quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Quadrinhos


folha de são paulo
CHICLETE COM BANANA      ANGELI

ANGELI
PIRATAS DO TIETÊ      LAERTE

LAERTE
DAIQUIRI      CACO GALHARDO

CACO GALHARDO
NÍQUEL NÁUSEA      FERNANDO GONSALES

FERNANDO GONSALES
MUNDO MONSTRO      ADÃO ITURRUSGARAI

ADÃO ITURRUSGARAI
BIFALAND, A CIDADE MALDITA      ALLAN SIEBER

ALLAN SIEBER
MALVADOS      ANDRÉ DAHMER

ANDRÉ DAHMER
GARFIELD      JIM DAVIS

JIM DAVIS

HORA DO CAFÉ      VELATI
VELATI

O luxo pode ser outro - Marina Colasanti


Estado de Minas: 13/12/2012 
Foi inaugurada no Rio a nova meca dos novos ricos, um shopping, perdão, um mall – shopping é coisa de novos pobres – que reúne lojas das mais famosas marcas dos mais caros produtos. Com a pança embutida de anúncios, a imprensa se ajoelha, “2012 será lembrado no futuro como o ano em que a poderosa indústria do luxo finalmente descobriu o Rio”, diz matéria da Veja. 

Tento equacionar meu conceito de luxo com o conceito estabelecido por alguns dos produtos do novo mall . 

Custa R$ 40 mil o baú Louis Vuitton que, de acordo com a bula, é um remake dos usados pelos nobres franceses do século 19. Minha mãe não era uma nobre francesa, nem era do século 19 e, para meu encantamento de menina, tinha um baú desse tipo. Chamava-se ”baú armário” porque, mantido na vertical, abria-se em dois, tendo de um lado gavetas sobrepostas e do outro o cabideiro e a sapateira. Era especialmente cômodo para viagens de navio, quando, colocado diretamente na cabine, permitia exibir a elegância sem ter que desmanchar a mala. 

Ao atracar do navio no porto, bastava fechar o trinco dourado, e chamar o carregador. Não sei, hoje, que utilidade teria num avião. O baú da minha mãe, que saído de uma loja qualquer de Roma havia ido para a África e dali de volta à Itália, acabou vindo para o Brasil. Brinquei muito com ele, e luxo supremo era para mim o casaco de veludo azul-safira com gola de raposa preta, feito por uma costureira da família, e esquecido para sempre dentro dele.

Custa R$ 580 mil o anel de diamante amarelo da Tiffany. É uma pedra estupenda, cor de ouro. Até recentemente, uma pedra assim haveria de ser pousada sobre o dedo, como se suspensa, retida apenas pelas garras do engaste; o solitário era a maneira mais perfeita de expor o valor de um diamante. Vi solitários belíssimos nas mãos da minha tia-avó, alguns de cor, usados com displicência. O luxo estava na displicência. Mas a pedra de que falo está rodeada por duas largas fileiras de brilhantes, e mais brilhantes recobrem o aro. Toda a beleza do diamante cor de ouro já não é suficiente para quem quer exibir o poder do cartão de crédito. 

O mesmo vale para o relógio Cartier de R$ 164 mil. A elegância dos números romanos no mostrador, a pureza das linhas, até mesmo o ouro da pulseira agora não bastam, mais vale comprometer o design acrescentando pelos lados duas fileiras de brilhantes.

Tempos de Natal, que tal uma garrafa de Moet & Chandon por R$ 13 mil? Contém três litros de um dos melhores chamanhes do mundo, mas não é essa a razão do preço. A razão está explicada no nome, “Golden Lace Jeroboam”, uma rede dourada, como uma cota medieval, envolvendo toda a garrafa, e uma placa, certamente dourada, para gravar o nome do dono. Pergunto-me o que faz o dono depois de beber o conteúdo: joga a garrafa fora, exibe-a vazia sobre um móvel da sala, ou pega um funil e outra garrafa cheia para encher a preciosa longe do olhar das visitas? E eu, tonta, que sempre achei luxo a garrafa empoeirada, vinda da adega da mansão, fresca ainda de tanto sono entre pedras.

Haverá certamente uma multidão no novo mall percorrendo as vitrines em busca do luxo. Mas o luxo, como o concebo, é outro. Hoje, seria ir ao Masp, em São Paulo, para ver mais uma vez Mulher de azul lendo uma carta, de Vermeer.

TEREZA CRUVINEL » Quadro febril na Câmara‏

Começam a surgir sinais de complicação na eleição do novo presidente da Câmara. Um quadro que deve fazer pulsar a luz vermelha do gabinete da ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, que deveria ter uma réplica no gabinete presidencial 

