sábado, 6 de setembro de 2014

A força da escrita - Antonio Candido

Obra-prima de Dyonélio Machado, Os ratos atravessa gerações de leitores mantendo o vigor de sua narrativa tensa e soturna. O gaúcho descreve o drama de um chefe de família sem dinheiro

Antonio Candido
Estado de Minas: 06/09/2014



       (Ênio Squeff/reproduções)
Ilustrações de Ênio Squeff para a edição de Os ratos publicada pela Confraria dos Bibliófilos do Brasil
Ilustrações de Ênio Squeff para a edição de Os ratos publicada pela Confraria dos Bibliófilos do Brasil


A história d’Os ratos foi curiosamente deformada no correr do tempo. Já li, inclusive em dicionário de literatura, que recebeu o Prêmio Machado de Assis da Academia Brasileira de Letras, o que não é certo, embora o próprio autor o tenha dito em depoimento a Fernando Paixão, incluído numa edição Ática de seu livro. Mas o depoimento é de 1981, quando Dyonélio Machado tinha 86 anos, idade na qual é frequente baralharmos as lembranças. O prestigioso galardão acadêmico, concedido a conjunto de obra, contaminou a identidade do que ele recebeu, alterando os fatos, que são os seguintes.

Em 1934, a Companha Editora Nacional ofereceu um prêmio para o melhor romance inédito, apresentado com pseudônimo, e foi este que lhe coube, como se pode ver, melhor do que pelas minhas, pela respectiva ata, que transcrevo segundo a revista Boletim de Ariel, ano IV, número 11, agosto de 1935, página 296: “O júri permanente do Grande Prêmio de Romance Machado de Assis, instituído pela Companhia Editora Nacional de São Paulo e patrocinado pela Associação Brasileira de Imprensa, reunido hoje na redação do Boletim de Ariel, manifestou de início a sua grande mágoa pelo falecimento do inesquecível companheiro Ronald de Carvalho, e decidiu juntar a importância de 2:000$000 (dois contos de réis), correspondente à Menção Honrosa, à de 10:000$000 (dez contos de réis), correspondente ao prêmio, e dividir o conjunto em quatro prêmios iguais de 3:000$000 (três contos de réis), cada um, a serem conferidos, dentre os 66 originais apresentados, aos quatro seguintes, por julgá-los em igualdade de condições quanto ao mérito literário: Música ao longe, de José Fernando (pseudônimo de Érico Veríssimo); Totonho Pacheco, de Filocteto Teles (pseudônimo de João Alphonsus Guimarães); Romance branco, a sair com o título de Marafa, de José Maria Nocaute (pseudônimo de Marques Rebelo); e Os ratos, de B. Felipe (pseudônimo de Dyonélio Machado)”.

Na notícia, a revista dizia que três dos autores já eram “de nomeada” e que havia “um novo romancista cheio de qualidades, Dyonélio Machado”. Louve-se a comissão, não apenas por ter sabido fazer justiça a quatro livros bons, mas por ter discernido o valor de um estreante desconhecido. Os quatro romances foram de fato editados pela Nacional, com capas uniformes, de cor amarelo-pálido, enquadradas por filetes escuros, tendo na parte inferior uma pequena vinheta com a efígie de Machado de Assis. Note-se que o romance de João Alphonsus saiu com o título retificado: Totônio Pacheco em vez de Totonho Pacheco”.

Cidade inóspita

O êxito desses livros foi apreciável no mundo literário bem mais acanhado daquele tempo, e Dyonélio se consagrou. Passados quase 70 anos, a decantação efetuada pelo tempo não desvalorizou os outros, mas mostrou que o seu livro era o mais importante, revelando alguém capaz de atravessar a fronteira dos moldes vigentes por meio de um aprofundamento do realismo.

Psiquiatra acostumado a sondar a alma e a analisar os vínculos entre a mente e o mundo, Dyonélio publicaria neste sentido, alguns anos depois, O louco do Cati, mas tanto este quanto outros que o seguiram não modificaram a certeza de que Os ratos é a sua obra-prima.

Para começar, é dos poucos romances brasileiros cuja ação decorre em um só dia, o que pressupõe grande concentração fabulativa. Comparada às dos três outros romances premiados, a atmosfera deste é sombria, desprovida de qualquer amenidade, ao contrário do andantino de Música ao longe ou da naturalidade enxuta, mas humorística de Marques Rebelo e João Alphonsus. Aqui não há graça nem riso, não há paisagem repousante nem divagação.

A narrativa soturna, tensa, prosaica segue a jornada de um chefe de família sem dinheiro, pequeno funcionário público boiando na indiferença de uma cidade inóspita. Ele sai cedo à busca desesperada de uma soma sem cujo pagamento o leiteiro cortará o fornecimento, porque não pode mais tolerar o atraso. O dia corre, as pessoas perpassam ou se demoram, fecham-se, desviam-se do peregrino à busca de socorro – e nada. Até que, no limite do desespero, uma combinação esperta de amigos igualmente à beira da penúria lhe permite arranjar o dinheiro que pagará o leite do filho. É, sem dúvida, uma suspensão da pena, que não o livrará da necessidade extrema e serve apenas para resolver o problema do dia.

Dilaceramento
Raras vezes na literatura brasileira a prosa de ficção foi capaz de criar uma tensão e um dilaceramento tão pungentes quanto os que compõem o tecido desse relato desprovido de sentimentalismo, uma espécie de pequena tragédia ordenada à volta de miudezas sem relevo. Rara também é a maestria com que o autor elabora um relato no qual se combinam a minúcia realista com certas áreas de indeterminação, com retrospectos e impressões escorregadias que nos fazem sentir as vacilações e as confusões do protagonista. Isso é devido, com certeza, ao fato de Dyonélio Machado usar a terceira pessoa de um modo que parece frequentemente deslizar para o monólogo interior de uma primeira pessoa nela incrustada. De tal modo que o estrito realismo se combina aos labirintos do fluxo de consciência.

Além desse dom de conferir tonalidade subjetiva a um discurso voltado para o registro minuciosamente objetivo da realidade, é também singular que a minúcia implacável da relação não produza qualquer monotonia. Parece que Dyonélio Machado efetua uma espécie de redenção da aparente insignificância desse mundo onde tudo é pequeno, rasteiro, sem um momento de grandeza ou de poesia.

Os sentimentos corriqueiros ligados à angústia econômica, ao medo, à expectativa frustrada, à insensibilidade, à esperteza se articulam com um ambiente cujos elementos não parecem peças de cenário, mas entidades vivas na sua insignificância transfigurada pela literatura. Assim, as ruas, as casas, as janelas marcadas pela sombra e pela luz, os cafés, as xícaras, os guichês adquirem uma força de vida que os extrai da condição material para torná-los realidades coextensivas aos pensamentos, aos sentimentos, às falas.

Realista cheio de fantasia, narrador objetivo capaz de sugerir o imponderável devaneio e o cruzamento de percepções, Dyonélio Machado revela-se neste livro um escritor situado além dos hábitos literários do momento em que escreveu. Assim foi que conquistou pela força da escrita e da concepção a durabilidade que faz uma obra atravessar as gerações de leitores.


saiba mais

Gaúcho militante


 (PUC/SP)


O gaúcho Dyonélio Machado (1895-1985) foi romancista, contista, ensaísta e psiquiatra. Em 1923, publicou o ensaio Política contemporânea: Três aspectos. Em 1927, Dyonélio (foto) estreou na literatura com o livro de contos Um pobre homem. Em 1934, escreveu o romance Os ratos, lançado em 1935, ano em que foi preso por suas posições políticas. Na cadeia, o escritor aderiu ao Partido Comunista. Machado se elegeu deputado constituinte em 1947. Cassado, afastou-se por duas décadas da carreira política e do mercado editorial, dedicando-se à medicina e a escrever romances. Apenas em 1966, com a reedição de Os ratos, o gaúcho voltou à cena literária.

O gentleman de Poços de Caldas‏ - Severino Francisco

Antonio Candido destaca o "impecável sentimento do estilo"do mineiro Jurandir Ferreira no prefácio de Um ladrão de guarda-chuvas, reeditado pela Confraria dos Bibliófilos do Brasil


Severino Francisco
Estado de Minas: 06/09/2014




Em 1996, o crítico Antonio Candido escreveu uma preciosa apresentação para o romance Os ratos, a pedido de José Salles Neto, para uma edição especial da Confraria dos Bibliófilos do Brasil (CBB), com ilustrações de Ênio Squeff. Candido havia participado do júri do Grande Prêmio de Romance Machado de Assis, instituído pela Companhia Editora Nacional, que concedeu quatro premiações a Música ao longe, de Érico Verissimo; Marafa, de Marques Rebelo; Totonho Pacheco, de João Alphonsus Guimarães; e Os ratos, de Dyonélio Machado.

