quarta-feira, 25 de setembro de 2013

MARTHA MEDEIROS - Coragem para ter medo

Zero Hora -  25/09/2013

Saí tão comovida do espetáculo TôTatiando, que a cantora Zélia Duncan apresentou durante o Porto Alegre em Cena, que não posso deixar de falar dele, até porque me parece necessário fazer um barulho em torno. O Brasil inteiro merece assistir a um produto cultural dessa qualidade. Há muito tempo, eu não via algo tão genial.

É show? É teatro? É o quê?

Uma combinação de ambos. Um encontro empolgante do cênico com o musical, do simples com o sofisticado. Todas as canções são de autoria do inspirado Luiz Tatit, fundador do vanguardista Grupo Rumo, que surgiu em São Paulo nos anos 80. Zélia se apropria de cada letra, de cada sílaba, de cada palavra, e as canta, as conta, as encena e as faz levitarem até uma altura tão elevada, que a plateia atinge uma espécie de entorpecimento. Ficamos completamente chapados por 60 minutos, extasiados com tanta beleza, tanto lirismo, tanta graça. Quem precisa de drogas quando se tem arte pura ao alcance?

O espetáculo é incomum, mas o que ele transmite é comum. Não é fácil, e ao mesmo tempo é fácil, sim. Não é óbvio, porém não há estranheza alguma que impeça a comunicação. Luiz Tatit sempre escreveu sobre a singularidade mais prosaica do ser humano, e aí chega Zélia e transforma tudo em encantamento. Circo. Poesia. “Sempre quis o meu destino/ foi o meu destino que nunca me quis (...)/ Acho que ele foi atrás de outro alguém/ Pois destino tem destino também”.

Ao final da apresentação (ovacionada!), Zélia agradeceu à equipe e em especial à sua diretora, a talentosa Regina Braga, admitindo: “Se encarei esse desafio, foi porque a Regina me deu coragem para ter medo”.

A que medo Zélia se refere? Provavelmente, o medo de sair da sua zona de conforto e expandir seu talento (revelou-se uma excelente atriz, além da intérprete afinadíssima que já sabíamos que era). O medo de oferecer ao público um produto que se diferencia dos sucessos comerciais facilmente palatáveis. O medo de revelar a obra de um autor (o já citado Luiz Tatit) de quem a maioria dos brasileiros nunca ouviu falar. O medo de misturar gêneros (teatro, música, recital) e criar algo novo a partir disso. Algo novo. Novo! O que pode ser mais assustador do que o novo?

Costumamos nos agarrar ao que é conhecido, a emoções reprisadas, à manutenção do já visto, já feito – raramente arriscamos perder o chão sob nossos pés. Até que alguém dá um salto mortal bem na nossa frente, e não se estatela, ao contrário, sobressai. É quando dá vontade de ter coragem também. Coragem de sentir medo. E então descobrir que o destino não nos abandonou como parecia. Só estava esperando que a gente se tornasse mais merecedor de seu sorriso.

FERNANDO BRANT » Perguntas sem respostas‏

Estado de Minas: 25/09/2013 



É comum nos relacionamentos sociais que as pessoas, postas diante de um questionamento incômodo, saiam pela tangente e façam um discurso inteiramente diverso do que lhes foi perguntado. Políticos, então, são mestres nesse ofício. Falam o que querem, desprezando o interlocutor. Nem falo do Paulo Maluf, pois esse é um escândalo. Quem foi mestre nesse saber, um caso exemplar de experiência e pura esperteza, foi o Leonel Brizola. Como não tinha espaço para se manifestar na grande mídia, aproveitava qualquer oportunidade para dizer não o que lhe era perguntado, mas o que lhe era conveniente expressar.

Sua frases eram lentas, pausadas, o que impedia que seu pensamento fosse cortado ao meio. Isso desagrada aos cidadãos de todo o mundo. Não é só no Brasil que a política é feita de dissimulações e inverdades. Pode-se até admitir que o chamado sistema tolha os movimentos e as boas intenções dos eleitos. Mas a coisa mais difícil de se encontrar, em qualquer país, é a coerência entre a fala do candidato e a ação do escolhido pelo voto. O eleitor não quer fazer papel de bobo, mas a sua memória curta faz com que a maioria repita os erros a cada eleição.

Veja o que ocorreu no Brasil durante o mês de junho. Os dirigentes, nos primeiros dias, perderam o rumo diante das manifestações volumosas em todas as ruas do país. A síntese de tudo era a constatação de que os representantes não estavam nos representando. E tome-se a enumeração dos problemas não resolvidos que infelicitam a vida de todos: queremos padrão Fifa, o melhor, para a educação, a saúde, o transporte, o saneamento básico. “ Não queremos teleférico, queremos tratamento de esgoto”, foi o que disse a voz emblemática na Rocinha. Até hoje, congressistas e governos estão fingindo que vão realizar o que o que o povo pediu. Até agora só fogos de artifício, enrolação. E a corrupção escorre pelos gabinetes.

E como anda o mundo, hoje, no começo de nossa primavera e do outono deles? Há dois anos, se morre e se mata na Síria. Os governos e a ONU ficam observando. Mais de 100 mil já morreram, outros milhares foram feridos, a terra está arrasada e os refugiados se contam aos milhões. Pobre e infeliz povo sírio.

De repente criaram uma linha vermelha imaginária que não poderia ser ultrapassada. Se usarem armas químicas haverá intervenção. Usaram as armas proibidas e cerca de 1,5 mil seres humanos tombaram ao contato com elas. Diante da ameaça de ação americana, os russos propuseram um acordo. O governo da Síria as entregaria à ONU para serem destruídas. As reuniões se sucedem mas nada avança.

