terça-feira, 13 de maio de 2014

Não basta escrever - Mariana Peixoto

De olho no mercado internacional, romancistas apostam em traduções e edições próprias de e-books. Marcela Mariz e Laura Conrado seguiram caminhos opostos


Mariana Peixoto
Estado de Minas: 13/05/2014



Marcela Mariz, que mora nos EUA, lançou seu e-book em inglês e, depois do sucesso, foi procurada por uma editora brasileira   (Editora Gutenberg/Divulgação)
Marcela Mariz, que mora nos EUA, lançou seu e-book em inglês e, depois do sucesso, foi procurada por uma editora brasileira


Um garoto recebe um convite fora do comum: fazer parte de uma sociedade secreta e avançada, que apenas se revela a alguns escolhidos. A carioca Marcela Mariz era também uma adolescente quando sonhou com o tal garoto. Na época, ela, que já escrevia alguma coisa sem nenhuma pretensão, apenas anotou a ideia central do sonho. Muitos anos mais tarde, quando já vivia na Califórnia – e com muito tempo livre –, resolveu transformar aquele enredo em um romance. Advogada em início de carreira, Marcela escreveu a história de Albert em inglês. Era uma maneira de treinar a língua do país em que vivia. Uma vez pronto, tentou publicar o livro, The chosen of Gaia, pelos meios convencionais. Cansada de levar negativas, optou por se autopublicar, prática comum para escritores desconhecidos nos EUA. Lançado pela Amazon em agosto de 2012, The chosen of Gaia vendeu, até agora, 20 mil e-books. Dois anos mais tarde, ganha edição brasileira. O romance saiu pela Editora Gutenberg (selo jovem da Autêntica) e, por ora, somente em papel, sem versão digital.

Misturando ficção científica, fantasia e questões comuns a muitos adolescentes, Os escolhidos de Gaia começa a partir do convite que é feito a Albert, um menino de 15 anos. Em busca de uma vida melhor, ele também leva seus pais e sua irmã para se mudarem para um mundo em que a tecnologia muito desenvolvida é possível em meio a um contato direto com a natureza. Não demora para que a família descubra que a situação não é tão simples quanto parece. Arrastados para o centro de um escândalo, eles passam a viver sob acusações infundadas e a conviver com o perigo iminente. “É bem frustrante receber um não de uma editora com base apenas em uma breve sinopse do seu livro – geralmente quatro parágrafos curtos”, afirma Marcela, que para ser lançada no Brasil não precisou enfrentar nenhum dos problemas que sofreu nos EUA.

Com uma agente brasileira, Marcela, depois do reconhecimento nos EUA – após boas críticas, recebeu convite para se tornar colunista mensal do jornal The Orange County Register –, não precisou passar pelos percalços que teve lá fora para lançar um livro em seu próprio país. “Não entrei em contato com nenhuma editora no Brasil antes de publicar o livro na Amazon dos EUA. Foi a minha agente, Luciana Villas-Boas (ex-diretora editoral do grupo Record), que entrou em contato com a Autêntica/Gutenberg, alguns meses depois do lançamento aqui”, conta ela, que escreve primeiramente em inglês: “Sinto-me mais confortável”. A versão brasileira foi traduzida do inglês não pela própria autora, mas por um tradutor contratado, o escritor Santiago Nazarian.

A mineira Laura Conrado está investindo em sua série de chick -lit e vai à Feira de Frankfurt em busca de novos parceiros   (Sarah Torres/Divulgação)
A mineira Laura Conrado está investindo em sua série de chick -lit e vai à Feira de Frankfurt em busca de novos parceiros


Digital

A trajetória de Marcela está apenas começando, mas é prática no mercado norte-americano. “Diversos autores iniciantes vêm se destacando e conseguindo contratos com grandes editoras depois de autopublicarem seus livros. E também vem ocorrendo o inverso – autores de nome vêm preferindo a autopublicação de seus livros em vez de lançá-los por meio de editoras.” Mas lá fora o mercado digital é estável, tanto que apenas 5% das vendas de The chosen of Gaia foram em papel. “O e-book tem uma saída muito maior não apenas pelo fato do preço ser bem mais reduzido, mas também por ser acessível a outros países”, conta Marcela, que, também roteirista, já escreveu várias peças e quando vivia no Brasil atuou em séries como Malhação e a extinta Linha direta.

