domingo, 1 de junho de 2014

MARTHA MEDEIROS - Mulher escrevendo enquanto toma chá

Zero Hora 01/06/2014

Sempre fico insegura na hora de intitular o que escrevo. Meus poemas nunca tiveram título. Nos livros, é a última coisa que escolho (em meio a dúvidas infinitas). E os das colunas refletem a minha preguiça: deveria me esforçar mais para atrair a atenção do leitor, mas depois de já ter me dedicado o suficiente na elaboração do texto, o título é praticamente um resumo do assunto tratado, sem nenhuma acrobacia literária ou jornalística.

Isso explica o fato de eu admirar a simplicidade do título de inúmeras telas expostas nos museus do mundo. São praticamente legendas: Vista de Paris do Apartamento de Theo é o nome do quadro em que Van Gogh mostra os telhados que seu irmão, Theo, vislumbrava todos os dias, ou Campo de Trigo com Cotovia, onde o mesmo Van Gogh, com suas pinceladas geniais, mostra o quê? Um campo de trigo sendo sobrevoado por uma cotovia. Nenhuma charada, nenhuma metáfora, nenhuma gracinha. Van Gogh pintou a si mesmo usando um chapéu de feltro: qual o nome da tela? Autorretrato com chapéu de Feltro. Para que inventar?

É como se a obra dissesse: acredite no que você está vendo. Jovem Camponesa com uma Enxada (Jules Breton), Casa ao Lado da Ferrovia (Edward Hopper), Criança Brincando com um Caminhão (Picasso). Não há dúvida, você está vendo uma camponesa, uma casa, uma criança. E a partir daí, está liberado para descobrir que aquela camponesa é especial, com seu dedo apoiado na face, pensativa em meio ao descanso da lida. E que aquela casa não é uma casa qualquer, mas um ícone da solidão rural diante do crescente progresso. E que aquela criança brincando com um caminhão não é um menino, e sim uma menina, e que os traços decorativos atrás dela não fazem parte de um papel de parede: representam um jardim.

“O título está ali apenas para nos pegar
pela mão e nos levar para dentro — de um
quadro, de um texto ou até da vida de alguém”

O nome que damos às coisas é apenas um identificador sem maior importância. O que importa é nosso olhar e nosso foco: tudo é único. Cada coisa, cada pessoa, cada gesto, cada segundo é rico de significados e irreproduzível.

Mulher Deitada Lendo. Pelo menos uns 279 artistas poderão pintar um quadro com esse título e veremos 279 representações individuais sobre o mesmo tema. Até mesmo um traço horizontal com um asterisco na ponta pode significar uma mulher deitada lendo.

O título está ali apenas para nos pegar pela mão e nos levar para dentro – de um quadro, de um texto ou até da vida de alguém. Não por acaso, é a primeira coisa que perguntamos diante de um desconhecido: qual o seu nome? E a partir dali aquela Maria Fernanda ou aquele João Paulo terão nos dado a senha para criarmos uma história da qual faremos parte também.

Você pode me ver agora? Uma mulher escrevendo enquanto toma chá de maçã. Sim, é de maçã. Como não é uma tela, e sim uma página de jornal, não pude me alongar. Mas a partir desse título simplório você pulou para o lado de cá.

TeVê

TV paga
Estado de Minas: 01/06/2014


 (Felipe Oliveira/Divulgação )
Na Bahia A cada primeiro domingo do mês, o programa Móbile passa a exibir sempre uma edição inédita. Hoje, a produção visita a cidade de Arraial d’Ajuda, entrevista o músico Armandinho (foto) e faz um histórico do carnaval na Bahia, além de recordar os tempos de Novos Baianos e A cor do som. Às 23h, na Cultura.

Na cozinha
Carla Pernambuco preparou uma edição especial de Brasil no prato com as delícias culinárias de oito países que participam da Copa do Mundo: Portugal, México, Itália, Peru, Coreia, Alemanha, França e Brasil. No ar hoje, às 17h30, na Fox Life. O ex-jogador Denílson (foto) aprovou os petiscos.

Caras & Bocas

Simone Castro - simone.castro@uai.com.br


 (Alex Carvalho/TV Globo  )

Dupla dinâmica

É juntar a fome com a vontade de comer. Em cena de Geração Brasil (Globo), eles se completam. E nem poderia ser diferente. Afinal, são mãe e filho. Personagens de Luís Miranda e Lázaro Ramos (foto), Dorothy e Brian Benson já se tornaram os responsáveis por momentos impagáveis na trama de Filipe Miguez e Izabel de Oliveira. Ela, que antes era homem, se tornou uma mãe superprotetora do filho guru de estrelas, como o miionário da tecnologia Jonas Marra (Murilo Benício). Ao lado dela, Brian quase volta a ser um garotinho tímido e inseguro. É relação das mais neuróticas e que diverte seus intérpretes. Nos bastidores, é só troca de elogios. “Está sendo maravilhoso e desafiador conseguir fazer a cena sem dar risada, porque o Luís é um atorque me faz rir muito. Cada vez que ele entra em cena já fico me segurando, porque só a figura em si do personagem já é engraçada”, diz Lázaro, no site oficial da novela. E acrescenta: “O Luís é um querido, uma ótima companhia fora de cena também”. Miranda retribui: “O Lázaro é ótimo, supergeneroso, além de ser muito divertido. Ele já tinha me dirigido em uma série, mas nunca tínhamos trabalhado juntos em novela. Está sendo incrível, fizemos um trabalho antes de começar, trocando sempre ideias, e agora, antes de entrar
no set, estamos sempre aquecendo e nos conectando para não perder esse laço de mãe e filho”, explica. A diversão, garantem, só está começando