Enquanto se conversa sobre se a lista apresentada é confiável, a vida dos sírios continua a mesma tragédia. O que lá acontece todos os dias parece não importar mais. Os poderosos das nações do Norte mudaram de assunto. Esqueceram os que morrem de armas convencionais. E o número de crianças, mulheres e homens abatidos na guerra civil aumenta a cada dia, a cada hora.


>>  fernandobrant@hotmail.com

Tv Paga

Estado de Minas: 25/09/2013

No Cariri cearense


 (Futura/Divulgação )


Regina Casé viajou até o Sul do Ceará para mostrar as riquezas em um oásis no meio da caatinga e do cerrado: a Chapada do Araripe. Localizada na região do Cariri, a área abriga o mais expressivo patrimônio paleontológico, com fósseis e pinturas rupestres pré-históricas, destino da abertura de mais uma temporada de Um pé de quê?, hoje, às 22h30, no Futura. As espécies nativas em destaque são o louro d’água e a janaguba.

Astrid monta plantão
no saguão de Cumbica


Outra novidade de hoje é a quinta temporada de Chegadas e partidas, que estreia às 20h, no GNT. Astrid Fontenelle volta ao saguão do aeroporto de Guarulhos para recolher histórias dos passageiros. Como uma avó que após 12 anos reencontra o neto que nasceu e vive na Inglaterra. Os dois matam a saudade no aeroporto mesmo ela não sabendo falar inglês e ele, o português.

Escritor lembra a prisão
nos tempos de ditadura

O escritor e historiador carioca Joel Rufino dos Santos é o entrevistado de Bia Corrêa do Lago hoje, no programa Umas palavras, às 21h30, no Canal Futura. Ele fala sobre sua trajetória no mundo da literatura e sua participação na luta contra a ditadura militar no Brasil.

No SescTV, o destaque
é a Bienal de São Paulo


A série Artes visuais, do SescTV, dividiu em dois programas o especial sobre a 30ª Bienal de São Paulo, realizada no Parque do Ibirapuera em 2012, com o tema “A iminência das poéticas”, que vão ao ar hoje e quarta-feira que vem , às 21h30.

Cidade prova que nunca
foi o túmulo do samba

Mestre do samba paulistano, Osvaldinho da Cuíca mostra desenvoltura também com o pandeiro em mãos e interpreta Saudade da garoa, Pirapora e Veio batuqueiro na edição de hoje de Enciclopédia do samba, às 18h45, no Canal Brasil.

Descubra como é feito
o tal cinema marginal

O Canal Brasil tem outra boa novidade hoje, com a estreia de Cinema de bordas, às 23h30. A série vai mostrar todos os desafios que o cinema marginal enfrenta, o trabalho de atores voluntários e os percalços da produção de faroestes, filmes de terror, suspense e policiais, tudo com baixo orçamento e muita criatividade.

Muitas alternativas na
programação de filmes


Por falar em filme, hoje é dia da Mostra internacional de cinema na Cultura, com a exibição do drama Eu matei minha mãe, às 22h. No mesmo horário, o assinante tem mais oito opções: Ultravioleta, no Sony Spin; Jogo de espiões, na MGM; Vítima da sedução, no ID; Íntimo e pessoal, no TCM; Alice no País das Maravilhas, no Max HD; O noivo da minha melhor amiga, na HBO; As aventuras de Pi, no Telecine Pipoca; e O bebê de Rosemary, no Telecine Cult. Outras atrações da programação: Chocolate, às 21h30, no Arte 1; O procurado, às 21h45, no Megapix; O resgate do soldado Ryan, às 22h30, no Universal Channel; e Uma noite de amor e música, às 23h , no Comedy Central.

CARAS & BOCAS » Papo quente - Simone Castro

Estado de Minas: 25/09/2013 


Bianca revelou para Gabi que nunca se apaixonou por um homem   (Textual/Divulgação)
Bianca revelou para Gabi que nunca se apaixonou por um homem


Bianca Jahara, a morena esguia e tatuada que participou do Big Brohter Brasil 8, na Globo, é a entrevistada de hoje de Marília Gabriela, à meia-noite, no SBT/Alterosa. Bem no espírito do Gabi quase proibida, a beldade vai falar deu seu trabalho como apresentadora do canal adulto Sexy Hot, no comando do sugestivo programa Penetra. Entre outros assuntos, Bianca comentou, por exemplo, que o diálogo é tudo para o sexo ser mais prazeroso, e ainda explicou como funciona um jogo de baralho em que os participantes vão tirando a roupa. E como aperitivo, vai aí uma fala bem apimentada da moça: “Procuro em uma mulher o que um homem não me dá. Mulher com mulher é uma eterna preliminar, porque homem não sabe fazer direito”. Alguém aí duvida?

A rebelde Dulce Maria vai
cantar no show do Ratinho


A atriz e cantora mexicana Dulce Maria, que interpretou Roberta na novela Rebelde, atualmente em reprise no SBT/Alterosa, é a convidada especial de hoje do Programa do Ratinho. Dulce Maria vai participar do “Boteco do Ratinho”, cantando e falando sobre as novidades de sua carreira. E ainda tem pagode e rock com os grupos Raça Negra e Biquíni Cavadão.
No ar às 22h.

Médicos recomendam ter
cuidado com o dr. Google


Muita gente já consultou a internet para buscar informações sobre algum tipo de problema de saúde. Mas a rede mundial de computadores não pode substituir um médico de verdade. Pois esse é o assunto de hoje do Palavra cruzada, às 22h30, na Rede Minas, Quem vai falar sobre o tema é o médico Murilo Ranulfo Tavares.