Marcela finaliza um segundo romance, “uma mistura de drama e humor, do qual prefiro não falar, por enquanto”. Acredita que escrever para adolescentes e jovens demanda leveza e um ritmo mais rápido. “Os escolhidos de Gaia é uma obra otimista, que lida com experiências universais, como a adaptação a um novo lugar. Mudanças, em geral, são especialmente difíceis de lidar durante a adolescência”, acrescenta Marcela, hoje com 31 anos.

No divã

Da mesma geração, a mineira Laura Conrado, de 29 anos, tenta agora o caminho inverso ao de Marcela. Com contrato com editora nacional, Novo Século, e um livro caminhando para a quarta edição – Freud, me tira dessa!, com 12 mil exemplares vendidos –, ela busca contrato com uma editora estrangeira. O romance que a fez abandonar a carreira como jornalista e viver como escritora trata das aventuras de Catarina, uma jovem que leva seus problemas para o divã do analista. Não por acaso, no livro se apaixona pelo terapeuta. Ao contrários de Os escolhidos de Gaia, o romance de Laura é para o chamado público jovem adulto (entre 20 e 30 anos) e faz parte do subgênero chick-lit, a literatura feminina que tem sua representante maior na série britânica Bridget Jones.

“Por causa do sucesso deste livro, no início do ano começamos a pensar numa tradução para o inglês, que seria a porta de entrada para vários países. Também há uma conversa com o mercado argentino, até porque lá a cultura da psicanálise é muito forte. Dizem que para cada argentina existe um analista”, brinca Laura. Em outubro, na tradicional Feira de Frankfurt, a Novo Século levará a edição em inglês de Freud, me tira dessa! para tentar uma negociação. Lançada em 2012, a história de Cat já ganhou uma continuação, Freud, me segura nessa!, que acabou de chegar às livrarias. Na narrativa, a protagonista deixa Belo Horizonte e vai viver em Nova York.

Laura, que contabiliza oito anos de terapia, afirma que muito da trajetória de Cat se assemelha à dela mesma. “Apaixonei-me pelo meu analista aos 21 anos e diverti tanto as minhas amigas com minhas histórias, na época, que o livro acabou sendo uma grande oportunidade para rever minha própria vida.” Para conseguir ser publicada – até então havia escrito livros infantis –, ela própria suou bastante. “Quando um autor publica é que seu trabalho começa de verdade. Nunca tive a ilusão de que ao conseguir uma editora ela faria tudo para mim. Fiz assessoria de imprensa, banquei viagens a feiras de livro, passava em livrarias deixando marcador e brindes”, relembra ela, que cuida pessoalmente das redes sociais.

Ator

E a escritora não teve medo da exposição. Na Bienal do Livro de BH de 2012, Laura contratou um ator que se caracterizou como Freud e a ajudou na divulgação. “Tive que ser criativa para divulgar. Às vezes, ficava o dia inteiro em pé (nas feiras) abordando leitor. No começo, me banquei, tirei tudo do meu bolso. Os convites só apareceram mais tarde”, continua ela, que entre uma e outra aventura de Cat deu início a uma série jovem, Freud, me tira dessa! teen, em que personagens adolescentes vão para o divã (o primeiro volume se chama Só gosto de cara errado e o segundo, Quero ser pop, deve ser publicado em novembro. Laura começou esse projeto mirando longe. “Há uma conversa sobre levar essa história para um canal pago de TV. Estou estudando roteiro desde o ano passado para que possa ser uma das roteiristas, caso a série seja adaptada”, finaliza.



Iguais e diferentes

Marcela Mariz
Carioca
31 anos

» Além de escritora, é roteirista, advogada e atriz
» The chosen of Gaia (2012) vendeu 20 mil e-books na Amazon americana
» Os escolhidos de Gaia foi lançado no Brasil pela Editora Gutenberg
» O romance adolescente fala de um garoto que se muda com a família para um mundo aparentemente perfeito, a que somente algumas pessoas têm acesso


Laura Conrado
Mineira
29 anos

» Além de escritora, é jornalista e estuda roteiro
» Freud, me tira dessa! (2012) vendeu 12 mil exemplares no Brasil
» Depois do sucesso do primeiro livro, lançou uma série teen com temática semelhante e o segundo volume, Freud, me segura nessa!. Negocia publicação em inglês de suas obras
» O romance para jovem adulto fala de uma jovem que leva para o divã do analista todos os seus problemas de início de carreira, namoros etc.

