segunda-feira, 8 de julho de 2013

"É hora de substituir o Facebook", diz cofundador do The Pirate Bay

folha de são paulo
MARIANNA ARAGÃO
DE SÃO PAULO


Cofundador de um dos sites mais longevos e populares da internet, o The Pirate Bay, de compartilhamento de arquivos, Tobias Andersson, 35, acredita que uma nova rede social, "totalmente independente de governos e empresas", possa substituir o Facebook nos próximos anos.
"Eles têm sido muito bons em conectar pessoas, companhias e veículos de comunicação, em um só local", disse o sueco, que esteve nesta semana no Brasil, à Folha.
Eduardo Knapp/Folhapress
Tobias Andersson, cofundador do site de downloads Pirate Bay, em entrevista para a Folha durante o envento YouPIX
Tobias Andersson, cofundador do site de downloads Pirate Bay, em entrevista para a Folha durante o envento YouPIX
Segundo ele, porém, políticas frágeis de privacidade e a necessidade de monetização do negócio tornaram a rede social uma ameaça à liberdade da internet.
"Adoraria que uma nova empresa, com as mesmas funções do site, porém independente, surgisse nos próximos anos."
Andersson, que está afastado da operação do site há quatro anos, mas ainda mantém contato com seus atuais coordenadores, disse ter convicção que as grandes empresas de internet cooperam com os órgãos de segurança nacional americanos.
Ele defendeu Edward Snowden, que revelou um esquema de espionagem virtual do governo dos Estados Unidos. "Os Estados Unidos é quem deveria estar sendo processado, e não ele."
Fundado há dez anos, o Pirate Bay tornou-se o maior site de compartilhamento de conteúdo gratuito do mundo.
Com o sucesso, entrou em confronto com gravadoras, que acusaram o site de facilitar a pirataria. Em 2009, três dos fundadores foram condenados na justiça sueca --um deles permanece preso.
Andersson, que não foi processado, hoje estuda sistemas de informação em uma universidade da Suécia e prepara um livro sobre a história do site.
Veja os principais trechos de sua entrevista:
*
Folha - Como o The Pirate Bay conseguiu sobreviver e se firmar como o maior site de downloads do mundo?
Quando começamos, achávamos que iríamos durar um ou no máximo dois anos, que foi o tempo de vida de outros sites de compartilhamento, como o Kazaa. Mas continuamos e já temos dez anos.
Isso aconteceu porque decidimos logo que não íamos desistir diante de problemas técnicos ou ameaças legais. Algumas pessoas que estavam lá eram muito boas em tecnologia e tomaram como questão de honra de manter o site no ar.
Outra questão é porque estamos estabelecidos na Suécia, que tem uma legislação relativamente tranquila quanto às questões de propriedade intelectual.
O que mudou para o site após as condenações de 2009?
Tivemos de mudar os servidores para fora da Suécia e os fundadores precisaram se afastar: um está preso na Suécia; outro mudou-se para o Vietnã e um terceiro aguarda revisão da sentença.
Mas a internet é grande, não importa se tivermos que mudar de um país para outro, sempre há para onde ir. A computação em nuvem ajudou muito nisso, pois com ela poucas pessoas no mundo sabem de fato onde os servidores estão hospedados.
Qual é o futuro do Pirate Bay?
Acredito que o site deveria fechar porque há novas revoluções ocorrendo, como a provocada pelas impressão 3D, e é preciso dar espaço para outras ideias, que lidem com essa realidade, surjam. Por estar há dez anos no ar, as pessoas estão confortáveis, pensando que sempre o site sempre estará lá. Se fechasse alguém sentiria necessidade de construir algo novo.
Serviços de streaming, como o Spotify, diminuíram a relevância da plataforma?
De alguma forma, sim. O Spotify tornou o download menos útil porque é um serviço fácil, onde se encontra quase tudo.
Mas há problemas na plataforma, como a ausência de artistas independentes e o fato de que ela é controlada por grandes gravadoras, como Sony, EMI e Warner. A maior parte do dinheiro obtida com a venda da música vai para essas empresas e pouco fica com os artistas. Continua não beneficiando o artista, mas a indústria da música.
Com o crescimento dos serviços de streaming, a batalha com as gravadoras acabou?
A próxima grande batalha virá em consequência da revolução causada pelas impressoras 3D, que está apenas no começo.
A impressora tridimensional hoje custa muito dinheiro e só imprime plástico. Mas quando começar a custar poucos dólares e poder imprimir em outros materiais, como o metal, teremos pessoas comuns produzindo produtos como carros e eletrônicos.
Quando isso ocorrer, a briga vai ser mais pesada, pois vai ameaçar empresas poderosas --como a automobilística, a de armas e a do petróleo e até países, pois muitos dependem dessas indústrias. Comparado com o que está por vi, discussões como as trazidas pela Sopa (projeto de lei antipirataria dos EUA) são irrelevantes.
Como o senhor avalia o crescimento das redes sociais?
Quando o Facebook surgiu, achávamos que iriam ser populares por dois anos, e depois entrariam em declínio como pensávamos quando criamos o site, em 2003. Mas eles têm sido muito bons em conectar as pessoas com empresas, veículos de comunicação, em embutir funções, como "curtir" e publicar, em um único lugar.
Há questões problemáticas, no entanto. Como o caso Snowden mostrou, tudo o que todos dizem em qualquer lugar nesses sites é observado pela NSA (Agência de Segurança Nacional dos EUA). Talvez não pareça um grande problema hoje, mas se continuar assim, no futuro o governo dos EUA terá o controle de toda a internet.
Eu adoraria que uma nova empresa surgisse, como o Facebook, todas as suas funções, mas que fosse independente. É hora de substituir o Facebook.
Qual a sua opinião sobre o caso Snowden?
As coisas que ele revelou são espantosas. A forma como os Estados Unidos pressionou a União Europeia também. O governo americano é quem deveria estar sendo processado, e não Snowden.
O sr. acredita que as redes sociais podem se tornar uma nova forma de organização política, no futuro?
Eles são uma forma ótima de mostrar ao governo e as pessoas no poder o que você pensa. Mas é apenas uma ferramenta, e não a revolução em si. É como levantar um cartaz em um protesto. A real revolução ocorre nas ruas.
Vocês apoiam os partidos piratas (organizações políticas surgidas na Europa que pregam a transparência e o fim dos direitos autorais)?
Pensamos da mesma forma sobre algumas coisas, apesar de algumas bandeiras dos partidos variarem em diferentes países. Eu realmente apoio os piratas em todo o mundo pois acredito que eles podem ter um grande papel na evolução da internet. Acho, porém, que não deveriam focar apenas em obter posições nos governos, mas em usar a internet para obter suas causas.
Qual será a mensagem do seu livro?
Falarei de algumas lições que aprendi durante a criação e quando estive no Pirate Bay. Uma delas é que, se você é apaixonado pela internet como nós, só precisa de confiança para fazer alguma coisa na web, pois ela nos oferece as melhores ferramentas para criar e mudar.
Outra lição é que não precisamos de políticos para mudar nada. Os políticos tradicionais são lentos demais para acompanhar a tecnologia e a revolução digital. Quando criam uma lei, diz respeito a algo que fazíamos cinco anos atrás. Portanto, não se preocupe com eles, apenas faça o que quiser, e faça agora. Quem controla a internet somos nós, os usuários dela.