Tereza Cruvinel
Estado de Minas: 13/12/2012 
Começam a surgir sinais de complicação na disputa pela Presidência da Câmara. Embora a coalizão PT-PMDB seja ampla e forte o suficiente para, formalmente, bancar a eleição do candidato peemedebista, Henrique Eduardo Alves, está no horizonte a repetição de um quadro muito frequente nas eleições para a Mesa: a anabolização de um candidato avulso pelas insatisfações difusas dentro da maioria e pelo fermento dos opositores. Até mesmo Ulysses Guimarães, no auge de seu poder parlamentar, enfrentou dissidentes duas vezes: Alencar Furtado, em 1985, e Fernando Lyra, em 1987. Na era petista, um conjunto de erros permitiu a eleição de Severino Cavalcanti, que acabou sendo desastrosa para a Câmara.
Henrique Eduardo Alves vem fazendo uma campanha convencional, ancorada no princípio regimental de que a presidência cabe ao maior partido e no acordo de revezamento entre o PMDB e o PT, já que são aliados e numericamente equivalentes. Assim, ele conseguiu até mesmo a promessa de apoio do maior partido de oposição, o PSDB. Agora, os problemas começaram a aparecer, recomendando muito trabalho e habilidade ao candidato, ao PMDB e ao PT e ao próprio governo, que conhece a importância do cargo para seus projetos e sua sustentação.
Primeiro vieram os sinais de que nem todos no PT gostariam de ver o maior partido aliado no comando das duas Casas do Congresso. Depois, delineou-se a disputa pelo posto de líder da bancada do PMDB, hoje ocupado por Henrique Eduardo Alves. Se mal resolvida, terá reflexos sobre a candidatura de Alves. Nesse ambiente, ganha gás a candidatura do deputado Júlio Delgado, do PSB, inicialmente vista como um jogo que lhe daria projeção e reforçaria a mensagem de que o PSB é aliado do governo, mas aspira a um projeto próprio de poder. Nos últimos dias, ele pisou no acelerador, reuniu-se com diferentes bancadas e líderes partidários e começou a elaborar uma plataforma. Calcula contar, hoje, com cerca de 150 votos na Casa de 513 deputados. Anteontem ele se reuniu com a bancada tucana, apesar da promessa preliminar de apoio já feita ao peemedebista. Fez um discurso objetivo e prático: a quem interessa ter o PMDB tão forte, mandando na Câmara e no Senado? Certamente não ao PT, mas este precisa do PMDB para governar. Com certeza, disse aos tucanos, essa situação não interessará, no médio prazo, nem ao provável candidato tucano a presidente, Aécio Neves, nem ao talvez candidato do PSB, Eduardo Campos. Até fevereiro, os tucanos podem refluir do compromisso com a regra da proporcionalidade, em nome da qual admitiram apoiar Alves, animados pela péssima conjuntura astral do campo petista. Eles estão desconfiados de que Alves prometeu ao PSD o cargo na Mesa que seria do PSDB: a Primeira Secretaria.
Mas, afora o adversário externo, Henrique Alves tem um complicado problema doméstico para resolver. Já são cinco os deputados que querem sua cadeira atual: Eduardo Cunha (RJ), Sandro Mabel (GO), Danilo Fortes (CE), Osmar Terra (RS) e Saraiva Felipe (PMDB). Eduardo Cunha hoje é o mais agressivo na busca por apoio, mas o PMDB, em especial o vice-presidente Michel Temer, teriam que convencer a presidente Dilma Rousseff a aceitá-lo como líder. Ela herdou do antecessor Lula uma bronca com Eduardo Cunha. Relator da emenda constitucional que prorrogava a vigência da CPMF, ele cozinhou o assunto por tempo demais para forçar uma nomeação. Aprovada pela Câmara numa votação apertada, a emenda acabou caindo no Senado.
Tudo isso deve estar acendendo a luz vermelha do gabinete da ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, que deveria ter uma réplica no gabinete presidencial. 

Cuidados e descuidos
Se tivessem sido apreciados ontem, os vetos da presidente Dilma à Lei dos Royalties teriam sido derrubados. O Rio se manteve intransigente e o governo federal esteve muito passivo enquanto os demais governadores pressionavam as bancadas. Agora, ganhou-se um tempinho até a semana que vem. Os governadores acordaram também para o fato de que receitas garantidas mesmo são as do FPE. E, assim, começou a ser costurado ontem, com o relator Walter Pinheiro (PT-BA), um acordo para a aprovação do regulamento de partilha das receitas, exigido pelo Supremo Tribunal Federal. Sem essa lei, não haveria repasses aos estados em 2013. Teoricamente. A não ser que o Supremo, sob a presidência de Joaquim Barbosa, revisse a decisão anterior.

Cultura e memória
A Câmara inaugura amanhã o Centro Cultural Zumbi dos Palmares, decorrente da unificação do antigo Espaço Cultural e do museu da Casa. A nova instituição maximizará recursos e ampliará as ações nas áreas museológica, museográfica, histórico-parlamentar, artística e cultural, abrindo à sociedade o rico acervo memorialístico, histórico e artístico da Casa. A inauguração faz parte dos ritos de encerramento da Mesa atual, na qual o projeto foi abraçado pelo primeiro-secretário, Eduardo Gomes, e pelo presidente, Marco Maia, sob os cuidados de José Humberto de Almeida.

Na era do e-mail, o pombo-correio - Jefferson da Fonseca Coutinho‏

Dos 2 mil criadores dessas aves registrados no país e 400 mil mundo afora, 350 estão em Minas Gerais, e muitos já venceram importantes competições em todo o Brasil 

Jefferson da Fonseca Coutinho
Estado de Minas: 13/12/2012 
Esqueçam os pombos de chão e telhado, chamados “ratos com asas”, tão criticados nos grandes centros urbanos. Pensem agora nos heróis de penas, mensageiros dos ventos, capazes de salvar batalhões inteiros com bilhetes e mapas nas canelas durante as grandes guerras. Nas asas do tempo, no século 21, longe das praças, vacinados e bem alimentados, protegidos contra doenças, estão os pombos-correio, sobreviventes a era digital, presentes em pelo menos 90 federações, com cerca de 400 mil criadores mundo afora. No Brasil, Minas Gerais lidera a criação desses bravos do céu, treinados para competição, com 350 aficionados, dos 2 mil registros em todo o país. 

Em Belo Horizonte, só o Columbódromo BH, no Bairro Dom Silvério, na Região Nordeste, reúne 50 associados e promove, por ano, 12 provas de velocidade e distância – chamadas “meio fundo” e “fundo”, com até 800 quilômetros de linha reta entre Bahia e Minas. As premiações são variadas e chegam a distribuir veículos zero quilômetro. Por essas bandas, uma ave campeã pode custar até R$ 5 mil. A paixão dos mineiros pelos pombos-correio não surpreende o diretor da Federação Columbófila Brasileira, Márcio Mattos Borges de Oliveira, de 53, de Ribeirão Preto, São Paulo. “Minas é um estado, tradicionalmente, de muito carinho com os pássaros, de raízes”, considera.

