segunda-feira, 13 de maio de 2013

Entrevista - Jaques Wagner

Revista Veja - 13/05/2013

O Brasil não começou com o PT

Otávio Cabral

O governador da Bahia afirma que o país vem evoluindo desde o Plano Real, defende a liberdade de imprensa e diz que seu partido deve apoiar Eduardo Campos em 2018.

Um problema antigo tem tirado o sono do governador Jaques Wagner: a seca que castiga metade dos municípios da Bahia, que dependem de carros-pipa para matar a sede da população. Embora o Brasil tenha se desenvolvido muito nos últimos vinte anos, diz ele, e não apenas graças ao seu partido, o PT, como admite, o drama da seca ainda castiga o Nordeste só que de forma menos visível.

Quando fala de política, Jaques Wagner se mostra um petista pouco radical: reconhece o resultado do julgamento do mensalão defende a liberdade de imprensa e se diz favorável até mesmo a que seu partido se comprometa a apoiar a candidatura presidencial de Eduardo Campos, do PSB em 2018.

O Nordeste passa pela maior seca em setenta anos. Como o governo federal está lidando com isso?
Não há legiões de famintos vagando pelo senão nem imagens de crianças desnutridas pelas estradas, mas, dependendo da região, a seca é de fato a mais severa em noventa anos. Aqui na Bahia açudes de 92 anos secaram pela primeira vez. A dor é a mesma, a consequência econômica é a mesma, a diferença é que hoje há uma rede de proteção social maior, que minimiza o drama da fome. Infelizmente, não há como zerar o problema. Existe essa rede de proteção social, mas uma eficiente rede de proteção econômica ainda precisa ser consolidada. No último ano aumentou muito a migração de nordestinos para o Sul e o Sudeste, um fenômeno que praticamente não era mais visto. Não estamos mais como no passado, quando se viam crianças morrendo e famintos pela rua, mas ainda é preciso fazer muito contra a seca.

Outro problema que atinge diretamente a população pobre é a inflação. O fraco desempenho da economia pode pôr em risco a reeleição da presidente?
No início do governo Lula, havia um clamor para que os juros baixassem numa paulada. O Henrique Meirelles (ex-presidente do Banco Central) defendia uma queda mais gradual e, didaticamente, dizia: "A questão dos juros é igual ao aquecedor do chuveiro de casa. A gente liga e tem um tempinho para a água chegar quente à ponta". Os juros caíram em um ritmo correto e o país voltou a crescer. Agora é a mesma coisa com o controle da inflação. Tem gente defendendo a ideia de que se dê uma trancada forte nos juros para segurar a inflação. Mais uma vez, acho que a coisa deve ser feita devagar e que, com o tempo, a inflação volta para o centro da meta. Prefiro ficar nesse resultado, de um crescimento que não é exuberante, mas é consistente, a voltar àquele ciclo de altos e baixos que já tivemos.

Há gente em seu partido que defende a tese de que uma inflação acima da meta pode ser tolerada em prol de um crescimento maior. O senhor concorda?
Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso deram uma tremenda contribuição ao incorporar à cultura brasileira o controle da inflação e a parcimônia nos gastos públicos. Foi uma coragem que deu ao Fernando Henrique duas eleições. Disputas políticas à parte, não podemos retroceder, temos de fazer o país avançar, mantendo as conquistas anteriores. O Lula pegou essa herança e manteve o que era bom para a economia não desandar. Muitas vezes ele é injustiçado ao ser comparado com outros populistas da América Latina, mas jamais aceitou por a economia em risco em nome do populismo. Quem escolheu manter o salário mínimo abaixo do prometido em 2003 e 2004 foi ele. Quando houve o mensalão muita gente falava para ele esculhambar o Orçamento para pacificar a base política. Ele se negou. Por isso tudo, acho injusto pensar que o governo do PT vá abrir mão do controle da inflação.

O governo Dilma tem enfrentado problemas na economia e ainda não conseguiu deixar uma marca. Qual é o símbolo do atual governo?
Fui coordenador do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social e levei dezoito meses para chegar a um consenso: o maior obstáculo ao desenvolvimento eram as desigualdades sociais. Foi unânime, da Febraban ao MST. Lula então aprofundou as políticas sociais. Dilma pegou a economia equilibrada e os avanços sociais e decidiu aumentar a competitividade. O primeiro ponto a enfrentar foi o custo do dinheiro, o que a levou a comprar briga com os bancos. Se o FHC fez o Plano Real e a Lei de Responsabilidade Fiscal e o Lula investiu no social, a presidente Dilma agora tem de deixar o país mais competitivo.

Mas essa é só uma ponta do problema da competitividade. A carga tributária é excessiva, a infraestrutura está travada...
O país está em evolução, é um grande processo. Não dá para falar que tudo começou com o PT, é uma burrice não reconhecer o que outros fizeram. O alicerce foi feito pelo FHC, muitos tijolos foram colocados pelo Lula e outros estão sendo assentados pela Dilma. O salto dela constitui-se de juros a padrão internacional, energia a um custo mais racional e o gargalo da infraestrutura resolvido.

Como destravar o país?
Há um problema sério nos nossos órgãos de controle. É preciso achar um ponto de equilíbrio entre a velocidade com que o país precisa crescer e a santa necessidade do zelo com o dinheiro público. Zero em um e cem no outro não vale. É muito bem-vindo o controle do dinheiro público, mas ele não pode ser um empecilho ao desenvolvimento. Mas, mesmo com todo esse controle, a corrupção não retrocedeu. Eu, sinceramente, acho que o problema melhorou. A corrupção sempre vai existir. Mas já tem muita empresa que não opera mais com caixa dois. Não quero posar de vestal, mas tenho um código. Digo ao empresário que preciso de ajuda na campanha. Aí, aqui no governo, não deixo fazer obras e contratos por mais 1 real, mais 2 reais ou mais 3 reais. Mas, quando chegar de novo a época da campanha se o empresário foi bem atendido, eu vou pedir uma ajuda. Porque todo mundo faz campanha ajudado. Não há outra forma de fazer a não ser que tenha o financiamento público.

