sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

O futuro da Irmandade -RASHEED ABOU-ALSAMH


O Globo - 14/12/2012

Egípcios estão cansados
de tanta tensão política
e incerteza econômica


As batalhas acirradas e mortais nas ruas do Cairo entre apoiadores do presidente egípcio Mohamed Mursi e os membros da oposição nos últimos dez dias, que deixaram pelo menos sete mortos e mais de 400 feridos, são sinais de que os desacordos políticos estão ocorrendo de forma violenta, em vez de serem decididos pacificamente no parlamento e nas urnas. Mas o povo egípcio terá chance amanhã de aceitar ou não a nova Constituição em um referendo, que será tanto sobre a Carta em si como sobre o desempenho do regime Mursi até agora.

Os pobres egípcios estão cansados de tanta tensão política e incerteza econômica em quase dois anos de revolução, depois da derrubada do expresidente Hosni Mubarak em janeiro de 2011. Segundo país a entrar na Primavera Árabe, o Egito continua ainda hoje sem um parlamento e sem uma nova Constituição. As eleições parlamentares só podem ser realizadas depois de a nova Carta ser aprovada.

Mursi, ex-dirigente da Irmandade Muçulmana, tem tomado decisões impopulares, mal pensadas e apressadas. No final de novembro ele anunciou que, por meio de um decreto presidencial, qualquer decisão dele seria imune a qualquer revisão judicial, mesmo da Suprema Corte. Parecia um ato da era ditatorial de Mubarak ou de Anwar Sadat. A reação popular foi imediata, com a oposição gritando nas ruas contra o decreto. Na época eu entendia que Mursi se sentia acuado por elementos no Judiciário que querem fazer de tudo para não deixar a Irmandade e os islamistas ter sucesso na política, e por isso tinha que blindar o processo de produzir uma nova Constituição e novas eleições parlamentares para eleger membros de um parlamento que foi dissolvido por uma corte em junho. Mesmo assim, Mursi foi forçado a recuar pela reação pública, e extinguiu várias cláusulas daquele decreto.

Mursi está cometendo um erro estratégico e muito grave em não tentar incluir a oposição formada por liberais, secularistas, mulheres, jovens, cristãos e esquerdistas no processo de redigir uma nova carta constitucional. A Assembleia Constitucional, que redigiu a nova carta, tinha 100 membros no inicio dos seus trabalhos alguns meses atrás. Em pouco tempo, trinta desses membros, todos da oposição,
deixaram a assembleia em protesto contra a maioria islamista, alegando que suas preocupações estavam sendo ignorados pela maioria. Isso deixou a carta nas mãos dos islamistas, que adicionaram várias novas cláusulas no novo documento que, entre outras coisas, dizem que é o dever do Estado proteger a santidade da família egípcia, e que a universidade de Al-Azhar, o mais antigo centro de ensinamento islâmico no mundo, deverá ser consultada em assuntos de Sharia, ou lei islâmica no Egito.

Muitos egípcios e a imprensa ocidental ficaram alarmados, ao entender que o partido da Justiça e Liberdade queria tornar o Egito num novo Irã. Mas qualquer pessoa que conhece o Egito vai dizer que a maioria da população é muçulmana, conservadora e religiosa; que reza cinco dias por dia, vai à mesquita varias vezes por semana e que preza a vida familiar. Então eu acho essas preocupações um tanto exageradas, embora devam ficar sob olhar atento.

Vários comentaristas ocidentais insistiram em apontar que a nova Constituição egípcia não declara a igualdade das mulheres com os homens diante da lei e do Estado, como se no passado o Egito tivesse sido um paradigma de feminismo e liberdade de expressão durante os 60 anos de ditadura secular. O professor de Ciências Políticas na Universidade George Washington Nathan J. Brown apontou, em um artigo recente na revista “Foreign Affairs”, que a direção que o Egito vai tomar depende muito de comoa nova Carta será interpretada pelo parlamento, através de novas leis, e pelo Judiciário.

Um exemplo da tentativa do Estado de se impor à população é a lei que proibiu a prática de circuncisão feminina, promulgada inicialmente por decreto ministerial em 1959, até que finalmente em 1996 o então ministro da Saúde decretou proibição, exceto quando por razões médicas. Isso deixou uma brecha enorme para qualquer pessoa ignorar a lei, se quisesse. Em 2007 mais um decreto proibiu qualquer profissional da área médica, ou qualquer outra pessoa, de se envolver no procedimento. Infelizmente esses decretos não acabaram com a prática que continua firme, especialmente nas classes mais pobres e menos educadas.

A oposição tem estado desunida, o1 que tem favorecido Mursi e os islamistas. Por vários dias eles estiveram divididos na questão de ou votar “não” no referendo, ou boicotar o exercício completamente. Somente no dia 12 de dezembro, três dias antes do referendo, eles decidiram votar “não”. Vamos ver o que vai acontecer agora à Irmandade, que tem uma capacidade notável de organizar eleitores para comparecer às urnas.

É triste ver Mursi, que ficou preso por muitos anos durante o regime de Mubarak, e a Irmandade, que ficou banida no Egito desde quase quando foi formada em 1928, agir dessa maneira autocrática e ditatorial. Os manifestantes da Praça Tahrir não deram  suas vidas e olhos para isso. O novo Egito tem que incluir todos os egípcios, garantir a liberdade de expressão, de movimento, de agrupamento e não deixar nenhum ramo do governo, seja o Executivo, o Judiciário ou o Legislativo, ter poder absoluto. Senão teremos uma nova ditadura — desta vez, com um sabor islâmico.

DAVID COIMBRA - Nunca mais vou dançar

Zero Hora 14/12/2012

Virei um moloide, depois que meu filho nasceu. Não foi de uma hora para outra. Um analista amigo meu, certa feita, disse-me que o ser humano “é muito lento”. Bom. Sou ainda mais lento. A mudança vai acontecendo, acontecendo e, de repente, acontece quase que sem que eu perceba. Aí se transforma em crise. Que se transforma em dor. Por que não mudei racionalmente, inteligentemente, ponderadamente, para evitar todo esse processo doloroso?

Maldição.

Mas, como dizia, fui me amolentando aos poucos, após me tornar pai. Hoje sou um molenga completo, sobretudo no que se refere a crianças. Aqueles meninos de cabecinha redonda e grandes olhos tristes que passam fome no Chifre da África, basta vê-los por 10 segundos na TV e já me marejam os olhos. As crianças de países árabes que fogem de bombardeios puxadas pela mão da mãe, assistir a essas cenas me deixa com uma bola na garganta.

Mas não precisa ser uma tragédia internacional. Pode ser uma decepção arrabaldina. Agora mesmo, 462 crianças de creches e escolinhas iam se apresentar no Araújo Vianna, e não puderam. Ensaiaram desde outubro para o grande dia, vibrantes de expectativa.

Chegado o grande dia, a Secretaria de Educação cancelou a apresentação porque faltaram “parceiros” para bancar os gastos com limpeza, segurança e transporte. Na página 42 da Zero de ontem há uma foto das meninas de cinco anos de idade sentadas no chão, com asinhas coloridas coladas às costas, elas que seriam borboletas no teatro. Uma delas, Sara, está com os bracinhos cruzados em frente à barriga, fitando o vazio. Com olhos rasos d’água, ela disse para a mãe:

– Nunca mais vou dançar.

