)
    ONDE r. dos Ingleses, 108; tel. 0/xx/11/3149-4000
    QUANTO grátis

    Museu das invenções 
    Cada ideia maluca

    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
    Objetos malucos, úteis e inúteis, estão reunidos na Inventolândia, o Museu das Invenções. O espaço tem cerca de 200 peças expostas em dois andares.
    Entre as criações estão os óculos para pingar colírio (com um funil em cada lente), o telefone para dois falarem ao mesmo tempo, a luva com um utensílio em cada dedo (abridor de garrafas no dedão, colher no indicador, chave de fenda no mindinho etc.) e um jogo de basquete de mesa (os botões são capazes de jogar a bola para cima).
    (BI)
    QUANDO seg. a sex., das 10h às 17h (agendar antes para grupos com mais de dez pessoas)
    ONDE r. Homem de Mello, 1.109; tel. 0/xx/11/3670-3411
    QUANTO de R$ 5 a R$ 10

    Museu da mágica
    4 andares de escada

    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
    A porta branca de um prédio no Ipiranga dá acesso ao escondido Museu da Mágica. Para entrar, é preciso marcar horário, enfrentar quatro andares de escada (o elevador está quebrado) e pagar R$ 48 pela entrada (inteira, aos finais de semana).
    Depois, o visitante será recebido por Mister Basart, responsável pelo local, que faz um show de mágica.
    O museu, criado em 1982, tem até uma carta que Basart recebeu do famoso mágico David Copperfield, além de outros cacarecos, como coelho de espuma, ampulheta de geleca e boneca que é cortada ao meio.
    (AA)
    QUANDO diariamente, das 9h às 19h (agendar antes)
    ONDE r. Silva Bueno, 519, cj. 42; tel 0/xx/11/2068-7000
    QUANTO R$ 24; fim de semana e feriados, R$ 48 (crianças pagam meia-entrada)

    Museu do circo
    Roupa e música de palhaço

    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
    Hoje tem marmelada? Tem sim, senhor! Assim começavam os espetáculos de circo para um público pra lá de respeitável. A entrada do Museu do Circo, no piso térreo da Galeria Olido, surpreende, de tão colorida. No centro da sala, há uma maquete que reproduz um circo tradicional, daqueles de lona e picadeiro.
    É preciso sair desta sala e ir para a sobreloja da Olido para entrar na outra ala da exposição. Nesta parte, há uma linha do tempo com fatos históricos de 1830 até os anos 2000. No final, um vídeo mostra cenas de espetáculos atuais.
    Palhaços que se destacaram no Brasil (como Arrelia, Piolin, Oscarito, Torresmo e Picolino) são homenageados. Além de figurinos e objetos expostos, alto-falantes trazem gravações originais com os palhaços cantando.
    (AA)
    QUANDO seg. a sex., das 10h às 20h (fechado às terças); sab., dom. e feriados, das 13h às 20h
    ONDE Galeria Olido (av. São João, 473; tel 0/xx/11/3397-0177)
    QUANTO grátis

    Museu da TV
    Atriz guarda história da televisão em casa

    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
    Em uma casa no bairro do Sumaré fica guardada parte da memória da televisão brasileira.
    Vida Alves, dona do sobrado, é conhecida por ter encenado o primeiro beijo na boca exibido pela TV brasileira, em 1951.
    Desde 2003, sua casa abriga um museu onde estão conservadas câmeras de televisão antigas, televisores de diversos modelos, roupas usadas em seriados dos anos 1950 e fotos de novelas e de outros programas que foram ao ar nos últimos 62 anos (a TV foi inaugurada no Brasil em 1950).No fim da visita, Vida aparece para uma conversa.
    Outra parte do acervo está na Cidade da TV, que fica na Cidade da Criança, em São Bernardo do Campo. Lá está, por exemplo, a fantasia do Capitão 7, super-herói de uma série brasileira que estreou nos anos 1950.
    (BI)
    QUANDO visitas após 18/2; seg. a sex., das 10h às 18h (agendar antes)
    ONDE r. Vargem do Cedro, 140; tel. 0/xx/11/3872-7743
    QUANTO R$ 5

