sábado, 12 de abril de 2014

O duque no Twitter - José Castello

O Globo 12/04/2014

LA ROCHEFOUCAULD FOI UM HOMEM CONSCIENTE DOS RISCOS QUE ENVOLVEM A ARROGÂNCIA HUMANA

Presos na grande rede do tempo real,
onde as ideias se concentram e
se evaporam, quase não há mais
lugar para o pensamento profundo.
O argumento dominante é o de
que as pessoas não têm mais oportunidades
para pensar, que elas se tornaram secas
e objetivas, e que a mente se detém agora só nos
reflexos do imediato. Quatro séculos atrás, porém,
o duque de La Rochefoucauld, moralista e pensador
francês (1613-1680), já nos mostrava que é
possível pensar de forma igualmente espessa e
concentrada. Isso se evidencia em seus célebres
aforismos, relançados agora com o título de “Reflexões
ou sentenças e máximas morais” (Penguin/
Companhia das Letras, tradução e notas de
Rosa Freire D’Aguiar).

La Rochefoucauld foi um homem profundamente
engajado na vida francesa do século XVII. Conspirou
contra o primeiro-ministro Richelieu, foi exilado,
envolveu-se em intrigas da corte e participou
da Guerra Civil Francesa de 1648. Foi um homem
da vida — e não um intelectual de gabinete. Isso se
expressa na urgência de seus pensamentos, pressa
que não exclui, ao contrário exacerba, a profundidade.
Sim, é possível ser rápido e ser profundo ao
mesmo tempo, e La Rochefoucauld nos demonstra
isso. Afiados e vibrantes, seus aforismos desafiaram
o século XVII francês — se me permitem uma comparação
certamente imprecisa — com vigor semelhante
àquele com que, hoje, as mensagens postadas
no Twitter nos acossam.

“Nem sempre é por coragem e por castidade
que os homens são corajosos e as mulheres são
castas”, ele nos diz. “Nossas virtudes são apenas,
no mais das vezes, vícios disfarçados”. Caracteriza-
se o pensamento de La Rochefoucauld, antes
de tudo, pela impetuosidade. Não escrevia para
agradar, mas para fustigar. Com fervor, ele nos
admoesta a respeito das facilidades do pensamento,
das ideias automáticas e das conexões
simplistas. “A paixão faz muitas vezes do homem
mais hábil um louco, e hábeis os mais tolos”, escreve,
invertendo nossa maneira costumeira — e
preguiçosa — de observar o mundo. Apegado ao
poder da razão, a loucura, que a delimita, é um de
seus temas favoritos.

“Os loucos e os tolos só enxergam por seu humor”,
escreve. Mas a loucura pode ser também um
elemento sadio, tudo dependendo de como a usamos.
“Às vezes acontecem acidentes na vida dos
quais é preciso ser um pouco
louco para bem se safar”. A leitura
dos aforismos de La Rochefoucauld
se desenrola como
em um jogo. Não necessariamente
os lemos em linha
reta, mas dando saltos, buscando
conexões ocultas, procurando
sentidos esquecidos
— exatamente como fazemos,
se a utilizamos com sabedoria,
com a navegação na internet. La Rochefoucauld
trabalha por camadas: um aforismo expande,
corrige, esclarece o outro, como acontece em
mais esse pensamento sobre a loucura: “Há meios
de curar a loucura, mas não os há para endireitar
uma mente extraviada”.

Se soube pensar com firmeza, La Rochefoucauld
foi também um homem consciente dos riscos que
envolvem a arrogância humana e seu pensamento.
Levava em conta a parte imperfeita que nos
completa. “Se há homens cujo ridículo nunca se
revelou é porque não se procurou bem”, escreve,
exercitando outra de suas qualidades mortais: o
elegante humor. Pregava a ponderação e o equilíbrio.
A grandeza do caminho do meio é expressa
assim: “Nunca somos tão felizes nem tão infelizes
quanto imaginamos”. Pensador
radical, ele foi também um defensor
do bom senso como
tempero necessário à vida. “A
boa vontade é para o corpo o
que o bom senso é para o espírito”,
nos diz. Pregou a sábia
desconfiança e a aposta no
prudente silêncio. “O silêncio é
o partido mais seguro de quem
desconfia de si mesmo”. Diz,
em outro aforismo: “Falamos pouco quando a vaidade
não nos faz falar”.