Uma história trivial, mas me comoveu. Suponho que a Secretaria de Educação tenha coisas mais importantes com que se ocupar. Orçamentos. Calendários. Folhas de pagamento. A desilusão de quatrocentas e tantas crianças não entra nesses cálculos, nem pode ser medida. A despesa não havia sido prevista? Não foram encontrados patrocinadores? Paciência, cancele-se a apresentação, o choro das crianças não vai tirar a secretaria do prumo.

Muito racional. Eu, se fosse secretário ou prefeito, não conseguiria agir assim. Eu suspenderia todas as minhas tarefas do dia e daria um jeito de manter o espetáculo e não decepcionar as crianças. Sei que não é impossível. Quando se quer, é possível, e eu quereria. Seria uma tolice, talvez. Seria uma ação motivada pela emoção, não pela razão. Que fazer?

Virei, realmente, um moloide.

PAULO SANT’ANA - O Bairrista

Zero Hora 14/12/2012

Eu vou fazer um anúncio: os dois maiores humoristas do RS nos próximos anos serão esses dois rapazinhos anônimos que estão fazendo O Bairrista, uma entidade humorística que atua na Rádio Gaúcha e agora lançou um jornal próprio, no qual arranjaram uma paródia para a minha coluna, que hoje vou transcrever.

Não sou eu que escrevo, são eles. Mas eis a primeira paródia dos garotos, que eles intitularam “Deus”:

“Nesta primeira coluna, gostaria de saudar todos que me leram durante todos esses anos. Não por mim, mas por vocês. Que excelente decisão vocês tomaram ao se tornarem meus leitores. Em que outro lugar vocês encontrariam tanta genialidade numa combinação de papel e tinta?

Domingo, a cantora Madonna – nome em homenagem à minha mãe – teve a petulância de me chamar no palco para cantar com ela. Claro que aceitei, desde que Julio Iglesias me convidou para cantar com ele e me presenteou com seu próprio par de alpargatas, permito apenas que me chamem Dios. Para Madonna, abri uma pequena exceção: ‘Podes me chamar de God’. Não que eu seja bom ao cantar música pop, milongas ou boleros. Eu criei todos esses ritmos. Sei antes de qualquer outro ser o que um compositor irá incluir numa música. Sei a letra e o tom, portanto, cantá-las é a parte mais fácil.

Depois de muito tempo, resolvi passear pelas ruas e vielas de Porto Alegre. Como sempre, fui aclamado, reverenciado, aplaudido e amado. E olha que é verdade, em todo lugar que vou, sou querido e festejado. Como no almoço com meu amigo São Pedro. Sempre que ele tem uma dúvida sobre quais anjos mandar para conduzir uma tempestade, vem se aconselhar comigo. Só de bater o olho eu sei qual anjo é bom ou ruim. E é tiro certo! Por isso São Pedro se cala quando eu falo, coisa que todos vocês deveriam fazer.

Esses tempos, eu quis fazer uma experiência. Há tempos se ouvia um burburinho aqui no Jardim do Éden sobre um remédio azul que extermina problemas de ereção. Não que precisasse, mas mesmo assim resolvi tomar. O resultado não foi nada demais, visto que eu inventei também todos os órgãos masculinos.

Dizem que o Diabo precisa. Além disso, o Diabo fala demais. Não pode ver um microfone que já sai falando e falando. Outro defeito do Demo é não saber sair do gol. Sempre que rola uma pelada entre o time do Paraíso e o do Inferno, a jogada é infalível: bola na área que o Demo entrega. Assim tem sido por longos anos. Se tem algo que eu sei é tudo, e analisar um goleiro é só uma parte do todo.

Aproveitei o sábado de descanso e fui visitar nosso querido escritor Luis Fernando Verissimo no hospital. Não, não fui curá-lo, mas passei para dar um alô.

Não visitei o Wianey, pois ele não acredita mais em mim. Que fique bem claro: eu jamais acreditei nele”.

Bem, agora sou eu que escrevo. Vão aqui algumas manchetes do jornal O Bairrista: “Mesmo com este forte calor, Gramado pode ter neve nesta madrugada”. “Cleo Kuhn acerta a previsão do tempo e pega gaúchos de surpresa”. “Paulo Sant’Ana deixa de fumar e Souza Cruz registra queda no faturamento”.

Patrícia Rech de Oliveira - Construindo pontes

Zero Hora - 14/12/2012

Sempre recordo uma frase que dizia aos meus alunos durante nossas aulas de língua portuguesa (e por que não dizer também de cidadania), nos constantes esforços para educá-los em relação ao uso de termos politicamente corretos: “Existem maneiras e maneiras de se dizer a mesma coisa; o que muda é tão somente a forma como nos manifestamos”.

Dessa forma, uma expressão grosseira como um “Cale a boca” tem o mesmo objetivo que um “Por favor, faça silêncio”. O que se modifica, porém, é a intenção e cortesia (ou falta dela) na comunicação: a abordagem em si pode causar um efeito transformador ou devastador, sobretudo se levarmos em consideração as funções da linguagem: referente (assunto), mensagem (a conversa), emissor (quem fala), receptor (quem ouve), código (linguagem, ou seja, a própria língua portuguesa em si) e canal (o meio, o contexto).

Sem esquecer, é claro, do fato cultural, pois todo ser humano acumula conhecimento porque criou e emprega a linguagem, dentro de um contexto social no qual o sujeito esteja inserido, uma vez que a linguagem humana está sempre em processo contínuo de evolução e, por essa razão, em constante mudança.

Segundo Faraco & Moura (in Língua e Literatura – 4º volume), entende-se por cultura “todo fazer humano que pode ser transmitido de geração a geração, através da linguagem. A cultura é a soma de todas as realizações do homem”. Nessa perspectiva, há de se considerar que a problemática da falha de comunicação não está propriamente contida na forma como nos manifestamos, mas, sim, na forma como os outros recebem aquilo que é dito.

Existe um adágio popular que diz que somos responsáveis por aquilo que falamos e não por aquilo que os outros entendem. Nesse contexto, venho refletindo há algum tempo sobre levantar muros (vivermos isolados em defesa daquilo em que acreditamos e defendemos com veemência) e construir pontes (mediar nosso conhecimento e aceitarmos a visão do próximo em busca do equilíbrio de ideias e da boa convivência em grupo).

Essa inquietação de professora (ou educadora, se o termo for mais apropriado e socialmente aceito) irrompeu de maneira tal, que ultrapassou a barreira do pensamento íntimo, ao acompanhar a recente “gafe” cometida pela presidente Dilma Rousseff, durante seu pronunciamento na 3ª Conferência Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência. O equívoco na troca do termo “pessoa” por “portadora” desencadeou uma reação de protesto por parte do público, só desfeita por uma autocorreção em tempo, seguida de aplausos após o reconhecimento do erro pela própria presidente. Certamente, Dilma não teve intenção de ofender ninguém, até porque essas expressões vêm sofrendo modificações ao longo do tempo que mesmos os eruditos obedientes à norma culta podem se confundir.