REDE GLOBO EXIBE SÉRIES  DURANTE AS FÉRIAS DO JÔ


O Programa do Jô (Globo) entra de férias durante a Copa do Mundo. Entre 9 de junho e 11 de julho, o talk show dará lugar às séries norte-americanas Revenge e Under the dome. A primeira, com a terceira temporada, será exibida de 9 a 27 de junho. As duas primeiras foram ao ar depois do Fantástico. No Brasil, Revenge é exibida pelo canal Sony (TV paga) e a terceira temporada terminou na semana passada. Em seguida, de 30 de junho a 11 de julho, vai ao ar a primeira temporada de Under the dome, baseada na obra de Stephen King e que está com a segunda prontinha para estrear em junho, na TNT (TV paga).

GRAMADO SERÁ O DESTINO  DE HOJE DO VIAÇÃO CIPÓ

Neste domingo, o Viação Cipó volta ao Rio Grande do Sul para mostrar as belezas de Gramado. No roteiro das tradições gaúchas, uma casa centenária, as raízes coloniais do estado, um lindo parque e muito mais. O telespectador confere ainda uma saborosa receita e o “Cipó cidadania”. Às 9h, na Alterosa.

VRUM FAZ ALERTA SOBRE O USO DE PELÍCULAS ESCURAS
Quem tem películas escuras no vidro do carro não pode perder a edição do Vrum, hoje, às 8h30, no SBT/Alterosa. A atração faz um alerta, pois elas podem estar fora dos padrões permitidos. Veja o que a lei diz sobre o uso do insulfilm. Mais: as luzes do seu veículo estão em dia? Não perca também o teste com a Thruxton 900, uma moto que comprova que um visual retrô pode vir acompanhado de muita modernidade. Já Emílio Camanzi andou com o J3S Turin flex, o sedan chinês que logo será produzido no Brasil.

FESTA DE SANTA RITA VIRA DOCUMENTÁRIO PARA TV
A equipe da série Foliar Brasil doc gravou em Ouro Preto a Festa de Santa Rita, comemorada em 22 de maio. O documentário, dirigido por Carolina Paiva, mostrará 13 festas populares de todo o país e será exibido ano que vem no canal Prime Box Brazil (TV paga). Ainda este mês
a equipe estará em Diamantina para registrar a Festa do Divino. A produção vai documentar também as festas de Santo Antônio, em Santo Antônio de Pádua (RJ), e a de São João, em Campina Grande (PB).

VIVER COM OS SOGROS NÃO  COSTUMA DAR MUITO CERTO

O canal Home & Health (TV paga) resolveu comemorar o Dia dos Namorados, em 12 de junho, durante todo o mês. Entre as atrações está Sogros infernais, que vai ao ar dia 22, às 21h30. São histórias reais de famílias que dividem a casa com sogros, sogras e cunhados. Os conflitos, quando não são resolvidos, se multiplicam, tomam novas proporções e podem transformar a vida da família em um tormento. Objetos que somem, necessidade de controle sobre a vida alheia, divergências na educação das crianças e brigas por conta de dinheiro, cachorros, quartos, móveis. Em meio ao caos familiar, a especialista Ellie Tehser intervém para tentar restabelecer a harmonia do lar.


Rei do subúrbio - Simone Castro


Rodrigo Hilbert cozinha em casas acolhedoras do Rio de Janeiro e resultado   é saboroso (GNT/Divulgação)
Rodrigo Hilbert cozinha em casas acolhedoras do Rio de Janeiro e resultado é saboroso

Em julho de 2013, no final da primeira temporada do Tempero de família, Rodrigo Hilbert preparou um jantar surpresa para a mulher, a apresentadora Fernanda Lima, que cobriu o bonitão de elogios. “Tá ficando bom, hein?”, disparou ela, depois de degustar salada de couve crua, risoto e chuchu, acompanhado de suco de maracujá com cidreira, e, para finalizar, a sobremesa: maçã do amor. Simples assim! Foi com menu saudável que o Hilbert conquistou não só a mulher mas todo o eleitorado. O tempero rende...

Na temporada passada da atração do GNT (TV paga), durante o verão escaldante Rodrigo Hilbert cozinhou para amigos na praia. Agora, na atual, depois de testar o sabor de uma culinária feita sem muito fricote, do tipo que quase todo mundo é capaz de fazer, ele visita famílias do subúrbio do Rio de Janeiro e cozinha deliciosas receitas, colhidas facilmente com todo o seu charme e carisma. É bacana porque convidado e anfitriões não trocam só experiências gastronômicas, mas também bom papo e o visitante interage com a comunidade.

Em Honório Gurgel, por exemplo, Hilbert botou a mão na massa não só à mesa (fez um empadão de frango), mas também para grafitar um muro que protege o famoso “Jardim da amizade”, um lugar cheio de árvores. Com Dona Zuleika e Ana Cláudia, mãe e filha, moradoras antigas, conversou sobre o movimento que une todos em prol da preservação do espaço. A receita do bolo de cenoura com calda de chocolate foi preparada pela família de Victor Hugo, que integra o Honório Gurgel Coletivo, responsável por iniciativas semelhantes como a do muro no bairro da Zona Norte carioca.