O senhor não acha que há formas melhores de investir o dinheiro do contribuinte?
Pelo contrário, acho que baratearia muito a democracia. O Brasil precisa urgentemente de uma reforma política. Além do financiamento público, sou favorável à coincidência de datas para as eleições de vereador a presidente, com mandato de cinco anos e sem reeleição.

Falando em corrupção e financiamento de campanha, como o senhor, que estava dentro do Palácio do Planalto, define o mensalão?
Eu estava lá e desconheço totalmente essa relação de toma lá dá cá, de pega dinheiro aqui e vota ali. O que eu sei - e em que acredito - é que foi feito um planejamento a partir da vitória do Lula em 2002 de que era preciso eleger 1.500 prefeitos dos partidos da base em 2004 para preparar terreno para a reeleição do Lula em 2006. Essa é a conta que foi feita - e nesse sentido você pode dizer que o José Dirceu era o elaborador dessa estratégia política. Para eleger tantos prefeitos, é óbvio que tinham de convocar os aliados. Ele convocou e disse: "Moçada, nós vamos precisar eleger 1.500 prefeitos". Sentou com o presidente dos partidos, fizeram as contas e mostraram o preço.

E o dinheiro para pagar esses partidos veio de onde?

Não sei, porque não fui buscar. Mas, se você chama dez partidos e diz que cada um tem de eleger 100 prefeitos, o cara vai dizer: "E aí, cara-pálida, como eu vou fazer essa campanha?". Os partidos apresentaram o seu preço. Como foram buscar esse dinheiro? Não sei, mas deu no que deu.

Então, ao contrário do que diz a maioria do PT, o senhor concorda com o resultado do julgamento?
Há duas questões controversas: a teoria do domínio do fato, que muito criminalista que não tem paixão pelo PT contesta e o foro único no Supremo. Nossos adversários dizem que o PT é o partido dos marginais. Outros dizem que somos um partido de santos. Digo que somos um partido de homens e mulheres. Pode ter gente que na busca incessante de financiar a campanha de 2004, passou do ponto. Não quero julgar o julgamento do Supremo - julgamento é julgamento, no máximo você pode recorrer. Se o resultado foi ruim, sinto muito. É o Supremo, cujos ministros, em sua maioria, foram indicados pelo PT.

Quais nomes o senhor acha que estarão na uma na eleição para presidente em 2014?
Três, com certeza: a Dilma, o Aécio e a Marina. Com a Rede ou sem a Rede, Marina será candidata é difícil para alguém que teve a votação dela não tentar de novo. O Lula foi para o segundo turno em 1989 e, na eleição seguinte, em 1994, muitos pregavam que a gente deveria se aliar ao FHC.

Mas era impossível que ele não concorresse, como também era para o FHC.
Foi um azar histórico não ter dado liga entre os dois. As duas novidades pós-democracia são o PT e o PSDB dois partidos complementares que juntos, poderiam ter feito o Brasil avançar muito. Agora ficou tarde.

Voltando à cédula...
Dilma, Aécio e Marina para mim estão certos. Aí vem a grande dúvida: Eduardo Campos será candidato? Como amigo dele e parte do projeto da Dilma, eu não recomendo. Defendi com muita franqueza, durante seis horas de conversa com o Eduardo, a ideia de que é melhor que ele espere 2018. Que o caminho natural dele é ser o candidato do nosso grupo em 2018. Defendo isso publicamente dentro do partido: dezesseis anos é um bom tempo para se pensar em fadiga de material e abrir espaço para uma liderança de outro partido. Em política se faz acordo, não se trabalha com generosidade. Eu não estou sendo generoso, estou tendo uma visão diferente. Ninguém no Brasil de hoje vai se eternizar no poder. Graças a Deus, não há nada melhor na democracia do que a alternância de poder. É possível fazer alternância por dentro do projeto ou por fora. Eduardo pode ser essa alternativa por dentro em 2018: o grupo se mantém na Presidência, mas com outro nome, outro partido. É melhor entregar para um aliado do que perder para um adversário ou para um ex-aliado. É disso que eu tento convencer o PT mas não está fácil.

Como convencer Eduardo Campos de que o PT não vai lhe passar a perna em 2018?
Ele teria de cultivar esse acordo. Precisa sentar com a Dilma e com o Lula e discutir que espaço terá no governo qual será o caminho até a eleição seguinte e trabalhar para esse acerto ser cumprido. Sem nem ao menos tentar um acordo não dá para falar em traição. Mas ele se apaixonou pela ideia de ser candidato. Não é irreversível, mas o caminho para o recuo está encurtando cada vez mais. As pontes estão sendo arrebentadas de lado a lado.

Muitos petistas pregam que a única maneira de unificar a base é com uma candidatura de Lula. O senhor concorda?

Esqueça isso, nenhum partido pode ser de um homem só. A candidata é a Dilma e ponto. Lula é um grande cabo eleitoral, mas não vai pedir votos mais para ele mesmo.

O PT crítica as parcerias com o setor privado, mas o senhor acaba de ganhar um prêmio do Banco Mundial pela PPP em um hospital. Seu partido está atrasado?

Há uma confusão no Brasil entre ferramenta e projeto. Os projetos políticos se dividem entre esquerda e direita, progressista e conservador, entre os diferentes pensamentos. E as ferramentas servem para qualquer projeto. Ferramenta boa de gestão está na prateleira para quem quiser usar. No meu governo, não há preconceito, o que me norteia é o objetivo. Eu preciso de um hospital não tenho dinheiro e a minha gestão não é a mais excelente, então eu faço uma PPP. Nem sou do estado zero nem sou do estado máximo. Acho que o estado deve ter o tamanho necessário para resolver os problemas da população. Eu sou um governador do PT, mas meu governo não é refém do PT.

O presidente de seu partido, Rui Falcão, tem como bandeira a aprovação de um projeto que restringe a liberdade de imprensa. O senhor concorda com ele?