Quadrinhos

folha de são paulo
CHICLETE COM BANANA      ANGELI
ANGELI
PIRATAS DO TIETÊ      LARTE
LARTE
DAIQUIRI      CACO GALHARDO
CACO GALHARDO
NÍQUEL NÁUSEA      FERNANDO GONSALES
FERNANDO GONSALES
MUNDO MONSTRO      ADÃO ITURRUSGARAI
ADÃO ITURRUSGARAI
BIFALAND, A CIDADE MALDITA      ALLAN SIEBER
ALLAN SIEBER
MALVADOS      ANDRÉ DAHMER
ANDRÉ DAHMER
GARFIELD      JIM DAVIS
JIM DAVIS

Daniel Pellizzari

folha de são paulo
Zelda na favela
Game é tentativa de exorcizar e comunicar a experiência de crescer com um pai violento
Um vasto castelo abandonado, um garoto franzino dotado de um chifre solitário, uma menina cega.
Em "Ico" (PlayStation 2 e PlayStation 3), primeiro jogo do japonês Fumito Ueda para a Sony, a solidão é esmagadora, mas (talvez justamente por isso) o game não é desprovido de beleza.
Apesar de o game quase não ter combates --que acontecem somente quando sombras surgem para tentar levar Yorda, a menina--, a mecânica baseada em "puzzles" que abrem novas áreas para fazer avançar a exploração e a narrativa lembram a clássica série "The Legend of Zelda", da Nintendo.
Meu irmão, nintendista feroz e desconfiado de tudo o que vem da Sony, certa vez descreveu "Ico" como "Zelda para melancólicos". Não posso nem quero fazer nenhum reparo a essa descrição.
No game independente "Papo & Yo" (PS3/PC; disponível na PSN, no Steam e no GOG), o jogador controla um moleque de não mais de nove anos que explora uma favela cuja arquitetura, mais do que acidental, tem toques de absurdismo.
Barracos se elevam aos céus, empilhados de um modo quase impossível. Assim que aparece na tela o primeiro "puzzle" a sensação é familiar, e quando o nome do garoto em roupas escolares se revela --Quico, um menino brasileiro--, a influência dos jogos de Fumito Ueda se torna cristalina.
Mesmo sem essa referência direta seria possível reconhecer a dívida através de outra marca dos jogos de Ueda: a interação progressiva e crucial com um personagem não jogável --neste caso, com o monstro Papo, que ajuda o menino, mas ao comer os sapos que passeiam pelo cenário é tomado de fúria incontrolável, virando de aliado imprescindível a grande ameaça.
No início do jogo, a cena de abertura mostra Quico se escondendo no interior de um closet. Um rugido se faz ouvir, a tensão cresce e, pelas frestas da porta, se enxerga um monstro à procura de alguém. Então, uma porta mágica surge na parede, Quico entra por ela e o jogo tem início.
Ao lembrarmos disso, o jogo se ilumina: Papo, o monstro, não é uma entidade exclusiva daquele novo mundo com barracos empilhados até o infinito. É uma ameaça doméstica que existe onde Quico estiver, e de quem ele depende e se ressente em igual medida. No decorrer do game, de modos que não seria justo revelar aqui para quem ainda não jogou, isso fica ainda mais patente.
"Papo & yo", uma criação comovente do colombiano Vander Caballero, é uma tentativa de exorcizar e comunicar a experiência de crescer numa casa com um pai alcoolista e usuário de drogas, dado a comportamento violento.
Mas resumir o game dessa forma --ou explicar em detalhes as mecânicas-- é um reducionismo que banaliza e dá uma impressão enganosa sobre a experiência.
Seria como dizer que "Shadow of the Colossus", outro game do criador de "Ico", consiste em procurar e assassinar monstrões, ou que "Magnólia" fala sobre um grupo de pessoas tristes ou que "Guerra e Paz" fala de um monte de gente tentando sobreviver no meio de uma guerra. No fim das contas, como sempre, é preciso ler o livro, assistir ao filme e jogar o jogo para sentir, em algum nível, o que é viver a vida.

