sábado, 4 de maio de 2013

Javier e Manoel - José Castello


O Globo - 04/05/2013

Ficções nos golpeiam, em lances súbitos,
quando menos esperamos.
Assim aconteceu comigo enquanto
lia “A velocidade da luz”, romance
do catalão Javier Cercas (Biblioteca
Azul, tradução de Sérgio Molina).
Antes de abrir o livro, li, em algum lugar, que
ele trata dos sofrimentos de um veterano da
Guerra do Vietnã, certo Rodney Falk. Trata, é
verdade. Admito: o tema não me entusiasmou.
Mas a literatura de Javier (1962) nunca avança
na direção que esperamos. Rodney é, de fato,
um personagem forte, que nos envolve em um
manto de espinhos. Mas o golpe me veio de outro
lugar.

Temos, sempre, uma maneira torta de ler — e
é através deste empenamento que entramos em
um livro. Ele é muito sensível às circunstâncias.
Vejam o meu caso. Li “A velocidade da luz” em
Cuiabá, onde estive para uma palestra sobre
Manoel de Barros. Às vezes, parava de ler o romance
de Javier para reler poemas de Manoel.
Esses saltos produzem interferências — como os
chiados dos velhos rádios. De alguma forma (retorcida,
ela também), a voz de Manoel se infiltrou
em minha leitura de Javier. Acho que o li como
se fosse um poeta. Talvez ele seja um poeta.

À entrada no romance, uma frase da austríaca
Ingeborg Bachmann (1926-1973) me alertava:
“O mal, não os erros, perdura”. Ingeborg empurra
a dor para além das circunstâncias (ou erros),
guardando-a em uma esfera indiferente ao homem
e a seus atos — que a poeta chama de mal.
Mas não penso no mal, prefiro pensar no acaso
que, de qualquer forma, rege nossas vidas sem
se importar com o que dele pensamos. O acaso:
tão insensível quanto o mal. Eis onde quero chegar:
li o romance de Javiercomo um poema que
faz pensar. Não pensar a respeito da guerra, mas
(seguindo minha deformação pessoal) a respeito
da literatura. É o que faz também Javier, como
nas translações operadas pelas metáforas: trata
de uma coisa, para falar de outra. Isso se chama
inquietação.
Depois de conhecer o veterano Rodney, o narrador
de “A velocidade da luz” lhe conta que está escrevendo
um romance. Rodney lhe pergunta de
que o livro trata. “Bom, na verdade ainda não sei
ao certo”, diz o rapaz, constrangido. Ouve, então,
um comentário que o surpreende: “Gosto disso”.
Explica-se Rodney: “Se você soubesse de antemão,
seria péssimo: só diria coisas que já sabe,
que é o que todos sabemos”.
Prossegue em sua reflexão: “Se,
ao contrário, você ainda não sabe
o que quer dizer mas está
louco o bastante, ou desesperado,
ou com coragem suficiente
para continuar escrevendo talvez
acabe dizendo algo”. Fala o
veterano Rodney da indispensável
dose de insensatez inerente
a toda ficção. Mas não vou aqui
fazer a apologia da loucura: o
próprio Rodney é um exemplo
de que ela — indiferente e fria como o mal — tanto
pode nos alimentar, como pode aniquilar.

Depois de ver seu irmão Bob morrer durante os
combates no Vietnã, Rodney começa a delirar. Desenvolve
então uma abominável teoria a respeito
da beleza da guerra. “É justamente essa verdade
que todo mundo aqui conhece, mas ninguém
quer admitir. Que tudo isso é belo: que a guerra é
bela, que o combate é belo, que a morte é bela”. A
dor extrema leva Rodney a conceber uma repulsiva
poesia da morte. Pior: está convencido de que,
através dela, fala não de uma dor particular, mas
de uma verdade universal. “O que me dá nojo não
é que tudo isso seja verdade, e sim que ninguém
diga essa verdade”. Para ele, a verdade é sempre
absurda, e por isso não a suportamos.
Conclui: “A beleza da
morte é uma verdade que ninguém
diz porque soa falsa”.

Tempos depois, dialogando
com o jovem romancista que
protagoniza o romance de Javier,
um desalentado Rodney começa
a entender que o problema,
mais do que na palavra
“morte”, talvez esteja na palavra
“tudo”. Consegue dizer ao jovem
amigo, então, que o conhecimento
da verdade não é tudo — até porque ninguém
conhece tudo — e que o que vale, no fim das
contas, é perseguir os vestígios de nossa verdade
particular. Explica ao rapaz: “O que quero dizer é
que quem sabe aonde vai nunca chega a lugar nenhum,
e que a gente só sabe o que quer dizer
quando isso já foi dito”. Contra a totalidade da
guerra, que deseja impor o domínio do Tudo, o
veterano Rodney vislumbra, agora, a beleza das
pequenas coisas (ressoam os poemas de Manoel).
Esta beleza se expressa nas vacilações do escritor,
que nunca sabe ao certo em que direção
caminha, e só por isso, porque não sabe tudo
(aliás: porque não sabe quase nada) consegue
escrever.

