sábado, 3 de maio de 2014

Sexo e saúde - Carmita Abdo

O Globo 03/05/2014

Vínculos afetivos gratificantes podem preservar a boa condição física e emocional das pessoas e vice-versa

Pesquisas recentes concluíram que a falta
de vínculos afetivos de boa qualidade
compromete a saúde de homens e mulheres,
na mesma medida em que o tabagismo.
O contrário também se verifica: vínculos afetivos
gratificantes podem preservar a boa condição
física e emocional das pessoas.

Para os homens, a união estável faz bem, pois
prolonga a vida deles e a sensação de conforto.
Em contrapartida, com as mulheres não ocorre
o mesmo. Melhor que o vínculo conjugal são as
amizades e a prática regular de exercícios físicos.
Também já foi demonstrado que homens e
mulheres se vinculam com amigos de forma
peculiar, ou seja, enquanto para elas o apoio
mútuo as ajuda a enfrentar situações difíceis do
cotidiano, para eles isso não se observa.

Elas compartilham sentimentos, o que libera
na circulação sanguínea o neurotransmissor serotonina,
provocando tranquilidade e evitando
depressão. Eles, por seu turno, não costumam e
não se sentem confortáveis em falar uns com os
outros a respeito de seus sentimentos. Evitam
que os assuntos descambem para a intimidade.

Mas, quando se trata de vida sexual, as pesquisas
apontam que, sendo prazerosa, ela tem a capacidade
de estimular tanto o cérebro masculino
como o feminino, considerado na atualidade como
o mais importante dos órgãos sexuais.

Sabe-se, e não é de hoje, que o estresse e a depressão
deterioram as células cerebrais. A boa nova é
que o sexo as preserva e até favorece o desenvolvimento
neuronal, diminuindo os níveis de ansiedade.
A ocitocina (substância associada à lactação e ao
vínculo afetivo entre mãe e filho e entre as pessoas
em geral), ao ser liberada na circulação, favorece o
crescimento neuronal e protege o hipocampo contra
o estresse. O hipocampo é a área do cérebro que
responde pela memorização e pelo aprendizado.

A atividade sexual, quando exercida de forma regular,
acelera a neurogênese no hipocampo de ratos.
Portanto, o sexo ajuda a capacidade cognitiva
desses animais. O mesmo pode ocorrer com os humanos.
Para melhor ilustrar essa situação, vale lembrar
que pesquisadores europeus, há pouco mais de
cinco anos, já haviam comparado três grupos de
pessoas em diferentes situações afetivas: os recémapaixonados,
os parceiros de longa data e os sem
parceiros. Entre os apaixonados recentes foram
encontrados os níveis sanguíneos mais elevados
do fator de crescimento neuronal, uma substância
que modula as emoções, a ansiedade e as mudanças
de comportamento, tendo papel na manutenção
de neurônios no sistema nervoso.

Alguns anos depois, americanos estudaram as
áreas cerebrais mais ativadas em casais que continuavam
apaixonados e com vida sexual ativa,
mesmo após duas décadas de relacionamento.
Ressonâncias magnéticas funcionais (exame que
mostra o fluxo sanguíneo no cérebro, detectando
as áreas em atividade) foram realizadas enquanto
esses casais eram convidados a contemplar a projeção
de fotos de amigos recentes ou antigos e dos
respectivos parceiros(as) sexuais.

Diante da imagem do(a) parceiro(a), o exame
mostrou a maior ativação das células do cérebro. As
áreas onde é grande a concentração de dopamina
(neurotransmissor associado à recompensa e à motivação)
foram as mais estimuladas em recém-apaixonados.
Naqueles com relacionamentos longos foi
evidenciada maior ativação também em áreas relacionadas
ao vínculo maternal e à afinidade.

Conhecer estes resultados completa a conhecida
noção de que não há sexo sem boa saúde. Sabe-
se agora que essa é uma via de mão dupla:
também não há saúde sem sexo.

Esperma é criado com célula da pele

O Globo 03/05/2014

Pesquisa com camundongos dá esperança a homens inférteis

FREDERICO GOULART
frederico.goulart@oglobo.com.br
RENATO GRANDELLE
renato.grandelle@oglobo.com

A pele de homens inférteis pode ser
usada para criar espermatozoides. Esta
foi a conclusão de um estudo inédito
publicado na revista “Cell”, que pode
revolucionar os tratamentos de fertilidade
e oferecer esperança para homens
que não podem ter filhos.

É possível obter desses tecidos as
chamadas células-tronco de pluripotência
induzida (iPS, na sigla em inglês)
— aquelas que mais se assemelham
com células-tronco embrionárias em
sua capacidade de se transformar em
qualquer tecido do corpo.

No experimento, as células iPS foram
injetadas em testículos de camundongos,
dando origem a células germinativas,
que são as precursoras do espermatozoide.
Esta é uma iniciativa pioneira na tentativa
de mapear como ocorre o desenvolvimento
do espermatozoide. Se a
técnica for bem-sucedida, será possível
gerar em laboratórios mais gametas e
de melhor qualidade, que poderiam
depois ser levados para clínicas de reprodução.

— Induzimos a formação de espermatozoides
com o transplante de células
humanas no testículo dos camundongos
— explica Cyril Ramathal, autora chefe
do estudo e bióloga da Universidade de
Stanford (EUA). — Uma operação como
essa pode ter grande potencial na área
da medicina reprodutiva.

DIFICULDADES NO TRANSPLANTE

Cinco homens participaram da pesquisa
e tiveram amostras da pele extraídas
para a criação das células iPS.
Três dos voluntários tinham um tipo
de mutação em seu cromossomo Y
que impede completamente a produção
de espermatozoides maduros —
uma condição chamada azoospermia,
que afeta 1% dos homens no mundo.
Os outros dois envolvidos no levantamento
eram férteis.

Segundo a pesquisa, os homens com
a azoospermia podem ter tido células
germinativas em algum momento no
início de suas vidas, mas elas foram
perdidas antes da idade adulta.
A realização do levantamento enfrentou
dificuldades, como as consequências
da introdução das células
iPS nos testículos camundongos, já
que os processos reprodutivos e fisiológicos
dos roedores são diferentes
dos observados nos seres humanos.
Além disso, pode haver uma grande
demora entre etapas importantes da
pesquisa, como o desenvolvimento
das células germinativas.

Ainda assim, os roedores tinham características
que os elegiam como melhores
participantes do novo estudo.
Sabe-se que os camundongos podem
apresentar um tipo de infertilidade semelhante
à vista nos seres humanos —
suas células germinativas desapareciam
rapidamente quando eram recémnascidos.

CONGELAMENTO DOS TECIDOS

Embora mais pesquisas precisem ser
realizadas, a coleta e o congelamento
de tecidos de meninos com mutações
que causariam a azoospermia
pode dar-lhes a opção de ter filhos
mais tarde.

— Essa pesquisa é um passo importante
para que tenhamos, no futuro, uma
terapia com células-tronco para o tratamento
da azoospermia, a mais severa
forma de infertilidade do homem — explica
Michael Eisenberg, professor-assistente
de urologia de Stanford. — Enquanto
o estudo demonstra claramente
a importância que a genética desempenha
na formação do espermatozoide, ele
também sugere que algumas dessas limitações
poderiam ser superadas.

Professor de biologia celular e neurociências
da Universidade de Montana
(EUA), Reijo Pera lembra que a técnica
pode ser importante para a recuperação
da fertilidade de pacientes que passam
por tratamento de determinados
tipos de câncer:

— Há possibilidades intrigantes para
o uso da pesquisa entre homens que se
tornaram inférteis com o tratamento de
câncer — destaca. — A infertilidade é
uma das mais comuns e devastadoras
complicações destas terapias.

Para o especialista em células-tronco
Stevens Rehen, neurocientista da UFRJ
e do Instituto D'Or de Pesquisa e Ensino,
o transplante realizado pela equipe
americana pode trazer inovações ainda
mais polêmicas.

— Um homem infértil poderia receber
a célula germinativa de outro homem
e, assim, amadurecer o seu próprio
espermatozoide. Seria o “homem
de aluguel” — avalia. — É claro que
uma criação como esta levantaria um
amplo debate ético.

As equipes de Stanford e Montana
querem em breve estender os transplantes
aos primatas não humanos.

— Antes, porém, precisamos considerar
novas técnicas de segurança e
potenciais causadoras de tumor nas células
transplantadas. Vamos avaliar estes
fatores antes das novas aplicações.
Os problemas de fertilidade afetam
de 10 as 15% dos casais. Em 30% dos casos,
o fator masculino está por trás dessa
incapacidade de ter filhos. Já existem
alguns tratamentos para melhorar a
qualidade e a quantidade de sêmen.

O gaguejar de Eliane - José Castello

O Globo - 03/05/2014

A ESCRITA DE MEMÓRIAS, COMO EM “MEUS DESACONTECIMENTOS”, FUNCIONA COMO UMA COLA QUE VEM REMENDAR O QUE SE ESFARELAVA

A escrita de Eliane Brum teve vários nascimentos. No primeiro, o parto envolveu dolorosas histórias de família. Antes dela, os pais perderam uma menina. “A morte é um mundo sem palavras. E é curioso que minha primeira lembrança seja a morte. Como se eu tivesse nascido morta”. Só pela perda de Maninha, ela imagina, a mãe decidiu engravidar de novo — e ela, Eliane, teve a chance de nascer. “Se alguém espiasse meus pensamentos, saberia que eu sentia um alívio culpado pela morte da outra. Intuía que, se ela não tivesse morrido, eu não teria nascido”. As primeiras palavras gaguejadas pela menina surgiram, assim, dessa morte anterior. Experiência fundadora que Eliane Brum, hoje escritora consagrada, relata no comovente “Meus desacontecimentos — A história da minha vida com as palavras” (LeYa).


