quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

JUSCELINO, MAIS UMA VÍTIMA DA DITADURA

Correio Braziliense - 11/12/2013

Relatório que afirma que JK foi vítima de conspiração será entregue a Dilma Comissão da Verdade de SP quer que governo e Justiça reconheçam que ex-presidente foi vítima de conspiração


Felipe Canêdo


No telão, as imagens do carro que levava Juscelino são mostradas durante a leitura do relatório da comissão (Hélvio Romero/Estadão Conteúdo )
No telão, as imagens do carro que levava Juscelino são mostradas durante a leitura do relatório da comissão


O relatório divulgado nessa terça-feira (10/12) pela Comissão da Verdade Vladimir Herzog, de São Paulo, que atesta que o ex-presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira, morto em agosto de 1976, foi assassinado, será enviado à presidente da República, Dilma Rousseff, aos presidentes do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, e do Congresso, Renan Calheiros (PMDB-AL), e à Comissão Nacional da Verdade. O documento irá com pedido para que seja reconhecido que a morte de JK e de seu motorista, Geraldo Ribeiro, em um suspeito acidente na Via Dutra, foi decorrente de complô político encabeçado pela ditadura. “Queremos que seja declarado que JK foi assassinado”, pediu o presidente da comissão paulistana, vereador Gilberto Natalini (PV).

Com 90 evidências de que o ex-presidente foi vítima de um atentado, o documento narra diversos fatos a partir do momento em que Juscelino e o motorista dele deixaram o Hotel-fazenda Villa-Forte, que pertencia ao brigadeiro Newton Junqueira Villa-Forte, um dos criadores do Serviço Nacional de Informações (SNI). O texto foi elaborado com base em depoimentos como o do motorista do ônibus Josias Nunes de Oliveira — à época, acusado de ter batido no carro de Juscelino antes que o veículo cruzasse o canteiro central da rodovia, na altura de Resende (RJ), e colidisse de frente com um caminhão. Outro relato importante foi o do perito criminal Alberto Carlos de Minas, que participou da exumação do corpo de Geraldo Ribeiro em 1996 e viu um fragmento metálico no crânio, mas foi impedido por policiais civis de fotografar os restos mortais.

O ex-secretário de JK Serafim Jardim acredita que o mistério sobre a morte do ex-presidente foi finalmente esclarecido. Ele confia que a Comissão da Verdade e a presidente Dilma Rousseff vão reconhecer que ele foi assassinado. “Hoje, não há como não reconhecer. O processo sobre a morte dele foi muito mal feito. Nós tivemos uma reunião com o secretário de Defesa Social de Minas Gerais, Rômulo Ferraz, onde chegaram a dizer que jogaram fora a bala que matou o motorista. Isso é um absurdo”, disse ele, indignado. Serafim lembrou o caso do jornalista Vladimir Herzog, cuja morte nas dependências do DOI-Codi, em São Paulo, foi reconhecida como assassinato.

Para o historiador João Pinto Furtado, a versão de que Juscelino foi morto por uma conspiração do regime ditatorial sempre esteve em pauta e que é muito factível. “Se há interesse de elucidar esse fato e se uma investigação séria está concluindo que ele foi morto, me parece que até que isso seja contestado, essa passa a ser a hipótese oficial. Se há pessoas que podem apresentar fatos novos, este é o momento”, diz.

Operação Condor 

“Carta de 28 de agosto de 1975, atribuída ao coronel chileno Manuel Contreras Sepulveda, diretor da Dina, o serviço secreto da ditadura do Chile, e endereçada ao chefe do SNI, general João Baptista Figueiredo, alertou para o apoio de políticos democratas dos Estados Unidos a Juscelino Kubitschek e Orlando Letelier”, aponta o item 85 do relatório da comissão. Letelier, ex-ministro das Relações Exteriores do Chile, foi assassinado em Washington menos de um mês após JK ter morrido. Outra possível vítima da chamada Operação Condor, que consistia em uma aliança entre ditaduras sul-americanas e a inteligência dos EUA, é o ex-presidente João Goulart. Na semana passada, seus restos mortais foram recebidos com honras de chefe de estado em São Borja (RS), após exumação e perícia para investigar se ele foi envenenado. Ainda não há previsão para divulgação dos resultados dos exames.