O passeio gastronômico nesta terceira temporada começou em 24 de abril. Que ninguém espere por pratos mirabolantes. Bem ao estilo que o apresentador já imprimiu ao seu programa – da comida simples que qualquer um pode fazer e sem uso de ingredientes caros e difíceis –, o cardápio dispensa invencionices e até grandes novidades e se pauta por aquelas delícias que os brasileiros adoram, como cozidos e feijoadas ou mesmo um prosaico arroz doce. Fica difícil resistir. O diferencial? Rodrigo quer saber como é a comida com o tempero dos outros. No total, serão 13 episódios, no ar às quintas-feiras, às 20h.

O apresentador, que diz ter aprendido a cozinhar aos 11 anos com a mãe e a avó, mostra realmente familiaridade com as panelas e o fogão. Além disso, circula pela cozinha com desenvoltura, improvisa se precisar tanto acessórios quanto ingredientes. A química com o telespectador também tem a ver com a relação especial que Rodrigo tem com o universo das receitas. “Até porque a comida coloca as pessoas mais perto de você, agora que eu tenho família adoro ficar na cozinha cozinhando pra eles, eles ficam em volta de mim, é um momento de confraternização, de união”, disse em entrevista à revista Crescer.

Acrescente-se outra qualidade do Tempero de família que é a de abrir a porta e convidar o telespectador a entrar, quase a participar diretamente da realização do prato. Talvez, justamente por ser apresentado por Rodrigo Hilbert, mais que o modelo e ator que todo mundo conhece, mas com aquele jeitão do genro que a maioria das mães espera ter, a tarefa torne tudo bem mais leve. É a cereja do bolo!

PLATEIA
VIVA


Depois do César, de Amor à vida, Antônio Fagundes brinda o telespectador com o adorável Giácomo, de Meu pedacinho de chão (Globo).

VAIA

Na trama de Em família (Globo), na caçada aos estupradores, Alice (Érika Januza) está mais eficiente do que a polícia. É isso mesmo?

EM DIA COM A PSICANÁLISE » Por que educar‏

EM DIA COM A PSICANÁLISE » Por que educar
Regina Teixeira da Costa
Estado de Minas: 01/06/2014


Segundo Freud, em Três ensaios sobre a teoria da sexualidade (1905), a sexualidade infantil é viva e atuante, sendo esquecida no final da infância e ressurgida depois de um período de latência a partir das mudanças do corpo.

Diz ainda Freud que toda mãe ficaria horrorizada se disséssemos a ela que seu amor desperta a pulsão sexual do filho e os prepara para sua intensidade ulterior. Elas consideram assexual seu amor, puro e, mesmo sendo de fato zelosas e cheias de cuidados quanto ao manejo do corpo da criança, os efeitos de seus cuidados e carinhos produzirão efeitos libidinais na criança. E isso é bom porque estarão preparando-a para amar futuramente.

E, continua Freud, o excesso de afeição é nocivo, porque desperta a maturidade sexual precoce e também porque mimando a criança ela se torna incapaz, na vida ulterior, de ficar temporariamente sem amor ou contentar-se com uma pequena quantidade dele.

Uma das mais claras indicações de que uma criança se tornará neurótica pode ser vista pela exigência insaciável de afeição dos pais, já que ela recebeu excessivas demonstrações. Portanto, nem só a rejeição pode ser nociva, mas o excesso de amor também pode fazer adultos dependentes.

Crianças com a sexualidade muito precocemente desenvolvida transformam sua libido em ansiedade, já que não podem satisfazê-la. As fantasias edípicas serão ameaçadoras e por isso caem no esquecimento e só despertarão na adolescência, fazendo um barulho tremendo.

É na adolescência que se deve elaborar o embaraço com o despertar de uma sexualidade que foi esquecida. Atualizada, ressurge perturbadora e, agora, o adolescente terá que lidar com ela diante dos outros e refazer sua opção, seja qual for e com as incertezas e dúvidas que este tempo traz.

Assim, os laços agora serão entre grupos de rapazes e moças, a princípio separadamente, antes de partirem para o encontro sexual propriamente dito. Surgem as turmas que se formam e se unem em busca de reconhecimento e, como é comum na adolescência uma certa insubordinação, se reconhecem como pares e excluem os adultos.

Praticam sonhos proibidos, transgressões que os tornam fiéis ao grupo e se apresentam como seguros e poderosos. A formação de gangues vem desse embaraçoso momento da adolescência, em busca de reconhecimento e separação dos pais.

A rebeldia é quase regra na adolescência e necessária para afastar os pais. Muitos se tornam transgressores e delinquentes. Outros passam por momentos de grande coesão com o grupo e praticam temporariamente alguns atos de agressividade, acreditando assim se firmarem valentes. No caso dos rapazes, chega-se a extremos, como as brigas que vemos entre turmas nas madrugadas. Covardia de vários contra um, rivalidade vazia de sentido.

São atitudes violentas e na maioria das vezes terminam na delegacia ou em ações movidas pelos pais contra as agressões sofridas pelos filhos. Com razão devemos chamar a lei diante de excessos covardes de uns sobre os outros. É para isso que elas existem, para coibir a crueldade que entre seres humanos é bastante frequente.

Assistimos pais preocupados e, de fato, a preocupação procede, pois aqui no Brasil, diferentemente de outros lugares do planeta, adolescentes têm uma vida livre, podem sair sem hora para voltar, passar as noites em festas onde são servidas bebidas alcoólicas. E tudo isso conta com a complacência dos pais, que desejam dar aos filhos uma vida de luxo e permissividade, em que eles aprendem a ganhar tudo o que querem e não aceitam contrariedades.