Eu prefiro ficar com a opinião da presidente Dilma: é uma bobagem tentar fazer qualquer tipo de controle da imprensa. Conteúdo é livre, cada um escreve o que pensa. A liberdade de expressão é um valor inatacável.

Anvisa propõe regras para a medicina chinesa


JOHANNA NUBLAT
DE BRASÍLIA
MARIANA VERSOLATO
Folha DE SÃO PAULO

Durante três anos, os remédios da medicina tradicional chinesa serão avaliados em relação às prescrições feitas no país, às substâncias utilizadas, aos efeitos terapêuticos e às reações adversas.
Ao final desse prazo, a conclusão pode ser registrá-los oficialmente, impor determinadas condições para seu uso ou, em último caso, bani-los.
É o que propõe a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), que abre uma consulta pública sobre o tema no início desta semana. A consulta, antecipada pela Folha em novembro, ficará aberta por 90 dias.
Hoje, os compostos usados em tratamentos de medicina chinesa, que podem misturar substâncias de origem animal, vegetal e mineral, não têm registro no país porque não se enquadram em nenhuma categoria prevista: não são medicamentos, fitoterápicos ou alimentos.
"Vamos poder conhecer um mercado que existe e, muitas vezes, fica obscuro porque a vigilância sanitária nega sua existência", afirma Dirceu Barbano, diretor-presidente da agência.
Paralelamente, a Anvisa pretende trocar informações com a vigilância sanitária chinesa, que tem um setor que trata da medicina tradicional.
DE ORIGEM ANIMAL
Na consulta pública, a Anvisa propõe a proibição do uso de componentes de origem animal nos produtos a serem vendidos no país.
Nas fórmulas chinesas pode haver pelos e até chifres e ossos de animais.
"A legislação sanitária brasileira, quando envolve produtos de origem animal, é muito rigorosa e exigiria um conjunto de testes de qualidade que transformariam os produtos em medicamentos. Isso impediria que ficassem disponíveis segundo essa norma", diz Barbano.
O hepatologista Raymundo Paraná, porém, se diz "extremamente preocupado" com a falta de exigência de estudos científicos que comprovem a segurança e a eficácia desses produtos.
"É absurdo o movimento de legalizar esse tipo de produto sem a avaliação que a ciência médica exige. Afrouxar as regras para esse ou outro produto porque o uso é milenar é absurdo."
Segundo Reginaldo Silva Filho, presidente da Escola Brasileira de Medicina Chinesa, a maioria dos compostos utilizados no país é de origem vegetal."Há alguns produtos importantes de origem animal, mas eles são bem menos usados. A proibição pode fazer com que alguns praticantes tenham de buscar alternativas dentro da farmacopeia chinesa", afirma.
Já Márcio de Luna, do Instituto Brasileiro de Medicina Tradicional Chinesa, acredita que o ideal seria liberar esses produtos, contanto que os fabricantes seguissem uma exigência de boas práticas de manufatura.
"A proibição criará um problema porque vamos ter que nos adaptar. Além disso, a censura abre margem para o mercado paralelo."
A Anvisa também sugere que, durante os três anos de monitoramento, as empresas que adquirirem insumos para produzir compostos deverão cadastrar todas as substâncias no site da Anvisa.
O cadastro deve conter ainda dados dos fabricantes, revendedores ou distribuidores dos insumos, caso eles não tenham sido obtidos diretamente do fabricante.
"O cadastramento permitirá que a Anvisa possa ter um maior controle sobre eventuais falhas em lotes de produtos, por exemplo", completa Silva Filho.
Alex Argozino/Editoria de Arte/Folhapress
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Arma feita em impressora 3D gera polêmica; no Brasil, construí-la pode dar cadeia

folha de são paulo

BRUNO ROMANI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Os 15 pedaços de plástico em azul e branco lembram as pecinhas de um brinquedo de montar, como os que vêm dentro do Kinder Ovo. Juntos, porém, eles podem ferir seriamente uma pessoa.
São componentes de uma pistola que dispara balas de calibre 22 e foram feitos em uma impressora 3D.
Desde o ano passado, pessoas na internet discutem sobre a possibilidade de impressoras 3D gerarem armas de fogo --até então, a tecnologia, apontada como uma das grandes tendências para o futuro, era usada para criar brinquedinhos e bugigangas.
No último dia 3, o grupo americano Defense Distributed anunciou que criou a primeira pistola 3D funcional, batizada de Liberator. Liderado por Cody Wilson, um estudante de 25 anos da Universidade do Texas, o grupo já havia impresso pentes de munição e partes de fuzil.
Reprodução
Captura de tela do vídeo de apresentação da pistola Liberator, fabricada por uma impressora 3D, cujo projeto é de autoria da empresa Defense Distributed (DefCAD)
Captura de tela do vídeo de apresentação da pistola Liberator, fabricada por uma impressora 3D, cujo projeto é de autoria da empresa Defense Distributed (DefCAD)
Todos os arquivos do Defense Distributed e seus seguidores para a impressão de componentes de armas podiam ser encontrados e baixados em um site próprio, o DefCAD. O arquivo da Liberator foi baixado mais de 100 mil vezes em três dias.
Na última quinta, porém, os arquivos foram tirados do ar pelo Departamento de Estado dos EUA sob a alegação de que a distribuição dos arquivos viola a lei de importação e exportação de armas de fogo no país.
Mesmo nos EUA, onde os cidadão podem fabricar e, com as devidas licenças, distribuir armas de fogo, a Liberator causou polêmica.
Além dos questionamentos sobre o que significa dar potencialmente acesso a armas de fogo para qualquer pessoa, há preocupação com o fato de armas de plástico não serem flagradas por detectores de metal.
METAL LEVE
O Defense Distributed incluiu em sua versão da Liberator uma peça com 30 gramas de metal, suficiente para que seja detectada. Mas isso pode não ser replicado por todos aqueles que decidirem montar suas pistolas.
No Brasil, aquele que decidir construir pistolas 3D violará o Estatuto do Desarmamento, que proíbe a fabricação de armas no país. A pena é de quatro a oito anos de prisão mais multa.
"A pessoa poderia também ser enquadrada por posse e porte ilegal de armas", explica o advogado Leandro Bissoli. No caso da Liberator, que dispara munição de uso permitido, a pena é de dois a quatro anos e multa.
Divulgação
Imagem das peças que compõem uma pistola Liberator, feita em impressora 3D
Imagem das peças que compõem uma pistola Liberator, feita em impressora 3D
Para Hod Lipson, professor da Universidade Cornell especialista em impressão 3D, a Liberator traz um efeito positivo, e não negativo, para a indústria. "Agora podemos discutir a segurança da impressão 3D", diz ele.
"É importante estarmos atentos se o que pode ser impresso é capaz de machucar crianças e hobbistas."
Armas 3D são feitas de plástico com termorresistência, como o ABS, e quebram depois de alguns disparos --se não houver cuidado na construção, porém, elas podem explodir na mão.
"Criminosos conseguem de forma mais fácil e barata armas que são resistentes", afirma Lipson.