Atriz conta que já apanhou
por causa de personagem


Nathalia Timberg é a convidada de hoje da série Damas da TV, às 21h, no Canal Viva (TV paga). Atriz de teatro, cinema e uma das precursoras da televisão no Brasil, ela lembra o início da carreira e as muitas vilãs que viveu. Por causa de uma delas, a Idalina de Força de um desejo (Globo, 1999), ela apanhou no calçadão de Ipanema, recebendo um soco nas costas de uma mulher revoltada com as malvadezas da personagem. Atualmente Nathalia interpreta Bernarda Rodriguez, mãe de Pilar (Susana Vieira) e Amadeu (Genézio de Barros) na novela Amor à vida, da Globo.

Filme revela os bastidores
de uma montagem teatral


Primeiro longa-metragem de Pedro Asbeg, o documentário Mentiras sinceras acompanha, durante 14 meses, o período de preparação anterior à estreia da peça Mente mentira. Destaque do Canal Brasil (TV paga), hoje, às 22h, o filme faz um registro da construção dos papéis do texto original de Sam Sheppard, protagonizado no palco por Malvino Salvador e Fernanda Machado, que estão  também no elenco de Amor à vida.

Paulo Gustavo volta a BH
com a comédia Hiperativo


O ator Paulo Gustavo volta a Belo Horizonte para duas apresentações da comédia Hiperativo, dias 5 e 6 de outubro, no Teatro Sesiminas. Para quem não ligou o nome à pessoa, Paulo Gustavo comandou as séries de humor 200 volts e Vai que cola, no canal pago Multishow, e estrela o longa Minha mãe é uma peça.

Fora da Globo

[FOTO2] Depois de 20 anos de Rede Globo, Bruno de Luca saiu da emissora. Ele estreou como ator em 1993, na novela Fera ferida, e desde 2009 integrava a equipe de repórteres do Vídeo show. Continua no grupo Globosat, com o programa de viagens Vai pra onde?, no Multishow (TV paga). Ao que parece, sua saída foi amigável.

viva

A partir de hoje, o +Globosat (TV paga) passa a reprisar a minissérie Cinco filhas. Os três episódios vão ao ar diariamente, às 15h, narrando o drama das vítimas de um assassino numa pequena cidade da Inglaterra em 2006.

vaia


Valeu o esforço do Multishow ao transmitir ao vivo a maratona do Rock in Rio. Mas não foi legal encher a bola de muitas bobagens que surgiram no palco, artistas inexpressivos, com propostas surradas e repetitivas. 

LITERATURA » Festa para Veríssimo‏

Carlos Herculano Lopes

Estado de Minas: 25/09/2013


Luis Fernando Veríssimo ganha homenagem em São João del-Rei     (Sylvio Sirangelo/divulgação)
Luis Fernando Veríssimo ganha homenagem em São João del-Rei


Começa hoje o 7º Festival de Literatura de São João del-Rei (Felit), que terá a crônica como tema principal. Será homenageado o escritor gaúcho Luis Fernando Veríssimo, que estará presente ao evento.

Carlos Heitor Cony, Márcia Tiburi, Tonico Mercador, Paula Pimenta e Ivan Angelo, entre outros autores, participarão de mesas-redondas para falar de seus livros e da convivência com a literatura. O escritor mineiro Luiz Giffoni, por motivo de saúde, teve de cancelar sua participação.

Para o curador do Felit, o jornalista e romancista José Eduardo Gonçalves, as expectativas são as melhores, sobretudo pelo fato de a crônica ser a grande homenageada. “Esse gênero está presente em nosso cotidiano. Todos os grandes jornais brasileiros publicam ótimos cronistas. Nosso objetivo, ao fazer essa homenagem, é colocar a crônica no lugar que ela merece no cenário literário do país. Ninguém melhor que Veríssimo para falar a respeito”, diz ele.

Além de bate-papos do público com escritores, o Felit promoverá oficinas de formação de autores e a terceira versão de seu festival gastronômico. O evento mobilizará seis restaurantes: quatro em São João del-Rei (Dedo de Moça, Rex, Pelourinho e Del Rey Café) e dois em Tiradentes (Lusitânia – Sabores de Portugal e Delícias de Tiradentes).

FELIT
Abertura hoje, às 19h, com bate-papo de José Eduardo Gonçalves e Luis Fernando Veríssimo. Teatro Municipal de São del-Rei, Rua Hermílio Alves, 170, Centro. Entrada franca. Informações: (32) 3371-3704. Programação completa: www.felit.com.br

Coração saudável sem carne‏

Dados preliminares de estudo feito na USP mostram que vegetarianos têm risco menor de desenvolver doenças cardíacas


Celina Aquino

Estado de Minas: 25/09/2013 



 (istockphoto)

Respeito aos animais, crença religiosa e proteção ao meio ambiente são os principais responsáveis pelo aumento do número de vegetarianos em todo o mundo. A busca pela saúde começa a engrossar a lista de motivos que levam as pessoas a parar de comer carne, diante das descobertas da ciência. O mais recente estudo brasileiro na área, realizado pela Universidade de São Paulo (USP), encontra evidências de que os adeptos do vegetarianismo apresentam risco menor de desenvolver doenças cardiovasculares. O resultado será apresentado pela primeira vez no país durante o Congresso Vegetariano Brasileiro, promovido pela Sociedade Vegetariana Brasileira, que reúne de hoje a domingo especialistas em Curitiba (PR).