Muitos pais cobrem os filhos com luxo e excessos, ensinando a eles que o mundo está a seus pés. E o resultado, não raro, são filhinhos de papai vandalizando por aí. Hoje, repito este tema porque é muito importante que os pais repensem seu papel.

apanhar, mas não pensam que um dia pode ser ele a vítima. Além disso, ainda há um reforço machista dos pais e, certamente, também das mães, para que seus filhos sejam pegadores e mostrem o quanto são machos. O respeito às mulheres nem sempre entra na lista de prioridades, nem das meninas nem dos meninos.

Eduardo Almeida Reis Até R$ 2.500...‏

No atual jornalismo, bandido é suspeito. E as notícias estão atingindo a perfeição de não citar os nomes dos suspeitos



Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 01/06/2014


Manchete de um jornal da Manchester mineira informa que os matadores cobravam até R$ 2.500 por assassinato. É pouco. Trabalho feito de encomenda implica investimento em munição, arma, transportes, horas de campana e riscos. Se a manchete fala “até R$ 2.500” é porque há profissionais trabalhando por menos, matando quase de graça. Sempre há o risco de prisão; por pouco tempo, mas há. Logo, logo, o condenado terá saídas pela Páscoa, pelo Natal, para passar o aniversário com a família. No Rio, pela última Páscoa, mais de mil não voltaram para a cadeia. Se o profissional do gatilho contratar os serviços de um criminalista, aí mesmo é que os R$ 2.500 não pagam a condução.

Ação conjunta das polícias Militar e Civil desmantelou quadrilha “suspeita” de pelo menos sete homicídios cometidos a serviço de traficantes. Suspeita era inevitável: no atual jornalismo, bandido é suspeito. E as notícias estão atingindo a perfeição de não citar os nomes dos suspeitos.

Tenho visto notícias assim: “Um homem de 43 anos, morador no Buraco do Boi, Zona Leste da cidade, matou a tiros seu vizinho de 39. Preso pela polícia, o suspeito declarou que matou porque o vizinho fazia barulho durante a noite”.

Quer dizer: matou por motivo mais que justificado. Legítima defesa do sono é tão importante quanto a defesa da honra. Considerando que este país grande e bobo tem pouquíssimos cidadãos honrados, é de todo conveniente que o Código Penal passe a incluir a legítima defesa do sono e da lataria do carro.

Cidadão honorário
O brasileiro Fábio Augusto Ramalho dos Santos, deputado federal (PV-MG), nascido em Brasília, recebeu o título de cidadão honorário de Belo Horizonte no dia 28 de abril. Foi pouco. Fabinho Ramalho merece o título de cidadão honorário da ONU, isto é, do mundo, porque é um sujeito de bem com a vida e com o planeta, amigo dos seus amigos, cavalheiro que gosta dos outros e neles só vê qualidades, comportamento raríssimo entre os 7,5 bilhões de habitantes da Terra.

Em rigor, só odeiam o deputado Fabinho Ramalho os mamíferos da família dos suídeos (Sus scrofa), originários do javali selvagem do Velho Mundo e encontrados em todo o planeta como animais domésticos que fornecem basicamente carne e banha, e comem praticamente de tudo, donde seu costume de revirar lixo à cata de alimento.

O ilustre parlamentar contabiliza milhares, talvez milhões de leitoas assadas nos jantares que promove em seu apartamento brasiliense. De temperamento alegre e brincalhão, Fabinho seria político bem-sucedido em qualquer lugar do mundo, menos em Israel e nos países muçulmanos, que não comem carne de porco.

Exageração

Grosso modo, no dia em que componho estas bem-traçadas 180 mil euros correspondem a 580 mil reais. Com todo o respeito, é muito dinheiro por um vestido de casamento feito pela Chanel. Se a noiva é feia, o vestido contrasta com o seu visual; se é bonita como Ticiana Villas Boas, jornalista da Band, ao casar-se em São Paulo com um dos donos da Friboi, o Chanel de R$ 580 mil nada acrescenta à sua beleza. É coisa de nouveau riche, que não congemina nem conjumina com a situação do país.

Recebi hoje cedo e-mail com as fotos dos maiores e melhores iates do planeta. A maioria pertence aos potentados árabes, há vários de americanos e russos e um da família real da Noruega. Os iates pequenos têm 80 metros e os maiores em torno de 135 metros, mais que o comprimento de um quarteirão. Montados num mar de petróleo e metidos naquelas roupas ridículas, os árabes esnobam o mundo com os seus iates, bem como com a notícia de que a Arábia Saudita está concluindo um prédio de mil metros de altura: um quilômetro! Em matéria de semostração conseguem bater o vestido Chanel de Ticiana.

Só não dá para entender como existem tantos russos bilionários, recém-saídos de um regime de purificação social como a União Soviética. Confiável, mesmo, só a tripulação do iate do rei Harold V, composta de militares noruegueses. Tripulantes de grandes iates, com raras exceções, são bandidos tatuados fugidos das polícias dos seus países – uma fauna de assustar.

O mundo é uma bola
1º de junho de 1494, dia importantíssimo na história da humanidade: o frade John Cor descreve a primeira destilação de uísque, do inglês whisky ou whiskey, do irlandês uisce beathadh e escocês uisge beatha, literalmente “água da vida”.

Em 1533, Anne Boleyn é coroada rainha da Inglaterra, para ser executada dia 19 de maio de 1536 por ordem de seu marido e senhor, Henrique VIII, um louco que reinou antes da Lei Maria da Penha.

Em 1812, o presidente norte-americano pede ao Congresso que declare guerra ao Reino Unido.

Em 1928, Portugal declarou guerra ao Reino Unido de outra forma: alterou a circulação de veículos da esquerda para a direita, acabando com aquela besteira inglesa de andar na contramão.