A 'coisa do videogame' - André Conti

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Jogos podem ser tão divertidos quanto passeios, filmes, livros e músicas, o que ocorre com frequência
Não sei quantas vezes eu tive de explicar a "coisa do videogame" para alguém. E quantas vezes eu recebi de volta o mesmo olhar de surpresa e repulsa ao dizer que sim, gostava de jogar, colecionava um monte de jogos e que, embora não sobrasse tanto tempo, ainda era um dos grandes prazeres da minha vida.
Em primeiro lugar, não se preocupe, porque não há a menor possibilidade de isso se tornar uma defesa apaixonada dos jogos ante a um mundo que não compreende o valor artístico de "Tetris". Está tudo bem. Mas, na tentativa de organizar as muitas respostas (e desculpas) que usei ao longo dos anos, pensei no seguinte sobre a coisa do videogame.
Jogos podem ser tão divertidos quanto passeios no parque, filmes, livros e músicas, o que ocorre com frequência. Podem nos mover e causar reações fortes e sinceras como um livro ou filme ou música que tenham nos emocionado, o que ocorre com menos frequência, mas também ocorre.
Acho que no cinema esse segundo tipo de reação quase sempre estará relacionado à personalidade ou estilo de um diretor, mesmo em filmes estritamente comerciais (pense "Miami Vice", de Michael Mann). Nos jogos eles estão por toda parte: nas criações independentes, nas grandes produções amorfas, nos estúdios de médio porte que passam anos trabalhando num mesmo gênero.
Às vezes esse efeito é causado por elementos narrativos que os jogos devem à literatura e ao cinema. Haverá personagens cativantes, cenas inacreditáveis, enredos bem engendrados, drama, humor, aventura. Esses jogos podem pertencer a qualquer gênero, e a reação a eles diz respeito a nosso fascínio permanente com narrativas e histórias.
Mas mesmo nos casos mais extremos de muito enredo e pouca interação, chegando ao limite com novelas interativas do tipo "escolha seu caminho", essa resposta emocional que pertence unicamente ao universo dos jogos dependerá sempre da interação estabelecida com o jogador.
Não se trata de conduzir a trama ou de algum sentimento de pertencer a ela por meio da interação. É algo de entender as regras e os limites de um jogo e de estabelecer uma relação com ele a partir do quanto posso alterar e participar daquela ação, do observador mais distante (num jogo de estratégia, digamos) ao protagonista absoluto ("Pac-Man").
Se há uma riqueza própria aos jogos, ela não depende de trama ou do mérito artístico e de influências literárias e cinematográficas. Ela pertence a qualquer jogo que se liga a alguém por um controle.
Não estou dizendo que todos os jogos sejam bons, claro. Nem que o envolvimento do jogador virá apenas de uma determinação matemática, como se estivesse condicionado à qualidade técnica dos controles e não a outros fatores. Mas que, nesse caráter único dos jogos, talvez haja uma expressão do mesmo engenho que levanta prédios e pinta quadros e faz todas essas coisas boas que estão aí.
Esta coluna é minha despedida do caderno "Tec". Infelizmente, o tempo anda curto. Espero que tenham se divertido como eu.

Saiba se o imóvel desejado cabe no bolso

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Calculadora mostra se renda mensal e valor da entrada são suficientes para aprovação de financiamento do bem
Antes de pagar o sinal ao proprietário, faça simulações em bancos para evitar perda de dinheiro e de tempo
CAROLINA MATOSDE SÃO PAULOA compra da moradia, especialmente a primeira, costuma ser um processo longo.
Para evitar perda de tempo e de dinheiro, o interessado em um imóvel financiado deve, antes de qualquer proposta ao vendedor, conhecer a faixa de preço do bem que tem condições de adquirir.
A renda mensal e o valor que se tem disponível para a entrada são decisivos: vão ser usados pelos bancos para determinar qual o preço do imóvel que poderá ser comprado por meio de um empréstimo.
Para ajudar a planejar a aquisição, a Folha elaborou simulações que mostram o impacto dessas variáveis no valor do imóvel aprovado para financiamento em 30 anos a um comprador com idade entre 18 e 35 anos.
Se a pessoa tem renda familiar mensal de R$ 5.000 e R$ 100 mil para entrada, o banco aprovará a compra de um imóvel de até R$ 240 mil. Com renda de R$ 10 mil ao mês e entrada de R$ 250 mil, o preço permitido do imóvel sobe para R$ 525 mil.
"Muitos só descobrem que não terão o financiamento aprovado pelo banco para o imóvel desejado depois de pagar o sinal para o vendedor, que pode ser de 10% do valor do bem", diz Marcelo Prata, presidente do Canal do Crédito, site de comparação de taxas de empréstimos.
"Nesse caso, essa quantia é perdida, a menos que o contrato de compra e venda tenha cláusula de devolução."
CALCULE O SEU PERFIL
No site Folhainvest (folha.com/folhainvest), é possível fazer os cálculos considerando outros perfis de idade do comprador, renda mensal, valor de entrada e do imóvel desejado.
A ferramenta interativa, desenvolvida pela Folha em parceria com o Canal do Crédito, possibilita ainda simulações com o valor da parcela que se pretende pagar.
Os bancos permitem que a primeira parcela do financiamento represente até 30% da renda familiar mensal.
Os cálculos do simulador consideram taxas médias de juros com base nas praticadas em sete bancos e demais cobranças que compõem o custo efetivo total (CET) do financiamento --como seguro, que tem relação com a idade do comprador, e tarifas.
"Com o valor resultante, fica mais fácil definir, por exemplo, qual a localização e o tamanho do imóvel que ele pode adquirir, e se a compra será feita agora ou se ele vai poupar por mais tempo para ter uma entrada maior", diz Valter Police, planejador financeiro pessoal.
NEGOCIE
Uma vez encontrado o imóvel, o interessado deve submeter uma proposta de análise de crédito a mais de um banco para comparação do custo efetivo total cobrado pelas instituições. De posse dos resultados, o comprador pode barganhar em busca da opção mais vantajosa.
A análise de crédito leva, em média, três dias para sair. Se aprovada, terá validade de 90 dias, também em média --tempo que o comprador terá para fechar o negócio.