O atual contexto social denota uma era de avanços tecnológicos cada vez mais amiúde, fora do alcance das camadas populares, bem como da recente reforma ortográfica e da linguagem internauta. Há uma linha tênue que separa o conhecimento empírico daquele que é oriundo de teorias e conceitos universais (muitos deles já caracterizados como obsoletos), e a ruptura desses paradigmas que nos fazem temer o emprego inadequado de expressões que possam ser interpretadas como discriminatórias ainda é um processo em construção para a maioria das pessoas.

Talvez a palavra em si não seja o essencial. Talvez os gestos, as atitudes, a empatia e a certeza de que todos somos iguais nas diferenças é que seja o verdadeiro canal de comunicação... A forma como nos tratamos mútua e reciprocamente é que definirá se realmente vivemos em um contexto que exclui e aprisiona ao levantar muros ou nos aproxima e liberta ao construir pontes.

Google faz acordo com jornais na Bélgica


Empresa encerra disputa sobre direitos autorais que durava seis anos; modelo pode ser usado em outros países
Movimento foi iniciado no Brasil, com o boicote de jornais; Alemanha prepara uma lei para implantar taxa na web
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA de SÃO PAULOO Google assinou um acordo com a imprensa e escritores belgas para encerrar uma disputa sobre direitos autorais que já durava seis anos.
O Google pagará tarifas legais acumuladas e colocará anúncios de seus serviços nos jornais. Estes, por sua vez, comprarão publicidades patrocinadas em sites da empresa de internet.
A parceria pretende gerar receita para os produtores de conteúdo por meio de serviços de "paywall", assinaturas e de publicidade do Google e introduzir ferramentas da rede social Google+, afirmou Thierry Geets, diretor do Google na Bélgica, em nota.
Além disso, tem o objetivo de distribuir o material original em plataformas móveis.
Anunciado anteontem, o acordo foi fechado na esteira de uma série de brigas ao redor do mundo com companhias de mídia, que levaram a Alemanha a trabalhar em uma lei para revisar a remuneração dos direitos autorais na internet.
Há duas semanas, o projeto de lei que obriga ferramentas de busca como a do Google a pagarem uma taxa aos produtores de conteúdo passou pela primeira leitura no Bundestag, o Parlamento alemão, e foi encaminhado a uma comissão interna.
O projeto deve ser votado somente em fevereiro, mas ainda não há data definida.
Na França, o presidente François Hollande deu até o fim deste mês para o Google chegar a um acordo com as publicações. Do contrário, uma legislação sobre o assunto será redigida. Na Itália, há movimento similar.
Esse processo sobre os limites do uso de conteúdo foi capitaneado pelos jornais brasileiros. Há mais de um ano, eles boicotaram o Google News, ao impedir que links com notícias fossem mostradas no agregador.
Geets ressalta que o movimento se dá em todo mundo, mas é mais brando em alguns países. Ele cita os governos de Holanda, Austrália, Reino Unido e Canadá, que levaram adiante reformas amigáveis no direito autoral de conteúdos veiculados na internet.
GANHA-GANHA
O acordo é encarado pelo Google como opção para resolver as diversas contendas.
"Existem muitas formas ganha-ganha para o Google e as publicações unirem forças no novo universo digital", afirmou Geets.
"Em vez de continuar argumentando sobre interpretações legais, concordamos sobre a necessidade de deixar de lado as antigas queixas em favor da colaboração."
"Essa é a mesma mensagem que gostaríamos de enviar a outras publicações ao redor do mundo. É muito mais proveitoso para nós trabalharmos juntos do que brigar."
Como exemplo de oportunidade de cooperação, cita a ferramenta AdSense, que paga US$ 7 bilhões anuais a publicações ao redor do mundo.

    Luiz Carlos Mendonça de Barros


    folha de são paulo
    O que esperar de 2013
    Creio que vamos replicar o comportamento dos EUA, com o investimento voltando a crescer
    Como escrevi na coluna passada, o ano de 2012 não será esquecido com facilidade pelo analista das coisas da economia. Foi um período de grande complexidade e, principalmente, da queda de paradigmas importantes na política econômica nas maiores economias do mundo.
    Na última quarta-feira, em sua reunião mensal do comitê de política monetária, o poderoso Banco Central dos Estados Unidos deu uma última e extraordinária contribuição a essa negação de símbolos da ortodoxia econômica: a partir de agora, a política de juros próximos de zero será modificada apenas se o desemprego vier abaixo do índice de 6,5% da população ativa.
    Nunca foi tão transparente como agora a existência de um duplo mandato para o Banco Central americano. Está clara a busca de uma queda dos atuais níveis de desemprego como foco principal da política de juros, pelo menos até que a inflação supere os 2,5% ao ano.
    Esse limite da inflação certamente foi a azeitona na empada para reduzir as críticas -que certamente virão- de que o Fed está inflacionando deliberadamente a economia com o objetivo de acelerar a saída da crise de crescimento.
    Outra observação que se impõe depois dessa decisão do Fed é o reconhecimento de que nunca foi tão presente o pensamento do economista Lord Keynes como agora.
    Mas vamos deixar o ano de 2012 para trás e olhar para os próximos 12 meses.
    O leitor da Folha já sabe que sou otimista para o próximo ano. Há algumas semanas escrevi uma coluna -o alinhamento dos astros- em que procurei explicitar as principais razões para essa minha visão.
    De lá para cá os astros continuaram nesse processo de alinhamento. Os dados de crescimento da China mostram mais força, apesar de uma queda expressiva de suas exportações de produtos industriais.
    Os investimentos do governo na infraestrutura voltaram a crescer e, junto com uma aceleração na expansão do consumo das famílias, mais que compensaram a queda do setor externo.
    Na Europa, consolida-se -e cada vez com mais força- a percepção de que os governos conseguiram reverter o medo de um colapso do euro que os mercados vinham precificando desde o começo do ano.
    No momento em que escrevo esta coluna, as agências de notícias trazem em suas manchetes a decisão dos ministros das finanças da zona do euro de liberar -FINALMENTE- mais de € 40 bilhões para a combalida Grécia.
    Nem mesmo as declarações espalhafatosas do bufão Berlusconi de que vai novamente se candidatar ao governo da Itália nas eleições do início do próximo ano conseguiram trazer de volta a especulação contra o euro.
    Nos Estados Unidos, as negociações políticas para evitar o chamado precipício fiscal na virada do próximo ano também estão sendo vistas com otimismo pelos mercados. Também os preços das ações em Wall Street devem terminar o ano com valorizações expressivas e em níveis que já superam o que existia antes do colapso do mercado de hipotecas em 2008.
    Para 2013, o crescimento pode superar -não em muito- os 2% ao ano e o desemprego pode aproximar-se ainda mais de níveis históricos. Mas a questão mais importante para acompanhar na terra do tio Sam será a volta do espírito animal dos empresários e, com isso, uma normalização dos investimentos.
    Aqui no Brasil também a variável mais importante -e que deve definir a intensidade da recuperação do crescimento econômico- será o investimento. Creio que vamos replicar o comportamento dos Estados Unidos, com o investimento voltando a crescer, mas com um atraso de dois trimestres. Por isso, o PIB, em 2013, apresentará taxas crescentes de expansão ao longo do ano.
    O consumo das famílias -que representa 2/3 do PIB no Brasil- continua na sua marcha de crescimento de 3,5% ao ano e deve replicar esse comportamento no próximo ano. Com o crescimento do investimento chegando a 6% ao ano no último trimestre do ano poderemos exibir no fechamento do ano próximo um crescimento da ordem de 3%. Mas existem alguns riscos que precisam ser monitorados.
    Volto a eles em nosso próximo encontro.