Diz Rodney ainda: “As histórias não existem. O
que existe, sim, é quem as conta”. Pois é isso que
sinto durante a leitura do romance de Javier. Escondido
sob os relatos de guerra, disfarçado sobre
as reflexões a respeito do mal, entrevejo o
próprio Javier, solitário e pequeno (Manoel), lutando
para escrever seu livro. Como se eu estivesse
em seu escritório, escondido atrás de uma
cortina, vigiando seu combate com os manuscritos.
Seguindo sua luta lenta, parcial, sua luta acidental
(e cheia de acidentes), para enfim dizer.
Escoltando-o em seu esforço para formular algo
que não sabe o que é. Um homem que tenta dizer
o que desconhece.

Outro momento que me interessa muito no romance
de Javier é quando Rodney adverte o narrador
não a respeito dos riscos do fracasso, mas
a respeito dos riscos do sucesso. Este sim, o desejado
sucesso, pode ser mortal. Na luta para se
tornar um escritor, o maior risco é que você pode
acabar conseguindo, lhe diz Rodney. Risco ainda
maior: você pode ser bem sucedido. E, nesse
caso, você fugirá todo o tempo do lugar comum,
porque se sentirá sempre obrigado a ser original
e genial. “Só que as idéias não viram lugares-comuns
por serem falsas, mas por serem verdadeiras”,
ele o adverte. Pequenas verdades, às vezes
desprezíveis, indiferentes ao Tudo: delas a literatura
se faz.

A literatura — ainda agarrado ao romance de
Javier, retomo os poemas de Manoel de Barros —
é o manejo do pequeno. A velocidade da luz faz
isso: encurta as longas distâncias. Anula os grandes
espaços. Espreme a arrogância do Tudo. E
nos devolve (Javier nos entrega isso) nossa desajeitada
e bela existência.

Vanzolini e a biodiversidade da Amazônia - Fernando Reinach


Fernando Reinach - O Estado de S.Paulo - 04/05/2013
 
 
"Perdemos Vanzo." Me veio à mente Paulo Vanzolini em sua enorme sala no Museu de Zoologia. Sobre a bancada, inúmeros vidros contendo lagartos. Em 1975, na faculdade, eu estudava o epitélio da cloaca de uma cobra. Vanzolini queria me conhecer. Fui ao museu e lá estava ele, vestindo um avental cinza, sem camisa por baixo, unhas sujas, cercado de répteis. Nunca soube por que me chamou, suspeito que ele tenha julgado minha primeira bolsa de iniciação científica. Queria ver a cara do jovem que se interessava por cloacas de cobra.

Vanzolini deixou uma primorosa coleção de sambas. Algumas rimas revelam seu humor irônico e debochado:

"Mulher que se vira pro outro lado
Tá convocando a suplente
Mulher que não ri não precisa dente".

Vanzolini deixou uma das maiores coleções de répteis. Mas sua maior contribuição foi a descoberta de como surgiu parte da biodiversidade amazônica.

Durante sua viagem a bordo do Beagle, Darwin ficou impressionado com a enorme diversidade de plantas e animais. Como teriam surgido tantas espécies? No livro A Origem das Espécies, Darwin descreve o processo de seleção natural, que ao longo de bilhões de anos deu origem a todos os seres vivos que conhecemos.

Quando a população de uma espécie é dividida em dois grupos, separados por um acidente geográfico (imagine uma população de pássaros que passa a habitar duas ilhas), existe a chance de surgir uma nova espécie. Impedidos de se encontrar, esses dois grupos deixam de acasalar (o que chamamos de isolamento reprodutivo). Como os dois grupos passam a viver em ambientes diferentes (ilhas com diferentes espécies de frutas), aos poucos, sob pressão de diferentes ambientes, sobrevivem os pássaros mais adaptados a cada um dos ambientes (em uma ilha, os bicos ficam mais longos; na outra, mais curtos). Com passar do tempo, essas diferenças aumentam até que os dois grupos deixam de ser capazes de acasalar. Pronto, uma espécie deu origem a duas outras. Esse processo, repetido milhões de vezes, gerou toda a biodiversidade do planeta.

Mas como explicar a origem de espécies em ambientes sem barreiras geográficas? É o caso da Amazônia, uma das regiões com maior biodiversidade. A Amazônia é uma imensa planície, sem montanhas, com uma floresta aparentemente contínua e homogênea. Como teriam surgido as espécies nesse ambiente em que o isolamento reprodutivo parece ser impossível? Foi esse problema que Vanzolini ajudou a resolver.

Vanzolini organizava longas expedições para coletar répteis. Desenhava uma linha reta no mapa da Amazônia e se embrenhava no mato, seguindo trilhas e rios, coletando todos os répteis que podia encontrar. Foi assim que conheceu o Brasil, milhares de quilômetros coletando répteis. De volta ao museu, analisava os animais, classificando cada exemplar, contando escamas, medindo e pesando. Desse modo é possível descobrir como uma espécie varia ao longo de cada uma dessas retas e como a frequência das diferentes espécies varia de região para região. Vanzolini descobriu uma Amazônia mais heterogênea do que imaginava. A distribuição das espécies parecia estar centrada em algumas regiões da Amazônia, como se essas regiões tivessem sido ilhas isoladas no passado.

