sexta-feira, 9 de maio de 2014

TeVê

TV paga

Estado de Minas: 09/05/2014



 (Backup Films/Divulgação)

Bom cinema


Além da estreia da comédia A seleção, com Paul Rudd e Tina Fey, às 22h, no Telecine Premium, o pacotão de cinema desta sexta-feira reserva uma ótima surpresa: a produção tailandesa Mal dos trópicos (foto), também às 22h, na Cultura. O filme conta a história de um casal homossexual e sua misteriosa relação com a selva do Nordeste da Tailândia, um lugar quente e úmido onde todos os acontecimentos são regidos com regras próprias, o tempo é mágico e o amor feliz e sem complicações.

Uma seleção especial para o Dia das Mães


No Universal Channel, a programação especial de Dia das Mães vai de hoje a domingo, começando esta noite com O diário de Bridget Jones (19h30), Bridget Jones: no limite da razão (21h35) e O casamento do meu melhor amigo (23h30). Na faixa das 22h, o assinante tem mais quatro boas opções: A Via Láctea, no Canal Brasil; 007 – Operação Skyfall, no Telecine Action; Cavalo de guerra, no Telecine Touch; e Um golpe perfeito, na HBO 2. Outras atrações da programação: O leão de 7 cabeças, às 21h30, no Arte 1; Busca implacável, às 22h30, no Megapix; e Miami Vice, também às 22h30, no FX.

Bob Partington parece cria do Professor Pardal


O canal History estreia hoje, às 22h, Traquitanas do Bob, série sobre invenções ao estilo Professor Pardal, mostrando o que pode surgir da interação entre objetos comuns e um homem muito criativo. Bob Partington é o nome dele. A cada semana ele recebe três objetos e sua tarefa é usá-los em divertidas invenções. Logo de cara Bob recebe uma caixa de objetos aparentemente aleatórios e com sua equipe usa esses itens para bolar engenhocas como um refrigerador de latas de cerveja e um suspensório para carregar baterias de celular.

Evangélicos se isolam  em vila na Ilha Grande


O Sala de notícias, do canal Futura, apresenta hoje, às 14h35, o documentário Vila de Provetá, de Susanna Lira, sobre uma comunidade evangélica que vive isolada em Ilha Grande (RJ). No SescTV, às 21h, a série Dança contemporânea apresenta o especial Sobre expectativas e promessas, de Alejandro Ahmed, do Grupo Cena 11. No canal Curta!, às 23h, vai ao ar a primeira das três partes de Arquitetura da destruição, do cineasta sueco Peter Cohen, falando sobre o uso da arte e da estética pela Alemanha nazista.

Leão vai esta noite ao  Coletivation, da MTV

O apresentador Gilberto Barros, que comanda o programa Sábado total, na RedeTV!, é o convidado de Patrick Maia e Kéfera hoje no Coletivation, às 20h, na MTV. Vai contar por que ficou tanto tempo afastado da televisão e participar do quadro “De quem é esse bigode?”. Na brincadeira, Leão, como é também conhecido, vê algumas fotos de bigodes famosos e adivinha quem é seu respectivo dono.


CARAS & BOCAS » Paixão instantânea
Simone Castro



Verônica (Taís Araújo) vai encontrar um novo amor em Geração Brasil (João Cotta/Globo)
Verônica (Taís Araújo) vai encontrar um novo amor em Geração Brasil

É bater e valer. Ou não fosse a trama de Geração Brasil (Globo) tão rápida quanto um tweet. É assim que Jonas Marra (Murilo Benício) vai se apaixonar por Verônica (Taís Araújo) nos próximos capítulos da novela. E, ao que parece, sobrará muito pouco tempo para apagar toda a relação com a ex Pamela Parker (Cláudia Abreu). O primeiro encontro entre eles, logo depois da volta do magnata ao Brasil, será durante uma feira de tecnologia. Jonas terá um problema e Verônica o ajudará. Resultado: não conseguirá mais tirá-la da cabeça. Tudo começa quando, com a ajuda de seu assessor (Arlindo Lopes), ele convida Verônica para cobrir um evento de gala, em que será homenageado. Ela arrasará no visual. Depois disso, ele próprio ligará para a jornalista convidando-a para conhecer as instalações da Marra Brasil. Verônica ficará sem chão, não sabendo exatamente como agir, pois já está igualmente mexida pelo bonitão. No local, Jonas fará questão de mostrar cada espaço, cada detalhe, mas na hora de apresentar a sala dos servidores... eles ficarão presos por um sistema de segurança. Jonas começará a sentir falta de ar por conta do ambiente fechado e a moça tentará ajudá-lo. “Calma... Tem muito ar aqui ainda, ô...”, diz ela, ao soprar no rosto de Jonas. Que relax! Quando ele abre os olhos, os dois estão quase encostando o rosto um no outro. E rola o maior clima! Mas, será que Pamela desistirá tão facilmente do maridão?

GLOBO CIDADANIA TRAZ ASSUNTOS DIVERSIFICADOS

Com um pacote de reprises de programas que foram exibidos no ano passado, o Globo cidadania deste sábado celebra o Pantanal e mostra como uma universidade atua em sua preservação; trata do ensino especial e traz exemplos de escolas que descobriram como lidar com alunos com autismo; acompanha avanços na indústria tecnológica para apresentar sucessores para os CDs, pen drives e HDs; aborda a música clássica com histórias de jovens talentos e no Globo ecologia tem como tema a água, viajando à Serra da Canastra, em Minas Gerais, para entender a importância da preservação das nascentes de nossos rios.