Recentemente, Salles ligou novamente para Antonio Candido com o objetivo de pedir a ele um texto de apresentação para Um ladrão de guarda-chuvas, do mineiro Jurandir Ferreira, um dos grandes ficcionistas e cronistas modernos, mas de reconhecimento restrito. O livro ganhou reedição da CBB, que funciona em Brasília.

Candido, de 96 anos, declinou do convite de maneira sumária: “Não, meu filho, desta vez não posso, não escrevo mais e, além disso, estou doente”. Salles é um mineiro muito educado, mas tenaz e matreiro: “Mas o senhor me concede ao menos dizer o nome do autor?”. O crítico replicou: “Pode, mas não vai adiantar nada”.

Salles aproveitou a brecha e anunciou: Jurandir Ferreira. Candido vacilou: “Mas agora você me colocou em uma situação difícil. É um autor tão importante e tão esquecido que, se você me der algum tempo, sou obrigado a escrever sobre ele”.

E assim Antonio Candido escreveu “Um escritor notável” para apresentar Um ladrão de guarda-chuvas, de Jurandir Ferreira.

PRÊMIO


Lançado em 1995, depois de dar a Jurandir Ferreira, na época com 89 anos, o Prêmio Guimarães Rosa na categoria romance, Um ladrão... foi escrito na década de 1950. Ele conta a história do relacionamento entre um intelectual e um homem simples do interior.

Não é mera coincidência o “clima provinciano” do livro – Ferreira ganhou a vida como farmacêutico em sua terra, Poços de Caldas, no Sul de Minas. Jovem, ele morou em Porto Alegre e em São Paulo, atuou também como jornalista, contista e cronista. É autor dos romances O céu entre montanhas (1948), Telêmaco (1954) e do livro de poesia Fábulas (1949).

A partir de 1953, Ferreira escreveu sobre literatura no Diário de Poços de Caldas. Em 1958, na cidade sul-mineira, fundou o jornal Fronteira. Na década de 1990, Um ladrão... chamou a atenção do Brasil para a importância de seu autor. Em 1991, ele voltou a surpreender com o volume de crônicas Da quieta substância dos dias (Instituto Moreira Salles).

Admirador de Anatole France, Machado de Assis, Eça de Queirós e Monteiro Lobato, Jurandir Ferreira (1905-1997) revelou a Daniel Piza, em reportagem publicada na Folha de S. Paulo, que devia sua “perícia sintática” não apenas a esses ídolos, mas também a seus professores de português. Um deles era Eugênio Rubião, pai do escritor Murilo Rubião, outro mestre das nossas letras.

UM LADRÃO DE GUARDA-CHUVAS


De Jurandir Ferreira
Confraria dos Bibliófilos
Informações: conbiblibr@yahoo.com.br


Um escritor notável

Antonio Candido




Jurandir Ferreira tinha um toque acentuado de rigor no trabalho intelectual e um grande sentimento do outro na vida de relação. Como modo de ser, a discrição e a reserva, que o levaram a não chamar a atenção sobre o que fazia enquanto escritor e enquanto cidadão. E como preocupação constante, no plano da literatura e no plano da vida, a sua cidade de Poços de Caldas. Ela está presente na sua obra narrativa, envolta no “manto diáfano” da efabulação, ou retratada diretamente na sequência das suas crônicas admiráveis, das mais perfeitas da nossa literatura contemporânea.

Nelas é patente o seu profundo sentimento social, que ia desde o protesto contra a barbaridade eventual das intervenções de cunho especulativo que comprometessem o perfil urbano, até a luta eficiente contra a miséria, que ele empreendeu em mais de um rumo, da sugestão fundadora da Gota de Leite à grande obra assistencial que foi o S. O. S., de parceria com a infatigável Elza, sua esposa militante.

Em tudo ressaltava a sua compostura, o impecável sentimento do estilo, tanto no comportamento quanto na escrita. Ao gentleman exemplar nas relações correspondia o autor rigoroso e límpido, que sabia modelar como poucos a nossa língua difícil, imprimindo-lhe inclusive os toques corretivos de ironia, como os que aparecem revestidos de tanta finura neste livro, publicado agora com vestes dignas dele pela Confraria dos Bibliófilos do Brasil.

TeVê

TV paga


Estado de Minas: 06/09/2014



 (Imagem Filmes/Divulgação)

Sessão pipoca


Blue Jasmine (foto), o longa que marcou o retorno de Woody Allen à América depois de anos filmando na Europa, estreia hoje, às 22h, no Telecine Premium. Indicado ao Oscar de roteiro, o filme se desataca pela atuação irretocável de Cate Blanchett, que faturou a estatueta e quase todos os outros prêmios aos quais foi indicada, como o Globo de Ouro e o BAFTA. No mesmo horário, a HBO estreia Vida de adulto, com Emma Roberts e John Cusack.

Canais apostam nas maratonas de cinema


Indiana Jones vai dominar hoje a programação do Telecine Action, numa maratona que começa às 10h35 com Os caçadores da arca perdida e segue com O templo da perdição (12h40), A última cruzada (14h45) e O reino da caveira de cristal (17h). No Telecine Touch, quem está podendo é Leonardo DiCaprio, em Prenda-me se for capaz (15h20) e Foi apenas um sonho (17h50). No Universal Channel, a maratona é de gênero, com os desenhos animados Kung Fu Panda 2 (20h), Madagascar 3: os procurados (21h30), O bicho vai pegar 2 (23h) e Os sem-floresta (0h30). Já o FX abre espaço para os heróis dos quadrinhos com Thor (16h45), Capitão América: o primeiro vingador (18h30) e Homem de Ferro 2 (20h30).

Drama, ação e humor  no pacotão de filmes


Na concorrida faixa das 22h, o assinante tem mais seis opções: A casa de Alice, no Canal Brasil; A dama oculta, no Futura; O amor não tira férias, no Telecine Touch; Missão: impossivel 3, no Megapix; Depois da Terra, no Max HD; e Um beijo roubado, no MGM. Outros destaques da programação: Mil anos de oração, às 20h, no Arte 1;
Quero matar meu chefe, às 21h, no Cinemax; e O ditador, às 22h30, no FX.

Cultura estreia hoje à  noite a Revista CCBB


Estreia hoje, às 20h45, no NatGeo, a terceira temporada de Truques da mente, série em que Jason Silva surpreende e desafia a maneira que as pessoas veem e pensam sobre o mundo. No SescTV, são três atrações que merecem a atenção do assinante os documentários Ariane Mnouchkine e o Theatre du Soleil, às 22h; Sotigui Kouyaté, um griot no Brasil, às 23h; e O idiota, os ensaios no abismo, à meia-noite. Na Cultura, às 23h30, estreia Revista CCBB, que
traz os principais acontecimentos e eventos realizados nos Centros Culturais Banco do Brasil.

Os fãs é que lucram no aniversário de Beyoncé


Por falar em Cultura, o músico Ian Ramil é o convidado de hoje do programa Cultura livre, às 17h30. No mesmo canal, às 22h, vai ao ar um concerto da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, sob a regência de Susanna Mälkki e solos do violinista Luiz Fílip. No Viva, às 23h, tem o Globo de Ouro com Xuxa como convidada especial. No Bis, o aniversário de Beyoncé, na quinta-feira, só não vai passar em branco porque a emissora vai apresentar hoje o programa Beyond the glam, às 21h30.


CARAS & BOCAS » Família dó-ré-mi

Simone Castro

Cantora Simony diz em entrevista a Gabi que nasceu para ser mãe e cantar  (Carol Soares/SBT)
Cantora Simony diz em entrevista a Gabi que nasceu para ser mãe e cantar

Mãe de uma prole de quatro filhos, a cantora Simony, que começou a trabalhar bem novinha, afirma em entrevista a Marília Gabriela no De frente com Gabi deste domingo, à meia-noite, no SBT/Alterosa, que adora a maternidade. “Não tenho babá, gosto de ser mãe. Nasci para cantar e ser mãe”, diz, apesar de não querer mais filhos. “Fechei a fábrica, pra valer mesmo. Tive muitos problemas na última gravidez, engordei 20 quilos, tive pré-eclâmpsia.” A cantora incluiu os filhos na gravação de seu DVD. “Todos eles cantam mesmo, são muito afinados. Não os teria colocado no DVD se não fossem.” Sobre a carreira, Simony revela: “Minha mãe foi muito inteligente, ela triplicou o que eu ganhei no Balão Mágico”. E também fala sobre ter iniciado muito cedo na profissão: “A criança só fica frustrada quando começa (a trabalhar) cedo se aquilo não for da vontade dela, mas sim dos pais”. E, mais uma vez, festejou o atual momento em casa. “Sempre amei demais e nunca fui retribuída. Agora é que vou constituir aquela família com que tanto sonhei.”