Com a ajuda de Aziz Ab'Saber, da USP, e Ernest Williams, de Harvard, Vanzolini propôs uma explicação para a origem da biodiversidade amazônica: no passado, a Floresta Amazônica teria encolhido e se expandido diversas vezes. Durante os períodos glaciais, o clima árido fez com que parte da floresta desaparecesse. Nesses períodos, somente algumas ilhas ricas em vegetação teriam se mantido. Nos períodos interglaciais, com o aumento da umidade, as ilhas teriam se juntado, reformando a cobertura florestal. Cada vez que se formavam as ilhas, as populações de plantas e animais se isolavam e novas espécies se formavam. Com o espalhamento da floresta nos períodos úmidos, as espécies se misturavam. Juntando os dados de Aziz Ab'Saber que descreviam essas mudanças climáticas e a localização das ilhas de florestas com a distribuição atual das espécies de lagartos, os três cientistas demonstraram como teria se formado parte da biodiversidade que hoje encontramos na Amazônia.

Esse é o grande legado científico de Vanzolini. Ele desvendou parte do mistério que cerca a origem da biodiversidade amazônica.

Criatividade, algoritmos e o poder da recomendação humana - Evgeny Morozov

folha de são paulo

De todas as startups que surgiram no ano passado, a Fuzz é certamente uma das mais interessantes, e das mais desconsideradas. Descrevendo-se como uma "rádio movida a pessoas" e completamente "livre de robôs", a Fuzz contraria a tendência a depender cada vez mais de algoritmos para descobrir novidades na música. Ao contrário das populares rádios de Internet que dependem de recomendações feitas por algoritmos, a Fuzz celebra o papel dos DJs humanos --usuários comuns que são convidados a subir as músicas de que gostam para o site e criar "estações de rádio" pessoais.
A ideia, ou talvez esperança, por trás da Fuzz é que curadores humanos possam oferecer alguma coisa de que um algoritmo não seria capaz. Como disse Jeff Yasuda, o fundador da companhia, à Bloomberg News, em setembro passado, "existe grande necessidade de experiências mediadas e de retornar à crença de que as recomendações mais convincentes vêm de seres humanos".
Mas embora o lançamento da Fuzz tenha despertado pouca atenção, o crescente papel dos algoritmos em todos os estágios da produção artística está se tornando impossível de ignorar.
Recentemente, esse papel foi destacado por Andrew Leonard, crítico de tecnologia do site "Salon", em um artigo intrigante sobre "House of Cards", a controvertida série que marca a estreia da Netflix na produção de programas de TV. O mito original da série já se tornou bem conhecido: tendo estudado os registros sobre o comportamento de seus usuários, a Netflix descobriu que uma versão norte-americana de "House of Cards", uma série britânica, poderia ser um grande sucesso, especialmente se o elenco contasse com Kevin Spacey e a direção coubesse a David Fincher.
"Será que o autor poderá sobreviver em uma era na qual algoritmos de computador são o painel de discussão soberano?", perguntou Leonard, imaginando de que maneira o imenso volume de dados recolhido pela Netflix junto aos usuários que assistiram à primeira temporada --quantas vezes eles apertaram o botão de pausa? - afetaria os futuros episódios.
Muitos outros setores enfrentam questões semelhantes. Por meio de seu leitor eletrônico Kindle, por exemplo, a Amazon recolhe vasto volume de informações sobre os hábitos de leitura de seus compradores; que livros eles terminam e que livros abandonam; que trechos dos livros são pulados e que trechos são lidos mais atentamente; com que frequência eles verificam determinadas palavras no dicionário, e quais são os trechos que eles costumam sublinhar.
Com base em todos esses dados, a Amazon é capaz de prever que ingredientes farão uma pessoa ler um livro até o fim. Talvez a companhia passe a oferecer finais alternativos --para deixar o leitor mais feliz. Como afirma um recente estudo acadêmico sobre o futuro do entretenimento, vivemos em um mundo no qual "as histórias podem se tornar algoritmos adaptativos, criando um futuro mais envolvente e interativo".
Da mesma forma que a Netflix descobriu que, tendo em vista o vasto volume de dados acumulados, seria tolo não ingressar no ramo de produção de filmes, a Amazon descobriu que seria tolo não ingressar no ramo editorial. O conhecimento da Amazon, porém, é mais profundo que o da Netflix, porque ela também opera um site no qual compramos livros, e isso lhe dá todas as informações de que precisa sobre o nosso comportamento como compradores e os preços que estamos dispostos a pagar. Hoje, a Amazon opera sete selos editorais, e planeja acrescentar novas marcas.
O setor de música, igualmente, adotou com avidez métodos parecidos, anos atrás, usando seus vastos bancos de dados sobre sucessos e fracassos do passado para prever se as músicas enviadas para possível produção tinham chance de se tornarem grandes sucessos. A vantagem nesse caso é evidente: o músico já não precisa de boas conexões pessoais --no passado um pré-requisito essencial para o sucesso-- se deseja obter um contrato; basta que tenha uma canção que, baseada em passadas tendências, indique probabilidade de sucesso.
