domingo, 18 de maio de 2014

TeVê

TV Paga
Estado de Minas: 18/05/2014

Desastres
No NatGeo, o domingotem uma seleção temática. A partir das 21h15, serão reprisados dois episódios de Segundos fatais (“A usina nuclear de Fukushima” e “Titanic”) e os documentários Tragédia no Japão, Hiroshima – O dia seguinte e 11/9 – Os primeiros a chegar.

Criminal

O Investigação Discovery estreia duas séries que reconstituem crimes reais ocorridos em circunstâncias dignas de enredos da ficção. Hoje, a atração é Assassinos de beleza; amanhã, Crimes de primeira página. Ambas as atrações vão ao ar na faixa das 22h.

Magérrimas
Já o Discovery Home & Health continua a programação Mês sem dietas, reservando para hoje, às 21h30, o documentário anorexia.com, que reúne depoimentos de três jovens que celebram a magreza extrema ao considerarem transtornos alimentares como um estilo de vida. 


Enlatados

Mariana Peixoto - mariana.peixoto@uai.com.br



Tão bom na TV quanto no cinema
Com apenas cinco episódios exibidos até agora na TV norte-americana, Fargo, a versão em série da celebrada produção dirigida pelos irmãos Cohen – o filme venceu os Oscars de roteiro e atriz em 1996 –, já é apontada como uma das melhores estreias do ano. Numa cidadezinha gelada dos confins dos Estados Unidos, Lester Nygaard (Martin Freeman, o Watson de Sherlock), um vendedor de seguros dominado pela mulher, vê sua vida mudar com a chegada de Lorne Malvo (Billy Bob Thornton, sempre ótimo). O segundo resolve tudo para o primeiro na base do tiro... Os irmãos Cohen produzem a série, que terá 10 episódios. Nos EUA, está sendo exibida pelo FX. Ainda não há previsão de exibição por aqui.

Já vai tarde – Com a conturbada saída de Charlie Sheen de Two and a half men e a consequente entrada de Ashton Kutcher na sitcom, ela perdeu prestígio, mas não audiência. Bem, somente nos primeiros anos após a troca. O 11º ano, que terminou no início deste mês nos EUA, teve uma das mais baixas de sua trajetória. Tanto por isso, a rede CBS confirmou que a 12ª temporada será a última.

Interatividade – Na terça-feira, às 22h, o Sony exibe a final de The voice, em transmissão simultânea com os EUA. Pela primeira vez, o público brasileiro vai poder interagir ao vivo com o programa por meio do Twitter. Basta usar a hashtag #TheVoiceNoSony.

Ressurreição – No ar pelo AXN, Resurrection, sobre um garoto dado como morto que reaparece décadas mais tarde como se nada tivesse acontecido, vem causando barulho. Com boa audiência tanto aqui quanto nos EUA, já teve seu segundo ano confirmado.

Em casa – Fora de Homeland, Damian Lewis vai poder retomar o sotaque britânico. O ator inglês será o rei Henrique VIII na série Wolf Hall, coprodução da BBC. A história narra a ascensão de um humilde filho de ferreiro até se tornar o principal conselheiro do temido rei



DE OLHO NA TELINHA » Chatas e mimadas

Simone Castro


Há muito tempo não se via jovens tão maçantes em uma mesma novela. Em família (Globo) está cheia deles, apesar de circularem por um galpão cultural onde se respira arte. Entre uma cena e outra de dança ou aula de flauta, as dondoquinhas de plantão, por exemplo, curtem, sim, a vida adoidado, mas também atazanam e muito a dos outros, especialmente a de suas mães, num show de desrespeito.

No começo da história de Manoel Carlos, onde estavam Luiza (Bruna Marquezine) e Alice (Érika Januza)? Em um passeio de férias pela Europa, especialmente Viena, na Áustria, onde a filha de Helena (Júlia Lemmertz) se deparou pela primeira vez com Laerte (Gabriel Braga Nunes). As típicas garotas zona sul carioca, nascidas e criadas no Leblon, acompanhadas dos namorados, não tinham muito com que se preocupar. O lema era se divertir, com o deleite proporcionado pelos pais endinheirados.

De volta ao Brasil, a rotina de faculdade, baladas, compras. Tudo bancado pelos pais, claro. Luiza até tentou apoiar o tio, Felipe (Thiago Mendonça), na luta contra o alcoolismo, ou ajudar o namorado, André (Bruno Gissoni), outro preconceituoso, mimado e marrento, a encontrar os “pais verdadeiros”. Mas tudo ficou apenas na intenção. Ela se jogou mesmo foi na relação com o flautista problemático.

Desde que resolveu assumir o romance com Laerte, a garota não mede esforços para ficar com ele, ainda que sua posição signifique o rompimento com a mãe, que foi no passado e continua eternamente apaixonada pelo flaustista. Para tanto, Luiza saiu de casa, montou apartamento, segue dirigindo seu carro e, claro, deve ter polpuda conta bancária. Tudo, evidentemente, bancado pelos pais, a quem não dá ouvidos. Pois, Luiza pode tudo. Menos trabalhar e provar realmente a sua independência.

Além disso, para se convencer de que o envolvimento com Laerte tem futuro, afronta a mãe, joga-lhe na cara atrevimentos impensáveis e acha que com o que sabe da vida pode até dar aulas. E lições de moral. Na mesma toada, vai Alice. Depois de descobrir que é fruto de um estupro, não deixou mais a mãe, Neidinha (Elina de Souza), em paz. Ela quer justiça mais do que a própria vítima.

Sem respeitar o drama que a irmã de Virgílio (Humberto Martins) viveu no passado e seu espaço e privacidade no presente, quando tenta se reerguer, a filha se joga numa jornada para encontrar o pai. Tanta obstinação gerou uma personagem no mínimo inconveniente. Chatas, porque mimadas e sem limites, está na hora do autor puxar as rédeas de Luiza e Alice. Essas mulheres já foram longe demais, e não por acaso desagradam o telespectador.