No segundo nascimento, aos três ou quatro anos de idade, ela apanhou pela única vez do pai, que não suportou que a menina destruísse, com uma tesoura, o rascunho de um discurso. Os pedaços não puderam ser colados e nem lidos. Os gritos da garota foram ouvidos de longe. “Talvez esse tenha sido o momento em que me tornei escritora”. A escrita nascendo das palavras despedaçadas do outro. Aos poucos, aprendeu que “nossa vida é nossa primeira ficção”. Lembranças não são fatos, mas restos retrabalhados. A memória não é o que aconteceu, mas algo que se faz do que aconteceu.


No terceiro nascimento, era um dia vazio e desesperador. “Foi num domingo que eu escrevi pela primeira vez para não morrer”. A tristeza a empurrava para o vidro da janela. Para resistir ao impulso, pegou caneta e papel e começou a rabiscar um poema. “Era uma poesia ruim, rebuscada como os livros que eu andava lendo, mas meu pai gostou”. Até ali, percebia o mundo “como uma noite sem fim nem começo”. Mal podia se acomodar no próprio corpo, sempre devastado por vírus, bactérias e reações alérgicas. Ao arriscar- se na poesia, Eliane encontrou, porém, um segundo corpo. “A palavra escrita me encaixou em um corpo onde eu podia viver. O corpo-letra”. A escritora nasceu outra vez.


A palavra escrita lhe deu a possibilidade de transcender a realidade, encontrando um refúgio no qual ela pode se fortalecer. Esse segundo corpo, de letras, é um corpo indestrutível. “Vivo tudo no corpo. Às vezes me pergunto o que aconteceria comigo se não existisse a palavra escrita. Eu respondo: teria me assassinado”. Logo depois ressalva: “É uma resposta dramática, e eu sou dramática”. Nada que se escreve pode ser apagado. Esse é o grande risco que a palavra envolve: ela não se revoga, mesmo quando é negada fica como cicatriz. Fica uma marca, que designa uma existência. “Toda história contada é um corpo que pode existir. É uma apropriação de si pela letra-marca de sua passagem pelo mundo”. Foram muitos os momentos de nascimento da palavra, como um estojo protetor em que a existência se aloja.


Até os cinco anos de idade viveu em um apartamento muito escuro, em Ijuí, noroeste do Rio Grande do Sul, um lar que detestava. “Tudo para mim era muito mortífero, tudo era quase morrer”. Ainda sem o abrigo das palavras, e com a ausência da irmã que partiu precocemente, a infância se tornou uma experiência letal. Na maturidade, aprendeu que a escrita se encarna no corpo físico. A cada novo livro, um corpo antigo precisa morrer para que outro, com novas inscrições e novas marcas, possa surgir. A escrita é sempre uma tentativa de remendar aquilo que não tem conserto. Quando nasceu, a lenda familiar conta que o pai, cheio de fúria, quebrou um vaso do hospital. “Por muitos anos, fui esse vaso quebrado, até me surpreender um dia pensando em mim sem se como cacos de mim”. A escrita de memórias, como agora em “Meus desacontecimentos”, funciona como uma cola que vem remendar aquilo que se esfarelava.


A morte precoce da irmã lhe deu uma biografia — uma bio que lhe permitiu nascer. “Eu agora lhe dou uma grafia. Aqui consumamos nossa fusão, mas também a separação definitiva”. Além de uma espécie de renascimento da irmã morta, seu novo livro é uma afirmação da existência não só da escritora, mas também da mulher. Pequena, ouvia da avó, com muito espanto, as histórias de Pedro Malasartes, “esse matuto cheio de lábia de um Brasil ingênuo, mas também brutal”. Ao fim dos relatos, afirmando ter esquecido o que ouviu, mentindo, pedia que a avó contasse outra vez. A repetição era uma espécie de alimento que a conservava viva. A avó gostava de contar, ainda, supostas histórias de seus antepassados. “Não sei o quanto é verdade, o quanto é lenda. Não acho que faça alguma diferença para aquela velhinha em forma de bibelô”. Mais uma vez: é através da ficção — da mentira — que a realidade toma corpo e ganha o status de verdade. Verdade, portanto, que carrega a marca original da invenção.


A palavra escrita é potente, mas é perigosa. “As cartas de amor de minha avó provam que não há reparação para a palavra escrita”. Os erros, marcados a sangue no corpo da história, não se corrigem. Eliane pensa aqui em sua própria vida de repórter consagrada. “Eu sempre soube que, se errasse — e algumas vezes errei — não haveria maneira de reparar”. Para vingar o pai, humilhado pelo prefeito da cidade, a pequena Eliane planejou, um dia, o incêndio da prefeitura. Chegou a tentar: os fósforos quebraram em suas mãos. O projeto incendiário fracassou. Perigo das palavras: mesmo quando só pronunciadas, não há vingança que desfaça sua força. Transformou seu furor incendiário em combustível para a carreira jornalística. “Percebo que escrever me salvou de tantas maneiras e também desta”.


Até mesmo a leitura pode ser uma espécie de maldição. Algo que não mais se apaga. Por isso, em suas andanças de repórter, Eliane se comoveu com os homens que lhe disseram: “Sou cego das letras”. Medita: “Era como expressavam, em voz sentida, sua condição de analfabeto”. Se pode ser uma espécie de praga, a palavra nunca deixa de ser uma luz sem a qual só subsistem o antes e o depois da escuridão. Estamos eternamente a gaguejar, nunca chegamos às palavras certas, mas sem elas não existimos.

João Paulo - Professor de dengo‏

Professor de dengo
 
Centenário de Dorival Caymmi destaca a importância da obra do compositor para a cultura brasileira


João Paulo
Estado de Minas: 03/05/2014


Caymmi em praia da Bahia: um cenário certo para uma música universal (Acervo EM)
Caymmi em praia da Bahia: um cenário certo para uma música universal

O Brasil celebrou esta semana o centenário de Dorival Caymmi. O baiano passou a vida celebrando o Brasil. De poucos artistas pode-se dizer que há uma divisão entre o antes e depois na vida de uma nação. Foi assim com Caymmi e, o que é mais impressionante, sem que ele fizesse esforço para isso. Sua obra é uma consagração da gratuidade e gentileza: nasceu inteira com ele para nos tornar mais felizes.

A arte de Caymmi é feita de muitos encantos. Talvez o maior deles seja a relação com o tempo. Ele não tinha pressa e ensinou outra dimensão de relacionamento com a história. Enquanto muitos buscam o excesso e a rapidez, como se a arte repetisse as demandas do mundo da produção, o compositor esperava que a canção se completasse por si mesma. Caymmi compôs apenas 101 canções em mais de 70 anos de trabalho. Não precisou de nenhuma a mais ou a menos para ter uma obra completa.

É comum ouvir de estudiosos e admiradores que as músicas de Caymmi parecem obras do povo, uma espécie de domínio público antecipado, como se ele apenas revelasse algo que habita o inconsciente coletivo dos brasileiros. No entanto, a grande força de sua criação é exatamente dar ares de simplicidade a algo construído com grande engenho e inteligência estética. Na música e na letra.

Dorival era um homem culto e capaz da mais difícil das artes: juntar leveza e sofisticação. Na verdade, o algoritmo que explica suas canções é feito exatamente deste aparente paradoxo: quanto mais simples, mais elementos se juntavam para dar à luz a expressão de seu engenho. Não há nada mais simples que a perfeição. No campo musical, seus conhecimentos iam da obra de Bach ao jazz de Gershwin. Tinha um talento especial para a música modal (que vinha dos cantos do candomblé) e uma coragem natural em propor harmonias dissonantes, vindas antes da música impressionista que da bossa nova – que veio depois e deve muito a ele.

A poesia da canção também é devedora do baiano. Se Noel Rosa é o criador da dicção urbana, com letras diretas e coloquiais, pode-se creditar a Dorival uma contribuição que, além de técnica – sobretudo com as canções praieiras – é também ética. Noel, mesmo popular e suburbano, tinha seus preconceitos com as religiões africanas e deixa entrever certo racismo que fazia parte da cultura da época – chega a zombar de um despacho e se orgulha de morar no bairro com nome da princesa Isabel. Em Dorival, o cenário da Bahia aponta outra luz.

Caymmi é solar. O antropólogo Antonio Risério chega a dizer que o baiano é talássico, que o mar circunda sua obra por dentro e por fora. Dá motivo para os versos e embala o ritmo das melodias. A natureza praieira do Rio é relativamente recente. Na Cidade da Bahia, ela se perde no tempo. Quando a bossa viu passar a garota de Ipanema, Salvador já seguia há séculos o balanço das moças a caminho do mar. A própria relação de Dorival Caymmi com a bossa nova é mais importante do que se imagina.

João Gilberto, o criador da bossa ao lado de Tom Jobim, foi responsável pelo que se pode chamar “jeito bossa nova” de cantar. Assim, mais que um gênero, tratava-se de um estilo. Tudo podia ser BN, desde que tocado por João. No entanto, o cantor não precisava alterar em nada as canções de Dorival para aproximá-las de sua maneira de tocar e cantar. A bossa estava nelas, antes mesmo de ser inventada.

Em uma de suas raras entrevistas, João fez questão de reconhecer a inteligência rítmica e harmônica de Rosa morena, de Caymmi, em sua capacidade de mudar os acentos e valorizar a poesia com sua naturalidade. Dorival, que não era bom só de música, mas sabia ser agradável e tinhoso, agradeceu com picardia: “Sem querer bancar o sabichão, que eu não sou, são aquelas esperas de Rosa que ele (João Gilberto) deixa a zona vazia para poder colocar o molho. Dá para fazer 20 rotações de bunda nesse pedaço vazio. João Gilberto é um ourives do espaço vazio”. Tente definição melhor para a bossa nova.

Na praia As canções de Caymmi não foram poucas, foram exatas. E também múltiplas. A primeira face é a do compositor dos sambas praieiros, sincopados e buliçosos. O estilo que marcaria seu primeiro disco, ainda nos anos 1950, se tornou um gênero na avaliação do folclorista Luís da Câmara Cascudo. O disco, Canções praieiras, já apresentava um artista dono de composições como Quem vem pra beira do mar, O mar, O bem do mar, Pescaria, É doce morrer no mar, A jangada voltou só, Lenda do Abaeté e Saudade de Itapoã. Possivelmente, é o disco de estreia da MPB com o maior número de obras-primas irretocáveis e definitivas, que, 60 anos depois, continuam vivas e presentes no repertório.