Mas a desvantagem é igualmente evidente: podemos terminar com canções muito chochas, todas altamente parecidas. Como afirma George Steiner em "Automate This" (2012), técnicas como essas podem "nos trazer novos artistas, mas porque baseiam seu julgamento naquilo que foi popular no passado, provavelmente teremos o mesmo pop esquecível que já temos. Que tantos anos de música morna estejam incluídos na análise é um problema claro dessa tecnologia".
O supercomputador Watson, da IBM, já está vasculhando milhares de documentos judiciais e médicos a fim de conduzir avaliações que advogados e acadêmicos seriam incapazes de realizar --ou ao menos não se tivessem de avaliar tamanho volume de material. Se o objetivo é analisar aquilo que vendeu bem no passado e tentar prever, com base em todos esses influxos de dados, o que tem chance de vender bem no futuro, seria fácil expandir o uso do Watson à música, filmes e livros.
Infelizmente, essa expansão, embora beneficie as vendas, pode prejudicar a inovação cultural. Será que o Watson teria sido capaz de prever --se já existisse então-- a ascensão da pintura impressionista, a da poesia futurista ou a do cinema da Nouvelle Vague? Teria aprovado Stravinsky? Um sistema Big Data provavelmente não teria apostado no dadaísmo.
Para compreender os limites e oportunidades que os algoritmos oferecem, no contexto da criação artística, precisamos compreender que esta última em geral consiste de três elementos: descoberta, produção e recomendação. Empresas iniciantes como a Fuzz cuidam do último elemento --a recomendação-- com a esperança de que haja quem prefira recomendações humanas a algoritmos.
A FiveBooks aplica um modelo semelhante aos livros; nesse caso também a lógica é a de que os seres humanos podem oferecer resultados melhores que os algoritmos. A Amazon oferece ótimas recomendações, mas a FiveBooks, com recomendações de livros seletas apresentadas por pessoas como Paul Krugman, Harold Bloom e Ian McEwan, joga em outra divisão. O segmento de recomendações é aquele no qual as recomendações humanas e as de algoritmos provavelmente poderão conviver, ao menos pelo futuro previsível, enquanto os usuários encontram o balanço ideal entre as duas.
Mas quando se trata de descobrir novos talentos e da produção subsequente de seus trabalhos, as coisas parecem muito mais sombrias. Afinal, a recomendação só importa se existir grande arte a recomendar. Se essa arte é selecionada com base em sua probabilidade de repetir o sucesso de passadas escolhas, e se ela for produzida com base nas reações imediatas da audiência, as vendas podem crescer mas quais serão as chances de que surja algo de verdadeiramente radical, de toda essa parafernália de vendas?
Em dezembro de 2012, o "Global Times", um jornal chinês que circula em inglês, publicou um artigo sobre a Bear Warrior, uma banda punk local que descobriu uma maneira engenhosa de medir a reação da audiência às suas canções. O vocalista é aluno de pós-graduação em uma universidade de Pequim, e está se especializando em instrumentos de precisão; por isso, projetou um aparelho chamado "POGO Thermometer" para medir a intensidade da dança da audiência por meio de uma série de sensores instalados em um tapete estendido no piso da casa de shows. Os sinais são em seguida transmitidos a um computador central e analisados detalhadamente.
De acordo com o "Global Times", a banda constatou que os fãs "começavam a mover seus corpos quando a bateria entra, e dançavam com mais energia nos agudos do vocal". Nas palavras do vocalista, "os dados nos ajudam a compreender como melhorar nosso desempenho e fazer a audiência responder à nossa música da maneira que pretendemos".
Talvez isso ajude mesmo a melhorar o desempenho, mas desde quando o punk é assim bonzinho? Fazer a audiência feliz é coisa que obceca consultores de gestão, não músicos punk. O Sex Pistols só teria um uso para o tapete equipado com os sensores, e podem ter certeza de que não envolveria os sensores. Mas o Sex Pistols, desconsiderando o retorno imediato, iniciou uma revolução, enquanto o Bear Warrior na melhor das hipóteses vai lançar uma carreira.
Tradução de Paulo Migliacci
Evgeny Morozov
Evgeny Morozov é pesquisador-visitante da Universidade Stanford e analista da New America Foundation. É autor de "The Net Delusion: The Dark Side of Internet Freedom" (a ilusão da rede: o lado sombrio da liberdade na internet). Tem artigos publicados em jornais e revistas como "The New York Times", "The Wall Street Journal", " Financial Times" e "The Economist". Lançará em 2012 o livro "Silicon Democracy" (a democracia do silício). Escreve às segundas-feiras, a cada quatro semanas, no site da Folha.