PLATEIA

VIVA
- Murilo Benício, como Jonas Marra, o Steve Jobs nacional de Geração Brasil (Globo)

VAIA - Tá no ar: a TV na TV (Globo), com Marcelo Adnet e Marcius Melhem: altos e baixos.


Caras & Bocas

Simone Castro - simone.castro@uai.com.br

 (João Cotta/ Globo)
Posto de protagonista

Depois do sucesso como a periguete Valdirene, de Amor à vida (Globo), Tatá Werneck (foto) tem ascensão meteórica na Globo. Tanto que será protagonista de Lady Marizete, trama das 19h, assinada por Alcides Nogueira e Mário Teixeira. A novela, com estreia marcada para o segundo semestre de 2015, terá cenas gravadas em Nova York. A personagem de Tatá mora na favela de Paraisópolis, em São Paulo, e será uma espécie de Mulher Maravilha. Craque em krav magá, técnica de defesa pessoal, ela luta para proteger crianças e adolescentes do tráfico. Com a verve humorística de Tatá, espera-se, com certeza, uma trama no mínimo bem-humorada.

MERCEDES MOSTRA A SUA FORÇA EM DOIS TEMPOS


No Vrum deste domingo, às 8h30, no SBT/Alterosa, o telespectador ficará por dentro de mais uma façanha da Mercedes, um carro que é coupé e SUV ao mesmo tempo. O programa mostrará ainda que nem tudo que está na internet é verdade. Veja como se prevenir dos golpes e mentiras. E confira dois testes imperdíveis: a G 650 GS, a moto de entrada da BMW no Brasil, e o Gol Rallye 2015 com o novo motor 1.6 de 16 válvulas.

ANIMADOR E DESIGNER É O CONVIDADO DE ZIRALDO

William Côgo é o convidado especial do ABZ do Ziraldo neste domingo, às 12h, na Rede Minas e TV Brasil (canal 65 UHF). Vai falar sobre seu processo de criação de ilustrações tanto para livros infantis quanto para curtas de animação. Carioca, William formou-se designer gráfico pela Escola de Belas Artes da UFRJ, onde integrou a equipe de produção de animação, o Animagem, dirigida por Rui de Oliveira. Lá, participou da produção de Amor de índio e A lenda do dia e da noite, dois curtas-metragens integrantes da série América morena.

SÉRIE DO GNT VAI MOSTRAR  ONDE VIVEM OS BRASILEIROS

Morar é o nome do novo programa do GNT (TV paga), que visita a casa de brasileiros de Nordeste a Sul do país, conta a história por trás de cada uma delas. De uma casa construída em madeira nos anos 1930, no interior do Rio Grande do Sul, a uma casa de frente para o mar em Aracaju, Sergipe, todas têm em comum o fato de serem um reflexo de seus moradores. “A ideia é mostrar, como pequenas crônicas, a vida que aquela casa abriga. Pequenas histórias da vida privada através da relação de moradores com suas casas”, explica Alberto Renaut, idealizador da atração, que estreia hoje, às 23h.

MÁRIO FRIAS ESTÁ NA NOVA TEMPORADA DE MALHAÇÃO

Já estão confirmados nomes de atores para o elenco da nova temporada de Malhação (Globo). Entre eles, Odilon Wagner, Felipe Camargo, Eriberto Leão e Daniele Suzuki. O ator Mário Frias, que retorna à emissora depois de 10 anos, também integra a lista. Vale lembrar que ele já participou de Malhação, em 1997. O último trabalho Frias na TV foi como apresentador do game O último passageiro, na RedeTV!

ARTISTA BAIANA EXPLICA COMO É INTERPRETAR ELIS
 (Carol Soares/Globo)

Laila Garin bate-papo com Marília Gabriela (foto) no De frente com Gabi deste domingo, à meia-noite, no SBT/Alterosa. Ela é protagonista do espetáculo Elis, o musical. A atriz e cantora conta que não queria imitar a Elis e também não era o propósito do diretor. “Tentei buscar a essência (da Elis). Se é que a gente pode pegar o que não tem forma”, explica. “Elis era tão verdadeira quando cantava que se eu fosse imitá-la ficaria vazio.” Para compor a personagem, Laila teve contatos com João Marcelo, filho da Pimentinha, e Miele. Nascida em Salvador, Laila cursou artes cênicas, estudou canto lírico e já soma 19 anos de carreira. “Vivi na Bahia minha infância inteira e passava férias com meu pai, na França”, revela. E arremata: “No Natal sempre volto à Bahia”. Em tempo: no GNT, às 22h, no Marília Gabriela entrevista, a apresentadora conversa com o ator Jesuíta Barbosa, que está no filme Praia do futuro, nova produção do roteirista e diretor de cinema Karim Aïnouz, que também marca presença na atração.

EM DIA COM A PSICANÁLISE » Palavras e laços‏

EM DIA COM A PSICANáLISE » Palavras e laços
Regina Teixeira da Costa
Estado de Minas: 18/05/2014


Uma das coisas mais incríveis na constituição do ser humano é a forma de apreensão da linguagem. Um bebê somente sobrevive se houver outro para cuidar dele e é preciso que falem com ele. O som da voz é um importante objeto de estímulo e amparo.

A voz humana faz parte da constituição do sujeito a partir da relação entre o bebê e a mãe, além do contato físico. É como um convite para a criança fazer parte do mundo da palavra, que é nossa única forma de fazer laço com o outro.

Fale com ela (2012), filme de Almodóvar, mostra claramente o entendimento intuitivo do enfermeiro apaixonado pela paciente em coma e quanto ele acredita no poder da palavra como contato, mesmo naquelas circunstâncias.