Conhecia e incluía as múltiplas fragilidades do
homem, que ele expressa assim: “É uma espécie de
afetação observar que nunca a demonstramos”. O
senso do ridículo e também da impotência são elementos
fundamentais de suas ideias. Áreas perigosas,
em que um pequeno erro pode voltar-se contra
seu próprio autor. Admite: “Estamos tão acostumados
a nos disfarçar para os outros que afinal nos
disfarçamos para nós mesmos”. O que parece bom
pode ser mau, e o contrário também. Ensina todo
o tempo que não devemos nos apegar a nosso pequeno
poder, nem a nossas miseráveis vitórias:
“Se resistimos a nossas paixões, é mais por sua fraqueza
do que por nossa força”, nos adverte.

La Rochefoucauld conhecia os frágeis limites
de nossa sabedoria. “É mais fácil ser sábio para
os outros que para si mesmo”, aconselha. Mas
acreditava também na capacidade de transformação
do homem, crença expressa em um aforismo
como este: “A fraqueza é o único defeito
que não se consegue corrigir”. Ela pode nos levar
a avaliar erradamente o que somos, pode nos
conduzir a grandes e perigosos enganos. Diz:
“Há repreensões que elogiam e elogios que
amaldiçoam”. Daí a necessidade, em que ele
sempre insistiu, de que tomemos posse de nós
mesmos. Sim, nesse caso devemos conviver com
defeitos, imperfeições, até mesmo com abominações;
mas esta posse é o único caminho seguro
que a vida nos oferece. Escreve: “Mais difícil é
impedir que nos governem do que governar os
outros”. Ter defeitos, em si, não significa ser derrotado.
Diz La Rochefoucauld: “Há pessoas repugnantes
apesar de seu mérito, e outras que
agradam apesar de seus defeitos”.

Pensar, para La Rochefoucauld, era uma maneira
de escavar. Os pensamentos, porém, não caminham
na mesma direção. Como acontece hoje na
grande rede de computadores, eles se chocam, se
combatem, se desmentem, se ampliam. É preciso
aceitar essa instabilidade do saber se desejamos
viver com alguma plenitude. Diz o filósofo: “Poucos
são sábios o bastante para preferir a crítica útil
ao elogio que os trai”. Mesmo os bons pensamentos
podem resultar do mal, e não do bem: “Difícil é
julgar se um procedimento claro, sincero e honesto
é efeito da probidade ou da astúcia”. La Rochefoucauld
tinha imensa habilidade para não se deixar
enganar pelas próprias ideias. Que disparava,
em mensagens breves e certeiras, colocando-as à
disposição do mundo

A noite é uma criança

O Globo 12/04/2014

EMPATANDO A VIDA SEXUAL DOS PAIS

A noite é uma criança

Teoria evolutiva aponta que bebês choram para evitar a chegada de irmão


FLÁVIA MILHORANCE
flavia.milhorance@oglobo.com.br

Noites ininterruptas e tranquilas de sono se
transformam num sonho de consumo para
casais depois da chegada de um bebê à família.
Essa cena é clássica, atinge a maioria dos
novos pais e, agora, tem uma explicação evolutiva.
Os recém-nascidos fazem de tudo para
evitar a chegada de um irmãozinho. Pelo
menos enquanto eles, extremamente frágeis,
ainda dependam de total assistência.

A tática funciona de diferentes maneiras.
Por um lado, os pais, exauridos, acabam preferindo
usar as poucas horas de que dispõem
para dormir, não fazendo sexo. Além disso,
quanto mais os pequeninos demandam o
leite materno, por mais tempo eles conseguem
retardar uma nova gravidez por questões
hormonais.

Segundo estudo publicado pela Universidade
de Harvard, isso não é por ciúmes do novato.
Existe uma razão biológica por trás: o nascimento
de um irmão mais novo em curto período
de tempo está associado ao aumento da
mortalidade infantil, especialmente em famílias
com poucos recursos e em locais com surtos
de doenças infecciosas.

— A fadiga materna pode ser vista como estratégia
da criança para aumentar o intervalo entre
os nascimentos — afirma David Haig, professor
de Biologia Evolutiva da universidade e autor da
pesquisa, publicada no periódico “Evolution,
Medicine and Public Health”.