MUNDO COR-DE-ROSA JÁ TEM HORA PARA ACABAR


Juliana (Vanessa Gerbelli) pensa estar vivendo os melhores dias da vida na trama de Em família (Globo). Ela tem Bia (Bruna Faria), a criança por quem sempre foi louca, e o marido, Jairo (Marcello Melo Jr.), pai da menina, e de quem está grávida. Afinal, seu maior sonho, o de gerar um filho, está prestes a ser realizado. Mas, como fez coisas no passado, ele virá assombrá-la nos próximos capítulos. Juliana será acusada por uma monitora da escola de Bia de ter assassinado a mãe dela, Gorete (Carol Macedo), que era empregada doméstica da tia de Helena (Júlia Lemmertz), para ficar com a menina. A ex-mulher de Nando (Leonardo Medeiros) ficará apavorada. O telespectador deve se lembrar de que Gorete foi atropelada, ficou entre a vida e a morte, mas já estava se recuperando, quando Juliana entrou no hospital sorrateiramente. A impressão que passou é que ela fez alguma coisa com a jovem. O fato é que Gorete morreu e uma testemunha sabe que Juliana foi a última pessoa a visitá-la. Ninguém menos que o médico que atendia a moça. A questão virá à tona quando Juliana se irritar com a monitora da escola porque deixou a avó de Bia, Iolanda (Magdale Alves), levá-la. E ouvirá o que não quer: não é mãe de Bia e só ficou com ela depois que Gorete morreu. “Já ouvi até alguém dizer que você matou a Gorete!”. Juliana ficará desesperada.

GAME OF THRONES BATEU MAIS UM RECORDE NA HBO

A série Game of thrones, exibida no canal HBO (TV paga), bateu um novo recorde de audiência, domingo, nos Estados Unidos, segundo as informações das revistas Variety e The Wrap. Foi ao ar o quinto episódio da quarta temporada. Segundo dados divulgados pela Nielsen, responsável pela medição de audiência nos Estados Unidos, 7,155 milhões de pessoas acompanharam a transmissão do episódio. Somando às reprises, um total de 8,6 milhões de telespectadores assistiram à atração. Até este quinto episódio, foi uma média de 17,8 milhões de espectadores por capítulo, o que significa aumento de 24% em relação à terceira temporada, que registrou média de 14,4 milhões. O episódio de estreia desta quarta temporada foi visto por 6,64 milhões de fãs do programa.

ENTRE OS BELOS

Félix (Mateus Solano) e Niko (Thiago Fragoso) trocaram um beijo no último capítulo de Amor à vida (Globo), exibido em 31 de janeiro. E sabe onde a cena foi parar? No Instagram oficial da cantora Beyoncé. A imagem, postada anteontem, aparece numa montagem de outras fotos e clipes enviados pelos internautas que aderiram em cheio à campanha da estrela no que chamou de “What’s pretty?” (“O que é lindo?”, em tradução livre). Os seguidores de Beyoncé puderam externar a opinião no site Whatspretty.com, compartilhando uma imagem do que eles consideram como belo. E lá estava o beijo dos atores, que marcou o primeiro entre homens exibido na Globo e numa novela das nove!. Entre comentários dos fãs brasileiros, está “Félix arrasa até aqui”.

VIVA

Quem acompanha a série norte-americana Revenge, exibida no Sony (TV paga), já percebeu que a atração tomou um fôlego e tanto nesta temporada. Os últimos episódios estão com tudo!

VAIA
O que começou bem já parece ter desandado. De tanta enrolação, o envolvimento entre Luiza (Bruna Marquezine) e Laerte (Gabriel Braga Nunes), na trama de Em família, perdeu o gás e a graça.

Cala-se o vozeirão - Eduardo Tristão Girão

Cala-se o vozeirão 
 
Jair Rodrigues, que morreu ontem aos 75 anos, fez o samba conversar com a MPB, criou o primeiro rap nacional e foi da bossa ao sertanejo sem perder a personalidade 
 
Eduardo Tristão Girão
Estado de Minas: 09/05/2014


Com sua voz potente e jeito absolutamente alegre, Jair Rodrigues emprestou sua voz cheia de personalidade a vários sucessos (Jair Rodrigues/Divulgação  )
Com sua voz potente e jeito absolutamente alegre, Jair Rodrigues emprestou sua voz cheia de personalidade a vários sucessos


No meio da tarde, há pouco mais de um mês, Jair Rodrigues, de 75 anos, atende ao telefone: “Salve, gente boa!”, saudava o cantor. Estava alegre por divulgar aquele que seria seu último álbum, o duplo Samba mesmo. Parece até que sua morte, na manhã de ontem, em sua casa em Cotia, na Grande São Paulo, era de alguma forma pressentida: os dois discos reúnem exclusivamente músicas que ele nunca havia gravado, apesar de sempre cantá-las em shows e entre amigos. Aliás, interpreta uma delas com os filhos, Jair Oliveira e Luciana Melo.

Noel Rosa, Martinho da Vila, Cartola, Waldick Soriano, Lamartine Babo, Ary Barroso, entrou de tudo um pouco no derradeiro repertório, bem ao estilo do cantor, que circulou livre pela MPB ao longo de sua produtiva carreira. Com sua voz potente e jeito absolutamente alegre, emprestou sua voz cheia de personalidade a vários sucessos, desde cedo cativando público e parceiros, como a cantora Elis Regina, com quem gravou discos e apresentou o programa de TV O fino da bossa, em 1965.

A essa altura, o artista foi alçado definitivamente ao posto de estrela, embora já viesse lançando discos e fazendo um bom barulho antes. Melhor exemplo disso é sua gravação de Deixa isso pra lá (Alberto Paz e Edson Menezes). A maneira “falada” com que a letra era interpretada e os movimentos que fazia com as mãos não apenas tornaram a canção muito popular em sua voz, como também fizeram com que fosse considerada por muitos, mais tarde, espécie de precursora do rap nacional.