Adquirimos a linguagem para comunicar porque o outro é a fonte da sobrevivência. Permite que chamemos a mãe ou quem quer que cuide de nós. não só quando temos fome, sede ou precisamos de cuidados de qualquer natureza, mas quando queremos presença.

E o bebê entende isso rapidamente, sem que ninguém lhe ensine. Desde muito cedo, ele incorpora a linguagem e ela habita seu corpo e faz com que este se torne corpo próprio. Um corpo que vai além do corpo biológico e que adquire uma imagem narcísica, quando o sujeito se apropria de seu corpo e da integração mental desta imagem.

A palavra é um endereçamento. Nós a dirigimos a alguma pessoa e estamos também, quando falamos, fazendo um pedido para que nos escutem, aceitem, reconheçam e amem. E por isso dizemos que toda demanda é uma demanda de amor.

A palavra é nosso laço e é também um pedido de amor. E é incrível observar que lá pelos seis meses o bebê entende grande parte do que falamos. Esta observação provoca em nós a sensação de um verdadeiro milagre.

Até o tom da voz faz parte desta incorporação estruturante da subjetividade e sabemos o quanto ela pode ser amável, odiosa, provocante, desejável. Ela pode ser doce, vinda de uma mãe amorosa e que deseja ser amada também. É doação e, mais ainda, um pedido de amor, de escuta, de atenção.

Mas cá para nós, tem gente que abusa. Cresce e se torna crente que pode falar o que quiser. E é lamentável que se dê pouca atenção ao uso da palavra na educação da criança impedindo seu mau uso.

A palavra pode ser salvadora e também é uma navalha na carne. Por isso na Bíblia encontramos que o importante não é o que entra pela boca, mas o que sai dela. Aí sim, temos alguma coisa muito mais delicada, se não perigosa.

A pessoa que tem a palavra livre, fala o que pensa sem nenhuma censura, provocará muitos danos a si mesma e ao outro. Inclusive passa a ser malquista e evitada. Assim, o mau uso da palavra desfaz laços e cria exclusão, porque pode provocar intrigas e grandes desgraças.

Como diz o ditado popular, temos dois ouvidos e uma boca porque escutar é melhor do que falar. Não sei se é verdade, mas dá certo. Toda vez que falamos demais tropeçamos na própria palavra e os efeitos são de embaraço. A escuta, no entanto, sempre é esclarecedora.

Se as palavras formam uma cadeia, são seus elos que nos enlaçam e é importante usá-la com sensibilidade para obter os efeitos desejados e não sair por aí nos embolando e até nos enforcando com elas.

Quem fala o que quer, escuta o que não quer, e não conter o que pensamos traduz-se frequentemente em angústia e mal-estar, porque depois de falada a palavra não nos pertence mais e vai com o vento para onde for levada.

* Em tempo: no artigo de 27 de abril citei Freud na carta a Breuer em 1992. A data correta é 1892.


>>  reginacosta@uai.com.br

Voz da periferia - Saraus de poesia

Voz da periferia
Saraus de poesia se espalham pela cidade e conquistam público diversificado, com temas que vão da política ao cotidiano. Encontros acontecem em bares, praças e até cemitérios


Ana Clara Brant
Estado de Minas: 18/05/2014


Um dos encontros do Sarau Vira-Lata, na sede do Grupo de Teatro Espanca!, no Centro de Belo Horizonte (Pablo Bernardo/Divulgação)
Um dos encontros do Sarau Vira-Lata, na sede do Grupo de Teatro Espanca!, no Centro de Belo Horizonte

‘‘Aqui não precisa ser convidado. É bem democrático. É só chegar e recitar. Todos, sem exceção, têm voz”, assegura o poeta, compositor e um dos idealizadores do Sarau Vira-Lata Kdu dos Anjos. A iniciativa, que é realizada em ruas, praças, museus, bibliotecas e centros culturais de Belo Horizonte, é apenas um dos saraus periféricos que tomam conta da capital e Região Metropolitana. Ao lado de exemplos como o Coletivoz, Sarau Comum, Apoema e Cabeçativa, eles dão voz aos poetas da periferia, além de serem uma forma de exercer a cidadania, ocupar o espaço urbano e mostrar a arte que produzem.

Até quem está acostumado a organizar encontros literários em locais mais centrais da cidade, como o poeta e editor Wilmar Silva, curador dos projetos Terças Poéticas – que está completando 10 anos – e do Café com Poesia, reconhece a importância das iniciativas. “São acontecimentos críticos, criativos e periféricos em todos sentidos: ficam às margens. Para essas comunidades, é importante, porque está sendo realizado lá e leva as pessoas para lá. Há esse deslocamento da arte. O que é bom e grande só pode ser apresentando no grande teatro? Muito pelo contrário. Pode acontecer em qualquer lugar. E esses encontros periféricos estão aí para provar isso”, salienta Wilmar.

Um dos pioneiros em BH é o Coletivoz, criado em 2008, realizado uma vez por mês no Bar do Bozó, no Valé do Jatobá, no Barreiro. O público é heterogêneo, formado não só por gente da região, como de outros bairros periféricos. Os textos também são de diversos estilos e assuntos. Falam de temas ligados à periferia, como política, injustiça social, opressão, mas também de amores e do cotidiano. “É natural que a vida social e política interfira na vida artística, mas o sarau não é monotemático e o perfil dos poetas é variado. Mas como há muita gente do rap frequentando, e política é algo muito forte entre eles, é natural que esse tema surja nos textos”, analisa o poeta e um dos articuladores do Coletivoz Sarau de Poesia Eduardo DW.