Dorival seguiria em outras vertentes, como a do samba-canção, que ajudou a consolidar com músicas como Só louco, Não tem solução, Nem eu e Marina. O estilo, que se casava com um imaginário em tudo distante das canções solares, era feito para o clima das boates do Rio de Janeiro, para onde o compositor se mudou. No entanto, mesmo com a ambiência urbana e certo ar de bolero, Dorival imprime no samba-canção um jeito mais intimista, menos vitimizador e, sobretudo, menos machista. O homem que gostava de mulheres parece que desejava que elas fossem felizes, mesmo que para isso eles precisassem confessar que eram loucos e tinham corações insensatos.

Outro campo de criação de Dorival foram os retratos de mulher, como destaca Francisco Bosco em seu livro sobre Caymmi. Sensual no jeito de cantar e olhar, Dorival parece sempre seguir na imaginação o andar de uma mulher (“a vizinha quando passa”, “Dora pra lá, Dora pra cá”). Ele sabe, e ensinou a todo mundo, que é dengo que a nega tem. Há uma certa malemolência que esvazia o caráter propriamente erótico do samba carioca ou do sofrimento do samba-canção à la Lupicínio Rodrigues. As demandas da sensualidade são menos pesadas e talvez por isso mais prazerosas. Gente como Marina, Dora, Doralice e Rosa fazem parte de nossa memória de dengos.

Além disso, a feminilidade do samba baiano está também na incorporação da religiosidade, de um certo senso de mistério da vida. Como definiu Antônio Risério em seu livro Caymmi, uma utopia de lugar, “o misticismo baiano não tira o chão de ninguém”. E é essa imanência, essa força grudada na vida, que caracteriza bem o lado feminino das músicas do compositor. E tem mais: as mulheres de Caymmi são alegres e trazem felicidade. O compositor gostava muito das mulheres a ponto de fazer um tipo de samba especialmente para elas. Algo que, na falta de nome melhor, Aldir Blanc chamou de “samba Caymmi”.

Personagem Autor popularíssimo, destes que todos sabem de cor, Dorival Caymmi foi também compositor de compositores. Homenagem afetiva tocante, Caymmi se tornou personagem da história da música brasileira, habitando canções de colegas. É o caso de Paratodos, de Chico Buarque: “Contra fel, moléstia, crime, use Dorival Caymmi”; ou Toquinho e Vinicius em Tarde em Itapoã: “Depois na praça Caymmi, sentir preguiça no corpo”. Ou ainda na bela celebração de João Bosco, Aldir Blanc e Paulo Emílio, em Nação: “Dorival Caymmi falou pra Oxum, com Silas estou em boa companhia, o céu abraça a terra, deságua o Rio na Bahia”. E, também, em dois sambas de Gilberto Gil, Buda nagô: “Dorival é um Buda nagô, filho da casa real da inspiração. Como príncipe, principiou a nova idade de ouro da canção”; e na recente Gilbertos: “Foi Dorival Caymmi quem nos deu a noção da canção como um liceu”.

Dorival atravessou o século 20 brasileiro, com suas mudanças políticas e sociais. É possível que, além de afetado pela roda da história, ele tenha ajudado a dar a dimensão de nosso processo civilizatório. O compositor nos ensinou a valorizar a cultura popular (sem nunca ter sido etnomusicólogo, mas um criador de novos universos a partir da tradição), a respeitar as mulheres (com sua saudável e sensual relação com as personagens de suas canções), e a dar à música urbana brasileira uma dimensão de modernidade que depois seria resgatada pela bossa nova.

Mas sua relação com a Bahia e o mar talvez sejam as mais expressivas marcas de sua vida e de nossa incompetência em preservar as belezas que ele nomeou e musicou. Não se sabe se a Bahia está viva ainda lá, em meio ao artificialismo do turismo e da cultura para inglês ver; nem se o mar quando quebra na praia ainda é bonito, no monturo da poluição e da especulação imobiliária. Dorival, como se vê, não é referência do que passou, mas do que nos cabe fazer para continuar a merecer suas canções.

A vida no simulacro - Inez Lemos

A vida no simulacro 
 
Realidade virtual se transforma em aditivo narcísico, afasta as pessoas do verdadeiro contato e enfraquece o vínculo afetivo. Em lugar do amor, o consumo fortalece o império da pornografia

Inez Lemos
Estado de Minas: 03/05/2014


 (Kacper Pempel/Reuters)

O capitalismo sobrevive das neuroses humanas. Cada época produz sintomas que definem seu tempo. Sem as patologias, o lucro dos empresários seria infinitamente menor. As histéricas não passariam as tardes nos shoppings adquirindo quinquilharias que não necessitam, os homens não teriam tanta fissura por carrões e os jovens tanta obsessão pelo mundo virtual. Os objetos deixariam de cumprir o papel de objeto fálico, e a humanidade não seria tão insatisfeita. Ou depositaria menos na aparência e no consumo a solução para as angústias e frustrações. Outros tampouco ocupariam o lugar de submissão e exploração, se entregariam menos ao sacrifício e ao masoquismo. Ao tratar as neuroses, procurariam saber de suas faltas – onde fracassam, derrapam. No processo analítico, mudariam de posição diante da vida.

Os objetos de ostentação servem para suprimir uma falta, uma ausência. Se nos sentimos frágeis, inseguros ou infelizes, se a vida não está como desejamos, a tendência é buscar fora de nós algo para nos completar. Aditivo narcísico: adicionar algo com o intuito de melhorar a imagem. Há a ilusão de que, ao portar um objeto valioso, ele nos colocará numa posição de prevalência, superioridade. Ao consumir, seja objeto ou imagem, a ordem é nos distrairmos e nos desviarmos do verdadeiro desejo.

O desejo que interfere nas escolhas é inconsciente e resulta das ideias que circulam na linguagem, portanto, o inconsciente é contaminado pela linguagem. Se na era digital as crianças estão sendo estruturadas na linguagem virtual, on-line, significa que a matriz psíquica está se realizando de outra forma. E a função paterna e materna está se processando mais na internet do que nas mesas de refeição.

Qual a educação sexual que os adolescentes estão recebendo via internet? Por que a garotada não desgruda os olhos das telinhas? O que elas oferecem de tão interessante que muitos nem comem direito, tamanha a fissura pelas imagens? Que magia é essa capaz de cooptar full time corpo, mente e coração? A maioria só existe se estiver acoplada ao seu aparelho, sem ele, torna-se órfã de si mesma.

O tablet, além de aditivo narcísico, é o cabaré da vez. Num mundo repleto de imagens, onde há muito que ver e pouco que ler, o prazer deslocou-se do corpo real para o corpo imagem. Tocar, olhar nos olhos, sentir a pele do outro se tornaram emoções ultrapassadas, em desuso. Não estaria, essa nova forma de viver a sexualidade, aprofundando o desamparo, hiância inerente ao ser humano, sensação de que algo está faltando? E como fica a vida afetiva quando a máquina passa a ocupar o lugar do outro – o corpo no real não é mais objeto de desejo?

A mídia nos avisa: “Pornografia on-line influencia relações entre jovens, tornando-as estereotipadas e, às vezes, perigosas”. Filmes de conteúdo explícito inundam tablets e smarphones. Neles, jovens e adolescentes iniciam a vida sexual. O corpo é apenas uma imagem usada para garantir o orgasmo. Nada de fantasias sexuais, erotismo, preliminares. As imagens são nuas e cruas – um festival de genitálias garante o prazer rápido. Tudo acabado, é só iniciar novamente, sem trabalho de esperar pelo outro ou ouvi-lo em suas questões íntimas. Quais as consequências de crescer acreditando que o que se vê nos vídeos é a forma adequada de se iniciar sexualmente? Onde estão os pais e educadores? As famílias e as escolas não se ocuparam em construir argumentos eficazes ao contrapor os conteúdos pornográficos que circulam na internet?

Não, a questão não é progresso, tampouco moralismo, mas sonhos. Avançamos em tecnologia, mas a concepção sobre a existência humana continua precária, imediatista, objetiva. Como encetar mudanças estruturais, práticas sociais e culturais, sem que a condição humana seja desrespeitada? Como ansiar por práticas sexuais menos violentas, menos estrupos, quando os jovens que educamos não são inseridos nos limites da lei? Como afirmou o psicanalista Hélio Pellegrino, sem pacto edípico não há pacto social. Sem que a criança internalize a lei, os limites da convivência humana é impossível a experiência harmônica e civilizada. Toda relação sexual implica um outro, que, por sua vez, esbarra em questões éticas, de respeito e cumplicidade.

Sexo sem poesia A literatura clássica trata o sexo com erotismo. Eros – deus do amor, personagem mitológico. Mito, magia, fantasia. A arte é a forma poética de expressar aspectos da vida. Por meio dela, comunicamos o cruel, o feio e o encantador. O sexo, se tratado sem poesia e arte, além de grosseiro, é broxante. A questão está no desinteresse pelo outro, vivemos a falência da alteridade, do prazer compartilhado. A vida sexual dos internautas, robótica, solitária e operacional, é um arremedo do prazer conquistado pelos amantes.

O orgasmo na era digital é cópia imperfeita do que muitos casais, no real do sexo, já conquistaram. O capitalismo falsificou natureza, objetos, verdades. Não satisfeito, passou a falsificar o amor, o prazer e o orgasmo. Desinteresse é quando não interagimos, não participamos do banquete. É quando entramos apenas como consumidores, não nos julgamos autores da obra, apenas espectadores. Os jovens, ao tocarem apenas uma tela e dela extraírem prazer sexual, perdem a oportunidade de construir uma grande história de amor.