MARTHA MEDEIROS - Esporte e identidade

Zero Hora - 11/12/2013

Em 1994, Nelson Mandela tornou-se presidente de uma ainda problemática África do Sul. No ano seguinte, 1995, o país sediaria pela primeira vez a Copa Mundial de Rúgbi, conhecido como um esporte de brancos – tanto que a população negra sul-africana torcia contra sua própria seleção. Mandela percebeu que o evento poderia se tornar um importante aliado no processo de fim do apartheid e consequente pacificação da nação. Dedicou-se de corpo e alma a fazer com que a fraca seleção de seu país conquistasse o título, empurrada por negros e brancos unidos por patriotismo – uma utopia, na época.

O diretor de cinema Clint Eastwood contou essa história no filme Invictus, com Morgan Freeman no papel de Mandela. A epopeia teve um final feliz, bem ao gosto de Hollywood, com a vantagem de ter sido real: a seleção da África do Sul, pela primeira vez, sagrou-se campeã mundial de rúgbi, e a sabedoria de Mandela tornou-se ainda mais evidente ao conseguir unificar o país através do grito de uma torcida finalmente coesa.

Quando o filme estreou no Brasil, em 2009, Bernardo Buarque de Holanda escreveu uma resenha em que disse: “Estádios funcionam como uma caixa de ressonância por intermédio dos quais se exprimem, de alguma maneira ou em algum grau, as tensões constitutivas da sociedade a que pertencem”. Isso porque o esporte e a política sempre mantiveram laços.

Muitos ditadores usaram o esporte para impor a soberania de um povo sobre o outro, de uma raça sobre a outra, porém Mandela entendeu que o poder do esporte estava justamente em eliminar diferenças, agregando a população em torno de um único e salutar propósito. Fundou uma nova identidade nacional, minimizando as tensões advindas de brigas sem sentido e trocando-as por vidas com sentido.

No momento em que estamos de luto pela morte desse que foi um dos maiores humanistas do planeta, lamento que sua mensagem de paz não tenha se expandido até aqui. A julgar pelas cenas de demência vistas nas arquibancadas do jogo entre Vasco e Atlético-PR, seria preciso três dúzias de líderes com o poder de persuasão de Mandela para inibir brutamontes que chegaram a um nível de estupidez e ignorância alarmante, lesando nossa autoestima.

O que os leva a agir de forma tão extremada diante de um inimigo imaginário? A que ponto chega a provocação de uma torcida a outra para que o senso crítico seja totalmente banido e a selvageria se imponha? E, em termos menos filosóficos e mais práticos: por que não se resolve de vez a questão do policiamento nos estádios e não se punem rigorosamente esses animais?

Dias atrás o tabloide britânico Daily Mail publicou uma reportagem boba em que demonstrava preocupação com a possibilidade de a seleção inglesa ter que deparar com jacarés circulando pelas ruas de Manaus. Jacaré não é nada, gringos.

Eduardo Almeida Reis‏ - Clarimundo e as leis

O Google tem 198 mil entradas para Clarimundo e a segunda informa que o nome significa "proteção de lança"

Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 11/12/2013


Dia 20 de novembro foi feriado em mais de mil municípios brasileiros relembrando o ano de 1695, quando as tropas do bandeirante Domingos Jorge Velho levaram Zumbi a óbito no Quilombo dos Palmares.

Zumbi vem de nzumbe do quimbundo, língua da família banta falada em Angola pelos ambundos, termo que significa espectro, fantasma, alma de pessoa falecida. Nasceu na Serra da Barriga, capitania de Pernambuco, atual União dos Palmares, Alagoas, mas foi capturado aos seis anos e entregue a um missionário português. Batizado Francisco, recebeu os sacramentos, aprendeu português e latim, ajudava a celebrar missas e tinha formação militar respeitável aos 20 anos.
Liderou o Quilombo dos Palmares durante 15 anos – uma comunidade ou reino ou república que ocupava área imensa e teria cerca de 30 mil quilombolas.