O professor de matemática da Universidade de São Paulo (USP), criador desde 1979, tem 300 aves e orgulha-se de quarta colocação em mundial de Portugal. Também registra o feito de 10 de seus pombos, em 2008, que deixaram a divisa de Minas e Bahia, no Vale do Mucuri, às 6h15, e voltaram a Ribeirão Preto, às 15h45, com o tempo de 44 segundos entre o primeiro e o último a tocar a placa de chegada. Das lições retiradas do pombal e dos cuidados com a criação, Márcio fala em “disciplina e conhecimento”. “O criador não tem sábado, domingo nem feriado. É preciso também leitura. O criador se torna um especialista em nutrição”, explica.

O som do bater das asas da “esquadrilha” e o céu em movimento despertam os olhares dos passantes da Rua Marfisa de Souza Raposo e adjacências, na Região Nordeste. Até os vizinhos mais acostumados não resistem e param para esquadrinhar as nuvens durante os treinos dos 250 “atletas”. Cena que, há 25 anos, se repete todos os dias e ainda emociona Welington Perdigão Lima, de 60, torneiro mecânico e presidente da Sociedade Columbófila Pampulha. Ele e a mulher, Denise Marçal, reproduzem e treinam pombos, organização as competições anuais, além de dar assistência aos 50 associados do clube. Nos dois últimos anos, por temporada, Welington tem percorrido 14 mil quilômetros com o caminhão que transporta as aves competidoras, enquanto Denise cuida da aferição e dos registros eletrônicos de cada evento.

O criador explica que os pombos-correio não voam para qualquer lugar como muita gente pensa. O que ocorre é que a ave, territorialista, sempre volta para o espaço em que nasceu e ganhou penas. Assim, como indicam registros históricos – dos faraós do Egito antigo aos generais da Segunda Grande Guerra –, esses pequenos sujeitos de penas ajudaram a escrever feitos da humanidade falando por meio das canelas. Hoje, os recados deram lugar às anilhas com números de identificação e dados do criador. Uma curiosidade é que, até os anos 1980, os registros de origem e trânsito dos pombos-correio eram controlados pelo Exército.

CAMPEÕES Falar em pombos de competição é motivo de satisfação para o empresário Hugo Leonardo Lopes, de 38 anos. Paixão que vem da infância, do contato com o irmão mais velho, criador de pombos comuns, a columbofilia é mais que hobby para Hugo. Diferentemente de muitos aficionados, que tratam suas aves pelos números de registro, Hugo dá nome a muitos de seus “guerreiros”. Cita os campeões como quem fala da família: “Tenho o Chifrinho, o Lilás, o melhor que tenho. E o Mosqueado, pai da Canoa e da Violeta, duas campeãs”. Em 2003, Hugo começou bem no mundo das competições. Logo na segunda prova, foram dele os primeiro, segundo e terceiro lugares. O que motivou ainda mais o empresário.

Conhecido em Belo Horizonte como “campeão de velocidade”, Hugo concentra suas aves nos treinos da modalidade. São 150 “velocistas de bico e pena” no pombal do Bairro União. Colecionador de títulos, nos últimos nove anos, o empresário conta nove campeões – dois machos e sete fêmeas. Outro criador vencedor, amigo, confirma o diferencial em velocidade das aves de Hugo. Ulisses Herculano Alves, de 42, segundo lugar no Columbódromo BH deste ano, fala que os pombos o ajudam a “combater o estresse”. 

Esportista, criador de famílias de campeões desde 2000, o militar considera que a ave é grande exemplo para o homem. “Aprendemos com os pombo-correio a disciplina e o respeito aos limites”, ressalta. Ulisses fala da amizade entre os criadores, dos ensinamentos de cada temporada e cita passagem em campeonato, quando esteve doente por 15 dias e Hugo, adversário, ajudou-o com suas aves competidoras. 


SAIBA MAIS: UMA BÚSSOLA NO BICO
Para se guiar no caminho de volta, os pombos-correio têm três habilidades fundamentais: a visão, pela qual localizam o Sol e identificam sua posição (leste, oeste e norte); o relógio interno, por meio do qual identificam o período do dia (manhã, meio-dia, tarde, noite); e a memória, que eles utilizam para aprender a relação entre a posição do Sol e o horário. Orientam-se graças ao campo magnético da Terra e não ao seu olfato, segundo estudo publicado pela revista Nature, que chama atenção para a existência de magnetita no bico das aves. Segundo a pesquisa, esse “ímã natural” permite aos pombos ter uma percepção magnética dos percursos e cobrir grandes distâncias sem se perderem, regressando depois ao ponto de partida. No entanto, a explicação magnética é contestada por alguns especialistas, que atribuem a orientação dos pombos a certos odores encontrados na atmosfera.


Herói de guerra 
Em outubro de 1918, o pombo Cher Ami – “caro amigo”, em francês – sobreviveu em território alemão e, atingido durante o voo, mesmo cego, com o papo baleado e sem uma de suas pernas, conseguiu levar mensagem da 77ª Divisão e salvar 194 norte-americanos do Batalhão Perdido. Pela bravura, o pombo recebeu a Cruz de Guerra francesa.

