domingo, 26 de outubro de 2014

A nossa juventude - Martha Medeiros

A nova juventude - Zero Hora 26/10/2014






O que não falta é frase satirizando a primeira etapa da vida. Exemplo: A juventude é um defeito facilmente superável com a idade. Outro: A juventude é uma coisa maravilhosa, pena desperdiçá-la em jovens. Quem ultrapassou essa fase dourada hoje olha para ela com certo desprezo. Não de todo equivocado: a maturidade, de fato, se não é nosso período mais fértil, certamente é o mais sabido. Algum benefício tinha que trazer essa tal passagem do tempo.
No entanto, em vez de fazer coro com a soberba habitual dos maduros, vale dar uma espiada mais generosa para a garotada. Afora os neorretardados que proliferam nas redes esbanjando pobreza de espírito, a geração atual tem uma postura mais humanizada em relação a questões importantes da vida. Vale a pena escutá-los.
O tema da homossexualidade, ainda debatido à exaustão na mídia, já saiu de pauta entre os adolescentes. Nada mais natural do que meninos e meninas namorarem parceiros do mesmo sexo. Ser favorável ou desfavorável à causa gay? Concordo com eles: chega a ser constrangedor a gente se declarar a favor ou contra o que não nos diz respeito. É muita arrogância.
Quanto à busca por uma profissão, mudanças visíveis também. O dinheiro continua sendo uma preocupação, mas já não ocupa o topo das paradas. O que se deseja é fazer diferença para a sociedade, trabalhar no que se gosta, personalizar sua atuação, deixar marcada uma ideia, uma consciência, um caminho diferente, um novo olhar. Nem que para isso se invente uma profissão que nunca existiu, que se formalizem atividades que antes não eram consideradas. Estudar segue fundamental, mas a sequência colégio-vestibular-faculdade vem ganhando bifurcações. Se a felicidade não estiver na vida sólida e estável que os pais sonharam, paciência. Os sonhos dos velhos terão que se adaptar a uma realidade menos regrada.
Sim, ainda existem os adolescentes convencionais, que sonham com casamentos convencionais e empregos convencionais e que querem enriquecer, consumir e ser “alguém”. A diferença é que esse “alguém” padrão, que se amparava em hierarquias para estabelecer juízos de valor, não representa o jovem moderno que quer construir uma sociedade mais horizontalizada. A noção de riqueza está mudando de foco: ir para o trabalho de bicicleta pode dar mais status a um profissional do que conquistar uma vaga no estacionamento reservado aos patrões.
Outro dia falava sobre tatuagens com duas garotas e me peguei aplicando o velho discurso a respeito do cuidado que elas deveriam ter antes de tomar decisões definitivas. Foi quando me dei conta de que até o definitivo mudou de configuração. Elas não veneram o “pra sempre” – o que acho ótimo, mas então por que fazer uma tatuagem? Simplesmente para homenagear uma etapa da vida. Não haverá arrependimento se o assunto não for levado com tanto drama. Tatuagem deixou de ser uma condecoração vitalícia. Nada mais é vitalício.

Basta que seja sustentável.

Depressão - Eduardo Almeida Reis

Depressão

Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 26/10/2014


Sempre que escrevo “o brasileiro” não me refiro a todos os patrícios e patrícias, mas só a 95% deles sem a chatura da explicação que os locutores nos davam quando falavam das pesquisas eleitorais. Isto posto, devemos todos convir que o brasileiro (95%) entende de uma porção de assuntos e tem solução para quase tudo: futebol, trânsito, clima, depressão...