Num pequeno palco, com um microfone aberto a quem quiser declamar, seja um texto próprio ou de outro autor, o evento costuma reunir de 40 a 50 pessoas. Mas há ocasiões, como nas férias e quando o sarau recebe atrações especiais e convidados, que o público pode chegar a 80 interessados em ouvir poesia.

Emoção A dona de casa Kátia Leal, de 50 anos, é uma das que sempre que pode bate ponto no encontro literário. Moradora da região, ela estava passando na porta do Bar do Bozó, há três anos, quando se deparou com uma faixa anunciando o sarau. Desde a adolescência, ela sempre gostou de escrever e costumava presentear amigos e parentes com seus textos. “Mas ninguém se importava muito. Até debochavam. Nunca valorizaram”, lamenta.

Os escritos de Kátia abordam temas como racismo, Lei Maria da Penha, pessoas especiais (ela é mãe de um menino hiperativo) e drogas, entre outros assuntos. Quando começou a frequentar o Coletivoz, tinha apenas três textos guardados. Hoje, são quase 30. Na maior parte das vezes, costumar ler seu trabalho autoral, mas, vez por outra, apresenta poema de um autor de sua preferência, como Vinicius de Moraes. Aliás, ler não. A dona de casa faz questão de falar de cor. “Dessa maneira acabo interpretando um personagem. Se ficar lendo no papel, não passo a mesma emoção”, justifica.

O sarau promovido pelo Coletivoz é uma espécie de terapia e válvula de escape para ela. Separada e mãe de três filhos, Kátia enfrentou momentos difíceis na vida, entre eles dois cânceres que teve que tratar, e é ali, no momento de se entregar à poesia, que ela se liberta. “Esse encontro significa muito para mim. Fico até emocionada de contar. Por isso, acho que todo mundo aqui da região devia valorizar iniciativas como essas”, frisa.

Pesquisa O psicólogo Otacílio de Oliveira Júnior, que está fazendo doutorado em psicologia social, também é um frequentador do Coletivoz, o que acabou despertando seu interesse em desenvolver um estudo sobre o evento. “Bateu um desejo de mostrar a produção artística da periferia. A arte como ação coletiva. Estou no começo da minha pesquisa, mas quero abordar temas como a construção do texto para o sarau, o sentido que isso tem para os poeta, o que esse espaço pode contribuir para os textos e para as performances dos artistas, entre outros assuntos”, explica.

Outro aspecto que tem chamado a atenção de Otacílio é a relação entre o palco e a plateia. Enquanto aproveita para declamar seus poemas, ele observa o que se passa no evento. “Venho aqui há um ano e sempre leio algo meu. Acho bem bacana essa coisa de a plateia ser o palco e depois a coisa se inverter. Esse compartilhamento é bem interessante e rico”, destaca.

Um dos saraus que mais têm gerado frutos é o Vira-Lata, criado em agosto de 2011 em Belo Horizonte, e que se expandiu para Sabará, Juiz de Fora, Uberaba e Barbacena. Ele costuma ocorrer quinzenalmente, mas não tem um lugar fixo. Já teve como sede a Praça Raul Soares, a Floresta, o Morro das Pedras, a Praça Floriano Peixoto e até a porta do Cemitério do Bonfim. Um dos idealizadores, Kdu dos Anjos conta que basta marcar dia e local, seja pelas redes sociais ou pelo boca a boca, que o público aparece. “Às vezes reúne 10 pessoas, e, em outras, de 200 a 300. No fim, sempre tem a tradição de latir se a poesia for boa. Vira-Lata é rua, é diversidade de raças, de classes. É mistura”, sintetiza.

A dona de casa Kátia Leal não perde uma apresentação de poesia no Bar do Bozó, no Vale do Jatobá (Marcos Vieira/EM/D.A Press)
A dona de casa Kátia Leal não perde uma apresentação de poesia no Bar do Bozó, no Vale do Jatobá


Cooperifa

A grande referência para os saraus de periferia de Belo Horizonte é a Cooperativa Cultural da Periferia, a Cooperifa, de São Paulo. Criada em 2000 pelo poeta e ativista Sérgio Vaz, a iniciativa paulista realiza saraus e debates e já contou a com a participação de vários poetas mineiros em sua programação.

Antologia

Como parte das comemorações dos seis anos, o Coletivoz está convidando poetas, recitadores e criadores que tenham textos inéditos para participar do primeiro livro do grupo, uma coletânea de poemas dos participantes do sarau. O edital de inscrição está no Facebook do coletivo (facebook.com/coletivoz.saraudepoesia).


Fique ligado

Apoema Sarau Livre
– Dia 23, às 20h, Hora extra é poesia!, Avenida João César de Oliveira, Eldorado, Contagem, próximo ao número 751.


Sarau Comum Luiz Estrela – Dia 23, às 19h30 (a confirmar), Espaço Luiz Estrela, Rua Manaus, 348, Santa Efigênia.


Sarau Vira-Lata – Dia 20, Universidade Federal de Uberlândia; dia 24, Batalha do Calçadão, em Uberaba; dia 27, Praça Negrão de Lima, Floresta, em Belo Horizonte; dia 10 de junho, Morro das Pedras, Belo Horizonte. O horário ainda não foi definido


Coletivoz – Dia 11 de junho, às 21h, Bar do Bozó, Av. Djalma Vieira Cristo, 815, Vale do Jatobá, Barreiro



Poesia convida outras artes

Ana Clara Brant
Estado de Minas: 18/05/2014
Rogério Coelho, um dos organizadores do Coletivoz, declama versos no Bar do Bozó, no Vale do Jatobá     (Marcos Vieira/EM/D.A Press)
Rogério Coelho, um dos organizadores do Coletivoz, declama versos no Bar do Bozó, no Vale do Jatobá



A maioria dos saraus periféricos de poesia que surgiram em Belo Horizonte teve origem no Coletivoz. E de um ano para cá, pipocaram por vários bairros e cidades. “Houve uma necessidade de se criar referências culturais em outros espaços geográficos da cidade. Muitos dos criadores de saraus que estão espalhados por BH e Região Metropolitana saíram daqui. Além do mais, um evento como esse não precisa de grande estrutura. É muito importante você ir em um lugar onde sua voz pode ser ouvida, se sentir um agente construtor”, comenta um dos articuladores do Coletivoz, Rogério Coelho.