O progresso tecno-ilógico dizimou a esperança do encontro amoroso, esperança de vida feliz. Não falo de sonhos impossíveis, mas de felicidade cunhada na prosa, no cotidiano das almas carentes de transcendência. Amor é fantasia para ser fantasiada, ilusão para ser iludida. Sem isso, o sexo é osso duro de roer. A violência entre os jovens revela a face maldita do mundo pós-industrial. O romantismo perdeu sentido. Coisificaram o amor, reificaram o sexo e objetivaram as relações. De coisa em coisa, cavamos o abismo ôntico. Como recuperar a crença nos encontros, como torná-los ‘‘eternos enquanto durem”? No antigo imaginário feminino, prazer é picar couve, cantar e esperar o coração se descortinar, desvendando descampados, superando erosões. O amor exige tempo, há de se descongelar os sentimentos e decifrar as intermitências do coração.

O melhor do encontro é o que escapa, o que foge ao roteiro e nos envolve em enredos inusitados. O elemento surpresa garante a intensidade do êxtase. A literatura erótica conduz o leitor ao mundo fantasmagórico, enquanto nos vídeos o usuário entra em contato direto com a imagem, limitando o campo da fantasia. Erotismo é colocar poesia na pulsão, desviá-la do real. Sexo ao pé da letra. Coisa gostosa é sentir arrepios quando somos invadidos, assaltados por um olhar inesperado. Mas isso é outra coisa, é viagem feminina. E das antigas. Papo de outrora, quando as mulheres iam para a cozinha embalar lembranças de uma noite de amor. É quando elas descobrem que para gostar de panelas e fogão, primeiro precisam ser felizes na cama.

Mulher sonha, sonha alto. E de repente acorda, coloca os chinelos e vai colher girassóis. Ser mulher é profanar pecados. Maldição boa. Aquecer a alma nas panelas – desejo iluminado que transcende. Arrepiar, chorar e lamber lágrimas – quem não chora não sabe ser feliz. O choro prepara o rosto para o riso. Chorar levanta a alma e desperta emoções que cochilam, cura tristeza, mau-olhado e desesperança. Na cozinha, enquanto se pica cebola, faz angu... pulam-se cercas e currais. Sedução é metáfora, é encantar o mundo com a linguagem de dentro. Como nos lembra Adélia Prado: “Minha mãe achava estudo a coisa mais fina do mundo. Não é. A coisa mais fina do mundo é o sentimento”.

O amor no feminino é busca eterna. Busca-se algo que transcenda o cotidiano, o tempo ordinário que nos consome em sacolões, bancos, trânsito. Ela quer olhar para o mundo e enxergar beijos, afagos, bossa nova, jantares à luz de velas, viagens. Homens, isso é a mulher – ela não esquece o desejo de subir montanhas, serras. É no topo do mundo que ela quer depositar o seu orgasmo, é lá que o seu corpo anseia testemunhar prazer, o prazer de sentir o feminino vasculhado pelo masculino. É nas alturas que ela quer reverenciar o êxtase de tocar um pedacinho do céu.

Isso, invadam a sua alma, arrebentem as entranhas e acariciem as ilusões de que, pelo menos naquele momento ela é única. Contudo, muitas garotas de hoje, ávidas consumidoras de pornografia on-line, assistem às perversões mais doentias. E isoladas, mergulham no simulacro de uma relação sexual, arremedo de vida feliz. E, desacreditadas de que alguém possa levá-las ao orgasmo, se viciam no prazer solitário. Vítimas do excesso de filmes de conteúdo explícito que distorcem, estereotipam e espetacularizam o que deveria, com recato e na penumbra, ser realizado em tempo real.

Inez Lemos é psicanalista. E-mail: inezlemoss@gmail.com.

E o mundo nunca mais foi o mesmo‏

E o mundo nunca mais foi o mesmo 
 
Trinity narra a história do Projeto Manhattan, que deu origem à bomba atômica. Autor mescla informações políticas e científicas, em narrativa didática que mantém o suspense 

 
Valf
Estado de Minas: 03/05/2014
 (Três Estrelas/Reprodução)


Cruzando uma paisagem desértica, um carro segue até uma área cercada e para em uma guarita de identificação. Dentro do automóvel, um homem começa uma conversa com o motorista. Pergunta a este se por acaso conhecia o mito grego de Prometeu. Com a negativa do soldado que dirigia o carro, o passageiro começa a contar a estória de como Prometeu havia roubado o fogo e presenteado a humanidade com ele. Conta também sobre o flagelo sofrido pelo semideus, imposto como castigo, pelo colérico Zeus. Uma conversa trivial sobre mitologia que serve como perfeita alegoria dos dilemas moral e ético envolvidos na construção de uma arma de destruição em massa. A criação da bomba atômica – o moderno fogo de Prometeu – deixava inquietantes perguntas no ar: estaria a humanidade preparada para tamanho poder? E qual seria o preço a ser pago?

Trinity: A história em quadrinhos da primeira bomba atômica, lançamento da Editora Três Estrelas, utiliza de forma muito competente as possibilidades narrativas dos quadrinhos para explorar um rico e massivo trabalho de pesquisa e traz ao leitor obra que mescla história, física, política e debates filosóficos em suas mais de 150 páginas. Escrita e ilustrada pelo norte-americano Jonathan Fetter-Vorm, Trinity é o codinome do primeiro teste nuclear realizado no mundo, em 16 de julho de 1945, como parte do ultrassecreto Projeto Manhattan. É o ponto de partida que mostra a criação das bombas jogadas sobre o Japão em 1945 e ponto focal do livro.

Fetter-Vorm, porém, não se atém apenas à construção da narrativa deste fato. O autor volta no tempo e, de maneira por vezes didática, remonta a história da energia nuclear. Começa em 1898, em Paris, com a descoberta da radioatividade pelo casal Marie e Pierre Curie, e vai, por meio de saltos temporais, avançando pelos primórdios da era atômica. Habilmente, o autor alinhava explicações sobre física para que quem não se lembra ou mesmo não conhece entenda os processos envolvidos nas reações químicas e físicas. Fetter-Vorm começa mostrando o funcionamento de um simples átomo e segue adiante com a explicação de termos que fazem parte do vocabulário tantas e tantas vezes repetido, porém pouco conhecido: fissão, reação em cadeia e enriquecimento de urânio. Para isso, utiliza diagramas e esquemas detalhados, optando por fazer analogias para demonstrar conceitos abstratos ou mensurar algo que para o leigo é de difícil compreensão.

O Projeto Manhattan surgiu como reação à então recente descoberta da fissão nuclear. Temendo a utilização para fins bélicos pelos nazistas, o governo norte-americano se adiantou e deu início a um de seus maiores e mais ambiciosos programas – a construção da bomba nuclear. Capitaneado pelo cientista J. Robert Oppenheimer, o projeto contava com as maiores e mais brilhantes mentes de sua época. Como o sigilo era imprescindível, o “pai da bomba atômica”, como ficou conhecido Oppenheimerm, tinha uma tarefa no mínimo complicada. Não informando seu real propósito, deveria convencer cientistas a largarem tudo (vida pessoal e trabalho) e seguirem com suas famílias para uma base no interior do Novo México.

Sem poder detalhar as explicações, tinha um trunfo na manga para poder convencê-los: o projeto acabaria com a guerra. Além dos cientistas, milhares de trabalhadores de diversas áreas foram mobilizados e transferidos para outras regiões dos EUA (80 mil trabalhadores viviam e trabalhavam em Oak Ridge). Cada um com uma função específica e sem conhecimento do que seu vizinho fazia. Tudo era mantido sob a mais rígida vigilância para que ninguém, com exceção de um restrito grupo, tivesse ideia do que estava sendo construído.

E foi assim que em julho de 1945, depois de cerca de três anos de pesquisas e desenvolvimento, a primeira bomba atômica foi detonada em Los Alamos. E esta cena é particularmente bem realizada na HQ. Fetter-Vorm traz em quase duas dezenas de páginas uma sequência em contagem regressiva, que começa oito horas antes da detonação da bomba, e nela alterna o relato histórico, com trechos de um texto sagrado hindu, assim como já havia feito com o mito de Prometeu, questiona a relação entre sagrado, profano e punição. Estaria o homem preparado para o que viria a seguir? Os segundos finais da contagem regressiva mostram uma série de planos-detalhes do rosto de Oppenheimer, até a chegada do zero. A sequência seguinte não é a explosão em si, mas a utilização do recurso gráfico do detalhamento do processo para demonstrar a detonação e o que ocorre neste átimo de segundo. Dessa forma, o que a princípio pode ser visto como esquemático em sua forma, na verdade se torna uma sequência de beleza poética. Três semanas depois do teste de Los Alamos, era lançada a primeira bomba atômica sobre a cidade japonesa de Hiroshima.

Jonathan Fetter-Vorm faz com Trinity sua estreia no mundo dos quadrinhos. Um belo começo. Em alguns momentos, a leitura da sequência de seus textos e balões fica um pouco confusa, mas nada que possa diminuir o excelente trabalho. Em suas notas finais, o autor detalha a base de suas pesquisas e as dezenas de livros que serviram como suporte para a obra que irá agradar os amantes de HQ e aqueles que queiram conhecer um pouco mais sobre um dos episódios mais marcantes do século 20.

TRINITY – A HISTÓRIA EM QUADRINHOS DA PRIMEIRA BOMBA ATÔMICA

. De Jonathan Fetter-Vorm
. Editora Três Estrelas, 160 páginas, R$ 29,90

Traidor ou herói? - Pablo Pires Fernandes

Traidor ou herói? 

 
Livro de Luke Harding analisa a trajetória de Edward Snowden, o polêmico agente de informação que revelou ao mundo os bastidores da espionagem americana, inclusive contra nações amigas como o Brasil e a Alemanha 
 
Pablo Pires Fernandes
Estado de Minas: 03/05/2014


Público exibe máscaras com o rosto de Edward Snowden durante encontro sobre globalização realizado em São Paulo, na semana passada     (Nacho Doce/Reuters)
Público exibe máscaras com o rosto de Edward Snowden durante encontro sobre globalização realizado em São Paulo, na semana passada


“Se você quiser manter um segredo, você deve escondê-lo de si mesmo”, diz George Orwell em 1984. Na época de sua publicação, em 1949, o ano de 1984 parecia um futuro distante. Trinta anos depois, aquela sociedade altamente controlada e vigiada, sombria e lúgubre que o autor descreve no romance, com imagens de prédios sem janelas e de um gigantesco Ministério da Verdade que se ocupa de uma vigilância onipresente, parece ter se tornado realidade. E, se até pouco tempo suspeitávamos viver nessa sociedade monitorada, com um Big Brother seguindo cada um de seus passos, agora, graças a um jovem americano, temos a certeza.