    MAIS CUSTOS
    Gastos com acabamento chegam a 30%
    Na compra de um imóvel, é preciso levar em conta outros custos como ITBI (Imposto sobre Transmissão de Bens Imóveis), despesas com cartório e custos bancários. Eles vão de 3% a 4% em média, de acordo com Marcelo Prata. Em um imóvel novo, os gastos com acabamentos e mobília variam de 20% a 30% do valor dele, diz Valter Police.

      Alugar pode ser mais barato que comprar
      Consultores afirmam, no entanto, que valores intangíveis devem ser levados em conta na hora da decisão
      Momento de vida, incertezas geográficas e familiares e perfil da pessoa são fatores que devem ser considerados
      MARIA PAULA AUTRANDE SÃO PAULOCom o crédito mais fácil, uma dúvida é recorrente na vida de quem procura um lugar para morar: financiar ou alugar um imóvel?
      Pela ótica financeira, em geral, o aluguel costuma ser mais barato do que a parcela do financiamento, segundo especialistas, tornando-se a opção mais interessante para o bolso.
      Especialistas afirmam, no entanto, que, quando se trata de um imóvel, há valores intangíveis que precisam ser considerados na decisão.
      Um é a a fase da vida. Se há muitas incertezas --possibilidade de ter filhos, de mudar de trabalho e até de cidade ou país--, o aluguel é indicado, pois a mobilidade é maior.
      Nesse caso, a modalidade não precisa ser vista como um desperdício de dinheiro, mas como um custo, diz o presidente do Canal de Crédito, Marcelo Prata.
      "Quem está começando a vida, acabou de mudar de emprego ou de entrar no mercado de trabalho tem muitas variáveis que não conhece. Nesse caso, sugiro alugar porque a pessoa terá tempo de entender como vai funcionar sua vida", afirma.
      Outro fator é o perfil da pessoa, diz o planejador financeiro Valter Police. Segundo ele, quem é conservador tende a comprar, pois quer ter algo concreto e ter independência para fazer modificações como reformas.
      "Posso ter R$ 1 milhão em um fundo de investimento, mas, se eu perder o emprego, não poderei morar nele. O imóvel é concreto e isso está no inconsciente da pessoa", diz o economista Luiz Calado, autor do livro "Imóveis".
      Além disso, é importante avaliar se a pessoa é poupadora ou gastadora, pois, se sabe que vai gastar [o que sobra], o aluguel não será vantajoso.
      Para o educador financeiro Mauro Calil, ninguém deve passar a vida no aluguel.
      "Poderá valer a pena se for parte de uma estratégia para a conquista do imóvel. Financeiramente é vantajoso, mas há o estresse de a pessoa saber que pode ser obrigada a se mudar amanhã", diz.
      "E, aos 89 anos, quem vai pagar o aluguel para ela?", questiona.
      ENTRADA
      Segundo Prata, muitas vezes, o valor disponível para a entrada ou para a compra à vista não é suficiente para o imóvel desejado. Diante disso, uma estratégia é investir o dinheiro para aumentá-lo.
      Mas, nesse caso, o rendimento líquido da aplicação precisa ser maior do que aluguel. Assim, além dessa despesa ser coberta, sobra dinheiro para poupar.
      O problema é que, hoje, dificilmente alguma aplicação de renda fixa oferece esse rendimento, dizem os especialistas.
      No mercado, o valor médio do aluguel é de 0,5% do preço do imóvel, mas pode haver variações. Cálculos feitos pelo professor da FGV Samy Dana mostram duas simulações em que a aplicação não vale a pena (veja quadro).
      Em uma, ao investir em renda fixa R$ 500 mil e reinvestir o rendimento mensal após descontar o aluguel, a pessoa perderia dinheiro em 30 anos. Em outro caso, ao aplicar a entrada, R$ 100 mil e reinvestir o ganho mensal, no mesmo período, o rendimento é pouco, mesmo sem pagar o aluguel.
      "Saber quanto você consegue financiar é o primeiro passo para ajustar seu desejo à realidade. Mas, se ainda assim, o valor que você pode comprar não é o tipo de imóvel que gostaria, não tem jeito: tem que guardar mais dinheiro", diz Prata.
      E, para isso, é preciso rever o orçamento para poupar mais e com disciplina.

        Metas para 2015 - Renato Janine Ribeiro


        Valor Econômico - 13/05/2013

        Desafios para quem for presidente em 2015

        Que tarefas tem pela frente o Brasil que emergirá das próximas eleições? Hoje o nome provável para suceder a Dilma Rousseff é ela própria, mas, como se sabe e comentei aqui na semana passada, a situação não está fácil nem para a presidente, e é por isso que Eduardo Campos se movimenta para concorrer ao Planalto em 2014. Mas há desafios que qualquer candidato e, sobretudo, o que for eleito terá pela frente.
        Não falo de desafios carimbados à direita ou à esquerda. É usual a direita apresentar o que ela quer como sendo imperativo da realidade; assim foi com a privatização, assim hoje é quando afirma ser necessário o amargo remédio de desemprego e juros elevados. Mas não falo de tarefas como estas, porque são meios, não fins; e o que está diante do Brasil é uma escolha mais profunda, mais enraizada. Resumo-a em três pontos.