TODOS OS LANCES DO FUTEBOL EM DEBATE NO BOLA NA ÁREA

O Bola na área deste sábado, às 12h15, na TV Alterosa, debate sobre Campeonato Brasileiro e Copa do Brasil. Mesa-redonda reúne jornalistas do Estado de Minas e da Rádio Itatiaia e o torcedor também tem vez. A apresentação é de Péricles de Souza.

JÔ SOARES VOLTA A GRAVAR ATRAÇÃO NA SEGUNDA-FEIRA

Recuperado de uma pneumonia, que lhe custou vários dias de internação, o apresentador Jô Soares volta a gravar seu programa nesta segunda-feira. A primeira entrevistada será a cantora Cláudia Leitte. O bate-papo vai ao ar no mesmo dia e a atração contará, ainda, com o historiador Marco Antônio Villa.

CULTURA LANÇA CANAL  DEDICADO À EDUCAÇÃO


O presidente da Fundação Padre Anchieta, Marcos Mendonça, anunciou, durante o Fórum Nacional de Educação, realizado em São Paulo, a criação de um canal com programação especial dirigida a alunos, pais e professores dos ensinos fundamental e médio, a TV Cultura Educação. O canal é um novo conceito de TV educativa, que usa como referência para sua grade os currículos da educação básica. “Hoje, a imagem está cada vez mais presente no dia a dia de todos, especialmente das crianças e jovens. Nós queremos transformar essa imagem em algo que possa ajudar na formação desses alunos”, ressaltou. Mendonça enfatizou a importância de se utilizar a televisão como ferramenta da melhoria na educação. “O mundo se transforma rapidamente hoje, e nós precisamos adotar uma tecnologia para ajudar a qualidade na sala de aula, na formação do professor e do aluno. O canal irá colaborar para a democratização do acesso ao conhecimento, informando e envolvendo as famílias com a vida escolar de seus filhos”, afirmou. Além da programação da nova TV, segundo Mendonça, a Cultura disponibilizará todo o material na internet, “de maneira a estar presente no dia a dia, ajudando a educação do jovem de uma forma mais agradável, atraente e gostosa”.

VILÃ VAI CONSEGUIR COLOCAR AS MÃOS NO DIAMANTE ROSA


Depois que fica cara a cara com Maria Ísis (Marina Ruy Barbosa), amante de seu marido, Maria Marta (Lília Cabral) promete vingança. E nos próximos capítulos de Império (Globo) ela coloca seu plano em prática, disposta a destruir José Alfredo (Alexandre Nero). Assim, avisando à família que passará uns dias em Petrópolis (RJ), na verdade ela embarca rumo ao Monte Roraima, espécie de santuário do Comendador, pois foi lá que, anos atrás, sua fortuna começou. Em uma gruta, ela procura por um buraco. Sem titubear, mete a mão e puxa algo. E se depara, maravilhada, com o diamante cor-de-rosa. Maria Marta comemora, mas uma tempestade a obriga a ficar no local. A vilã terá uma surpresa.

PROCESSO DE COMPOSIÇÃO

Estreia quarta-feira, às 23h30, no canal BIS (TV paga), a série Mulheres do Brasil. Na atração,
10 famosas cantoras mostram os maiores sucessos de sua autoria e falam sobre o processo de composição das músicas. Entre as novidades estão Pitty, Zélia Duncan, Vanessa da Mata, Tulipa Ruiz e Mart’nália. Os episódios serão exibidos até 12 de novembro. No episódio de estreia, a mineira Ana Carolina relembra o dia em que saiu de Juiz de Fora, sua terra natal, levando consigo apenas um CD demo com suas interpretações de clássicos do MPB e uma canção de sua autoria. “Essa coisa de cantora me assusta um pouco. Cantora é a Elis Regina, eu sou cantautora”, diz Ana Carolina.

VIVA

Joan Rivers, humorista e apresentadora, que morreu, anteontem, aos 81 anos, nos Estados Unidos. À frente do Fashion police, do canal E! (TV paga), ela sabia abalar e deixar muitas celebridades abaladas com sua crítica ferina sobre moda e comportamento.

VAIA

Fátima Bernardes leu em seu programa, anteontem, carta falsamente atribuída a Brad Pitt, que seria endereçada à mulher, Angelina Jolie. Até assessor do próprio ator já desmentiu a autoria em outras oportunidades. Pegadinha ou desinformação?

DUPLA IDENTIDADE » Policial com jeito brasuca

Estado de Minas: 06/09/2014 



Bruno Gagliasso e Débora Falabella estrelam série da Globo
 (Estevam Avellar/TV Globo/divulgação)
Bruno Gagliasso e Débora Falabella estrelam série da Globo

Rio de Janeiro – A partir do dia 19, o perigo vai estar mais perto do que você imagina quando estrear Dupla identidade, nova série da TV Globo. Escrita por Gloria Perez e dirigida por Mauro Mendonça Filho, a produção traz para a televisão aberta o suspense policial, tão comum nos canais fechados, com suas personagens tradicionais: o serial killer e o caçador de mentes.

“Fiz esta série com o mesmo ponto de partida de A diarista. Na época, não havia séries em que o protagonista fosse um personagem do povo. Agora, percebi que nenhum personagem principal é serial killer. Esse tema sempre me interessou. Por que as pessoas precisam ligar a TV a cabo e assistir em inglês? Não tinha nada em português, então escrevi”, comentou Gloria, depois da exibição do primeiro capítulo a convidados em um cinema carioca.

“Qual a diferença de mais uma pessoa no mundo?” – esse é o pensamento do protagonista Edu, vivido por Bruno Gagliasso, um cara bonito, inteligente, sedutor, sensível, bem-sucedido e de gosto requintado que dedica seu tempo livre a trabalhos voluntários. O homem ideal na vida de qualquer mulher, não fosse um detalhe: é um criminoso sádico, frio e calculista. Já no primeiro episódio, ele dá cabo de Mariana (Yanna Lavigne). “Ele quer o poder, quer ser Deus e ter o controle da vida e da morte de alguém. O papel tem sido um desafio como ser humano e como ator. Gloria sempre faz isso comigo. Ela está me testando, como fez em América, quando interpretei um homossexual, e em Caminho das índias, quando fiz um esquizofrênico”, destacou Bruno.

De volta à TV depois do sucesso em Avenida Brasil (2012) como a vingativa Nina, Débora Falabella contou que a pausa foi importante para repor as energias. Ela faz o papel de Ray, que se apaixona por Edu sem imaginar que ele é um assassino. “Minha história é completamente diferente das outras dentro do seriado. É uma história de amor, não tenho que pensar nele como serial killer”, conta.

A personagem sofre do transtorno de bordeline, o que obrigou a atriz a pesquisar o tema. “Li livros e assisti a palestras para entender um pouco disso. Entrei em contato com uma blogueira que tem esse transtorno. Ray vive imersa num caldeirão de emoções em busca de sua identidade, o que só se realiza na ligação afetiva com o outro, seja um amor ou um amigo. Ela não consegue suportar rupturas afetivas. Quando o outro se afasta, sua identidade vai junto. Daí as explosões, destemperos e tresloucados gestos”, explica.