As revelações de Edward Snowden a respeito do monitoramento feito pelo governo dos Estados Unidos de seus cidadãos, de governos estrangeiros e empresas o tornaram o homem mais controverso do mundo. Louvado por muitos e odiado por outros tantos, o fato é que o governo do presidente Barack Obama se viu diante de um problema inédito quando esse jovem cidadão americano levou a público a existência de um sistema de controle de informação digno do adjetivo “orwelliano”.

O especialista em informática e segurança de redes trabalhou para a CIA (agência de inteligência dos EUA) e, como terceirizado, prestou serviços para a Agência Nacional de Segurança (NSA, na sigla em inglês). Teve acesso a milhões de arquivos ultrassecretos e compreendeu que a estrutura de vigilância criada pelo governo dos Estados Unidos ultrapassa todas as justificativas legais e éticas dadas por seus políticos. Por causa do ato de Snowden, o público de todo o mundo hoje sabe que praticamente todas as informações que circulam na internet podem ser acessadas pela equipe da NSA, associada ao britânico GCHQ, sigla para Government Communications Headquarters (Quartel-General de Comunicação do Governo).

Sabe-se hoje que um monitor de computador ligado à internet pode fotografar seu usuário sentado diante da tela, e que um iPhone pode se tornar um gravador de voz ou informar a localização de seus portadores. Sabe-se também que e-mails, arquivos de busca, postagens, comentário ou “curtidas” nas redes sociais são acessíveis aos agentes da NSA e do GCHQ. Sabe-se, ainda, que as informações das grandes corporações de informática como Google, Apple, Windows, Facebook, Yahoo e outras empresas podem ser recolhidas pelos governos dos Estados Unidos e do Reino Unido. A imagem de um Big Brother, portanto, parece ter descolado da ficção e mostrado, mais uma vez, que a vida imita a arte.

“Sabemos muito mais hoje do que há um ano”, afirma Luke Harding, autor de Os arquivos Snowden – A história secreta do homem mais procurado do mundo. O livro foi lançado no Brasil pela editora Leya e traz um relato vertiginoso sobre os acontecimentos dos últimos meses, buscando traçar um perfil de Edward Snowden e expor as implicações do que o autor e jornalista do diário britânico The Guardian considera “o maior vazamento de informações secretas da história”.

Falando por telefone da Ucrânia, onde segue os desdobramentos da crise nos Bálcãs, Harding conversou com o Estado de Minas sobre seu livro e a controversa figura do homem que vazou os segredos sobre espionagem eletrônica. O texto, escrito em linguagem de grande reportagem, busca compreender as razões que motivaram o técnico em informática a tomar a decisão mais importante de sua vida e que o transformou em um pária do governo americano. Snowden “cresceu em uma família patriótica e conservadora, republicana e libertária”, afirma. Sem formação universitária, ele tinha apenas o ensino médio completo, mas “tinha habilidades de tecnologia da informação extraordinárias”.

Depois de uma tentativa frustrada de ingressar no Exército – ele quebrou as duas pernas em um treinamento –, Snowden começa a se dedicar a programação de softwares e passa a trabalhar para a CIA, que o levou a Genebra. “Ele definitivamente era alguém de dentro do sistema”, relata Harding, citando o exemplo de que seu herói político é o conservador Ron Paul, que chegou a ser pré-candidato nas primárias do Partido Republicano. Trabalhando para manter seguros os sistemas de comunicação do corpo diplomático americano na Suíça, Snowden tem contato com mais e mais informações e documentos sigilosos, discute com seus chefes e vai, aos poucos, se tornando cético em relação a todo o sistema de vigilância criado pelo governo americano.

Ao viajar para o Japão, para um curso de verão, em 2009, Harding descreve, sua antipatia em relação à administração Obama e o modo com o qual o governo havia se tornado hipócrita e mantinha o controle de tudo o que se faz na internet, ferindo os princípios de liberdade de expressão e privacidade tão caros a Snowden, pois são um dos grandes pilares da Constituição dos Estados Unidos. “Se olharmos em seus chats, vemos que ele se tornou mais e mais cético em relação ao sistema”, explica o autor. Ao fim de sua temporada no Japão, em 2012, “Snowden era um delator em potencial”, conta Harding, acrescentando que “o plano já estava claro”.

Em março de 2012, Snowden começa a trabalhar no Havaí em um dos 13 centros da NSA. Passou 13 meses vivendo discretamente com sua companheira e era descrito como uma pessoa tímida, que se sentia à vontade apenas diante de seu computador. Nesse período, recolheu milhares ou milhões de documentos secretos sem deixar qualquer rastro, afinal, sua especialidade era a segurança de redes e ele se movimentava bem no universo vasto de siglas, códigos e programas.

Depois de decidir expor o gigantesco sistema de monitoramento criado na esteira dos atentados de 11 de setembro de 2001, Snowden optou por fazê-lo a partir de jornalistas confiáveis e que trabalhavam justamente com os abusos do governo americano em relação às liberdades civis. Ele já havia visto exemplos de outros funcionários que tentaram denunciar a corrupção desse sistema por meios legais e internos. Todos foram rechaçados e condenados, e nada foi mudado. Portanto, a escolha da documentarista Laura Poitras e do jornalista Glenn Greenwald foi cuidadosamente pensada. Em 20 de maio de 2013, Snowden desaparece do Havaí e surge em Hong Kong.

Sem narcisismo

Poucos dias depois, Poitras, Greenwald e Ewen MacAskill, um jornalista escocês que trabalha na seção americana do The Guardian, desembarcam em Hong Kong para se encontrar com Snowden. A seção do livro dedicada ao encontro é curiosa, pois revela a postura convicta de Snowden, as precauções dignas de um filme de James Bond e a alucinada corrida dos três interlocutores para compreender onde haviam se metido e o que significava todo aquele misterioso material. “Ele tomou as decisões sobre o quanto e o que revelar”, descreve Harding. “Ele sabia que aquilo destruiria sua vida”. No entanto, a convicção era firme. Segundo o jornalista, no discurso que ele gravou em Hong Kong, diante das três testemunhas, Snowden estava articulado e refletia uma pessoa absolutamente normal. Harding o diferencia de outros delatores, como Julian Assange, do WikiLeaks, que gosta de usar a mídia de maneira um tanto narcísica. Ou de Bradley ou Chelsea Manning, que gravou e cedeu ao WikiLeaks os milhares de telegramas diplomáticos dos EUA e, sem dúvida, vive um problema de definição de sua conturbada personalidade. O então militar americano, depois de sua prisão e condenação, decidiu mudar de sexo. “Era um discurso inteligente e direto”, conta Harding. A única coisa com a qual ele se preocupava, segundo o autor, era se ele seria visto como um traidor da pátria.

A partir desse momento a história começa a se tornar realmente pública. Mesmo para quem acompanha o noticiário a respeito do tema, é curioso ver os bastidores da publicação das informações dos arquivos Snowden. Uma série de reportagens foi publicada no The Guardian e no The Washington Post, fazendo o governo Obama pedir desculpas e criando um enorme embaraço nas relações entre os EUA e outros países (mais tarde, esse conjunto de reportagens deu o Prêmio Pulitzer aos dois veículos). Harding diz que a atitude do governo americano foi correr atrás do prejuízo. Num primeiro momento, a justificativa era de que as informações buscavam apenas alvos terroristas. Mas como justificar que 35 chefes de Estado e 38 embaixadas haviam sido alvo de espionagem? (De acordo com outra lista, publicada posteriormente, o número de chefes de estado sob vigilância seria 122). Encontros de líderes mundiais, agências das Nações Unidas, empresas de vários tipos, nada disso tinha qualquer relação com o terrorismo. “Espionagem sempre existiu, a surpresa foi o fato de os EUA espionarem seus próprios aliados”, relata.

O livro vai além e descreve as relações escusas entre o governo americano e as empresas de informática, discorre sobre como a administração Obama mentiu ao Congresso, fala da perseguição – a maior da história dos EUA – de fontes anônimas de jornalistas sobre material do governo. Harding se diz bastante cético a respeito da iniciativa de se criar uma espécie de Constituição global sobre privacidade e regulação da internet, liderada pelo Brasil e pela Alemanha. “É uma boa iniciativa, mas creio que deve ser visto com ceticismo, porque as grandes coorporações são todas baseadas nos EUA, e o governo poderá conseguir ter acesso a seus dados”, diz. Para ele, mesmo a construção de um sistema de cabos entre Brasil e Europa, como se cogita atualmente, poderia ser interceptado. A criptografia, como Snowden sugere, pode sim, servir de complicador para a vigilância em massa. Não por ser impossível decifrar as informações, mas, sobretudo, porque isso tornaria o custo em grande escala inviável.

Desde a publicação do livro, no início deste ano, novas revelações surgiram e desdobramentos ocorreram. Obama prometeu restringir, em parte, o alcance dos programas de vigilância. De qualquer maneira, o fato é que o objetivo inicial de Snowden foi alcançado: o debate sobre a privacidade na rede mundial e sobre os limites de controle da informação deixou as salas de especialistas e ganhou os jornais, os fóruns e as discussões públicas, seja no parlamento de algum país ou num café da esquina. Ainda assim, porém, a máxima de orwell se mantém de pé.