Autor do livro Vegetarianismo e ciência, o médico cardiologista e pesquisador do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da USP, o peruano Julio César Acosta Navarro, que falou com exclusividade ao Estado de Minas, apresentou em fevereiro, nos Estados Unidos, os dados coletados na primeira fase do projeto Carvos (iniciais do nome em inglês). Ele era o único palestrante da América Latina no Congresso Internacional de Nutrição Vegetariana. A equipe realizou, no ano passado, uma pesquisa on-line com 549 adultos (homens e mulheres) acima de 18 anos e residentes em São Paulo para obter informações sobre alimentação e doenças. Os participantes foram divididos em três grupos, de acordo com o grau de frequência de consumo de carne: vegetarianos (não comem), semivegetarianos (comem de uma a três vezes por semana) e onívoros (comem todos os dias).

“No grupo vegetariano, observou-se uma menor incidência de doenças prevalentes na sociedade como hipertensão e alterações no colesterol e triglicérides”, adianta o pesquisador peruano, que há 27 anos procura evidências científicas que possam respaldar ou refutar as práticas do vegetarianismo. Entre os participantes onívoros, 71% são hipertensos e 54% apresentam dislipidemias. Já no grupo dos que não comem carne, 57% têm pressão alta e 16% estão com quantidade anormal de lipídios no sangue. Os dados das pessoas semi-vegetarianas não foram considerados no resultado final.

A descoberta não é conclusiva, ressalta Navarro, já que o projeto Carvos está na primeira de três etapas, mas coincide com os resultados do Estudo Lima (1997) e do Estudo São Paulo (2001). Nas duas pesquisas, em que ele analisou fatores de risco que podem levar a um evento cardíaco grave em 10 anos, incluindo morte, ficou comprovado que pressão e colesterol altos ocorrem menos entre os vegetarianos. A segunda fase do novo estudo, em que vai ser analisada a saúde de 40 homens aparentemente sadios de cada grupo, está prevista para terminar no fim do ano.

Navarro entende que a alimentação de fato influencia a saúde cardiovascular. “O protagonista da gênesis da aterosclerose é o colesterol, que está associado a estilo de vida, essencialmente nutrição. A molécula é necessária para formar hormônios, mas o ser humano não precisa ingeri-lo”, destaca. Além de fornecer menos colesterol (presente apenas em produtos animais), a dieta vegetariana ganha destaque porque contém maior quantidade de substâncias aliadas do coração, como vitamina C, betacaroteno, fibras e gordura poli-insaturada. A longo prazo, o peruano explica que a mudança na dieta produz alterações fisiológicas, levando a uma menor chance de surgir a aterosclerose.

Trocas equivalentes O ganho na saúde não se deve apenas ao desaparecimento de carne no cardápio. A nutricionista Silvana Portugal, coordenadora da Sociedade Vegetariana Brasileira em Belo Horizonte, observa que o vegetariano costuma dar mais atenção ao que come e acaba fazendo opções mais saudáveis. “Quem vira vegetariano passa a comer melhor e com muito mais variedade. Enquanto o onívoro lancha pão de sal com queijo, o vegetariano vai escolher pão integral com pasta de grão de bico, geleia de fruta ou até mesmo azeite. O perfil muda completamente”, avalia. A especialista em nutrição vegetariana e vegana diz que os consumidores de carne, queijo e laticínios ingerem em excesso proteína, que se transforma em gordura.

Vegetariano há 21 anos, o médico nutrólogo Eric Slywitch informa que metade das calorias contidas na carne, seja branca ou vermelha, é oriunda de gordura e metade de proteína. Mesmo uma carne considerada magra contém 40% de gordura. “Dessa gordura, 50% são saturados, a mais nociva para o risco de doenças cardiovasculares. Além disso, a forma como as pessoas preparam a carne tende a aumentar a porcentagem”, comenta. Slywitch acrescenta que os laticínios são ainda mais gordurosos que a carne. Cerca de 60% das calorias de um queijo branco, por exemplo, são de gordura, sendo que 70% são saturados.

O nutrólogo acredita que cortar carne e laticínios é um passo importante, mas é preciso colocar alimentos mais saudáveis no lugar. Para substituir um bife de 100g, quantidade máxima recomendada pelo Ministério da Saúde, Slywitch indica o consumo de sete colheres de sopa de feijão, o que equivale a uma concha quase cheia. Assim, serão supridas as necessidades de proteína, ferro e zinco, além de fibras, que são fermentadas por bactérias do intestino e formam substâncias que ajudam a reduzir o colesterol. A carne pode ser trocada também por outras leguminosas, como lentilha, ervilha, grão-de-bico e soja. Já os substitutos de leite e ovo, usados para dar liga às receitas, são banana verde e linhaça. A semente, quando fica de molho na água por horas, forma uma baba que parece clara de ovo.

AS VÁRIAS FACES DO VEGETARIANO

De modo geral, vegetariano é o indivíduo que não come nenhum tipo de carne (vermelha ou branca), mas há variações:
 
Ovolactovegetariano
Inclui ovos, leite e derivados em sua alimentação
 
Lactovegetariano
Não come ovos, mas faz uso de leite e laticínios
 
Vegetariano estrito
Conhecido como vegetariano puro, não utiliza nenhum produto animal em sua dieta
 
Vegano
Além de não ingerir carnes, ovos, leites e derivados, recusa
o uso de componentes animais não alimentícios, como vestimentas de couro, lã e
seda, assim como produtos testados em animais
 
Crudívora
Vegetariano estrito que consome apenas alimentos crus ou aquecidos a no máximo 42°C
 
Frugívora
Vegetariano estrito, inclui apenas frutos em sua alimentação, como cereais, legumes, oleaginosos e frutas

Fonte: Eric Slywitch, médico nutrólogo


MITOS
 
Vegetariano tem melhor digestão que os demais
Os onívoros precisam comer mais vegetais que o próprio vegetariano para uma boa digestão. A nutricionista Silvana Portugal esclarece que é necessário ingerir a quantidade adequada de fibras (35g por dia no caso
de adultos) para ajudar o trânsito intestinal. A carne permanece mais tempo
no intestino e pode atrapalhar o funcionamento do aparelho digestivo.
 