Teve a cabeça cortada, salgada e enviada ao governador Caetano de Melo e Castro, que escreveu ao rei da Portugal: “Determinei que pusessem sua cabeça em um poste no lugar mais público desta praça, para satisfazer os ofendidos e justamente queixosos e atemorizar os negros que supersticiosamente julgavam Zumbi um imortal, para que entendesse que esta empresa acabava de todo com os Palmares”.
Depois desse banho de cultura wikipédica, posso contar que durante quatro anos fui vizinho de cerca de um quilombo fluminense. Nossa fazendinha terminava na cumeeira de um morro onde começava o quilombo, que lá está até hoje. Os quilombolas nunca passaram para o lado de cá, até porque do lado de lá eram vizinhos de um dos loteamentos mais chiques do Brasil, onde vendiam os produtos das suas lavourinhas.

Clarimundo e as leis

Etimologista ilustre, Antenor Nascentes diz que Clarimundo, nome de homem, deve ser hibridismo formado do latim claru, ilustre, com o germânico mund, proteção. Em português pega mal, porque termina por imundo e clar-, di-lo Houaiss, elemento de composição, é antepositivo do latim clarus,a,um “claro”, algo assim como clarear a imundície. O Google tem 198 mil entradas para Clarimundo e a segunda informa que o nome significa “proteção de lança”.

Recorri ao Clarimundo como poderia escrever Eustáquio, Bonifácio ou Maiconjéquisson, porque só quero falar da responsabilidade penal. Como não entendo absolutamente nada de direito, faço como os advogados que vivem citando autores que nunca leram, para informar ao leitor de Tiro&Queda que, segundo Palomba, para que alguém seja responsável penalmente por determinado delito, são necessárias três condições básicas: 1. ter praticado o delito; 2. ter tido, à época, entendimento do caráter criminoso da ação; 3. ter sido livre para escolher entre praticar e não praticar a ação.

Guido Arturo Palomba nasceu em São Paulo no ano de 1948 e é autor, entre outros livros, do Tratado de Psiquiatria Forense Civil e Penal. Isto posto, volto ao suposto Clarimundo para dizer ao leitor que o art. 13 do Código Penal de dezembro de 1940, reza o seguinte: “O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa”. Trocando em miúdos, a responsabilidade penal não se estende aos parentes, amigos e namoradas do criminoso.

Besteira que me parece das mais grossas, pelo seguinte: admitindo-se que Clarimundo de Tal seja o maior ladrão do Brasil, é claro, como também é lógico e evidente que a mulher e os filhos dele, bem como sua linda namorada, viveram à tripa forra com o resultado de sua ladroeira. Não só a família e a indispensável namorada, como também os amigos do ladrão.

Daí a pergunta que faço ao leitor: é justo que só ele pague pelo crime? No Código Penal dos meus sonhos a imputabilidade do roubo alcançaria todos os que dele se aproveitaram.

O mundo é uma bola

1º de dezembro de 1792: iniciado em Paris o julgamento de Luís XVI, rei deposto da França, que seria condenado por alta traição e guilhotinado. Curiosas, na Revolução Francesa, foram as suas consequências e o curtíssimo período em que as coisas funcionaram a seu modo. Pouco tempo depois, Napoleão Bonaparte era coroado imperador com a sua Josefina. E hoje, a torcida se divide, no Stade de France, entre o desejo de torcer pela seleção nacional e a realidade de uma equipa composta de craques nigérrimos, quase todos nascidos nas ex-colônias que a França teve em África.

Em 1816, Indiana se torna o 19º estado norte-americano, coisa que não teria a menor importância para o resto do planeta não fosse o palco das 500 Milhas de Indianápolis. Em 1876, agora sim uma notícia importantíssima, que deve ter alterado a história do planeta e consta da Wikipédia com destaque: São Miguel desmembra-se de Pau dos Ferros e se torna novo município do Rio Grande do Norte, fazendo que os pau-ferrenses pudessem contar com a companhia próxima dos são-miguelenses, todos empenhados em sufragar o nome ilustríssimo do deputado Henriquinho Alves, atual presidente da Câmara Federal.Em 1909, fundado o Aero Club de Portugal. Em 1936, o rei Eduardo VIII, do Reino Unido, abdica em favor de seu irmão Jorge VI para se casar com Wallis Simpson, uma norte-americana divorciada.
Hoje é o Dia do Engenheiro, do Agrimensor e das Apaes, Associações de Pais e Amigos dos Excepcionais.