Com 13 episódios, o seriado estreia depois do Globo repórter. Será a primeira produção da teledramaturgia a utilizar a tecnologia 4K, que corresponde a quatro vezes a resolução do Full HD. “É muito próximo da película de cinema”, explica o diretor Mauro Mendonça Filho. (ACB)

Começar de novo - Ana Clara Brant

Começar de novo Brasileiros assistem ao revival dos grupos de pagode que fizeram sucesso na década de 1990


Ana Clara Brant
Estado de Minas: 06/09/2014 04:00

Salgadinho, Chrigor e Márcio Art formaram o grupo Amigos do Pagode 90

 (E. Nascimento/F.Nunes/divulgação)
Salgadinho, Chrigor e Márcio Art formaram o grupo Amigos do Pagode 90


Quem não se lembra dos hits Eu me apaixonei pela pessoa errada, Inaraí, Lá vem o negão, Cilada ou Agamamou? Clássicos do pagode dos anos 1990 estão mais em alta do que nunca. O revival foi impulsionado pela volta do grupo Os Morenos, o retorno de Rodriguinho para Os Travessos e a união do Raça Negra com o Só Pra Contrariar na turnê de celebração dos 25 anos de carreira do primeiro e dos 30 do segundo. Sem falar na criação dos Amigos do Pagode 90, formado por Salgadinho (ex-vocalista do Katinguelê), Chrigor (ex-Exaltasamba) e Márcio Art (ex-Art Popular).

A semente desse movimento foi plantada há cinco anos, quando Salgadinho criou uma empresa justamente para valorizar o samba e o pagode noventista. “As gravadoras enfrentaram uma queda brusca, aí tive essa ideia e fui atrás de parceiros. Ano passado, fizemos o trio com o Chrigor e o Márcio, apesar de cada um ter o seu projeto solo. Nossa iniciativa incentivou a volta de outros músicos, grupos e compositores daquela época”, comenta o cantor.

Um deles é Alexandre Pires, que reassumiu os vocais do Só Pra Contrariar (SPC) temporariamente, pois em 2015 vai retomar a carreira solo. O mineiro de Uberlândia acredita que há um clima de nostalgia no ar e a volta de grupos dos anos 1990 serviu de incentivo a colegas para retomarem o trabalho. “É muito bacana fazer parte dessa onda. O movimento do samba romântico teve uma força muito grande, fez parte da vida de muita gente. Essa volta acaba trazendo o saudosismo que atinge um grande público, conquistando novos fãs”, afirma Pires.

Para Salgadinho, um fator explica a retomada: o não surgimento de artistas do gênero. Se os anos 1980 foram do rock e a década de 1990 do pagode, agora a fase é do sertanejo e do funk. Pelo fato de terem grande apelo e boa parte dos artistas vir de camadas mais pobres da população, ele acredita que os pagodeiros sofreram preconceito. “Ninguém tem dúvida: a década de 1990 foi nossa. Surgiram talentos que estão aí até hoje. Claro que aparece um ou outro, mas aquela geração ficou bem marcada. É por isso que nossas músicas estão na boca do povo até hoje”, garante.

Anderson Leonardo, vocalista do Molejo, que acaba de lançar o DVD de seus 25 anos de estrada, conta que muitos fãs querem mostrar aos filhos e até aos netos as canções que sempre curtiram. O público sempre acaba pedindo as mais antigas, revela. “Em determinadas épocas, cobram muitas novidades, mas, no geral, a gente nunca deixa de tocar Caçamba, Brincadeira de criança, Paparico e Dança da vassoura. Essas músicas maravilhosas, inocentes e alegres falam de amor. São eternas”, destaca o irreverente pagodeiro, que chega a fazer com o Molejão de 10 a 12 shows mensais. “Nunca deixamos a chama apagar. Já ficamos cinco anos sem gravar, mas agora estamos com tudo de novo”, assegura.

Uma santa substância própolis!!!!!!!!‏

O própolis, que somente na década de 1980 ganhou notoriedade no Brasil, é usada com sucesso para fins medicinais. Empresa mineira ganhou prêmio Apex por desenvolvimento do produto


Alfredo Durães
Estado de Minas: 06/09/2014


O que é mesmo o própolis, produto que, cada vez mais, tem sido usado na medicina? De acordo com um dos maiores apicultores brasileiros, Helmuth Wiese, em seu livro Nova apicultura, publicado em 1995, “o própolis é uma substância resinosa, adesiva, balsâmica, elaborada pelas abelhas a partir da coleta de produtos existentes em botões florais, gemas e em cortes da casca dos vegetais”.

O professor Yong Park, da Universidade Estadual de Campinas, afirma que “as abelhas retiram essa resina e a reaplicam na parte externa da colmeia. Dessa forma, o própolis age como vedante, protegendo o lar das abelhas contra organismos invasores que querem roubar mel”. E emenda: “Para conseguir o própolis que consumimos, os produtores preferem extrair o produto das colmeias, onde a quantidade é maior que nas plantas. Só para dar uma ideia, pode-se tirar cerca de 300 gramas de própolis de uma colmeia por mês”.

Atrás somente da China, o Brasil é o segundo maior produtor mundial de própolis. Das 700 a 800 toneladas consumidas anualmente no mundo, o país responde por 150 a 170 toneladas, atendendo, entre outros clientes, 80% da demanda do mercado japonês. Atualmente, há um forte interesse do mercado europeu pelo própolis orgânico certificada produzida no Brasil.
Estudo que confirmou as propriedades antioxidantes e antimicrobianas do própolis orgânico certificado produzido na Região Sul do Brasil foi finalizado recentemente pelo engenheiro agrônomo Severino Matias de Alencar, professor associado da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) e da Universidade de São Paulo (USP), com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

Em colaboração com o farmacêutico Pedro Luiz Rosalen, professor titular de farmacologia, anestesiologia e terapêutica da Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), e com a participação da doutoranda Ana Paula Tiveron (Esalq) e do pós-doutorando Bruno Bueno Silva (Instituto de Ciências Biomédicas, USP), ambos bolsistas da Fapesp, além do doutor Masaharu Ikegaki, da Universidade Federal de Alfenas (Unifal).

VARIANTES A equipe investigou 78 amostras, coletadas em apiários no Sul do Paraná e Norte de Santa Catarina. Nesse total, identificou sete variantes de própolis orgânico, com comprovada atividade antioxidante e antimicrobiana (em relação às bactérias Streptococcus mutans, Streptococcus sobrinus, Staphylococcus aureus, Streptococcus oralis e Pseudomonas aeruginosa).
O professor Severino Matias concorda que o interesse científico pelas propriedades do própolis é relativamente recente. “No Brasil, o interesse pelo própolis ocorreu somente na década de 1980. Portanto, há ainda muito que se pesquisar, principalmente no que diz respeito à padronização e classificação do própolis. Não se pode deixar de considerar o enorme potencial dele como fornecedor de moléculas bioativas a serem testadas e com possibilidade de aplicação nas indústrias alimentícia e farmacêutica”, afirmou. Segundo ele, o grande desafio que os pesquisadores têm pela frente é responder qual tipo de própolis é melhor para qual atividade biológica, considerando que, no Brasil, existem vários.

Severino atesta que o própolis vem ganhando cada vez mais popularidade como suplemento alimentar saudável e tem sido amplamente utilizada em alimentos e bebidas, atuando, assim, como elemento funcional para melhorar a saúde e prevenir inflamações, doenças cardíacas, diabetes e até mesmo câncer. “Porém, essa funcionalidade depende de cada tipo de própolis e, no Brasil, pelo menos 13 tipos distintos dele já foram descritos na literatura.”

Vários alvos terapêuticos




Uma linha de gel à base de própolis, a Proporalcare, destinada a controlar e erradicar os efeitos colaterais da radioterapia em pacientes portadores de câncer nas regiões da cabeça e do pescoço, garantiu a uma empresa mineira um prêmio, há dois meses. A pesquisa, o desenvolvimento do produto e a conquista do mercado externo com o Proporalcare deram à Pharma Nectar, sediada em Belo Horizonte, premiação na categoria Micro e Pequena Empresa, no 5º Prêmio Apex-Brasil de Excelência em Exportação, promovido pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil).

Desde 1999, uma parceria entre a Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a Pharma Nectar possibilita o estudo das propriedades do própolis verde (retirada pela abelhas do alecrim do campo) na prevenção de diversos tipos de doenças causadas por micro-organismos que afetam e causam lesões na boca, tais como gengivite, candidíase, cárie, aftas e herpes.

Outra meta foi um medicamento para a prevenção e tratamento de mucosite e candidose em pacientes que lutam contra o câncer e recebem irradiação nas regiões da cabeça e do pescoço. Nesses casos, a irradiação gama provoca xerostomia, disfunção causada pela radioterapia, conhecida como “boca seca”, caracterizada por pouca ou nenhuma produção de saliva, que protege a boca e controla o crescimento exagerado de micro-organismos potencialmente patogênicos.
Os experimentos mostraram que, dos pacientes tratados antecipadamente com o gel do própolis, 90% não desenvolveram a mucosite, enquanto que os restantes 10% tiveram a inflamação no grau dois, bem mais branda e que não chegou a afetar a qualidade de vida deles. No projeto, sob a liderança do professor de patologia bucal Vagner Rodrigues Santos, com a equipe técnica da Pharma Nectar, constatou-se a eficácia do própolis no tratamento de pacientes com aftas, candidoses e doenças periodontais.