Hoje é o Dia da Imprensa.

Ruminanças

“É tempo de a PM pensar num Batalhão Villas-Bôas treinado para evitar as flechadas dos nossos irmãos indígenas” (R. Manso Neto) 

ÓRGãOS » A AGONIA DA LONGA ESPERA‏

Mesmo com redução da negativa de doação de 80% para 45% e alta de 118% no número de transplantes em 10 anos, muitos pacientes enfrentam o sofrimento da fila por muitos anos


Jefferson da Fonseca Coutinho
Estado de Minas: 01/06/2014




"No início, foi muito difícil. Tive depressão e precisei de acompanhamento psiquiátrico", Jader Sampaio, de 49 anos, que espera um doador de rim há seis anos


O drama da menina Renata Lara de Oliveira, de 13 anos, em batalha pela vida há 40 dias em um centro de tratamento intensivo (CTI) pediátrico de Belo Horizonte, traz à luz o drama de milhares de pacientes de todo o Brasil à espera de doadores. Ainda que, segundo o Ministério da Saúde, as estatísticas sejam animadoras – na última década, o número de transplantes no país cresceu 118% –, o suplício de quem está na fila não tem mensura. Há casos em que pacientes chegam a aguardar anos pela cirurgia. Agonia que não pode ser maquiada pela melhor aceitação da família dos doadores. Em 10 anos, a negativa de doação caiu de 80% para 45% – dado que evidencia maior conscientização e solidariedade da população, embora ainda bem abaixo da média de países desenvolvidos.

Com o aumento da quantidade de cirurgias, o número de pessoas que aguardam um transplante caiu 40% em cinco anos – a fila diminuiu de 64, 7 mil pessoas em 2008 para 38,7 mil em 2013. Em Minas, segundo o MG Transplantes, o avanço se deve ao plantão permanente na busca por doadores para todas as necessidades. “São 24 horas por dia de atenção a todos os que estão enfrentando a espera”, garante o médico Charles Simão Filho, diretor do complexo de transplantes. Em Minas, o aumento no número de transplantes nos últimos 10 anos chegou a 56,3%.

Este ano, soma-se aos bons resultados no país a parceria entre empresas aéreas, Aeronáutica e Ministério da Saúde, favorecendo o transporte para doações. Só no primeiro trimestre, mais de 2 mil órgãos e equipes de transplante foram transportados de avião, um aumento de 86% em relação ao mesmo período de 2013. Vale destacar que o Brasil precisou de mais de duas décadas para chegar a 9,9 doadores por milhão de pessoas. Nos últimos três anos, esse índice subiu para 13,5. Até o próximo ano, a meta é chegar a 15 doadores por milhão. Expectativa tímida, comparada aos 35 doadores por milhão de pessoas, alcançados na Espanha.

Na outra ponta do drama, em terras brasileiras, a agonia da espera. Jáder Sampaio, de 49 anos, está há mais de seis anos à espera de um doador de rins. O que começou com a urina espumante, no fim dos anos 1990, terminou com a falência dos rins. O diagnóstico da doença renal veio depois de exame admissional, quando o professor universitário foi aprovado em concurso público. Por quase uma década, Jáder conseguiu cuidar da função renal. Até se tornar dependente da hemodiálise – uma máquina (rim artificial) para filtrar as impurezas do sangue.

É uma luta que não parece ter fim. Nos últimos cinco anos, são cinco sessões semanais de duas horas e meia diárias de tratamento. Foi numa manhã de cuidados no Instituto Mineiro de Nefrologia, no Bairro Funcionários, na Região Centro-Sul de BH, que o professor aposentado recebeu a reportagem do Estado de Minas. Tomado de vida, amor pela família e vontade de viver, Jáder não faz drama. De fala tranquila e sorriso animador, o doutor em administração lida de forma exemplar com sua condição. No entanto, reconhece que nem sempre foi assim.

“Quando a gente passa pelas perdas, pelas muitas fases da doença, vem a força. No início, foi muito difícil. Tive depressão e precisei de acompanhamento psiquiátrico”, revela. Para Jáder, estudioso, entre outras matérias, do assunto doação de órgãos, a luta de uma paciente na fila por doação é mesmo uma saga. “Para entender melhor a situação, é preciso ouvir os profissionais de saúde intensivistas. Se por um lado temos uma estatística positiva, por outro temos ainda a resistência de familiares dos possíveis doadores e a dificuldade de acesso dos doutores às doações”, avalia.
É preciso derrubar o mito de que há a possibilidade de oferta paralela de um órgão, diz Monalisa Gresta (LEANDRO COURI/EM/D.A PRESS  )
É preciso derrubar o mito de que há a possibilidade de oferta paralela de um órgão, diz Monalisa Gresta

Demora que mata

Monalisa Maria Gresta, de 54 anos, enfermeira intensivista há 30 anos, já esteve na Comissão Intersetorial de Doação de Órgãos e Tecidos (Cidot). A especialista, com mestrado no assunto, conhece bem as agruras dos pacientes à espera de um transplante. Tanto que sua dissertação de mestrado ganhou o título de “A espera que mata”. No trabalho acadêmico, Monalisa acompanhou de perto, em imersão de três anos, o cotidiano de agonia de duas dezenas de pacientes em fio de esperança. “Inclusive, com casos de espera sem sucesso, com morte de uma familiar”, conta.