OS ARQUIVOS SNOWDEN
. De Luke Harding
. Editora Leya, 280 páginas, R$ 35,90

Indústria lucrativa

Indústria lucrativa

A romancista Jane Austen, autora que encanta o mundo há 200 anos, está viva e continua faturando. Livros inspirados em suas narrativas são publicados todos os anos, com direito a mashups e policiais


Karina Gomes Barbosa
Estado de Minas: 03/05/2014


A atriz Anne Hathaway como Jane Austen no filme Amor e inocência (Becoming Jane), de 2007: quando a criadora se torna personagem     (Colm Hogan/Miramax)
A atriz Anne Hathaway como Jane Austen no filme Amor e inocência (Becoming Jane), de 2007: quando a criadora se torna personagem


Recém-lançado pela Companhia das Letras, As sombras de Longbourn, de Jo Baker, se debruça sobre as vidas da sra. Hill e dos outros criados que serviam aos Bennet na famosa casa paroquial que abrigava, entre outros, as cinco mulheres solteiras e casamenteiras da família. Irmão literário de Downton Abbey (badalado seriado inglês que acompanha a rotina de uma família aristocrática e dos criados no início do século 20), o livro bebe em uma fonte com pouco mais de 200 anos: Orgulho e preconceito.

E não é o único a fazê-lo. Ali pertinho, dividindo atenções nas prateleiras dedicadas a mulheres nas livrarias, está Austenlândia, da Record, outra experimentação sobre o romance do século 19: uma nova-iorquina contemporânea obcecada por Mr. Darcy, interpretado por Colin Firth na TV, em 1995, tem a chance de viver um amor como o da ficção da minissérie Orgulho e preconceito, da BBC.

Os dois lançamentos são apenas duas das muitas presenças de Jane Austen na cultura contemporânea. Em breve, chegam às livrarias mais dois volumes: Juvenilia reúne escritos juvenis de Austen e de Charlotte Brontë (Austen efetivamente escreveu um volume chamado Juvenilia, com novelas, contos e sátiras). O lançamento é da Cia. das Letras/Penguin. Já a Novo Século traz ao Brasil uma das mais recentes biografias sobre Austen, Uma vida revelada, de Catherine Reef, que já biografou as irmãs Brontë e Ernest Hemingway.

A escritora inglesa, morta há 197 anos, está atual como, na verdade, não foi na vida – duas edições de seus romances chegaram a encalhar. Livrarias dedicam estandes exclusivos às inúmeras edições de cada um dos livros de Jane Austen. Versões bilíngues, obras completas, edições de bolso. Livrarias on-line têm seções com mais de três mil volumes das obras – em capa dura, edição simples, livros eletrônicos e audiobooks. Mais que isso: escritores usam as obras da inglesa como fontes para mashups nos quais os personagens do interior inglês dos séculos 18 e 19 convivem com zumbis, monstros marinhos, são homossexuais ou, sintomaticamente, moram em Hollywood. Jane Austen ganhou uma melhor amiga ficcional de adolescência. Virou vampira. Está viva em 2014.

Ou não. Logo depois de sua morte, a família dela tentou construir a imagem de uma mulher que escrevia por não poder fugir ao chamado das letras. A irmã, Cassandra, também censurou algumas cartas. Mas os biógrafos demonstram que, ao contrário, ela era uma escritora profissional, consciente do valor de suas obras e interessada em lucrar com a publicação dos livros. Austen era implacável no trato com seus editores e negociava preços, direitos autorais, qualidade do papel, prazos de publicação – nem sempre com sucesso. Ainda que ansiasse reconhecimento (e lucro), Jane Austen jamais poderia imaginar a ressonância cultural e transmidiática de suas histórias. Estima-se que Orgulho e preconceito tenha vendido mais de 20 milhões de cópias em todo o mundo. Uma primeira edição de Emma, hoje, é vendida por mais de US$ 200 mil.

Os números expressivos comprovam a permanência de Jane Austen na cultura contemporânea ocidental, com constantes reedições, novas traduções e, especialmente, apropriações que ajudam a torná-la – e mantê-la – relevante. As mais numerosas são, de fato, as literárias, em que encontramos pelo menos 10 tipos de obras. Os mashups, com especial destaque para a mistura dos gêneros de romance com fantasia de zumbis, como Orgulho e preconceito e zumbis (que se prepara para virar filme há alguns anos). Há continuações das obras, especialmente, de novo, de Orgulho e preconceito, como As sombras de Longbourn. Existem ainda narrativas precedentes aos fatos narrados nos livros, as chamadas pre-quels, em inglês, adaptações das obras para os dias atuais (como Austenlândia) e versões das obras para crianças: uma série para bebês transforma os romances em dados, contando, por exemplo, quantas carruagens há na narrativa.

Austen também inspira (ou instiga) uma série de biografias: tanto acadêmicas ou históricas como ficcionais. Um livro, Eu fui a melhor amiga de Jane Austen (e a continuação, ainda não traduzida), narra, como literatura infantojuvenil, os dias de Austen no colégio interno. Há ainda mashups biográficos, como Jane Austen – a vampira, em que a autora ainda vive nos dias de hoje – já que é vampira – e teve sua obra roubada por outra. Ela se torna, assim, personagem literária.

Filosofia do cotidiano


A época em que a inglesa viveu e produziu é objeto de análise em uma série de obras de contexto. Elas buscam apresentar a Inglaterra de Austen, a literatura feminina do período, como era a cultura do chá, as viagens pelo interior, a moda do período regencial, os rígidos costumes sociais. As obras de contexto ganham especial relevo devido à acidez e ironia com que Austen descrevia o panorama inglês de sua época, apresentando ao leitor as diferenças de classes, as injustiças sociais, o ridículo comportamento aristocrático. Têm importância ainda porque, naquele período, as relações amorosas eram regidas sob tais regras sociais: a renda e a posição social das famílias, especialmente das mulheres, poderiam incentivar ou inviabilizar casamentos ou proibir amores entre jovens. Outro campo encontrado nessas obras é o turismo. Tendo em vista a proeminência do espaço nas narrativas da autora inglesa, uma série de guias turísticos busca recriar com o leitor a experiência de viagem dos livros.

Uma das apropriações mais interessantes trata de livros inspirados por Austen. Há algumas séries de romances sentimentais e policiais a partir dela. No campo das policiais, a série “A Jane Austen mystery” tem 22 livros publicados, entre os quais Jane and the madness of Lord Byron e Shoes to die for. Entre os sentimentais, há as séries “Brides of Pemberley”, “Jane Austen diaries” e “The Jane Austen academy series”, sem contar a miríade de volumes avulsos. Todos se assemelham à categoria dos folhetins do século 19. Há ainda várias incursões que mesclam as obras de Austen com temas paranormais, como Pride and pyramids. Um desses volumes inspirados pela autora, recentemente lançado em português, é de natureza um pouco diferente. Intitulado Morte em Pemberley, é de uma das mais famosas escritoras de mistério da atualidade, P. D. James, prova de que a fascinação por Austen captura também autores renomados. Mais uma mostra da vitalidade da autora é que o livro já virou minissérie da BBC em 2013.

Para além da ficção e dos mergulhos em sua obra para encontrar nela questões históricas, sociais, turísticas, Jane Austen adquiriu, nesses dois séculos, um status de conselheira ou filósofa do cotidiano e/ou do sentimento. E é justamente por conta desse status que emergem as obras mais intrigantes derivadas da autora: os guias e manuais. Uma série de publicações explora o potencial pedagógico contido, imaginado, apreendido ou desejado na literatura de Austen, especialmente no que diz respeito à vida amorosa ou a um certo modo de vida feminino identificado com as protagonistas da autora, notadamente Emma Woodhouse e Elizabeth Bennet. Um deles é A fórmula do amor, de Elizabeth Kantor, lançado no Brasil em 2013, que busca em Austen lições de conduta para um modo de amar e se relacionar mais eficiente que a falência amorosa contemporânea. Cada capítulo é uma lição de como se parecer mais com Lizzy Bennet e menos com as modernas Bridget Jones (curiosamente, inspirada na personagem de Orgulho e preconceito).

Os romances de Austen são considerados, assim, fontes para uma série de códigos de comportamento e compreensão da existência e do sujeito que, por sua vez, geram guias e manuais para a vida moderna, servindo como uma espécie de autoajuda ou terapia pessoal para uma sociedade altamente terapeutizada. Ainda que não fosse a intenção da autora, que escreveu, afinal de contas, ficção, seus romances adquiriram um caráter pedagógico ao longo do séculos, notadamente sua maneira de conceber o amor e as relações amorosas.

Bailes de época

A literatura, porém, não é o único campo em que a obra de Austen – ou a autora mesma – é atualizada e referenciada. Anualmente, eventos ao redor do mundo recriam os bailes narrados em Orgulho e preconceito, especialmente o baile de Netherfield (em que os protagonistas Elizabeth e Darcy dançam juntos). São bailes de época, fiéis ao período histórico em que os romances se passam – roupas, músicas, léxico e pronúncia. Esses eventos são organizados, em geral, por sociedades de acadêmicos e, sobretudo, fãs de Jane Austen.

De um lado, percebemos um fascínio inegável pela autora e suas obras, que gera uma infinidade de iniciativas ligadas à produção de Austen, mesmo quase 200 anos depois de sua morte. Para além dessa fascinação, Jane Austen se tornou uma commodity importante na cultura da mídia. O “janetismo”, ou “popularidade extravagante” nasceu nas duas últimas décadas do século 19. A autora e os produtos relacionados a ela são depositários de valor, cultural e material – como commodities, objetos sociais cujas qualidades são, ao mesmo tempo, sensivelmente perceptíveis e imperceptíveis.

Uma commodity é um objeto que, por suas propriedades, satisfaz algum tipo de desejo humano. É fácil perceber que Austen e sua obra vêm sofrendo esse processo de commodificação, em que os produtos têm alto valor cultural – e de troca – bem como estéticos. Para determinadas comunidades, ou grupos culturais, que gravitam em torno da autora e das obras, é uma commodity (ou um grupo delas) extremamente valiosa que transita entre TV, literatura, cinema, moda, memorabilia. E fatura alto em todas elas.

. Karina Gomes Barbosa é doutoranda em imagem e som pela Universidade de Brasília (UnB). Jornalista e professora de comunicação da Universidade Católica de Brasília.