Jair Rodrigues, com sua figura carismática, percebeu desde cedo o potencial da televisão. Além do programa com Elis Regina, que exibia química perfeita entre os artistas, suas aparições em outras atrações eram sempre espontâneas e fugiam ao padrão excessivamente engessado do novo meio, ainda em busca de uma linguagem própria. Jair evoluiu com a TV e ajudou o veículo a se entender com a área de shows e espetáculos. Sua postura simpática fez dele um dos intérpretes mais destacados da era dos festivais da canção.

Com a Pimentinha, sua carreira deslanchou. Ao lado de Elis, gravou três volumes para a série Dois na bossa – no primeiro, lançado em 1965, cantaram músicas como Arrastão, Menino das laranjas e um pot-pourri recheado com composições como O morro não tem vez, O sol nascerá e A voz do morro. O disco chegaria à marca extraordinária de 1 milhão de cópias vendidas. Um ano depois, ao defender Disparada (Geraldo Vandré e Théo de Barros) no 2º Festival de Música Popular Brasileira, dividiu o primeiro lugar com Nara Leão, que cantou A banda (Chico Buarque).

O pai orgulhoso entre os filhos Jair Oliveira e Luciana Mello   (Jair Oliveira/Divulgação  )
O pai orgulhoso entre os filhos Jair Oliveira e Luciana Mello


Disparada

A antológica interpretação para Disparada fez da composição um de seus grandes sucessos. Pelo fato de Rodrigues sempre ter cantado sambas, os versos sertanejos (e de protesto) chamaram a atenção do público e abriram caminho para que ele ampliasse seu repertório naquela direção. Não por acaso, cantou tremendos sucessos caipiras, como A majestade, o sabiá, de Roberta Miranda. Em 1991, chegou a lançar Lamento sertanejo, disco só com composições do gênero, incluindo outra de Roberta, Caminhos.

O cantor também contribuiu significativamente para estabelecer conexão entre o samba e a MPB, ajudando a aproximar intérpretes e compositores das duas “praias” e alinhando tudo com sua interpretação personalíssima. Seu trânsito entre os sambistas continuou desimpedido e em 1971 ele gravou outro de seus maiores sucessos, Festa para um rei negro (no disco homônimo), samba-enredo da escola de samba carioca Acadêmicos do Salgueiro. Quem nunca ouviu “Ô lê lê, ô lá lá / pega no ganzê / pega no ganzá”?

O garoto nascido em 1939 em Igarapava, no interior paulista, começou cantando na igreja, trabalhou como engraxate, mecânico, servente de pedreiro e ajudante de alfaiate. Agora, despede-se dos fãs que conquistou pelo Brasil e em turnês internacionais, deixando farta discografia (são mais de 40 títulos) e a certeza de que o samba continua a sorrir. Jair Rodrigues deixa a mulher, Clodine, dois filhos (Jairzinho e Luciana Mello) e quatro netos.

Despedida


Com 26 canções que Jair Rodrigues nunca havia gravado em 55 anos de carreira, os dois discos que compõem Samba mesmo são uma despedida e tanto do veterano da MPB. A ideia de ter somente músicas que ele nunca havia gravado veio do filho, que ele gentilmente chama de “grande mestre” no encarte do CD. A primeira vez em que trabalharam juntos foi em 1999, quando Oliveira produziu e dirigiu o álbum 500 anos de folia, gravado ao vivo e com participação de orquestra.

Mesmo que nunca tivessem sido gravadas antes pelo cantor, as músicas escolhidas são velhas conhecidas do público. Fita amarela, Na cadência do samba, Luz negra, No rancho fundo, É, De volta pro aconchego, Volta por cima, Trem das onze, A noite do meu bem e O mundo é um moinho são algumas delas. Só com violão, cavaquinho, sopros e percussão (sem baixo, bateria nem teclado), os álbuns tiveram participação de nomes de peso da cena instrumental, como Swami Jr. (violão) e Nailor Proveta (sopros).

Em março, em entrevista ao Estado de Minas, o cantor contou que estava feliz e ansioso para ir para a estrada fazer os shows de Samba mesmo, ainda que “reduzindo a marcha”. “O público não verá o Jair que pula e planta bananeira. Mesmo os sambões, fiz em formato bem mais tranquilo.”

Nos anos 1960, Jair e Elis fizeram parceria que chegou à TV e vendeu 1 milhão de discos (Arquivo EM  )
Nos anos 1960, Jair e Elis fizeram parceria que chegou à TV e vendeu 1 milhão de discos


No caminho do pai

Os dois filhos de Rodrigues, Jair Oliveira e Luciana Mello, cedo deram os primeiros passos na cena musical. Ambos integraram o grupo Turma do Balão Mágico, nos anos 1980. Oliveira foi estudar música nos Estados Unidos e tornou-se produtor experiente, tendo lançado vários álbuns solo. Praticamente junto com o pai, lançou este ano Jair Oliveira 30, DVD ao vivo com o qual comemora três décadas de carreira compromissada com a música brasileira.

Já Luciana fez sua estreia solo aos 16 anos, com o disco Luciana Rodrigues. O segundo trabalho, Assim que se faz (2000), com o irmão como produtor musical, foi um dos seus mais bem-sucedidos, tendo a faixa-título como música de trabalho – a parceria com Oliveira continua ainda hoje. Com seu pop brasileiro e cheio de balanço, a artista também emplacou sua voz em filmes e novelas.