    Brasileiro no Facebook é 'arroz de festa', 'do contra', 'hooligan' ou 'maricota', define estudo YURI GONZAGA


    YURI GONZAGA

    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA de São Paulo

    Uma pesquisa feita com 1.300 pessoas de 70 cidades do Brasil, entre setembro e outubro deste ano,l aponta que 65 milhões de brasileiros usam redes sociais --cerca de um terço da população--, dos quais 84% têm conta no Facebook.
    O estudo também traçou um perfil desses internautas, dividindo-os entre as categorias "arroz de festa", os mais ativos (30% de todos os usuários de redes sociais); "do contra", politizados que reclamam de tudo o que veem na rede (27%); "hooligans", pessoas que falam quase só sobre futebol (22%); "maricotas", que dão preferência aos temas autoajuda e novela (21%).
    "Demo-nos uma licença poética para denominar os perfis, mas nós chegamos a eles usando um método científico", diz Davi Bertoncello, presidente-executivo da Hello Research, firma de análise mercadológica responsável pelo estudo.
    Bertoncello diz que, após as entrevistas --presenciais-- terem sido realizadas, os resultados são analisados para buscar comportamentos comuns, o que envolve gênero, idade, faixa de renda e a frequência de uso e de postagem.
    "Não significa que você está 100% do tempo se comportando como um pertencente da mesma categoria, mas sempre se encaixa em alguma delas."
    Vivem na região Sudeste 55% dos brasileiros que usam redes sociais, enquanto 20% são do Nordeste, 12% do Sul, 7% do Norte e 6% do Centro-Oeste, segundo o levantamento.
    Ilustração Pablo Mayer
    Uso de redes sociais chega a um terço dos brasileiros, diz estudo
    Uso de redes sociais já chega a um terço dos brasileiros
    ARROZ DE FESTA
    As pessoas enquadradas como "arroz de festa", que podem também ser chamadas de "heavy users" dado o frequente uso dos sites --mais de uma vez por dia--, dão palpites em todos os tipos de assunto.
    Costumam compartilhar conteúdos de que gostam, em vez de somente curtir. Pode pertencer a qualquer classe social, ser homem ou mulher.
    DO CONTRA
    Já os "do contra" apagam ou bloqueiam um contato quando ele posta algo que desagrada. Não publicam conteúdo nas redes, pertencem às classes socioeconômicas A e B e têm entre 31 e 50 anos.
    Apesar de acessarem pouco as redes, comentam veementemente posts que não são de seu gosto. O assunto preferido é trabalho, e o mais inoportuno é sexo.
    HOOLIGANS
    Homens que falam abertamente nesses sites sobre piadas, sexo e, principalmente, futebol, encaixam-se na categoria dos "hooligans", como são denominados alguns dos torcedores de futebol ingleses agressivos.
    Quando pessoas classificadas dessa maneira veem algo aprazível, clicam no botão "curtir", e compartilham mais raramente que os "arroz de festa".
    Valentin Flauraud/Reuters
    Brasileiros se dividem em quatro grupos no Facebook
    Pesquisa: Brasil se divide em quatro grupos no Facebook
    MARICOTAS
    O último grupo, formado pelas "maricotas", é um "verdadeiro 'clube da luluzinha' digital". Nunca fala sobre política, mas sempre sobre novela --em parte porque "conta com a presença de muitas donas de casa", como definiu Stella Mattos, diretora de contas da Hello Research, por meio de comunicado à imprensa.
    No geral, as "maricotas" são comentaristas assíduas --e não perdem a oportunidade de dar um pitaco. Quando se deparam com material desagradável, comentam indignadas. Dificilmente curtem ou compartilham conteúdo.
    MSN E ORKUT RESISTEM
    Entre os cerca de 55 milhões de usuários do Facebook que há no Brasil, segundo o levantamento, 67% deles ainda usam o MSN, serviço de mensagens instantâneas que vai ser descontinuado no ano que vem.
    Outro serviço considerado um dinossauro digital, o Orkut (do Google) segue sendo acessado por 55% dos que estão no Facebook.
    A outra empreitada do gigante das buscas no mundo social, o Google+, foi utilizada por apenas 12% dos brasileiros com perfil no Facebook.

    CIÊNCIA » Riqueza do ecossistema - Lilian Monteiro‏

     
    Brasileiros publicam artigo na Science em colaboração com estrangeiros sobre coleta inédita de insetos em florestas tropicais
     


    Lilian Monteiro
    Estado de Minas: 14/12/2012 

    Desde a década de 1980, uma pergunta inquieta o mundo científico: quantas espécies de artrópodes há no planeta? Indagação das mais pertinentes porque 95% dos espécimes animais são desse grupo. Portanto, não há nada no ecossistema que exista sem os insetos. A pergunta parece simples, mas esconde tamanha complexidade que é impossível uma resposta precisa. Por outro lado, ninguém até agora tinha tentado responder quantas espécies de artrópodes têm numa floresta. Papel que coube a um grupo de cientistas de instituições de pesquisa e ensino superior do Brasil, sendo dois de Minas Gerais, em colaboração com estudiosos estrangeiros, e que publica hoje artigo na revista Science com dados inéditos de avaliação do número de espécimes de insetos existentes nas florestas tropicais. A pesquisa envolve o trabalho de mais de 100 cientistas, de 21 nacionalidades, feito considerado inédito. 

    Na floresta San Lorenzo, no Panamá, onde pesquisaram os brasileiros, 25 mil espécimes de artrópodes foram estimados num espaço de 6 mil hectares, indicando a riqueza da biodiversidade. “Se isso tudo de espécime define o ecossistema, como esperar que o ecossistema funcione sem eles?”, questiona o doutor em ecologia pelo Imperial College, no Reino Unido, professor Sérvio Pontes Ribeiro, docente do Departamento de Biodiversidade, Evolução e Meio Ambiente da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop).

    Do ponto de vista evolutivo, todo funcionamento da floresta tem os insetos como atores. Seja na reciclagem, quando a árvore envelhece, é brocada, as folhas caem e os nutrientes voltam para o solo, quem começa o processo são os artrópodes, que contam com a ajuda de micro-organismos para sua finalização. No solo, os insetos reciclam os nutrientes diretamente via fragmentação e início da decomposição da matéria orgânica vegetal, alimentado-se de fungos. Mas é lá no dossel da floresta, no topo das árvores, que eles comem as plantas, promovendo a evolução das respostas adaptativas dos espécimes vegetais. 