O Sarau Comum, que é realizado no Espaço Luiz Estrela, em Santa Efigênia, é um desses exemplos. O coordenador, Betto Fernandes, diz que a capital mineira sempre foi extremamente literária, mas nos últimos meses tem percebido uma ebulição ainda maior. “Neste ano os saraus que já existiam estão se expandindo, criando filhotes, seja aqui ou no interior. E o interessante é que, não sei se pelo fato do momento histórico que estamos vivendo, com essa angústia e insatisfação que estamos passando, os textos estão batendo muito na tecla de injustiça, da Copa do Mundo, das contradições do capitalismo, dessas questões mais revolucionárias”, analisa.

Betto lembra que o evento, assim como os demais saraus em BH, não se restringem à poesia e abrem espaço para outras manifestações artísticas, como performances, música, teatro, exposições de fotos e pinturas. “Agregamos tudo. É um encontro das artes e das pessoas de todos os cantos da cidade”, resume.

No entanto esses movimento não se limitam a Belo Horizonte. Na Região Metropolitana, um dos mais atuantes é o Apoema Sarau Livre. Marcelo Dias Costa, um dos fundadores, não acredita que há uma tendência ou moda, e que esse tipo de sarau vive um momento de reflexão e mobilização social. “O Apoema é um espaço de expressão viva. Foi a maneira que encontramos para que as pessoas se reunissem, já que ultimamente ninguém tem tempo de nada, tudo é muito corrido. E aqui elas prestam atenção umas nas outras. Tanto que temos esse segundo nome: Hora extra é poesia!”, conta.

Marcelo acrescenta que outro papel importante do evento é o fato de oferecer uma oportunidade de arte para a população de Contagem, além de levar a proposta para espaços históricos do município, que nunca tiveram muito acolhimento do poder público. “Para que as pessoas vivenciem esses espaços de forma democrática e que, ao mesmo tempo, ficasse evidente o descaso”, conclui.

Uma região delicada - Augusto Pio

Uma região delicada
Intestino, um dos órgãos mais importantes do organismo, é alvo de doenças crônicas.
 
Uma das razões é o estilo de vida e de alimentação.
Augusto Pio
Estado de Minas: 18/05/2014


A doença inflamatória intestinal (DII) pertence a um grupo de doenças inflamatórias crônicas, de causa desconhecida, que envolve o aparelho digestivo. Pesquisa recente realizada no Brasil revela o comportamento das pessoas diante dos principais sintomas das DIIs: no caso de dor abdominal, 46% se automedicam; se têm diarreia frequente, 61% também fazem uso de remédios sem consulta ao médico ou adotam soluções caseiras; e quando há sangue nas fezes, 39% das pessoas esperam o quadro melhorar.

A presidente da Sociedade Mineira de Coloproctologia e professora de coloproctologia da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais, Sinara Leite, explica que o termo “doenças inflamatórias intestinais” engloba principalmente duas doenças: a retocolite ulcerativa e a doença de Crohn. Ela esclarece que ambas têm impacto negativo considerável na qualidade de vida da pessoa, pois requerem atenção médica prolongada e representam um peso social importante. “As doenças têm distribuição uniforme entre os gêneros masculino e feminino e acometem, principalmente, pessoas jovens, com um pico de incidência entre 15 e 30 anos, embora possam ocorrer em qualquer idade. Há um segundo pico entre os 50 e 70 anos. Nesta faixa de idade, o controle da doença tende a ser mais complicado pela presença de outras patologias, como hipertensão arterial e diabetes, com o uso de polifarmácia (vários medicamentos para controlar as doenças concomitantes)”, explica Sinara, que também é membro titular da Sociedade Brasileira de Coloproctologia.

A retocolite ulcerativa e a doença de Crohn apresentam manifestações clínicas e evolutivas diversas, determinadas por vários fatores, como localização e extensão da área de acometimento, grau de atividade e gravidade do processo inflamatório, complicações da doença e a presença ou não de manifestações extraintestinais. “Podem apresentar um curso evolutivo com recaídas e remissões, com desaparecimento completo dos sintomas entre as crises. Os sintomas irão depender do segmento que está envolvido na inflamação. Os mais comuns são: dores, distensão e desconforto abdominais, associados à alteração do hábito intestinal (quase sempre diarreias), à presença de muco e/ou sangue nas fezes e a sintomas anais (dor, ardor e sangramento locais). Ao longo da vida, esse quadro clínico apresenta modificações e, devido à grande variabilidade clínica, o diagnóstico pode ser um desafio em alguns pacientes.”

Maria de Lourdes de Abreu Ferrari, professora de clínica médica da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), e coordenadora do Ambulatório de Intestino do Hospital das Clínicas da UFMG ressalta que, segundo pesquisa realizada pela Organização Europeia de Doença de Chron e de Retocolite Ulcerativa e pela Associação das Federações de Chron e Retocolite Ulcerativa, a incidência das doenças intestinais cresceu 15 vezes nas últimas décadas nos grandes centros urbanos. Divulgado em fevereiro de 2013, o estudo revelou ainda que, 10 anos após o diagnóstico, 53% dos pacientes serão hospitalizados e 44% serão afastados de atividades diárias em decorrência de complicações da doença. O estudo mostrou também que cerca de 20% das pessoas com DII apresentam sintomas de forma contínua e que aproximadamente 40% dos pacientes têm manifestações extraintestinais, com acometimento das articulações, pele, lesões oculares e hepatobiliares, entre outras.