Laertevisão e Quadrinhos

folha de são paulo



CHICLETE COM BANANA      ANGELI
ANGELI
PIRATAS DO TIETÊ      LAERTE
LAERTE
DAIQUIRI      CACO GALHARDO
CACO GALHARDO
NÍQUEL NÁUSEA      FERNANDO GONSALES
FERNANDO GONSALES
PRETO NO BRANCO      ALLAN SIEBER
ALLAN SIEBER
QUASE NADA      FÁBIO MOON E GABRIEL BÁ
FÁBIO MOON E GABRIEL BÁ
HAGAR      DIK BROWNE
DIK BROWNE

Painel do Leitor da Folha

folha de são paulo

PAINEL DO LEITOR
Direitos Humanos
Há um mês, o líder do PSC, André Moura, recebeu petição assinada por quase meio milhão de pessoas exigindo a saída de Feliciano da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara. Na ocasião, Moura pediu 30 dias para verificar se Feliciano cometeria quaisquer "deslizes" antes de assumir uma posição.
O prazo acabou e o deputado-pastor foi ladeira abaixo. Se Feliciano fez isso em um mês, que dirá em dois anos de mandato?
Para a integridade desse fórum vital no Congresso, e para a reputação já golpeada do PSC, está na hora de o deputado André Moura cumprir sua promessa. O prazo de Feliciano acabou.
Pedro Abramovay, diretor de campanhas da Avaaz, organização internacional de ativistas (Rio de Janeiro, RJ)
A seção recebe mensagens por e-mail (leitor@uol.com.br), fax (0/xx/11/3223-1644) e correio (al. Barão de Limeira, 425, São Paulo, CEP 01202-900). A Folha se reserva o direito de publicar trechos.
-
Segurança pública
O governador paulista vai aumentar muito o efetivo da PM e, com isso, o número de prisões deverá crescer ("SP prepara pacote contra aumento da criminalidade", "Cotidiano", ontem).
Os presos serão levados para delegacias e presídios e, como já acontece hoje, por razões legais ou falta de vagas, serão logo libertados. Portanto, será gerado um fluxo enorme de presos entrando e saindo. Com isso, será inaugurado um moderno tipo de carceragem: delegacias e presídios de "alta rotatividade".
Renato Barbieri (São Paulo, SP)
-
O PSDB governa o Estado de São Paulo desde 1995. Assim, tudo o que pretenda fazer já deveria ter feito. Agora, diante de índices alarmantes de violência, que lhe podem trazer prejuízos eleitorais, elabora pacotes de duvidosa eficácia. Sugiro que nesse tal pacote seja inserida uma medida em caráter emergencial: que o governo dê subsídios à população para que possa blindar seus veículos.
Sebastião Henrique Quirino (Serra Azul, SP)
Mensalão
A declaração do procurador-geral da República de que os condenados no julgamento do mensalão têm que se "conformar" com a pena não condiz com o aclamado espírito democrata de Roberto Gurgel ("Condenados têm que se conformar' com pena, afirma Gurgel", "Poder", ontem).
Estamos em um país livre, em que todos têm direito à defesa ampla até se esgotarem todos os recursos e não de se "conformar" com suas condenações, principalmente quando se encontram brechas nos processos que contam a favor do condenado.
"Conformar-se" com a pena é para países ditatoriais nos quais o Judiciário usa e abusa de seu poder de maneira prepotente.
Benjamin Eurico Malucelli (Santos, SP)
Controle remoto
Infelizmente nossa legislação não prevê punição para quem comete o crime descrito no texto "Controle clonado vira arma' de ladrão em roubo a prédios de luxo" ("Cotidiano", 2/5).
Nas discussões no Congresso sobre a aprovação do projeto de lei n° 84/99, do qual fui relator e que entrou em vigor no início de abril, alertei sobre a necessidade da inclusão e previsão de punição para esta modalidade criminosa. No entanto, o governo não concordou em manter esse delito e o que vemos agora é que a nossa legislação continua insuficiente.
Eduardo Azeredo, deputado federal pelo PSDB-MG (Brasília, DF)
Balança comercial
Os seguidos erros da política econômica do governo federal fazem com que o país exporte menos do que importa e corra sério risco de voltar aos tempos de deficit na balança comercial ("Piora do saldo comercial até abril ameaça contas do ano", "Primeira Página" e "Mercado", ontem).
Após 20 anos de superavit, com o fiasco da Petrobras e a redução das importações, o Brasil volta a gastar mais do que produz, o que é inaceitável. Somos um país continental, forte e pujante, precisamos voltar a investir no mercado interno, na produção e no desenvolvimento, e não podemos voltar aos velhos tempos da década de 1980, marcada por deficit, desemprego, recessão e inflação.
Renato Khair (São Paulo, SP)
Direitos Humanos
Há um mês, o líder do PSC, André Moura, recebeu petição assinada por quase meio milhão de pessoas exigindo a saída de Feliciano da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara. Na ocasião, Moura pediu 30 dias para verificar se Feliciano cometeria quaisquer "deslizes" antes de assumir uma posição.
O prazo acabou e o deputado-pastor foi ladeira abaixo. Se Feliciano fez isso em um mês, que dirá em dois anos de mandato?
Para a integridade desse fórum vital no Congresso, e para a reputação já golpeada do PSC, está na hora de o deputado André Moura cumprir sua promessa. O prazo de Feliciano acabou.
Pedro Abramovay, diretor de campanhas da Avaaz, organização internacional de ativistas (Rio de Janeiro, RJ)
Santas Casas
Importante a sugestão de Antonio Carlos Forte, superintendente da Santa Casa de São Paulo, de acionar o espírito público-social do BNDES para equacionar o fluxo de caixa das Santas Casas duramente atingido no atendimento do SUS, que ressarce as irmandades em apenas 55% do seu custo ("Entidade em São Paulo pede ajuda do BNDES", "Cotidiano", 2/5).
Wilson de Almeida Filho (Santos, SP)
Educação
Saber de um programa do MEC voltado ao preparo de professores de ciências foi uma boa notícia que recebi na manhã de ontem ("Ciência de menos", "Opinião"). Mas, no pacote de providências inadiáveis, não pode faltar atenção aos que trabalham com o ensino da língua nacional.
Sem a compreensão da leitura e a sua consequente expressão escrita, a formação escolar ficará sempre capenga.
Doralice Araújo, professora de redação (Curitiba, PR)
São Paulo
Parabéns ao prefeito Fernando Haddad por lembrar dos funcionários públicos ("Haddad anuncia 80% de aumento para servidores", "Cotidiano", 2/5). Esperamos que os vereadores de São Paulo não boicotem sua proposta.
Evandro Prado (São Paulo, SP)