    Outra grande contribuição desses milhares de bichinhos é no regime de chuvas. Elas são influenciadas pela complexa vida da floresta: quando o inseto age sobre as folhas, compostos orgânicos voláteis são liberados pelas árvores. Esses gases vão para a atmosfera, interferindo no ciclo das precipitações. Para se ter ideia, nada menos que 40% da chuva do Sudeste vêm da Região Amazônica. 
    A pesquisa foi desenvolvida em uma floresta de grande porte nos arredores do canal do Panamá, no Parque Nacional de San Lorenzo. No processo de identificação de nada menos que 500 mil espécimes coletados, os pesquisadores escolheram grupos taxonomicamente iguais ou similares. “A maioria dos espécimes não tem nome porque é humanamente impossível. No entanto, consegue-se “definir os grupos mais importantes, mesmo sem nome científico formalizado, porque são os mais ricos em espécimes.”

    Assim, definiu-se os dípteros (moscas e mosquitos), coleópteros (besouros), lepidópteros (mariposas) e hymenópteros (vespas, abelhas e formigas), no total de 6 mil espécimes identificados. “Com a ressalva de que o processo é amostral, sistemático, repetitivo e com cálculo matemático. No fim, na floresta San Lorenzo, que tem 6 mil hectares, “foram estimados 25 mil espécimes de artrópodes. E é justamente essa é uma das grandes descobertas do trabalho”, pontua Pontes Ribeiro, que contou com a ajuda dos colegas brasileiros Evandro Gama de Oliveira, doutor em zoologia pela Universidade do Texas e professor no Centro Universitário UNA, em Belo Horizonte; Jacques Delabie, doutor em entomologia pela Université Paris VI, pesquisador do Centro de Pesquisas do Cacau e professor da Universidade Estadual de Santa Cruz em Ilhéus (BA); e Wesley Duarte da Rocha, mestre em zoologia pela instituição baiana.

    As amostras foram colhidas no Panamá entre 2003 e 2004. Para o desenvolvimento do trabalho, o professor Sérvio conta que primeiro foi montado um protocolo e para uma única floresta foi feito um comparativo da fauna de solo e dossel por amostragem para triagem, identificação e estimativa de número de espécimes. Além do Panamá, o estudo está sendo desenvolvido, nos mesmos moldes, em áreas da Austrália, Ilha de Vanuatu e França. Esses trabalhos são desenvolvidos por cientistas da Alemanha, Austrália, Bélgica, Canadá, Dinamarca, Estados Unidos, Finlândia, França, Grã-Bretanha, Itália, México, Noruega, Portugal, República do Panamá, República Tcheca e Suíça, cujos resultados serão divulgados posteriormente. 

    Os pesquisadores das instituições brasileiras atuaram principalmente nas expedições de campo, especificamente na coleta de insetos herbívoros, de mariposas e de identificação de formigas. 

    A segunda grande descoberta do trabalho, conforme Pontes Ribeiro, foi “entender que em uma hora de coleta você pode ter 60% do total de espécimes que a floresta tem. O que significa que a maioria dos espécimes está distribuída em uma grande extensão territorial e não restrita espacialmente”, analisa. Assim, são duas as condições para a conservação da biodiversidade: a primeira é que “as unidades não podem ser pequenas ou parte corre o risco de extinção”. E, a segunda, é que as reservas sozinhas não darão conta de preservar tamanha riqueza natural: “É importante integrar as unidades de conservação. A atividade humana tem de ser menos impactante e degradante ao meio ambiente. O Código Florestal precisa ser mais agressivo. Há negociação de coisas inegociáveis. O posicionamento firme não é para favorecer ambientalistas ou produtores, mas para o bem da humanidade”, diz o professor, enfatizando que “o mundo evoluiu com os insetos”. Quanto ao preconceito ao se falar de insetos, sempre relacionados às pragas, o professor ensina: “As pragas são minoria e só explodem quando os demais espécimes se extinguem”. 

    DIFICULDADE NO TOPO Sérvio Ribeiro destaca que uma das dificuldades enfrentadas pelos pesquisadores foi chegar ao topo das florestas tropicais (árvores entre 35 e 40 metros de altura), uma área pouco estudada devido às dificuldades de acesso, mas que contém imenso potencial para a pesquisa científica, dada a diversidade biológica e o ecossistema que sobrevive acima do topo da vegetação. “É um ambiente que se distingue do solo pela alta incidência de luz solar, um hábitat distinto, mais seco e estressado. Chamamos de cerrado do alto da floresta”, conta. Por isso, o projeto teve uma série de particularidades, como uso de técnicas de escalada, treinamento com profissionais da área, uso de balões, guindastes, balsas de dossel e outros instrumentos que visaram ao melhor aproveitamento da coleta de insetos existentes no topo da floresta de San Lorenzo. 

    “Ao calcularmos que a  floresta San Lorenzo produz acima de 25 mil espécimes de artrópodes, isso implica que para cada espécie de planta vascular, ave ou mamífero neste local, você vai encontrar 20, 83 e 312 espécimes de artrópodes, respectivamente. Ou seja, se há interesse em conservar a diversidade da vida na Terra, é obrigatório conservar os artrópodes”, conclui o pesquisador Sérvio Ribeiro.

    Moisés Naím


    Uma tragédia e uma esperança
    O que explica a propensão da América Latina ao assassinato? As razões propostas são muitas
    A tragédia é que a América Latina é a região do planeta onde mais humanos assassinam seus semelhantes. A esperança é que em 2013 os latino-americanos comecemos a fazer algo para deixarmos de ser os campeões mundiais do homicídio.
    Neste ano, a guerra no Afeganistão terá cobrado um total de 3.238 vidas. No ano passado, houve 41 mil homicídios no Brasil. O conflito entre palestinos e israelenses no mês passado gerou mais ou menos o mesmo total de mortes que um fim de semana "quente" em Caracas.
    Em todo o mundo, os índices de homicídio ou vêm declinando ou não aumentaram. Na América Latina, vêm crescendo em ritmo acelerado.
    El Salvador, Guatemala e Honduras têm os maiores índices de homicídio dos cinco continentes. E a morte também está amplamente presente em outros países da região. Em 2011, foram assassinadas 112 pessoas por dia no Brasil. No México, 71 por dia.
    O que explica essa propensão da América Latina ao assassinato? As razões propostas pelos especialistas são muitas e variadas. E insuficientes. A pobreza é uma causa frequentemente citada. Mas, se fosse assim, a China deveria ter mais homicídios que o México.
    Outros mencionam a democracia e o fato de que os governos autoritários podem reprimir os criminosos com mais impunidade. Mas a Índia -a maior democracia do mundo, e também um dos países mais pobres do mundo- tem um índice de homicídios comparativamente mais baixo que o das democracias pobres da América Latina.
    O consumo e tráfico de drogas também são assinalados como razões por trás da alta taxa de homicídios latino-americana. Mas nenhum país consome mais drogas que os Estados Unidos. E, se a razão é o narcotráfico, Marrocos é para a Europa o que o México é para os EUA: um país pobre que vende drogas a seu vizinho rico. Contudo, a taxa de homicídios do Marrocos é muito inferior à do México.
    Isso não quer dizer que as drogas, a pobreza, a desigualdade ou a fraqueza dos governos não sejam fatores importantes. São, com certeza.
    Mas há outros fatores menos evidentes e que não entendemos bem que influem sobre a sangrenta criminalidade latino-americana. Não sei quais são, mas sei que precisamos fazer algo para entendê-los melhor e combatê-los.
    Minha esperança para 2013 é que a América Latina decida acabar com sua convivência pacífica com o homicídio. Não existe outra prioridade mais urgente nem, com certeza, mais complexa e difícil.
    Não é um objetivo que compita apenas ao governo ou aos políticos. A igreja, os sindicatos, os meios de comunicação e os empresários, os jovens, as universidades -enfim, o leque mais amplo possível de grupos e setores institucionais poderia mobilizar-se para se comprometer a reduzir o número de homicídios nos próximos anos. Talvez esta seja uma esperança ingênua. Mas mais ingênuo seria não fazer nada.
    Esta é minha última coluna deste ano. Retorno em janeiro. Feliz 2013!