Vegetariano toma vitamina para sempre
Não há necessidade de complementar a alimentação quando as substituições são feitas de maneira correta. O único nutriente que precisa de reforço é a vitamina B12, encontrada apenas em carnes, leite, queijo e ovo. O nutrólogo Eric Slywitch informa que cerca de 60% dos vegetarianos brasileiros apresentam níveis insuficientes do nutriente, que influencia na concentração, memória e atenção, mas isso não é exclusividade deles. A falta de vitamina B12 ocorre em 50% dos onívoros.
 
Vegetariano não tem chance de ficar obeso
A população vegetariana tende a ser mais magra porque os alimentos vegetais são menos calóricos e dão mais saciedade que os de origem animal. Slywitch dá um exemplo: 100g de queijo contêm a mesma quantidade de calorias (300) que 500g de tofu, que tem um volume cinco vezes maior. A manutenção do peso, porém, depende das escolhas alimentares.
 
Crianças não podem ser vegetarianas
As crianças devem ser alimentadas exclusivamente com leite materno até os seis meses. A partir daí, a introdução de dieta complementar pode ser feita sem o uso de proteínas animais. Para garantir o crescimento adequado, diz a nutricionista Ana Ceregatti, o cardápio deve conter alimentos de todos os grupos, ser variado e oferecer a quantidade adequada de nutrientes de acordo com a idade.

Daqui para o futuro
Racha na alimentação
Em 1986, quando o então estudante de medicina Julio César Acosta Navarro começou a se interessar pelo vegetarianismo, quem não comia carne era visto como radical e excêntrico. A realidade mudou, tanto no Peru quanto no Brasil, e hoje o assunto desperta mais interesse, enquanto o número de adeptos aumenta proporcionalmente. Há cerca de 16 milhões de brasileiros que se denominam vegetarianos. Otimista, Navarro acredita que daqui a 30 anos, com a força ecológica e os avanços científicos, haverá um racha na cultura alimentar e o mundo será dividido entre vegetarianos e onívoros. “O vegetarianismo vai crescer de tal maneira que criará uma divisão como corintianos e palmeirenses”, prevê.

Imune ao envelhecimento‏ - Bruna Sensêve

Cientistas identificam micro-organismos que se tornam mais jovens a cada vez que se reproduzem. Descoberta abre frente para outros estudos sobre desgaste celular


Bruna Sensêve


Estado de Minas: 25/09/2013 


Brasília – Depois de um estranho pacto, Dorian Gray para de envelhecer e todos os traços que sua fisionomia poderia adquirir com o passar dos anos, como rugas, marcas e cicatrizes, são transferidos a uma pintura que lhe foi dada de presente. O personagem do famoso romance do irlandês Oscar Wilde, O retrato de Dorian Gray, personifica o sonho da juventude eterna, que, pela primeira vez, pôde ser observada em um ser vivo fora da ficção. Um grupo internacional de pesquisadores constatou características inusitadas de reprodução em uma levedura: quando se reproduz em condições ideais, ela se torna mais jovem. A descoberta abre uma nova frente nos estudos que buscam uma forma de retardar o processo de envelhecimento.

A Schizosaccharomyces pombe, também conhecida como levedura de fissão, é muito usada em estudos de biologia molecular, devido ao processo de crescimento e reprodução diferenciado. O organismo unicelular cresce exclusivamente pelas extremidades e, para se reproduzir, divide-se ao meio (fissão). Geralmente, em processos assim, o resultado é uma célula-mãe e uma célula-filha. A primeira permanece com o material celular envelhecido e já danificado, e a outra herda componentes novos e funcionais. A estratégia serviria para dar mais chances de sobrevivência aos descendentes e, assim, preservar a continuidade da espécie.

Contudo, cientistas do Instituto Max Planck, na Alemanha, e da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, notaram que a S. pombe não está tão preocupada assim com as novas gerações. De maneira similar a Dorian Gray, a levedura consegue passar adiante os traços de seu envelhecimento, dividindo o material genético antigo com a nova célula. Assim, quando ocorre a divisão de uma dessas leveduras, surgem duas mais jovens que a original. “Mostramos que a S. pombe é imune ao envelhecimento por meio da divisão do material envelhecido pelas duas células. Dessa forma, ela rejuvenesce cada vez que se reproduz”, explica Iva Tolic-Norrelykke, coautor do estudo, publicado recentemente na revista Current Biology.

Estresse Para chegar a esses resultados, os especialistas observaram, com a ajuda de instrumentos avançados de microscopia, o processo de divisão celular da levedura de fissão. A equipe pôde, então, medir o envelhecimento pelo aumento consecutivo do tempo de divisão celular e pela probabilidade de morte. “Elas se dividem sem aumentar o tempo entre as divisões, e a morte ocorre subitamente, sem ser precedida de envelhecimento”, conta o biólogo português Miguel Coelho, participante da pesquisa. Posteriormente, usando genética e microscopia de fluorescência, os especialistas seguiram a forma como as proteínas danificadas são herdadas pelas células quando se dividem.