        O primeiro: é preciso que a economia tenha um novo fôlego, mostrando-se criativa, indo além da indústria, e não aquém dela. O verdadeiro problema da desindustrialização é que, nos últimos dois ou três séculos - ou mais, desde o mercantilismo - a manufatura foi o grande distintivo do desenvolvimento econômico, da prosperidade social e da hegemonia política. Ter indústrias proporcionava uma riqueza mais consistente do que a extração de minérios ou a agropecuária. O Terceiro Mundo exportava matéria-prima, o Primeiro, manufaturados. Aliás, o tratado de Methuen, em 1707, pelo qual a Inglaterra isentou o vinho do Porto de impostos de importação, enquanto Portugal liberava a entrada de manufaturados ingleses, é o exemplo clássico, segundo Celso Furtado, de vantagem para o primeiro país e ruína para o segundo. Hoje, já não está claro se é a indústria clássica que assegura a primazia econômica. Não parece mais óbvio que baste agregar valor-trabalho ao que a natureza nos fornece, seja mineral, vegetal ou animal; cada vez se tornou prioritário agregar trabalho que represente inteligência. E esta pode ser de vários tipos - a ciência e a tecnologia são exemplos claros, mas a arte e a cultura também o são. Em algum momento, se acrescentará ainda a inteligência emocional.

        Por isso, o primeiro ponto é ter uma economia na qual a criação, em seus vários sentidos, se faça presente. Criação, no caso, representa valor econômico. Mas representa também uma qualidade humana saliente. Uma economia na qual a criação se destaque será uma economia mais humana. Daí, que ela não precise apenas de ciência, tecnologia e inovação: precisará de arte, de cultura e, repito, inteligência do lado direito do cérebro, o lado responsável pelo pensamento simbólico e, justamente, a criatividade.

        O segundo imperativo é que a inclusão social destes anos se consolide graças à educação, à cultura e à atividade física. A inclusão social foi a grande conquista, no Brasil e no mundo, destes últimos anos. A miséria recuou em quase toda a parte. Mas, talvez porque nossos tempos são do consumo, - nosso templo é o consumo -, as pessoas cresceram mais como consumidoras do que espiritualmente. Está na hora de substituir a obsolescência programada dos bens de consumo por algo mais consistente, que a pessoa não perca nunca, porque se tornou parte dela: o que aprendemos, seja em currículos mais organizados (a educação), seja de maneira livre e desordenada (a cultura); o que garantimos de saúde e bem-estar para nosso corpo. Isso implicará mudar conteúdos e formas da educação, mas, sobretudo, tornar mais inteligente - ao mesmo tempo que prazeroso - o lazer. Animadores culturais, monitores esportivos devem se tornar profissões atraentes, assim como - de novo - o professor. Em vez de construir grandes estádios, teremos equipamentos conversíveis, nas horas de lazer (de manhã cedo, depois das 18h, nos fins de semana), em espaços que deem saúde e alegria ao corpo e à mente.

        O terceiro: é preciso que novos atores entrem na política, um dos setores mais envelhecidos de nossa sociedade. É necessária uma ampla renovação de quem está no poder. Não se trata apenas de substituir uma geração por outra, o que se faz naturalmente - mas de fazer que gente cheia de energia, provavelmente testada em ações de responsabilidade ou empreendedorismo sociais, ou em movimentos também sociais, entre em cena e altere o panorama das decisões no país. Os líderes que se destaquem nas ações afirmativas, bem como os jovens empresários preocupados com o futuro do país, não poderão ser apolíticos. Parte deles, pelo menos, deve renovar os Parlamentos, com uma cultura da cooperação e uma crença, atestada em seus atos, de que é possível melhorar constantemente as coisas.

        Esta agenda vai além do reparo e do conserto. Ela é propositiva. Por isso não toquei na corrupção. É imperativo vencê-la. Mas a corrupção é crime, é atraso, é erro. Porque extinguir uma coisa ruim é uma tarefa, ainda que necessária, negativa. Preferi frisar as tarefas criativas, afirmativas. A verdadeira agenda nossa, a dos fins, é a de propostas novas, que modifiquem o mundo, indo além - nos três casos - da lamentação sobre o atraso brasileiro. Porque estas três propostas são novas, também, em termos mundiais.
        Nada indica que os rivais de Dilma possam ir melhor do que ela nesses tópicos, mas também há poucos sinais de que ela consiga ir longe aqui. Por isso, estas metas nem sei se são para 2015. Vão demorar. Mas, quanto mais cedo nos convencermos da riqueza delas, melhor será. Quanto mais cedo, melhor. Mas mudanças assim grandes demandam uma alteração nas consciências. Ganharemos o futuro quando mudarmos a economia, as cabeças e corpos das pessoas e a política.