Cairo, a cidade eterna - Roger Cohen


INTELIGÊNCIA/
Cairo
Parte da magia desta grande cidade, mesmo quando abalada por turbulências políticas, reside na sua aparente capacidade de absorver qualquer revolta, desafiar as probabilidades, superar tudo -dos engarrafamentos à burocracia- e sobreviver. Como o Nilo, a sua referência, o Cairo tem o fascínio do eterno.
A grandeza de nenhum edifício resiste à marcha de poeira, e, no entanto, a cidade retém algo da sua inefável majestade. As lutas dos seus muitos milhões de habitantes estão sempre aparentes, mas sua dignidade em meio às dificuldades é menos visível. A cidade derrota verdades simples.
Isso é bom. Gostamos das nossas verdades simples hoje em dia. Preto ou branco é o que queremos. "Só que", responde o Cairo, "eu sou cinza!".
A turbulência política do Egito pós-revolucionário é óbvia. Menos óbvia é a forma como a sabedoria e o bom humor daqui temperam e moldam os fatos. Uma coisa é viver num país como a Síria, com fronteiras desenhadas no começo do século 20 por algum burocrata britânico dispéptico, onde a tentação da dissolução nunca está muito abaixo da superfície. Outra coisa é ser parte de uma terra e uma cultura tão antigas quanto as do Egito.
Comecei a pensar nisso durante a rebelião de dois anos atrás na praça Tahrir, que levou à queda de Hosni Mubarak. Toda noite, dezenas de milhares de pessoas, incluindo mulheres e crianças, saíam da praça através do estreito espaço entre dois tanques. O potencial para um desastre era alto. Um momento de pânico ou de afobação poderia levar a um tumulto e a um banho de sangue. Mas a civilidade, o respeito e a paciência prevaleceram.
Tais verdades nos dizem mais sobre as perspectivas de longo prazo de um país do que fatos mais imediatos e chamativos. A humanidade da Itália, o otimismo do Brasil e a abertura dos EUA são qualidades que as estatísticas não conseguem mensurar. Da mesma forma, não há contagem ou pesquisa que identifique essa qualidade que encontrei na praça Tahrir. Não é à toa que o Egito, ciente do preço e da inutilidade da guerra, foi o primeiro país árabe a fazer a paz com Israel.
Gosto de parar no Cairo para sentir os ritmos da cidade. Como muitos lugares, o Cairo oferece dois universos distintos.
Há os estabelecimentos globalizados, reluzentes, com ar-condicionado, onde você toma um café com leite pelo mesmo preço de Paris ou Nova York. Aqui o tempo corre na velocidade do século 21. Noticiários e desfiles de moda passam na TV.
E há então o mundo lento no qual a maioria dos cairotas vive e ri, com suas espeluncas oferecendo chá ou café doce e porções de feijões ("ful"). Você poderia viver feliz durante alguns dias com os feijões não globalizados pelo preço de um daqueles cafés globalizados. Muitos cafés no mundo lento oferecem "shishas" (narguilés) para fumar tabaco com aroma de maçã enquanto você vê o dia ir embora. É um ritual agradável de observar. Um homem de movimentos precisos abana as brasas, sacudindo-as em uma concha metálica escurecida, antes de colocá-las com uma pinça, uma a uma, no narguilé. Nada é feito com pressa aqui, porque nada vai mudar.
Confundimos atividade e movimento com realizações. Pode-se ganhar mais com uma pausa. Cada época tem suas ilusões. Recentemente, li uma revista de 1938. Um editorial dizia: "A máquina deixou os homens frente a frente como nunca antes na história. Paris e Berlim estão mais perto hoje do que aldeias vizinhas estavam na Idade Média. Em certo sentido, a distância foi aniquilada".
Isso foi mais de meio século antes da invenção da internet. É importante desacelerar, no mínimo porque estamos longe de ser os primeiros humanos a acreditar que o mundo se acelerou. Mesmo no mundo lento do Cairo há surpresas. Enquanto eu fumava "shisha" num modesto estabelecimento da rua Kasr el Nil, uma amiga observou que o local anunciava uma conexão wireless.
"Qual é a senha?", perguntou ela ao proprietário.
"Nike", respondeu ele, que continuou passando um café.

    Dieta evita câncer após a menopausa‏

    Alimentação saudável é a melhor forma de mulheres que passaram do climatério diminuírem chances de tumor. Praticar exercícios torna a prevenção ainda mais eficiente 

    Estado de MInas: 13/12/2012 

    Cientistas estimam que 25% dos cânceres são causados pelo sobrepeso, pela obesidade e pelo estilo de vida sedentário. Fatores de risco particularmente comuns em mulheres mais velhas. Em média, o aumento de cinco quilos na massa corporal pode estar associado ao crescimento de 12% da chance de mulheres que estão na pós-menopausa terem câncer de mama, segundo estudo publicado na revista científica The Lancet, em 2008. Com base nesse cenário, pesquisadores do Centro de Pesquisa em Câncer Fred Hutchinson, de Seatle, nos Estados Unidos, concluíram que a dieta é a melhor alternativa para perder peso e, consequentemente, reduzir o risco de tumores malignos em quem já passou do climatério. 

    A relação estabelecida no estudo entre obesidade e alimentação inadequada pode ser um indicador de que essas duas condições afetam o risco de câncer por meio de vários mecanismos, incluindo as inflamações provocadas no corpo pelo excesso de peso. Os danos repetidos no tecido humano, produzidos pela reação de espécies de nitrogênio e de oxigênio à inflamação, induzem à deteriorização do DNA e à mutação de genes, podendo dar início à carcinogênese, processo pelo qual uma célula normal se torna cancerígena. 

    Biomarcadores inflamatórios, como o C-reactive protein (CRP) e o interleukin-6 (IL-6), indicam essa condição. Por meio da análise desses elementos, a equipe comandada por Anne McTiernan conseguiu estabelecer a relação entre tumores malignos e a alimentação mais saudável. “A idade e a obesidade avançadas são fatores de risco para vários cânceres que afetam as mulheres, incluindo o de cólon, o de pâncreas e nos rins. Sendo assim, as intervenções para perder peso podem ser importantes p
    ara reduzir o risco de vários cânceres nesse público”, considera Anne.
    O estudo, intitulado “The nutrition and exercise for women”, foi realizado entre 2005 e 2009. Os pesquisadores escolheram 439 participantes que estavam na pós-menopausa, não faziam terapia de reposição hormonal, e não tinham histórico familiar de câncer de mama, doenças cardiovasculares ou de diabetes, entre outras complicações médicas. As participantes formaram quatro grupos. O primeiro, com 118 mulheres, adotou uma dieta com restrições calóricas. Outras 117 mulheres fizeram exercícios aeróbicos, com intensidade moderada e avançada, por cerca de 45 minutos diários. O terceiro grupo, formado por 117 pessoas, combinou dieta e exercícios. O último, com 87 colaboradoras, não fez dieta nem exercício.