    Clóvis Rossi

    FOLHA DE SÃO PAULO

    ANÁLISE FÓRUM ECONÔMICO MUNDIAL
    Para Davos, Brasil perde o brilho e Brics se reduzem ao 'C', de China
    Já estão na fila os países emergentes candidatos a tomar o lugar da 'Velha Guarda'; entre eles, México, Nigéria, Paquistão, Filipinas e Turquia
    CLÓVIS ROSSIENVIADO ESPECIAL A DAVOSO encontro anual 2013 do Fórum Econômico Mundial termina hoje, com a constatação, no que se refere aos mercados emergentes, de que a sigla Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) perdeu brilho e, a rigor, acaba reduzida ao C, de China.
    "A China joga em um campeonato próprio", comentou, por exemplo, John Defterios, editor de Mercados Emergentes da CNN, em debate ontem sobre tais mercados.
    O programa irá ao ar amanhã e dirá que "a narrativa sobre a ascensão inevitável e impressionante dos Brics" que marcou Davos nos últimos anos agora está sendo substituída por uma avaliação "mais nuançada".
    O que é explicável: o crescimento desses países deixou de ser luminoso. Mesmo o da China, na imponente altura dos 7,8%, é o menor desde 1999, ou seja, desde antes de o Goldman Sachs inventar a sigla, em 2001.
    O Brasil é um caso particular de desapontamento: pelas contas do FMI (Fundo Monetário Internacional), cresceu no ano passado apenas 1%, menos da metade do desempenho da África do Sul (2,3%), o segundo pior resultado do grupo.
    Como se fosse pouco, a fila anda: já estão na pista os chamados "Próximos 11", países emergentes candidatos a tomar o lugar do que Defterios chamou de "velha guarda". Entre eles, México, Nigéria, Paquistão, Filipinas e Turquia.
    De certa forma, o México já atropelou o Brasil como o novo queridinho dos mercados, pelo menos no âmbito latino-americano, até porque cresceu quase quatro vezes mais que o Brasil.
    A Nigéria, segundo o presidente de seu banco central, Sanusi Lamido Sanusi, prepara-se para dar um salto para um crescimento de dois dígitos. Para isso, precisa "reexaminar sua relação com a China", de forma a produzir valor agregado na própria África para vender para o país asiático, em vez de simplesmente exportar commodities.
    DESAFIO À LÓGICA
    É significativo que Carlos Ghosn, o marroquino-brasileiro que preside a Renault-Nissan, tenha cobrado "o desafio à lógica" que representa o fato de o Brasil exportar minério de ferro para a Coreia do Sul, por exemplo, e importar produtos acabados. Ou seja, não produz o valor agregado que a "nova guarda" coloca na agenda.
    Já o Brasil não tem ambições tão grandes, ao menos a julgar pelo que disse o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, no debate de ontem. Limitou-se a relatar as medidas já anunciadas pelo governo para aumentar a produtividade, via redução do custo da energia e dos impostos sobre a folha de pagamento.
    De todo modo, Tombini reafirmou para a plateia global da CNN, de que Davos é um ótimo condensado, que o Brasil retomará um nível mais robusto de crescimento (3% neste ano).
    É justo dizer, de todo modo, que Tombini tem um ponto: o magro crescimento de 2012 não impediu o país de criar 1 milhão de empregos e de viver uma situação de virtual pleno emprego.
    São esses diferentes números (baixo crescimento/alto emprego) que criam um cenário em que a popularidade da presidente é elevadíssima internamente, mas a imagem do país, externamente, já não tem o brilho de dois anos atrás.