Ruminanças
“As ideias são sucedâneas do sofrimento” (Marcel Proust,
1871-1922).

Fernando Brant - Pouco pode ser muito‏

Pouco pode ser muito 
 
Fernando Brant - fernandobrant@hotmail.com

Estado de Minas: 11/12/2013



Penso na fisioterapia. O paciente está com dores, dificuldade de se movimentar, incômodos musculares ou na coluna vertebral. Posturas inadequadas ou aflições afins. O profissional lhe ensina pequenos exercícios, curtos e localizados, gestos que aparentemente nada têm a ver com seu padecer. Dia após dia você segue o roteiro que lhe foi passado. Sem arroubos, sem espetáculo, quase em silêncio, o desconforto vai desaparecendo. Isso é rotina nas clínicas de recuperação. Os pequenos atos fazem o milagre e, de repente, não há mais nenhum sofrimento.

Penso agora na fonoaudiologia. Há uma dificuldade de se expressar, a voz não segue a vontade da mente. Ou é caso de gagueira, sons desafinados, uma série de imperfeições no vocalizar que trazem angústia, timidez, insegurança. O convívio com os semelhantes se torna quase insuportável.

Será possível que resolverei meus problemas com esses gestuais ridículos? Falar com uma rolha na boca me fará me expressar melhor? E esses sons que me obrigam a emitir? Mais uma vez, pequenas repetições diárias, cientificamente estudadas, transformam o aluno da primeira sessão em uma pessoa relaxada, segura, capaz de falar em público e até cantar. Não é milagre, é trabalho, fruto de muito estudo especializado. E não mais nos esquecemos.

O que vale para essas duas profissões cabe em muitos fatos de nossa vida. Tudo que fazemos em nosso dia a dia, de carinho e afeto, de atenção para com quem é do nosso convívio pessoal ou social se reverte em nosso favor. O simples gesto vale mais que uma grande bajulação. Um bom-dia, boa-tarde, obrigado, um sorriso abrem as portas do mundo para nós. Não custa nada e nos faz melhores.

Isso serve também para a política. Um prefeito que olha com atenção para as pequenas necessidades de sua cidade, seja cuidar da limpeza das ruas, da boa pavimentação e das necessidades primeiras dos cidadãos, pode ser exemplo.

Uma cidade com água e esgotos encanados e tratados tem mais valor que estátuas na praça principal ou discursos de autolouvor. Os governantes estaduais e federais, quando realmente preocupados com o bem de todos, poderiam espalhar essas miúdas ações essenciais para todo o universo por eles comandado. Nesse capítulo estão certamente as escolas e os professores, os hospitais e os médicos.

Infelizmente, o que se vê são grandes promessas, bombásticos discursos escritos por marqueteiros e resultado quase nenhum. Pois a propaganda do que se teria feito e do que se anuncia que fará, mas nunca se realiza, é mais importante, pois significa conservar o poder que os apodrece.

Sei que o povo sofre com isso e lamento. E tenho nojo e desprezo por essa gente que se diz mas não é republicana. 

Frei Betto -Francisco e o capitalismo‏

Francisco e o capitalismo 
 
No documento Alegria do evangelho, o papa defende o papel do Estado como provedor social e condena a autonomia do mercado 
 
Frei Betto

Escritor, autor do romance Minas do ouro (Rocco), entre outros livros
Estado de Minas: 11/12/2013


O papa Francisco acaba de divulgar o documento Alegria do evangelho, no qual deixa claro a que veio. Sua voz profética incomodou a CNN, poderosa rede de comunicação dos EUA, que lhe concedeu a Medalha de Papelão, destinada àqueles que, em matéria de economia, falam bobagens.

Quais as “bobagens” proferidas pelo papa Francisco? Julgue o leitor: “Hoje devemos dizer não a uma economia da exclusão e da desigualdade social. Essa economia mata. Não é possível que a morte por enregelamento de um idoso sem abrigo não seja notícia, enquanto o é a descida de dois pontos na bolsa. Isso é exclusão. Não se pode tolerar mais o fato de se lançar comida no lixo, quando há pessoas que passam fome. Isso é desigualdade social.”