A vida é transparente [Valter Hugo Mãe]

Escritor Valter Hugo Mãe ultrapassa as fronteiras de Portugal para mostrar os mistérios da Islândia no romance A desumanização


André di Bernardi Batista Mendes
Estado de Minas: 03/05/2014


O romancista português Valter Hugo Mãe traça em prosa poética o destino de uma menina islandesa (Nélio Paulo/Divulgação)
O romancista português Valter Hugo Mãe traça em prosa poética o destino de uma menina islandesa

A Cosac Naify acaba de lançar A desumanização, quarto livro do poeta e escritor Valter Hugo Mãe publicado pela editora. A história se passa na paisagem inóspita dos fiordes islandeses e é narrada por uma menina de 11 anos, Halla, que conta, de maneira muito especial, o que lhe resta depois da morte da irmã gêmea. Valter, pela primeira vez, ultrapassa na sua narrativa as fronteiras portuguesas. Já de cara uma porrada, pois o leitor se depara com o enterro da criança Sigridur. Cabe neste ambiente, nesta trilha nada convencional, a paranoia que devasta uma família, a ruptura da infância, o contato com a dor e o consequente amadurecimento precoce. Perder gera consequências. Para terminar o romance, o escritor passou um bom tempo, entre idas e vindas, naquele país, a Islândia, um lugar mais estrangeiro que tudo.

Encarar um Valter Hugo Mãe não é tarefa das mais simples. É preciso fôlego e coragem para enfrentar um turbilhão de sentidos e sentimentos. A poesia, a prosa de Valter caminha no sentido da esperança, com toda carga, negativa (pois vivemos num mundo desfeito para utopias) e positiva (esperança é sinônimo, signo de estrada, ponte que religa céu e homem).

Tanta sensibilidade, tanta lucidez nos fazem perceber o breu, as broncas do mundo. As ferramentas, a broca, a maturidade artística de Valter Hugo confirmam o quase óbvio, que falta muito pouco para chegarmos ao desumano que existe, como pedra, como uma besta/fera, em todos nós. Esta é uma das chaves, esta é uma das funções mais estranhas do escritor, captar, através dos dilemas humanos, dos cheiros, das cores, das árvores, do frio, do gelo, do sol e da lua, o que nos escapa, o que está ali, mas não se mostra.

Ler Valter Hugo é ficar, é permanecer muito perto do sonho, muito dentro de neblinas. Seguindo um rumo próprio, o que é constante em suas obras, o livro alcança profundidades. Valter Hugo provoca sustos, prioriza o estranhamento, alcança sombras e abre portas para os leitores, portais que revelam lugares perigosos que existem no de dentro, no segredo de todas as coisas. Valter Hugo apenas provoca, mas não atiça, não afirma firmes certezas. Esse tipo de estilo, esse tipo de conduta, esse tipo único de literatura surge do inaudito.

Valter Hugo, nos seus livros, com suas palavras, encontra brechas para se mostrar como veio ao mundo e o que fica desta surpresa remete aos trâmites da alma, remete ao descampado de um peito que se transforma por meio do verbo e principalmente através da dura poesia. Surge um rosto feito de fragilidades, feito de ternuras, comprimido pelos desacertos, pelas misérias, e, claro, pelo mistério infinito. Valter Hugo revela para o mundo apenas um rosto humano. O corpo, assim como a vida, é cheio de urgências.

A poesia de A desumanização tem a força de um tiro, com a delicadeza de um suspiro: “Foram dizer-me que a plantavam. Havia de nascer outra vez, igual a uma semente atirada àquele bocado muito guardado de terra. A morte das crianças é assim, disse a minha mãe”. E esse é apenas o começo do livro.

Valter Hugo tem um relacionamento íntimo com a linguagem, e os indícios deixados pela narradora, a pequena Halla, fazem o leitor embarcar num processo de vertigens. O tempo todo, como pode, estávamos ali, naquele livro, e não sabíamos. É preciso alegria, tato e muita coragem para encontrar, para reinventar um espelho tão especial.

O escritor, o poeta inventou algumas cores para o seu mundo e ele, como todo artista, cheio de vulnerabilidades, abusa desta invenção feita de nuances e transparências. Não há maneira melhor de sermos, como diz, em certo trecho, o pai de Halla: “A humanidade começa no outro”. Valter apresenta suas palavras, mas, muito mais que isso, estende suas mãos para este outro, ainda que existam demônios dos infernos à espreita.

Raiva Como descrever o fogo, se ele apenas sabe queimar? O que dizer de um livro tão especial, entre tantos, deste fabuloso escritor português? Em A desumanização, Valter Hugo também escancara uma grande raiva diante dos desmandos políticos e sociais de seu tempo. O escritor dialoga com o abstrato e busca entender o imenso impossível. O problema é que tudo poderia e – deveria ser – bem diferente. Valter Hugo empresta intensidades a cada coisa, a cada pedra, a cada cisco que, com isso, ganha aura, mágica, sentido e importância. Caymmi soube do mar, Fernando Pessoa e Valter Hugo sabem muito de nós. Todos eles preferiram, é bom lembrar, a gentileza, pois tornaram-se excelentes guias.

A Islândia também existe dentro de nós. Portugal, Brasil, Congo e Dinamarca não são apenas palavras, mas elos de uma corrente feita de importâncias, elos de uma corrente feita da mais pura matéria humana. Ao nascer, conhecemos imediatamente a decadência, um sopro de ventos. Não há correção possível, mas temos um périplo pela frente. Muitos conhecerão de perto, nesta nossa pequena aventura, a música, a poesia e a prosa. Ainda não conseguimos prever que tipo de abismos ou rosas marcarão os nossos próximos passos. É triste, de uma melancolia única, de sabermos dessa forma, desse jeito cru.

Não são os prêmios, não é sequer a literatura que glorifica uma existência. Valter Hugo caminha firme e confia plenamente no sentido de suas claridades, ele confia plenamente nas suas luzes, cada vez mais belas, cada vez maiores. Conhecê-lo é sentir na pele um pouco deste sol que despenca. O muito estranho é que tudo isso indica que, de alguma forma, tudo pode ser simplesmente necessário.

Valter Hugo, nos seus romances, com a sua poesia que transcende limites, insiste em apontar. Vai demorar, mas um dia, para lá do fim do mundo, quem sabe, saberemos, se Deus assim quiser, para não mais caber nos livros sobras de morte e descalabros.

Valter Hugo escreve como quem respeita o silêncio dos carvalhos, o mistério das águas, a força que desce, que reside não se sabe onde (nos fiordes, no Tejo, na Espanha, sim, na Espanha, ou no pequeno coração de Halla?), que se mantém como algo que insiste, chama, pavio, apesar de tudo. Nascemos de cusparadas. A morte é um escárnio feito de espinhos absurdos. Como Deus, essa superfície lisa, infinita, de um muro em linha reta.

Eis o nosso fado. Valter Hugo, diante da cólera, diante do ímpeto, diante da voracidade do tempo furioso, coloca uma espécie de raro empecilho feito de leveza e generosidade. Ele propõe uma hipótese utópica feita justamente dessa nossa incompletude. Através dela, e por causa dela, seremos. É preciso adornar de flores o nosso teatro, é preciso criar, é preciso inventar a nossa própria ficção; é preciso sermos. As ações, os fracassos, as alegrias, os encontros, a literatura só é boa e só funciona se nos ajuda neste sentido. Valter Hugo tenta aceitar a morte ao dignificar a vida.


A DESUMANIZAÇÃO
• De Valter Hugo Mãe
• Cosac Naify
• 160 páginas, R$ 34,90

Orelha

Orelha

Estado de Minas: 03/05/2014
O crítico literário Silviano Santiago publicou textos na primeira fase da Revista de Cinema (Maria Tereza Correia/EM/D.A Press)
O crítico literário Silviano Santiago publicou textos na primeira fase da Revista de Cinema


Reflexão pioneira

Criada como espaço para pensar criticamente o cinema brasileiro e mundial, a Revista de Cinema, publicada entre 1954 e 1965, acaba de ganhar uma antologia. Organizada em dois volumes pelos críticos e pesquisadores Marcelo Miranda e Rafael Ciccarini, a publicação recupera textos fundamentais para o estudo de cinena – e, principalmente, da crítica cinematográfica – assinados por Cyro Siqueira, Maurício Gomes Leite, José Francisco Coelho, Guy de Almeida, Fritz Teixeira Salles, Fábio Lucas, Silviano Santiago e outros. No primeiro volume, com 296 páginas, estão artigos dedicados ao neorrealismo italiano, à revisão do método crítico, ensaios sobre crítica e também sobre gêneros cinematográficos. No segundo tomo estão reunidas reflexões sobre cineastas, filmes e cinematografias, a relação do cinema com outras artes e sobre a censura. Como destaca o crítico Ismail Xavier no prefácio, a seleção de artigos oferece, especialmente às novas gerações, oportunidade de conhecer um dos marcos da história da crítica de cinema no Brasil.


Nheengatu


Publicado uma única vez em revista no início do século passado, o Vocabulário português-nheengatu-português, de Ermano Stradelli, é a prova de que o monolinguismo no Brasil é um dos mitos da nossa cultura. Lançada em livro pelo Ateliê Editorial, a obra pretende preencher uma lacuna sobre a diversidade linguística do país. O nheengatu é uma língua geral falada nas redondezas da bacia amazônica. É curioso saber que palavras como pipoca, paçoca, cuia, carioca e caipira, entre outras, e pronúncias como oreia, cuié, muié e outras tantas, têm origem no nheengatu.


Sertão

   (Claudio Versiani/Divulgação)


Segundo romance escrito pelo mineiro Darcy Ribeiro (foto), O mulo ganha uma nova edição. Lançamento da Global, o livro começou a ser esboçado durante o período em que o antropólogo esteve no exílio. Darcy narra de forma envolvente os problemas do Brasil: os desmandos políticos e toda a carga de violência neles embutida. O mulo foi publicado pela primeira vez em 1981, traduzido para o italiano, o espanhol e o alemão. A partir da história de Philogônio Castro Maya, típico homem poderoso do sertão, que vive acima da lei, Ribeiro denuncia as relações arcaicas da sociedade, ao mesmo tempo que desenha o retrato do mandonismo nos rincões do país. A editora, que também relançou Maíra, poderia agora repor em circulação o livro Migo, há muito fora de catálogo.