Parceiro da Trama

A gravadora Trama, que entre as décadas de 1990 e 2000 investiu num grupo de músicos então em início de carreira – a chamada geração Trama, de nomes como Otto, Max de Castro, Fernanda Porto e Rappin’ Hood –, também trabalhou ativamente com Jair Rodrigues. O cantor, sempre aberto à renovação, se deu bem com a turma, da qual faziam parte seus filhos Jair e Luciana. Pelo selo foram lançados alguns álbuns ao vivo, como 500 anos de folia – volumes 1 e 2, e o DVD do programa Ensaio, gravado em 1991 na TV Cultura.

Foi o filho quem produziu, por exemplo, Intérprete (2002), disco que terminou com um jejum de quatro anos sem lançar um disco de estúdio. Neste álbum, regravou pérolas da música brasileira dos autores Noca da Portela, João Bosco, Aldir Blanc, Gonzaguinha, Edu Lobo e Vinicius de Moraes, todas então inéditas em sua voz. E ainda gravou com Lobão e Wilson Simoninha, bem como com os filhos. Até o fim da gravadora – a Trama atua hoje principalmente como estúdio –, Jair ainda lançou álbuns como A nova bossa (2004) e Em branco e preto (2008). 

...ainda mais sem você, Jair

Dono de voz e sorriso marcantes, Jair Rodrigues morreu aos 75 anos, em Cotia, na Grande São Paulo, vítima de infarto. O falecimento do cantor, que tinha vários shows marcados para divulgar seu novo álbum, Samba mesmo, surpreendeu os fãs e os filhos, Luciana Mello e Jair Oliveira. O enterro está marcado para as 11h de hoje, no Cemitério Gethsemani, no Morumbi. Filho da bossa nova e pai do rap brasileiro, o cantor iniciou a carreira nos anos 1950, mas foi nos programas de TV da década seguinte que seu talento e sua simpatia conquistaram o país. De presente, deixa memoráveis duetos com a amiga Elis Regina e outros momentos antológicos da MPB, como a interpretação de Disparada.    (Ilustração: Quinho)



LUTO » Infarto mata Jair Rodrigues Cantor, encontrado morto ontem dentro da sauna em casa, fez o último show na terça-feira, em São Lourenço (MG)


Estado de Minas: 09/05/2014



Velório do artista é realizado na Assembleia Legislativa de São Paulo (Maurício Camargo/ELeven/EstadÃO  CONTEÚDO)
Velório do artista é realizado na Assembleia Legislativa de São Paulo

São Paulo – O cantor Jair Rodrigues morreu na manhã de ontem, aos 75 anos, vítima de infarto do miocárdio. Ele foi encontrado morto na sauna de sua casa, em Cotia (SP). Funcionários dele perceberam que ele demorava muito a deixar a sauna e o encontraram caído no chão. O velório do cantor está sendo realizado na Assembleia Legislativa de São Paulo e o enterro será hoje, às 11h, no Cemitério Getsêmani. Nascido em Igarapava, em 6 de fevereiro de 1939, Jair começou a carreira nos anos 1950. Na infância e na adolescência, trabalhou como engraxate, mecânico, ajudante de alfaiate e pedreiro.

Segundo uma das empregadas, ele foi dormir normalmente na noite da quarta-feira. A funcionária não quis informar se ele estava sozinho em casa. “Está todo mundo desesperado, porque ninguém esperava por isso”, disse ela. Iraci dos Santos, amiga da família, informou que seu filho Alex Dorival, afilhado de Jair, estava na casa do cantor na noite de quarta-feira. Jair se despediu dele e foi para a sauna, às 22h.

Jair Rodrigues se despediu dos palcos e da música na terça-feira, com uma apresentação em São Lourenço, no Sul de Minas. Segundo o organizador do show, Daniel Moura, Jair cantou e dançou por mais de uma hora, demonstrando a típica alegria e vitalidade. “Durante a apresentação, ele fez uma homenagem à amiga Elis Regina, morta em 1982, e, antes de interpretar um dos maiores sucessos dela, Romaria, ele parecia ‘conversar’ com a amiga como se ela estivesse no palco: ‘Olha, Pimentinha, manda um abraço para São Pedro, porque eu não estou com pressa’”, disse o empresário. O show aconteceu durante o 32º Encontro da Feliz Idade, no Hotel Guanabara, reunindo 1,4 mil pessoas de 153 cidades e 14 estados. Ontem, ele faria um show em Praia Grande (SP).

REPERCUSSÃO A presidente Dilma Rousseff lamentou, em nota oficial, a morte do cantor Jair Rodrigues. “É com sentimento de profunda tristeza que recebo a notícia da morte do cantor Jair Rodrigues, na manhã desta quinta-feira. Não há como esquecer o entusiasmo e alegria contagiantes desse artista completo, talentoso e profundamente identificado com o coração do povo brasileiro”, afirmou a presidente Dilma. João Marcelo Bôscoli, filho mais velho de Elis Regina e produtor musical disse: “Jair sempre foi um homem que se recusou a ter algum momento de tristeza”. Chitãozinho, cantor, ressaltou: “Foram mais de 30 anos de amizade. Foi um irmão que partiu antes da hora”.

Por sua vez, Lobão, cantor, no Twitter: “Tristeza absoluta. Morre Jair Rodrigues, um querido amigo, uma pessoa maravilhosa e um dos maiores cantores brasileiros”. Wanderlea, cantora: “Nunca o vi de mau humor. Toda a família musical brasileira está de luto”. Fafá de Belém, no Instagram: “Silêncio: Jair Rodrigues partiu”. O Rappin’ Hood, rapper, no Twitter: “Meu querido mestre Jair se foi”. “A ficha ainda não caiu. O Jair podia cantar tudo”, disse Alcione.