“Hoje, tudo entra no jogo da competitividade e da lei do mais forte, em que o poderoso engole o mais fraco. Em consequência dessa situação, grandes massas da população veem-se excluídas e marginalizadas: sem trabalho, sem perspectivas, num beco sem saída. O ser humano é considerado, em si mesmo, como um bem de consumo que se pode usar e, depois, lançar fora. Assim teve início a cultura do ‘descartável’, que, aliás, chega a ser promovida. Já não se trata simplesmente de fenômeno de exploração e opressão, mas de uma realidade nova: com a exclusão, fere-se, na própria raiz, a pertença à sociedade onde se vive, pois quem vive nas favelas, na periferia ou sem poder já não está nela, mas fora. Os excluídos não são explorados, mas resíduos, sobras.”

Em seguida, Francisco condena a lógica de que o livre mercado consegue, por si mesmo, promover inclusão social: “Essa opinião, que nunca foi confirmada pelos fatos, exprime uma confiança vaga e ingênua na bondade daqueles que detêm o poder econômico e nos mecanismos sacralizados do sistema econômico reinante. Entretanto, os excluídos continuam a esperar.”

“Para se poder apoiar um estilo de vida que exclui os outros ou mesmo entusiasmar-se com esse ideal egoísta, desenvolveu-se uma globalização da indiferença. Quase sem nos dar conta, tornamo-nos incapazes de nos compadecer ao ouvir os clamores alheios, já não choramos à vista do drama dos outros, nem nos interessamos por cuidar deles, como se tudo fosse uma responsabilidade de outrem, que não nos incumbe. A cultura do bem-estar anestesia-nos, a ponto de perdermos a serenidade se o mercado oferece algo que ainda não compramos, enquanto todas essas vidas ceifadas por falta de possibilidades nos parecem um mero espetáculo que não nos incomoda de forma alguma.”

O papa enfatiza que os interesses do capital não podem estar acima dos direitos humanos: “Uma das causas dessa situação está na relação estabelecida com o dinheiro, porque aceitamos pacificamente o seu domínio sobre nós e as nossas sociedades. A crise financeira que atravessamos faz-nos esquecer que, na sua origem, há uma crise antropológica profunda: a negação da primazia do ser humano. Criamos novos ídolos. A adoração do antigo bezerro de ouro (cf. Êxodo 32, 1-35) encontrou uma nova e cruel versão no fetichismo do dinheiro e na ditadura de uma economia sem rosto e sem um objetivo verdadeiramente humano. A crise mundial, que envolve as finanças e a economia, põe a descoberto os próprios desequilíbrios e, sobretudo, a grave carência de uma orientação antropológica que reduz o ser humano a apenas uma das suas necessidades: o consumo.”

Sem citar o capitalismo, Francisco defende o papel do Estado como provedor social e condena a autonomia absoluta do livre mercado: “Enquanto os lucros de poucos crescem exponencialmente, os da maioria situam-se cada vez mais longe do bem-estar daquela minoria feliz. Tal desequilíbrio provém de ideologias que defendem a autonomia absoluta dos mercados e a especulação financeira. Por isso, negam o direito de controle dos Estados, encarregados de velar pela tutela do bem comum.”

“Instaura-se uma nova tirania invisível, às vezes virtual, que impõe, de forma unilateral e implacável, as suas leis e as suas regras. Além disso, a dívida e os respectivos juros afastam os países das possibilidades viáveis da sua economia, e os cidadãos do seu real poder de compra. A tudo isso vem juntar-se uma corrupção ramificada e uma evasão fiscal egoísta, que assumiram dimensões mundiais. A ambição do poder e do ter não conhece limites. Nesse sistema que tende a deteriorar tudo para aumentar os benefícios, qualquer realidade que seja frágil, como o meio ambiente, fica indefesa face aos interesses do mercado divinizado, transformados em regra absoluta.”

Enfim, um profeta que põe o dedo na ferida, pois ninguém ignora que o capitalismo fracassou para dois terços da humanidade: os 4 bilhões de pessoas que, segundo a ONU, vivem abaixo da linha da pobreza.