Moradores tatuados do Copan, prédio populoso de SP, são retratados em quadros

folha de são paulo

ROBERTO DE OLIVEIRA
DE SÃO PAULO

Pouco adiantou o artista plástico Marcos Schmidt, 41, fixar avisos nos murais do Copan, convidando moradores tatuados a servir de modelo para uma exposição.
O comunicado passou batido. Difícil competir com uma enxurrada de anúncios, que vão da venda de eletrodoméstico e bike ao disputadíssimo aluguel de garagem.
O jeito foi ele mesmo sair à "caça", arregalar bem os olhos (3,75 de miopia em cada um, fora o astigmatismo) e ficar atento ao movimento incessante de um dos edifícios mais populosos do país.
Desenhado por Oscar Niemeyer, o Copan é uma "cidade de superlativos": no centro de São Paulo, 2.038 moradores ocupam 1.160 apartamentos, distribuídos em seis blocos; há ainda 72 lojas.
Schmidt se mudou para lá em 2009. No "formigueiro", percebeu uma marca registrada entre os moradores do Copan: a tatuagem.
Daí surgiu a ideia de entrevistar, fotografar e pintar os tatuados do prédio. Primeiro, Schmidt os abordava (foram cerca de 30) e falava sobre o projeto. Depois, batia à porta dos "escolhidos" para conhecer onde eles viviam.
O artista plástico aplicava, então, um questionário. Queria saber quantos desenhos o entrevistado tinha pelo corpo e o que o inspirou.
Adriano Vizoni/Folhapress
O artista plástico Marcos Schmidt, 41, segura o retrato que fez de Juliana Trento, 27; ambos moram no Copan
O artista plástico Marcos Schmidt, 41, segura o retrato que fez de Juliana Trento, 27; ambos moram no Copan
ROCK E SANTOS
"A grande maioria fez a primeira tatuagem quando jovem. Era uma maneira de afrontar os pais", conta.
O artista fotografou os moradores em seus apartamentos, quase todos à noite.
Com base nas fotos, fez as pinturas com óleo sobre tela. Até ontem à noite, eram 13.
"Assim como o lugar onde as pessoas vivem revela muito sobre elas, o mesmo acontece com as tatuagens."
Pelas respostas dos entrevistados, Schmidt descobriu que as tatuagens estão relacionadas à música (rock, principalmente), desde a capa de um disco ao desenho do rosto de um ídolo.
Outro traço é o "universo espiritual", com imagens de santos e símbolos religiosos.
A projetista Juliana Trento, 27, mostra, na perna direita, a tatuagem colorida de uma santa "genérica".
"É a nossa senhora da Juliana", brinca a moça, cinco anos de Copan, dez desenhos --por enquanto.
"Elas representam as fases da minha vida, da minha personalidade", conta. "Demorei cinco anos para deixar o meu apartamento de um jeito que eu gostasse. O mesmo aconteceu com o meu corpo."
FAMÍLIA
Outra tema recorrente entre as tatuagens do Copan é a família. "Desenhos dos pais, de um amuleto ou uma alguma imagem que os remeta à família são muito comuns", conta o artista plástico.
Com 23 tatuagens espalhadas pelo corpo, o estilista Walério Araújo, 42, foi outro "selecionado" por Schmidt. No braço direito, o rosto da mãe e objetos que fazem referência ao universo materno; no braço esquerdo, o pai.
As costas são território ocupado por nomes de ex-namorados. Quando o relacionamento termina, Araújo "risca" o nome do agora ex.
EXPOSIÇÃO
O estilista, Juliana e outros 11 moradores do Copan "estarão" nas telas da exposição "A Pele que Habito", que será aberta no próximo dia 10, numa galeria de um estúdio de tatuagens, o Soul Tatoo, em Pinheiros (zona oeste).
Não estranhe se Schmidt se sentir um pouco deslocado por ali. É porque ele não tem nenhuma tatuagem.
+ CANAIS