Eduardo Almeida Reis - Heranças‏

Uma propriedade de 500 hectares dividida por 10 filhos resulta em diversos sítios com área média de 50 hectares, de água e acesso problemáticos
 

Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 09/05/2014





Na roça há heranças muito divertidas. Fui vizinho de uma fazenda herdada por cinco filhos, já de certa idade, com suas mulheres e famílias. Casa colonial muito bonita, de dois andares, 450 hectares de terras de boa qualidade, se bem que amorreadas, usina hidrelétrica própria de 10 kWA no rio que corta a propriedade. Numa fazenda, usina própria de 10 kWA é muito útil.

Digamos que os cinco herdeiros fossem da família Silva, que ainda tenho amigos entre os brigões. Dividiram a casa por cinco, deixando os corredores e a imensa mesa de jantar como partes comuns. Construíram anexo entijolado, comprido e pavoroso, coberto de laje, com seis cozinhas enfileiradas: uma “da fazenda” e mais cinco, lado a lado, com os respectivos armários de mantimentos, uma para cada família.

Antiga máquina de café, prédio de época, funcionava como estábulo. Cada herdeiro tinha suas vacas e tirava um leitinho mandado para a cooperativa em latões separados. Pormenor curioso: nas partes comuns da casa, corredores e escadas, apesar da hidrelétrica própria, não havia luz. Nenhum dos herdeiros era “bobo” de comprar lâmpadas para iluminar a circulação de irmãos, cunhados e sobrinhos.

Mas a sala de jantar tinha lâmpadas, presumo que rateadas entre as cinco famílias, que usavam a mesa imensa para fazer suas refeições e proporcionavam às visitas espetáculo inesquecível, uma espécie de guerra de doces e salgados.

Explico. Não me lembro como era o banheiro da imensa casa, se é que havia. Volto à construção pavorosa, onde fizeram seis cozinhas, para lhes contar que cada uma das famílias caprichava nos doces, salgados, bolinhos, empadas, pães e biscoitos para consumo próprio. Contudo, quando havia visitas – e tive oportunidade de visitá-las duas vezes – as cinco famílias bombardeavam o visitante com os seus quitutes, numa guerra para ver qual das mulheres sabia cozinhar melhor.

Em 1972, os cinco venderam a fazenda por US$ 120 mil. Era bom dinheiro, muito mais do que os atuais R$ 276 mil, mas ainda assim não deixava ninguém rico. Cada família recebeu US$ 24 mil. Tenho uma referência para os US$ 120 mil em 1972: era o saldo médio, no BB, da conta pessoal de um jovem advogado amigo meu. O rapaz andava “bem de vida”, trocava de carro importado quatro vezes por mês, era rico para padrões de nossa turma. Ainda assim, não era dinheiro do outro mundo e foi o total dividido pelos cinco herdeiros quituteiros.

Em Minas, as heranças servem para lotear fazendas. Uma propriedade de 500 hectares dividida por 10 filhos resulta em diversos sítios com área média de 50 hectares, de água e acesso problemáticos. Uma segunda fornada de herdeiros inviabiliza tudo, surgem casas modestíssimas das quais os irmãos, a distâncias razoáveis, se veem e se odeiam.

O mundo é uma bola

9 de maio: faltam 236 dias para acabar o ano. Em 1386 foi assinada a Aliança Luso-Britânica entre Portugal e Inglaterra, a mais antiga aliança diplomática ainda em vigor. Queixam-se os portugueses de que a aliança foi sempre mais proveitosa para os ingleses, de maior poder econômico e político, se bem que no período posterior aos descobrimentos Portugal tenha sido potência internacional de peso. Hoje, a aliança praticamente não é invocada, ainda que se mantenha. Ao longo da história, contudo, teve consequências importantes quando Portugal se pôs diante das tropas napoleônicas, recusando o Bloqueio Continental incompatível com os termos do pacto assinado em 1386.

Em 1605, Miguel de Cervantes y Saavedra publica a primeira parte de Don Quijote de La Mancha. A segunda parte foi publicada em 1615. Cervantes morreu em 1616, no mesmo dia em que Shakespeare esticou as botas. Figuras solares das línguas castelhana e inglesa, é pouco provável que um tenha tido notícia do outro e vice-versa ao contrário. Hoje, se uma celebridade joga vôlei em Ipanema, você fica sabendo na hora.

Em 1766, John Byron regressa de uma viagem de circum-navegação. Byron comandou a fragata Dolphin, de 1764 a 1766, em busca de novos continentes. Em setembro de 1764 aportou no Rio de Janeiro, onde, em vez de visitar uma favela pacificada ou tomar um drinque em Ipanema, constatou que as nossas fortificações estavam deterioradas. Assim como aconteceria com James Cook, os tripulantes não tiveram licença para desembarcar e ficaram na embarcação. Em homenagem ao navegador, o ponto mais oriental da Austrália chama-se Cabo Byron.

Em 1901, a Austrália instala em Melbourne o seu primeiro parlamento. A primeira reunião do parlamento australiano em Canberra seria realizada em 1927, também no dia 9 de maio. Sou capaz de apostar que na Austrália o parlamento se compõe de gente alfabetizada e decente.

Em 1950 foi apresentada uma proposta conhecida como Declaração de Schuman, considerada o começo daquela que é hoje a União Europeia. Em 1960, autorizada pelo governo a venda de anticoncepcionais nos Estados Unidos. Em 1982, inaugurado em São Paulo o Terminal Rodoviário Tietê, o maior da América Latina e o segundo maior do mundo. Hoje, em Esperantina, Piauí, é o Dia do Orgasmo.

Ruminanças

“Rir de tudo que é original, odiá-lo, zombar dele e exterminá-lo se possível” (Flaubert, 1821-1880).