Coelho conta que esperava observar um processo de reprodução similar a outros micro-organismos, como a levedura S. cerevisiae, usada no pão e na cerveja. Nela, a célula-mãe retém proteínas danificadas e envelhece. Mas na S. pombe, ele diz, o processo foi muito diferente, com a célula-mãe dividindo o dano igualmente, resultando em duas células-filhas. É interessante notar, contudo, que esse processo deixava de ocorrer quando a levedura estava em um ambiente nocivo, seja por alterações químicas ou de pressão. Daí, sob estresse, a S. pombe se comportava da maneira padrão, envelhecendo e dando origem a um ser mais jovem.

O português acredita ser possível que, sob certas condições, outros organismos também sejam imunes ao envelhecimento, entre eles a bactéria E. coli ou as células estaminais humanas. “Suspeito que, se conseguirmos manipular a forma como o dano é segregado em outros tipos de células, mesmo que se dividam assimetricamente, será possível retardar o envelhecimento.” Ele considera que esse resultado pode ter interesse imediato na indústria alimentar, em cultura celular, mas também em aplicações médicas no futuro. O próximo passo de seu trabalho envolve entender se o dano ou as proteínas são segregadas da mesma forma em células humanas, como células germinais, estaminais ou cancerígenas. Coelho acredita que, no futuro, o conhecimento gerado poderá permitir a manipulação de tecidos ou células para terapias regenerativas.

Os resultados do estudo chamam a atenção porque, pela primeira vez, mostrou-se ser possível viver sem envelhecer, o que desafia um dogma central da ciência. Segundo Coelho, do ponto de vista bioquímico e biofísico, os cientistas começam a desvendar os mecanismos pelos quais as células são danificadas. “O objetivo dessa área não é atingir a ‘imortalidade’ ou ‘juventude eterna’, objetivos filosóficos e utópicos, mas aumentar a qualidade de vida e a saúde durante mais tempo nas nossas vidas.” O biólogo argumenta ainda que a estratégia pode ter impacto na redução dos custos associados à pirâmide invertida na demografia das sociedades desenvolvidas e também no aumento da produtividade das populações.

Cultivo Para o coordenador do Laboratório de Ecologia e Biotecnologia de Leveduras da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Carlos Augusto Rosa, que não participou do estudo, o aspecto mais interessante do trabalho é que, sob condições favoráveis de cultivo, as células parecem não sofrer o processo de envelhecimento e morte celular, o que ocorre em outras leveduras e bactérias. Ele considera, no entanto, que a pesquisa precisa ser ampliada para um número maior de linhagens, além das três já analisadas. Segundo ele, uma maior variedade de cultivo seria importante, “para provar que sob condições favoráveis essa espécie não sofreria os efeitos do envelhecimento celular”.

Carlos Rosa considera que, ao usar micro-organismos como modelo, é possível verificar os genes e os mecanismos envolvidos no envelhecimento celular. “Esses genes microbianos podem ter alguma semelhança com os de animais, levando a um avanço rápido no conhecimento desses processos e à posterior localização desses genes em outras células eucarióticas.” 

MEIO AMBIENTE » Especialistas defendem novo método para o IPCC‏

Estado de Minas: 25/09/2013 



Ruínas da vila Doun Baba Dièye, no Senegal, destruída pelo aumento do nível do mar (SEYLLOU/AFP 7/5/13)

Ruínas da vila Doun Baba Dièye, no Senegal, destruída pelo aumento do nível do mar

Estocolmo/Londres – Enquanto integrantes do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) se reúnem em Estocolmo para aprovar a primeira parte de seu quinto relatório sobre o aquecimento global, especialistas de diferentes áreas relacionadas com a questão defendem que o grupo de centenas de cientistas mude de estratégia e passe a publicar análises mais pontuais e mais frequentes. Desde que foi criado, em 1998, o IPCC publicou quatro grandes relatórios, que consumiram, cada um, cerca de cinco anos para serem finalizados.

“Um arrasa-quarteirão a cada seis anos não é mais realmente útil”, disse à agência Reuters Myles Allen, professor da Universidade de Oxford e um dos autores que contribuíram com um sumário das conclusões do IPCC a serem apresentadas na sexta-feira, ao fim do encontro na capital sueca. “Apoio o ciclo global de avaliação, mas argumentamos fortemente pela necessidade de complementá-lo com atualizações frequentes”, reforçou Johan Rockstrom, diretor do Centro de Resiliência de Estocolmo.

Para cientistas como Allen e Rockstorm, seria aconselhável produzir relatórios mais constantes a respeito de secas, inundações e ondas de calor no ano anterior, por exemplo, para avaliar se a mudança climática está influenciando na sua frequência ou severidade. Já os relatórios especiais poderiam focar questões como a produção de alimentos sob um clima em mutação, as perspectivas de geoengenharia (projetos para reduzir a incidência de luz solar, por exemplo) ou os riscos de mudanças irreversíveis, como o rápido degelo da Antártida Ocidental.

O IPCC está trabalhando em três relatórios de visão geral, totalizando cerca de 3 mil páginas, começando pelo sumário de 31 páginas a ser lançado sexta-feira. Versões preliminares obtidas por diferentes veículos da mídia mostram que essa primeira parte do documento afirmará que há 95% de probabilidade de que o aquecimento global seja provocado pelas atividades humanas. Um grande trunfo do painel ligado à Organização das Nações Unidas (ONU) é que as avaliações climáticas são aprovadas tanto por cientistas quanto por governos, o que dá a esses textos uma ampla aceitação nas negociações para um acordo climático global, a ser aprovado até 2015.