        Deveres da vitória - Rubens Ricupero

        folha de são paulo

        Deveres da vitória
        Seria absurdo pretender que a obediência à OMC impeça o Brasil de desejar um comércio saudável
        A vitória dá direitos, ao contrário da frase bem intencionada de um estadista do Império. Mas ela também cria deveres, como terá de reconhecer o governo brasileiro em decorrência da campanha para eleger o embaixador Roberto Azevêdo como diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC).
        É óbvio que, ao persuadir a maioria dos membros da organização de que o candidato brasileiro é o melhor para concluir com êxito as negociações comerciais paralisadas, o Brasil contraiu o dever moral e político de ajudar o diretor eleito a tornar possível esse objetivo.
        Terá de voltar à postura proativa que assumiu em julho de 2008, quando, junto da União Europeia, propôs fórmula de compromisso em agricultura que teria permitido fechar as negociações.
        Caso a proposta não tivesse sido sabotada pelos EUA de um lado e pela Índia do outro, o país teria tido ganhos em agricultura, mas seria obrigado a fazer concessões em indústria e serviços. À luz do agravamento da crise de competitividade da indústria nesses cinco anos, seremos ainda capazes de renovar as ofertas daquele tempo?
        Não é o que indica a política comercial e industrial do governo, que vem multiplicando medidas contrárias, se não à letra do mandato de negociações, ao menos a seu espírito. Um exemplo é o aumento das tarifas de cem produtos; outro, as medidas de favorecimento a fornecedores nacionais. Tais decisões contrariam claramente a cultura de liberalização comercial e não discriminação que constitui a essência da identidade da OMC.
        Prova de que há gente no governo consciente do problema é o episódio relatado por Paulo Sotero em magnífico artigo no "Financial Times".
        Segundo o relato, um alto representante brasileiro numa organização internacional teria criticado a decisão de apresentar candidato à direção da OMC porque a "entidade representava um obstáculo à política industrial brasileira". Pode-se replicar que não são todas as políticas industriais que se chocam com a organização, mas é indiscutível que, no caso da brasileira, a frase reflete uma contradição real.
        O dever nascido da vitória nos obriga a conciliar a reconstrução da competitividade com as normas internacionais. Seria absurdo pretender que a obediência à OMC implique o sacrifício do legítimo desejo brasileiro de ter um comércio exterior saudável e competitivo. A conciliação desses dois objetivos é possível, exigindo, porém, que os setores do governo responsáveis por essas decisões deixem de marginalizar o Itamaraty no momento de definir políticas contestáveis e, além disso, ineficazes.
        Se a diplomacia brasileira dispõe de pessoas brilhantes como Azevêdo, que ajudou o país a ganhar as causas do algodão contra os EUA, do açúcar contra os europeus e agora obteve consagradora eleição, por que não utilizar esse conhecimento especializado no desenho de políticas compatíveis com a OMC?
        Ganhar a eleição não é um fim em si mesmo. Deve ser um meio para o Brasil demonstrar não só que tem prestígio, mas que é capaz de contribuir para desbloquear as negociações, restaurar a credibilidade da OMC e ajudar o mundo a recuperar o comércio e sair da crise.

          KLEDIR RAMIL - Orquestra Filarmínima

          Zero Hora - 13/05/2013

          Kleiton e eu tínhamos um show para fazer em São Paulo com orquestra sinfônica e coral. Momentos antes da apresentação, recebemos a notícia de que o maestro havia pedido demissão e estávamos sem regente. Pelo que ficamos sabendo, o assunto estava relacionado com atraso dos salários e um rumoroso caso extraconjugal que envolvia a mulher de um conselheiro da orquestra. O que não vem ao caso agora.

          Em solidariedade ao maestro demissionário, as cordas, os metais, as madeiras e os demais integrantes, levantaram acampamento.

          Com a intenção de não frustrar as expectativas da plateia de um teatro lotado, tentamos contornar a situação, para que o público perdesse em volume, mas não em beleza. E a produção não perdesse na bilheteria. Antes das cortinas serem abertas, fui encarregado de explicar ao público as mudanças na programação. Respirei fundo e fui até o microfone.

          “Boa noite, meus amigos. Gostaria de um minuto da atenção de vocês. Tivemos um pequeno problema em relação ao programa previsto para esta noite, mas fizemos questão de não cancelar o espetáculo, em sinal de respeito ao público aqui presente.

          Segundo nota oficial da diretoria da orquestra, o maestro, cujo nome prefiro omitir, ficou preso no aeroporto de Chicago, sem teto. Pelo celular, o sujeito teria incitado os músicos a uma rebelião que chegou a agressões físicas e culminou com a destruição parcial de um violino Stradivarius. Entre outros.

          A produção já estava entrando em pânico quando meu irmão, este santo homem, disse que poderia tocar violino. O problema é que o violino dele é cortado ao meio. Apesar das controvérsias, chegou-se a um consenso de que seria melhor um pedaço de rabeca do que ter que cancelar o espetáculo. Então, senhoras e senhores, tenho o prazer de apresentar, em primeira audição, o show de Kleiton & Kledir com a Orquestra Filarmínima de Porto Alegre, a menor orquestra do mundo, composta por apenas 1/2 violino, mas executada por um músico de primeira grandeza. O que equilibra a coisa toda.”

          Abriram as cortinas, e fomos servidos aos leões.

          Foi então que acordei suando, num quarto de hotel em São Paulo e me dei conta de que tudo aquilo havia sido um pesadelo. Liguei assustado para o meu produtor e recebi, com alívio, a notícia de que a orquestra estava confirmada para o show daquela noite.