Para a profissional de saúde do Hospital das Clínicas da UFMG, a legislação avançou muito no Brasil, onde o processo tem sido “transparente, acessível e rastreável”. “Ainda precisamos derrubar o mito de que há a possibilidade de uma oferta paralela de um órgão. Não existe isso. Há uma transparência admirável, hoje, no Brasil”, elogia. Monalisa, entretanto, entende que é preciso avançar mais. “Por exemplo, na melhora da credibilidade das instituições hospitalares junto à população”.

“É fato também que a comunidade médica também precisa amadurecer no trato, na abordagem, da família de um possível doador”, avalia. Monalisa defende uma capacitação ainda maior dos profissionais de saúde, “da portaria aos CTIs”, pontua. Envolvida com a causa, em permanente campanha pela conscientização da população para a importância da doação de órgãos, a enfermeira deixou a dedicação exclusiva aos CTIs para trabalhar mais efetivamente pela doação.

REDES SOCIAIS Para estimular a doação de órgãos no país, o Ministério da Saúde também investe em campanhas e ações de mobilização. Uma delas, é a parceria com o Facebook, no qual o internauta declara ser doador em seu perfil. Cerca de 140 mil pessoas já se declararam doadores no www.facebook.com/doacaodeorgaos

ESTADO
GRAVÍSSIMO


Era considerado gravíssimo na noite de ontem o estado de saúde da adolescente Renata Lara de Oliveira, de 13 anos, que entrou em quadro de falência renal, segundo a médica intensivista Adrianne Leão Sete e Oliveira. A paciente passava por hemodiálise e estava sedada com analgésicos, embora consciente. Há 40 dias, a garota, que tem miocardiopatia dilatada há três anos, aguarda por um transplante de coração no centro de tratamento intensivo (CTI) do Hospital das Clínicas, em BH. Os primeiros sintomas da doença costumam ser dificuldade respiratória durante os exercícios e  fadiga, decorrentes do quadro de insuficiência cardíaca.
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Doar é salvar vidas

A doação de órgãos e sua destinação para transplantes é coordenada em Minas Gerais pelo Complexo MG Transplantes, responsável pela captação e distribuição de órgãos em todo o estado, por meio da Central Nacional de Captação de Doação de Órgãos (CNCDO). O complexo é composto por centros de notificação, captação e distribuição de órgãos na Grande BH, Zona da Mata e regiões Sul, Oeste, Nordeste e Leste do estado. Linha de orientação à população: 0800-0283-7183; e-mail mgtransplantes@saude.mg.gov.br; endereço: Avenida Professor Alfredo Balena, 400, 1º andar, Santa Efigênia, BH; telefones: (31) 3219-9200 e 3219-9211

As hidrelétricas e a conta de luz - Sérgio Malta

Estado de Minas: 01/06/2014 04:00



O setor elétrico brasileiro vem enfrentando desde outubro de 2012 uma das piores crises hidrológicas dos últimos 60 anos, crise que se prolonga até os dias atuais e pode ser medida por duas variáveis: volume de chuvas e nível dos reservatórios. Em relação às chuvas, o setor elétrico brasileiro faz um acompanhamento sistemático desde 1932, permitindo a construção do que se denomina tecnicamente por série histórica das afluências: quantidade de chuvas que ocorreram em todas as bacias e rios que têm aproveitamentos hidroelétricos.

A quantidade das chuvas medida é transformada em quantidade de energia elétrica que pode ser gerada. Assim, com base nesses dados pode-se comparar o quanto choveu em um determinado período com a média da série histórica. Essa comparação é importante para medir o impacto das chuvas sobre o volume das águas dos reservatórios. Os reservatórios têm um papel estratégico no setor elétrico, dado que eles representam um estoque de energia elétrica que pode ser usado ao longo do ano para atender os momentos em que chove menos.

A gravidade da crise hidrológica no primeiro trimestre de 2014 pode ser medida pelo fato de que nas duas mais importantes regiões elétricas do país – Sudeste e Nordeste – choveu respectivamente 52% e 43% em relação à média histórica. E como o calor bateu recordes de temperatura, o consumo de energia elétrica também bateu recordes, em função do uso dos aparelhos de ar condicionado. Como resultado dessa situação anormal e crítica, todas as usinas termelétricas de que o setor dispõe estão sendo acionadas a plena carga. Como resultado da crise hidrológica, há um aumento substancial no custo da energia elétrica consumida, dado que as usinas termelétricas para operarem precisam de gás natural, óleo combustível ou diesel, que são insumos muito mais caros do que a água dos reservatórios. Como as termelétricas estão sendo operadas desde outubro de 2012, a conta dos combustíveis assumiu proporções bilionárias, provocando forte desequilíbrio financeiro nas distribuidoras, pois elas têm que pagar adiantado o custo extra das termelétricas.

As tarifas das distribuidoras são reajustadas uma vez por ano, quando são estimados os gastos da compra de energia elétrica de diferentes fontes, sempre priorizando as mais baratas. Como previsões de tempo e de chuva são variáveis muito incertas, as previsões feitas ficaram bem acima do que está ocorrendo efetivamente. As distribuidoras são um importante segmento da cadeia produtiva, já que é por meio delas que se inicia o fluxo de pagamento financeiro de toda a cadeia produtiva do setor. Como a crise hidrológica está provocando um forte desequilíbrio financeiro das distribuidoras, colocando em risco todo o setor, o governo, entendendo corretamente a gravidade da situação, adiantou em 2013 recursos do Tesouro Nacional para as distribuidoras pagarem as contas, criando um crédito junto aos consumidores, que terão que pagar esses valores em prestações pelos próximos cinco anos.