    Depois de um ano de acompanhamento, houve redução do peso por meio da dieta, com ou sem exercício, produzindo uma queda também em vários biomarcadores de inflamação. “Os grupos que tiveram restrição calórica por meio da dieta experimentaram a perda de 9% a 11% de peso. Esses resultados sugerem que até uma quantidade modesta de perda de peso pode ter efeitos benéficos nos biomarcadores inflamatórios, que podem impactar na redução de risco de vários tipos de câncer em mulheres com sobrepeso ou obesas”, avalia a pesquisadora.

    Anne revela que uma revisão de 33 estudos de intervenção descobriu que um quilo de peso perdido corresponde a 0,13 mg/L de redução do C-reative protein. “Um número pequeno de estudos já investigou os efeitos do emagrecimento por meio da alimentação e da atividade física nos biomarcadores inflamatórios. Uma pesquisa de 18 meses com 316 idosos obesos ou com sobrepeso que fizeram dieta, mas nenhum exercício, reduziu o CRP e o IL-6 particularmente em homens. Esses resultados são parecidos com a descoberta no nosso estudo.”

    IMC até 25 A oncologista Ilana Zalcberg pondera que mais de um terço das mortes podem ser atribuídos aos hábitos alimentares inadequados e à limitada prática de atividade física. “Entretanto, várias questões relacionadas à nutrição e ao câncer são controvertidas, uma vez que os resultados dos estudos publicados não são consistentes. Os diversos nutrientes costumam ser avaliados isoladamente e o resultado é uma simplificação excessiva diante da complexidade da dieta e dos padrões alimentares”, avalia. Ilana afirma, no entanto, que o estudo do Centro de Pesquisa em Câncer Fred Hutchinson é bem fundamentado “com a utilização de um corte bastante razoável e pacientes acompanhados de acordo com uma linha de tempo, além do uso de marcadores bastante estabelecidos”.

    Segundo a oncologista, para reduzir o risco de câncer, o índice de massa corporal (IMC) deve ser mantido abaixo de 25. Esse nível, reforça ela, é mais facilmente atingido quando a prática de exercícios físicos junta-se à dieta contra a obesidade. “As recomendações mais recentes para adultos indicam a necessidade de um mínimo de 150 minutos de atividade moderadamente intensa ou 75 minutos de atividade intensa distribuídos ao longo da semana. A atividade física deve ser estimulada também entre as crianças. Sessenta minutos de atividade moderada ou vigorosa com pelo menos três dias de atividade vigorosa devem fazer parte da rotina diária”, destaca.

    Efeitos também na autoestima

    Uma pesquisa conduzida pela Universidade de Alberta, no Canadá, compilou e revisou uma série de estudos que relacionam o câncer à prática de exercício físico. O apanhado de documentos ressalta os efeitos benéficos da atividade para prevenir a doença, durante o tratamento e após a cura. “Vários estudos sugerem que o exercício pode ser uma intervenção efetiva para aumentar a qualidade de vida em sobreviventes do câncer”, diz Kerry Courneya, principal autor do estudo.
    O pesquisador também estudou o efeito dos exercícios durante quimioterapia contra tumores de mama. Depois de acompanhar 242 pacientes, ele concluiu que os exercícios aeróbicos e de resistência melhoraram a autoestima, o preparo físico e a composição do corpo. “As atividades ajudaram ainda a completar a quimioterapia sem causar linfedema ou eventos adversos”, acrescenta Courneya, citando um estudo publicado, em 2009, na revista The New England Journal of Medicine. 

    O linfedema é a retenção de líquidos causada pelo acúmulo anormal de proteínas nos tecidos do corpo. Ele ocorre, com maior frequência, em casos posteriores à cirurgia para a retirada da mama. De acordo com a pesquisa de 2009, fazer atividades físicas no período de um ano ajuda a diminuir o linfedema e reduzir em até 5% os problemas com inchaço nos braços.

    A saga de um cão fila - Arnaldo Viana e Sandra Kiefer

    Estado de Minas: 13/12/2012

    A balconista da loja da Drogaria Araujo, quase na esquina das avenidas do Contorno e Getúlio Vargas, Região da Savassi, Centro-Sul de Belo Horizonte, estranhou quando ele entrou, meio sorrateiro, com as grandes orelhas caídas. Era noite de domingo, 25 de novembro. Queria a inusitada figura um medicamento? Comida? Mas o estranho nem cliente era. Simplesmente entrou e se ajeitou sob uma escada. Buscava proteção e ninguém na farmácia conseguiu se aproximar dele e muito menos expulsá-lo. Rosnava e mostrava os dentes. Tratava-se de um cão fila brasileiro, de pelo cinza amarelado. Chamados, os bombeiros o capturaram com dificuldade e o levaram para o Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) da PBH.

    A invasão da drogaria e as cenas da captura registradas em foto pelos bombeiros não foram o começo da saga de Pivete. Esse era o nome do cara de quatro patas e pelo manos dois anos e meio de vida. A origem e o destino dele após a passagem pelo CCZ só vieram à tona depois do aparecimento do aposentado Maurício Guedes, de 69 anos, que se apresentou como dono do animal, embora o tenha perdido, talvez para sempre. “Fui buscá-lo no CCZ e a gerente, Maria do Carmo (Maria do Carmo de Araújo Ramos), disse que ele era mais meu, tinha sido doado. E ainda mandou castrá-lo. Agora, não sei mais o que fazer para tê-lo de volta.” A auxiliar administrativa Clara Dias, de 39, que tem atividade ligada a cães, adotou o fila, o rebatizou como Adamastor e não quer devolvê-lo. 