Museu da espanha exibe fóssil brasileiro cheio de adulterações

folha de são paulo
GIULIANA MIRANDA
ENVIADA ESPECIAL AO RIO

O fóssil de um pterossauro brasileiro superconservado é destaque em um dos principais museus de ciência do mundo, o CosmoCaixa, em Barcelona. Milhares de pessoas viram o bicho, inclusive muitos especialistas, mas só um paleontólogo achou que havia algo errado e foi a fundo no assunto. Acabou descobrindo uma falsificação.
A peça era vista por muitos com um dos exemplares mais preservados do Cretáceo Inferior (entre 100 milhões e 145 milhões de anos atrás).
O trabalho de Fabio Dalla Vecchia, no entanto, mostrou que se trata de uma espécie de "Frankenstein" paleontológico: uma composição de vários fósseis diferentes que são montados para darem a aparência de que são os restos de apenas um indivíduo.
Editoria de Arte/Folhapress
E mais: apesar de ser uma composição de vários animais diferentes, os cientistas não conseguiram provar que nenhum deles era, de fato, um Anhanguera piscator, como diz o museu.
Algumas partes da peça nem fósseis eram, mas sim pedaços de plástico pintado.
"A importância científica desse exemplar é bem menor do que nós pensávamos no início", diz Dalla Vecchia.
Para descobrir a montagem, o cientista e seus colaboradores fizeram um verdadeiro trabalho de detetive.
O MÉTODO
Com a autorização do museu, o grupo olhou o material com lentes de aumento. Já foi o suficiente para detectar algumas partes da composição, sobretudo as de plástico.
O crânio e a mandíbula, o mais relevante cientificamente, foram removidos e submetidos a exames de luz ultravioleta e de tomografia computadorizada. O esqueleto não podia ser removido.
Eles identificaram que 50% do crânio e da mandíbula eram reconstituídos. Na parte que era verdadeira, houve uma combinação de partes de vários indivíduos.
O cientista diz que devem existir vários casos semelhantes, já que essas falsificações são relativamente comuns.
Uma das mais famosas foi apresentada pela Sociedade Geográfica Nacional dos EUA em 1999 como o "elo perdido" da evolução dinossauro-pássaro. Batizado de Archaeoraptor liaoningensis, ele parecia ter o corpo de um pássaro com um rabo de dinossauro. Algum tempo depois, os cientistas viram que eram dois animais distintos colocados para parecerem um só.
O Museu Nacional do País de Gales foi outro atingido. Após 116 anos exibindo um suposto fóssil de Icthyosaurus, um réptil marinho, a instituição descobriu que se tratava de uma combinação de duas criaturas marinhas, com pedaços feitos de gesso.
CRIME COMPENSA?
Fósseis bem preservados são mais valiosos. Por isso, há muita gente que tenta dar uma "forcinha" para a natureza, criando peças que são verdadeiros Frankensteins.
O antigo habitat do pterossauro Anhanguera piscator, na chapada do Araripe, no Nordeste, concentra uma grande diversidade de répteis voadores e é famoso pela boa conservação dos fósseis.
Por isso, muito embora venda de fósseis no Brasil seja proibida, é comum que pessoas explorem a área clandestinamente, já que eles são facilmente encontrados.
O trabalho de Della Vecchia foi apresentado no Rio Ptero, simpósio internacional de pterossauros no Rio, e provocou reações exaltadas da plateia. Ironicamente, por motivos distintos.
A maioria dos pesquisadores brasileiros ressaltou que esse é o tipo de coisa que acontece quando se compra fósseis ilegalmente. Já os estrangeiros ficaram mais preocupados com a falta de confiabilidade de seus fornecedores regulares.
O museu, porém, diz não ter a intenção de tirar a peça de exposição (leia ao lado). Jorge Wagensberg, diretor científico da Fundação la Caixa, diz que, em breve, a informação de que se trata de uma composição será inserida na descrição da peça.

OUTRO LADO
Diretor diz que instituição sabia da montagem e minimiza o caso
DA ENVIADA AO RIOApesar de a placa do fóssil no museu não fazer menção ao fato de que se trata de uma composição, Jorge Wagensberg, diretor científico da Fundação la Caixa, divisão de um banco espanhol que é dona do museu, disse à Folha que sabia desde o início que se tratava de uma montagem com vários animais.
Segundo Wagensberg, ele comprou o fóssil pessoalmente em 1998, em Denver, nos EUA. Ele diz ter sido acompanhado por dois especialistas.
"Só pelo preço eu já saia que não era original."
Paleontólogos ouvidos pela reportagem, no entanto, disseram que duvidam de que o museu soubesse do "Frankenstein" desde o início.
"Você queria o quê? Que eles reconhecessem que foram enganados?", perguntou, rindo, um deles.
Questionado pela reportagem sobre o fato de não haver qualquer menção no museu sobre o fóssil ser uma composição, considerando que ele diz que isso era um fato conhecido, ele disse: "A área para descrição de cada exemplar é uma placa muito pequenininha. Se fôssemos detalhar tudo, não caberia". Ele diz, no entanto, que vai colocar um pequeno aviso.
Segundo Wagensberg, as composições são um recurso que pode ser usado sem prejuízo quando objetivo é explicar ao público alguns aspectos mais gerais, como a aparência de um fóssil de perto.
Questionado se considerava correto comprar fósseis de países em que esse comércio é considerado ilegal, o diretor disse que só poderia responder sobre os aspectos científicos. (GM)
    KEPLER
    Nasa vai tentar ressuscitar telescópio caçador de planetas
    DE SÃO PAULO - A Nasa começará a testar nas próximas semanas alternativas para tentar ressuscitar o telescópio espacial Kepler, que pifou em 11 de maio, após uma pane em um de seus giroscópios.
    De acordo com representantes da agência espacial americana, desde que o incidente aconteceu, diversos especialistas têm pensado em maneiras de fazer o dispositivo voltar a funcionar. Os testes para ver a viabilidade de desses projetos deve começar em breve ma Califórnia.
    Lançado em março de 2009 com o objetivo de localizar novos planetas, sobretudo uma possível "gêmea" da Terra, o Kepler foi equipado com quatro giroscópios. Ele poderia operar só com três deles. Mas, como um já havia pifado no ano passado, a nova falha foi crítica.
    Apesar das várias alternativas, a Nasa destaca de que não há garantia de que o satélite, que já encontrou mais de 3.200 candidatos a planeta, volte mesmo à ativa.