TeVê

TV paga

Publicação: 13/05/2014 04:00



 (Universal/Divulgação)

Tem série nova na programação


O Universal Channel estreia hoje, às 23h, a série Chicago P.D. (foto), uma derivação (spin-off) de Chicago Fire, só que em vez de bombeiros, a ação fica por conta de policiais. Também hoje a Fox estreia, às 23h15, a segunda temporada de Da Vinci’s demons, que reconstitui parte da história de Leonardo Da Vinci. O canal Viva também aposta em série, mas uma produção bem brasileira: Carandiru – Outras histórias, em reprise toda terça-feira, às 23h10.

TV paga é terreno fértil  para curtas-metragens

O SescTV é outro canal que investe em produções nacionais, hoje com sua sessão Curtadoc, às 21h. Reunidos sob o tema “Trilhos da vida”, serão exibidos em sequência os curtas-metragens Bar da Estação, de Leo Ayres, e Filhos do trem, de Fernando Benichio, Marcelo Domingues, Reinaldo Silva e Leonardo Rodrigues, além de Deseos sobre rieles, dos argentinos Adriana Sosa e Gustavo Vergara. Já o canal Curta! exibe o documentário Arquitetura de morar, de Antonio Carlos da Fontoura, às 22h30; e Sonhos em movimento, sobre a coreógrafa Pina Bausch, às 22h45. No Arte 1, às 20h30, atração é o documentário Antonio Meneses – A câmera e o violoncelo, de Pedro Antonio.

Tabu emplaca mais uma  temporada no NatGeo


No NatGeo, a novidade é mais uma temporada de Tabu, às 21h30. Para quem não conhece, a produção vai em busca de histórias extraordinárias de transformações radicais e rejeições sociais, ouvindo pessoas que enfrentam o preconceito e quebram paradigmas. O primeiro episódio, “Famílias modernas”, relata o caso de um casal e transexuais em que o homem, que nasceu mulher, é aquele que carrega o filho em seu ventre.

Futura exibe biografia do  imperador Dom Pedro I

No Futura, a nova faixa de documentários biográficos tem continuidade hoje com o segundo programa, às 23h. A personalidade focalizada é Dom Pedro I, que, apesar do sangue português, com certeza possuía alma brasileira. Talvez tenha sido o primeiro herói nacional e com certeza o primeiro após a Declaração da Independência. Por esse ato, foi eternizado na memória do povo e sua célebre frase “Independência ou morte!” até hoje ecoa pelo Brasil.

Telecine faz festa para o jovem galã dos vampiros

Robert Pattinson sopra velinhas hoje, e para comemorar seus 28 anos o Telecine Touch emenda dois filmes que ele estrelou: A saga Crepúsculo: Amanhecer – Parte 1, às 22h; e Bel Ami – O sedutor, às 23h55. No Canal Brasil, às 22h, estreia América – Uma história portuguesa, de João Nuno Pinto. Na mesma faixa das 22h, o assinante tem mais cinco boas opções, de diferentes gêneros: Des vents contraires, no Telecine Cult; Numa fria, no Telecine Pipoca; Minha nova vida, na HBO; Os esquecidos, no Max Prime; e U-571 – A Batalha do Atlântico, na MGM. Outras atrações da programação: Jogo de cena, às 20h30, no Arte 1; Nome próprio, às 20h50, no Max; e A soma de todos os medos, às 22h30, no FX.



CARAS & BOCAS » Estreia em novelas
Simone Castro

A atriz Flávia Viana, participante da sétima edição do Big brother Brasil (Globo) em 2007, fará sua estreia em novelas. Ela estará a partir de amanhã em Chiquititas, do SBT/Alterosa. Na trama infantil, Flávia será uma professora da 7ª série do colégio onde estuda a protagonista da história, Mili, vivida por Giovanna Grígio. Ela se tornará uma das grandes amigas da adolescente. Flávia, que entre 2004 e 2005 participou das horrorosas pegadinhas apresentadas por João Kléber na RedeTV!, já atuou na Globo, no Zorra total, na Turma do Didi e na minissérie Cinquentinha.