    Pivete (hoje Adamastor) era ajudante do vigia de uma obra que Maurício Guedes toca com o filho na Rua Canápolis, no Bairro da Serra, Região Centro-Sul. O aposentado conta que em 22 de novembro se internou no Hospital Madre Teresa para trocar a prótese instalada em um dos braços. “Em um domingo (25 de novembro), o vigia se descuidou, e Pivete fugiu. O meu funcionário saiu procurando-o e não o achou.” O cão, talvez, não quisesse ser encontrado ao refugiar-se na drogaria, último lugar onde alguém procuraria um animal perdido. Talvez estivesse cansado de tomar conta de obra em troca de uma alimentação baseada em pelanca de carne, resto de açougue. Segundo Maurício, era o que ele recebia como refeição. 

    O aposentado conta que saiu do hospital quinta-feira da semana passada, quando ficou sabendo que o cachorro estava no canil municipal. Lá recebeu a informação de que o fila havia sido adotado. O CCZ informa, por meio de nota, que, de acordo com o Decreto Lei 5.616/1987, o animal fica sob a guarda da unidade durante três dias úteis para que o dono possa resgatá-lo. Passado esse prazo, entra no programa de adoção. Clara Dias se interessou e segunda-feira formalizou a adoção. Embora Maurício diga que não teve contato com que adotou o fila, Clara conta o contrário. 

    “Li a reportagem sobre o fila (foi publicada no Portal Uai) e me interessei por ele. Cachorro de grande porte, considerado de risco, é sacrificado pelo CCZ se ninguém se habilita a adotá-lo. Salvei um bichinho da morte e hoje ele está feliz, tem uma família. O homem que se apresentou como dono não tinha fotos ou vídeos que comprovassem convivência com o cão”, diz Clara. Ela mantém um serviço de hospedagem para cães no Bairro Castelo, Região da Pampulha. “Não acho certo usar um cachorro como vigia de obra e mudei o nome para Adamastor em homenagem ao chefe do canil do CCZ. Mudei o nome não porque acho Pivete pejorativo, mas por questão de gosto.” O fila foi entregue a ela vacinado, castrado e com um chip.

    Sem saber o que mais fazer para reaver o cão, Maurício pediu ajuda a Franklin Oliveira, dono de uma ONG dedicada à proteção de animais e funcionário da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, que nada pôde fazer. O caminho para ele, agora ,é o Juizado Especial. “Mas isso pode ser demorado”, diz o aposentado com uma pequena carga de desânimo na voz. Melhor para Clara Dias. Quanto a Adamastor, ex-Pivete, não se sabe qual desfecho dessa saga o agradará mais.


    SAIBA MAIS: ORIGEM EUROPEIA

    O fila chegou ao Brasil pelas mãos dos colonizadores europeus. É animal de faro apurado e foi muito usado para ajudar na captura de escravos foragidos. Aqui, a raça cruzou com outros cães e ganhou o nome de fila brasileiro. Tem forte estrutura óssea e foi, ou ainda é, usado também por fazendeiros no trato com os bovinos. Tem temperamento forte, mas domesticado revela-se um cachorro tolerante com crianças, comportado e seguro.
     

    TV PAGA


    Estado de Minas:13/12/2012

    Fim da linha
    Dois episódios inéditos exibidos em sequência esta noite, a partir das 21h, no cana History, vão encerrar a quinta temporada da série Estradas mortais. A aventura pelas estradas congeladas do Canadá e do Alasca chega ao fim com mais alguns obstáculos para os corajosos caminhoneiros. Entre os perigos, um urso-polar aparece na Baía de Prudhoe e bloqueia a carga da transportadora. Um dos veteranos motoristas coloca sua vida em risco para contornar a situação, enquanto um dos novatos é enviado para casa e a filha favorita de Dalton, Lisa Kelly (foto), acelera para a linha de chegada.

    NatGeo leva assinante 
    ao inferno das drogas
    No NatGeo, às 21h45, vai ao ar o especial Quintas de drogas. Isso mesmo: o canal vai mostrar o avanço do consumo de substâncias ilegais, assim como a sua produção e distribuição. O primeiro episódio de Drogas S/A vai tratar da pílula de ópio, conhecida como heroína Hillbilly, um poderoso analgésico que se tornou a segunda maior causa de mortes acidentais nos EUA, perdendo apenas para acidentes de trânsito. No segundo, o crack, entorpecente barato, de ação curta e intensa, que deixa os usuários desesperados por mais e alimenta o crime e a violência como nenhuma outra droga do planeta. E por fim o ecstasy, a droga do amor supremo, muito popular nas baldas de música eletrônica.

    Campeão de vendas
    revela seus truques
    A truTV promove hoje mais duas estreias. Às 22h, O grande vendedor mostra a habilidade de “Big” Brian Elenson para vender qualquer que seja o objeto em negociação, sempre em prazos recordes, comandando mais de 200 vendas por ano, oferecendo desde artigos excêntricos até tesouros ocultos. Às 23h, é a vez de Os rebocadores de South Beach, que acompanha a rotina de uma empresa familiar encarregada de rebocar todos os veículos estacionados irregularmente na região mais movimentada da noite de Miami.

    Economista troca as 
    planilhas pela prancha
    Amigos de infância, Bruno Pesca e Marcelo Trekinho se reencontram anos depois de suas vidas tomarem rumos totalmente distintos, para viver da forma como sempre sonharam. Em A vida que eu queria, o economista Bruno Pesca abandona o mercado financeiro para experimentar um pouco da vida do amigo, que se tornou surfista profissional. Marcelo Trekinho revela detalhes da sua vida e como se distanciou das competições após 10 anos seguindo o circuito mundial de surfe. O especial integra a programação do primeiro aniversário do canal Off. Confira às 21h.