      Claudia Collucci

      folha de são paulo
      FOCO
      Médico cria jogo que ensina a aplicar insulina em diabéticos
      CLÁUDIA COLLUCCIDE SÃO PAULOUm médico do SUS quer sair de férias, mas não consegue porque no posto de saúde em que trabalha não há outro colega que saiba tratar de pacientes diabéticos que dependem de insulina.
      Ele decide, então, treinar um jovem médico. Poderia ser uma história real, mas é o enredo de um game desenvolvido por um médico paranaense, que está na final de uma competição internacional que começa hoje em São Petersburgo, na Rússia.
      Fã de jogos como Battlefield, o endocrinologista Leandro Arthur Dieh, 35, desenvolveu o game como tese de doutorado na Faculdades Pequeno Príncipe, de Curitiba (PR). A ideia surgiu a partir de sua experiência na rede pública de saúde.
      "Testemunhei a dificuldade que os médicos não especialistas em diabetes têm em lidar com a insulina. Muitos retardam a indicação porque não sabem manejá-la. E quem sofre é o paciente do SUS."
      Estudos mostram que só 24% dos diabéticos no país estão bem controlados. O restante corre o risco de desenvolver complicações como cegueira, insuficiência renal e amputações em razão da glicemia descompensada.
      Chamado de InsuOnLine, o jogo ensina a aplicação de insulina em diversos perfis de diabéticos. A complexidade dos casos cresce com o passar dos níveis, até atingir situações como a que o paciente usa várias doses de insulina e sofre de hipoglicemia.
      Segundo ele, o jogo começou a ser criado no início de 2011 em parceria com Rodrigo Martins de Souza, sócio de uma empresa de Londrina especializada em jogos.
      "Nosso desafio foi desenvolver um game para o ensino, mas que também seja divertido. Há muitos simuladores chatíssimos, que as pessoas só jogam obrigadas."
      Embora o público-alvo seja médicos do SUS (as medicações e as orientações são voltadas para o que há disponível na rede pública), Dieh reconhece que os profissionais mais velhos terão mais dificuldade em jogar.
      Com o game quase pronto, o próximo passo será testá-lo com um grupo de médicos reais: metade deles vai jogar o game, e a outra metade vai assistir a uma palestra ou aula sobre o tema.
      "Vamos comparar o aprendizado dos dois grupos sobre o uso de insulina nas situações mais comuns em um posto de saúde", diz Dieh, também professor da Universidade Estadual de Londrina.
      O game venceu a edição brasileira da Imagine Cup 2013 na categoria Cidadania Mundial. Isso o credenciou para disputar na final mundial, na Rússia.
      O lançamento comercial do jogo está previsto para 2014, quando o médico concluir a tese de doutorado.

        Minha História - Yasmine El Baramawy

        folha de são paulo
        Engolida pela praça
        Durante protesto na Tahrir, centro do Egito, jovem foi estuprada por multidão, assim como tem ocorrido com várias mulheres nos últimos meses em manifestações
        DIOGO BERCITOENVIADO ESPECIAL AO CAIRORESUMO A musicista Yasmine El Baramawy, 30, protestava na icônica praça Tahrir em novembro passado quando, arrastada por uma multidão de homens, foi estuprada repetidas vezes. À Folha ela diz que aterrorizar uma mulher de maneira que ela deixe de se manifestar é, também, uma forma de desrespeitá-la. Ontem, Baramawy voltou à praça, escoltada por amigos. "Aprendi a ir em grupos."
        Eu estava na praça Tahrir em 23 de novembro, em um grande protesto contra a declaração constitucional de Mohammed Mursi. Fiquei perto dos confrontos com as forças de segurança.
        Naquele dia, todos estávamos unidos contra a Irmandade Muçulmana.
        Um pouco após o pôr do sol, quando já estava escuro, um homem me agarrou dizendo que estava me protegendo --só que de uma coisa que não estava ali. Ele começou a me puxar.
        No começo, eram 15 homens. Então eles se tornaram uma multidão. Era imenso.
        Não sei dizer, talvez uma centena.
        Algumas pessoas viram o que estava acontecendo comigo, mas é difícil dizer o que estava ocorrendo. Não sei quantos deles estavam realmente tentando me ajudar. Tudo estava tão confuso...
        Muitos manifestantes lutaram por mim ali, mas não era o suficiente. Os estupradores eram muitos, e eles tinham armas. Os ativistas em Tahrir não estão preparados para isso, eles não são membros de gangues ou nada assim.
        HUMILHAÇÃO
        Eles me estupraram de diversas maneiras com as mãos. Não com o pênis. Um homem veio por trás e me estuprou com um canivete. Uma outra mulher teve a vagina e o ânus abertos com uma faca, foi muito pior.
        O que acontece não é só uma violência sexual. São crimes violentos. Eles humilham as mulheres.
        Eles abusaram de mim na Tahrir e então me levaram a um canto próximo da praça. Continuaram. Fui arrastada a outra rua, depois mais adiante, então me puseram em cima de um carro e seguiram me estuprando.
        Estava de costas, e eles pressionavam as mãos em mim para que eu não pudesse me mover.
        Puseram um capuz na minha cabeça e dirigiram até uma região distante. Foi um caminho longo, talvez dez, quinze minutos.
        Lá, alguns moradores perceberam o que estava acontecendo e lutaram por mim. Consegui ser resgatada.
        Nunca tinha ouvido falar sobre esse tipo de violência no Egito. Eu ainda vejo cenas daquele dia. Às vezes, sinto o estupro no meu corpo. Preciso segurar minhas roupas.
        Tenho sonhos ruins também. Fico irritadiça. Tenho alguma coisa dentro de mim e preciso gritar de repente.
        Há um grande desrespeito pela mulher no Egito. A maior parte das pessoas pensa que as mulheres são escravas, que são coisas que eles podem comprar. Principalmente os mais velhos.
        ESTIGMA
        O estupro deixa um estigma na mulher e silencia a família. Isso no mundo todo, não apenas no Egito. Mas, depois que comecei a falar sobre isso, e outras mulheres também, ficou mais fácil de lidar. Tenho, além disso, o apoio dos meus amigos. Muitas pessoas agem como se nada tivesse acontecido, porém.
        Acho que é também um desrespeito quando, de alguma maneira, uma mulher é impedida de participar das manifestações por ter medo de estar ali.
        Eu nunca me arrependi de ter ido à praça Tahrir. Eu me juntei à revolução, naqueles dias. Essa era a coisa certa a ser feita. Não penso nisso.
        Aprendi, agora, a ir em grupos. Naquele dia, estava com outra amiga, que também foi estuprada quando nos separaram. Hoje, meus amigos vão me levar para o protesto. Estou esperando por eles.
          SAIBA MAIS
          Egito tem onda de estupros com manifestações
          DO ENVIADO AO CAIRONas sombras das renovadas manifestações em massa no Egito, o país testemunhou na última semana nova onda de abusos sexuais contra mulheres. Ao menos 91 foram estupradas no período de quatro dias, de acordo com a Human Rights Watch.
          Porém, para Fatemah Khafagy, líder feminista de um escritório governamental de combate ao estupro, a situação tem melhorado.
          Segundo ela, a polícia passou a cooperar com os ativistas de maneira inédita desde a queda do presidente Mursi, na quarta.
          Khafagy acredita que a recente onda de estupros é obra de islamitas, ainda que não tenha provas disso.
            ANÁLISE
            Drama no país se desenrola seguindo roteiro conhecido
            SIMON SCHAMADO "FINANCIAL TIMES"O Cairo está passando pelo terceiro ato da paixão revolucionária, aquele no qual a euforia das ruas se depara com as armas dos militares.
            Por enquanto, os dois lados estão trocando um abraço fraternal.
            Os soldados, trazendo aos ombros a bandeira tricolor do país, são recebidos como heróis do povo, como aqueles que libertaram a população de opressores disfarçados em libertadores.
            É um momento de festa e fogos de artifício. Desta vez tudo será diferente.
            Mas nunca é. O primeiro ato é a "Concretização do Impossível": o poder autocrático por muito tempo visto como indestrutível se desintegra de dentro para fora, e a crise é adiantada quando o governo termina paralisado pelo imenso número de almas que tomam as ruas.
            O segundo ato desanima um pouco, e vai adiante em forma de "Divisão dos Vitoriosos", com cada parte alegando personificar os objetivos da revolução, ainda que as metas de cada grupo estejam em conflito inconciliável.
            Uma facção fica por cima, e promete, com a mão no coração e o olhar voltado à Providência lá em cima, respeitar a liberdade e as opiniões dos oponentes.
            Logo em seguida, age para esmagá-los e monopolizar o poder.
            Os perdedores se resignam ao papel de oposição leal, até o momento em que percebem que sua sobrevivência mesma está em jogo.
            A parte tediosa --redigir constituições, depositar votos, fazer discursos-- vai se desenrolando, mas parece cerveja chocha quando comparada à embriaguez deslumbrante da comunhão com as massas.
            O primeiro ato é como o agitar de uma varinha de condão. A liberdade fará com que chovam pães e peixes; ninguém governará a não ser em nome do povo unido; os congestionamentos de trânsito do Cairo serão coisa do passado. Espantosa, revoltante e imperdoavelmente, nada disso se materializa.
            Um ano inteiro se passou e a vida de ninguém está melhor. Que escândalo!
            É evidente que o mago era um trapaceiro.
            Hora de tirá-lo de cena.
              Nobel da Paz pode ser nomeado para vice-Presidência
              DO ENVIADO AO CAIROUm dos fundadores do movimento de oposição Kefaya ("basta", em árabe), embrião dos protestos que culminaram no golpe militar da semana passada, George Ishak diz que o diplomata Mohamed ElBaradei poderia liderar o Egito de maneira justa.
              ElBaradei, prêmio Nobel da Paz em 2005, chegou a ser anunciado como primeiro-ministro do Egito no sábado para, em seguida, ter sua nomeação desmentida pela própria Presidência.
              Ontem, um porta-voz da Presidência disse que "provavelmente" ElBaradei se tornaria vice-presidente. O cargo de primeiro-ministro ficaria com o social-democrata Ziad Baha al-Din. A confirmação deve sair hoje.
              À Folha, Ishak afirmou que o impasse em torno do cargo de premiê foi criado pelo partido salafista Al-Nur, em retribuição ao fechamento de canais de televisão islamitas pelo Exército nos momentos seguintes ao golpe.
              "Estamos lidando com isso. Eles querem uma garantia de que os canais permanecerão abertos. A oposição deles não tem a ver com o nome de ElBaradei."
              PROTESTOS
              Tanto a oposição quanto os simpatizantes do presidente deposto Mohammed Mursi organizaram, ontem, manifestações em massa pelo país.
              Em Alexandria, ouviram-se tiros durante os protestos e 29 pessoas ficaram feridas ao longo do dia, segundo o Ministério da Saúde
              A promotoria pública do Egito pediu a prisão de dois membros de alto escalão da Irmandade Muçulmana, de acordo com a mídia local ""Essam el-Erian e Mohamed el-Beltagy. Eles são acusados de incitar a violência contra durante os protestos.
              "Está claro que há preconceito contra a Irmandade", disse Abdul Rahman El-Barr, um dos líderes da organização. "Eles não entendem o significado de democracia'."
              Gehad el-Haddad, porta-voz dos islamitas, afirmou à reportagem estar frustrado com a reação internacional ""por enquanto, cautelosa em condenar os eventos políticos recentes no Egito, onde o primeiro presidente democraticamente eleito foi deposto.
              "Outros países podem fazer a diferença. O apoio deles fez com que [o ex-ditador Hosni] Mubarak ficasse no poder por quase 30 anos", afirmou. "Está claro que a voz do povo só é ouvida se coincidir com os interesses internacionais", disse el-Haddad.