Alessandra Vitoriano de Castro, presidente da Associação Mineira dos Portadores de Doenças Inflamatórias Intestinais, lembra que, no início, sentia dores abdominais e evacuava de 15 a 20 vezes ao dia. “Emagreci 25 quilos em dois meses. Costumava ter febre baixa (até 38 graus) nos fins de tarde, início da noite. No trabalho, precisava ir muito ao banheiro e, às vezes, nem saía de casa. Socialmente fui diminuindo as atividades e, além disso, acordava muito à noite com cólicas e vontade de ir o banheiro.” Ela ressalta que, como as DIIs não têm cura, a adesão do paciente ao tratamento é fundamental. “Um acompanhamento nutricional e psicológico também é indicado, pois a dieta não é a mesma para os pacientes. Cada um tolera tipos diferentes de alimentos. Ao longo do tempo, o paciente pode ter problemas de convivência com a doença, que deixa sequelas emocionais. Fisicamente, existe o momento de emagrecimento, o momento de engordar, alguns casos mais graves levam a cirurgias para retirada de trechos inflamados do intestino ou correção de fístulas, e há aqueles que têm a necessidade de ostomização”, explica.

Alessandra salienta que a Associação Mineira é uma entidade civil de caráter social, sem fins lucrativos. “Nosso objetivo é integrar e auxiliar os portadores das DIIs. Hoje, temos mais de 500 pacientes cadastrados e contamos com o apoio de profissionais da saúde especializados na área. Para se associar, basta entrar em contato conosco pelo e-mail contato@amdii.org.br ou pelo site www.amdii.org.br”, diz.

Eduardo Almeida Reis - Maledicência‏

A opinião pública fala durante cinco dias, enquanto a família se queixa pelo resto da vida



Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 18/05/2014





Difamação é coisa que muito me aborrece. Ainda agora, com o título “O amor é lindo”, circula na internet a foto de uma senhora ministra com o seu jovem namorado, subtenente músico do Exército, que viajou por conta do governo para opinar em Moscou sobre a compra de armamentos de guerra para o Brasil. Diz a nota que o rapaz nada entende do assunto.
Quanta maldade! Armas russas incluem canhões e não há ninguém no Hemisfério Sul que entenda mais de canhões do que o rapaz que dorme com um deles. O resto é vontade de maldizer.

Maluquices – Ao contrário do sertanejo, que é antes de tudo um forte e não tem o raquitismo exaustivo do mestiço neurastênico do litoral, o pufe é antes de tudo um pufe, espécie de assento baixo, geralmente de forma circular e acolchoado. Tenho dois: um comprado há três anos por 45 reais, outro comprado há três meses por 40 pratas. Servem para apoiar os pés, sobretudo agora que tenho ordem médica para levantar as patas.

Azul é a cor da moda: até aí, tudo bem. Meu pufe de 40 reais é azul; o antigo é forrado com um tecido que imita padrões escoceses. Gosto muito. Durante séculos bebi uísques escoceses e sempre desejei, até hoje sem sucesso, forrar uma parede com aqueles tecidos.

Maluquice, mesmo, é a notícia de um pufe azul Orb, Way Design, por R$ 5.727,00. Ninguém pode ter a coragem de botar os pés sobre cinco mil setecentos e vinte e sete reais. Pufe Orb implica traseiro exuberante, com o da grande pensadora moderna Valesca Popozuda, para assentar os 1.100 mililitros de silicone que transporta em cada nádega.

Para fazer pendant com o pufe Orb, a grande pensadora, que talvez tenha um livro em casa, pode comprar uma estante (azul) Funny, que custa R$ 2.900,00, alta, estreita para comportar no máximo 50 livros, mesmo assim com o risco de se desmanchar. É como diz o doutor honoris causa: o pessoal perderam a noção das coisas. A gente vê e lê. Fazer o quê?

Confusão – Bastou que me decidisse pela montagem de um blog parecido com o do nosso Jaeci Carvalho, para Cora Rónai publicar, dia 18 de abril, o texto intitulado: “Sim, abandonei meu blog”. Em seguida, disse: “Antes que nos déssemos conta, as ideias migraram da blogosfera para as redes sociais. Valeu a troca?”. Em matéria de crônicas, Corinha é das raras referências nacionais, salvo quando fala das capivaras nascidas na Lagoa Rodrigo de Freitas, onde mora, e dos gatos que tem no seu apartamento.

O jardineiro de Cícero, figura máxima da Latinidade Clássica, teve a fortuna de não conhecer capivaras, mas dizia dos filhos e dos puns alheios: Filii ac peditta, solum nostros. Isso que deu para entender: filhos e traques, só os da gente. Gatos alheios fazem parte da lista dos seres e dos cheiros insuportáveis.

Em verdade, a constatação não é do jardineiro ciceroniano, mas do Juca, um filósofo que trabalhava como escrevente do Cartório Márcio Braga. Sempre tive com o advogado Márcio Baroukel de Souza Braga relações muito cordiais. Ainda me lembro de que o encontrei na bilheteria do cinema Metro Copacabana, poucos dias antes de Juscelino Kubitschek assumir a presidência da República.

Sabendo-o noivo de uma sobrinha do Juscelino, comentei: “Você está feito: tesoureiro do Ministério da Fazenda”. E ele, honestamente: “Estou esperando coisa melhor”. Assisti ao filme pensando no que poderia ser melhor do que o cargo de tesoureiro do MF. Pouco tempo depois, Márcio ganhou um dos melhores cartórios do Rio. Consta que JK teria justificado a doação ao sobrinho postiço: “A opinião pública fala durante cinco dias, enquanto a família se queixa pelo resto da vida”.