ALECRIM DO CAMPO A partir dessa constatação, a diretora científica da Pharma Nectar, a farmacêutica Sheila Rago Lemos Abreu, desenvolveu um gel mucoaderente à base do própolis verde do alecrim do campo (Baccharis dracunculifolia), para o início dos estudos clínicos. No Hospital das Clínicas da UFMG, na véspera do início da radioterapia, o paciente é encaminhado para receber a aplicação do produto, procedimento que se repete durante 45 dias. Segundo a farmacêutica, “representa um grande avanço, pois um único produto reúne vários alvos terapêuticos, necessários para os pacientes irradiados”.

Os testes passaram por autorização do comitê de ética em pesquisa clínica da UFMG, foram registrados, têm autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e seguem normas internacionais de pesquisa clínica da Organização Mundial de Saúde (OMS). Em parceria com a Escola de Odontologia da UFMG, a Pharma Nectar está desenvolvendo um produto com própolis para melhorar a qualidade de vida de pacientes oncológicos. Esse estudo encontra-se na fase três de pesquisa clínica e todos os pacientes oncológicos que tenham qualquer manifestação desconfortável na cavidade oral podem procurar o serviço da patologia bucal da UFMG, para participar do ensaio clínico.

Três perguntas para...
Alexandre Silva de Abreu, diretor da Pharma Nectar


O senhor considera que ainda há muitos caminhos, no sentido de descobrir outras propriedades e aplicações da própolis?
No caso da própolis, existe um processo de inovação sequencial, por meio do qual inovações vão surgindo em decorrência do aprimoramento dos produtos com novas utilidades e aplicações. Mas é preciso que a sociedade se aproprie mais de um produto nosso, que é referencia mundial de qualidade.

Qual a produção mensal de própolis da empresa e quanto desse total é exportado?
A nossa meta não é a exportação de própolis in natura, mas a elaboração de produtos com maior valor agregado, que possam impactar positivamente na vida das pessoas. Hoje, os principais produtos da empresa são os extratos secos, que preparamos de forma customizada para outras indústrias, seguidos pela exportação de cápsulas e os produtos para cavidade oral, como o gel e o fio dental e enxaguante. Esses produtos representam a produção e a venda de mais de 1 milhão de unidades por ano, com crescimento estável ano a ano.

O senhor avalia que há uma demanda grande e contínua pelo produto no mundo?
O mercado para produtos à base de própolis cresce ano a ano em todo mundo. Recentemente, a Apex realizou um trabalho de inteligência comercial nos mercados-alvo para a própolis brasileira e os números são impressionantes: somente na América do Norte, Europa e Ásia, as vendas de própolis nas mais diferentes apresentações superam US$ 10 bilhões ao ano.

Eduardo Almeida Reis-Público-alvo‏

Público-alvo
Gosto não se discute, mas continuo sem entender como existe gente que gosta de frio
Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 06/09/2014







Quando me assento diante do computador para escrever esta coluna penso no segmento da sociedade com determinadas características em comum (idade, sexo, profissão, interesses etc.) ao qual dirijo esta mensagem, isto é, o público-alvo de Tiro e Queda. Faço o mesmo quando escrevo outras colunas para outras publicações e penso que esta deve ser a intenção dos diretores de nossas tevês abertas e/ou pagas.

Há fatos que infelizmente existem, o que não significa dizer que devam ser exibidos. Por exemplo: lixões e catadores. Qual é a graça de filmar um lixão em cores para enfiar a imagem na casa do telespectador? O drama dos lixões pode ser comentado dispensando as imagens. Pedofilia também existe, mas pergunto: é preciso filmar, ainda que borrando o rosto, uma criança violentada? O mundo tem milhares, talvez milhões de moradores de rua, mesmo em países gélidos: não é desgraça exclusivamente brasileira. Daí a entrevistar moradores de rua embaixo de um viaduto, em São Paulo, e veicular pela televisão o que pensa o infeliz, longe de resolver o problema do entrevistado, serve apenas para estragar o dia do telespectador. O quadro é da exclusiva competência das autoridades, através de suas equipes de assistência social treinadas e remuneradas.

Diferente é a veiculação na tevê brasileira da epidemia do ebola na África, ou da malária, da dengue e das gripes por aqui. Podemos tentar defender-nos da malária, da dengue e das gripes, de mesmo passo em que devemos ficar atentos ao risco de importação do ebola. Dia desses, vi na tevê que os médicos de muitos hospitais brasileiros estão recomendando que as pessoas parem de se cumprimentar apertando as mãos.

Esta mania nacional de apertar as mãos deve ser combatida. Como prova de educação, bastam bom-dia, boa-noite, muito obrigado. O mesmo brasileiro, que sempre se esquece do bom-dia e do muito obrigado, não dispensa o shake hands. Daí para uma gripe é a coisa mais fácil.

Tetas

Depois que um jornal carioca descobriu “divinas tetas” num touro suíço exibido na Praia do Arpoador, Rio de Janeiro, as glândulas mamárias voltaram à ordem do dia, tanto assim que o mesmíssimo jornal publicou, num só domingo, duas fotos coloridas. Numa delas, vemos jovens pataxós de sutiãs no litoral baiano em que se hospedou a Seleção Alemã. Noutra, um grupo de senhoras brancas com os peitos de fora no litoral do Rio de Janeiro, em Paraty, protestando contra o machismo. Senhoras do mundo inteiro mostram os peitos quando protestam contra qualquer coisa.

O Femen, que tem como lema o sextremismo, fundado em 10 de abril de 2008 como grupo de protesto sediado em Kiev, Ucrânia, por Anna Hutsol, Oksana Shachko, Alexandra Shevchenko e Inna Shevchenko, http://femen.org, também considerado femista, exibia belas tetas, não há negá-lo. Tornou-se notório por protestar em topless contra assuntos como turismo sexual, racismo, homofobia, sexismo e outros fenômenos sociais.

Entre os quais, se destaca a mania de escrever “não há como negá-lo”, quando o português de primeira água pede “não há negá-lo”. Enquanto philosopho, rogo ao caro e preclaro leitor que me explique a relação que possa existir entre os peitos de fora e o machismo, aproveitando a oportunosa ensancha para explicar a história dos sutiãs nas mocinhas pataxós. De antemão, muitíssimo obrigado.
O mundo é uma bola

6 de setembro de 3761 a.C., primeiro dia do calendário judeu. Continuo horrorizado com a onda antissemita que reapareceu em julho no mundo inteiro, tsunami de ódio que supus aplacado depois da Segunda Guerra Mundial. No ano 394 e no dia 5 de setembro, Teodósio I derrota o usurpador Eugênio na Batalha do Rio Frígido, que fica na atual Eslovênia. Sendo Frígido, deve ser muito frio, superlativo absoluto sintético frigidíssimo. Talqualmente a manhã em que escrevo estas bem traçadas, até hoje a mais fria do ano. Lauro Diniz telefonou-me exultante às 7h para informar que, no Retiro das Pedras, em Brumadinho, Região Metropolitana de Belo Horizonte, os termômetros marcaram 4 graus, mas ele e Danielle têm lareira, enquanto o philosopho pelejava com os 9 graus de Juiz de Fora, cidade-polo da Zona da Mata. Gosto não se discute, mas continuo sem entender como existe gente que gosta de frio.

Em 1522, o basco Juan Sebastián Elcano chega a Sanlúcar de Barrameda (Cádiz) com um só navio e 18 homens depois da fazer a primeira viagem de circum-navegação, que, informa Houaiss, é viagem marítima ou aérea em redor da Terra. Elcano viajou num veleiro, coitado, séculos antes da invenção dos navios a vapor e dos aviões, numa frota liderada por Fernão de Magalhães, que morreu flechado nas Filipinas.

Em 1901, William McKinley, presidente dos Estados Unidos, leva dois tiros de Leon Czolgosz, que foi assentado numa cadeira elétrica dia 29 de outubro do mesmo ano. McKinley morreu alguns dias depois de levar os tiros. Num país grande e bobo, Czolgosz, norte-americano de origem polonesa, seria condenado a 20 anos de reclusão, cumpriria seis e voltaria ao seio da sociedade. Hoje é o Dia do Sexo. Só hoje?