JAIRO TRATA MUITO MAL SUA  MULHER, QUE ESTÁ GRÁVIDA

Machista e nervoso como ele só, Jairo (Marcello Melo Jr.) perderá a cabeça na trama de Em família (Globo). Acusado injustamente de furtar uma peça na loja de leilões em que trabalha, ele se revoltará quando Helena (Júlia Lemmertz) e Virgílio (Humberto Martins) revelarem que, na verdade, a autora foi Selma (Ana Beatriz Nogueira). Ele acusará a família da mulher, Juliana (Vanessa Gerbelli), de preconceituosa. Depois, quando ela o repreender por ter deixado Iolanda (Magdale Alves), avó de Bia (Bruna Farias), buscá-la na escola, o rapaz ficará alterado e afirmará que é ele quem manda na casa e, portanto, faz o que quer. E ainda vai dar um safanão em Juliana, grávida do primeiro filho do casal, atirando-a no sofá.

ESCRITORA GAÚCHA ELIANE  BRUM VAI HOJE AO AGENDA


A premiada jornalista e escritora gaúcha Eliane Brum é a convidada de hoje do Agenda, às 19h30, na Rede Minas. Ela está em Belo Horizonte para lançar o livro Meus desacontecimentos – A história da minha vida com as palavras. No bate-papo, ela fala sobre sua relação com as palavras, o novo livro, carreira e prêmios.

ATRIZ DE GREY’S ANATOMY ESTRELA SERIADO DO SONY


Katherine Heigl, que interpretou a doutora Izzie Stevens na série Grey's anatomy, no canal Sony (TV paga), vai protagonizar nova série: State of affairs, uma mistura de Scandal com The West Wing. A personagem será uma agente especial do governo norte-americano que trabalha diretamente com o presidente dos Estados Unidos. Katherine Heigl também vai produzir a atração, que será exibida na NBC. Depois de Grey's anatomy, a atriz deixou a telinha para se dedicar a filmes como Vestida para casar e A verdade nua e crua.

QUATRO SÉRIES RETORNAM  PARA NOVAS TEMPORADAS

As séries The mentalist e Nashville têm novas temporadas garantidas, segundo as emissoras norte-americanas CBS e ABC. The mentalist retorna para um sétimo ano, com 13 episódios. Já Nashville terá sua terceira temporada, com 22 episódios. No Brasil, The mentalist é exibida pela Warner e Nashville no canal Sony. A série Cougar Town, também do Sony, foi renovada para uma sexta e última temporada, com 13 episódios. O site TV line dá conta de que a série Parenthood retornará para a sexta e última temporada.

ETERNA LEMBRANÇA

O ator Cory Monteith, que morreu em julho do ano passado, completaria anteontem 32 anos. A ex-namorada, a atriz Lea Michele, com quem ele atuou na série musical Glee, fez uma declaração via Twitter. Ela postou uma foto e escreveu: “O maior coração e o sorriso mais bonito... Em todos os nossos corações. Nós te amamos tanto. Feliz aniversário”. A atriz sempre usa as redes sociais para prestar homenagens a Cory. Eles ficaram juntos por mais de um ano.

VIVA

Renata Sorrah, como a Gláucia de Geração Brasil (Globo): está com tudo!

VAIA
Ainda em Geração Brasil, Nando Cunha repete outros personagens, como Dante. 

DOCUMENTÁRIO » Da rua para o mundo‏

DOCUMENTÁRIO » Da rua para o mundo
Publicação: 13/05/2014 04:00


O músico e dançarino Nelson Triunfo é cultuado pelo movimento hip-hop brasileiro (Panteras Negras/Divulgação )
O músico e dançarino Nelson Triunfo é cultuado pelo movimento hip-hop brasileiro

O filme Triunfo, sobre um dos pioneiros do hip-hop no Brasil, o músico e dançarino Nelson Triunfo, ganhou o prêmio do júri na competição nacional do festival de documentários musicais In-Edit Brasil. Realizado entre 1º e 11 deste mês, em São Paulo, o festival agora segue para Salvador, onde fica até o dia 18.

Dirigido por Cauê Angeli e Hernani Ramos, o longa vencedor conta a história do homem considerado pai do movimento hip-hop no país, cultuado por artistas de várias gerações. Em outubro, o filme será exibido na edição do festival de Barcelona.