Antropólogo sugere que comunidades indígenas sejam estudadas com satélites

ANTROPOLOGIA » Índios serão estudados via satélite
Roberta Machado

Estado de Minas: 09/05/2014


Membros da comunidade Isolados do Xinane reagem a avião: sobrevoos podem afetar equilíbrio cultural 
 (Lunae Parracho/Reuters)

Brasília – Nas entranhas da Floresta Amazônica, existem habitantes de um Brasil de outro tempo. São indígenas com pouco ou nenhum contato com outras culturas e que sobrevivem em grupos cada vez menores. Estima-se que existam 107 comunidades vivendo em isolamento em toda a Amazônia Legal, um número constantemente ameaçado pela expansão agrícola e madeireira. O desafio de proteger a integridade e a identidade desses últimos representantes de uma cultura em extinção torna-se ainda maior devido ao frágil equilíbrio em que vivem. A interação direta nem sempre é aconselhada ou permitida, o que dificulta até mesmo a comprovação da existência dos territórios ocupados pelas populações isoladas.

Pesquisadores decidiram, então, estudar esses povos de longe. Na verdade, a mais de mil quilômetros de distância. Usando imagens de satélite como referência, cientistas norte-americanos conseguiram mapear o tamanho de uma comunidade indígena brasileira, registrar o número de residências construídas no local e até mesmo calcular o número de pessoas que vivem ali. Tudo isso sem pisar em território brasileiro. O grupo de cientistas da Universidade de Missouri usou como base fotos disponibilizadas gratuitamente no sistema Google Earth e estimativas baseadas nos dados de aldeias já conhecidas.

O alvo do satélite de alta resolução era uma pequena comunidade localizada no Acre, próximo à fronteira com o Peru. Os Isolados do Xinane tinham sido identificados havia alguns anos, mas seu isolamento impedia o levantamento de dados mais detalhados sobre esse grupo. O método de vigilância foi testado com imagens registradas por satélite em 2006, onde residências, plantações e pessoas são identificáveis entre as árvores.

Os métodos e resultados do levantamento foram publicados no periódico on-line The American Journal of Human Biology. Depois de descobrir quantas casas havia na tribo, os pesquisadores compararam os números com as médias registradas em 71 outras comunidades. “Metodologias similares já foram usadas antes com base em dados espaciais. O que é especial aqui é a aplicação dessa mesma metodologia em uma aldeia não contatada, em vez de sítios arqueológicos ou comunidades contatadas”, explica Robert Walker, professor de antropologia na Universidade de Missouri e um dos autores do trabalho experimental. A média calculada de integrantes da tribo é de 22 indivíduos, com um máximo estimado de 40 pessoas.

Potencial A resolução dos satélites mais avançados do mercado é de 50cm, o que significa que um ser humano não ocupe mais do que três ou quatro pixels em uma imagem muito aproximada. “Não tenho dúvidas de que é viável o mecanismo de avaliação indireta da população indígena”, estima Mucio Roberto Dias, ex-diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e ex-presidente da Agência Espacial Brasileira. “É possível medir as dimensões de cada oca, ver o solo na vizinhança e fazer o mapeamento de uso da terra na aldeia”, enumera Mucio. Alguns dos satélites usados pelo Google, no entanto, chegam a uma definição de apenas 10cm por ponto de imagem. Essa resolução, que é a mesma esperada para os futuros satélites brasileiros, faria uma pequena casa desaparecer em um cenário como a floresta amazônica.

No futuro, os pesquisadores esperam usar algoritmos automatizados para localizar vilas ainda desconhecidas pelo resto da civilização. Se conseguir o financiamento necessário, o grupo deve usar um sistema eletrônico para identificar possíveis alvos no aglomerado de imagens registradas por satélite e investigar esses pontos com mais detalhes. O algoritmo sobrepõe e compara cenas registradas em momentos diferentes e estima em quais pontos pode ser feita uma investigação mais precisa. “Esses algoritmos vão fornecer informação confiável do tamanho das populações, da extensão das aldeias, das variações de população e de outros dados censitários que podem ser relacionados a características ecológicas, culturais ou espaciais de grupos indígenas contatados ou isolados”, espera Walker.


Proteção Para os autores do estudo, a vigilância remota é o único método seguro para acompanhar sociedades indígenas com segurança, sem ameaçar sua sobrevivência a longo tempo. Na opinião de Robert Walker, sobrevoos com aviões ou drones e gravações podem ser muito invasivos à cultura das tribos. A observação remota do local, acredita, poderia manter as autoridades atualizadas da extensão e da localização das tribos sem perturbá-las.

“O Brasil tem a obrigação de resguardar esses territórios. É bem mais difícil lidar com populações isoladas, mas elas estão sofrendo riscos, inclusive de epidemias”, diz Maria Dorotheia Darella, pesquisadora do Laboratório de Etnologia Indígena do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade Federal de Santa Catarina. Alguns grupos nativos têm o hábito de migrar e precisam de uma área de proteção para se movimentar com segurança. O sistema de observação periódica por satélite poderia acompanhar os padrões de mudança dessas populações por anos a fio, facilitando a proteção da área e assegurando os padrões de vida dos indígenas de forma permanente. “É necessário garantir a mobilidade tradicional dessa população indígena, não importa se são 12, 50, 200 ou mil pessoas. O Estado tem o dever de garantir as terras tradicionalmente ocupadas”, ressalta.

Procurada, a Fundação Nacional do Índio (Funai) afirmou que desconhece a pesquisa norte-americana e não quis comentar a proposta de vigilância por satélite feita pelos especialistas norte-americanos. No site da organização, a Funai diz ter desenvolvido “trabalhos sistemáticos de localização geográfica, que permitem não só comprovar sua existência (das tribos), mas obter maiores informações sobre seu território e suas características socioculturais”. Os registros que se limitam a indicar a existência de grupos indígenas isolados, no entanto, não são alvo de nenhum tipo de trabalho sistematizado por parte da Coordenação-Geral de Índios Isolados da Funai.