O mundo é uma bola – 18 de maio de 1012: eleição do papa Bento VIII. Tornou obrigatório o celibato dos padres. Tentou controlar, através de leis, a simonia e o dolo. Morreu em 9 de abril de 1024. Simonia é compra ou venda ilícita de coisas espirituais, como indulgências e sacramentos, ou temporais ligadas às espirituais, como os benefícios eclesiásticos. Acho que o dolo ocorre quando o indivíduo age de má-fé, sabendo das consequências que possam vir a ocorrer e o pratica para de alguma forma beneficiar-se de algo.

Em 1152, casamento de Henrique II, da Inglaterra, com Leonor, duquesa da Aquitânia, umas mulheres mais ricas e poderosas da Idade Média. Foi casada com Luís VII, da França, e com Henrique II. Teve 10 filhos. Nasceu em 1122 e morreu em 1204.

Em 1804 Napoleão Bonaparte é coroado imperador da França, passando a chamar-se Napoleão I. Em 1910, a Terra passa pela cauda do Cometa de Halley, com todo o respeito, naturalmente.
Em 2007 foram sacrificados 4 mil frangos no distrito de Jaldhaka, em Bangladesh, depois que as autoridades sanitárias detectaram mais um foco de gripe aviária. Em 1883 nasceu Eurico Gaspar Dutra, que foi presidente do Brasil, não roubou e morreu em 1974. Hoje é o Dia da Vidreiro e o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes.

 Ruminanças – “No vinagre está todo o mau humor do vinho” (Ramón Gómez de La Serna, 1888-1963).

Google Glass começa a ser testado como suporte em consultórios e cirurgias

Com os óculos inteligentes, médicos podem consultar a ficha do paciente e até enviar fotos para ouvir a opinião de outros especialistas durante uma cirurgia. Há, contudo, a questão da privacidade



Roberta Machado
Estado de Minas: 18/05/2014



Uso do aparelho divide opiniões: alguns temem que ele acabe distraindo os médicos (Ole Spata/AFP - 24/4/13 )
Uso do aparelho divide opiniões: alguns temem que ele acabe distraindo os médicos


Brasília – Faz um ano que o Google liberou a venda da edição Explorer do Google Glass para um número restrito de pessoas, e o lançamento oficial do produto no mercado continua sendo aguardado. Entre os que já colocaram as mãos no gadget, um grupo especial tem planos bastante ambiciosos para o equipamento: são médicos que pretendem levar o acessório para dentro do consultório e da sala de cirurgia, onde farão pesquisas on-line, participarão de videoconferências, fotografarão e até mesmo registrarão relatórios inteiros sem precisar afastar as mãos e os olhos do paciente.

O uso dos óculos inteligentes por profissionais de saúde deixou de ser uma simples novidade há algum tempo e já é alvo de estudos que procuram descobrir até onde o sonho de um médico ciborgue pode de fato ajudar no trabalho em um hospital. O cirurgião norte-americano Oliver Muensterer adotou o equipamento por quatro semanas e registrou suas opiniões sobre a experiência em um artigo publicado recentemente no Journal of Surgery. No trabalho, o médico procura descobrir os pontos fortes e as fraquezas do dispositivo quando usado por um profissional comum, equipado somente com um Glass padrão e com um conhecimento médio de tecnologia.

Muensterer criou uma lista com os diagnósticos e os procedimentos mais comuns no hospital pediátrico universitário em que trabalha e atribuiu a esse recurso um comando verbal que o permitia consultar os termos usando somente a voz. O aparelho também foi usado para fotografar algumas cirurgias e em uma conferência com pessoas que estavam na Alemanha.

A câmera se mostrou o recurso mais útil para o cirurgião, que a usou várias vezes para filmar e fotografar procedimentos. “Acho que uma boa aplicação é para a educação. Se um estudante ou residente usa o Glass, o professor pode ver pelos olhos do estudante e ajudar nos procedimentos mais difíceis”, especula o especialista.

Segurança O ponto principal que o médico norte-americano aponta no trabalho, no entanto, é a necessidade de recursos que protejam os dados dos usuários, como um sistema de criptografia. A privacidade é uma preocupação que ronda o Google Glass desde que foi anunciado e pode se tornar um problema ainda maior quando o sigilo médico está em jogo. Para evitar que as imagens fossem parar nos servidores do Google, Muensterer optou por trabalhar o tempo todo com o aparelho desconectado da internet e só religá-lo à rede depois que as fotos e vídeos tivessem sido transferidos para uma máquina segura.

O Google pode não estar interessado em proteger os dados dos pacientes, mas algumas empresas já estão dando um jeito nesse problema por conta própria. Pristine, uma companhia norte-americana especializada em soluções de telemedicina, oferece entre seus serviços a adaptação do Glass às necessidades dos médicos e adotou o procedimento de desabilitar todos os outros softwares no dispositivo, inclusive o sistema de sincronização automática.

Se um profissional estiver usando o app de registro de vídeos da companhia, ele não poderá nem mesmo acessar programas como o Facebook ou o YouTube, para evitar vazamentos de informação. “Como toda tecnologia muito nova e diferente, o Glass tem seus desafios”, ressalta Lucas Schlager, representante da Pristine. O app mais popular da empresa é o EyeSight, que poder ser usado para filmar procedimentos ou transmitir as informações de alta qualidade de um profissional para outro ou para um computador comum. O programa já é usado por atendentes da emergência dermatológica de um hospital em Rhode Island.

O médico brasileiro Miguel Pedroso testou o Google Glass pela primeira vez em uma cirurgia no Hospital São Camilo, em Salto (SP), em outubro do ano passado. Ele conta que o adotou já com um recurso que resolve o problema de privacidade. O acessório, chamado personal web station, impede que as informações dos pacientes sejam enviadas para servidores abertos. “Ele fica conectado ao Glass pelo wireless e usa um servidor específico, com segurança da rede”, explica Pedroso.