Ruminanças

“É a minha conclusão que no Ocidente se pensa muito no sexo e muito pouco nas mulheres” (Lin Yutang, 1895-1976). 

ARNALDO VIANA » O massacre da serra elétrica‏

Estado de Minas: 06/09/2014 




Meados dos anos 1980. O barco com três pescadores amadores sobe e desce o São Francisco, nos costados da cidade de Januária. No leme, Chiquinho, um nativo tostado pelo sol. Conhecia cada curva do rio e sabia de cor e salteado onde estavam os bancos de areia, invisíveis aos olhos dos passageiros. Era fim de inverno, mas o calor castigava. A água corria mansa, barrenta, serpenteando o assoreamento e já infestada de dejetos e despejos humanos. O Velho Chico ainda justificava a fama de caudaloso. Poderoso.

Se as armadilhas do rio, expostas ao instinto de sobrevivência dos ribeirinhos, escapavam aos olhos dos forasteiros, as marcas da degradação em andamento não. Nos anzóis, nada. Os peixes já rareavam. O piloteiro sugeriu uma chegada à chamada Curva da Laranjinha. “Lá, pelos menos belisca.” Não beliscou. A isca ia e voltava impune. Barco poitado, Chiquinho se sentou à proa e, quase em letargia, vagava os olhos silenciosos pela imensidão do leito d’água. Parecia alheio à falta de emoção dos pescadores. Uma fr1ase o despertou:

– Chiquinho, este rio vai morrer. Está morrendo…

 – Vai não, moço. Vai não. Tem muita água.

Chiquinho tirava do rio o pescado para complementar a alimentação da família. Nas margens, bem longe da curiosidade alheia, cultivava milho, moranga e melancia. Quando não havia clientes para descer e subir o rio, fazia bicos na construção civil. Januária andava em crescimento. O cultivo de frutas irrigadas no vale era um aceno de esperança. Um paraíso que o humilde misto de piloteiro, agricultor e pedreiro não admitia perder.

Naquele tempo, era preciso encarar muita poeira e buracos nos quase 170 quilômetros que separam Januária de Montes Claros. À noite, uma viagem gostosa. O céu do cerrado é generoso em brilho de estrelas, se não há nuvens. Aquela estrada de chão nem tão batido corria como alameda entre árvores retorcidas. De uma ultrapassagem a outra, caminhões carregados de sacos cheios de carvão. Em Pedras de Maria da Cruz, o fim do caminho. A balsa esperava para a travessia.

Dez anos depois, um dos três pescadores volta a Januária para tentar reviver aventuras no curso do Velho Chico. Em vez de balsa, ponte. E nem precisava. Dava para atravessar o rio a pé. Chiquinho estava lá, nem tão curtido pelo sol. E não se anima a entrar no rio. Já admitia, de certa forma, a agonia do rio.

– Acabou o peixe, moço. O barco? Está sem motor. Há muito não é alugado. Ninguém vem mais pescar. Vivo parte do ano aqui, com a família, e outra parte trabalhando como pedreiro em São Paulo.

 O São Francisco, o Doce, o Mucuri, o Grande, o Pará, o Paraopeba, o Velhas, o Paraíba do Sul, os afluentes, as lagoas naturais, as represas. Tudo à míngua. Só para ficar em Minas. Jogam a culpa na chuva, que não chega aqui nem acolá. Por que não? Uma das respostas está no desmatamento. A porção mineira da mata atlântica já se foi e aquelas árvores retorcidas do cerrado migraram para as cidades em forma de carvão. Cedem lugar às florestas de eucaliptos.

No Sul, no Sudeste e no Nordeste não há mais o que serrar. As serras elétricas avançam agora sobre o Centro-Oeste e o Norte. A ganância pela valiosa madeira de lei ganhou um aliado forte, o agronegócio. Só entre agosto de 2013 e julho deste ano, a Amazônia Legal perdeu mais de 3 mil quilômetros quadrados de mata. Um massacre. Saibam que há influência da floresta tropical do Norte na ocorrência de chuvas nas demais regiões. O agronegócio gera um terço do empregos no país e contribui com 20% do PIB, mas precisa estabelecer fronteira entre o bem e o mal.

O pior é que nunca houve e não há projeto político de recuperação das matas ciliares, das bacias hidrográficas do tamanho que a necessidade pede. Não há pulso forte contra os desmatadores. Não se vê nos noticiários condenação de quem andou depenando florestas. E a campanha eleitoral está aí.

Observação do Negão: A lei eleitoral proíbe a instalação de placas de propaganda política em jardins e de forma que dificultem a passagem de pedestres em espaços públicos. Os canteiros centrais da Afonso Pena, avenida que atravessa o coração de BH, estão repletos de placas. Os folgados que as espalham comprometem até mesmo os candidatos que já governaram a cidade.

Carne passa a ter grife‏

Carne passa a ter grife
Mercados aquecidos levam redes a investir na disputa pelo consumidor
Juliana Moreira
Gestora de marketing
Estado de minas : 06/09/2014


Os tempos mudam e os hábitos acompanham o mesmo ritmo. Quem tem mais de 50 anos, com certeza, se lembra da família comprando carne em pequenos açougues no bairro, onde a relação era tão íntima que todos se chamavam pelo nome e anotavam os pedidos na caderneta para pagar no final do mês. Com a presença de grandes frigoríficos e hipermercados, os pequenos açougues, até então os únicos locais especializados no produto, começaram a perder espaço no mercado para as grandes redes varejistas e, com isso, aos poucos, boa parte desses pequenos estabelecimentos foi fechando as portas. De olho no aumento do consumo de carne proporcionado pelo crescimento econômico dos brasileiros, as grandes redes alimentícias passaram a investir cada vez mais em cortes diferenciados e de qualidade, aumento da produção fabril e embalagens diferenciadas.

Segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior, os frigoríficos brasileiros exportaram mais de 1,5 milhão de toneladas de carne bovina, faturando mais de US$ 6 bilhões no ano passado. Já os brasileiros, conhecidos pela paixão nacional pela carne, consomem 42 quilos de carne por ano, o que representa uma alta procura pelo produto e que acaba mantendo os mercados interno e externo aquecidos. Nesse cenário, as grandes empresas produtoras de carnes no país sentiram a necessidade de investir nas mídias publicitárias, realizando ações de comunicação para se aproximar do público e impulsionar as vendas. Contudo, elas tiveram de partir do zero, já que o segmento não tinha a cultura de investir em ações de comunicação e marketing. O grande desafio dos profissionais de comunicação à frente dessas indústrias é fazer com que os diferenciais do produto sejam perceptíveis aos olhos do cliente e consumidor final. Investir em ações de rebranding é a nova tendência desse segmento, aproximando as grandes marcas de seu público-alvo. Para alcançar esse objetivo, estratégias como reformulação do site e peças gráficas, campanhas publicitárias nos veículos de massa, novos produtos, inserção nas redes sociais, garotos-propaganda conhecidos no cenário nacional, além do marketing digital são alguns exemplos de ações realizadas que estão trazendo grandes resultados para o segmento.

Não é incomum hoje, ao contrário de 10 anos atrás, ligar a televisão no horário nobre e se deparar com um comercial de alguma marca de carne. Todavia, é preciso cautela antes de iniciar qualquer ação de comunicação, seja ela uma megacampanha ou um planejamento mais simples. Primeiramente, é necessária uma pesquisa aprofundada do setor para estabelecer o objetivo da campanha e, a partir daí, definir as estratégias de marketing adequadas para o perfil da empresa e do público-alvo. Um trabalho benfeito e cauteloso pode evitar altos investimentos e transtornos para as empresas, como já ocorreu no mercado com outras companhias. 

Não pode haver retrocesso ambiental Wilson Campos

Wilson Campos
Advogado, presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses Coletivos da Sociedade, da OAB-MG
Estado de Minas: 06/09/2014 



O princípio de vedação ao retrocesso ecológico pressupõe que a salvaguarda do meio ambiente tem caráter irretroativo: não pode admitir o recuo para níveis de proteção inferiores aos anteriormente consagrados, a menos que as circunstâncias de fato sejam significativamente alteradas.

Essa argumentação busca estabelecer um piso mínimo de proteção ambiental, para além do qual devem rumar as futuras medidas normativas de tutela, impondo limites a impulsos revisionistas da legislação. Porém, esse quadro de controle ambiental afronta os interesses particulares do setor produtivo rural brasileiro e dos empreendedores imobiliários que se refugiam nos ataques de que tudo não passa de uma somatória de silogismos.