      Para presidente da Renault, país tem taxas demais
      MARIA CRISTINA FRIASENVIADA ESPECIAL A DAVOSCarlos Ghosn, presidente da Renault-Nissan, criticou a excessiva tributação no Brasil, em debate no Fórum Econômico Mundial, em Davos (Suíça), que teve a participação de Alexandre Tombini, presidente do BC.
      "Vemos taxas demais em alguns produtos no Brasil. O risco do Brasil é não conseguir reduzir taxas enquanto o país se desenvolve, não encorajar a competitividade nem remover obstáculos para reforçá-la", disse.
      Ghosn lembrou, na frente do presidente do BC, que, quando há redução do IPI sobre os carros, a venda de veículos cresce.
      "O consumidor está pedindo isso. Está dizendo: 'Se a taxa tributária cai, [eu compro]'", dizia o presidente da montadora quando foi interrompido por Tombini. "Temos que fazer isso de forma sustentável ao longo do tempo."
      O presidente do BC ouviu do moderador do debate questões sobre a expansão fraca do país e o intervencionismo da presidente Dilma, "que prejudicaria o crescimento do setor privado, que clama por melhor infraestrutura".
      "O crescimento virá neste ano, já está vindo", disse Tombini. "Tive reuniões com investidores em várias áreas, financeiras, de seguros, do setor produtivo, e o que se vê é muito interesse em investir no país."
      Ghosn também espera crescimento "muito melhor" no país neste ano. Questionado sobre as ferramentas para combater a desaceleração, o presidente do BC afirmou que o desaquecimento da economia era necessário.
      "Estávamos indo muito rápido em 2010, acima do nosso potencial. Neste ano, o mercado espera crescimento do PIB de 3%, que é factível."

        Walter Ceneviva

        FOLHA DE SÃO PAULO

        Liberdade, igualdade...
        A sabedoria popular é pitoresca. Diz o povo que homem rico e mulher bonita nunca são julgados como os demais
        As divisas da revolução francesa ("liberté, égalité, fraternité!"), nascidas nos fins do século 18, estiveram presentes, ao menos em parte, no discurso do presidente Barak Obama, na abertura de seu segundo mandato.
        Insistiu em considerações sobre a liberdade e a igualdade, certamente inspirado em Thomas Jefferson, principal redator da constituição norte-americana, cujo conhecimento da vida e da história francesa mostra os efeitos de cinco anos passados em missões na Europa.
        É fácil repetir a máxima revolucionária, mais de dois séculos depois de seu enunciado. Coisa diversa é aplicá-la hoje, tanto nas relações internas e externas de países existentes no século 19 (em várias latitudes das Américas, do norte ao sul), quanto os independentes na segunda metade do século 20 (asiáticos e africanos, em maioria).
        Embora Obama estivesse voltado para o povo estadunidense, conforme se vê nos textos destacados, que a Folha divulgou, é possível tirar ilações para o futuro, úteis independente de seu brilho oratório.
        Tomemos a bandeira da liberdade com a amplitude abarcada pelo termo. Cada indivíduo deve ter noção do que é liberdade e do que é ser livre. Liberdade absoluta, que assegure, a cada um o fazer o que melhor lhe pareça, desconsiderados os demais, é inaceitável.
        A liberdade de um termina no começo da liberdade do próximo. É exercível nos termos da lei. Ou seja: no limite da norma votada democraticamente. Aplicável a todos. Reparadas ofensas ao direito individual, através do Poder Judiciário.
        A compensação das desigualdades é garantida pela Carta Magna: todos são iguais perante a lei, sem distinção. O raciocínio é simples: a igualdade tem aplicação reforçada pelo enunciado no art. 5º, a garantir o tratamento nele definido, que a própria Carta define.
        Sabe-se que a interpretação da norma constitucional vai além da simples literalidade das palavras, o que, com frequência, perturba sua compreensão. Ideal seria que todos alcançassem a plenitude da igualdade jurídica. Mas a igualdade integral, plena, nem sempre é viável.
        Talvez por isso, a sabedoria popular é pitoresca. Não prejudica a avaliação e nem tira sua seriedade.
        Diz o povo que homem rico e mulher bonita nunca são julgados como os demais. No referente às mulheres, é imperdível o poema de Olavo Bilac, dedicado ao julgamento de Frinéia.
        O terceiro conceito, da fraternidade, nem é estritamente jurídico, nem foi evocado por Obama, sempre que ressalvou os interesses diretos de seu país. A fraternidade conceitual aceita aproximações daqueles que têm os mesmos gostos, iguais convicções e ideias próximas. Associam-se formal ou informalmente, por interesses ou benefícios, comuns ou assemelhadas, individuais ou coletivos.
        A fraternidade, no sentido original, corresponde à união formal ou informal de pessoas, com a finalidade de dar harmonia aos seus objetivos, para o bem dos assemelhados. É espécie de irmanação voluntária, visando um fim bom.
        No mundo em que vivemos, marcado pela transformação das relações interpessoais, a fraternidade pode ser o mecanismo mais útil para construir o futuro. Isso porque fraternidade é mais do que o exercício do direito. É antecipação da oferta de quem a pode e queira fazer.