Possíveis reformas serão discutidas em outubro na Geórgia. O governo dos EUA apresentou neste ano algumas propostas, incluindo a defesa de mais relatórios especiais. A Grã-Bretanha sugeriu ferramentas tipo wiki, para permitir atualizações mais frequentes, e a Itália argumenta que não há "necessidade automática" de mais um grande relatório sobre a ciência da mudança climática.

Nova York Paralelamente à Assembleia Geral da ONU, foi anunciado ontem que uma comissão liderada pelo ex-presidente do México Felipe Calderón ficou responsável por elaborar um relatório contra as mudanças climáticas. Integram o grupo líderes políticos e empresários. Segundo Calderón, é possível ter crescimento econômico, oportunidades de negócios, criação de empregos e, ao mesmo tempo, mitigar as emissões e conter a mudança climática. “É possível aplicar as políticas econômicas corretas que podem impulsionar o crescimento econômico sem ameaçar o ambiente”, defendeu.

Eduardo Almeida Reis-Faz sentido‏

A nossa capacidade de relacionamento com outros humanos gira em torno dos 100 adultos. É algo biológico, é básico, é tiro e queda


Eduardo Almeida Reis

Estado de Minas: 25/09/2013



A Paraíba é um perigo. De vez em quando produz um José Nêumanne Pinto, um Moacir Japiassu, um Silvio Roberto de Lemos Meira, que veio ao mundo em Taperoá em 2 de fevereiro de 1955. Taperoá, a Princesa do Cariri, é famosa por nela transcorrer toda a história da peça Auto da compadecida, de Ariano Suassuna, paraibano que só faz confirmar o perigo do seu estado quando resolve produzir gênios. Silvio Meira formou-se em engenharia eletrônica pelo Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), cursou o mestrado em informática pela Universidade Federal de Pernambuco e o doutorado em computação pela University of Kent at Canterbury, na Inglaterra. É dele um texto publicado pelo provedor Terra sobre o número 150, estabelecido por um inglês especialista em comportamento de primatas, Robin Dunbar, função da capacidade do neocórtex que diz da nossa capacidade de manter relações interpessoais estáveis com um grupo de indivíduos. Ou seja, o número de Dunbar é um tipo de limite para a sua (e a minha) capacidade de relacionamento com outros humanos. É algo biológico, básico. Um estudo que acaba de ser publicado pela Royal Society, continua o craque de Taperoá, diz que a complexidade social emerge, essencialmente, dos esforços individuais para criar soluções compartilhadas para manter e propagar a vida. Professor Robin Ian MacDonald Dunbar (17 June 1947) is a British anthropologist and evolutionary psychologist and a specialist in primate behaviour. Seu Dunbar’s number, 150, bate com os números que estudei em outros antropólogos, que se basearam nos restos das fogueiras feitas nas cavernas africanas pelos primeiros hominídeos. E diziam da relação de nossas agendas pessoais, normalmente com 100 nomes, a partir do que estudaram nos restos das fogueiras. De 100 para 150, considerando que as crianças de colo não devem deixar vestígios nas fogueiras, temos que o número de Dunbar faz sentido, é muito próximo dos números dos seus colegas, que não contavam com a informática e o fenômeno das chamadas redes sociais. Nossas agendas, como o pacientíssimo patrício já leu em Tiro & Queda um ror de vezes, têm 100 nomes em média. Sai um, entra outro e a nossa capacidade de relacionamento com outros humanos gira em torno dos 100 adultos. É algo biológico, é básico, é tiro e queda.


Caro doutor


Muito saudar! Espero que o senhor tenha feito boa viagem e já esteja instalado na região em que vai medicar brasileiros sem macas, estetoscópio, ambulância, leitos, instalações mínimas, água tratada e encanada, rede e tratamento de esgotos, luz elétrica, estradas – sem nada de coisa alguma. O motivo que me traz à presença do doutor é o seguinte: consta que sua família ficou na ilha superiormente administrada pelos irmãos Castro Ruz. Sendo assim, é possível que seus parentes lhe mandem, vez por outra, algumas caixas de bons charutos produzidos por lá. Entrar no Brasil com as caixas nunca foi problema. Basta dizer que, não faz muito tempo, chegavam “toneladas” pelas malas diplomáticas para revender em Minas por um parente do embaixador do Brasil em Havana. Não invento: fumei dois puros imensos, que ganhei de presente de um amigo. Na hipótese de o doutor não fumar charutos, procure entrar em contato comigo, que sou candidato à compra de cinco caixas/mês pagando em reais ou dólares norte-americanos, a seu critério. Enquanto ao mais, use mosquiteiro para se proteger da malária e tome cuidado ao banhar-se nos rios, não só com as piranhas, como também com os peixinhos teleósteos siluriformes das famílias dos tricomicterídeos e cetopsídeos, os candirus, que são danados para penetrar dos orifícios naturais dos cubanos.