MENOS FERTILIDADE E DESEJO SEXUAL

Giulianna Nasser, de 30 anos, acabou de dar à
luz Nina, que tem apenas 20 dias. Quando perguntada
sobre como está se sentindo, a primeira
e espontânea reação foi:

— Muito cansada. Nunca me senti tão cansada
na vida. O máximo que consegui dormir até
hoje foram três horas seguidas. A Nina acorda a
cada duas horas para amamentar à noite — desabafa
a advogada, que já era acostumada a turnos
pesados de trabalho.

Além disso, as mulheres que amamentam têm
atraso no restabelecimento da ovulação por
causa da ação da prolactina, o hormônio que
produz o leite e está em nível bastante elevado
após o parto.

— O recém-nascido pede para mamar à noite
para manter o estímulo da prolactina e, assim,
adiar cada vez mais a ovulação da mãe. A amamentação
tem, de fato, poder contraceptivo.

Hoje isto não é mais necessário, porque há outros métodos 
para impedir a gravidez, mas parece
que a herança se manteve — comenta a
professora de Ginecologia da Uerj, Renata Aranha.

— O bebê humano é um dos que mais depende
de atenção e por mais tempo. Se prestarmos
atenção no elefante, por exemplo, no mesmo
dia que nasce, ele já consegue caminhar sozinho
— completa.

De fato, o bebê humano é um dos únicos que
depende inteiramente dos pais durante anos.

Para muitos especialistas em evolução, essa é
uma das razões, por exemplo para a monogamia
humana — formar pares para cuidar das
crianças.

A prolactina também reduz a produção de testosterona
na mulher, o acaba influenciando no
desejo sexual, explica a psiquiatra Carmita Abdo,
coordenadora do Programa de Estudos em
Sexualidade da Universidade de São Paulo
(USP).

— A natureza realmente parece dirigida para
o bebê, pois ela cria circunstâncias que inibem
a libido da mãe — diz.
Carmita lembra que, além da influência hormonal,
o desejo sexual nesta fase é afetado por
outros fatores:

— Tem a questão física, a mulher se sente menos
atraente, está com dores do parto, cicatrizes...
A emocional, pois ambos pais estão vivendo
um momento novo, estão começando a conhecer
a nova pessoa, tem a adaptação... E, claro,
o desgaste físico, pois ele demanda cuidados
24 horas por dia — exemplifica Carmita, que
complementa. — A maioria das pessoas, especialmente
as mulheres, perde o interesse em sexo.
Em média, isso dura até seis meses.

GENÉTICA APONTA PAI COMO CULPADO

Apesar de toda a carga sobre a mãe, a culpa
da vigília noturna parece ser do pai. Os pesquisadores
chegaram a esta conclusão depois
de avaliar duas síndromes. A chamada
Prader-Willi ocorre por problema no gene
materno e acarreta uma dificuldade do bebê
de sugar o leite materno e de dormir além do
normal. Enquanto que a síndrome Angelmam,
de herança paterna, faz o bebê acordar
muito à noite.

— Esta diferença foi nosso ponto de partida —
explicou Haig.

Seja por questões evolutivas, financeiras,
emocionais ou físicas, Nina não terá que competir
com um irmãozinho por um bom tempo:

— Quero ter outro filho, mas apenas daqui a
três anos. Será o tempo de curtir a Nina e nos recuperarmos
— conta Giulianna.

TeVê

TV paga

Estado de Minas: 12/04/2014



 (Disney/Divulgação)

Sessão Pipoca


O Telecine Premium estreia hoje, às 22h, a aventura Oz – Mágico e poderoso (foto), que vai levar o assinante a um mundo de fantasia, uma viagem conduzida pelo diretor Sam Raimi e um elenco que conta com James Franco, Mila Kunis, Rachel Weisz e Michelle Williams. A alternativa na HBO, também às 22h, é a comédia Os candidatos, com Will Ferrell e Zach Galifianakis nos papéis principais.