                Rubens Ricupero

                folha de são paulo
                Tirar os índios da praia
                As respostas dos governos aos protestos tiveram apenas objetivo de comprar a volta à normalidade
                As respostas dos governos aos protestos tiveram apenas objetivo de curto prazo: comprar a volta à normalidade a qualquer preço. Lembram a explicação de Brizola, no exílio em Lisboa, em entrevista na qual Hermano Alves se surpreendia com a moderação de seus propósitos: "Tenho primeiro de tirar os índios da praia para poder desembarcar!".
                Suspender o aumento das tarifas era o mínimo denominador comum das manifestações e foi o único pedido atendido. Não resolve nada no longo prazo nem garante a melhora dos transportes públicos. Intelectuais estrangeiros como Castells elogiam o espírito democrático dos governantes brasileiros, contrastando-o com a obstinação dos turcos.
                Confundem com o desejo de atender à população o que pode não passar de maneira diferente de dizer não. Afinal, adiar as soluções práticas equivale à negação.
                Se não é assim, por que não fazer logo o que depende só da decisão do Executivo? A bandeira mais frequente após o preço das passagens era o protesto contra a prioridade errada de estádios faraônicos.
                Admitindo-se a dificuldade do governo em confessar que o melhor teria sido construir hospitais e facilitar o transporte, restava algo fácil e à mão. Bastava anunciar que recursos fantásticos reservados à mais mentirosa das prioridades --o trem-bala-- seriam destinados à construção de metrôs e trens suburbanos.
                Ora, o que se fez foi o contrário: reafirmar o enlouquecido projeto rejeitado por virtual unanimidade do país. O governo confirma que suas prioridades continuam tão confusas como antes. Prova de que não houve contrição, nem desejo sincero de emenda, é que, na mesma semana, renovaram-se as manobras da contabilidade criativa para dissimular aumento de gastos e da dívida pública bruta.
                Portanto, omite-se o que apenas depende do Executivo. Em lugar de medidas simples e imediatas, embarca-se o Congresso e a população no mais complexo e demorado dos desafios: a reforma do sistema político. Ainda se por milagre a reforma sair perfeita, os efeitos sobre a mobilidade urbana ou melhorias na saúde e educação serão, na melhor das hipóteses, indiretos e tardios.
                O pior é renovar a velha ilusão brasileira de esperar da reforma política mais do que ela pode dar, o que vem gerando frustração desde o Ato Adicional e a Lei Saraiva do Império. As propostas do plebiscito são insuficientes. Lidam com problemas do passado. Nos países onde tudo isso já existe há muito tempo, discute-se como superar a crise da democracia representativa mediante meios diretos de controle e participação. Para esse problema atual da era das redes sociais e da internet, o plebiscito nada sugere.
                Tampouco serve para evitar gastos da verba pública com estádios superdimensionados, motivados por um projeto triunfalista de poder. Ou para impedir falsas prioridades como o trem-bala, contabilidade criativa, inflação de ministérios inúteis e outros produtos de governos incompetentes.
                O que obriga a uma conclusão: o plebiscito é uma fuga para frente, isto é, não podendo ou querendo fazer o possível agora, dilui-se o desafio na geleia geral das coisas remotas e impossíveis.