      Golpeadas pelo medo -Paloma Oliveto

      Temendo o câncer de mama, mulheres se submetem à retirada dos seios mesmo sem terem recebido diagnóstico da doença. Procedimento compromete qualidade de vida das pacientes 

      Paloma Oliveto
      Estado de Minas: 14/12/2012 

      Aos 24 anos e com diversos troféus de concursos de beleza na bagagem, a modelo e miss americana Allyn Rose anunciou, no mês passado, que tirou as duas mamas para prevenir o câncer. Logo depois, foi a vez de Sharon Osbourne, de 60, mulher do cantor Ozzy Osbourne, fazer o mesmo. Nenhuma das duas foi diagnosticada com qualquer tipo de tumor maligno – elas tomaram a drástica decisão por serem portadoras de genes que podem levar ao desenvolvimento da doença. Embora a estratégia seja recomendada em alguns casos, a oncologista Sarah Hawley, pesquisadora da Faculdade de Medicina da Universidade de Michigan, alerta que, nos Estados Unidos, 70% das cirurgias do são desnecessárias. No Brasil, o Instituto Nacional de Câncer (Inca) não tem dados estatísticos sobre mastectomia. 

      Em um painel apresentado durante o Simpósio de Qualidade de Tratamento da Sociedade de Oncologia Clínica Americana, Sarah demonstrou que, levadas pelo medo de recorrência do câncer, muitas mulheres que tiveram tumor em um seio optam por retirar completamente a mama saudável mesmo que o risco de sofrerem novamente da doença seja muito baixo. “A mastectomia profilática contralateral pode ser recomendada para mulheres com as mutações genéticas BRCA1 ou BRCA2 ou com um forte histórico familiar, e que já foram diagnosticadas com câncer de mama e/ou de ovário”, diz. Contudo, em um estudo que ela fez com 2.245 pacientes, a médica constatou que a maioria das mulheres que se submeteram ao procedimento radical bilateral não precisava ter feito a cirurgia.

      No estudo, as pacientes foram acompanhadas do diagnóstico inicial a quatro anos depois do procedimento. Todas elas fizeram algum tipo de cirurgia: lumpectomia, mastectomia unilateral ou mastectomia dupla (veja infografia). Das 1.446 que não sofreram recorrência no fim do período pesquisado, 505 haviam considerado a retirada de ambas as mamas e 108 chegaram a fazê-la. Dessas, 75, ou 70%, não tinham fatores de risco que justificassem esse tratamento. Elas foram movidas apenas pelo medo. 

      “Baseada no nosso estudo, acredito que grande parte das mulheres com risco genético faz a mastectomia profilática bilateral, mas a quantidade de pessoas que não apresenta esses fatores e opta pela cirurgia é ainda maior”, avalia a oncologista. “Acho que o medo de recorrência é um forte motivo para essa escolha. Porém, remover o seio saudável não reduz a chance de o câncer voltar. O que a cirurgia faz é diminuir o risco de um novo tipo de câncer surgir, mas apenas no caso de quem tem as mutações ou um forte histórico familiar. Na minha opinião, muitas mulheres querem se sentir em paz e acreditam que isso só será possível se retirarem as duas mamas”, ressalta.

      Diversos estudos mostram que, na população em geral, a prevalência das mutações nos genes BRCA 1 e BRCA 2 é, respectivamente, de 0,11% e 0,12%. Esses índices sobem no caso de mulheres com pelo menos três casos familiares de câncer de mama e/ou ovário, passando para 12,8% e 16%. Ser portadora dos genes defeituosos, contudo, não significa que a pessoa, necessariamente, terá câncer de mama algum dia, embora os riscos sejam altos: entre 50% e 80% até os 70 anos. A pesquisadora, contudo, é contra a mastectomia quando a mulher é portadora das mutações, mas não tem a doença caso da miss Allyn Rose e de Sharon Osbourne.

       Vulneráveis Para Todd Tutlle, chefe de cirurgia oncológica da Universidade de Minnesota, os Estados Unidos passam por uma “epidemia” de mastectomias desnecessárias. Ele foi o primeiro pesquisador do país a investigar os padrões nacionais do procedimento e, em 2007, publicou o resultado do estudo no Journal of Clinical Oncology.. Após analisar dados detalhados de 16 estados americanos, Tutlle constatou que entre 1998 e 2003, das 152.755 mulheres diagnosticadas com câncer de mama nos estágios 1 e 2, 59.460 fizeram mastectomia de apenas uma mama, enquanto 4.969 optaram por retirar os dois seios mesmo sem indicação clínica para isso. O percentual de pacientes que precisavam realizar o procedimento em uma mama mas removeram também a saudável subiu de 4,2% em 1998 para 11% em 2003.

      “Com certeza esse índice está ainda mais alto agora. Acredito que isso se deve a uma série de fatores. Cada vez mais surgem informações disponíveis na imprensa, principalmente na internet, sobre os riscos associados às mutações. Além disso, as técnicas de reconstituição mamária melhoraram bastante, assim como as de mastectomia, o que pode encorajar mais as pacientes”, diz. 

      O cirurgião oncológico enfatiza que boa parte das mulheres que optam pela retirada dos dois seios faz isso em um momento de grande vulnerabilidade. “Particularmente, acho que elas não devem ser aconselhadas a tomarem uma decisão tão radical rapidamente. O melhor é tratar a doença e, só depois, começar a pensar nessa possibilidade”, defende. Sarah Hawley concorda: “Os médicos e cirurgiões têm de estar certos de que a mulher que está pensando em fazer esse procedimento realmente entende os riscos e benefícios associados a ele, particularmente o fato de que a cirurgia não reduz as chances de recorrência local, apenas de um novo câncer primário. O aconselhamento genético é importante para as pacientes saberem se realmente têm algum fator de risco que justifique a cirurgia.”

      Professor de radiologia oncológica da Universidade da Pensilvania, Robert Prosnitz lembra que as pacientes se preocupam muito com o aumento da expectativa de vida, sem pensar na qualidade que terão. Autor de um estudo que investigou o benefício da mastectomia preventiva, ele afirma que nos casos em que não há riscos genéticos e familiares em jogo, retirar também o seio saudável não traz nenhum ganho em termos de longevidade. Já a qualidade de vida das mulheres que fazem essa opção sofre, sim, um grande impacto. “Essa é uma cirurgia necessária em casos recomendados, mas totalmente inútil em grande parte das vezes. Pode ser até mais arriscado. Muitas pacientes têm um excelente prognóstico e, mesmo assim, querem remover as duas mamas. Elas devem ser lembradas que a cirurgia é muito agressiva e que as complicações da operação podem ser mais perigosas que o próprio câncer”, afirma.