Muitas opções no
pacotão de cinema


Sábado é dia de sessões especiais, como a que o canal Syfy anuncia, com cinco filmes de ação: O Sombra (12h), O medalhão (14h), Heróis muito loucos (15h45), Minority Report – A nova lei (18h) e Soldado universal (20h30). O Telecine Cult dá sequência aos faroestes da madrugada com Bravura indômita (23h55) e Chumbo Quente e Pé Frio (2h15). Na concorrida faixa das 22h, são 10 os destaques: Coração iluminado, no Canal Brasil; Brasília 18%, no Sony Spin; A porta, no Max; Millennium – Os homens que não amavam as mulheres, no Max Prime; O legado Bourne, no Telecine Pipoca; O escritor fantasma, na MGM; O fim da escuridão, na Warner; Heróis, no Megapix; Motoqueiro fantasma, no A&E; e Gandhi, no TCM. Outras atrações da programação: Pixote – A lei do mais fraco, às 21h, no AXN; Mamãe casamenteira, às 21h, no Viva; Ligeiramente grávidos, às 21h55, no TBS; Eu queria ter a sua vida, às 22h05, no Universal; e Os descendentes, às 22h30, no FX.

A dica é perder peso
para ganhar prêmio


Numa semana recheada de novidades, o Discovery Home & Health reservou para hoje, às 19h50, a estreia da nova temporada de The biggest loser, série que mostra a luta de pessoas contra a obesidade em uma competição entre duplas e na qual aquela que perder mais peso é a grande vencedora.

Ainda dá para votar
na Garota Penetra


Na edição de hoje do programa Penetra, às 20h, no canal Sexy Hot, a apresentadora Bianca Jahara vai revelar detalhes da nova coleção da Daspu, além de conversar com a atriz Alexia Dechamps, que interpretou no teatro a fundadora da grife, Gabriella Leite. O programa também foi às ruas para saber qual a trilha sonora ideal para embalar a hora do sexo, e ainda mostra vídeos inéditos de Dani Picinatto, Michelle Diniz e Jessica Benitez, as candidatas ao concurso Garota Penetra, cuja votação vai até dia 25 próximo, no site www.garotapenetra.com.br.

Rock e samba na tela
do Bis e Multishow


O Lollapalooza não acabou. Pelo menos para Mari Cabral, que mostra tudo o que rolou no festival em reportagem para o programa Bastidores, às 18h, no Multishow. No mesmo canal, às 23h, será transmitido, ao vivo, o encontro dos grupos Raça Negra e Só Pra Contrariar, diretamente do Ibirapuera, em São Paulo. E no canal Bis, às 21h30, vai ao ar mais uma homenagem a Kurt Cobain, com a exibição do documentário Retrato de uma ausência.


ARAS & BOCAS » Nova temporada
Simone Castro

Valéria (Maísa Silva) reforça as aventuras da imbatível Patrulha salvadora, do SBT/Alterosa (Lourival Ribeiro/SBT)
Valéria (Maísa Silva) reforça as aventuras da imbatível Patrulha salvadora, do SBT/Alterosa

De autoria de Íris Abravanel, Patrulha salvadora estreia hoje, às 20h30, no SBT/Alterosa, a segunda temporada. Em 13 episódios, os patrulheiros viverão eletrizantes histórias que envolvem novas aventuras e as realizações de grandes missões humanitárias. A série contará com as participações da apresentadora e atriz Maísa Silva, a Valéria de Carrossel, e do ator Konstantino Atanassopulos como Adriano. O tema principal continua o mesmo: os nove patrulheiros – Daniel (Thomaz Costa), Alícia (Fernanda Concon), Mário (Gustavo Daneluz) e Rabito (Supercão), Davi (Guilherme Seta), Cirilo (Jean Paulo Campos), Maria Joaquina (Larissa Manoela), Jaime (Nicholas Torres) e Carmen (Stefany Vaz) – usam seus superpoderes para enfrentar os vilões que colocam a cidade de Kauzópolis em risco. A partir desta temporada, Jorge (Léo Belmonte) está mais malvado do que nunca e fortalecido com o intenso auxílio do time dos Sete Pecados Generais: Ira (Gustavo Novaes), Gula (Sílvia Poggetti), Avareza (Ariel Moshe), Inveja (Regina Remencius), Preguiça (Adriano Paixão), Luxúria (Marcela Rosis) e Orgulho (Alessandro Pinezi). Além de enfrentar Jorge e sua turma, os patrulheiros ainda terão que lidar com o ciúme de Valéria, namorada de Davi, que vai atrapalhar algumas missões. No futuro, porém, ela será de grande ajuda para a turma do bem. Patrulha salvadora é sucesso de público e crítica e uma boa atração para o público infantojuvenil.