Par de moléculas é inserido em bactéria e se incorpora ao código genético

DNA artificial
Par de moléculas desenvolvido em laboratório é inserido em bactéria e se incorpora ao código genético do micro-organismo sem danificá-lo


Estado de Minas: 09/05/2014


Toda forma de vida na Terra é uma sopa de letrinhas. Do mais primitivo verme ao complexo ser humano, a receita depende da combinação de dois pares de moléculas, abreviadas em A-T e C-G. Nesse sentido, o que diferencia uma planta de um inseto ou uma pessoa de um vírus é a configuração da sequência das letras, que são a base do DNA. Agora, cientistas do instituto de pesquisa The Scripps, nos Estados Unidos, anunciaram a inclusão de novos componentes nesse alfabeto. Eles criaram pares artificiais que, inseridos em uma bactéria, mostraram-se funcionais e, inclusive, foram replicados dentro da célula.

“O que fizemos foi um organismo que contém os dois pares de base do DNA, A-T e C-G, além de um terceiro, artificial”, explicou, em um comunicado de imprensa, o biólogo Floyd Romesberg, que liderou o estudo, publicado na capa da revista Nature. Ele disse que a bactéria manipulada geneticamente é um passo importante da biologia sintética, com diversas aplicações: da confecção de novos medicamentos à fabricação de produtos nanotecnológicos.

A biologia sintética foi um dos destaques da ciência em 2010, quando pesquisadores do instituto americano J. Craig Venter anunciaram a criação da primeira célula artificial. Produzida pelo implante de uma sequência artificial de DNA em uma célula verdadeira, cujo material genético natural havia sido retirado, essa célula se comportou como qualquer outra. A partir de então, teve início uma corrida por descobertas semelhantes nessa área.

Romesberg contou que, desde o fim da década de 1990, ele pesquisa pares de moléculas que poderiam servir como novas bases funcionais de DNA. Em tese, elas codificariam proteínas e organismos completamente artificiais. Essa, contudo, é uma tarefa árdua. Para funcionar, qualquer par de base de DNA tem de trabalhar com a mesma afinidade natural de adenina-timina e citosina-guanina. Além disso, as criadas em laboratório precisam compartilhar a estrutura do DNA – uma longa espiral contida no núcleo das células – com os pares naturais, sem atrapalhar os processos de replicação e transcrição de material genético. Por fim, as estruturas artificiais não podem ser atacadas e removidas por mecanismos de reparação do DNA.

Apesar de tantos desafios, em 2008, Romesberg deu um importante passo rumo a seu objetivo. Naquele ano, a equipe do cientista identificou conjuntos de moléculas que poderiam se fazer passar por pares de base naturais na dupla hélice do DNA. Além disso, na presença das enzimas certas, elas seriam replicadas. Logo em seguida, o laboratório de Romesberg conseguiu encontrar os fatores de transcrição desse DNA semissintético em RNA. Mas tudo isso foi feito no tubo de ensaio. “As bases artificiais trabalharam muito bem in vitro, mas o grande desafio era vê-las trabalhando em um ambiente muito mais complexo, que é a célula viva”, explica Denis Malyshev, cientista do laboratório de Romesberg que assina o artigo da Nature como autor principal.

X e Y No novo estudo, a equipe sintetizou um pedaço de DNA circular conhecido como plasmídeo e o inseriu em células da bactéria E.coli. Esse fragmento contém pares de base naturais A-T e C-G, além daquelas fabricadas por Romesberg. As novas moléculas foram batizadas d5SICS e dNaM, mas, para facilitar, o cientista diz que podem ser chamadas de X e Y. O objetivo da pesquisa era verificar se as células da E.coli replicariam o DNA híbrido normalmente.

Durante um ano, os cientistas trabalharam para resolver questões técnicas que facilitassem o processo. O esforço valeu a pena, de acordo com a equipe. O fragmento de DNA semissintético se replicou com velocidade e precisão, não impediu o crescimento das células da bactéria e não foi rejeitado pelos pares de base naturais. O próximo passo será testar, no organismo vivo, o processo de transcrição, pelo qual a molécula de DNA se transforma em molde para a fabricação de RNA.

“Em princípio, poderemos codificar novas proteínas feitas de aminoácios artificiais, o que nos dará um poder muito grande de fabricar substâncias terapêuticas, ferramentas de diagnóstico e reagentes de laboratório com diversas funções”, afirma Romesberg. As aplicações da biologia sintética são vastas. Além das citadas pelo cientista, a aposta de pesquisadores é que moléculas artificiais sejam úteis para novos combustíveis e biomateriais mais eficazes e baratos.

Condição econômica impede o acesso a exames ginecológicos Adriana Lucena

Câncer do colo do útero 
 
Condição econômica impede o acesso a exames ginecológicos
Adriana Lucena

Ginecologista, obstetra e membro do Comitê de Patologia do Colo da Associação de Ginecologistas e Obstetras de Minas Gerais (Sogimig)
Estado de Minas: 09/05/2014

O câncer do colo do útero é o terceiro tumor mais frequente na população feminina, atrás apenas dos de mama e colorretal, e a quarta causa de morte de mulheres por carcinomas no Brasil, conforme o Instituto Nacional de Câncer (Inca). Na década de 1990, 70% dos casos diagnosticados estavam no estágio invasivo da doença. Hoje, 44% dos diagnósticos são de lesão inicial. O número de vítimas fatais, ainda que menor em relação aos anos anteriores,continua assustando. A estimativa é que mais de 15 mil novos casos sejam contabilizados durante este ano, sendo 5 mil letais. Apesar de alarmante, os dados servem de embasamento para demonstrar a eficácia das novas técnicas de rastreamento, diagnóstico e tratamento da doença.