TV

Estado de Minas: 11/12/2013

Para virar a noite 


 (Fox/Divulgação)


Hoje tem Noite amarela no canal Fox, a partir das 23h30. Serão exibidos em sequência seis episódios de Os Simpsons, com os personagens de Matt Groening contracenando com astros do pop Katy Perry, Cindy Lauper, R.E.M., Elton John, U2 e Lady Gaga: “The fight before Christmas”, “Um bom Bart não deixa se dobrar”, “Homer, o Moe”, “Estou com o cupido”, “Trash of the titans” e “Lisa Goes Gaga” (foto). Muito divertido!

Canal Brasil estreia a  série policial Bipolar

Em entrevista a Eric Nepomuceno, hoje, às 21h30, em Sangue latino, o escritor argentino Martín Kohan revela que mantém uma relação constante e permanente com o passado e que acredita que cada amor é único, absoluto e nunca termina. Mais tarde, às 23h30, estreia a série Bipolar, que acompanha o conturbado cotidiano de três policiais.

Sapos viram príncipes nas mãos dos estilistas
Brian Schepel é o convidado do episódio de estreia da temporada de Queer eye for the straight guy, hoje, às 22h, na Fox Life. Brian é um talentoso artista em ascensão, algo que você não diria ao olhar para ele. Às 23h, no Discovery Home & Health, vai ao ar o especial “Vestida para festa”, da série Esquadrão da moda.

Artista mineira utiliza  técnicas da arquitetura

A mineira Iole de Freitas continua em evidência na série Artes visuais. Depois do primeiro programa, semana passada, levando o assinante a uma exposição dela na Casa Daros (RJ), hoje a artista plástica vai contar como a arquitetura foi ganhando envergadura em sua trajetória. Segundo Iole, nas instalações arquitetônicas que desenvolve as chapas têm relações muito precisas com as linhas e isso fica evidente em quase todos os seus trabalhos. Confira às 21h30.

Presídio do Carandiru  é hoje uma biblioteca
Na Cultura, às 23h30, o Entrelinhas visita a Biblioteca de São Paulo, que fica no espaço do antigo presídio do Carandiru e traz a proposta inovadora de disponibilizar em seu acervo obras recém-lançadas no mercado editorial brasileiro. O programa destaca também a obra de um dos maiores poetas da língua alemã, Rainer Maria Rilke, e comenta o romance Três tristes tigres, do cubano Guillermo Cabrera Infante.

Muitas alternativas na  programação de filmes

Depois de emendar dois filmes segunda-feira, no FX, Jason Statham volta a estrelar sessão dupla hoje no Megapix, que exibe em sequência os filmes Adrenalina, às 19h55, e Adrenalina 2 – Alta voltagem, às 21h45 – e com a graça da Amy Smart como sua parceira. E no citado FX, a sessão dupla de hoje conta com Tom Cruise em Missão impossível 2, às 20h30, e Missão impossível 3, às 22h30. Na faixa das 22h, o assinante tem mais seis opções: A erva do rato, no Canal Brasil; Nome próprio, na HBO2; Ensaio sobre a cegueira, no Telecine Cult; A tentação, no Telecine Touch; Babel, na MGM; e Trama internacional, no ID. Outras atrações da programação: O clube dos corações partidos, às 21h, no Comedy Central; A dona da história, às 21h30, no Viva; Corisco e Dadá, às 21h30, no Arte 1; Redentor, também às 21h30, na Warner; e Campo dos sonhos, às 22h05, no TCM.

CARAS & BOCAS » Dama especial



Simone Castro



Eva Wilma diz, em entrevista, que atores de sua geração são a azeitoninha do empadão%u201D nos folhetins   (Jair Bertolucci/TV Cultura-22/7/10)
Eva Wilma diz, em entrevista, que atores de sua geração são a azeitoninha do empadão%u201D nos folhetins