FERDINANDO É O AMOR
SECRETO DE CATARINA


Já deu para perceber o amor secreto que Catarina, a Madame Epa vivida por Juliana Paes, nutre por seu enteado, Ferdinando (Johnny Massaro), em Meu pedacinho de chão (Globo). Casada com o intratável coronel Epaminondas (Osmar Prado), às vezes, entre suspiros e lágrimas, ela não consegue disfarçar. Escorraçado pelo pai, assim que voltou de anos de estudos formado em agronomia, enquanto o vilão pensava que o curso era direito, como exigia, Ferdinando logo recebeu o apoio da madrasta, que, inclusive, ameaçou deixar a mansão com ele. Segundo Johnny Massaro, em entrevista ao site oficial da novela, existe muito de admiração e carinho, pois, para Ferdinando, Catarina representa a figura materna. Mas, ele acredita, também a mulher muito atraente que é. “Eles se atraem e se repelem”, diz o ator, que compara os personagens a imãs.
Para o ator, um possível envolvimento entre os dois ainda está no ar e é uma lacuna para, talvez, o próprio espectador preencher.

BUSCADOR VAI PAGAR
INDENIZAÇÃO A AUTOR


O novelista Aguinaldo Silva receberá uma indenização no valor de R$ 329 mil do Google. O buscador demorou 329 dias para retirar os vídeos nos quais o autor tem sua imagem atingida pelo programa Pânico na Band. A multa era de R$ 1 mil por dia. A juíza Fernanda Rosado de Souza, da 38ª Vara Cível do Rio, acolheu o requerimento do advogado do autor, Sylvio Guerra. Nos vídeos, Aguinaldo foi alvo de paródia em que era retratado como “Aguinaldo Senta”. Os humoristas e a Band estão proibidos de usar a imagem de Aguinaldo Silva.

HOMENAGEM  WILKER

O Canal Brasil (TV paga) fará semana que vem homenagem ao ator e diretor José Wilker, que morreu no sábado passado. A emissora programou  mostra com oito filmes estrelados pelo ator, sempre nas noites de segunda e terça-feira, à 0h15 Os títulos são: Dona Flor e seus dois maridos (1976), Xica da Silva (1976), Bye bye Brasil (1979), O bom burguês (1979), Bonitinha, mas ordinária (1981), Dias melhores virão (1989), Doida demais (1989) e Pequeno dicionário amoroso (1996).

VIVA
Mãe Benta, personagem de Theuda Bara, que é mãe de Zelão (Irandhir Santos) em Meu pedacinho de chão (Globo).

VAIA
LC (Antônio Calloni) e Tereza (Carolina Ferraz), veteranos em maldade, enganados em Além do horizonte (Globo)

Eduardo Almeida Reis - Nomes avoengos‏

Alfim e ao cabo, tenho 24 anos de crônicas diárias, não raras vezes mais que uma, e quase meio século de cronicar espaçado


Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 12/04/2014





Se o leitor tem sangue ibérico é possível, sem que seja provável, que em sua árvore genealógica encontre um Tructesindo, nome delicioso e muito raro hoje em dia. Do antropônimo germânico Tructesindus, Tructesindo foi nome comum em Portugal e na Galiza durante a Idade Média.

Gonçalo Mendes Ramires, personagem do Eça no romance A Ilustre Casa de Ramires, descendia de Tructesindo Mendes Ramires, o amigo e alferes-mor de D. Sancho I, que, sabemos todos, foi rei de Portugal de 1185 a 1211, casou-se com Dulce Berengária de Barcelona e teve um caminhão de filhos, 17 ou 18, entre os quais dom Afonso II, de Portugal, e dona Berengária de Portugal, rainha da Dinamarca.

Sempre que escrevo “sabemos todos” é porque ninguém sabe os nomes e as histórias que copio da Wikipédia, mas a obra do Eça conheço bem. Por isso, me lembro de que Gonçalo, depois de se desavir com um tal Ernesto, o Valentão de Nacejas, num episódio em que lhe cortou uma orelha a chicotadas, pela repercussão favorável do episódio até nos jornais de Lisboa, comentou: É curioso! Essa gente toda parece gostar de mim!...