                A Vida sem Neymar - PVC

                folha de são paulo
                PRANCHETA DO PVC
                O Santos sabe que só tem um caminho: revelar. Muito melhor do que contratar jogadores medianos
                PAULO VINÍCIUS COELHO
                A segunda vitória do Santos depois da despedida de Neymar aconteceu graças à mesma política de revelações que fez surgir na Vila Belmiro o maior talento brasileiro dos últimos anos. Ontem, o time campeão da Copa São Paulo, em janeiro, estava no Morumbi. O mesmo técnico, Claudinei Oliveira, e quatro destaques daquela campanha --Neílton, Leandrinho, Giva e Pedro Castro.
                O firme zagueiro Gustavo Henrique completou a lista dos representantes das divisões de base. Antes do clássico, o presidente em exercício, Odílio Rodrigues, fez questão de tratar Claudinei Oliveira como "técnico do Santos." A médio prazo, a ideia pode mudar. Mas a atuação no Morumbi dá crédito a quem apostar na nova geração de meninos.
                Claudinei escalou Leandrinho para fechar o lado direito e deixou Neílton atacar pela esquerda (veja ilustração). No segundo tempo, apostou em Giva como centroavante, substituto de Willian José. Em seu primeiro toque na bola, o primeiro gol santista.
                Como o presidente Luis Alvaro de Oliveira Ribeiro escreveu ontem na Folha, revelar e manter jogadores deu mais receita ao Santos do que a política exportadora de outros tempos.
                O contraste com a falta de rumo do São Paulo se evidencia justamente nesse quesito.
                Há quatro anos, uma das razões da troca de Muricy Ramalho por Ricardo Gomes era tentar melhorar a transição das divisões de base de Cotia para o CT dos profissionais.
                Razão semelhante produziu a demissão de Muricy do Santos há um mês. O Santos sabe que só tem um caminho: revelar. Muito melhor do que contratar os jogadores medianos disponíveis no mercado que agradam a Muricy.
                Às vezes, melhor até do que contratar craques consagrados, como Ganso. Ontem, Milton Cruz deslocou Ganso para a esquerda, por entender Jadson como seu armador mais produtivo.
                O maior problema do São Paulo não parece ser a falta de talento, mas a ausência de alguém capaz de comprometer os jogadores e fazê-los se comportarem como um time.
                Nos últimos quatro anos, Cotia forjou o melhor jogador do Tricolor --Lucas. Mas o baixo aproveitamento da base não ajudou a produzir um time vencedor.
                Isso coloca Juvenal Juvêncio numa encruzilhada.
                Contratar Muricy é voltar no tempo, de certa forma admitir o fracasso da operação Cotia, neste momento. Não o contratar é comprar briga com a arquibancada.
                Ver nascer uma nova geração de garotos santistas justamente no clássico é perceber que o rival foi mais feliz na política que Cotia deveria representar.
                Claro, é precoce dizer que os novos meninos da Vila representarão sucesso. Mas é justa a lembrança de que esse caminho levou o Santos a seus períodos mais vitoriosos, de Pelé a Neymar.
                À CHILENA
                Valdivia teve ótima atuação contra o Oeste, no sábado. Não a ponto de ser eleito o melhor do jogo, porque Leandro fez dois gols e deu uma assistência. Mas o chileno foi capaz de, de novo, dar esperança. Se tiver sequência de partidas e sangue nas veias, Valdivia será importante para o Palmeiras.
                COMPETITIVIDADE
                A palavra de ordem do Corinthians hoje não é equilíbrio. Tite prefere usar a expressão competitividade. Foi o que o Pato mostrou na Fonte Nova, para ser o melhor em campo. Se for competitivo, quiser ser melhor do que os outros, o atacante pode ser titular do time e, quem sabe, até da seleção.

                KLEDIR RAMIL - Festas de aniversário

                Zero Hora - 08/07/2013


                1 ano de idade. Tema tradicional: “palhacinho”. Gasta-se uma grana e quem menos aproveita é o aniversariante, que não tem a menor ideia do que está acontecendo. Depois de duas horas de burburinho, a criança não aguenta mais, principalmente porque, a essa altura dos acontecimentos, os pais já tomaram umas cervejas e estão achando tudo bacana.

                2 ou 3 anos. O costume é contratar animadores, mágicos, contadores de histórias. Se você mora em prédio que tenha play, minha sugestão é que use o espaço, senão seu apartamento vai ficar imprestável.

                A partir dos 4 anos, inevitavelmente, é preciso começar a alugar casas de festas. Você gasta uma fortuna, mas sua casa fica preservada. O pessoal cuida de tudo: animação, mágicas, futebol, pique esconde, piscina de bolas, escorrega, karaokê, comidinhas, bebidinhas, brindes... Você pode ficar tomando sua cerveja tranquilo. Só vai esquentar a cabeça no dia seguinte, na hora que o cheque bater na conta.

                A partir dos 10 anos, festa tem que ter dança. Aí você vai ter que contratar um DJ. Essa fase é complicada porque eles não querem mais casa de festa, que é “coisa de criança”. Volta o movimento para aquele lugar que você chamava de lar doce lar.