Mais um grande nome da televisão brasileira é destaque no Damas da TV de hoje, às 21h, no Viva (TV paga). Prestes a completar 80 anos, no sábado, a atriz Eva Wilma é homenageada pelos seus 60 anos de carreira, em um depoimento emocionante em que lembra sua trajetória, que acumula parcerias com grandes atores, diretores e autores. Ela comenta, por exemplo, que a vilã Altiva da novela A indomada (Globo), de Aguinaldo Silva, foi um dos maiores desafios de sua carreira. “Foi uma grande chance que ele me deu. Toda a emissora acreditou na possibilidade de fazer uma vilã com humor. E como o Aguinaldo tem muito humor, sinceramente, deitei e rolei nas cenas que ele me dava de presente”, lembra a atriz, que cita trechos de improviso de sua personagem Maria Altiva Pedreira de Mendonça e Albuquerque. Mas, Eva Wilma lamenta que os atores de sua geração tenham menos espaço nas novelas. Conhecida por encarnar papéis marcantes na telinha, a veterana acredita que a tendência das novelas atuais é contar a história do ponto de vista dos personagens mais jovens, interpretados por atores da nova geração. “Acho que é a fórmula. Os que já vivenciaram vão entrar menos (nas tramas). A gente vira a azeitoninha do empadão.” Com a sensação de dever cumprido, ela avalia que a profissão de atriz é gratificante. “O bem-querer do público é o mais importante de tudo. Tenho consciência do quanto trabalhei. Da honestidade com a qual enfrentei o trabalho dobrado, triplicado, a jornada difícil e de que fiz tudo sempre com amor e com garra.”

MARCELO SERRADO FALA  SOBRE O MORDOMO CRÔ

O ator Marcelo Serrado é o convidado do programa Metrópolis desta quarta-feira, às 23h, na TV Cultura. Ele fala do sucesso de seu personagem Crodoaldo Valério na novela Fina estampa (Globo), que resultou no longa-metragem Crô, o filme, de Bruno Barreto. Na história, Crodoaldo é um mordomo que fica rico depois de receber uma herança de sua patroa. Com tentativas frustradas de seguir outras profissões, como cantor e cabeleireiro, ele descobre que sua felicidade está em servir e que não consegue viver sem uma patroa como a sua “Deusa do Nilo.” Crô, então, começa a entrevistar candidatas para que ele possa prestar seus serviços.

AGENDA AVALIA TERROR PSICOLÓGICO NA TELONA

No Agenda, hoje, às 22h, na Rede Minas, destaque para o recém-estreado filme Carrie, a estranha. De carona na produção, o programa fala sobre terror psicológico no cinema. A refilmagem de 2013, da diretora Kimberly Peirce (Meninos não choram), estrelado por Chloë Grace Moretz, não foge do material original: durante o baile de formatura do colegial, Carrie ignora os conselhos de sua mãe carola e descobre da pior maneira que se tornar mulher não é fácil.

ATORES DE AMOR À VIDA LEVAM PRÊMIOS DA APCA

Em cerimônia realizada anteontem, foram escolhidos os melhores na categoria da televisão pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA). Mateus Solano foi eleito o Melhor ator pelo papel de Félix em Amor à vida (Globo). Também é da trama de Walcyr Carrasco que vem a Melhor atriz, Elizabeth Savalla, que interpreta Márcia. A atriz dividiu o prêmio com Bianca Comparato pela série A menina sem qualidades, da MTV Brasil, e Sessão de terapia (GNT). A Melhor série foi Latitudes, da TNT/YouTube; Melhor diretor foi para Felipe Hirsch por A menina sem qualidades; Melhor programa infantil é Historietas assombradas, do Cartoon Network (TV paga); Melhor programa de variedades, Amor & sexo; Melhor programa  jornalístico/ documentário é Presidentes africanos, da Band/Discovery. Duas menções honrosas foram para Sai de baixo, pela iniciativa da Globosat de produzir quatro episódios do humorístico, e para o conteúdo do canal Art 1 (TV paga).