Para 2014, com o agravamento da crise hidrológica, o governo teve que buscar outra solução para suportar os pesados gastos das termelétricas, dado que o uso de recursos do Tesouro comprometia o superávit primário, variável macroeconômica estratégica. A solução foi obter empréstimo junto aos principais bancos do sistema financeiro através da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), repassando às distribuidoras mensalmente os recursos necessários para cobrir as despesas extraordinárias. Esse empréstimo será pago pelos consumidores nos próximos três anos.

A decisão do governo de adotar esses procedimentos financeiros inovadores deve-se ao impacto que um verdadeiro “tarifaço” iria provocar sobre as atividades produtivas e o poder aquisitivo das famílias, diretamente, via aumento da energia elétrica e, pior, indiretamente, pelo aumento da inflação. Esse momento crítico que o setor elétrico está vivendo indica a necessidade de o governo rever sua política de expansão da capacidade instalada, pois a decisão de construir somente usinas hidrelétricas sem reservatórios e contratar usinas termelétricas que operam com combustíveis muito caros precisa ser revista rapidamente. O consumo de energia elétrica no Brasil deve crescer a taxas significativas nos próximos anos e, portanto, é hora de se pensar seriamente em retomar projetos de hidrelétricas com reservatórios plurianuais e examinar a construção de usinas nucleares.

Alcoolismo e trabalho - Frederico Gasperin

Alcoolismo e trabalho
Pedidos de auxílio-doença por causa do vício crescem 19% em quatro anos 

 
Frederico Gasperin
Médico do trabalho da Gestão em Segurança do Trabalho e Saúde Ocupacional (Contrei)
Estado de Minas: 01/06/2014


O consumo de álcool cresceu 20% no Brasil em seis anos, conforme o 2º Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (Lenad), divulgado pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). A estimativa é que, pelo menos, 11,7 milhões de brasileiros sejam dependentes de álcool, sendo que, entre 2006 e 2012, o número de pessoas que passou a beber com frequência subiu de 45% para 54%. O consumo de álcool depois do trabalho, ou nos fins de semana, é comum no Brasil, sendo parte da cultura ligada ao lazer e à sociabilidade. Contudo, é preciso ter cuidado, pois o uso abusivo do álcool pode gerar diversas consequências à saúde e às relações sociais e profissionais. O alcoolismo é caracterizado pelo consumo compulsivo de álcool, com progressiva tolerância à intoxicação e sinais e sintomas de abstinência. O uso excessivo pode provocar um comportamento prejudicial à vida pessoal, familiar, social ou profissional, gerando doenças psicológicas e fisiológicas, assim como a morte, quando não tratado adequadamente.

As causas do alcoolismo são multifatoriais e podem estar associadas à predisposição genética, ansiedade, angústia e insegurança. Ainda de acordo com o estudo publicado pela Unifesp, 15% dos profissionais brasileiros são dependentes de drogas e álcool no trabalho, ou os consomem com frequência. Conforme dados do Ministério do Trabalho, esses profissionais são os que mais faltam ao trabalho sem justificativa, aproximadamente 26 dias por ano, o triplo do número de faltas de um funcionário comum. Outro reflexo é a redução da produtividade em 30% e o aumento do risco de acidentes de trabalho, em cinco vezes. O alcoolismo se tornou uma doença passível de afastamento, quando comprovada a dependência e a incapacidade de exercer as atividades laborais, garantindo ao profissional o seguro do INSS e o auxílio-doença, após ser incluído na Classificação Internacional de Doenças, Lesões e Causa de Óbitos (CID) pela Organização Mundial de Saúde (OMS). A concessão do benefício é um avanço para os trabalhadores, pois mantém o vínculo empregatício durante o período de tratamento e garante a manutenção financeira da família. O funcionário deve ter, pelo menos, 12 meses de contribuição e comprovar, por meio de perícia médica, a dependência do álcool, incapacitando-o de exercer o trabalho para pedir o auxílio-doença. O valor do benefício pode variar de acordo com o recolhimento à Previdência Social. Contudo, a grande quantidade de pedidos de auxílio-doença é preocupante. Um levantamento do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) revelou o alcoolismo como a principal causa de pedidos de auxílio-doença por transtornos mentais e comportamentais por uso de substância psicoativa.

O aumento do número de pessoas que pediram o auxílio, devido ao uso abusivo de álcool, foi de 19%, nos últimos quatro anos. Em 2009, foram contabilizados 12.055 pedidos de auxílios-doença e, em 2013, subiu para 14.420 pedidos. Apesar dos danos causados pelo alcoolismo, é cada vez mais comum o consumo do álcool entre jovens e mulheres, independentemente da classe social. Isso pode ocorrer devido à escassez de políticas públicas sobre o consumo de bebidas alcoólicas. Algumas delas conseguem controlar o consumo, mas ainda faltam fiscalização e regras mais rígidas para a venda e publicidade nos meios de comunicação.

O BRASIL NAS RUAS » Um ano depois, pouco mudou‏

O BRASIL NAS RUAS » Um ano depois, pouco mudou
 
Doze meses depois dos protestos da Copa das Confederações, melhorias na educação e no transporte público, principais reivindicações, ainda são imperceptíveis pela população



Renata Mariz
Estado de Minas: 01/06/2014




Brasília – Faz um ano que multidões tomaram as ruas do país, em atos comparados apenas às marchas pelas Diretas Já ou pelo impeachment de Collor. Duas décadas depois dessas manifestações históricas, mais precisamente na primeira semana de junho de 2013, protestos contra o aumento das tarifas de transporte, em São Paulo e no Rio de Janeiro, logo se espalhariam pelo resto do Brasil, por ocasião da Copa das Confederações. Agora, com outro grande evento esportivo batendo à porta, um balanço das promessas feitas à época mostra ações iniciais positivas em determinadas áreas, como saúde e mobilidade, mas nenhum avanço em outros temas, levando-se em consideração o pacto com o povo brasileiro proposto em pronunciamento nacional pela presidente Dilma Rousseff .