          LIVROS JURÍDICOS
          DA ALMA DO DIREITO OU A PSICOLOGIA DO DIREITO
          AUTOR Gilberto de Castro Rodrigues
          EDITORA Letras Jurídicas (0/xx/11/3107-6501)
          QUANTO R$ 45 (198 págs.)
          Direito como ensinado e como vivido compõem a "interpolitransdisciplinaridade". A formação jurídica passa pela alma do direito. A especialidade abre ensejo a sua releitura. É o que o autor denomina "prática do direito com alma", na avaliação de uma psicologia do direito.
          FUSÕES & AQUISIÇÕES
          AUTOR Sérgio Botrel
          EDITORA Saraiva (0/xx/11/3613-3000)
          QUANTO R$ 68 (336 págs.)
          Modesto Carvalhosa, tratadista consagrado do direito societário, acentua, no prefácio, o "amplo espectro teórico e prático" da obra. Em quatro capítulos o autor percorre aspectos estratégicos, funcionais, societários e negociais. Avalia o lado fiscal, em seus pontos relevantes de teoria e prática, com operações predominantes.
          REPRESENTATIVIDADE SINDICAL NO MODELO BRASILEIRO
          AUTORA Rachel Verlengia
          EDITORA LTr (0/xx/11/2167-1100)
          QUANTO R$ 25 (103 págs.)
          O subtítulo "crise e efetividade" compõe espaços do tema, na realidade do sindicato. A autora reconhece que os sindicatos hão de cumprir sua função representativa e com autonomia, onde tiverem que de atuar. Critica o sindicalismo brasileiro por seu enfraquecimento.
          CURSO DE DIREITO MUNICIPAL
          AUTOR Giovani da Silva Corralo
          EDITORA Atlas (0/xx/11/3357-9144)
          QUANTO R$ 53 (280 págs.)
          Corralo afirma a importância da municipalidade, dado central da federação brasileira. Aprecia a ação local e suas competências. Verifica poderes exercíveis, as finanças, ações e responsabilidades resultantes. Avalia serviços essenciais e a participação do município, do controle interno ao externo.
          CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL
          AUTORES Kiyoshi Harada e Marcelo Kiyoshi Harada
          EDITORA Rideel (0/xx/11/2238-5100)
          QUANTO R$ 149 (536 págs.)
          A obra dos Harada é completa. Tem utilidade ampla, desde os experientes profissionais, até os acadêmicos de direito.
          BIOÉTICA E DIREITOS FUNDAMENTAIS
          AUTORIA Obra coletiva
          EDITORA Saraiva (0/xx/11/3613-3344)
          QUANTO R$ 75 (352 págs.)
          Débora Gozzo e Wilson R. Ligiera reuniram bons autores. Definiram perfis do título no direito da personalidade e criaram ensaio conjunto.