Nascido em Triunfo, interior de Pernambuco, Nelson Gonçalves Campos Filho, de 59 anos, é uma lenda do rap brasileiro. Na década de 1980, com sua gigantesca cabeleira black power, Nelsão parava o trânsito no Centro de São Paulo com suas performances. Daqueles tocas-fitas saíam clássicos do soul e do funk. Em plena ditadura militar, o dançarino cabeludo chegou a ser preso várias vezes.

Entre os office boys que o admiravam estava Kleber Simões, que se tornaria KL Jay, um dos integrantes do grupo Racionais MCs, outra lenda do hip-hop brasuca. O pioneiro Thaíde credita a Nelsão Triunfo sua entrada na cena do rap.

Nelson fundou a Casa do Hip-Hop, em Diadema (SP), voltada para jovens em situação de vulnerabilidade social. Atuante às vésperas de se tornar sessentão, ele defende a nova geração de rappers – Emicida, Criolo e Projota – das críticas dos veteranos.

CIRCO Outros filmes premiados no In-Edit foram A farra do circo, de Roberto Berliner e Pedro Bronz, e Olho nu, de Joel Pizzini. O primeiro, sobre a história do Circo Voador, lendária casa de shows no Rio de Janeiro, recebeu menção honrosa, enquanto o longa de Pizzini, que conta a história do cantor Ney Matogrosso, foi o escolhido pelo júri popular.

Álcool, a droga lícita que mata 3 milhões de pessoas‏

Álcool, a droga lícita que mata 3 milhões de pessoas
Relatório da Organização Mundial de Saúde prevê piora na situação. Especialistas pedem campanhas, como as de cigarro, que alertem a população sobre os perigos das bebidas 
 
Cristiana Andrade
Estado de Minas: 13/05/2014




Uma em cada 20 mortes no mundo está diretamente relacionada ao consumo de álcool, droga lícita que mata mais do que a Aids, a tuberculose e a violência juntos, adverte a Organização Mundial de Saúde (OMS), que teme um agravamento da situação. Mais de 200 doenças estão ligadas ao consumo de álcool, de acordo com relatório da entidade divulgado ontem em Genebra. Em 2012, o uso nocivo do álcool matou 3,3 milhões de pessoas em todo o mundo, contra 2,5 milhões em 2005, segundo a OMS, que lamenta a falta de ação por parte das autoridades durante este período.

Baseado em dados dos 194 países-membros das Nações Unidas, o documento alerta que a bebida não apenas provoca danos diretos à saúde, como aumenta a suscetibilidade a males infecciosos e está por trás da ocorrência de crimes e acidentes. A OMS traçou o perfil de consumo das nações, relatou o impacto da bebida na saúde pública e avaliou as respostas das políticas governamentais. No total, o consumo anual foi de 6,2 litros de álcool puro por ano na população com mais de 15 anos. Contudo, como 38,3% do planeta é abstêmio, calcula-se que os que bebem ingerem 17 litros no período de 12 meses.

Segundo o oncologista e professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais, André Murad, o organismo como um todo é comprometido naqueles que fazem uso do álcool constantemente, mas é o fígado o órgão-alvo que sofre as maiores repercussões negativas. “Os danos ao fígado vão desde alterações subcelulares, raramente detectadas por exames microscópicos, passam pela esteatose (acúmulo de gordura no órgão), as hepatites, a fibrose (cirrose hepática), até o câncer”, diz. De acordo com Murad, que é vice-presidente da Associação Brasileira Comunitária de Prevenção ao Uso e Abuso de Drogas (Abraço-MG) – entidade voltada para a minimização de vícios, entre eles o tabagismo e o alcoolismo –, o fígado é um dos órgãos mais importantes do organismo, por exercer múltiplas funções.

“Ele produz albumina, para manter o sangue nos vasos; produz fatores de coagulação, além de ser responsável pela produção de hormônios femininos e masculinos. É no fígado também que ocorre a regulação da pressão venosa e arterial do corpo. Então, quando a pessoa bebe muito, tudo isso se desestabiliza. Um outro problema que pode ocorrer em quem faz uso constante do álcool é o surgimento de varizes na parte anterior do esôfago. Daí, quando a pessoa ingere algum alimento sólido, como pão ou carne, ele pode romper essas varizes, causando uma hemorragia que pode ser fatal. Ou seja, a pessoa sangra até morrer.”