Devo assentir que, definitivamente, se perdeu o bom senso na discussão do equilíbrio e da sustentabilidade. A inexplicável desobediência aos princípios basilares constitucionais tomou de vez um rumo nada democrático no país. A certeza da impunidade de muitos, salvo as exceções de praxe, impera nas esferas governamentais, por pressão do poder econômico. Os interesses difusos e coletivos se encontram abandonados, mormente quando se trata de proteção ao meio ambiente.

As sanções aos agentes infratores simplesmente não surtem efeito, porquanto restem inertes no contexto de leis supostamente disciplinadoras. As leis nº 4.898/65 (Abuso de Autoridade), 8.429/92 (Improbidade Administrativa) e 9.605/98 (Crimes Ambientais) e o parágrafo 4º do art. 37 da Constituição há muito não metem medo nos responsáveis pelos delitos. A justificativa dessa triste afirmação fica por conta do desmatamento acumulado da Floresta Amazônica, que dobrou nos últimos 25 anos, chegando hoje a aproximadamente 800 mil quilômetros quadrados, segundo dados do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Afora o corte de milhões de árvores e a devastação ambiental em diversos pontos do país, o poder público permite a investida furiosa da verticalização nos grandes centros, violando os parâmetros de altimetria, contrariando as normas sistematicamente estabelecidas e desrespeitando as áreas ecológicas protegidas.

A flexibilização corre solta, de encontro à verticalização, que, por sua vez, adentra os espaços restritos, reservados até então para as áreas de preservação permanente e de diretrizes especiais.

É de gravidade severa o que toca à agressão aos parâmetros restritivos nas áreas verdes e nas de proteção e preservação ambiental. Os objetivos de flexibilização, verticalização ou quaisquer outros, permissíveis e contrários à biodiversidade, são inadmissíveis do ponto de vista legal.

Está evidente que o retrocesso que se terá na área ambiental será substancial, caso prevaleçam essas novas modalidades de crescimento e desenvolvimento a qualquer preço, promovendo a intensificação da degradação ambiental. E, mais que isso, restará gritante o desrespeito com a sociedade que se imaginava em pleno gozo do Estado democrático de direito.

O que a insensibilidade do poder público vem tentando impor aos cidadãos é o mais retumbante golpe no Princípio da Proibição do Retrocesso. No entanto, a ordem constitucional vigente propugna por garantir um mínimo existencial ecológico e proíbe o retrocesso ambiental (art. 225, da Constituição). Ora, posto isso, a ninguém cabe praticar o dilaceramento das conquistas ambientais ou macular frontalmente o princípio da proteção ambiental.

Desse modo, o direito do ambiente afigura-se como um direito fundamental de terceira geração, submetendo-se ao princípio de vedação ao retrocesso, ou seja, o impedimento da degradação ambiental baseia-se no princípio da proibição da retrogradação socioambiental. Por tal princípio, o nosso Estado de direito não pode retroceder em relação às conquistas de direitos fundamentais.

Liderança global - Dan M. Kraft

Liderança global Estaríamos diante de um momento sensível e grave como a década de 1930, em que o conflito global estaria se aproximando?



Dan M. Kraft
Advogado e professor de direito no Brasil e no Canadá
Estado de Minas: 06/09/2014



Uma persistente crise de liderança ocorre nos meios privados e públicos. Um novo modelo de governança de interesses coletivos (sejam eles de acionistas ou de cidadãos) não substituiu o antigo, que é personalista e autoritário, não acostumado a prestar contas ou ouvir. Estamos no meio do caminho, como autômatos que não sabem muito bem a razão dos acontecimentos que afetam nossas vidas em sociedade.

No mundo corporativo, grandes conglomerados não conseguem emular seus fundadores e líderes, como Steve Jobs, Kiichiro Toyoda e Antônio Ermírio de Moraes, sucumbindo lentamente à mesmice e abrindo mão da inovação. A aversão ao risco, à firme tomada de decisão, substitui a ousadia e condena empresários a se tornarem burocratas, seguidores de gurus charlatães, vendedores de fórmulas de sucesso, bem como reféns de consultorias comprometidas com o status quo.

Na vida política, ocorre exatamente a mesma coisa, lado da mesma moeda da liderança fraca, opaca, comprometida, mal instruída e engessada. Os países ocidentais, beneficiários do racionalismo iluminista, que desenvolveram culturas extremamente avançadas na paz e na guerra, estão em franca decadência. Seus governantes insistem em repetir o mesmo ou em acreditar piamente que outros povos imitarão suas fórmulas centenárias e libertárias.

Quando Barack Obama foi anunciado como ganhador do Prêmio Nobel da Paz, antes de concluir seu primeiro ano de governo, ficou claro quão fracas andam não apenas as lideranças mundiais, mas também aqueles que as avaliam. Presidente hesitante em política externa, que abandonou seus aliados para apaziguar o discurso de ódio de nações declaradamente inimigas, Obama não fez – nem faz – por merecer um prêmio que, muitos dizem, lhe deveria ser cassado.

A atual ausência de liderança mundial, papel guardado após a Segunda Grande Guerra pelos Estados Unidos, não se substitui por organismos multilaterais como a ONU, que serve de fonte inspiradora de princípios, mas cujos dentes e garras ninguém assustam. Nos conflitos da Sérvia, a Europa pouquíssimo fez e assistiu-se, a poucas centenas de quilômetros dos magníficos Champs Elisées, o genocídio do século, após a queda do nazismo.

A crescente ameaça islâmica, representada pelo califado e seu Estado Islâmico que desconhece as fronteiras internacionais, combinada com o insistente desafio russo à autodeterminação ucraniana, desafiam o mundo, que ainda resta silente salvo raras exceções. A paz sempre foi uma quimera na humanidade, mas interdependência econômica e diplomacia transformaram os últimos 60 anos em um período razoavelmente livre de conflitos em escala mundial. As tecnologias da guerra são mais ameaçadoras hoje em dia, pois, além do confronto corpo a corpo, a destruição remota, inclusive eletrônica, pode causar milhões de vítimas.

Um mundo sem liderança cai no caos. A obra literária de Winston Churchill, primeiro-ministro britânico que arquitetou a derrota de Hitler, é o melhor relato sobre como as nuvens da tempestade foram se reunindo, até ser inevitável o conflito que dizimou dezenas de milhões de vidas pelo mundo. Problemas econômicos e a negação da realidade fizeram com que o posicionamento de povos de bem desse espaço à destruição duradoura dos tiranos.

Estaríamos diante de um momento sensível e grave como a década de 1930, em que o conflito global estaria se aproximando, permitindo a polarização genocida? Os analistas internacionais estão muito divididos sobre qual o ponto de não retorno.

O fato é que a liderança atual norte-americana, que comanda a armada mais possante do planeta, elegeu dar passos para trás quando se trata de impor a paz. Após a prepotência da era Bush, Obama invocou para si a missão de enterrar a Pax Americana. Entretanto, o problema não é sair do lugar, e sim não chegar ao destino. O mundo desconhece para onde caminha e essa falta de direção é a receita do desastre. Quando regimes totalitários resolvem ampliar suas áreas de influência e poder, líderes globais fracos tornam seus povos presa fácil. Líderes visionários andam fazendo muita falta.

COLUNA DO JAECI » Por uma mudança de atitude‏

COLUNA DO JAECI » Por uma mudança de atitude "Dunga tem números expressivos na Seleção. Bem ou mal, fez bom trabalho, revelando jogadores e montando um esquema de jogo. Mas a derrota para os holandeses selou sua demissão"
Jaeci Carvalho
Estado de Minas: 06/09/2014


Miami – Escrevo a coluna antes de Brasil x Colômbia, do qual me ocuparei na edição de amanhã. Falo hoje do futuro da Seleção. Depois do maior vexame da história do futebol do país, seguiram-se uma comoção nacional e o sentimento de que precisamos mudar radicalmente e tomar como exemplo a Alemanha, que fez um projeto de 12 anos até ganhar a Copa de 2014. No meio do caminho, até perdeu em casa em 2006. É legal ouvir afirmações de que mudanças são fundamentais, mas, para que aconteçam, é necessário bem mais do que palavras. A começar por nós, da imprensa, e pela torcida. Processo que demanda tempo, no mínimo médio prazo, o que nem jornalistas nem torcedores admitem.