          Painel - Vera Magalhães

          folha de são paulo

          Todos contra um
          Para aprovar a medida provisória dos portos, Dilma Rousseff telefonou para Fernando Bezerra (Integração Nacional) e acenou com acordo no qual Pernambuco manteria o controle do porto de Suape, incluindo o poder nas nomeações e arrecadação das taxas portuárias. O governo só não abre mão das licitações, que seriam de domínio federal. O Planalto sinaliza com garantias para que o PSB derrote emenda de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) com pontos que contrariam a petista.
          Intensivão Rui Falcão pediu a Luiz Sergio (PT-RJ) que retire emenda da medida provisória que não foi acordada com o governo. A expectativa no Planalto é que o deputado atenda ainda hoje ao apelo do presidente do PT.
          Verão... Em reunião recente com Ideli Salvatti (Relações Institucionais), Cunha leu discurso da ministra, dos tempos em que ela era senadora, sobre portos públicos.
          ...passado No pronunciamento de 2008, a petista diz que porto é uma ''questão de soberania'' e, por isso, ele é público. E que ele garante que todos terão direito de embarcar sua mercadoria e não ficariam sujeitos à "conveniência" de algum empreendedor privado.
          Debandada Além de Nelson Barbosa (Fazenda), Beto Vasconcelos (Casa Civil) e a possível saída de Alessandro Teixeira (Desenvolvimento e Indústria), outro número dois se prepara para deixar o governo: Cezar Alvarez (Comunicações) vai se dedicar a um doutorado no exterior.
          Escalação Do senador Aécio Neves (PSDB-MG), sobre o pedido do secretário-executivo da Fazenda para deixar o governo até julho: "No meu time, onde a meritocracia vale, tem lugar para um economista talentoso como o Nelson Barbosa".
          Pra próxima 1 José Dirceu havia agendado um encontro com Nicolás Maduro durante a passagem do presidente venezuelano por Brasília, na última quarta-feira.
          Pra próxima 2 A conversa, no entanto, não ocorreu devido a atrasos na agenda de Maduro. O sucessor de Hugo Chávez esteve também com Lula, que atrasou o encontro de Dilma com o venezuelano em duas horas.
          Devagar... Em conversa no Palácio do Alvorada, o marqueteiro do PT, João Santana, usou pesquisas recentes para justificar a Dilma e Lula por que acha que Eduardo Campos "esmoreceu".
          ... com o andor Mesmo depois de bateria de propaganda e exposição na imprensa, o governador de Pernambuco oscilou para baixo, dentro da margem de erro.
          Projeto... Um político pernambucano se surpreendeu ao encontrar, na casa de Eduardo Campos na semana passada, uma nutricionista, uma professora de pilates e um personal trainer.
          ... 2014 "Se eu tinha alguma dúvida de que você era candidato, não tenho mais", comentou o aliado.
          Aí, não Nas conversas com a Anatel para definir a distribuição dos canais digitais, a CUT já avisou que não quer o número 45, como acontece no analógico. O número é usado pelo PSDB.
          Pente-fino 1 O Ministério da Integração Nacional terminou em abril as análises referentes a indícios de fraudes em cinco dos 14 lotes da transposição do Rio São Francisco, obra do PAC.
          Pente-fino 2 Agora, estão sendo realizadas perícias que devem durar 60 dias e finalizarão o processo. Entre as medidas, poderá ser feito um pedido de ressarcimento a empresas envolvidas.
          TIROTEIO
          É a raposa tomando conta do galinheiro. O contribuinte pagará muito caro pela candidatura de Dilma Rousseff em 2014.
          DO DEPUTADO FEDERAL BRUNO ARAÚJO (PSDB-PE), comentando a provável participação de Arno Augustin (Tesouro) na coordenação da campanha do PT.
          CONTRAPONTO
          Decisão por pênaltis
          O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), falava sobre o esforço para votar a MP dos Portos, após o apelo da presidente Dilma Rousseff pela aprovação da medida. Um repórter quis saber qual era avaliação do peemedebista sobre a troca de acusações entre os deputados Anthony Garotinho (PR-RJ) e Eduardo Cunha (PMDB-RJ) no plenário da Câmara, na noite de quarta-feira. Garotinho chamou a medida de "MP dos Porcos".
          -Eu não vi nada! É que eu estava assistindo o jogo entre Atlético e São Paulo -, esquivou-se o botafoguense, sem conseguir conter a própria gargalhada.

            Marina atrai insatisfeitos e isolados, do PSOL ao PSDB

            folha de são paulo

            Políticos relegados em suas siglas buscam alternativa na Rede Sustentabilidade
            Nova legenda da ex-ministra, que ainda tenta se viabilizar, recebe 'sonháticos' de diversos outros partidos
            DIÓGENES CAMPANHADE SÃO PAULOA ex-senadora Marina Silva reuniu em torno do projeto da Rede Sustentabilidade, partido que tenta viabilizar para se candidatar à Presidência em 2014, uma teia que vai de Heloísa Helena, a fundadora do PSOL a um aliado histórico do ex-governador José Serra (PSDB-SP).
            Além do discurso de que estão juntos para construir coletivamente a "nova política", os principais apoiadores de Marina são movidos por causas individuais realistas.
            Muitos deles já não gozam em seus partidos do prestígio de outrora ou travam batalhas perdidas contra líderes de suas siglas. O deputado Domingos Dutra, por exemplo, protesta em vão contra a aliança do PT com a família Sarney no Maranhão e, por isso, quer deixar a legenda.
            Hoje vereadora em Maceió (AL), a ex-senadora Heloísa Helena, que em 2005 saiu do PT para criar o PSOL, entregou a presidência do partido há três anos, após se desentender com a direção nacional. Ela queria que sua legenda apoiasse Marina, então no PV, à Presidência em 2010, mas foi derrotada.
            Integrante, como Dutra e Heloísa, da Executiva provisória da Rede, o deputado federal Walter Feldman chegou a anunciar sua saída do PSDB em 2011. Na ocasião, acusou o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, por uma crise interna que levou seis vereadores da capital paulista a deixarem o partido.
            Feldman, no entanto, voltou atrás e ficou no PSDB. No ano passado, foi um dos coordenadores da campanha de Serra à Prefeitura de São Paulo. Intermediou o apoio do pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus, ao tucano. As críticas do religioso a políticas contra a homofobia trouxeram danos à candidatura, e Feldman acabou responsabilizado internamente.
            Ele admite que a Rede não atrai "apenas os ideológicos, os doutrinários", mas também quem está perdendo espaço em seus partidos. Mas diz que não se encaixa em nenhum dos grupos. "Sou um sonhático radical. Estou em busca de uma nova utopia."
            PRAGMATISMO
            Quando deixou o PV, em 2011, após disputa de seu grupo com a direção do partido, Marina disse que não era hora de agir com pragmatismo: "É hora de ser sonhático e de agir pelos nossos sonhos".
            Alguns dos "sonháticos", no entanto, continuaram no PV para evitar perder o mandato, como o deputado Alfredo Sirkis (RJ). "Fui contra a saída dela. Teríamos continuado a luta interna dentro do partido e hoje estaríamos em situação melhor", afirma.
            Ele defende inclusive que, na eventual candidatura de Marina em 2014, a Rede se alie à sua antiga legenda.
            Vitória do pragmatismo? "Sonhaticamente não se faz uma campanha presidencial bem-sucedida", responde Sirkis.