Para André Murad, a maioria das pessoas acredita que beber socialmente é normal, mas não é. “Destilados (vodca, aguardente, whisky) são mais causadores de problemas que os fermentados (cerveja e vinho). Na esfera cerebral, o álcool gera prejuízos mental e cognitivos; afeta o coração, podendo provocar insuficiência cardíacao; atinge o estômago, causando úlceras e gastrites; e, associado ao tabagismo, dobra o risco da pessoa desenvolver câncer de cabeça e pescoço, que inclui boca, laringe, faringe, garganta e esôfago”, enumera.

De acordo com o relatório da OMS, uma das razões para o aumento no consumo de álcool é o crescimento da população no mundo. “Com isso, o fardo das doenças atribuídas às bebidas pode aumentar, caso novas políticas de prevenção não sejam implementadas”, alertou o diretor-geral adjunto do grupo de Doenças Não Transmissíveis da OMS, Oleg Chestnov. Outro dado alarmante é que quase 5,9% das mortes (7,6% entre os homens e 4% entre as mulheres) causadas por doenças infecciosas, acidentes de trânsito, ferimentos, homicídios, doenças cardiovasculares e diabetes, entre outras, têm alguma relação com o consumo de álcool. Segundo a OMS, o álcool encurta em cinco anos a vida dos brasileiros. (Colaborou Paloma Oliveto)

Palavra de especialista
Ana Cecilia Petta Roselli Marques,
presidente da Associação Brasileira de Estudo do Álcool e Outras Drogas (Abead)

Medidas isoladas

“Embora o Brasil tenha aprovado, em 2007, a Política Nacional sobre o Álcool e Outras Drogas, na prática, o que se tem são medidas isoladas e de alcance reduzido. Aqui, quem dita a política do álcool é a indústria. Um exemplo é a Copa do Mundo: cedendo à pressão da Fifa, o país liberou a venda de bebida alcoólica nos estádios. Na minha avaliação, para ser bem-sucedida, uma política de combate ao álcool tem de incluir ações de prevenção, tratamento
e controle da oferta. Infelizmente, a mulher está replicando o comportamento dos homens em relação ao cigarro, ao álcool e a outras drogas”.

Bebida gera também os males psíquicos 

As consequências psíquicas do usuário frequente e do usuário crônico do álcool vão de depressão, alterações de memória, atenção e percepção da realidade, envolvimento em brigas, acidentes de trânsito, violência doméstica, a alterações mais graves, como ciúme patológico (quando, geralmente o homem, chega a matar, por acreditar que a companheira o está traindo), demência alcoólica (a pessoa altera sua personalidade), a tentativas de suicídio e mesmo o autoextermínio.

Na opinião do psiquiatra Valdir Ribeiro Campos, especialista em dependência química e membro da Comissão de Controle do Tabagismo, Alcoolismo e Uso de Outras Drogas da Associação Médica de Minas Gerais (Contad/AMMG), é de extrema importância uma entidade como a OMS mostrar esses dados. “Assim como o tabaco, o álcool é outra droga legalizada que causa enormes prejuízos nas sociedades. Acho interessante que esse anúncio ocorra quando vários países tentam legalizar a maconha. Repetiremos o mesmo filme de combate ao vício se isso ocorrer”, opina.

 “Inicialmente, o álcool gera uma sensação de bem-estar, de euforia, mas em seguida, ele deprime o sistema nervoso central. Dados da literatura geral (pesquisas científicas) mostram que entre os usuários frequentes de álcool 40% vão tentar se matar ao longo da vida; entre os dependentes, 10% vão conseguir tirar a própria vida”, alerta.

Na visão de Murad e Ribeiro, inicialmente a grande decisão a ser tomada, no âmbito de políticas públicas, é uma grande campanha preventiva para alertar a sociedade sobre os perigos das bebidas alcoólicas. “Ele causa dependência grave. Temos de combater propagandas de bebidas alcoólicas. Nossas crianças e jovens crescem sendo estimulados a fazer uso do álcool, que sempre está associado a figuras importantes, bem-sucedidas na vida, jogadores de futebol e artistas. Quem já tem a dependência, tem que fazer um tratamento médico, medicamentoso e psicoterapêutico, além da mudança de estilo de vida, para que possa vencer a dependência”, acrescenta Valdir Ribeiro.