Na entrevista coletiva de Dunga, perguntei a ele a respeito. Já que o contrataram para modificar o que está errado, por que não lhe encaminharam um projeto para chegar ao título de 2022? Sabemos que há muita coisa viciada em nossa estrutura e, para que haja a mudança, será preciso tempo. Mas penso que até o próximo Mundial ele não é adequado. O técnico respondeu que, infelizmente, não dá nem no curto prazo, pois uma derrota em cada jogo causa um sentimento de mudança, e ele tem de pensar no agora, não em 2018.

Está certo. No Brasil, o que determina a permanência de um treinador no cargo são os resultados. O trabalho em si de nada vale. Pergunto-me então se não teria sido melhor a manutenção de Dunga depois da derrota para a Holanda nas quartas de final de 2010. Assim, ele poderia ter montado belo time para 2014, com força para ser campeão. Seriam oito anos de trabalho, como teve Joachim Löw. Auxiliar de Jürgen Klinsmann, ele assumiu logo após a Copa de 2006. E o que aconteceu oito anos depois? Alemanha campeã.

Dunga tem números expressivos na Seleção. Bem ou mal, fez bom trabalho, revelando jogadores e montando um esquema de jogo. Mas a derrota para os holandeses selou sua demissão. Veio Mano Menezes, que em dois anos e meio nada conseguiu, e Felipão, que tentou salvar o barco em um ano e meio. Muito pouco para conquista de tamanha grandeza. Escrevi outro dia que Dunga não foi à CBF pedir emprego, não bateu na porta de ninguém, e sim aceitou um convite. Que então se dê a ele tempo e um projeto de verdade. Quatro anos é muito pouco tempo para formar mentalidade vencedora. Claro que ele está aproveitando jogadores que participaram do fracasso, e não poderia ser diferente. Precisa no mínimo de uma base para tocar seu trabalho. No calor da emoção, todos queremos ver fora 22 dos 23 jogadores que fracassaram. Ficaríamos só com Neymar. Mas, usando a razão, não pode nem deve ser assim. Há gente boa que errou, mas pode ter uma segunda chance. Dunga e sua geração, que fracassaram em 1990, ganharam em 1994. Aprenderam com os erros e trouxeram o tetra 24 anos depois do tri.

Queremos mudanças radicais, mas não aceitamos mudar nossos conceitos. Por que não aceitarmos que nosso trabalho está atrasado em relação a Alemanha, Holanda, Argentina, França...? Todos já têm boa base e vão se ajustando para a Eurocopa, no caso dos europeus, e para a Copa América, caso dos sul-americanos. Estamos atrás até da Colômbia, adversário de ontem, que tem o argentino José Pekerman no comando há quatro anos e chegará à Rússia em 2018 com oito anos de projeto. Esse é o trabalho que deve ser feito. Pois que Dunga trabalhe com esse objetivo. Já que ele teve o melhor aproveitamento entre os últimos técnicos do time, que se aposte nele para 2022. Sou realista: ganhar em 2018 será muito difícil. Tem muita gente boa na frente da fila. Vamos mudar nossos conceitos.

Sempre ele!- Jaeci Carvalho

Na reestreia de Dunga e com um jogador a mais durante um bom tempo, Neymar salva a Seleção Brasileira, que vence a Colômbia por 1 a 0. Terça-feira o time encara o Equador


Jaeci Carvalho
Estado de Minas: 06/09/2014


Atacante do Barcelona comemora com o cruzeirense Éverton Ribeiro o belo gol que marcou (Fotos: Bruno Domingos/Mowa press)
Atacante do Barcelona comemora com o cruzeirense Éverton Ribeiro o belo gol que marcou


Miami – Mais uma vez coube a Neymar resolver a parada. Agora escolhido como capitão por Dunga, novo técnico da Seleção Brasileira, o atacante do Barcelona, cobrando falta com maestria, garantiu a primeira vitória do comandante em sua volta ao time nacional, na primeira partida do Brasil depois da vexatória campanha do Brasil na Copa do Mundo. A Seleção venceu a Colômbia por 1 a 0, no Estádio Sun Life, em Miami. O colombiano Cuadrado foi expulso no início do segundo tempo, e o atleticano Diego Tardelli teve boa atuação, com muita movimentação no ataque. Agora o time de Dunga volta a campo no segundo amistoso na terra do Tio Sam, enfrentando o Equador, na terça-feira, em Nova Jérsei.

Antes de a bola rolar, os capitães de Brasil e Colômbia, Neymar e Zúñiga, trocaram cumprimentos amigáveis, deixando claro que o passado definitivamente ficou para trás. Na Copa do Mundo, o atacante do Barcelona acabou sendo cortado do time brasileiro depois de sofrer um falta violenta cometida pelo lateral-direito do Napoli. Mas o clima amistoso ficou por aí. Com o início do jogo, brasileiros e colombianos mais uma vez mostraram rispidez nas divididas. E houve distribuição de cartões amarelos, principalmente para os adversários, que distribuíram pancadas. O Brasil apostou na movimentação, principalmente com Tardelli, tentando passar pela forte marcação da Colômbia. E o destaque do time na primeira etapa foi mesmo o atleticano que, ao contrário de Fred no Mundial, buscava o jogo de um lado a outro do campo.

Neymar e Willian também eram participativos, ao contrário de Oscar, que pouco mostrou. Aos 24min, o Brasil chegou a colocar a bola nas redes com Diego Tardelli, Mas o assistente marcou um impedimento duvidoso. Mas não era só o Brasil que atacava. Pela Colômbia, Cuadrado se mostrou o mais envolvente jogador. Já James Rodríguez chamava mais a atenção do público pela fama do que pelo futebol.

NA VOLTA No segundo tempo quem resolveu entrar em ação foi Dunga. O treinador trocou a dupla de volantes: saíram Luiz Gustavo e Ramires para as entradas de Fernandinho e Elias. Mas logo aos quatro minutos, Cuadrado cometeu falta em Neymar, recebeu o segundo cartão amarelo e, consequentemente, o vermelho. Os brasileiros reclamaram muito da violência, enquanto os colombianos, da arbitragem. O Brasil passou a ter mais liberdade e em pouco tempo criou mais chances. Diante do domínio brasileiro, a Colômbia não economizou pontapés. Dunga mexeu: Philippe Coutinho e Éverton Ribeiro assumiram as funções de Oscar e Willian. O panorama não mudou muito.

Foi a vez de José Pékerman mudar, sacando a revelação James Rodríguez para a entrada de Falcao García. Mas aos 37min, o Brasil finalmente marcou. O cruzeirense Éverton Ribeiro tentou bom lançamento para dentro da área e bola foi cortada com a mão por Martínez. Falta, que foi cobrada com maestria por Neymar, no ângulo, abrindo o marcador e garantindo a alegria de Dunga. Do outro lado, os colombianos voltaram a reclamar com a arbitragem, como fizeram na derrota nas quartas de final da Copa.


Goleiro Ospina tentou, mas não conseguiu alcançar a bola que entrou no ângulo esquerdo (Fotos: Bruno Domingos/Mowa press)
Goleiro Ospina tentou, mas não conseguiu alcançar a bola que entrou no ângulo esquerdo


Os desfalcados

O primeiro turno do Brasileiro termina neste fim de semana com 11 times desfalcados de 23 jogadores, por causa de amistosos de cinco seleções nacionais e da Seleção Sub-21. A maioria também estará fora da abertura do returno, na quarta e quinta-feiras. A equipe mais prejudicada é a do Cruzeiro, uma das duas a não poder usar quatro atletas – a outra é a do Corinthians. A Raposa não tem os armadores Éverton Ribeiro e Ricardo Goulart, na Seleção Principal, e o volante Lucas Silva e o armador e atacante Alisson, na Sub-21. No Timão, Mano Menezes ficou sem o zagueiro Gil e o volante Elias, na Seleção Brasileira, o armador Lodeiro, na Uruguaia, e o atacante Guerrero, na Peruana. Dois clubes perdem três jogadores: o Inter, sem o goleiro Jacsson e o lateral Gilberto, na Sub-21, e o armador Aránguiz, no Chile; e o Santos, sem outro chileno, o lateral Mena, o volante Alison (Sub-21) e o atacante Robinho (Seleção Brasileira). O Atlético ficou sem o lateral-esquerdo Douglas Santos, chamado por Gallo, e o atacante Diego Tardelli, convocado por Dunga. O Botafogo tem o goleiro Jefferson na Principal.