    Ação, drama e humor 
    no pacote de cinema
    O festival de filmes de James Bond vai chegando perto do fim com mais dois longas esta noite, no canal TCM: 007 contra Goldeneye (22h) e 007 – O amanhã nunca morre (0h30). Na concorrida faixa das 22h, o assinante tem mais oito opções: Corisco e Dadá, no Canal Brasil; Sexo com amor?, no Megapix; As aventuras de Agamenon, o repórter, no Telecine Premium; Enrolados, no Telecine Fun; Amor a distância, na HBO2; Dicionário de cama, no AXN; Confidências à meia-noite, na Cultura; e Janela secreta, no Max Prime. Outras atrações da programação: Simplesmente complicado, às 19h40, na TNT; e Jumper, às 22h15, na Fox.

    Sites de busca revelam curiosidades alheias


     QUENTIN HARDY e MATT RICHTEL
    Tem coisas que você pergunta aos amigos, parentes e confidentes próximos. Outras, à internet.
    Há anos, sites de busca oferecem pistas sobre os tópicos que as pessoas procuram. Agora, sites como o Google e o Bing estão mostrando de forma exata as perguntas mais frequentes, permitindo-nos espiar virtualmente as curiosidades privadas dos outros. Isso está revelando padrões interessantes.
    Perguntas frequentes incluem: Quando o mundo vai acabar? Neil Armstrong é muçulmano? George Washington era gay?
    As perguntas vêm das ferramentas chamadas "autocompletar" ou "autossugerir". Elas antecipam o que você deverá perguntar com base em perguntas que outras pessoas já fizeram.
    Basta digitar alguma coisa começando com "é" ou "foi" [em inglês, essas formas verbais aparecem no início de frases interrogativas], e os buscadores passam a preencher o resto.
    Estudiosos do comportamento on-line também dizem que as perguntas mostradas pelos sites muitas vezes são politicamente incorretas ou delicadas.
    "Seu buscador é o seu melhor amigo. Você fala com ele sobre tudo, até sobre coisas que você não falaria com seus melhores amigos reais", disse Danny Sullivan, editor-chefe do Search Engine Land, um site que cobre a indústria das buscas.
    Uma categoria surge com intrigante frequência: a dúvida sobre se determinada pessoa é gay. Isso costuma aparecer também quando você inicia buscas sobre George Clooney, sobre o jogador de beisebol Alex Rodríguez, sobre a atriz Ellen Page, sobre Genghis Khan e até sobre o papa.
    Nick In't Ven, gerente-sênior de programação do Bing, da Microsoft, disse que os resultados refletem as curiosidades coletivas dos usuários. "Baseamos isso na experiência, no que os usuários têm perguntado no mundo inteiro", disse In't Ven. "Estamos tentando refletir as intenções coletivas do mundo."
    In't Ven acrescentou que ele e sua equipe costumam conversar sobre as perguntas estranhas que surgem.
    Há alguns meses, eles se interessaram pelas frequentes buscas sobre estereótipos culturais. Digite "Por que os americanos são", e as opções de autocompletar incluem "gordos", "estúpidos" e "patrióticos". Substitua por "chineses", e entre as sugestões aparecerão "magros", "rudes" e "inteligentes".
    Krisztina Radosavljevic-Szilagyi, porta-voz do Google, escreveu que "os termos de busca que você vê na função de autocompletar são um reflexo das atividades de busca de todos os usuários da web".
    Uma razão de ser desses serviços é reduzir os erros de digitação, para tornar os resultados mais rápidos e precisos. Mas outro motivo é dar às pessoas a sensação de que as coisas estão andando mais velozmente, poupando-lhes o tempo de digitar algumas palavras adicionais.
    Em uma experiência há vários anos, o Google descobriu que as pessoas se diziam mais satisfeitas com as buscas quando os resultados apareciam poucos milésimos de segundos antes, num intervalo inferior ao que é possível ser percebido conscientemente.
    Sean Gourley, cofundador e diretor de tecnologia do Quid, empresa de análise de dados, disse que os resultados do autocompletar salientam o caráter privado da conversa que as pessoas acreditam estar tendo com seus computadores.
    "Não estamos sendo julgados pelo nosso computador, ou melhor, não sentimos que estamos sendo julgados", afirmou.
    "Tendemos a fazer perguntas sem nenhum tipo de barreira."[in folha de são paulo]

      Espécie recém-descoberta amarga 'gaveta'