Para Murad, o ponto da questão do alcoolismo nas sociedades é a educação para a conscientização. “Socialmente, beber é um vício muito bem aceito. Pessoas que não fazem uso do álcool muitas vezes se sentem constrangidas em ambientes sociais. O que ocorre é que nossos pré-adolescentes são estimulados a achar que beber é positivo, que é sinônimo de felicidade, que quem bebe se solta e é mais bem aceito nos círculos sociais. O que está ocorrendo é que adultos e jovens estão bebendo muito, sem controle. A exemplo do tabagismo, que caiu 35% nos últimos 20 anos, acho que temos de tomar medidas drásticas, como a abolição das propagandas de bebidas, hipertaxação para bebidas, fazer a contrapropaganda, falando dos males do álcool no organismo, e punindo severamente para quem vende álcool para menores de idade”, acrescenta.

O valor da matemática - Jacqueline Rezende

O valor da matemática 
 
O exercício da habilidade ativa a parte do cérebro responsável pela razão 
 
Jacqueline Rezende
Especialista em gestão estratégica de pessoas, diretora geral da SIAS Educação e Consultoria
Estado de Minas: 13/05/2014


Ao contrário do que se imagina, a matemática é tão importante em nossas vidas quanto a língua que falamos. Ela está presente diariamente nas atividades cotidianas, como, por exemplo, ao programar o despertador em cinco minutos na função soneca. Faça o teste! Passe, no mínimo, 10 minutos do dia sem envolver os números. É impossível! Essa máxima também se aplica à carreira. Um erro de diversos profissionais é escolher a profissão na área de humanas ou biológicas, acreditando que estará livre da matemática. Devido à sua importância, a aplicação da habilidade nas atividades cotidianas tem sido cada vez mais exigida e avaliada pelos gestores durante o processo de recrutamento de seus profissionais. Por isso, aqueles que dominam matemática são considerados profissionais diferenciados.

Todos sabem que a administração é uma carreira que está diretamente ligada à exatidão dos números, por ser uma área que requer muito planejamento, organização e controle na realização dos orçamentos de projetos, bem como na resolução de situações que envolvam cálculos estatísticos. Por isso, o profissional que pretende atuar na área administrativa precisa ter domínio da matemática para ser bem sucedido. Mestres de obras, pedreiros, ajudantes de obras e todos os outros profissionais da construção civil também lidam com a matemática em tempo integral. Seja no cálculo de espaços para a construção junto aos engenheiros, na execução da obra, assentando um piso, colocando um acabamento, ou até mesmo preparando o material a ser utilizado. Os profissionais do comércio, vendedores, caixas também precisam cotidianamente utilizar a matemática no atendimento ao cliente, no cálculo de preço, prazo, descontos, parcelas e condições. Assim acontece na psicologia e no direito, em que a matemática auxilia no cálculo de pensões, herança e partilha. Na área de Tecnologia da Informação (TI), tudo envolve, de fato, a matemática, como os caráacteres, derivados, a exibição de um vídeo, ao salvar um arquivo ou ao compactá-lo. Antigamente, nossos avós e pais apresentavam um raciocínio mais avançado, se comparado aos jovens de hoje. Essa falha tem refletido no perfil dos profissionais que encontramos no mercado de trabalho atual. A maior parte dos casos é de profissionais sem capacidade sólida de análise, de estratégica e de resolução de problemas, o que influencia diretamente nos resultados obtidos pelas empresas.

O que muitos profissionais não percebem é que o exercício da matemática auxilia no desenvolvimento de outras competências, como a capacidade de entendimento do tempo, do espaço, a lógica, a criatividade e a inovação, essenciais para as mais variadas carreiras. O exercício contínuo da habilidade auxilia no desenvolvimento do hemisfério do cérebro responsável pela razão. Hoje, existem ferramentas que facilitam os cálculos e oferecem informações prontas, reduzindo a capacidade de desenvolvimento lógico e racional dos jovens. Para eles, a matemática tornou-se um bicho de sete cabeças. Por isso, o desafio atual dos gestores é demonstrar aos jovens profissionais a importância de desenvolverem o capital intelectual. É preciso mostrar a esses jovens que o mercado busca profissionais multidisciplinares e entendedores da importância das ciências lógicas e exatas, independentemente da formação profissional, do cargo ou da empresa.