No transporte coletivo de qualidade, reivindicação que ensejou as demais manifestações no país, o governo tem números que impressionam, mas poucas realizações concretas para mostrar. Dos R$ 50 bilhões anunciados dentro do Pacto da Mobilidade Urbana, lançado como resposta aos protestos, R$ 29 bilhões já têm destinação definida: 114 obras e 97 estudos e projetos a serem elaborados, prioritariamente em oito regiões metropolitanas e municípios com mais de 700 mil habitantes. O Ministério das Cidades não informou, entretanto, em que fase estão as ações financiadas com tais recursos ou exemplos de realizações mais adiantadas e, portanto, perceptível para a população.

O tema é tão sensível no dia a dia das cidades que foi o combustível para os primeiros protestos de visibilidade no ano passado. Em 3 de junho, usuários de ônibus, trens e metrôs ocuparam a Zona Sul de São Paulo, contra um aumento na tarifa de R$ 3 para R$ 3,20. No mesmo dia, passageiros ocuparam a Avenida Rio Branco, uma das principais do Rio, indignados com o reajuste das passagens de R$ 2,75 para R$ 2,95. Mas a grande passeata, que inaugurou a temporada de manifestações, se deu em 6 de junho, quando cerca de 5 mil pessoas se reuniram no centro de São Paulo contra bilhetes mais caros. Houve o primeiro confronto com a PM, que prendeu 15 pessoas.

No bojo do anseio por transporte de qualidade, manifestantes pediram saúde e educação padrão Fifa. Para essa última reivindicação, a presidente Dilma prometeu a aplicação do dinheiro do petróleo nas escolas públicas. Só honrou o compromisso em parte, ao sancionar a Lei 12.858, em setembro. “O movimento social conseguiu convencer a presidente a destinar, em vez de rendimentos, o total dos aportes do Fundo Social do petróleo para a educação e para a saúde. Ela se sensibilizou, foi um grande avanço. Mas é preciso que ela, agora, regulamente a lei, por meio de decreto, para que isso possa ser operacionalizado e o dinheiro chegue na prática”, afirma Daniel Cara, mestre em ciência política e coordenador da Campanha Nacional pelo Direito à Educação.

FINANCIAMENTO Na saúde, a principal bandeira do governo federal, para responder às reivindicações da população nas ruas, é o Mais Médicos – programa que levou atendimento a 49 milhões de brasileiros carentes do serviço, segundo o Ministério da Saúde. Presidente do Centro Brasileiro de Estudos de Saúde, Ana Maria Costa aponta a iniciativa como positiva. “O Mais Médicos toca em uma agenda central no acesso à saúde no Brasil, sem dúvida, mas não resolve o problema do subfinanciamento.”

“Qualquer medida que aproxime a população das decisões do governo é bem-vinda, mas geralmente o que ocorre é uma encenação”, diz Leila Saraiva, do Movimento Passe Livre no DF. De todas as propostas apresentadas pela presidente Dilma, no pacto com o povo brasileiro, a mais ousada foi também a que menos saiu do papel: a reforma política.

Avanço tímido no Congresso


Acuados pelas manifestações, os parlamentares brasileiros se apressaram para mostrar serviço à população. As agendas positivas – montadas com projetos de forte apelo popular, como o endurecimento de penas para corrupção –, no entanto, trombaram na disputa entre Senado e Câmara pela paternidade das ideias e pouco avançaram.

O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), fez questão de encampar a reivindicação inicial das ruas: o passe livre no transporte público. Em 25 de junho do ano passado, apresentou projeto que institui a gratuidade para estudantes. A agilidade, porém, acabou na aprovação da urgência para votação e o o tema não avançou.

Anunciada com alarde pelos parlamentares, a transformação da corrupção em crime hediondo também não chegou às mãos da presidente Dilma Rousseff para sanção. Entre os projetos colocados pelas duas Casas, o fim do foro privilegiado para autoridades também não andou.

Um dos poucos itens das agendas positivas que andaram foi a aprovação do fim do voto secreto para análise de cassações de mandato, pleito antigo de parcela da população e organizações de combate à corrupção.


Robocop para conter manifestantes



 (André lucas almeida/futura press/estadão conteúdo)

Cerca de 500 manifestantes fizeram um protesto, na tarde de ontem, na região central de São Paulo, contra gastos públicos na Copa do Mundo. A nona manifestação do grupo "Se não tiver direitos, não vai ter Copa", começou por volta das 17h, no Theatro Municipal. Foi a primeira vez que policiais militares de São Paulo utilizaram um exoesqueleto apelidado de ‘Robocop’ como parte de um kit de equipamentos comprado para controle de possíveis distúrbios durante o Mundial. O material é feito de polipropileno – resistente a pancadas – e foi adquirido para o uso da cavalaria da Tropa de Choque da Polícia Militar de São Paulo. O kit inclui também viseira de acrílico, botas antiderrapantes, protetor facial e cobertura de couro no peito. Ainda de acordo com a Polícia Militar, além dos policiais com armaduras, havia policiais da 'Tropa do Braço', treinados em artes marciais. Os manifestantes passaram pela Rua Xavier de Toledo e pela Avenida Rio Branco.