Medicina


Como as vacinas foram desenvolvidas? E a pílula anticoncepcional, o exame de Papanicolaou e a técnica de transplante? Stefan Cunha Ujivari e Tarso Adoni contam em A história do século XX pelas descobertas da medicina como foram as experimentações que se traduziram em alguns dos avanços dos tratamentos médicos. Ao longo de 22 capítulos, os autores abordam tanto a coragem de médicos e cientistas para tornar os progressos possíveis, como também relatam experimentos desumanos e antiéticos que contribuíram para descobertas.


Esporte

 (Neil Hart/Reuters)


Em tempos de Copa do Mundo, duas biografias de figuras de peso do esporte chegam ao mercado – a de Neymar e a de Usain Bolt (foto) – e ainda uma publicação da franquia do Guia politicamente incorreto, desta vez voltado para o futebol. Escrito por Jones Rossi e Leonardo Mendes Júnior, o livro vem compor a estante de incorreções já lançadas nas áreas de filosofia, política, história do Brasil, da América latina e outros. O negócio é polemizar. Entre os temas estão os bastidores da Copa de 1998, a gestão de Ricardo Teixeira na CBF, as injustiças contra Zagallo na Copa de 70 e por aí vai. Nas biografias, curiosamente é um jornalista dinamarquês, Peter Bank, quem escreve sobre o maior ídolo brasileiro do futebol da atualidade, Neymar. Vai desde o nascimento em Mogi das Cruzes até a contratação pelo Barcelona. Já a história do homem mais rápido da Terra é o próprio Usain Bolt quem conta, em Usain Bolt – mais rápido que um raio. Minha autobiografia. Em primeira pessoa, fala sobre os desafios que enfrentou na carreira, as contusões, um acidente de carro e até mesmo as pressões da fama.


Revista

A revista Política democrática, publicada pela Fundação Astrojildo Pereira, dedica sua 38ª edição para tratar dos 50 anos do golpe militar. Em nove artigos de Ferreira Gullar, Jarbas de Holanda, Elio Gaspari e José Serra, entre outros, é feita uma revisão crítica daquele período. O restante da revista é dedicado a temas da atualidade, como a banalidade dos crimes praticados no Brasil, a necessidade de reformulação do sistema previdenciário nacional e a delicada situação da economia do país, analisada por Antônio Machado.


Segurança


 (Roberto Moreyra/Extra)


Figura central no movimento de pacificação das favelas cariocas, o secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame (foto), é o biografado em Todo dia é segunda-feira. Trata-se de depoimento ao jornalista Sérgio Garcia. Ele narra desde o dia em que abandonou a terra natal, Santa Maria (RS), até assumir o cargo de peso na segurança do Rio. Os bastidores da ocupação do Complexo do Alemão em 2010 e o nascimento das Unidades Pacificadoras (UPPs) são alguns dos temas abordados no livro.

TeVê

TELEMANIA - TV paga
Estado de Minas: 03/05/2014


 (Downtown/Divulgação )

Noite de comédias

Os dois principais lançamentos do pacote de filmes deste sábado são de um mesmo gênero: a comédia. Uma das novidades é O concurso (foto), de Pedro Vasconcelos, com Danton Mello, Fábio Porchat, Rodrigo Pandolfo, Anderson Di Rizzi, Carol Castro e Sabrina Sato, às 22h, no Telecine Premium. No mesmo horário, a HBO estreia Sete psicopatas e um shih tzu, com Michael Pitt, Sam Rockwell, Colin Farrell, Michael Stuhlbarg, Abbie Cornish e Christopher Walken.

Muitas alternativas na
programação de filmes

O cinema nacional está em cartaz em outras quatro emissoras: Tolerância, às 21h, no AXN; e mais Deus é brasileiro, no Canal Brasil; Tati, a garota, no Futura; e Sal de prata, no Sony Spin, todos às 22h. Na mesma faixa das 22h, o assinante tem mais oito opções: Cães de aluguel, no TCM; Argo, na HBO 2; Imagine, no Max; Se beber, não case!, na Warner; Garota infernal, no Telecine Action; Identidade, na MGM; O assassino da internet, no A&E; e O otário, no Comedy Central. Outras atrações da programação: Eu os declaro marido e… Larry!, às 19h50, no Megapix; Capitão América – O primeiro vingador, às 22h30, na Fox; e As grandes manobras, às 23h30, no Arte 1.

History reprisa a saga
do casal Bonnie & Clyde

O canal History reprisa hoje a minissérie Bonnie & Clyde, com todos os episódios exibidos em sequência a partir das 21h. No canal Fox, bem cedo, às 11h45, será exibido o último episódio da quinta temporada de White collar.

NatGeo entra em campo
com a Seleção Brasileira

No NatGeo, duas novidades. Aproveitando a proximidade da Copa do Mundo, o canal estreia, às 22h30, a série 100 anos de Seleção Brasileira, dirigida pelo jornalista Mauro Beting e que será apresentada em cinco episódios de uma hora, com a participação de jogadores que fizeram história. Às 23h15, é a vez de Jogos numéricos, em que o cientista Jake Porway mostra como a matemática está por trás de tudo nesta vida.

Em festa do Discovery,
o barato nunca sai caro

Organizar festas estilosas com gasto mínimo. Esse é o desafio proposto pelo reality show Caçadores de descontos, que estreia às 19h, no Discovery Home & Health. A apresentadora Kristan Cunningham, que é designer de interiores, terá a missão de decidir qual dos dois participantes fez melhor uso dos US$ 200 que recebeu da produção para fazer a festa no prazo de 48 horas.

TV e internet transmitem
show do Dia do Sertanejo

Na parte musical, um dos destaques é a presença da cantora fluminense Juçara Marçal no programa Cultura livre, apresentado por Roberta Martinelli, às 18h, na TV Cultura. No Multishow, às 19h30, será transmitido ao vivo, diretamente de Sorocaba, a festa do Dia do Sertanejo, com os cantores Cristiano Araújo e Luan Santana e as duplas Henrique & Juliano e João Neto & Frederico, com cobertura simultânea pela web, no site www.multishow.com.br.

Caras & Bocas

Simone Castro - simone.castro@uai.com.br


Timóteo vai soltar o verbo

O quadro “Elas querem saber”, do Programa Raul Gil, recebe neste sábado, no SBT/Alterosa, o polêmico Agnaldo Timóteo. O cantor será colocado na parede com perguntas picantes feitas por Thammy Miranda, Val Marchiori, Dani Bolina e Penélope Nova, sob o olhar atento de Raul Gil. Agnaldo revelou que saiu de casa aos 16 anos, que não tem diploma nem do primário – “aprendi pelo mundo” – e expôs suas opiniões sobre homossexualismo. “A natureza nos dá o livre-arbítrio do que queremos ser”, afirma. E completa: “Escolho a pessoa que quer me dar a alegria da companhia”. Para ele, “não existe casamento gay e sim união estável”. Agnaldo falou também sobre a filha que morreu aos 8 anos, se declarando “um pai canalha”, e avisou que vai voltar a vender CD em praça pública, “primeiro para ficar próximo do público; e segundo para mostrar às gravadoras que elas são canalhas”. E se proclamou: “O melhor cantor romântico do Brasil sou eu”.

TRANSMISSOR LANÇA CD
HOJE NO ALTO-FALANTE


O Alto-falante vai mostrar em primeira mão, hoje, às 17h, na Rede Minas, o novo disco da banda Transmissor, De lá não ando só. É o terceiro disco do grupo mineiro, produzido por Carlos Eduardo Miranda. O lançamento será dia 9. No programa, três músicas e um vídeo que vai direto para a internet. A atração destaca ainda a banda norte-americana Midlake. E na “Enciclopédia do rock”, Adriano Falabella relembra uma de suas bandas prediletas, Gentle Giant.

REGINA DUARTE FALA DA
CARREIRA NO CANAL GNT


O Marília Gabriela entrevista deste domingo, às 22h, no GNT (TV paga), recebe a atriz Regina Duarte, falando da carreira e da vida pessoal. Já o De frente com Gabi, também amanhã, à meia-noite, no SBT/Alterosa, entrevista o ator André Bankoff.

GLOBO DEFINE O TÍTULO
DE SUA PRÓXIMA NOVELA


Falso brilhante, que era título provisório, acabou sendo escolhido como nome definitivo da novela de Aguinaldo Silva que substituirá Em família (Globo). A estreia, que ainda não tem uma data marcada, deve ser em agosto.

EMISSORA REFORMULA
O ELENCO DE MALHAÇÃO


Léo Jaime e Sérgio Marone estão confirmados na próxima temporada de Malhação. Os detalhes dos personagens não foram divulgados. Léo Jaime também volta à cena em Amor & sexo, previsto para o segundo semestre.

SAUDADES DE ELIS

“Em uma dessas subidas, bem abraçado a ele, mirei o final da escada lá no alto e pensei: ela podia estar lá nos esperando... Seria tão bom abraçá-la, vê-la tocar o seu neto, falar das coisas do dia a dia.” Esse é o relato, com palavras cheias de saudade, do produtor musical João Marcello Bôscoli, que lembra a mãe, Elis Regina, abraçado ao filho Arthur, de 2 anos e meio, da relação com a apresentadora Eliana. Ele escreveu o texto inédito especialmente para a edição de maio da revista Crescer, em homenagem ao Dia das Mães. No texto bastante emotivo, João Marcello fala da saudade de poder tocá-la e de como seria bom vê-la brincar com o neto. Ele revela como descobriu em seu filho o mesmo “mar revolto” da mãe, uma constatação de que Elis está ali, sempre junto. Um conselho de avó para neto? Segundo o filho, “ela diria para Arthur viver intensa e plenamente cada fase de sua vida”.

PLATEIA

VIVA - Flávia Freire se despediu do Bem estar (Globo) ontem. Mariana Ferrão voltou da licença maternidade e reassumiu o posto. Flávia se mostrou ótima apresentadora.

VAIA - A anunciada despedida do ótimo Doce de mãe (Globo), cujo penúltimo episódio foi ao ar anteontem. É uma pena que atrações de qualidade durem pouco na TV.