                Quando meu filho completou 11 anos, descobri que ele fazia parte de um grupo de vândalos. Corredor polonês, futebol no meio da sala, ovos com farinha nos cabelos do aniversariante. Uma melequeira. Um garoto mais descontrolado trancou várias meninas no banheiro, jogou a chave no jardim e saiu correndo porta afora, com mais dois delinquentes. Peguei o carro e, com ajuda de alguns amigos, encontramos os desaparecidos no meio da noite, atiçando com pedras os cachorros dos vizinhos. Liguei para os pais e pedi que viessem buscar. Tudo tem limite.

                Quando chega a adolescência, se prepare, a situação foge do controle. Só aceitam festa se tiver bebida. E eles não sabem beber. Fazem um monte de besteira, vomitam pelos cantos. Sugiro uma força-tarefa com quatro ou cinco faxineiras e uma ambulância na porta, por via das dúvidas.

                O resultado de anos de festas aqui em casa é que o piso de sinteco não existe mais. As paredes estão descascadas, a casa está quase em ruínas, mas só vou fazer uma reforma quando os dois casarem e forem morar em outro lugar, senão não adianta.

                Quer dizer, ainda há o risco de casarem e ficarem morando por aqui. Aí vêm os netos e começa tudo de novo.

                Rede de Marina encerra segunda fase de coleta com 706 mil apoios

                folha de são paulo
                Balanço tem 100 mil assinaturas a menos que meta do partido
                DE SÃO PAULOA Rede Sustentabilidade, partido que a ex-senadora Marina Silva trabalha para criar, encerrou ontem a segunda etapa do cronograma de coleta de assinaturas para a formalização da sigla com 100 mil apoios a menos que a meta estabelecida.
                Depois de atingir 500 mil apoios no início de junho, o grupo havia determinado 7 de julho como prazo para chegar às 800 mil assinaturas, marca que considera necessária para conseguir obter o registro na Justiça Eleitoral a tempo de disputar as eleições de 2014. Segundo números atualizados até ontem, o grupo tem 706 mil apoios.
                A quantidade de fichas, no entanto, ainda deve crescer nos próximos dias. O partido aguarda o envio pelo correio de assinaturas coletadas em cidades que não têm postos, além da contabilização de fichas dos últimos dias.
                Para que a criação da Rede seja oficializada pela Justiça Eleitora, são necessárias 495 mil assinaturas validadas por cartórios. Como parte das fichas entregues acabam invalidadas por problemas em informações fornecidas ou por assinaturas que não correspondem à do título eleitoral, por exemplo, o grupo estabeleceu a meta de 800 mil.
                Das primeiras assinaturas entregues para a validação, cerca de 40% apresentavam problemas e não foram reconhecidas. As perdas são maiores do que a estimada pelo grupo no início do processo de coleta.
                Para que Marina possa disputar a Presidência no ano que vem, o partido precisa ser formalizado até outubro. A ex-senadora, no entanto, tem dito que sua candidatura ainda é uma "possibilidade".
                Com os protestos das últimas semanas, Marina foi o nome que mais cresceu, segundo pesquisa Datafolha divulgada há uma semana. No cenário hoje mais provável, com candidaturas de Aécio Neves (PSDB), Eduardo Campos (PSB) e Dilma Rousseff (PT), ela disputaria o segundo turno com a petista.