Ninguém se acanha de falar sobre depressão, já porque passou pelo problema, já porque conhece gente deprimida. É do conhecimento universal que cavalheiros e damas ilustres vivenciaram o “cão negro” da depressão, expressão popularizada por ninguém menos que Winston Churchill. O distúrbio psíquico que se exprime por períodos duráveis e recorrentes de disforia, concomitantemente com problemas reais ou imaginários ou com experiências momentâneas de sofrimento, podendo ser acompanhado de perturbações do pensamento, da ação e de um grande número de sintomas psiquiátricos, não deve ser confundido com a tristeza. Tristes ficamos com a derrota do nosso time de futebol, mais tristes ainda quando nosso time cai para a Segunda Divisão e muito mais tristes com a perda de pessoas queridas. Tristezas são normais e louváveis; depressão é outro departamento.

Contudo, no Brasil de 2014 há outro sentimento justificado, que se confunde com a depressão. É a constatação do estado a que chegou este país: crescimento zero, violência nunca vista, roubalheira inacreditável, falência múltipla dos órgãos do governo com reflexos imediatos em todos os seus cidadãos, índice de Gini, IDH – tudo! Muito doente, no caso, é o brasileiro que não fica triste, ressalvados aqueles que roubaram adoidado e têm passaportes europeus “pensando nos filhos”, como disse a galega casada com o carismático.

Hotelaria
Depois de 10 meses de reformas e expansão, foi reaberto em Paris o Plaza Athénée, hotel que o jornalista Lauro Diniz, mineiro de Paraopeba, chama carinhosamente de Plazá, pronúncia correta ensinada por sua Danielle. Depois de passar dois dias hospedado na Pensão da Bá, em Conceição do Mato Dentro, jurei nunca mais opinar sobre hotéis e hotelaria, mas me dizem que o hotel parisiense é merveilleux, tem o Dior Institut, um spa da Dior, e dois restaurantes Ducasse, um deles horrível, com seus bancos redondos espelhados, decoração que faria feio até em Nova Iguaçu (RJ).

Os funcionários são treinados para agradar aos hóspedes e os preços são compatíveis com os petistas e os diretores da Petrobras. O Plazá pertence ao filho de Al-Marhum Kebawah Duli Yang Maha Mulia Maulana Paduka Seri Begawan Sultan Haji Omar Ali Saifuddien Saadul Khairi Waddien Ibni Al-Sultan Muhammad Marhum Jamalur Alam II, isto é, pertence ao sultão Haji Hassanal Bolkiah Mu'izzaddin Waddaulah ibni Al-Marhum Sultan Haji Omar Ali Saifuddien Sa'adul Khairi Waddien, nascido em 1946, educado na Royal Military Academy Sandhurst (RMAS), da Inglaterra, e apita no Brunei, país asiático de 5.765 quilômetros quadrados e 400 mil habitantes, no qual se fala malaio e há gás e petróleo para dar e vender. Seu palácio tem mil quartos e a coleção de automóveis mais de mil veículos padrão Mercedes pra cima. A renda per capita é de US$ 51 mil, a 5ª do mundo, e o IDH 0,852, muito alto, o 30º do planeta.

O sultanato do Brunei, que data do século 14, tem o seu lado brasileiro. Em 1998, o príncipe Jefri Bolkiah, irmão caçula do sultão, foi afastado das empresas estatais por má administração e corrupção com a falência da estatal Amedeo Development Corporation, prejuízos de US$ 15 bilhões e 23 mil desempregados. O sultão, um dos homens mais ricos do mundo, viu sua fortuna cair de US$ 40 bilhões para US$ 10 bilhões, mas ainda lhe resta uma côdea de pão e um pouco de manteiga para lhe barrar por cima. Processou o irmãozinho, que desde 2004 vive no exílio.

O mundo é uma bola
26 de outubro de 1769: alvará português proíbe as devassas sobre os concubinatos, no que faz muito bem. A união livre entre um homem e uma mulher não casados foi feita para ser vivida, não devassada. Em 1905, reconhecimento da independência da Noruega pela Suécia.