      Charge


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      PLANOS DE SAúDE » Clientes sem motivo para comemoração - Pedro Rocha Franco‏

      Pesquisa feita com dados das operadoras coloca 60% delas como bem avaliadas, mas reclamações dos usuários aumentam até 226% e mostram ineficiência dos serviços 

      Pedro Rocha Franco
      Estado de Minas: 14/12/2012 
      De um cenário caótico ao retrato do “país das maravilhas”. Em 2012 o mercado de saúde privada teve um baque com a proibição do comércio de planos de saúde, reflexo principalmente da ineficiência do atendimento e do aumento de reclamações, que, de dezembro de 2010 até novembro deste ano, cresceram até 226%, segundo dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Mas na avaliação das próprias operadoras o caos passa bem longe do sistema. Segundo pesquisa divulgada ontem, com dados elaborados pelas empresa, 566 das 913 operadoras de planos médico-hospitalares têm nota azul no boletim de avaliação. Enquanto isso, somente 4,1% das empresas recebem as piores notas. O estudo faz o usuário questionar: mas e as filas? E a demora na marcação de consultas? A partir do ano que vem, a agência reguladora vai fazer pesquisas diretas com os beneficiários dos planos de saúde para avaliar a satisfação com o serviço. É esperar para ver se o resultado se mantém.

      Na avaliação de usuários, a qualidade tem descido a ladeira em ritmo acelerado. A extensão da rede assistencial tem se mostrado insuficiente para comportar o número de usuários cada vez maior. De tantos problemas, o engenheiro Hebert Lopes de Souza adotou como estratégia ir aos hospitais com a filha de quatro anos apenas de madrugada. Com exceção de casos de urgência, ele consegue filas bem menores e atendimento mais rápido. “Considero a infraestrutura boa; o atendimento chega a ser excelente, mas a parte administrativa deixa a desejar. A rede é sobrecarregada; os profissionais recebem pouco e, por isso, têm que dobrar o expediente. Tudo isso penaliza”, afirma. O engenheiro Jacky Roberto Deligne tornou habitual a procura por médicos particulares, usando o serviço dos conveniados somente no atendimento hospitalar. O motivo: busca por qualidade. Em atendimento ontem em um oftamologista, ele ficou uma hora e vinte minutos no consultório do especialista. Apesar de ter pago R$ 390 (parte do valor é reembolsado), ele não abre mão da segurança que diz ter com profissionais conhecidos. “Os planos estão muito massificados. Vemos toda hora outras pessoas falando que preferem ser atendidas pelo SUS (Sistema Único de Saúde)”, afirma.

      Hoje, o indicador é medido de forma indireta, com base em quatro quesitos apresentados pelas operadoras: atenção à saúde (tem peso de 40%); a econômico-financeira (20%); estrutura e operação (20%); e satisfação dos beneficiários (20%). A partir do ano que vem, um questionário elaborado pela agência reguladora será enviado para as operadoras que o repassarão aos usuários e, por último, os resultados serão encaminhado para a ANS. Os dados serão divulgados em maio. “A agência está caminhando no sentido de avaliar melhor a impressão do consumidor", afirma o diretor-presidente interino da ANS, André Longo.

      Em 2011, obtiveram melhores avaliações 735 operadoras médico-hospitalares e odontológicas, com quase 46 milhões de beneficiários. Na avaliação anterior eram apenas 482 empresas com 33,7 milhões de beneficiários. A faixa de notas vermelhas, que responde aos mais mal avaliados, caiu de 383 operadoras em 2010 para 54 no ano passado e atendem 474 mil beneficiários. Em contrapartida, segundo dados da ANS, em dezembro de 2010 o indicador de reclamações referente a empresas de grande porte era de 0,33, passando para 0,49 em novembro do ano seguinte e 0,86 (o indicador varia de 0 a 1) no mês passado. Cenário semelhante se repete entre as empresas de médio e pequeno porte (veja arte). O número de operadoras também caiu de 1.517 em 2010 para 1.239 no ano passado, segundo a ANS, devido às movimentações do mercado, com fusões e incorporações, e também ao não cumprimento de normas da agência, o que resultou no cancelamento do registro de operadoras. 

      A coordenadora da Qualidade e do Conhecimento da ANS, Andrea Lozer, afirma que a discrepância entre os dados é reflexo de dois retratos distintos do setor. “O indicador de desempenho é uma foto; o índice de reclamações é outra. É preciso avaliar o conjunto dos números”, afirma, ressaltando que a agência atua num formato parecido ao da Receita Federal com o Imposto de Renda para evitar fraudes nos dados e garante que as informações repassadas pelas operadoras são objetivas e de “difícil manipulação”.

      Qualidade
      questionada

      A Associação de Consumidores Proteste considera que a rede assistencial ainda é um problema com longo caminho a ser percorrido para atender o cliente da forma adequada, com grande dificuldade para agendar consultas e procedimentos nos prazos definidos pela agência reguladora. Os usuários ainda sofrem com problemas de saturação da rede de atendimento. O sistema privado de saúde está sobrecarregado e o usuário não consegue o acesso de que necessita, com a urgência de que precisa, apesar de pagar pelo serviço”, afirma a presidente da Proteste, Maria Inês Dolci, que, em nome da entidade, encaminhou uma lista com sugestões de melhorias para a ANS. Entre outros, é sugerido que sejam criados instrumentos capazes de penalizar as operadoras reincidentes na cobertura insuficiente; a criação de planos acessíveis às classes C, D e E e a adequação de serviços voltados à saúde dos idosos diante da atual realidade demográfica.

      Em nota, a Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde), que representa 15 grupos empresariais, afirma que os dados “refletem o empenho das operadoras de saúde em qualificar continuamente suas operações. A saída de algumas operadoras de saúde do mercado não significa concentração da atividade. Esse movimento demonstra aumento de qualificação e também evidencia que as demais empresas estão procurando se adaptar às normas e exigências requeridas do setor”.

      Consultas feitas pela internet

      Antes de contratar um plano de saúde, o consumidor poderá consultar informações e indicadores de qualidade referentes aos operadores de saúde suplementar. Num modelo semelhante ao adotado pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) lançou ontem o espaço da qualidade, permitindo ao usuário consultar índice de reclamações; a lista de planos que tiveram a comercialização suspensa; o Índice de Desempenho da Saúde Suplementar e outros indicadores para dar apoio aos clientes na hora da contratação.

      No site da agência reguladora, o usuário precisa informar o nome da empresa ou seu registro na ANS para ter detalhamento completo da operadora. É possível inclusive comparar operadoras. “Com o Espaço da Qualidade estamos dando ao cidadão mais uma ferramenta de transparência, facilitando o acesso à informação na hora de escolher ou trocar o plano”, destaca o ministro da Saúde, Alexandre Padilha.