O cirurgião está investindo em um app feito para auxiliar médicos durante uma cirurgia, capaz de exibir para o usuário um guia com os passos do procedimento. Residentes e iniciantes também podem usar o aplicativo para pedir auxílio a outros profissionais se enfrentarem dificuldade em alguma parte do processo. “Se o aluno tiver alguma dúvida, ele pode enviar o vídeo do Glass e da laparoscopia para esse médico, que congela a imagem, desenha onde tem de ser feita a incisão e manda a imagem de volta para o aluno”, ilustra Pedroso.

Erro evitado
Em um hospital em Boston, o uso do equipamento ciborgue já se tornou rotina. A instituição colocou QR codes nas portas de todos os quartos, de forma que o Google Glass automaticamente reconhece o código e exibe para o usuário as informações importantes sobre a pessoa internada ali. Graças ao sistema, um médico evitou que o pior acontecesse durante uma cirurgia. O profissional consultou o acessório e descobriu que o paciente que ele operava tinha alergia ao medicamento que ele pretendia usar.

No entanto, médicos menos familiarizados com a tecnologia wearable ainda se mantêm um pouco céticos em relação ao uso de óculos eletrônicos em plena sala de cirurgia. Para Max Schjolobach, ex-presidente da Associação Brasileira de Cirurgia Pediátrica, o acessório pode ser uma fonte de distração mais grave que o telefone, que já prejudica o trabalho de muitos profissionais que acessam e-mails durante uma consulta ou atendem a uma ligação em meio a uma operação.
“Acho que o procedimento cirúrgico exige concentração total. É como dirigir e usar o celular. Ter acesso a e-mails e outras coisas durante uma cirurgia não me parece tão importante”, avalia o médico. A exceção seria o uso do aparelho para conferir radiografias ou a outros necessários para consulta imediata, que realmente acelerassem o procedimento. “Todos esses equipamentos têm de passar por um tempo de avaliação para ver o quanto podem ser úteis”, ressalva.

Intolerantes #nãosomostodos - Lucas Soares Rodrigues

Estado de Minas: 18/05/2014 



Fato (1): em 27 de abril de 2014, Daniel Alves – jogador do Barcelona – comeu uma banana jogada por um torcedor. Repercussão (principal): manifestações de repúdio ao ato do torcedor. A maior delas foi iniciada por Neymar, ao publicar uma foto em rede social segurando uma banana e com a hashtag #somostodosmacacos. Em questão de horas, diversas pessoas, muitas delas celebridades, também compartilharam fotos pessoais com uma banana na mão e a mesma hashtag.

No entanto, um dia depois da atitude lamentável do torcedor espanhol, outro fato (2) – em decorrência da manifestação de repúdio de Neymar – tomou conta das redes sociais: o apresentador e empresário Luciano Huck (um dos que compartilharam suas fotos) lançou, por meio de sua grife, uma camisa com a hashtag #somostodosmacacos para venda, pelo valor de R$ 69. Imediatamente, o foco mudou. A discussão sobre o racismo foi praticamente posta de lado e se iniciou uma discussão sobre se Huck foi ou não oportunista.

Interessante notar nesse contexto que as atitudes de Daniel Alves, Neymar e Luciano Huck foram diferentes, porém com um mesmo objetivo: o fim do racismo. De uma forma ou de outra, são atitudes aceitáveis, respeitáveis (obviamente, o que não é o caso do ato do torcedor). Assim, não seria melhor essa análise mais geral, em vez de criticar um deles?

Entretanto, Huck foi massacrado por supostamente visar o lucro na luta contra o racismo. O apresentador até escreveu uma nota justificativa, assegurando que 100% da renda das vendas da camisa  seriam doados para o terceiro setor. E se não fosse? E se os 100% do lucro fossem para o seu bolso? Qual o problema? Algum crime? Então, por que sobrepor o caso Daniel Alves pelo caso Luciano Huck? Não obstante, poder-se-ia dizer que sua ação foi imoral, pois oportunista.

Ainda que haja concordância quanto a isso, foi mais imoral do que o racismo? Afinal, racismo é condenável no mundo inteiro, há muito tempo. E sobre o oportunismo? O que dizer? Onde se encaixa? Não seria birra demais contra uma pessoa de maior poder aquisitivo? Provavelmente, se outra pessoa – com menos dinheiro e com menos fama – tivesse lançado uma camisa com os dizeres “100% macaco”, nos moldes da antiga “100% negro”, muitos dos que criticaram Huck permaneceriam calados (isso se não elogiassem a visão de tal pessoa).

Ora, historicamente, o mundo – e, principalmente, o Ocidente – lutou e ainda luta pela liberdade. E uma sociedade liberal busca formas nas quais os indivíduos possam satisfazer suas aspirações. A condição necessária para tanto é que a sociedade não apresente um modelo de vida impositivo, único, devendo comportar e acolher (na medida do possível) as diferenças.

Infelizmente, o que ocorre é que vivemos numa época em que muitos não querem acolher as diferenças. Querem instituir um modelo social e, se não for do jeito deles, está errado, é nazista, é preconceituoso, é “coxinha”. Por fim, não respeitam o direito individual e querem enfiar goela abaixo sua teorias, sejam sociais, políticas, econômicas ou morais.

Enfim, o #somostodos é sempre do jeito deles. Quem defendeu o apresentador foi tachado dentro da hashtag #somostodosbabacas. Mas que #fiqueadica: dentro de certos limites – os quais não foram trespassados por Luciano Huck –, os homens devem saber conviver uns com os outros cientes de que todos são diferentes, e um pensamento universal soa bem totalitário, uma vez que, dentro de nossas particularidades e personalidades únicas, #nãosomostodos.