Dia desses, lembrei-me de Gonçalo e dos Tructesindos avoengos quando andei fazendo um balanço existencial. De vez em quando, um balanço tipo freada de arrumação não faz mal a ninguém. Alfim e ao cabo, tenho 24 anos de crônicas diárias, não raras vezes mais que uma, e quase meio século de cronicar espaçado, bissemanal, quinzenal, mensal para um sem conto de jornais e revistas, trabalho que somava cinco ou seis matérias por semana.

Sempre que possível com as minhas opiniões sinceras e nunca, jamais, em tempo algum, com uma linha vendida. Claro que recebo pelos textos, mas contra nota fiscal ou RPA, impostos pagos em dia. E o leitor, sendo ou não tetraneto de Tructesindos, sabe que não é fácil, porque o cronista brasileiro trabalha numa área em que há milhares de patrícios dispostos a escrever de graça.

Isto posto, vamos ao resultado do último balanço, quando exclamei como Gonçalo: “É curioso! Essa gente parece gostar de mim!”. Tirei “toda”, que antigamente tinha chapeuzinho no ô para distinguir de toda (ó), pássaro fissirrostro jamaicano objeto da preocupação de Fernando Sabino, que passara “anos a fio escrevendo com medo de que o meu medo fosse tomado como um habitante da Média, e que toda fosse um passarinho fissirrostro ou uma das línguas dravídicas, e que vezes fosse a segunda pessoa do subjuntivo do verbo vezar”.

Tirei “toda” porque, felizmente, fiz muitos inimigos. É ótimo que os cultive, sobretudo entre os petistas. Nunca entendi o PT, como também não entendo, até hoje, que um homem como Eugênio Bucci tenha dirigido a Radiobrás de 2003 a 2007 no governo Lula. Trabalhar com o Lula tisna a biografia de qualquer brasileiro, mesmo a de um doutor em Ciências da Comunicação, área de Jornalismo, como Eugênio Bucci.

Vieira disse dos inimigos: “Mofino e miserável aquele que não os teve. Ter inimigos parece um gênero de desgraça, mas não os ter é indício certo de outra muito maior...”. Sêneca caprichou: “Miserum te judico quia non fuiste miser: transiisti sine adversario vitam”, algo assim como “eu te julgo por infeliz e desgraçado, porque nunca o foste: passaste a vida sem inimigos”. E Temístocles, em seus primeiros anos, andava muito triste. Perguntado pela causa, quando era amado e estimado por toda a Grécia, respondeu: “Por isso mesmo; sinal é o ver-me amado por todos que ainda não tenho feito ação honrada que me granjeasse inimigos”.

Super sale

 Sapato de R$ 245 por R$ 99,90 em três prestações de R$ 33,30, sem juros, frete grátis Sul e Sudeste, ganhando um cinto, só nos anúncios da internet. Em contrapartida, ontem, num jornal impresso, vi o anúncio de sapato feito à mão, em cromo alemão, por R$ 645. Sale, di-lo o Collins, é venda e também pode ser liquidação. E súper, com acento, como acabo de aprender, é interjeição de exprime deslumbramento, admiração, aplauso, maravilha, uau.

Uau, do inglês wow, é interjeição que expressa aplauso, satisfação ou surpresa. Espero que o leitor mineiro, acostumado ao regionalismo uai, interjeição que exprime espanto, pasmo, surpresa, admiração, susto ou impaciência, também empregada para reforçar o que foi antes dito, como se se estranhasse a dúvida do interlocutor, “claro que vou, uai”, tenha gostado de súper e uau. De lascar, mesmo, foi encontrar no Houaiss “como se se estranhasse”, mas é coisa que acontece aos que nos divertimos com palavras e tolices, e nos leva ao sesso (ê), par de nádegas, traseiro, do mais puro latim sessus,us, que tanto pode ser cadeira como assento ou ação de sentar-se.

O mundo é uma bola


12 de abril de 1633: Galileu é condenado pela Inquisição por heresia, assunto perfeito para o leitor filosofar adoidado, considerando que o mundo é uma bola de hoje encolheu, forçado do alto philosophar dos textos sobre nomes avoengos e vendas na internet.

Hoje é o Dia da Obstetriz e do Obstetra, como também é o Dia da Intendência do Exército Brasileiro.

Ruminanças

“O obséquio produz amigos, a verdade ódio” (Terêncio, 190-159 a.C.).