      Neste ano, como forma de tentar forçar melhorias na qualidade do serviço dos planos de saúde, a agência reguladora deu início à proibição de comercialização de planos que estivessem descumprindo prazos para atendimento do cliente. Em julho, 268 planos de 37 operadoras foram vetados por três meses, enquanto, em outubro, nova lista foi divulgada com veto a 301 planos de 38 empresas. O processo deve ser repetido a cada três meses e caso não haja melhora no atendimento no período seguinte a operadora é mantida na lista negra. (PRF)

      Quadrinhos


      FOLHA DE SÃO PAULO
      CHICLETE COM BANANA      ANGELI

      ANGELI
      PIRATAS DO TIETÊ      LAERTE

      LAERTE
      DAIQUIRI      CACO GALHARDO

      CACO GALHARDO
      NÍQUEL NÁUSEA      FERNANDO GONSALES

      FERNANDO GONSALES
      MUNDO MONSTRO      ADÃO ITURRUSGARAI

      ADÃO ITURRUSGARAI
      PRETO NO BRANCO      ALLAN SIEBER

      ALLAN SIEBER
      MALVADOS      ANDRÉ DAHMER

      ANDRÉ DAHMER
      GARFIELD      JIM DAVIS

      JIM DAVIS

      HORA DO CAFÉ      VELATI

      VELATI

      TV PAGA



      Estado de Minas: 14/12/2012 

      Boa surpresa

      As grandes estreias da programação de filmes costumam ser reservadas para a noite de sábado, mas às vezes a Rede Telecine foge do óbvio. Ainda hoje, o canal Premium vai exibir o inédito Os descendentes, comédia dramática indicada ao Oscar de melhor filme e ator (George Clooney), mas que levou a estatueta de roteiro adaptado. Clooney faz o papel de um chefe de família cuja mulher sofre um acidente e entra em coma. Responsável por cuidar das filhas, ele também precisa encarar o próprio passado.

      Você já assistiu a um 
      filme do Cazaquistão?


      No Eurochannel, a novidade de hoje é um filme cazaque! Isso mesmo, uma produção da República do Cazaquistão, o drama O conto do coelho rosa, à meia-noite. No TCM, o festival de filmes de James Bod chega ao fim com mais duas fitas: 007 – O mundo não é o bastante (22h) e 007 – Um novo dia para morrer (0h25). No Universal Channel, sessão dupla com Shrek (20h) e Shrek 2 (22h). No FX, as atrações são As panteras (20h) e As panteras detonando (21h45). Na faixa das 22h, o assinante tem mais quatro boas opções: Whisky com vodka, na Cultura; X-Men origens: Wolverine, no Megapix; Código de conduta, na TNT; e Legião, no Max Prime. Outras atrações: Quero matar meu chefe, às 22h10, na HBO2; e Nem tudo é o que parece, às 23h, no AXN

      Gonzagão ganha dupla 
      homenagem esta noite 


      O Canal Brasil faz sua homenagem a Luiz Gonzaga exibindo hoje uma edição especial de O som do vinil, às 21h30, e o documentário As sanfonas do Lua, às 22h. Para a garotada, a pedida é o grupo One Direction na série Boombox all access, às 14h, no Boomerang.

      Alma penada ajuda a 
      desvendar assassinato


      Em matéria de esquisitices, o assinante não pode reclamar. No canal Bio, hoje é dia das séries O inexplicável, às 21h, e Parapsicólogos forenses, às 22h, com episódios inéditos envolvendo almas penadas e assassinato. No NatGeo, às 21h45, tem dois episódios de Preparados para o fim e o documentário Salve-se quem puder, tudo isso em torno do tão falado apocalipse. 

      Canal Off vai viajar do
      Caribe ao Pólo Norte


      Sofie Mentens, Sofia Graça Aranha e Marcela Witt vão mergulhar com tubarões na Ilha de St. Maarten, no Caribe, na edição de hoje da série Submerso, às 21h, no canal Off. Logo mais, às 22h, a emissora exibe o documentário Into the cold: A journey of the soul, que acompanha uma expedição de dois homens ao Pólo Norte, percorrendo em dois meses mais de 600 quilômetros com temperaturas de até -45ºC. 

      Haja apetite para quem 
      encarar hoje a Fox Life


      A série Eat street, às 20h15, na Fox Life, vai mostrar hoje as delícias da Ms P’s Electric Cook em Austin, no Texas, onde são preparados pratos de confort food sulistas, como o World Famous Waffles e o Dirty Black Eyed Peas. Em Tampa Bay, na Flórida, tem a Taco Bus e sua Cochinita Pibil, Rajas con Queso e uma suculenta Butternut Squash Toasted. E em Nova York, a lanchonete móvel Uncle Gussy’s, serve “comida grega digna dos deuses”. Portland é a parada final do episódio, na Lardo’s, que tem no cardápio pratos como almôndegas de porco e um sanduíche com porco, ovo e queijo.

      Fábio Seixas


      folha de são paulo
      Reinício de carreira
      Barrichello precisa virar a página da F-1 para não repetir na Stock a frustração da Indy
      QUINZE ANOS atrás, correr na Stock era fim de carreira. Com poucas exceções, o grid era formado por veteraníssimos. Os carros, Ômegas que acumulavam milhares de quilômetros. E, se o título não ficava com Ingo Hoffmann, acabava com Chico Serra.
      O cenário começou a mudar com dois movimentos.
      O primeiro, externo. A crise na Indy -que por anos foi o plano B de quem não se encaixava na Europa-, fez muito piloto voltar para casa.
      O segundo, interno: a visibilidade dada pela Globo, que fez dezenas de marcas alheias ao esporte escolherem a categoria, seduzidas pela chance de aparecer na TV por um preço mais baixo do que produzindo e comprando mídia.
      Com alguns bons e jovens pilotos, com uma boa administração -embora muitas vezes predatória- e com dinheiro novo, a Stock cresceu. Não, não é a categoria dos sonhos, mas hoje está firmada como um campeonato decente, o único por essas bandas.
      Daí não ser estranho o desembarque de Barrichello em 2013, após as três corridas de aperitivo neste final de ano.
      Ele chega por um time competitivo, com patrocinador forte para os padrões locais, com o melhor engenheiro que há. Não terá vida fácil nas pistas, mas contará com todas as ferramentas para se adaptar o mais rápido possível.
      Quarentão, deve disputar quatro ou cinco temporadas na Stock e então, sim, pendurar o capacete de vez.
      Estranho foi o que (não) aconteceu na Indy. Esta passagem, aí sim, teve elementos de fim de carreira.
      Barrichello chegou achando que ia arrasar, exibindo suas credenciais de piloto mais experiente da história da F-1. Imaginou tratamento VIP, deferências, facilidades. Sua mudança para o lado de cá do Atlântico foi comparada às de Mansell e Emerson.
      Deu tudo errado.
      Começando pela equipe com que ele assinou, a fraca KV, de fundo de pelotão.
      Passando por sua língua: criticou os colegas ("Tem gente largando muito antes da hora certa"), o carro ("Não é fácil") e as pistas ("Nenhum piloto da F-1 correria em circuitos assim"). As declarações de amor eterno à F-1 também não ajudaram: atrapalharam seu foco e não pegaram nada bem nos EUA.
      Terminou apenas em 12º no campeonato. Uma passagem apagada, que, no fim, acabou lembrando a de outro veterano da F-1: Alesi.
      No meio do ano, o site especializado Motorsport.com conferiu nota "B-" à sua estreia, até então. Ruim.
      Mas, se sua carreira "terminou" na Indy, na Stock ele ganha nova chance de recomeçar. De um jeito bacana.
      Uma boa ideia seria virar de vez a página da F-1.
      O que passou, passou.