O mundo é uma bola


25 de setembro de 233: Alexandre Severo é derrotado pelos persas durante a reconquista de uma província romana na Mesopotâmia, atual Iraque. Marcus Aurelius Severus Alexandrus (208-235) foi o último dos imperadores da dinastia dos Severos. Reinou de 222 a 235. Sem apoio político e militar, morreu assassinado em um motim da Legio XXII Primigenia. Dúvida que sempre me assalta e que o leitor talvez possa esclarecer: no século II depois de Cristo e no III, no IV, no V, o petróleo ainda não havia sido descoberto no Iraque. Por que, diabo, os romanos tinham tanto interesse naquelas areias entupidas de árabes? Em 275, Marco Cláudio Tácito é nomeado imperador pelo senado. Vai ver que também se interessava pelo Iraque. Em 1143, Guido del Castello é eleito papa Celestino II. Era careca e morreu no ano seguinte. Guido, sem ser Mantega, não quebrou o Trono de Pedro. Em 1513, o galego Vasco Núñez de Balboa descobre o Oceano Pacífico. Preso em 1517, foi decapitado em janeiro de 1519 por ordem de Francisco Pizarro. Vivia fugindo de seus credores. Acabou realizando uma das maiores façanhas de conquista espanhola na América, quando subiu um monte indicado pelos índios do Caribe, tendo por companheiro somente seu cão Leoncito, e descobriu o Mar del Sur, mais tarde Oceano Pacífico, sendo o primeiro europeu a avistar o maior oceano da Terra.


Ruminanças
“Há profissionais, e são muitos, que se vangloriam dos seus 30, 35, 40 anos de profissão e se esquecem de dizer que continuam fazendo jornalismo chato, sem verve, sem humor, sem ousadia.”  (R. Manso Neto)

Marcelo Coelho

Jobs
Filme retrata o criador da Apple como um monstro --mas isso é o que menos importa
Num tempo em que o Brasil ainda não era grande coisa, digamos no começo da década de 1980, um amigo especialista em relações internacionais tentava me curar do complexo de vira-lata.
Ele conhecia razoavelmente os bastidores da ONU. Garantiu-me que, por lá, as posições tomadas pelo Itamaraty eram levadas em consideração, e que nosso país não era visto como uma republiqueta.
"Você não sabe", dizia o amigo, "o que o embaixador americano na ONU faz com os representantes dos países da América Central". Chama-os para seu gabinete e, segundo se comenta, "as cenas ali são proibidas para menores de 18 anos".
Chantagem? Corrupção? Ameaça física? Sexo forçado? Interlocutor discreto, o amigo nada mais me adiantou, e de todo modo minha curiosidade não ia tão longe.
Respirei aliviado, concluindo que, à falta de maiores ativos econômicos e políticos, o Brasil pelo menos contava com grande contingente populacional e com a sempre enaltecida extensão de seu território.
A ideia de que o poder pudesse exercer-se tão cruamente ficou na minha cabeça, mas não cheguei a ler livros de história capazes de dar bons exemplos gráficos desse tipo de coisa. Mesmo no cinema, a violência das ruas supera em muito o que possa acontecer nos gabinetes.
O mais interessante de "Jobs", filme de Joshua Stern sobre o criador da Apple, está no que consegue mostrar da pura brutalidade, verbal e moral, que parece prevalecer no mundo corporativo.
Não tenho nenhum fetiche por iPods, iPads, iPhones e outras coisas parecidas; para mim são todos bastante iguais, aliás, e qualquer admiração que eu possa ter pelo inventor desses badulaques já fica relativizada com a constatação de que, pelo menos em matéria de nomes de produtos, a criatividade de Steve Jobs não é das mais ofuscantes.
A julgar pelo filme, ele era antes de tudo um monstro. Desde sua entrada no mundo da informática, desenvolvendo aqueles joguinhos primitivos de Atari, Steve Jobs grita, humilha, apunhala e pisoteia quem passa pela sua frente.
Sua primeira negociação, com o proprietário de uma lojinha de acessórios eletrônicos, já se apresenta como duvidosa, para dizer o mínimo. Jobs mente, ou blefa, a respeito de suas possibilidades como fornecedor de um novo tipo de aparelho --no qual, mente de novo, inúmeras outras lojas estavam interessadas.
O aparelho, claro, é um modelo de computador que se pode usar dentro de casa, acoplado à tela de TV. A genialidade técnica da invenção não proveio de sua mente autocentrada, cujo caráter visionário e persistente se confunde com os defeitos do açodamento e da cegueira.
Ele percebeu que o mundo poderia ser outro, se surgisse alguém capaz de saber o que o consumidor deseja, antes mesmo que esse desejo fosse percebido.
O preço a pagar durante o caminho é de não ver mais nada, nem ninguém, entre o primeiro passo e o objetivo final. Jobs ignora tudo --até a namorada grávida e depois a própria filha-- em favor desses aparelhos que, por sua vez, tanto nos ajudam a conhecer e a ignorar o mundo.
Isso seria o de menos, não fosse a presença de outros humanoides tão determinados e impiedosos quanto ele. São os que terminam por destituí-lo da própria empresa. Jobs só era suportável se desse lucros aos acionistas; mas sabemos de que modo as novas tecnologias têm o poder de emperrar e não dar certo.
Quando ele volta para a Apple, supostamente mais humano e sábio, o espectador já está farto de torcer por um sujeito tão detestável. O próprio Jobs se deixa amolecer, e os produtos da empresa começam a ganhar a aparência que têm hoje.
O jovem designer lhe mostra o protótipo de um computador arredondado e branco, de onde brotam, como num bufê infantil, balões transparentes de cor. Jobs aprova, recorrendo novamente à retórica de uma tecnologia humanizada e doce.
Mas o que havia de revolucionário no uso caseiro de computadores não se confunde com a cosmética de um novo produto, ou com sucessivas versões de um brinquedo básico.
Depois de nos convencer da antipatia fundamental do protagonista, o filme muda de foco. Jobs não importa mais; sequer sua mensagem merece atenção. Não é preciso elogiar o inventor; o filme só quer que gostemos da marca que ele criou. Jobs seria o primeiro a aprovar esse ponto de vista.