SOB MEDIDA

Dois temas que tocam diretamente o telespectador estão na ordem do dia de duas atrações da Rede Minas. O Opinião Minas, hoje, às 8h30, fala sobre planos de saúde. A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) anunciou a suspensão da comercialização, por três meses, de 150 planos de saúde de 41 operadoras em razão de excesso de queixas. E você, está satisfeito com o seu plano de saúde? Consegue marcar consultas e fazer exames normalmente, sem ter que ficar meses na fila de espera? Para falar sobre o assunto, Palova Amisses, advogada especialista em direito médico. Já às 22h30, o Palavra cruzada quer saber: qual é a hora certa de se aposentar?. Depois de 35 anos de serviço, a expectativa do trabalhador brasileiro é dependurar as chuteiras. A aposentadoria é um direito fundamental. Nos últimos anos, uma série de mudanças no sistema previdenciário trouxeram insegurança ao trabalhador. Em novembro deste ano, o INSS anunciou que o aumento da expectativa de vida da população provocou redução nos benefícios. E agora?

viva

Volta de Gaia (Ana Cecília Costa) a Joia rara (Globo). Foram cenas emocionantes.

vaia

Pânico na Band  perdeu completamente o rumo. É uma falta de graça danada.

Corromper a história é a última etapa da corrupção política - Sebastião Ventura Pereira da Paixão Jr.

Verdades e mentiras 
 
Corromper a história é a última etapa da corrupção política
Sebastião Ventura Pereira da Paixão Jr.


Advogado, especialista do Instituto Millenium


Estado de Minas: 11/12/2013


As verdades: o mensalão existiu, o julgamento foi jurídico, o Supremo cumpriu a lei, não houve lesão à ampla defesa nem ao devido processo legal. As mentiras: “O mensalão não existiu”, “o julgamento foi político”, “o Supremo não cumpriu a lei”, “houve lesão à ampla defesa e ao devido processo legal”. Entre verdades e mentiras, surge uma certeza inquestionável: tem gente querendo transformar uma “estória” em história, ou seja, além da corrupção parlamentar, agora querem corromper o contexto histórico do Brasil. E a última etapa da corrupção política é a corrupção da história, pois, quando a lei não mais abriga os desonestos, a única alternativa é tentar transformar a Justiça em uma farsa e a verdade em uma mentira.

Vejam a que ponto a degeneração moral chegou em nosso país! Ora, nem a ditadura militar, que tantas atrocidades cometeu, ousou ser tão corrupta. É assustador reconhecer, mas os fatos não permitem outra interpretação. Infelizmente, o projeto de poder que está em curso no Brasil é capaz de tudo. Não vamos nos iludir, ou melhor, vamos abrir bem os olhos. Não há limites éticos. Não há limites legais. Não há limites fáticos. Pensam que tudo pode ser manipulado, pensam que tudo pode ser posto a serviço dos interesses do poder, pensam que tudo pode ser corrompido. Pensam que são deuses políticos, quando, na verdade, não passam de simples criminosos do poder. As recentes desairosas manifestações contra o Supremo Tribunal Federal constituem fatos de gravidade singular. Sem cortinas, “nunca antes na história deste país” houve tamanho acinte institucional e tamanha baixeza democrática. Quando do inverno da ditadura militar, tivemos na liderança altiva do nobre senador Paulo Brossard uma voz firme, judiciosa e combativa contra os usos e abusos do desmando fardado. Apesar de todos os riscos e perigos, o notável político gaúcho cumpriu o seu dever, fazendo da palavra um instrumento de emancipação da liberdade. Além de Brossard, havia Tancredo, Ulysses, Covas e tantos outros que, unidos em torno do velho MDB, trabalharam organicamente pelo restabelecimento da verdade democrática. E, assim, por meio de uma ação política séria e engajada, o Brasil, no amanhecer de um novo dia, voltou a reencontrar-se com a lei e com a virtude.

Lá se vão mais de 25 anos desde 1988 e nosso país, mais uma vez, se vê numa encruzilhada de legalidade. Nos atuais redutos totalitários, o uso massivo de propaganda oficial quebra a paridade dos pleitos eleitorais, tornando o direito de voto um mero ato de homologação. Como a independência do espírito crítico é a principal ameaça para a burrice autoritária, não é de espantar o progressivo sucateamento do ensino público brasileiro. O próximo passo será a demonização da imprensa livre e do exercício da liberdade de expressão. O neoperonismo é um exemplo que mora ao lado e já diz o que tem que dizer. Iremos, então, simplesmente calar ou passaremos a falar, com coragem, as verdades que o Brasil precisa escutar?