quarta-feira, 4 de março de 2015

MARTHA MEDEIROS - AUTOCRÍTICA

Zero Hora - 04/03/2015

Nunca fui fã ardorosa do Brasil. Suas lindas praias, sua música, sua irreverência, nada disso jamais foi suficiente para superar meu desgosto profundo por ter gente morrendo em corredor de hospital, por professores ganharem uma merreca de salário, por não podermos andar com segurança pelas ruas e demais indignidades com que convivemos dia sim, outro também.
Desde que passei a ter o mínimo de consciência política, entendi que ética não era o nosso forte. Quando o PT apareceu, simpatizei, mas não cheguei a acreditar em salvadores da pátria porque a minha descrença estava bem sedimentada. Ainda assim, dei meu voto lá no início, era uma possibilidade. Que se cumpriu até certo ponto, mas o partido se revelou vulnerável como qualquer outro e o resto da história está aí. A roubalheira, que sempre existiu, tomou conta da maior empresa estatal do país e o vexame ganhou proporções monumentais.
O quadro geral é de tristeza. Porém, o que tenho visto é uma alegria perversa entre os caçadores de bruxas. Parece que as pessoas estão salivando diante dos escândalos, satisfeitas por poderem satanizar à vontade os dirigentes do país. Não acho que corruptos mereçam absolvição, estamos sob o comando de maus gestores e péssimos exemplos de cidadania, e torço pela punição de todos aqueles que saquearam o Brasil. Estarei nas ruas no dia 15 de março porque acredito que o povo precisa se expressar, mostrar que está vigilante, mas a raiva contida em muitas declarações contra os petistas não me representa.
Uma coisa é se manifestar – inclusive com humor – a fim de pressionar pelo fim da impunidade. Demonstra amadurecimento da população. Mas, no momento em que chamamos a presidente de vaca, fazemos brincadeiras sórdidas alusivas ao rosto de Cerveró ou culpamos o PT pelo espirro do cachorro do vizinho, trocamos a maturidade da nossa indignação por um bullying coletivo que mais revela nossa pobreza de espírito do que grandeza como nação.
Faço parte da elite e me sinto à vontade para fazer uma autocrítica: sim, os elitistas talvez estejam, consciente ou inconscientemente, vingando-se de uma suposta perda que imaginaram que teriam com a ascensão de um partido popular ao poder. No fundo, torceram para que desse errado e, agora que o castelo de cartas ruiu de fato, há uma comemoração evidente. Uma desforra. Um clima de final de campeonato, como se o gol da vitória tivesse finalmente sido marcado.
No entanto, só vejo perdedores nesse jogo. Uma grande nação de perdedores. Nada de engraçado está acontecendo. A única vitória possível se confirmará caso, num futuro próximo, a impunidade já não for dada como favas contadas e uma nova classe política nascer dos escombros e reinventar o país.

E se a ética vier a ser o nosso forte, em todas as camadas da sociedade.

DDD15 - Eduardo Almeida Reis

Impende (!) recordar que do outro lado do Canal da Mancha havia um cavalheiro, chamado Adolf, que não bebia champanhe e não fumava charutos

Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 04/03/2015



O BBB 15 é a décima quinta edição do programa global – e há gente que paga para ver aquela porcaria. O DDD 15 é Destrinçar Dona Dilma 15, movimento que acabo de lançar visando a demonstrar que Dilma Vana Rousseff não tem e nunca teve culpa de ser a pior presidente da história do Brasil e de ser quem é. Comecemos do princípio. Jovem belo-horizontina pouco palatável, óculos de grossas lentes, meio-sangue búlgaro, foi guerrilheira, teria participado de assaltos e de assassinatos. Tudo bem: arroubos da juventude. Queriam o quê? Que se candidatasse a Miss Amazônia feito aquela idiota que arrancou a coroa da vencedora do concurso?

Restabelecida a democracia, fez carreira pública, formou-se em economia, casou-se, teve filha, descasou-se e não tem culpa dos cargos que ocupou, bem como de ter sido lançada, eleita e reeleita presidente de um país grande e bobo. São raros, raríssimos, aqueles que reconhecem as respectivas limitações. O baiano George Hilton, pastor que faz política em Minas, não tem culpa de ter sido escolhido ministro do Esporte. O alagoano Aldo Rebelo, que faz política em São Paulo, não tem culpa de ter sido deslocado para o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, porque vive empenhado na implantação do comunismo no Brasil e já desejou naturalizar a jaca, fruto da jaqueira, sincarpo frequentemente enorme e pesado, geralmente cilíndrico ou subgloboso, com casca feita de pequenos cones verde-pardacentos, depois amarelos, e gomos amarelados, viscosos e doces, envolvendo sementes grandes, também comestíveis depois de assadas.