                  Dilma tenta reconstruir elo com os movimentos sociais

                  folha de são paulo
                  Divergências em políticas públicas mostra que reaproximação não será fácil
                  Ativistas reclamam de falta de diálogo com a presidente, aliança com setores conservadores e atropelo de suas pautas
                  RICARDO MENDONÇADE SÃO PAULOOs protestos pelo país não provocaram impacto só na popularidade da presidente Dilma Rousseff. Sua agenda também sofreu uma guinada. Nos últimos dias, ela passou a receber representantes de movimentos sociais que esperavam por uma audiência desde sua posse, em janeiro 2011.
                  Na lista dos que foram ou serão recebidos estão organizações recentes, como o MPL (Movimento Passe Livre), mas principalmente militantes com relações antigas e desgastadas com o PT, como gays, indígenas, camponeses, feministas e ativistas digitais.
                  A nova postura já rendeu as primeiras fotos para Dilma e gerou algum noticiário positivo. O histórico de desgastes com vários desses movimentos, porém, sugere que a reaproximação não deverá ser fácil. A lista de embates, reclamações e divergências em políticas públicas é extensa.
                  Um exemplo é o que ocorre com militantes da luta antimanicomial, setor historicamente ligado ao PT, e ativistas que pedem revisão da política de combate às drogas.
                  O alvo do segmento é a ministra Gleisi Hoffmann (Casa Civil), a quem atribuem a responsabilidade pela adoção de uma política muito conservadora, em diversos aspectos contrária ao que era defendido por petistas no passado.
                  Esses grupos discordam de dois dos pilares do plano do governo de combate ao crack: as internações compulsórias de dependentes e os repasses de recursos para comunidades terapêuticas religiosas.
                  Dois eventos são citados como marcos do distanciamento. O primeiro foi o convite que Gleisi fez à psicóloga evangélica Marisa Lobo para o lançamento do programa. Tida como inimiga dos ativistas, Lobo é a formuladora do projeto que permitia a oferta de tratamento para homossexuais, ideia apelidada de "cura gay" derrubada na Câmara.
                  O segundo foi um e-mail repassado por Gleisi para o ministro Alexandre Padilha (Saúde) pedindo a "flexibilização" na contratação das entidades religiosas, segmento para o qual o governo reservou R$ 100 milhões. A troca de mensagens, que começa com uma cobrança do líder de uma dessas comunidades, foi revelada pelo o jornal "Correio Braziliense" em 2012.
                  DECEPÇÃO
                  Entre os gays, os eventos que causaram maior aborrecimento foram os recolhimentos de materiais de orientação após pressão de evangélicos.
                  O caso mais conhecido foi o do kit de combate à homofobia vetado no Ministério da Educação quando a pasta era dirigida por Fernando Haddad, hoje prefeito de São Paulo. O mais recente foi o do cartaz "Eu sou feliz sendo prostituta", vetado por Padilha.
                  Ativistas reclamam por mais empenho do governo na aprovação do PL 122, o projeto de lei que criminaliza a homofobia e sofre forte oposição de líderes evangélicos.
                  Recém-recebido por Dilma, o ativista Toni Reis diz que a presidente se comprometeu "explicitamente" com o combate a todo tipo de discriminação: "Até então, as relações com ela estavam bem nebulosas, para dizer o mínimo".
                  Um dos setores com relações mais desgastadas com o governo e o PT é o que reúne indígenas e ambientalistas.
                  Além de apontarem queda no ritmo de demarcações e congelamento na criação de parques, acusam o governo de falta de diálogo no processo de instalação de hidrelétricas na Amazônia, reclamam da proximidade com ruralistas e fazem críticas à atuação fracassada do governo no combate ao projeto do novo Código Florestal.
                  A iniciativa recente de reformular os procedimentos para demarcação de terras indígenas é o capítulo mais recente das contrariedades.
                  O azedume foi sintetizado pelo filósofo Egydio Schwade, do Amazonas, teólogo com décadas de história na sigla: "O PT no poder parece que esqueceu toda a trajetória, as pessoas e a causa que o construíram", escreveu num artigo replicado entre ambientalistas na internet. "É humilhante ver uma ministra do nosso governo [Gleisi] propor a revisão de terras indígenas".
                  O governo quer mudar o processo de demarcação de áreas indígenas para incluir órgãos como o Ministério da Agricultura nas decisões, hoje concentradas na Funai. Os indigenistas temem que isso dê mais força ao agronegócio, que vê nas terras indígenas uma ameaça à sua expansão.
                    Índios prometem ação criminal contra Gilberto Carvalho
                    Grupo que invadiu Belo Monte protocolou petição no STJ para acusar o ministro de calúnia e difamação
                    Episódio é um dos capítulos mais tensos da relação desgastada do governo com os movimentos sociais
                    DE SÃO PAULOUm dos focos de grande tensão do governo com os movimentos sociais está no maior e mais ambicioso projeto da gestão Dilma Rousseff: a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte no município de Altamira, no Pará.
                    Lideranças que fazem oposição à instalação da usina acusam o governo de tentar criminalizar os opositores do projeto e desconfiam até da infiltração de agentes do Estado em suas organizações.
                    No fim de junho, a tensão foi parar na Justiça. Um grupo de caciques da etnia mundurucu foi ao STJ (Superior Tribunal de Justiça) e protocolou uma interpelação criminal contra o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho.
                    Os índios pedem que Carvalho cite os nomes dos mundurucus acusados por ele de envolvimento com o garimpo ilegal. Com a resposta, prometem entrar com uma ação criminal contra o ministro por calúnia e difamação.
                    O encaminhamento judicial é a resposta a uma nota divulgada por Gilberto Carvalho em maio em que ele, sem citar nomes, acusou "alguns" índios de envolvimento com garimpo ilegal de ouro no rio Tapajós.
                    A nota dizia ainda que "pretensas lideranças" da etnia se comportam sem honestidade. E concluía afirmando que "um dos principais porta-vozes [dos indígenas] é proprietário de seis balsas de garimpo ilegal".
                    Os mundurucus são residentes de áreas afetadas por hidrelétricas nos rios Tapajós e Teles Pires, distantes do Xingu. Eles invadiram Belo Monte para pedir a suspensão de estudos para instalação de usinas em seus territórios e a realização de consultas prévias.
                    Nas últimas semanas também invadiram repartições públicas e chegaram a sequestrar três biólogos de uma empresa que fazia pesquisa de impacto ambiental na área de influência da hidrelétrica Jatobá, em Itaituba (PA).
                    O tom inusual da nota de Carvalho surpreendeu militantes da causa indígena que há anos atuam próximos do PT. Eles lembram que desde o início do governo Lula, em 2003, um dos mais repetidos argumentos da gestão petista é que, ao contrário das anteriores, não há criminalização dos movimentos sociais.
                    O site do STJ informa que Carvalho ainda não foi notificado. O caso está no gabinete do ministro Napoleão Nunes Maia Filho.
                    DESCONFIANÇA
                    A contenda com Gilberto Carvalho não foi o primeiro episódio em Belo Monte que colocou opositores da usina em linha de confronto direto com o Palácio do Planalto.
                    Em fevereiro, militantes do movimento Xingu Vivo, coletivo de organizações que se opõem à usina, flagraram um participante recém-integrado gravando uma reunião do grupo com uma caneta espiã.
                    Pressionado, o rapaz deu um depoimento que deixou os ativistas apavorados.
                    Ele afirmou ter sido contratado pelo consórcio construtor para colher informações que depois seriam analisadas pela Abin (Agência Brasileira de Inteligência).
                    Formalmente questionado pelos militantes, o Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República negou qualquer infiltração.
                    O depoimento do rapaz foi colocado no YouTube. Depois disso, o Ministério Público tentou entrar no caso, mas não conseguiu mais encontrar o suposto espião. (RM)
                      OUTRO LADO
                      Governo diz que nunca esteve tão aberto ao diálogo
                      DE SÃO PAULOO governo reconhece que enfrenta dificuldades na relação com alguns segmentos do movimento social, mas afirma que o Palácio do Planalto nunca esteve tão aberto para o diálogo com essas organizações como hoje.
                      "O ex-presidente Lula abriu as portas do Planalto para os movimentos sociais, mas a presidenta Dilma [Rousseff] ampliou o acesso", diz Paulo Maldos, titular da Secretaria Nacional de Articulação Social, órgão vinculado à Secretaria-Geral da Presidência.
                      Maldos cita como evidência disso o fato de sua secretaria ter crescido de 5 para 60 funcionários na gestão Dilma, o que, segundo ele, permite contatos mais frequentes e encaminhamentos mais adequados das demandas sociais.
                      Cita também a criação do Sistema Nacional de Participação Social, projeto em andamento que busca profissionalizar as relações do governo com as organizações.
                      Para o secretário, as reclamações de dificuldade de diálogo podem ter relação com as diferenças de estilo entre Lula e Dilma: "Lula é produto de muitas dessas lutas, chamava militantes pelo nome, buscava uma relação mais direta. Já Dilma procurou institucionalizar a relação. Tem outro estilo. Mas é errado dizer que ela é indiferente".
                      Sobre a lista de desacordos nas políticas públicas, ele diz que nem sempre é possível contemplar as demandas de todos as setores interessados.
                      "O governo também não é homogêneo, também tem visões internas diferentes", diz sobre a política de drogas.
                      Com relação aos índios, Maldos nega a existência de qualquer plano para enfraquecer a Funai.
                      "Falta demarcar terras para 20% da população indígena. Mas agora em áreas menores, mais populosas e às vezes com a necessidade de ressarcimento de fazendeiros que têm títulos de boa fé", afirma. "É mais difícil." (RM)