Em 1909, nascia Afonso Eduardo Reidy, brilhante arquiteto brasileiro, padrão Niemeyer e Gustavo Penna. Em 1916, nasceu François Mitterrand, ex-presidente francês. Sua viúva adorava Belo Horizonte e Itabirito, onde tinha bons amigos. Dizem que era mais esquerdista que o marido, cavalheiro que, por sua vez, teve uma filha fora do casamento, talvez inspirado no alvará português de 1769, que proibia as devassas sobre os concubinatos.

Em 1919, nasceu Mohammad Reza Pahlavi, último xá do Irã: tinha o aplomb que falta aos aiatolás sanguinários. Em 1942, nasceu Milton Nascimento, grande compositor e cantor brasileiro. Sempre achei que o Bituca fosse mineiro, mas vejo na Wikipédia que ele nasceu no Rio.

Em 1947, nasceu Hillary Clinton, mulher de Bill, ex-primeira-dama dos EUA e mãe de Chelsea, que é vegana e vem de lhe dar uma neta. Hoje é o Dia do Trabalhador da Construção Civil.

Ruminanças
“Os que vencem, seja lá de que modo, nunca disso se envergonham” (Maquiavel, 1469-1527). 

EM DIA COM A PSICANáLISE » Trilhamentos do desejo

Regina Teixeira da Costa
reginacosta@uai.com.br
Estado de Minas: 26/10/2014 



“Na medida em que o homem é apanhado na dialética significante, há alguma coisa que não funciona... Há resíduo, portanto. Como se apresenta ele?... como se apresenta este para além...? A experiência prova que ele se apresenta. E é isso que chamamos desejo.” Jacques Lacan, 1958.

Nas formações do inconsciente temos o desejo recalcado, esquecido, buscando uma via de acesso ao consciente. Nessas formações, o que se apresenta da ordem do desejo se faz passar de algum modo.

Há, então, trabalho psíquico, que se dá pelas operações que franqueiam o caminho do que se forma, de-formando-se; fazendo trilhas, cavando pegadas na estrutura de linguagem do inconsciente.

Nas formações, o recalcado retorna pelos trilhamentos no sintoma, no ato falho, no lapso, no chiste (dito espirituoso, piada), no sonho, na transferência, nos apontando a ética de nossa prática clínica, que é aquela de nos orientarmos pelo que nas marcas e nas trilhas se revela como causa de desejo.

Há também outro ponto crucial para a psicanálise, que é a formação do analista. Esta implica em um longo percurso de elaboração pelas formações do inconsciente, posto que o analista é produzido em sua análise no trabalho com essas operações.

Lacan escreveu, no seminário sobre a angústia, que abordar o desejo é empreitada nada insignificante e que essa empreitada não se realiza num único passo.

A 19ª Jornada do Aleph – Escola de Psicanálise pretende abordar a complexidade das questões relativas aos trilhamentos do desejo nas formações do inconsciente. Um trabalho de muitas voltas por meio da interlocução que abre a elaboração de alguns pontos e ao mesmo tempo relança outros, sempre na lógica de um saber a se concluir. Como no movimento próprio do desejo, que, ao passar, não se realiza, mas relança-se continuamente, produzindo suas marcas.

Este é o convite feito pela Comissão da Jornada, formada pelos psicanalistas José Eugênio de Carvalho Gomes, Maria Inez F.L de Figueiredo, Regina Bueno Guerra, Sandra de Faria Pujoni (coordenação), Sílvia G. Myssior e Valéria S. Brasil.

Recomendo para quem quer saber um pouco mais sobre o desejo inconsciente, que não tem nada a ver com vontades ou mesmo caprichos. Saber mais sobre o desejo conduz o sujeito a lugares antes insuspeitados.

19ª JORNADA DO ALEPH  ESCOLA DE PSICANÁLISE
Dias 7 e 8 de novembro. Museu Inimá de Paula, Rua da Bahia, 1.201, Centro. Informações: Secretaria do Aleph – Escola de Psicanálise, Rua Ceará, 1.431, sala 1.205, Funcionários, (31) 3281-9605.
 E-mail: aleph.psicanalise@terra.com.br e www.aleph.psc.br.