O câncer de colo uterino é uma das poucas doenças malignas totalmente passíveis de prevenção. Quando diagnosticado em suas formas precursoras, as chamadas neoplasias intraepiteliais cervicais (NIC), têm chance de cura estimada em praticamente 100%. Para isso, basta que as mulheres com vida sexual ativa procurem o ginecologista e realizem o exame citopatológico do colo uterino, mais conhecido como exame de Papanicolau. Anualmente, muitos casos em estado avançado são diagnosticados, sendo alguns deles em estágio inoperável. Uma das explicações para tal fato é que as díspares condições sócio-econômico-culturais interferem diretamente no acesso que as mulheres têm aos mais básicos procedimentos ginecológicos em um país de dimensões territoriais amplas. A biologia molecular é o método usado para detecção do HPV, o qual está intimamente ligado ao câncer do colo uterino e às lesões precursoras. Em alguns países, a biologia molecular é a principal forma de rastreamento dessas lesões, especialmente, por ser mais barata que o exame citológico realizado pelo médico. Esses testes são usados no Brasil, com indicações restritas, mas não como exame de rastreamento. O fator imunológico interfere diretamente na evolução das lesões pré-neoplásicas e no câncer propriamente dito. Prova disso é o fato das pacientes soropositivas para o HIV, que têm o estado imunológico comprometido, terem maior incidência e prevalência dessas lesões e pior evolução no tratamento da doença.

Os fatores como alimentação, exercícios físicos e estresse podem interferir indiretamente nesses casos, já que se relacionam, intimamente, com o sistema de defesa do organismo. O tema será discutido no 7º Congresso Mineiro de Ginecologia e Obstetrícia, de 14 a 17 de maio, no Minascentro. Um grande avanço nesse campo foi o surgimento da vacina para o HPV, que neste ano entra no calendário da rede pública de saúde para as meninas de 11 a 13 anos. Não há dúvidas de que ainda é preciso percorrer um grande caminho. Por outro lado, o decréscimo no número de casos de câncer do colo do útero sugere que mudanças já estão sendo implantadas no sistema de saúde. O importante é perceber que, qualquer que seja o número de vítimas, será sempre superior ao desejo social. Aguarda-se mais qualidade de vida para as mulheres.

CARLOS HERCULANO LOPES » Os dois amigos‏

CARLOS HERCULANO LOPES » Os dois amigos
Estado de Minas: 09/05/2014





Foi com surpresa, há uns dois meses, quando estava se preparando para deitar depois de um dia cansativo de trabalho, que Zé Roberto recebeu o telefonema do amigo Luiz Cláudio. Há mais de 30 anos, desde que esse se mudara para os Estados Unidos, eles não se encontravam nem tiveram notícias um do outro. “Há um bom tempo estou vivendo novamente em Belo Horizonte, Beto. Aluguei um apartamento no Prado e gostaria muito de encontrá-lo uma hora dessas”, ele disse.

E foi assim, no início da semana passada, num restaurante lá mesmo no bairro, que os dois velhos amigos, criados em Governador Valadares desde que as famílias se mudaram de Açucena para aquela cidade, voltaram a se ver. O Zé Roberto havia engordado muito, ao contrário de Luiz Cláudio, que continuava bem magro. Uns 30 quilos, ou mais. O outro, em compensação, estava mais velho.

Depois dos cumprimentos, do forte abraço e de perguntarem pelas famílias, que também haviam se distanciado, foi a vez do Zé Roberto querer saber como estava indo a vida do amigo. “E a adaptação a Belo Horizonte, depois desse período todo fora, como tem sido? Está tudo bem?”, perguntou, enquanto pedia uma cerveja ao garçom.

Depois de ficar alguns instantes em silêncio, Luiz Cláudio respondeu ao amigo que as coisas, ao contrário do que sonhara enquanto vivia “na América”, não estavam indo como queria. Nada saiu como planejara, nem Belo Horizonte era a cidade que tinha deixado.

 “Estou me sentindo um estranho aqui, não conheço mais ninguém e não tenho conseguido me estabelecer em nada. Tem hora que dá até vontade de me mandar de novo”, respondeu o Luiz. “E por que você só está me procurando agora? Por que não me deu um toque antes?”, quis saber o Roberto, enquanto se lembrava, olhando para o amigo, das pescarias no Rio Doce, quando os dois costumavam nadar escondidos dos pais.

Novamente alguns segundos de silêncio, um breve abaixar de olhos, para o outro responder que não queria incomodá-lo. Tentava se firmar em alguma coisa antes de rever o amigo. “Mas nada deu certo, Beto. Primeiro, comprei uma loja de confecções, mas tive de fechá-la, pois as vendas não estavam cobrindo nem o aluguel nem os impostos. Com o dinheiro que sobrou, fiz sociedade numa fabriqueta de carimbos com um cara que conheci lá em Nova York, mas entrei pelo cano”, disse.

“Não queria conversar com você nessas circunstâncias. Mas estou aqui para ver se me ajuda a conseguir algum trabalho, pois há três meses estou parado. Topo qualquer coisa, irmão, menos voltar para a construção civil, porque, nesta altura da vida, não aguento mais carregar saco de cimento nem pintar parede”, prosseguiu o Luiz Cláudio, com os olhos no chão. Desde então, pois sempre foi um excelente motorista, ele está trabalhando na empresa de engenharia do amigo, uma das mais conhecidas de BH, onde construiu dezenas de prédios. Até o momento, como Zé Roberto contou dia desses, ainda não tiveram nenhum problema.

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