      Cálculo feito por franceses indica que animais e plantas levam 21 anos, em média, para receberem nome científico
      Demora atrapalha esforços para mapear a biodiversidade do planeta, afirma estudo na "Current Biology"
      FRANCISCO ZAIDENCOLABORAÇÃO PARA A FOLHA DE SÃO PAULOPesquisadores franceses especialistas em biodiversidade fizeram uma conta nada animadora: em média, passam-se mais de 20 anos entre a descoberta de uma espécie e sua descrição, ou seja, o "batismo" formal com um nome científico.
      O dado, que está em artigo recente na revista científica "Current Biology", dá uma medida do tamanho do atraso que afeta o conhecimento sobre a diversidade de espécies do planeta.
      A equipe francesa, liderada por Benoît Fontaine, apelidou essa demora de "shelf life" ("vida na prateleira", por analogia com o tempo que os produtos duram nas prateleiras do supermercado ou da despensa).
      Nesse andar da carruagem, segundo o estudo, seriam necessários muitos séculos para descrever todas as espécies que vivem na Terra -e, sem essa informação, fica difícil tomar decisões sobre conservação ou fazer estudos evolutivos bem embasados.
      No estudo, os pesquisadores começaram com uma lista de 16.994 espécies descritas em 2007. Dessas, eles analisaram 600, de diferentes reinos, escolhidas ao acaso. Tiveram acesso à data de descoberta de 570 delas e calcularam a média do intervalo entre a descoberta e a descrição. O resultado: 20,7 anos entre as duas datas.
      O biólogo Antonio Marques, do Departamento de Zoologia da USP, diz que essa demora se deve ao fato de que muitos espécimes, quando vão para os museus, ficam à espera de um pesquisador que possa analisá-los.
      FATOR SORTE
      "Há todo o trabalho de separação e triagem. Tem de dar sorte de que alguém que esteja trabalhando no museu tenha conhecimento do material e que depois possa descrevê-lo", explica.
      O "tempo de prateleira" pode ser menor para espécies aquáticas e maior para espécies terrestres. Esse resultado surpreendeu os pesquisadores franceses, que dizem não saber como explicá-lo.
      Marques diz que um organismo marinho é mais difícil e mais caro de ser catalogado e, por isso, é tratado com mais cuidado. "Ao chegar ao navio de pesquisa, o organismo já tem uma equipe pronta à sua espera", explica.
      Há também um fator sociológico identificado pelo estudo: a divisão entre taxonomistas (especialistas em classificação) profissionais e não profissionais.
      O "tempo de gaveta" de novas espécies descritas por profissionais é maior do que o das descritas por não profissionais. Segundo o estudo, muitos amadores trabalham de maneira pessoal, com projetos de menor escala e quantidades limitadas de espécimes coletadas.
      "Entretanto, pelo fato de os amadores conseguirem o mesmo reconhecimento na descrição das espécies, eles devotam muito tempo a esse trabalho", diz o estudo.
      Para os taxonomistas profissionais, por outro lado, a mera descrição não basta: eles ganham mais prestígio se fizerem estudos detalhados do relacionamento evolutivo entre as várias espécies, o que atrasa o trabalho.

        FRASE
        "Acabaremos descrevendo espécies já extintas, como os astrônomos enxergam estrelas já desaparecidas"

        Relíquias judaicas


        No Bom Retiro, a sinagoga mais antiga do Estado completa 100 anos hoje e prepara inauguração de memorial dos imigrantes
        FERNANDA KALENACOLABORAÇÃO PARA A FOLHA DE SÃO PAULO
        A sinagoga mais antiga do Estado de São Paulo completa hoje o seu primeiro centenário. Construída em 1912, na rua da Graça, no bairro do Bom Retiro, a Kehilat Israel ou Comunidade Israelita, como é chamada, teve um papel importante na imigração de judeus para o Brasil.
        Grande parte dos imigrantes desembarcava no porto de Santos rumo a São Paulo e, nas primeiras noites no bairro da região central da capital, a sinagoga era mais do que o centro religioso -ela também os abrigava.
        Antigamente, ela ficava no segundo andar de um sobrado. No primeiro, havia camas e uma cozinha para os recém chegados. Assim, a sinagoga que se desenvolveu com o bairro se transformou em referência no Bom Retiro.
        Entre as décadas de 1920 e 1930, segundo dados divulgados pelo IBGE no artigo Os judeus no Brasil, de Keila Grinberg, quase 30 mil judeus entraram no país.
        O fluxo de imigrantes continuou com a ascensão do nazismo na Europa. Não demorou para que o local ficasse conhecida como bairro dos judeus, já que eles detinham quase todo comércio da região.
        Com o passar dos anos, no entanto, esse cenário mudou. Na Kehilat Israel também.
        DECLÍNIO
        Segundo a Câmara de Dirigentes Lojistas do Bom Retiro, 70% do comércio local hoje é administrado por coreanos e apenas 20% por judeus.
        "No meu prédio quase não tinha mais judeu", diz o advogado Francisco Kirchenchteyn, 74, que em 1998 trocou o Bom Retiro por Higienópolis. "Muitos judeus adquiriram status melhor e acabaram deixando o bairro", afirma ele.
        Assim como o bairro, a sinagoga centenária também sentiu o impacto. Esvaziada e com poucos recursos o abandono era visível. "Quando chovia, tinha muitas goteiras. Tinha mofo e um grave problema de infiltração", diz o engenheiro mecânico Aizic Bauman, 57, que frequenta o local desde criança.
        CENTENÁRIO
        A sinagoga fechou no ano passado para reforma e, no mesmo espaço, está sendo construído o Memorial da Imigração Judaica.
        "A ideia surgiu porque a sinagoga estava minguando, a colônia judaica no Bom Retiro diminuiu bastante. Ela é um marco na nossa imigração e é importante preservar sua história", afirma o rabino David Weitman, que integra o conselho consultivo do futuro memorial.
        Entre documentos e objetos, o acervo já conta com mais de 500 itens. Todos vieram de doações das famílias judaicas de São Paulo.
        A previsão é que a obra acabe em 2014, mas ainda faltam recursos. "Famílias que frequentavam a sinagoga estão ajudando a financiar o projeto, mas esperamos conseguir apoio das secretarias de cultura", conta o rabino.
        A sinagoga Comunidade Israelita está comemorando 100 anos e, para marcar a data, um evento duplo: hoje, às 19h30, em frente à sinagoga, será realizada a festa do centenário e a cerimônia de colocação da Pedra Fundamental, que marca a construção do Memorial.

        FRASES
        "A ideia surgiu porque a sinagoga estava minguando, a colônia judaica no Bom Retiro diminuiu bastante"
        "Ela é um marco na nossa imigração e é importante preservar sua história"
        DAVID WEITMAN
        rabino que integra o conselho consultivo do futuro memorial
        "Muitos judeus adquiriram status melhor e acabaram deixando o bairro"
        "No meu prédio quase não tinha mais judeu"
        FRANCISCO KIRCHENCHTEYN, 74
        advogado, explicando os motivos que o levaram a sair do Bom Retiro