USP tem só 4 negros nos dez cursos mais disputados

folha de são paulo

Dentre 774 matriculados em carreiras mais concorridas, só 0,5% diz ser preta
Dados explicitam a discrepância de perfil entre estudantes e população paulista, que tem 5,5% de pretos
JAIRO MARQUESDE SÃO PAULOApenas quatro alunos se declaram pretos entre os 774 matriculados nos dez cursos mais concorridos da USP (Universidade de São Paulo) do vestibular de 2012.
Para as três carreiras mais disputadas (medicina, engenharia civil de São Carlos e publicidade e propaganda) nenhum matriculado se define dessa maneira no questionário aplicado pela Fuvest.
Os dados explicitam a discrepância de perfil entre os candidatos que vão estudar na principal universidade pública do país e os habitantes.
Se nos dez cursos mais concorridos da USP os que se declararam pretos se limitam a 0,5% do total de matriculados, na população paulista esse índice atinge 5,5%.
Pelo Censo 2010 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), outros 63,9% dos paulistas se dizem brancos, 29,1% pardos, 1,4% amarelos e 0,1% indígenas.
O número de pretos matriculados nas carreiras mais concorridas da USP recuou em relação ao vestibular de 2011, quando dez pessoas que se declararam pretas fizeram matrículas nos dez cursos.
Naquele concurso, cinco pessoas que se inscreveram como pretas estavam nos três cursos mais concorridos.
No questionário respondido pelos alunos, a USP usa a palavra preto, conforme classificação usada pelo IBGE.
Pelos dados é possível constatar que menos de um terço dos cursos da USP terá estudantes declaradamente pretos. Em geral, estão em cursos com baixa concorrência.
O curso com a maior quantidade absoluta de negros é o de licenciatura em matemática/física, com 17 pessoas. As carreiras de exatas, porém, são as que têm a menor proporção do grupo: 1,9%.
A USP hoje dá bônus no vestibular para estudantes de escolas públicas, mas não existe um benefício específico para pretos, pardos ou indígenas. Uma ampliação da política está em estudo.
David Raimundo dos Santos, diretor-executivo da ONG Educafro, afirma que há planos de ocupar a reitoria da universidade se não houver alterações no quadro para aumentar a inclusão de pretos.
"Vamos dar à USP a última chance de ela levar a sério o pobre e o negro. Ela tem de pôr em prática o projeto para que todos os cursos, em todos os turnos, tenham, em três anos, 50% de alunos da rede pública, com renda per capita familiar de um salário mínimo e meio e cotas para pretos, pardos e indígenas."
O perfil dos calouros da USP aponta também que a maioria estudou em escolas particulares.

    ANÁLISE
    Sob pressão, USP debate acesso a aluno da rede pública
    Faculdades divergem sobre o impacto das medidas na qualidade do ensino
    FÁBIO TAKAHASHIDE SÃO PAULOOs dados recém-divulgados do vestibular da USP pressionam a universidade a intensificar suas políticas de acesso a estudantes formados em escolas públicas.
    Atualmente, uma da principais ações é a concessão de bônus de até 15% na nota desses alunos na Fuvest.
    A própria reitoria reconhece que alterações são necessárias. Mas a intensidade das mudanças dependerá do embate de forças internas.
    A pressão começou há mais de uma década. Movimentos sociais apontavam que a USP era elitista, por ter menos de 30% de alunos de escolas públicas entre seus calouros, sendo que 85% do ensino médio era público.
    Parte dos acadêmicos começou a ficar convencida de que dar oportunidade a aluno desfavorecido poderia, além de representar justiça social, melhorar a qualidade do corpo discente, pois os beneficiados teriam mais motivação no curso.
    Por outro lado, surgiu o temor de que mudar o perfil do alunato da instituição poderia prejudicar a qualidade da universidade --considerada em diversos rankings a melhor da América Latina.
    Em 2006, a universidade implementou a bonificação no vestibular, que conseguiu reverter a queda no número de alunos de escolas públicas entre os aprovados. A proporção, porém, agora ficou estagnada na casa de 28%. E em 2013 nenhum negro entrou em cursos como medicina.
    A pressão cresceu ano passado, quando o Congresso aprovou lei que determina que as universidades federais destinem 50% de suas vagas a alunos da rede pública, com cota especial para pretos, pardos e indígenas.
    Em resposta, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) e os reitores de USP, Unesp e Unicamp desenharam proposta que estabelece meta de ter, até 2016, 50% de alunos de escolas públicas, sendo 35% deles pretos, pardos e indígenas --em cada curso.
    A proposta, porém, precisa ser aprovada internamente nas universidades. As primeiras avaliações das faculdades da USP foram contrárias, com argumentos diversos e, em alguns casos, opostos.
    A FFLCH (área de humanas) entende que a proposta é tímida. Avalia que poderiam ser instituídas cotas, não metas. Já a direção da Faculdade de Medicina entende que a proposta pode prejudicar a qualidade dos cursos.
    Na semana passada, a pró-reitoria de graduação afirmou que estuda a ampliação da bonificação no vestibular, sem necessariamente vinculá-la à obrigação de alcançar a meta de 50%. Todas essas forças deverão entrar em acordo até junho, quando a Fuvest precisa fechar o edital para o próximo vestibular.