Durmam com essa os maledicentes que pensavam ter o alagoano Rebelo, como deputado federal, sonhado com a naturalização da jaca “conjunto de nádegas, especialmente da mulher”. Dilma na Petrobras, ministra e presidente da República retratou e retrata aquela história do jabuti no galho de árvore: se lá está foi porque alguém o pôs. Empós da admirável constatação que você acaba de ler, vou parando por aqui ou ici, como se diz em França, não sem antes lembrar que dei três meses de prazo para o doutor Levy na Fazenda. Está chegando a hora.

Charutos

Os britânicos lembraram os 50 anos da morte de Churchill com uma justa homenagem à memória do estadista. Com ela não concordou o imbecil do redator de matéria para o canal GloboNews, quando fez o apresentador afirmar que o primeiro-ministro britânico nunca deu bom exemplo de vida “porque bebia champanhe feito água e fumava charutos”.

Impende (!) recordar que do outro lado do Canal da Mancha havia um cavalheiro, chamado Adolf, que não bebia champanhe e não fumava charutos. Um jornalista que critica alguém pelo fato de beber champanhe só faz demonstrar sua borbulhante cretinice agravada por um processo de idiotia sistêmica. Quanto aos charutos como prova de mau exemplo de vida, como escreveu o détraqué, além de ofender muitos dos seus colegas de canal e pelo menos um dos donos da Rede Globo, que me ofereceu jantar em sua casa, onde fumamos puros de Havana, ofendeu também Sigmund Freud, Otto von Bismarck, Napoleão Bonaparte, George Burns, Milton Berle, Lord Byron, Sir Michael Caine, Enrico Caruso, Charlie Chaplin, Francis Ford Coppola, Tom Cruise, Edward VII de Inglaterra, John Gleen, Nubar Gulbenkian, Ernest Hemingway, Sir Alfred Hitchcock, Victor Hugo, Rudyard Kipling, La Rochefoucauld, John F. Kennedy, Franz Liszt, Stéphane Mallarmé, Groucho Marx, Somerset Maugham, Henry Louis Mencken, Alfred de Musset, Maurice Ravel, Artur Rubinstein, Frank Sinatra, Stendhal, William Makepeace Thackeray, Richard Wagner, John Wayne, Orson Welles, Mark Twain e o autor destas bem traçadas.

O mundo é uma bola

4 de março de 1215: João, rei da Inglaterra nascido em Oxford, presta juramento ao papa como cruzado para obter o apoio de Inocêncio III. João de Anjou, João I de Inglaterra ou João Sem Terra (1166-1216), quinto filho de Henrique II, não herdou um palmo de terra quando da morte de seu pai, daí o seu cognome. Passou à história como o rei que assinou a Magna Carta, considerada o início da monarquia constitucional em Inglaterra. Não é nada, não é nada, são 800 anos.

Em 1275, astrônomos chineses observam um eclipse total do sol. Que pensariam da vida e do universo os astrônomos chineses em 1275? Em 1319, o papa João XXII autoriza a criação da Ordem de Cavalaria de Nosso Senhor Jesus Cristo, que substitui os Templários, ordem extinta pelo papa Clemente V em 1311. Lamento confessar que nada sei da Ordo Pauperum Commilitonum Christi Templique Salominici, conhecida como Ordem dos Templários, nem sei dos motivos que levaram Clemente V a acabar com ela. Que ninguém nos ouça, o Estado de Minas deveria contratar cavalheiro menos ignorante para fazer Tiro&Queda.

Em 1493, Cristóvão Colombo aporta em Lisboa a bordo da Niña, voltando da viagem em que descobriu a América. No mesmo dia 4 de março, mas em 1519, Hernán Cortés chega ao México à caça das riquezas da civilização asteque, sempre mais chique do que asteca.

Em 1777, o marquês de Pombal é demitido por decreto-régio. A vida de Pombal é interessantíssima. Basta dizer que, na flor dos seus 23 aninhos, casou-se com a aristocrata Teresa de Noronha e Bourbon Mendonça e Almada, viúva, dez anos mais velha que ele.

Ruminanças

“Há muitos funcionários brasileiros que ganham pouco, mas recebem muito” (Abgar Renault, 1901-1995).