      Walter Ceneviva

      folha de são paulo

      O trabalho e seu dia paradoxal
      Nada marcou mais os novos padrões profissionais que a transfiguração do papel feminino, no lar e fora dele
      O ingresso definitivo da mulher no mercado de trabalho, assim se afastando de boa parte da atividade no lar --antes seu centro exclusivo-- foi apressado pela Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Os milhões de soldados convocados na Europa e na Ásia retiraram o trabalho masculino dos segmentos econômicos, nos países cujas forças armadas foram convocadas para as tropas envolvidas na guerra.
      Morreram no conflito cerca de 30 milhões de pessoas, provocando diminuição brusca das disponibilidades de trabalhadores para todas as funções. Abriram espaço para a convocação da mulher. Ela teve sucesso na substituição.
      Ao mesmo tempo, novas invenções, ampliadas pelo uso da eletricidade transmitida a grande distância da fonte geradora, em todo o planeta, facilitaram a vida da mulher no trabalho doméstico. Hoje, as geladeiras, máquinas elétricas de lavar roupas, pratos e assim por diante foram abertas ao acesso das mulheres.
      Do resumo resulta uma conclusão, sejam quais forem as origens da transformação social: nada marcou mais os novos padrões de trabalho que a transfiguração do papel feminino, na economia do lar e na sua operacionalidade externa.
      Passou-se do extremo predominante desde os tempos greco-romanos, em que a mulher tinha aposentos separados, apartados dos homens, no gineceu, para sua presença diária na vida do casal. As resistências no mundo árabe, o mais renitente, têm costumes que, pelo menos em parte, tendem a ser afastados, lenta, mas inexoravelmente.
      Para a mulher, a origem dos fatos históricos que justificaram a consagração do feriado do Dia do Trabalho nunca teve muita expressão. Ela era estranha ao mercado de trabalho, só o alcançando na segunda metade do século 20. Mudou a cara do mundo. Um exemplo constitucional ilustra a diferença.
      A Constituição democrática de 1946, a única digna dessa consideração antes da atual, apresentava, há menos que 70 anos, duas referências à mulher. Uma delas era tipicamente discriminatória: restringia o trabalho noturno para os menores do sexo masculino e para as mulheres (art. 152, inciso 9).
      A outra veio com uma curiosidade formal: dispensava do serviço militar o religioso e a mulher. Corria então o chiste de que as forças armadas não suportavam gente de saia, pois os sacerdotes católicos tinham na batina sua obrigatória característica essencial.
      A estrutura legal mudou radicalmente. Basta percorrer dos artigos 6º ao 11 da Carta de 1988 para constatar quanto alterou o rumo do tratamento dos dois sexos. O mesmo se diga do número de assalariados, em que a ascensão feminina é sempre mais expressiva, quanto ao número e à remuneração.
      É possível extrair uma variável na avaliação desse quadro histórico, com as transformações geradas pela participação feminina, ainda mais quando se sabe que elas estão integradas a soluções novas.
      Sempre me pareceu que ser feriado no Dia do Trabalho era o paradoxo dos paradoxos. Afinal, o trabalho corresponde, no sentido mais comum, a exercer uma atividade, remunerada ou não. Não haveria maior homenagem no dia do feriado, até para rememorar seus fundamentos históricos. Faz pensar que o exemplo da mulher indicaria esse rumo, em honra do trabalho.

        LIVROS JURÍDICOS
        NOME CIVIL DA PESSOA NATURAL
        AUTOR Leonardo Brandelli
        EDITORA Saraiva (0/xx/11/3613-3344)
        QUANTO R$ 49 (232 págs.)
        A dissertação pela UFRGS preenche nicho importante do tema, com destaque para alterações da lei nos últimos 40 anos. A segunda parte inclui da natureza até elementos formadores do nome. Aquisição, alteração e uso do nome completam a obra, com grande valor prático e científico.
        REGULAÇÃO DO SETOR POSTAL
        AUTOR Eduardo Molan Gaban
        EDITORA Saraiva (0/xx/11/3613-3344)
        QUANTO R$ 129 (376 págs.)
        Gaban vê o serviços de correios em transformação marcante desde meados do século passado. Avalia que o monopólio deveria ser afastado. Colhe aspectos novos nos Estados Unidos e na União Europeia em comparação com o Brasil. Cada capítulo conduz a conclusão da obra com farta bibliografia.
        RADIODIFUSÃO NO BRASIL
        AUTORA Genira Chagas
        EDITORA Atlas (0/xx/11/3357-9144),
        QUANTO R$ 38 (152 págs.)
        Genira adotou o subtítulo "Poder, Política, Prestígio e Influência" a sintetizar sua pesquisa no doutorado da PUC-SP. A autora é jornalista, mas escreveu aqui como jurista, mesmo ao tratar do tempo de predomínio de Getúlio Vargas. Cuida do Código Brasileiro e Telecomunicações e das variáveis constitucionais.
        PRINCÍPIOS DO PROCESSO DO TRABALHO
        AUTOR Mauro Schiavi
        EDITORA LTr (0/xx/11/2167-1100)
        QUANTO R$ 50 (197 págs.)
        Schiavi compôs essa tese de doutorado pela PUC-SP na visão dos princípios constitucionais e da matéria conceitual até o acesso à Justiça. São princípios do processo do trabalho, para a segura defesa da ideia de código autônomo, mantido o foco na Constituição. Nessa, entre as novidades, defende o princípio da duração razoável.
        TRABALHO INFORMAL E EXCLUSÃO SOCIAL
        AUTOR Paulo Mazzante de Paula
        EDITORA Canal 6 (0/xx/14/3313-7968)
        QUANTO R$ 33 (160 págs.)
        Mazzante debate a evolução do trabalho, a contar de sua importância em face da concretização da democracia e defende a superação do desgaste sofrido.
        REDUÇÃO DA JORNADA DE TRABALHO
        AUTOR Henrique Savian Bottizini
        EDITORA Letras Jurídicas (0/xx/11/3107-6501)
        QUANTO R$ 38 (152 págs.)
        A redução pretendida passa pela negociação coletiva e pelo dissídio coletivo, conforme levantamento de Bottizini em dissertação de mestrado.